Thursday, 29 January 2009

FINANCIAL CRISIS x OBAMA PLAN

Global Crisis Debate
VoxEU.org is partnering with the UK government to collect the views of economists from around the world on what the G20 should do to fix the global economy. Read more. There are five themes:
Macroeconomics
Moderator: Philip Lane]

Institutional reform
Moderator: Francesco Giavazzi

Financial rescue and regulation
Moderator: Luigi Zingales

Development and the Crisis
Moderator: Dani Rodrik

Open markets
Moderator: Richard Baldwin

Policy Insights and Reports
Reforming financial supervision and the role of central banks
Donato Masciandaro, Marc Quintyn
Over the last ten years the financial supervision architecture and the role of the central bank in supervision therein has undergone radical transformation. A new CEPR Policy Insight addresses three questions. Which are the main features of the supervisory architecture reshaping? What explains the increasing diversity of the institutional settings? What are so far the effects of the changing face of banking and financial supervisory regimes on the quality of regulation and supervision?


The Fundamental Principles of Financial Regulation
The Editors
The latest ICMB/CEPR report discusses how world leaders should think about financial regulation reform, making a number of specific proposals.


The crisis of 2008: Structural lessons for and from economics
Daron Acemoglu
In a new Policy Insight, CEPR Research Fellow Daron Acemoglu provides his views on what intellectual errors have been made and what lessons these errors offer moving forward from the crisis of 2008.


What world leaders should do to halt the spread of protectionism
Richard Baldwin, Simon J Evenett
A collection of essays from 17 leading trade scholars from around the world addressing the question of what world leaders should do to stop the spread of protectionism.


Crisis Management in the European Union
Sylvester Eijffinger
In CEPR Policy Insight No 27, Sylvester Eijffinger discusses the crisis management in the EU. The paper describes the development of the crisis with the denial phase, the discovery phase and the disposal phase of the crisis. It also analyzes the nationalization of banks and the three conditions that need to be fulfilled to make a bailout as unattractive as possible.


What G20 leaders must do to stabilise our economy and fix the financial system
Richard Baldwin, Barry Eichengreen
Leaders of the G20 nations are meeting this weekend to discuss financial markets and the world economy. Announced just a few weeks ago, this summit is both very unprepared and very important. The world economy and world financial markets are in a delicate state. The latest E-book from VoxEU.org - published on Monday, 10 November - collects essays from some of the world's leading economists on what the G20 should do.
[Em Financial Instability, Eichengreen argumento sobre os benefícios da liberalização, In; Global crises, global solutions, ed by Bjorn Lomborg, Cambridge, 2004. Há um artigo grande sobre Access to education, de Lant Pritchett...]



A ideia de que os Estados Unidos poderão livrar-se de seu endividamento parece irrealista.
Todos os caminhos levam à ChinaPor Barry Eichengreen
27/07/2009
Somente mediante colaboração entre China e EUA é que esses países poderão tirar a economia mundial de sua atual depressão
Agora que definharam os "brotos verdes" da recuperação, o debate sobre o estímulo fiscal voltou com força redobrada. Nos EUA, quem defende outro pacote de estímulo observa ter sido um anseio irrealista acreditar que um pacote de US$ 787 bilhões poderia compensar uma queda de US$ 3 trilhões em gastos privados. Mas o desemprego cresceu ainda mais e mais rapidamente do que esperado. Isso, associado à queda continuada nos preço das moradias, torna compreensível que os gastos dos consumidores continuem deprimidos.
Os bancos, tendo sido recapitalizados apenas na medida necessária para mantê-los à tona, continuam com balanços patrimoniais frágeis. Sua resultante relutância em conceder empréstimos limita os investimentos. Por outro lado, os governos estaduais americanos, vendo quedas em suas receitas decorrentes de rendas tributáveis mais baixas no ano passado, estão cortando gastos como loucos. Se havia justificativas para um estímulo adicional em fevereiro passado, os argumentos agora são ainda mais fortes.
Mas os argumentos contra um estímulo adicional são também ponderáveis. O déficit federal americano é de alarmantes 12% do Produto Interno Bruto (PIB) e as projeções já indicam que a dívida pública, como fração da renda nacional, deverá dobrar, para 80% do PIB. A ideia de que os Estados Unidos poderão livrar-se, gradual e autonomamente, de sua carga de endividamento, como fizeram a Finlândia e a Suécia após suas crises financeiras na década de 90, parece irrealista.
Em vista disso tudo, mais gastos deficitários apenas alimentarão temores de maiores impostos e inflação futuras. Isso incentivará o ressurgimento de desequilíbrios em nível mundial e não tranquilizará consumidores ou investidores.
É possível discutir o quadro econômico dos dois pontos de vista, mas do ângulo político tudo aponta numa direção. O Congresso americano não demonstra apetite por outro pacote de estímulo. Os congressistas já sofreram intensas críticas por não colocarem ordem na casa fiscal do país. A lentidão com que o primeiro estímulo foi implementado e o fato de que levará ainda mais tempo para que seus plenos efeitos venham a ser sentidos são mais combustível para o discurso de analistas e especialistas.
O desapontamento diante dos efeitos do Programa de Socorro a Ativos Problemáticos (Tarp, na sigla em inglês) já liquidou o apoio popular - e do Congresso - a mais dinheiro público para recapitalizar os bancos. Assim, mesmo aqueles que julguem convincente a lógica econômica de argumentos em favor de ativismo fiscal devem reconhecer que as condições políticas não são favoráveis. Um segundo estímulo é simplesmente carta fora do baralho.
Para que haja maior demanda agregada, ela poderá vir de um único lugar. Esse lugar não é a Europa ou o Japão, onde o endividamento é ainda mais elevado do que nos EUA - e as precondições demográficas para reduzi-lo são ainda menos favoráveis. Ao contrário, a solução está em mercados emergentes como a China.
O problema é que a China já fez muita coisa para estimular a demanda interna, tanto mediante gastos governamentais como instruindo seus bancos a conceder empréstimos. Em consequência, seu mercado acionário está em efervescência e os chineses vivem um alarmante boom no mercado imobiliário. Em maio, os preços dos imóveis subiram 18% em relação a doze meses antes. Compreensivelmente, as autoridades chinesas estão preocupadas com problemas característicos de bolhas.
A maneira óbvia de equacionar a quadratura desse círculo seria gastar mais em importações. A China pode comprar mais maquinário industrial, equipamentos de transportes e material para a produção de aço, que estão entre suas principais importações provenientes dos EUA. Orientar os gastos no sentido da importação de bens de capital evitaria superaquecer os próprios mercados chineses, incrementaria a capacidade produtiva da economia (e, portanto, sua possibilidade futura de crescer) e fortaleceria a demanda por produtos americanos, europeus e japoneses exatamente no momento em que esse estímulo é mais necessário.
Essa estratégia não é imune a riscos. Permitir que o yuan valorize, como uma maneira de estimular importações, poderá também desestimular as exportações, tradicional motor do crescimento chinês. E baixar as barreiras aduaneiras a importações poderá redirecionar mais gastos para a aquisição de produtos estrangeiros do que pretendam as autoridades. Mas vale a pena assumir esses riscos, se a China deseja realmente um papel de liderança mundial.
A pergunta é: o que a China obterá em contrapartida. E a resposta nos leva de volta exatamente ao ponto de onde partimos, ou seja, à política fiscal americana. A China está preocupada com uma eventual desvalorização de seu US$ 1 trilhão investido em títulos do Tesouro dos EUA. Os chineses querem ter certeza de que os EUA honrarão seu endividamento. Por isso, a China quer ver um programa convincente de equilíbrio orçamentário americano após o fim da recessão.
E, apesar do que diz, o governo Obama ainda não ofereceu um roteiro convincente de consolidação fiscal. Se o fizesse, tranquilizaria os contribuintes americanos preocupados com os atuais déficits. Igualmente importante, também tranquilizaria as autoridades governamentais chinesas.
Vivemos em um mundo multipolar onde tanto os EUA como a China não são suficientemente grandes para exercer individualmente uma liderança econômica mundial. Para a China, liderança significa assumir riscos adicionais. Mas para que isso seja tolerável, os EUA precisam eliminar os riscos existentes que preocupam a China. Somente mediante colaboração os dois países poderão tirar a economia mundial de sua atual depressão.
Barry Eichengreen é professor de economia na Universidade da Califórnia, Berkeley. © Project Syndicate/Europe´s World, 2009. http://www.project-syndicate.org/


Anatomia de uma crise
Barry Eichengreen
23/09/2008
A saída para nossa atual turbulência financeira exige, para início de conversa, uma compreensão sobre como chegamos a esse ponto. A causa fundamental, segundo, entre outros, John McCain, foi ganância e corrupção em Wall Street. Embora eu não negue a existência de tais motivações básicas, gostaria de enfatizar que a crise tem suas raízes em decisões cruciais de política econômico-monetária que remontam a décadas.
Nos EUA, houve duas decisões cruciais. A primeira, na década de 1970, desregulamentou as comissões pagas aos corretores de ações. A segunda, na década de 1990, eliminou as restrições impostas pela lei Glass-Steagall à prática conjunta de atividades bancárias comercial e de investimentos. À época das comissões fixas, os bancos de investimento podiam viver confortavelmente executando negócios com ações. A desregulamentação implicou concorrência e margens mais estreitas. A eliminação da legislação Glass-Steagall então permitiu que os bancos comerciais penetrassem os territórios tradicionalmente exclusivos dos bancos de investimentos.
Como reação, os bancos de investimentos ramificaram suas atividades, passando a operar novos negócios, por exemplo originando e distribuindo complexos títulos derivativos. Eles tomaram dinheiro emprestado e o aplicaram visando sustentar sua lucratividade. Isso deu origem às primeiras causas da crise: o modelo de origem e distribuição de securitização e o recurso a enorme alavancagem.
É importante assinalar que essas foram consequências involuntárias de decisões de política econômico-monetária basicamente sensatas. Tudo o mais mantido constante, a desregulamentação permitiu que pequenos investidores incorressem em custos mais baixos ao negociar com ações, o que lhes foi favorável. Mas todo o resto não foi mantido inalterado. Em especial, o fato de que os bancos de investimentos - que essas mudanças de política governamental induziram à prática de atividades mais arriscadas - estavam inteiramente fora da rede regulamentadora foi uma receita para o desastre.
Analogamente, a eliminação da lei Glass-Steagall foi fundamentalmente sensata. Conglomerados permitem que instituições financeiras diversifiquem seus negócios, e a combinação com bancos varejistas permite que os bancos de investimentos banquem suas operações utilizando depósitos relativamente estáveis, em vez recorrer a mercados financeiros inconstantes. Esse modelo revelou sua viabilidade na Europa num período de séculos, e suas vantagens são evidentes nos EUA até mesmo agora, na aquisição do Merrill Lynch pelo Bank of America.
Mas a formação de conglomerados leva tempo para acontecer. No curto prazo, houve margem para que o Merrill Lynch, como os outros bancos de investimentos, dobrasse suas apostas. O banco permaneceu inteiramente fora da jurisdição das agências regulamentadoras. Como entidade individual, o banco ficou vulnerável a oscilações de mercado. Uma crise suficiente para ameaçar o sistema financeiro inteiro foi necessária para precipitar a inevitável conglomeração.
O outro elemento da crise foi o conjunto de políticas que deu origem aos desequilíbrios mundiais. O governo Bush cortou impostos. O Federal Reserve (Fed) baixou os juros em resposta à recessão de 2001. Enquanto isso, as inovações financeiras operaram no sentido de tornar o crédito ainda mais barato e mais amplamente disponível. Essa, evidentemente, é apenas a história do mercado de crédito imobiliário de segunda linha vista de outro ângulo. O resultado foi aumento dos gastos nos EUA e o declínio da poupança das famílias para território negativo.
De igual importância foram a ascensão da China e o declínio dos investimentos na Ásia após a crise financeira de 1997-1998. Tendo em vista que a China poupava quase 50% de seu Produto Nacional Bruto (PNB), todo esse dinheiro tinha de ir para algum lugar. Grande parte dele foi investido em títulos do Tesouro dos EUA e em obrigações da Fannie Mae e do Freddie Mac. Isso deu sustentação ao dólar e reduziu o custo da tomada de empréstimos pelas famílias americanas, estimulando-as a viver acima de suas posses. Isso também criou um mercado mais aquecido para os títulos de Freddie e Fannie, o que alimentou a "máquina de criar e distribuir".
Esses também não foram erros inequívocos de política governamental. A eliminação da pobreza para um bilhão de chineses é possivelmente o acontecimento individual mais importante em nossa vida. O fato de o Fed ter reagido rapidamente impediu o agravamento da recessão em 2001. Mas houve conseqüências não intencionais. O fato de as agências regulamentadoras americanas não terem tornado mais rigorosos os requisitos de capital e os critérios para concessão de empréstimos, quando abundantes afluxos de capital combinaram-se com o afrouxamento de políticas do Fed, deflagrou uma furiosa explosão de crédito. O fato de a China não ter agido mais rapidamente para incentivar gastos domésticos maiores, compatíveis com sua elevação de renda, jogou mais lenha na fogueira.
Agora, um setor financeiro inchado está sendo obrigado a apertar os cintos. Algumas conseqüências, como o casamento do Bank of America com o Merrill Lynch, são mais felizes do que outras, como o colapso do Lehman Brothers. Mas, seja como for, haverá enxugamentos. Os BCs estrangeiros estão contabilizando perdas de capital em seus investimentos impensados. Ao absorver os prejuízos de investimentos em papéis do Tesouro e de agências imobiliárias americanas, os fluxos de capital com destino nos EUA diminuirão. O déficit americano em conta-corrente e o superávit asiático encolherão. As famílias americanas terão de começar a poupar novamente.
A única anomalia é que, nas últimas semanas, o dólar valorizou. Agora que os EUA já não são considerados fornecedores de ativos financeiros de alta qualidade, seria de esperar uma desvalorização do dólar. O fortalecimento do dólar reflete a reação instintiva de investidores acorrendo aos títulos do Tesouro americano como um refúgio seguro. Vale a pena lembrar que a mesma coisa aconteceu em agosto de 2007, quando estourou a crise do subprime. Mas, depois que os investidores se deram conta da escala dos problemas financeiros americanos, a corrida aos títulos do Tesouro dos EUA serenou e o dólar retomou seu declínio. Agora, à medida que os investidores vão se dando conta da amplitude dos problemas financeiros americanos, voltaremos a ver o dólar retomar seu declínio.
Ressaltar ganância e corrupção como causas da crise aponta para um prognóstico sombrio. Não vamos mudar a natureza humana. Não podemos tornar os investidores menos gananciosos, mas uma ênfase em decisões de política de governo sugere uma expectativa mais otimista. Não podemos sempre prevenir consequências não intencionais e nem sempre podemos evitar erros de políticas, mas eles podem ao menos ser corrigidos. Mas isso demanda, em primeiro lugar, análise mais profunda das causas originais do problema.
Barry Eichengreen é professor de economia na Universidade da Califórnia, em Berkeley. © Project Syndicate/Europe´s World, 2008.
www.project-syndicate.org


Mesmo com a recente recuperação, a queda nas ações é muito maior hoje que no pós-1929
A recessão global de hoje e a Grande Recessão
Martin Wol
f17/06/2009
A demanda do setor privado só voltará quando países com altas taxas de poupança consumirem ou investirem mais
Os brotos verdes estão irrompendo. Pelo menos é o que nos dizem. Mas antes de concluirmos que a recessão acabará logo, devemos perguntar o que nos diz a história. Ela está entre os guias de que dispomos para a nossa desagradável situação atual. Felizmente, e definitivamente, temos as informações.
Infelizmente, a história que elas contam é triste.
Dois professores de História da Economia, Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e Kevin O'Rourke, do Trinity College, em Dublin, ofereceram quadros que valem mais do que mil palavras ("A Tale of Two Depressions" [Conto de duas depressões], junho de 2009, www.voxeu.org). No artigo, Eichengreen e O'Rourke situam a data do começo da recessão global atual, em abril de 2008, e da Grande Recessão, em junho de 1929. Quais são, pois, as suas conclusões a respeito do ponto em que estamos, com pouco mais de um ano já em recessão? A má notícia é que essa recessão se equipara plenamente à parte inicial da Grande Depressão. A boa notícia é que o pior ainda pode ser evitado.
Primeiramente, a produção industrial global segue a trilha do declínio na produção industrial durante a Grande Depressão de forma medonhamente semelhante. Dentro da Europa, o declínio na produção industrial da França e Itália tem sido pior do que aconteceu na década de 1930, ao passo que o do Reino Unido e da Alemanha é praticamente a mesma coisa. Os declínios nos EUA e Canadá também estão próximos dos ocorridos nos anos de 1930. Mas o colapso industrial do Japão tem sido muito pior do que na década de 1930, apesar de uma recuperação muito recente.
Segundo, o colapso no volume do comércio mundial tem sido muito pior do que durante o primeiro ano da Grande Depressão.
De fato, o declínio no comércio mundial no primeiro ano é igual ao declínio nos dois primeiros anos da Grande Depressão. Isso não se deve à proteção, mas ao colapso da demanda por bens manufaturados.
Terceiro, apesar da recuperação recente, a queda nos mercados acionários mundiais é muito maior do que no período correspondente da Grande Depressão.
Os dois autores resumem de forma incisiva: "Globalmente, estamos na esteira ou nos saindo ainda pior do que na Grande Depressão... Este é um evento do porte de uma Depressão".
O que conferiu o nome à Grande Depressão, porém, foi um declínio brutal ao longo de três anos. Desta vez, o mundo está aplicando as lições aprendidas com aquele evento por John Maynard Keynes e Milton Friedman, os dois mais influentes economistas do Século XX. A resposta das políticas públicas sugere que o desastre não será repetido.
Os professores Eichengreen e O'Rourke descrevem este contraste. Durante a Grande Depressão, a média ponderada da taxa de desconto das sete economias mais avançadas jamais caiu abaixo de 3%. Hoje ela está próxima de zero. Mesmo o Banco Central Europeu, o mais linha-dura dos grandes bancos centrais, reduziu a sua taxa para 1%. Durante a Grande Depressão a base monetária desmoronou. Desta vez, porém, ela continuou se expandindo. Realmente, a combinação de forte expansão monetária com recessão profunda suscita dúvidas sobre a explicação monetarista dada à Grande Depressão.
Por fim, a política fiscal tem sido muito mais agressiva desta vez. No começo da década de 1930, a média ponderada do déficit dos 24 países mais desenvolvidos continuava abaixo de 4% do PIB. Hoje, os déficits fiscais serão muito mais elevados. Nos EUA, o déficit geral do governo deverá ser de aproximadamente 14% do PIB.
Tudo isso está de acordo com as conclusões de um já clássico artigo de Carmen Reinhart, da Universidade de Maryland e Kenneth Rogoff, de Harvard ("The Aftermath of Financial Crises" [As sequelas das crises financeiras], Documento de Trabalho 14656, www.nber.org). Crises financeiras causam profundas crises econômicas. O impacto de uma crise financeira global deve ser particularmente grave. Além disso, "o valor real da dívida do governo tende a explodir, aumentando 86%, em média, nos episódios de vulto pós-Segunda Guerra Mundial". O motivo principal não são os "resgates" de bancos, mas as recessões. Após o fato, a concessão desenfreada de crédito privado se transforma em gasto público e em montanhas de dívidas. Governos solventes não aceitarão a alternativa de uma grande recessão.
A questão é saber se os incentivos sem precedentes atuais compensarão o efeito do colapso financeiro e dos acúmulos sem precedentes de dívida do setor privado nos EUA e demais lugares. Se o primeiro vencer, logo veremos um desvio positivo da trilha da Grande Depressão. Se o último vencer, isto não acontecerá. Está claro o que todos esperam. Mas o que nós devemos esperar?
Estamos testemunhando uma corrida entre a reforma dos balanços patrimoniais privados e o reequilíbrio global da demanda, por um lado, e a sustentabilidade do incentivo, do outro.
A demanda robusta do setor privado só voltará quando os balanços patrimoniais dos domicílios superendividados, das empresas com excesso de empréstimos e dos setores financeiros subcapitalizados forem reformados, ou quando países com altas taxas de poupança consumirem ou investirem mais. Nada disso acontecerá depressa. Na verdade, é bem mais provável que sejam necessários anos, considerando-se os extraordinários acúmulos de dívida da década passada. Durante os dois trimestres passados, por exemplo, os domicílios dos EUA quitaram apenas 3,1% da sua dívida. A desalavancagem é um processo demorado. Enquanto isso, o governo federal tornou-se o único tomador de empréstimo importante. Igualmente, o governo chinês pode expandir o investimento rapidamente. Mas é mais difícil que políticas públicas elevem os níveis de consumo.
É muito provável que a economia mundial necessite de políticas fiscais e monetárias agressivas por muito mais tempo do que se imagina. Isso deverá deixar políticos - e investidores - nervosos.
Contrapõem-se dois perigos. Um deles é que o incentivo seja retirado cedo demais, como aconteceu nos anos de 1930 e no Japão no fim da década de 1990. Em seguida, haverá uma recaída para a recessão, pois o setor privado ainda é incapaz ou avesso a gastar. O outro perigo é que o incentivo seja retirado tarde demais. Isso levaria a uma perda de confiança na estabilidade monetária, agravada por temores sobre a sustentabilidade da dívida pública, particularmente nos EUA, país provedor da principal moeda do mundo. No limite, os ascendentes preços em dólares das commodities e as crescentes taxas de juros de longo prazo dos títulos do governo poderão colocar os EUA - e as economias do mundo - numa estagflação nociva. Ao contrário de alguns alarmistas, não vejo nenhum indício deste tipo de pânico atualmente. Mas ele poderá acontecer.
No ano passado, a economia mundial caiu numa recessão. A resposta política foi maciça. Mas as pessoas que estão convencidas de que estamos no começo de uma recuperação robusta liderada pelo setor privado estão quase certamente enganados. Provavelmente a corrida rumo à recuperação plena será longa, árdua e incerta.
Martin Wolf é colunista do "Financial Times".


The Capitalist Manifesto: Greed Is Good (To a point)
By Fareed Zakaria NEWSWEEK
Published Jun 13, 2009 From the magazine issue dated Jun 22, 2009
A specter is haunting the world—the return of capitalism. Over the past six months, politicians, businessmen and pundits have been convinced that we are in the midst of a crisis of capitalism that will require a massive transformation and years of pain to fix. Nothing will ever be the same again. "Another ideological god has failed," the dean of financial commentators, Martin Wolf, wrote in the Financial Times. Companies will "fundamentally reset" the way they work, said the CEO of General Electric, Jeffrey Immelt. "Capitalism will be different," said Treasury Secretary Timothy Geithner. ... .... .... .... ..... .... ...... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ......... ..... ..... ..... ..... ...... ... .




A crise mundial e o otimismo no Brasil
20/04/2009
Muito se tem escrito comparando a presente crise mundial com a crise de 1929, concluindo que a atual recessão mundial é bem menos severa do que a de 1929. Uma comparação consiste em observar em um gráfico a evolução da produção industrial dos EUA nos dois episódios, colocando a base 100 no início de cada uma das duas crises, e comparando as duas trajetórias. Krugman ("The Great Recession versus The Great Depression", 20/03/2009) usa esse gráfico para mostrar que nos EUA a atual recessão é bem menor do que a de 1929. Comparação semelhante é frequentemente feita para o Índice Dow Jones, mostrando que neste caso a queda dos preços das ações nos EUA é também menor do que a ocorrida em 1929.
Em um trabalho ainda em progresso, Eichengreen e O' Rourke ("A Tale of Two Depressions", com um resumo em www.voxeu.org) contestam esses resultados. A atual crise espalhou-se por todo o mundo, provocando quedas da produção industrial muito maiores na Europa e no Japão do que nos EUA, e maiores também nos demais países asiáticos excluindo a China e a Índia, e nos países da América Latina, incluindo o Brasil. Eles refazem o exercício comparando a evolução dos índices da produção industrial mundial nos dois casos. A conclusão é muito diferente da que toma por base apenas os EUA: nos últimos nove meses, a queda da produção industrial mundial tem sido pelo menos tão aguda quanto a ocorrida durante os primeiros nove meses da crise de 1929. Já no caso do mercado de ações a conclusão é que no presente episódio a queda dos preços médios mundiais tem sido maior do que a ocorrida na crise de 1929.
A grande diferença entre o que vem ocorrendo na presente crise mundial e em 1929 repousa no campo das respostas de política econômica. Diferentemente do ocorrido em 1929 nos EUA, no presente episódio o Federal Reserve reduziu a taxa de juros até o limite da taxa nula e vem usando o ativo de seu balanço para expandir quantitativamente o crédito. Através do financiamento a instituições financeiras e da compra de instrumentos de crédito e de títulos de longo prazo, a base monetária praticamente foi multiplicada por três, inundando a economia de liquidez para evitar o colapso que a falta de liquidez provocou em 1929. Isto não é suficiente para eliminar a crise bancária, mas evita uma queda maior da atividade econômica. Mas taxa básica de juros nula significa que a economia ficou presa na "armadilha da liquidez", o que reduz a eficácia da política monetária, obrigando que a recessão seja combatida com a política fiscal. Novamente, a reação nos EUA foi correta, elevando o déficit público, ainda que impondo às gerações futuras a carga de uma dívida pública muito maior do que a atual. No Reino Unido e no Japão, a taxa básica de juros também chegou ao nível da "armadilha da liquidez", e em ambos os casos vem sendo usadas, em graus variados, a expansão quantitativa do crédito e a expansão fiscal. De um modo geral, contrariamente ao ocorrido em 1929, os Bancos Centrais e os Tesouros de todos os demais países vêm lançando mão de políticas fortemente expansionistas. As comparações de Eichengreen e O´ Rourke mostram que: no presente episódio as taxas de desconto dos BCs estão atualmente bem mais baixas do que em 1929; as bases monetárias estão crescendo significativamente acima do ocorrido em 1929; e os déficits públicos são bem maiores do que em 1929. Embora nos primeiros nove meses da atual crise o mundo tenha sofrido tanto ou mais do que nos primeiros nove meses da crise de 1929, ocorrerá recuperação mais rápida e o fundo do poço não será tão fundo quanto há 80 anos.
A recuperação será mais rápida do que em 1929, mas ainda assim será lenta. Significa que teremos que conviver por muito tempo com uma economia mundial deprimida, crescendo a taxas muito menores do que as observadas nos últimos anos. A atual crise tem muitas dimensões. Uma delas é a crise bancária, cuja solução é lenta e custosa. A outra vem da queda generalizada da demanda em todos os países, gerada pela gigantesca destruição de riquezas e agravada pela crise bancária. Quem olhar só para as recuperações recentes nas várias bolsas de valores ao longo do mundo poderá discordar. Afinal, "as bolsas antecipam o futuro", e como estão subindo indicariam recuperação em marcha.
É preciso evitar confusões. Uma reação correta de política econômica ocorreu quando o G-20 elevou os recursos do FMI para evitar o colapso de economias, notadamente do Leste Europeu. Estes são países financiados por bancos europeus, e se fossem a default agravariam a crise bancária. Por outro lado, embora bombardeado pelas críticas de Sachs e Stiglitz, o plano Geithner abre um caminho para a lenta e gradual solução da crise bancária nos EUA. Estas foram as duas iniciativas que reduziram a probabilidade de um colapso no sistema financeiro internacional, provocando uma correção nos preços das ações e colocando os índices em patamares um pouco mais elevados. Mas daí a dizer que a recuperação do mercado acionário está antecipando um crescimento sustentado das economias, com perspectivas de lucros das empresas em níveis mais altos e crescentes, vai enorme diferença.
Contrariamente ao otimismo da "primeira hora", a economia brasileira vem sendo seriamente afetada por esta crise. A queda do PIB no quarto trimestre de 2008, comandado pelo encolhimento do PIB da indústria e dos investimentos em capital fixo, mostrou este fato com clareza. Os dados da produção industrial até fevereiro indicam que o PIB da indústria sofrerá um novo encolhimento no primeiro trimestre de 2009, o que condena o Brasil a uma taxa negativa de variação do PIB este ano. O governo insiste em projetar um crescimento em torno de 2%, e o BC é mais conservador, projetando um crescimento de 1,2%. Se considerarmos estas taxas em módulo, ignorando o seu sinal, a projeção do BC é a mais correta, mas tem o sinal errado. Deveremos assistir em 2009 uma queda do PIB da ordem de 1,5%, sendo claro que estamos em recessão.
O Banco Central do Brasil vem usando todo o ferramental disponível: abaixando a taxa Selic; estimulando o crescimento do crédito; e prudentemente usando as reservas para cobrir parte da queda do crédito externo. Entende-se, também, que em uma crise desta dimensão ocorra uma redução do superávit primário, desde que se preserve a estabilidade da relação dívida/PIB. Mas nada disto impedirá que o PIB encolha em 2009, ainda que mostrando uma gradual recuperação na segunda metade do ano.
Affonso Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti são economistas e escrevem uma segunda-feira por mês.



February 20, 2009
Paul Krugman: Who’ll Stop the Pain?
Will recovery from the slump be a long, drawn out, painfully slow process?:



February 19, 2009
"The New Deal and the New New Deal"
Robert Reich says there are lessons in the Great Depression, but they won't be found among right-wing talking points:



"What Would Galbraith Say?"
Did JFK's decision to use tax cuts rather than government spending in an attempt to jump start a stalled economy help to cause, through a series of events, "an angry and disheartened public ... to hate the Democrats, hate liberals, and hate government," and did JFK's tax cuts therefore help to bring Richard Nixon to the White House?:




Obama's Housing Plan
I'm between classes, so here's a few quick takes from here and there on the housing proposal:



Greenspan's Updated Doctrine
I think Alan Greenspan deserves some credit for reexamining and changing his beliefs about the need to regulate financial markets:



"The Myth of the Universal Market"
Robert Stavins discusses the conditions required for markets to produce an optimal allocation of resources, and he notes that that "in the environmental domain, perfectly functioning markets are the exception, rather than the rule":



Divergent Unemployment Rates
Tim Duy:





"The Stimulus Bill and the Macro Impact"
Menzie Chinn on on the degree to which the stimulus package is temporary, timely and targeted, and how large the stimulus package is relative to the size of the problem we face. The graphs below show the temporary and timely aspects clearly, but as Menzie states, it is "not a perfect bill" and could have been targeted better, and it is "rather modest":





Crise põe em xeque status do dólar como reserva
The Economist
03/12/2007
O valor de todo papel-moeda no longo prazo é zero. A frase é de Bill Bonner, investidor e publisher da "Daily Reckoning", uma newsletter financeira contestatória. Então, por que deveria ser diferente com o dólar?
A moeda dos Estados Unidos foi infectada pela percepção de crise que está atormentando a economia do país e os mercados financeiros. As vendas especulativas de dólar estão perto do nível histórico mais alto, segundo calcula Stephen Jen, do Morgan Stanley. Muitos acreditam - e evidentemente alguns esperam - que o dólar pode estar com os dias contados enquanto moeda internacional. Paralelos preocupantes são vistos entre a queda recente do dólar e o declínio da libra esterlina como moeda de reserva meio século atrás.
O valor do dólar em relação à cesta das principais moedas do mundo, monitorada pelo Federal Reserve (Fed), atingiu recentemente o menor nível histórico. Contra um grupo maior de moedas, o dólar perdeu um quarto de seu valor nos últimos cinco anos. Seu declínio tem sido especialmente notável contra o euro. A certa altura de 2000, o euro era avaliado em 86 centavos de dólar; hoje ele compra US$ 1,48.
Não é nada incomum que moedas ganhem e percam valor, testando recordes. O que dá à queda do dólar um ar de crise é o fato das reservas cambiais mundiais estarem abarrotadas de ativos em dólar que estão se depreciando. Os estoques cambiais quase triplicaram para US$ 5,7 trilhões desde o começo da década. A China tem, sozinha, US$ 1,4 trilhão em reservas. Os cerca de US$ 1 trilhão colocam o Japão logo em seguida.
Nesse período de reservas inchadas, o dólar vem mantendo sua primazia. Ele ainda responde por perto de 65% das reservas cambiais identificáveis, segundo os dados mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI). Isso está dentro de sua participação histórica. Computando-se os dólares acumulados pela China e os países exportadores de petróleo do Oriente Médio (não incluídos no cálculo do FMI), a participação do dólar pode ser ainda maior.
O lugar do dólar como moeda de reserva sempre é questionado quando ele cai. Os períodos de fraqueza de 1977 a 1979, 1985 a 1988 e 1993 a 1995 sempre foram cheios de previsões de que os governos iriam trocar suas reservas para outras moedas. Um período de inflação alta, que afetou o dólar no fim dos anos 1970, tornou essa queda tão grave quanto o susto do momento. Entre 1978 e 1980, o Tesouro dos Estados Unidos vendeu US$ 6,4 bilhões em "Carter bonds", denominados principalmente em marcos alemães, para levantar recursos para defender o dólar. Em janeiro de 1980, o preço do ouro atingiu o recorde de US$ 835 (aproximadamente US$ 2.250 em valores atuais) por causa da grande procura dos investidores por uma alternativa ao dólar. E quando o dólar caiu para 81 ienes em 1995, muitos - incluindo a "The Economist" - viram o acontecimento como o começo do fim de seu status de moeda de reserva.
O dólar atravessou essas tempestades. Mas agora ele enfrenta uma tormenta feia que combina rajadas cíclicas e estruturais. Seu declínio nos últimos cinco anos impôs uma perda de capital enorme às reservas internacionais. Se isso ficar doloroso demais, bancos centrais poderão ser ver tentados a eliminar suas perdas e se desfazerem de seus dólares, provocando um colapso no valor da moeda. A vontade de vender é ainda maior pois eles sabem que outros bancos centrais também estão carregados de dólares. Aqueles que saírem primeiro das posições terão mais chances de salvar seu capital.
A necessidade que os Estados Unidos têm de financiamentos internacionais também é outro motivo a ser considerado. Há anos o país vem gastando mais do que ganha, mantendo grandes e persistentes déficits em conta corrente. No ano passado, o déficit americano foi de surpreendentes 6% do PIB. Para o país cobrir esse rombo, os investidores estrangeiros precisam comprar ativos em dólar - bônus, ações ou imóveis. Mas quanto maior a dívida internacional dos EUA, maior o risco de que o país venha a dar calote em parte de suas obrigações, seja através da fraqueza do dólar ou da inflação.
Essas vulnerabilidades não são novas, mas foram agravadas por uma economia que está azedando. As perdas com hipotecas subprime intensificaram a queda do setor imobiliário dos EUA e envenenaram seus mercados de crédito. A ameaça de recessão já levou a dois cortes nas taxas de juros e mais reduções devem ocorrer. O fraco crescimento e a queda dos juros contribuem para uma moeda fraca, especialmente quando as perspectivas de crescimento em outras partes do mundo parecem melhores.
A retração dos EUA também apresenta outros problemas. Os países do Golfo Pérsico, ricos em petróleo, estão pensando em abandonar a âncora cambial ao dólar. Esses laços vêm obrigando esses países a comprar dólares, para impedir a valorização de suas próprias moedas. A âncora ao dólar têm dificultado o controle da inflação, especialmente nos países ricos em petróleo, que estão crescendo rapidamente, enquanto um regime cambial menos rígido - digamos, uma âncora a uma cesta de moedas - poderia permitir uma política de juros mais flexível. Tal regime também afetaria a demanda por dólares num momento em que a confiança na moeda está fragilizada. Tudo isso pode não ser um bom prenúncio para o status do dólar como moeda de reserva por excelência.
Mas mesmo que este seja um período complicado para a moeda, ele não chega a ser catastrófico. O temor de que o dólar venha a ser suplantado rapidamente como principal moeda, é baseado na idéia de que uma moeda sempre será um quase monopólio: se uma pessoa tem dólares principalmente porque outra tem, pode-se imaginar como uma queda de participação nas reservas mundiais pode chegar ao ponto em que os bancos centrais subitamente mudarão para um novo padrão cambial.
A posição de destaque do dólar no comércio internacional deve-se sobretudo e esse tipo de efeito de rede. Os mercados mundiais de commodities têm seus preços estabelecidos quase que exclusivamente em dólares porque isso é conveniente para os compradores e vendedores. Mas os países exportadores de petróleo não conseguiriam mais receitas se os preços das commodities fossem estabelecidos em euros ou libras. As pressões competitivas de demanda e oferta estabelecem o preço do petróleo: o dólar é apenas uma maneira fácil de acompanhar os resultados. A convenção da cotação em dólar é sempre empregada quando a moeda de um ou mais parceiros comerciais não é usada. Uma vez estabelecido esse padrão, há custos para a mudança para um novo. Mas os benefícios que os EUA têm por emitirem a moeda favorita nas transações comerciais são facilmente exagerados. Os avanços na tecnologia financeira significam que um certo volume de comércio exige flutuação do dólar muito menor do que no passado.
O papel do dólar enquanto meio de troca internacional é totalmente diferente de seu papel enquanto moeda de reserva. As reservas são mantidas para sustentar a confiança na própria moeda de um determinado país, e não como uma bóia para o comércio mundial. Enquanto barreira, as reservas precisam ser facilmente conversíveis (para que possam ser usadas como uma fonte de liquidez de emergência) e um bom estoque de valor. O dólar, com seus mercados de capitais grandes e cheios de liquidez, atende o primeiro critério, mesmo que tenha falhado no segundo - pelo menos recentemente.
Barry Eichengreen, professor de economia da Universidade da Califórnia em Berkeley, afirma que não há razão para uma única moeda dominar as reservas, como acontece com o dólar. Antes da era do padrão dólar, observa ele, as reservas eram formadas em um punhado de moedas. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, quando o Reino Unido era a maior potência comercial do mundo, a participação de libra nas reservas oficiais era igualada pela participação combinada do franco e do marco alemão. Depois da guerra, uma divisão de três vias foi mantida, com o dólar substituindo o marco.
Se o domínio do dólar acabar, duas ou mais moedas provavelmente dividirão a coroa. Há quem aposta no yuan chinês como uma grande moeda de reserva do futuro. Mas o rival imediato é o euro. Em vários aspectos importantes - o tamanho da área do euro, a sofisticação de seus mercados de capitais e sua participação no comércio mundial - ele possui os atributos da moeda de reserva ideal. Ao contrário dos EUA, a zona do euro tem um atrativo adicional: uma conta corrente bastante equilibrada.
O euro já fez incursões no território do dólar. Em seu lançamento, em 1999, suas moedas constituintes - o marco, o franco, a lira, etc. - respondiam por menos de um quinto das reservas mundiais oficiais. Desde então, sua participação aumentou para cerca de um quarto, mesmo tendo o total das reservas cambiais inflado. A área do euro depende menos que os EUA das importações de petróleo e vende mais para países exportadores, além de economias em crescimento acelerado como a China e o Brasil.
Os atrativos do euro podem estar de certa forma um pouco acentuados no momento. Ele vem ganhando valor rapidamente, favorecido pelas forças cíclicas que o vem beneficiando em detrimento do dólar. Mas apenas um ano atrás, a economia claudicante da Itália e problemas fiscais inspiravam conversas sobre um fim do euro. Apenas cinco anos atrás o euro era considerado irremediavelmente fraco.
Mas embora as perspectivas de curto prazo pareçam favoráveis ao euro, o cenário de médio prazo pode não ser tão animador. A valorização do euro já está provocando tensões dentro da zona do euro. Nas próximas décadas, a força de trabalho da zona do euro deverá envelhecer mais rapidamente que a dos EUA, o que vai prejudicar a economia e contribuir para as pressões fiscais.
Apesar da ansiedade e do pessimismo, há sinais de que o declínio do dólar poderá em breve ter o ritmo reduzido. Nas últimas semanas ele reconquistou terreno contra um punhado de moedas importantes, incluindo libra e dólar australiano. A balança comercial dos EUA está encolhendo, apesar dos efeitos das importações de petróleo caras, sugerindo que uma moeda mais fraca já está trabalhando para corrigir desequilíbrios.
Via de regra, os bancos centrais não podem interferir para determinar as taxas de câmbio, mas conforme sugere Stephen Jerns, do Morgan Stanley, algum tipo de ação oficial sempre precedeu os pontos de virada nos mercados cambiais mundiais. Se ele estiver certo, então uma mudança na retórica ou mesmo uma intervenção coordenada poderão ser o sinal de que os mercados precisam, antes de deixarem de acreditar que o dólar está destinado a cair ainda mais.



Reinado do dólar começa a ser ameaçado
The Economist
24/10/2005
A cada dez anos, mais ou menos, os economistas se perguntam se o reinado do dólar como principal moeda de reserva do mundo não está começando um lento declínio. Essas ruminações normalmente coincidem com uma queda no valor do dólar. Nos últimos 30 anos, o dólar registrou quatro arroubos de queda consideráveis. Durante o mais recente deles, que começou em 2002, ele se desvalorizou 28% em relação ao euro e 14% contra uma cesta ampla de moedas. Mesmo assim, 66% das posições oficiais de câmbio do mundo ainda estão em dólares, comparado a 25% em euros, 4% em ienes e 3% em libras, segundo números publicados no mês passado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
E, mesmo assim, aqueles que são céticos em relação ao dólar observam que desta vez a coroa do dólar está, se não oscilando, pelo menos inclinada. O déficit em conta corrente dos Estados Unidos, a 6% do PIB, é o maior já registrado; suas obrigações externas líquidas, correspondentes a 22% do PIB, também estão próximas de um recorde histórico.
TABELA
Os bancos centrais estrangeiros parecem ter reduzido as compras de títulos do Tesouro americano: as posições oficiais desses papéis cresceram apenas US$ 2 bilhões nos primeiros sete meses de 2005, contra US$ 295 bilhões em 2004 como um todo e US$ 175 bilhões em 2003. Se essa tendência continuar, outras moedas poderão um dia desafiar o domínio do dólar.
A história oferece, talvez, um verdadeiro exemplo de mudança de uma moeda de reserva, da libra esterlina para o dólar. A libra reinou durante a era do padrão ouro. Mas nos anos que se seguiram a 1914, o Reino Unido passou de credor líquido a devedor líquido, e na década de 20 o dólar era a única moeda conversível em ouro (embora a libra tenha retornado ao padrão ouro em 1925). Duas guerras e dois episódios de desvalorização cambial no Reino Unido depois, o dólar era indiscutivelmente a principal moeda de reserva do mundo.
O pretendente mais provável à coroa do dólar é o euro. As moedas de reserva precisam ter uma economia doméstica com uma grande parcela da produção mundial, comércio e finanças. A economia dos Estados Unidos ainda domina, mas a zona do euro não é muito menor. O comércio total da zona do euro com o resto do mundo é tão grande quanto o dos EUA; cerca de metade desse comércio é faturado em euros.
O mercado financeiro do país da moeda de reserva também precisa ser amplo, aberto e bem desenvolvido. Os EUA estão à frente da zona do euro na maior parte das comparações, mas a criação da moeda única européia tem ajudado a integrar os mercados financeiros da Europa.
A confiança no valor da moeda é também uma exigência importante, e é aí que os críticos do dólar vêm mirando. Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, afirma em um estudo recente que a capacidade do dólar de manter seu papel de moeda de reserva vai depender principalmente das próprias políticas americanas. Se os EUA permitirem a continuidade de seu enorme déficit em conta corrente, e o aumento de suas obrigações externas líquidas, a disposição dos estrangeiros de manter mais dólares vai diminuir. O dólar iria se desvalorizar, criando uma pressão inflacionária nos EUA e tornando as reservas em dólares ainda menos atraentes - talvez mesmo se o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, aumentasse as taxas de juros.
Em outro estudo, Menzie Chinn, da Universidade de Wisconsin, e Jeffrey Frankel, de Harvard, estimam a importância desses fatores na determinação das parcelas das diferentes moedas nas reservas mundiais totais. Eles levam em conta as "exteriorizações de rede": a tendência de cada autoridade monetária favorecer a moeda dominante porque todas as outras assim o fazem. Eles usam essas estimativas para prever se o euro pode tomar do dólar o papel de principal moeda de reserva do mundo.
Ele poderá, mas não no curto prazo. Suponha, dizem as autores, que o dólar tenha desvalorização de 3,6% em relação a uma cesta de moedas por ano, enquanto o euro ganha 4,6% ao ano - as mesmas taxas registradas em 2001/2004. Então, eles avaliam, o euro poderá se tornar a principal moeda em 2024. Se, além disso, Reino Unido, Suécia, Dinamarca e todos os países do centro e leste da Europa que se juntaram à União Européia no ano passado adotarem o euro, ele poderá superar o dólar em 2019.
É claro que é impossível prever tal mudança com precisão. O dólar, afinal, levou décadas para desbancar a libra. E a zona do euro possui fraquezas econômicas óbvias. Além disso, com o pacto de estabilidade e crescimento cambaleando e a constituição da União Européia rejeitada pela França e Holanda, alguns até se perguntam se a moeda única européia estará viva em 20 anos, quanto mais competir com o dólar.
Outro ponto de vista, apresentado por Eichengreen, é que o mundo em algum momento poderá ter mais de uma grande moeda de reserva. O dólar poderá ter que dividir seu status se outras moedas se tornarem mais atraentes. A preferência de se atar à moeda dominante poderá garantir a posição da moeda americana por um longo período. Mas, à medida que os mercados de outros países ganham mais liquidez, esse efeito é enfraquecido e outras moedas se tornam mais confiáveis com valor de reserva. Essa competição poderá, então, deixar de ser um jogo em que o vencedor leva tudo.
Esse processo, diz Eichengreen, favorece o euro. Ele tem dúvidas quanto a outros candidatos, especialmente o yuan, a moeda chinesa. Ela observa que tanto a Europa quanto os EUA "possuem instituições fortes, respeitam os direitos de propriedade e contam com políticas macroeconômicas sólidas em relação ao resto do mundo". Na China, há controle do capital, os mercados financeiros não apresentam muita liquidez nem transparência e a incerteza sobre os direitos de propriedade tornam o yuan um concorrente improvável. Se o dólar vai perder, ou será forçado a compartilhar, seu papel de destaque entre as moedas de reserva é algo que dependerá principalmente da decisão dos EUA de prosseguirem com políticas econômicas que em algum momento vão minar sua posição. Mesmo que os EUA mudem de curso, a coroa poderá escorregar um pouquinho.


A hegemonia do dólar revisitadaeichengreen
16/06/2005
A questão vai e vem. Está na mesa há pelo menos três anos, desde que o euro entrou em circulação, em janeiro de 2002. Mas, mesmo antes disso, a questão da longevidade da hegemonia do dólar já era tema de apaixonadas discussões acadêmicas.
Com muita razão, portanto, a recente valorização do dólar face ao euro, no rastro do posicionamento de franceses e holandeses, contrários à adoção de uma só Constituição no continente europeu, acendeu mais uma vez a polêmica. O pano de fundo é, como se sabe, o elevado déficit em conta-corrente do balanço de pagamentos dos Estados Unidos.
TABELA
No entanto, como tudo no mundo é relativo, ao peso daquele déficit se contrapõe a situação econômica da própria zona do euro, apanhada em uma aparente enrascada que conjuga elementos típicos de estagnação da economia com algumas profundas dúvidas de origem política. Uma reforça a outra.
Os dados do primeiro trimestre do ano revelam uma Itália em recessão e uma França que cresceu apenas 0,2% no período. A OCDE já refez suas estimativas para a taxa de crescimento da zona do euro: para este ano, a previsão é de que a economia não cresça mais do que 1,5%, contra a estimativa anterior de 1,9%, enquanto que para 2006 o último dado aponta para 2%, abaixo dos 2,5% imaginados antes.
É claro que a roseira foi balançada mesmo pelos referendos da França e da Holanda, agravados esses resultados pelas declarações de expoentes políticos europeus que, em um rasgo de descontrole, chegaram a proclamar a volta de suas antigas moedas. Foi o caso da lira, defendida pelo ministro do Trabalho da Itália. Isso tudo veio mostrar que o projeto de unificação monetária europeu é forte mas nem tanto. No rastro dessas incertezas até pouco tempo insuspeitas, o dólar foi recuperando valor face ao euro, chegando a acumular ganho de mais de 10% no início da semana.
Já há quem apregoe no mercado financeiro internacional recuperação ainda mais acentuada do dólar, com perspectiva de que o euro caia para em torno de US$ 1,150 em três meses. Na segunda-feira, estava em torno de US$ 1,203.
São movimentos que afetam as moedas fortes e ajudam, obviamente, a reforçar a posição daqueles que defendem a continuidade da hegemonia do dólar, apesar do déficit em conta-corrente e do déficit fiscal dos Estados Unidos. Isso ganha ainda mais sentido para essa corrente quando se considera a decisão tomada pelo governo norte-americano, no sentido de conceder benefício fiscal para as empresas multinacionais que repatriarem dinheiro que têm aplicado no exterior.
Há estimativas de que o incentivo traga de volta aos Estados Unidos cerca de US$ 100 bilhões até o final deste ano, a maior parte disso convertida a partir de aplicações no exterior feitas em euro. Se confirmado, ajudaria a reforçar o valor do dólar.
O assunto, no entanto, não deve morrer no meio acadêmico. Pelo contrário, as opiniões tendem a se consolidar em clima de acentuada divergência.
Recentemente, o economista norte-americano Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, escreveu um artigo no qual faz um histórico das duas principais moedas que até aqui detiveram posição hegemônica no mercado financeiro internacional em momentos distintos: a libra esterlina e o dólar norte-americano. O título é nessa linha. "Sterling's Past, Dollar's Future: Historical Perspectives on Reserves Currency Competition" ("O Passado da Libra Esterlina, o Futuro do Dólar: Perspectivas Históricas da Competição entre Moedas de Reserva").
A posição de Eichengreen é conhecida e ele a reforça nesse paper. Não concorda, por exemplo, com a idéia de que não pode existir mais de uma moeda forte competindo pela predominância na aplicação das reservas internacionais dos BCs.
A tese de que a tendência, no mundo, é de que só uma moeda vingue como predominante (em termos de comércio, de transações financeiras e como depósitos bancários nos bancos internacionais) é defendida arduamente por alguns economistas, mas Eichengreen refuta essa posição sob a alegação de que os bancos centrais tendem a optar pela moeda mais conveniente em termos de remuneração, risco e liquidez. Duas ou mais moedas fortes podem competir por isso, acredita.
Segundo, acha que apesar da pujança da economia dos Estados Unidos, não se deve menosprezar o tamanho de sua dívida com o resto do mundo, equivalente a 25% do tamanho do PIB norte-americano. "Nunca antes se viu uma moeda de reserva representar um país com tanta dívida", nota.
A menos que o governo dos Estados Unidos tome jeito - com corte nos déficits e redução do endividamento, condições que considera necessárias para a continuidade do poder do dólar -, a tendência, diz Eichengreen, seria de convivência entre duas moedas de reserva no mundo, com o euro dividindo espaço com o dólar. O iene, que em meados da década de 80 era saudado para forte candidato a moeda de reserva dos bancos centrais, continua sofrendo as mazelas da economia japonesa que há mais de dez anos não sai do lugar.
Fazendo coro às avaliações um tanto precipitadas, Eichengreen chega a prognosticar que o renminbi chinês tem condições de ocupar um importante espaço como moeda de reserva internacional, desde que a China consiga resolver seus problemas internos. Essa perspectiva, conforme ele mesmo coloca, seria algo para o longo prazo, dentro de 40 ou 50 anos.
A tabela dá uma mostra do peso que ainda tem o dólar como moeda de reserva para os bancos centrais do mundo. No passo em que vai a Europa, é de se imaginar que a moeda norte-americana ainda tem muito fôlego para manter a hegemonia ainda por bom tempo.






Proposals to fix the financial system: A stocktaking
Thomas Philippon, 15 February 2009
Proposals for financial regulatory reform are everywhere. This column presents an opinionated synthesis of the key issues and proposals with the aim of focusing and stimulating the debate.



Proposals to fix the financial system: A stocktakingThomas Philippon, 15 February 2009
Proposals for financial regulatory reform are everywhere. This column presents an opinionated synthesis of the key issues and proposals with the aim of focusing and stimulating the debate.
Life expectancy, medical expenses, and old age savingMariacristina De Nardi, Eric French, John B. Jones, 14 February 2009
The risks of living long and facing high medical expenses go a long way toward explaining elderly persons’ saving decisions. This column shows that the elderly, especially those with high lifetime incomes, keep large asset holdings to address these health concerns. Such behaviour is particularly strong in the US.
How high will the unemployment rate rise?Mike Elsby, Bart Hobijn, Aysegul Sahin, 14 February 2009
Unemployment is rising – job losses are up 30% in the US and 50% in the UK since 2007. How bad will it get? This column uses data on unemployment inflows and duration to predict labour market trends. A conservative estimate says that unemployment will reach at least 5% in Britain and 13.5% in Spain.
Reforming the IMFJohn Williamson, 14 February 2009
The IMF was created in part to help small economies deal with cyclical downturns. Yet few nations turn to the IMF except as a last resort. It sits hardly utilized in the face of the most severe shock the world has faced since the outbreak of WW I. This column argues that changing this unacceptable outcome requires two types of reforms.
No ordinary recession: There is much to fear beyond fear itselfAxel Leijonhufvud, 13 February 2009
This recession is different. Balance sheets of consumers, firms, and banks are under strain. The private sector is bent on reducing debt and this offsets Keynesian stimulus more than standard flow calculations would suggest. Bank deleveraging is by far the most dangerous. Fiscal stimulus will not have much effect as long as the financial system is deleveraging.
Have social security reforms shifted too much risk to individuals?Monika Bütler, 13 February 2009
Pension system reforms have increased individual choice and individual risk. This column says that the current crisis proves that those reforms exposed individuals to too much risk. It argues for greater use of intergenerational transfers and says that it would be better if retirement plans were treated as insurance rather than pure investment decisions.
Crisis lessons from Irving Fisher: Fix the debt-deflation disease, not its symptomsEnrique G. Mendoza, 12 February 2009
This column rehabilitates Irving Fisher’s debt-deflation theory to explain the current crisis. It suggests that fiscal stimulus will do little to prevent the crisis from becoming a protracted slump because the problem lies in finance. A cure will require reversing deflation and restarting the credit system.
Local currency bond markets and financial stabilityFrank Warnock, 12 February 2009
Global finance is made more fragile by the inability of most nations to borrow in their own currencies. This means depreciations often lead to debt and/or banking crises, and it encourages global imbalances. Capital flows out of emerging markets into US debt securities, returning to those same nations in the form of corporate and sovereign borrowing, with this roundtrip adding a currency and maturity mismatch. Encouraging the development of local currency bond markets would be one way of reducing the global financial system’s instability.
Fiscal Policy for the CrisisAntonio Spilimbergo, Steven Symansky, Olivier Blanchard, Carlo Cottarelli, 12 February 2009
The global crisis demands bold initiatives to i) rescue the financial sector, and ii) boost aggregate demand, with early resolution of financial sector problems being a necessary condition for the stimulus to work. Since monetary policy is at the end of its rope, early, strong, and carefully thought-out fiscal policies are urgently needed. Time and action are of the essence if we are to avoid a contraction larger than any we’ve seen since the 1930s.
Financial innovation, regulation, and reformCharles W. Calomiris , 12 February 2009
The financial crisis happened because the rules of the game – shaped by government policy – promote the wilful undertaking of excessive, value-destroying risks by managers who were not effectively disciplined by shareholders. This column outlines the six key areas where regulatory reform is essential to preventing a repeat.
Deflation or disinflation?Robert Ophèle, 11 February 2009
The recent rapid fall in inflation, amidst a financial crisis and a very sharp economic slowdown, has raised the spectre of deflation. But, this column argues, current dynamics in France and the euro area are actually characteristic of a much more positive disinflationary trend, resulting from a temporary correction of certain prices, such as energy prices.
Liquidity insurance for systemic crisesEnrico Perotti, Javier Suarez, 11 February 2009
Most financial system reform proposals rely on better managed, anti-cyclical capital requirements, or some sort of insurance. This column argues that mandatory liquidity insurance would be more effective. The insurance premiums – linked to maturity mismatch and term structure – would essentially be pre-payment for the cost of future financial crises and held in an Emergency Liquidity Insurance Fund.



Buy American is bad for America (and everyone else)
Gary Clyde Hufbauer, Jeffrey J. Schott , 5 February 2009
The “Buy American” provision in the US stimulus package would violate US trade obligations, damage the US' reputation, and have almost no real impact on US jobs. Moreover, the provisions will be read as an Obama trade policy that leans toward protectionism – with severe consequences abroad.


Flying Blind
By JOE NOCERA
Published: February 13, 2009
“We have involved ourselves in a colossal muddle, having blundered in the control of a delicate machine, the working of which we do not understand.”
So wrote the great economic iconoclast John Maynard Keynes in an essay titled “The Great Slump of 1930,” published in December of that year. Thirteen months had passed since the crash of 1929; the world was living, in Keynes’s words, in “the shadow of one of the greatest economic catastrophes of modern history.”
I shuddered when I read this quotation in “Lords of Finance,” a magisterial work by Liaquat Ahamed, a veteran hedge fund manager and Brookings Institution trustee. A grand, sweeping narrative of immense scope and power, the book describes a world that long ago receded from memory: the West after World War I, a time of economic fragility, of bubbles followed by busts and of a cascading series of events that led to the Great Depression.
The “delicate machine” Keynes referred to was of course the global economy. By 1930, when he wrote his essay, the West was in bad shape. A combination of divisive postwar politics, a refusal to abandon economic orthodoxy and a series of policy errors by the world’s four most important central banks — the Federal Reserve, the Bank of England, the German Reichsbank and the Banque de France — had led to the near collapse of capitalist economies in the West. “Industrial production had fallen 30 percent in the United States, 25 percent in Germany and 20 percent in Britain,” Ahamed writes. “Over 5 million men were looking for work in the United States, another 4.5 million in Germany and 2 million in Britain.” ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... .... .... ... .... ... ... ... ...
Related
First Chapter: ‘Lords of Finance’ (January 15, 2009)
Up Front: Joe Nocera (February 15, 2009)
'Lords of Finance,' by Liaquat Ahamed: A Monetary Horror Story That Looks Like Today’s (January 15, 2009)




OP-ED COLUMNIST
Disgorge, Wall Street Fat Cats
By MAUREEN DOWD
The president’s disgust at Wall Street looters was good. But we need more. We need disgorgement. Disgorgement is when courts force wrongdoers to repay ill-gotten gains.



Op-Ed Contributor
The Value of ‘Other People’s Money’
By MELVIN I. UROFSKY
Published: February 6, 2009
Gaithersburg, Md.
SOME things never change. When President Obama spoke last week of “shameful” bonuses for bankers and the financial community’s “irresponsibility,” he echoed charges leveled nearly a century ago by Louis D. Brandeis. Brandeis, a commercial lawyer, leading reformer and future Supreme Court justice, described a dangerous combination of avarice, lack of accountability and poor oversight in “Other People’s Money, and How the Bankers Use It,” one of the best-known exposés of the Progressive era.
Published in 1914, the book was based on the revelations of the House of Representatives’ Pujo Committee about the predatory practices of J. P. Morgan and other big bankers. “Other People’s Money” influenced both Woodrow Wilson’s New Freedom agenda and Franklin Roosevelt’s New Deal. It also offers valuable lessons for today. ... .... .... ..... ..... .... .....


Good Bank, Bad Bank; Good Plan, Better Plan
By MAX HOLMES
The government can assume toxic debt without printing money.

Dialing for Derivatives
By RICK MORANIS
Imagine calling a financial institution, BadBank, otherwise known as “Slumdog Billionaire.”

The Mile-High Office
By WILLIAM GARVEY
The manufacturing and ownership of private jets helps to further the country’s commerce and interests. With that in mind, Congress shouldn’t disparage the already weakened industry.

If We Buy American, No One Else Will
By DOUGLAS A. IRWIN
A provision in the stimulus bill that gives preference to domestic steel companies in building contracts may seem reasonable, but in reality could prolong the global recession.



The Big Fix
By DAVID LEONHARDT -MAGAZINE
The challenge for the Obama administration is transforming the economy when Wall Street and Silicon Valley aren’t able to.



Even worse than it looks - The Economist


"Fiscal Stimulus: More Needed?"
Susan Woodward and Robert Hall:


January 31, 2009
Cyclists versus Structuralists
Robert Reich:


The Global Crisis Debate
Vox EU is conducting a Global Crisis Debate: ... ... .... .....


Rewriting the rulebook for 21st-century capitalism - Jeffrey Sachs


In defence of crass materialism (temporarily) - Nick Rowe


The Stimulus Debate That Matters - E. J. Dionne Jr.


Do House Republicans Understand Tax Policy and Consumption Demand? - pgl


Herbert Hoover Lives - Frank Rich - NYTimes.com


January 28, 2009
An Ideological Turf War
Paul Krugman: .... .... .... grande.... big.....

Damnification - Paul Krugman

On Paul Krugman’s Nobel Prize - voxeu.org

The Geithner put - Paul Krugman

Another temporary misunderstanding - Paul Krugman



January 29, 2009
Sachs: 21st-Century Capitalism
Jeff Sachs seems to be pleased with the new administrations commitment to "a new age of sustainable development":

Sachs: A Fiscal Straitjacket
Jeff Sachs is worried that the stimulus package, especially the components involving tax cuts, will do more harm than good by starving the economy of the revenues needed to fund vital programs: ... ... .... .... ...




Ricardian Equivalence and government spending - Nick Rowe

Ricardian Equivalence Does Not Imply Fiscal Stimulus Will Be Ineffective - pgl



An $800 Billion Mistake - Martin Feldstein

Feldstein: The Case for Fiscal Stimulus









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05/02/2009
Crise econômica mundial: Moeda, mediação e intervenção do Estado
A crise mundial deve, no mínimo, recolocar o símbolo moeda no seu devido lugar, aliás, de onde nunca deveria ter saído: a Moeda é meio e não fim. A moeda não pode ser a mercadoria mais valiosa do mundo! O momento atual exige a criação de um novo modo de atividade econômica, onde a moeda atue como mediadora no conjunto das demais atividades sociais, e não seja mais o principal elemento da vida social. A análise é de Ademir Buitoni
Ademir Buitoni
1. O Caráter Monetário da Crise Global - 2. A Moeda Como Símbolo - 3. Funções da Moeda - 4. O Estado: Entre a Intervenção e a Mediação - 5. Crise Econômica e Crise Ecológica - 6. Conclusões.1. O CARÁTER MONETÁRIO DA CRISE GLOBALO ano de 2008 registrou uma das mais graves e profundas crises econômicas dos últimos cem anos, com conseqüências ainda imprevisíveis para a vida dos cidadãos deste complexo mundo do século XXI. Trata-se de uma crise que só superficial e aparentemente tem origem nas questões do inadimplemento das hipotecas americanas (sub prime), mas que, na verdade, vem se desenhando há muito mais tempo no atual sistema econômico capitalista.O Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz avaliou que essa crise representou a queda do conceito do fundamentalismo do mercado livre, assim como a queda do Muro de Berlim foi o símbolo do fim do comunismo. Disse ele: ”O programa da globalização esteve estreitamente ligado aos fundamentalistas do mercado: a ideologia dos mercados livres e a liberalização financeira. Nesta crise observamos que as instituições mais baseadas no mercado vieram abaixo e correram a pedir ajuda do Estado. Todo mundo dirá agora que este é o final do fundamentalismo de mercado. Neste sentido a crise de Wall Street é para o fundamentalismo de mercado o que a queda do muro de Berlim foi para o comunismo: ela diz ao mundo que este modo de organização econômica é insustentável” (cf.Joseph Stiglitz, entrevista para El Pais, Nathan Gardels, 25.9.08).A dimensão da crise parece ser mais ampla atingindo, inclusive, outros campos da atividade humana, ligados á ecologia, produção de energia e alimentos, como já foi também observado:“Nunca havia acontecido antes. Pela primeira vez na história da economia moderna, três crises de grande amplitude – financeira, energética e alimentar – estão em conjunção, confluindo e combinando-se. Cada uma delas interage sobre as demais, agravando, de modo exponencial, a deterioração da economia real. Por mais que as autoridades se esforcem em minimizar a gravidade do momento, o certo é que nos encontramos diante de um sismo econômico de magnitude inédita, cujos efeitos sociais, que mal começaram a se fazer sentir, explodirão nos próximos meses com toda a brutalidade.” (cf. Ignácio Ramonet, Le Monde Diplomatique, julho/2008). Em decorrência mesmo de vivermos numa sociedade globalizada a crise assume proporções globais.Nosso foco, porém, neste artigo, é analisar mais o caráter financeiro da crise, ou seja, as questões ligadas, sobretudo ao fenômeno da moeda, ao fluxo monetário mundial, assuntos pertinentes basicamente ao uso simbólico da moeda. Vamos discutir o que é e como funciona, no centro da crise, essa formidável e idolatrada invenção humana: a moeda.Nas outras crises econômicas as discussões principais foram ligadas ao excesso ou escassez de produção de mercadorias, ao controle de preços, a dominação de mercados, proibição de importações, estímulo de exportações ou problemas análogos. O problema agora é o dinheiro, a moeda, é como lidar com o complexo mercado financeiro nacional e internacional. O funcionamento e utilização da moeda, que o liberalismo tratou com tolerância, quase sem limites, nos últimos anos, entrou em crise, apresentando surpresas, anomalias e instabilidades difíceis de serem controladas. Isso levou, recentemente, o conhecido economista Alan Greespan, ex-presidente do Fed (O Banco Central dos Estados Unidos), a declarar que errou, parcialmente, ao acreditar que as instituições financeiras não seriam irresponsáveis nos empréstimos, como foram (cf. Folha de São Paulo, 26/10/2008, “Greespan admite ter errado parcialmente”). Os governos dos Estados Unidos da América do Norte, da União Européia, Japão, da maioria dos países, inclusive o Brasil, passaram a intervir para ajudar os bancos, empresas de seguro e outras, visando proteger os interesses e a poupança dos cidadãos, enfim de todos, ameaçados de perder o dinheiro. O Estado vem atuando fortemente como Interventor visando manter o funcionamento do sistema econômico vigente e resolver a crise, pois a ideologia do Mercado livre se mostrou sem condições para tanto.Nesse contexto, parece ser necessário voltar a refletir sobre a moeda, sua origem, seu significado, sua finalidade, pois acabamos achando tão natural usar o dinheiro que esquecemos que ela é um produto da civilização humana, um instrumento mediador para facilitar a atividade social da humanidade. A moeda não é a finalidade principal do sistema econômico. A moeda é um meio e não o fim da atividade econômica, como discutiremos a seguir.2. A MOEDA COMO SÍMBOLOA origem da moeda, apesar de não haver precisão absoluta, é atribuída aos Lídios, no século VII, entre 687 e 650 A.C, pois eles unificaram o sistema de cunhagem. (Rivoire,1985, 9). Mas antes disso, no terceiro milênio AC já existia o ouro como unidade de conta no Egito e a prata na Mesopotâmia. Os chineses a partir do séc. IX AC, usavam o bronze como meio de pagamento, em diversas formas de inscrições gravadas. Ou seja, a moeda não existia num estágio anterior da civilização, ela aparece junto com as formas mais evoluídas de organização social, substituindo o escambo ou troca material de mercadorias por mercadorias equivalentes, por um padrão mais abstrato de troca. A partir da Grécia e da Pérsia, sobretudo, a moeda vai se espalhar pelo Mediterrâneo, vai para Roma, para todo o Ocidente medieval e renascentista, sendo então objeto de estudos de Teólogos, de Filósofos, como Platão, e outros pensadores.Desde sua criação a moeda passou a representar um instrumento poderoso de realização dos desejos do ser humano, pela suas principais funções de: instrumento de troca, padrão de valor, meio de pagamento e reserva de valor. Possuir moeda, nesse contexto, passou a significar possuir poder, ter acesso aos bens materiais, poder comprar mercadorias, utilidades e outros bens.A partir da invenção da moeda os fenômenos monetários passaram a intrigar e inquietar a atividade da sociedade. Talvez a moeda seja a realidade que penetra mais intimamente na vida privada de cada um, pois é, principalmente, pela mediação monetária que as pessoas satisfazem suas necessidades e desejos.Este mundo global é cada vez mais penetrado pelo fato econômico e pelo predomínio do capital financeiro sobre o capital produtivo. De outro lado, o capitalismo para operar necessita da estrutura da regulamentação jurídica. Então cabe indagar: Qual a contribuição do Direito diante do fenômeno monetário?Várias abordagens podem servir para discutir a natureza da moeda: seria a moeda fruto da necessidade econômica? Da linguagem jurídica? Da cobiça? Da violência? Da soberania do Estado? A moeda se presta a diferentes tipos de análise, é difícil entender a moeda, como já bem observado: "A teoria monetária é como um jardim japonês... uma simplicidade aparente esconde uma sofisticada realidade” (Friedman, 1992, 23).Dentro dessa complexidade, o tratamento mais adequado, a nosso ver, é encarar a moeda como símbolo porque nos parece mais próximo do aspecto jurídico: símbolo é convenção e o Direito Positivo depende, basicamente, das convenções. Mas o conceito de símbolo vem da linguagem humana, daí a necessidade de recorrer a conceitos da Semiótica.A linguagem utiliza signos. Na definição de Pierce o signo “é um cognoscível, que por um lado é determinado por algo que não ele mesmo, denominado de seu objeto, enquanto, por outro lado, determina alguma mente concreta ou potencial” (Pierce, 1960,160) Ou, de um modo mais simples: "Signo é uma coisa que representa outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do objeto” (Santaella, 1988, 78). Portanto, o signo representa o objeto, mas com ele não se confunde. Símbolos, portanto, são tipos gerais aceitos por convenção como representantes do objeto. "Sendo uma lei, em relação ao seu objeto o signo é um símbolo. Isto porque ele não representa seu objeto em virtude do caráter de sua qualidade (hipoícone), nem por manter em relação ao seu objeto uma conexão de fato (índice), mas extrai seu poder de representação porque é portador de uma lei que, por convenção ou pacto coletivo, determina que aquele signo represente seu objeto” (Santaella, 1988, 91,92).Nesse sentido a moeda é um símbolo porque assim foi convencionado, substitui o objeto que representa. A moeda é signo de grande poder de representação: substitui uma série indefinida de objetos, mediando quase todas as trocas num determinado contexto econômico. A moeda, além disso, é símbolo porque resulta de uma convenção social, impondo-se a todos como representante geral do valor de bens e serviços desejados pelas pessoas. A moeda é de tamanha utilidade que sua posse e acumulação acabou definindo um modelo de sistema econômico, o capitalismo, em que o dinheiro é o elemento principal do sistema.Ter e usar o dinheiro acabou sendo tão natural que o ser humano talvez tenha perdido a consciência do artifício que representa a moeda. Mas a moeda continua sendo criação humana do mesmo modo que a fala. ”A moeda é tão pouco natural quanto o é a fala" (Aglieta, 1990, 25). Como falamos, espontaneamente, usamos moedas, espontaneamente. A moeda tornou-se, assim, um dos símbolos mais conhecidos e desejados do mundo, fazendo as pessoas confundirem a representação simbólica com a realidade. Mas ela não é uma realidade por si mesma, é um símbolo a que se atribuiu valor. O monetarista Milton Friedman é categórico: “Os pedaços de papel verde têm valor porque todo mundo acha que eles têm valor”. Todo mundo pensa que eles têm valor porque, segundo a experiência de todos, tiveram valor. Essa ficção não é nada frágil. Pelo contrário, o valor de ter uma moeda comum é tão grande, que as pessoas defenderão a ficção mesmo sob uma provocação extrema. Mas também a ficção não é indestrutível: a frase americana “não vale um continental “ é um lembrete de como a ficção foi destruída pela quantidade excessiva de moeda continental que o Congresso Continental emitiu para financiar a Revolução Americana” (Friedman, 1992, 23)”.Como todo símbolo, a moeda para ser forte deve ser respeitada, ter credibilidade. Porém, a atual crise econômica mundial é um desses momentos críticos em que o símbolo-moeda perde o prestígio. Quando isso acontece a história mostra que as economias não voltam ao escambo, ou seja, á economia das trocas das mercadorias por outras mercadorias, mas, pelo contrário, mantêm a moeda trocando-a por outro símbolo, eliminando moedas ruins, criando novas regras jurídicas para o mercado e procedimentos afins, como estamos assistindo no mundo todo. A moeda, de uma forma ou de outra sobrevive. É impossível neste momento, imaginar uma economia não-monetária. Inexiste outro símbolo que faça o papel da moeda: a moeda tem sido insubstituível desde seu surgimento. Como símbolo acabou sendo o símbolo máximo, de maior importância, do sistema econômico capitalista global, suplantando os demais símbolos nacionais, religiosos, políticos, ideológicos e afins.Por outro lado, não cabe ao campo de conhecimento da Economia, mas ao Ordenamento Jurídico dar valor á moeda e definir suas funções como veremos a seguir.3. FUNÇÕES DA MOEDAA moeda oscila entre a Economia e o Direito do ponto de vista funcional. Nascida na prática para mediar as trocas de mercadorias, com o tempo foi se tornando cada vez mais dependente da ordem jurídica e, modernamente, do Estado que possui o monopólio da emissão da moeda.Isso não significa que a Moeda deixou de ser um símbolo de valor, mas que o Direito deu uma nova estrutura ás funções da moeda. As funções básicas da moeda são: padrão de valor, instrumento de troca, meio de pagamento e reserva de valor. Do ponto de vista da Economia prevalece a função de instrumento de troca e de reserva de valor. A partir do pós-guerra, de 1945 em diante, a função principal tem sido de reserva de valor, acompanhando justamente a evolução do capitalismo produtivo para o financeiro. A “financeirização” da economia, que chegou ao auge agora, representa também o aspecto predominante da atual crise.Para o Direito a função predominante da Moeda é a de meio de pagamento e padrão de valor. Mas, na verdade, todas essas funções interagem, umas com as outras, numa complexidade que só para efeitos de análise se distinguem. Tais funções são regulamentadas pelo ordenamento jurídico de cada Estado, variando conforme o contexto econômico.Historicamente a função mais importante da moeda sempre foi como instrumento de troca, e talvez seja necessário voltar a enfatizar essa função básica da moeda.Com efeito, no clássico Tratado de Economia Política, Jean Baptiste Say, em 1803, assim descreveu a função da moeda: "Se existir na sociedade uma mercadoria procurada, não em razão dos serviços que, em si mesma, dela possamos tirar, em razão da facilidade encontrada em trocá-la por todos os produtos necessários ao consumo, uma mercadoria tal que possamos adequar exatamente à quantidade que entregamos dela ao valor do que se deseja ter será somente essa mercadoria que nosso cuteleiro procurará obter em troca de suas facas, porque a experiência lhe ensinou que, com ela, obterá facilmente, mediante outra troca, pão ou qualquer outro artigo de que possa precisar. Essa mercadoria é a moeda”. (Say, 1983, 210). O economista moderno, Milton Friedman define a função da moeda de forma parecida: "... a moeda é aquilo que é aceito por todos em troca de bens e serviços - aceito não como um objeto para ser consumido, mas como um objeto que representa um conteúdo temporário de poder aquisitivo a ser usado para comprar outros bens e serviços" (Friedman, 1992,28).Essa função básica da moeda, de ser meio de troca, é universal. Porém, como já dito, ela foi se tornando cada vez mais reserva de valor, ou seja, sendo objeto de negociação como mercadoria moeda, acumulando valores que geraram um novo tipo de mercado, o financeiro. A moeda, enfim, se tornou a mercadoria mais valiosa do sistema. Isso está na base da crise atual, em que o Mercado Financeiro passou a atuar sem que o Estado pudesse saber ou regular o que os agentes econômicos estavam fazendo com a moeda.Há uma tendência em voltar a ler os clássicos, como Marx, que já havia apontado o inadequado uso da moeda como reserva de valor. Usar a moeda como mercadoria é inverter a ordem natural das coisas, pois o valor essencial estaria na natureza e no trabalho social: "Desde que o dinheiro, noção existente e manifesta de valor, confunde e troca todas as coisas, ele é a confusão geral e a troca de todas as coisas, sendo, pois o mundo invertido, a confusão e a troca de todas as propriedades naturais e humanas". (Marx, 1963,107)Na verdade a crítica marxista retoma sob outro enfoque, o que os teólogos e filósofos falavam da moeda antes do capitalismo se tornar o regime dominante, a começar por Aristóteles, no livro V da Ética:”A moeda foi instituída por convenção, e por essa razão ela é chamada de nómisma, ou seja, pela lei, porque justamente tem valor por lei e não por natureza, e porque está em nosso poder modificá-la e torná-la sem valor” (Galiani, 2008, 72).Talvez a solução da crise exija reavaliar o sistema monetário como um todo.Aí entra o problema da disciplina jurídica da moeda, da organização internacional do sistema monetário e, em última análise, o problema da estabilidade econômica. Porém, não é exclusividade do Direito, nem da Economia, solucionar o problema.A eficiência da racionalidade econômica e jurídica parecem colocadas em dúvida diante da crise. O dogma de um Direito Positivo onipotente, racional, capaz de dar segurança à vida social e econômica, neste momento está sendo questionado. A racionalidade de que falava Max Weber no século XIX: “O domínio universal da relação associativa de mercado exige, por um lado, um funcionamento do direito calculável segundo regras racionais” (Weber, 1991, 227), tem se mostrado difícil de alcançar na Economia e no Direito. Os fatores psicológicos, sociais, culturais e afins, o conceito de sociedade complexa, uma mescla de ordem e desordem são cada vez mais valorizados, sobretudo após a longa experiência da Conferência de Breton Woods (1944), que criou o FMI, sem que, após mais de 60 anos, tenha sido alcançada a almejada estabilidade econômica mundial.Parte do desafio atual é, justamente esse: como sair desse dualismo binário entre Mercado e Estado? Entre normas de Direito e de Economia?Não há ortodoxia ou heterodoxia que resista a uma crise global como esta! A resposta ainda não existe, é preciso encontrar um paradigma novo de vida econômica e social.Uma das propostas de novo paradigma que vêm sendo desenvolvidas em várias áreas de conhecimento, inclusive no Direito, tem sido a Mediação.O Estado, por exemplo, ao invés de atuar como Interventor no Mercado poderia atuar mais como Mediador, e isso seria uma alternativa criativa para desenvolver um novo modelo econômico. Vejamos, brevemente, essa alternativa.4. O ESTADO: ENTRE A INTERVENÇÃO E A MEDIAÇÃOO Estado tem atuado na ordem econômica mundial, em geral, como interventor ou regulamentador do Mercado. No nosso caso específico do Brasil a atuação do Estado na ordem econômica está definida na Constituição, como um agente normativo e fiscalizador, como detentor de monopólio, como indutor do desenvolvimento econômico (Constituição Federal, art.170 a 181). Poderia, no entanto, atuar mais como um Mediador dos interesses da coletividade. Talvez seja necessário nesta crise redefinir o papel do Estado para que ele atue como Mediador nos conflitos e na atividade econômica. De outro lado a sociedade civil poderia se organizar mais para decidir os rumos da vida , sem depender do bom ou mau funcionamento do Estado. Seria importante que a própria atividade de Mediação fosse incentivada pelo Estado ou adotada pelo Estado conceitualmente, como meio de solução de conflitos nacionais e internacionais. Nesse sentido, o que seria Mediação e seu papel?Conceitualmente, a Mediação é uma forma de autocomposição dos conflitos, com o auxílio de um terceiro imparcial, que nada decide, mas apenas auxilia as partes na busca de uma solução. O Mediador fica no meio, não está nem de um lado e nem de outro, não adere a nenhuma das partes. É um terceiro mesmo, uma terceira parte, quebrando o sistema binário da solução tradicional do conflito. A Mediação busca livremente soluções, que podem mesmo não estar delimitadas pelo conflito, que podem ser criadas pelas partes, a partir de suas diferenças. A Mediação procura ir além das aparências explícitas, investigando os pressupostos implícitos do conflito. Muitas vezes, pode ser o aspecto legal o mais relevante fator a ser analisado, mas nem sempre isso acontece.O sistema de Mediação é aberto a qualquer aspecto que possa estar causando o conflito. A Mediação é uma espécie de terapia do vínculo conflitivo. O sistema jurídico positivo na sua função judicial procura mais estabelecer a uniformidade, eliminar os desvios, penalizar os culpados, obter a normalidade comportamental. A Mediação trabalha, também, com o potencial transformador dos desvios, procurando integrá-los na formulação de uma nova solução.A Mediação destaca o poder emancipatório, que existe em todo sistema jurídico, como fator mais importante do que o poder normativo. Uma sociedade para ser justa precisa, sem dúvida, de um mínimo de leis, porém precisa, sobretudo da boa fé, dos valores éticos e morais. Os romanos já haviam percebido, como observou Paulus, “non omne, quod licet, honestum est”, ou seja, nem tudo que é lícito é também honesto.O Positivismo Jurídico acabou com essa preocupação secular, separando o direito, da moral e da ética. A Mediação recupera tudo isso, é um dos campos privilegiados para o cultivo da Ética, pois sem Ética o sistema econômico não funciona, a política não funciona, a sociedade não sobrevive com harmonia.A prática da ética, nesta crise econômica mundial, é indispensável:“A Humanidade deixou de constituir uma noção abstrata: é realidade vital, pois está, doravante, pela primeira vez ameaçada de morte, a Humanidade deixou de constituir uma noção somente ideal, tornou-se uma comunidade de vida; a Humanidade é, daqui em diante, sobretudo uma noção ética: é o que deve ser realizado por todos em cada um” (Marin, 2000, 114). É difícil aceitar que, após tanto tempo de normativismo, os Estados continuem alimentando a pretensão de resolver os problemas sociais, ambientais, econômicos e afins, só pela Intervenção, através da regulamentação jurídica. A crise econômica não exige só uma solução para a atividade financeira: ela atinge a sociedade como um todo, as relações privadas, públicas, culturais, sociais, psicológicas, políticas e afins.A solução não virá pela elaboração de novas leis monetárias como já advertiu Jansen: ”Atribuir valor real ao ato jurídico (ou ao serviço ou mercadoria a que aluda aquele ato jurídico) seria criar uma realidade, e uma norma é um dever ser e não um ser. Se a norma atribuísse valor real ao ato jurídico - e não apenas nominal, através da elevação dos preços e salários (que são o valor dos atos jurídicos que dizem respeito a bens e serviços) poderíamos transformar um país paupérrimo no país mais rico do mundo, e não apenas inflacionar a economia". (Jansen, 1988, 17).A crise não pode ser resolvida só com pacotes de legislação econômica, em país nenhum. O Direito e o Estado devem atuar como instrumentos mediáticos que podem ajudar a regulamentar aspectos da crise, mas não podem resolver totalmente a crise. A solução foge da área jurídica e se projeta na soma da colaboração de todos os agentes econômicos, sociais e políticos. O uso da moeda criou uma realidade muito complexa a ponto de ser difícil dar uma direção ao sistema monetário, controlar seu funcionamento, em meio à crise sistêmica que estamos vivendo.O Estado, então, oscila entre intervir e mediar para solucionar a crise. No momento de crise as duas coisas precisam ser feitas concomitantemente: intervir e mediar. Mas a longo prazo o Estado só poderá exercer bem seu papel de organizador da coletividade, numa perspectiva de paz e desenvolvimento para todos, se atuar mais, conceitualmente, como Mediador, pois as soluções devem ser assumidas por todos. Acabou o tempo da dissociação entre governantes e governados, a crise é planetária. O que está em jogo é a possibilidade de viver num mundo ecologicamente equilibrado e isso depende da colaboração de todos.5. CRISE ECONÔMICA E CRISE ECOLÓGICANa busca de uma solução para a crise econômica não podemos esquecer que o modelo econômico precisa ser modificado, sob pena de inviabilizar a vida no nosso planeta.Vale lembrar a recente advertência de Jeffrey Sachs: “No século XXI, nossa sociedade global florescerá ou perecerá, dependendo da nossa capacidade de encontrar um acordo mundial relacionado a um conjunto de objetivos compartilhados e os meios práticos para alcançá-los”. As pressões da escassez dos recursos energéticos, das crescentes crises ambientais, de uma população global cada vez maior, de migrações em massa – legais e ilegais – da transferência de poder econômico e de profundas desigualdades de renda são demasiadamente grandes para serem deixadas à mercê de forças do mercado e de uma livre competição geopolítica entre nações.O resultado dessas crescentes tensões poderia, ser, perfeitamente, um choque de civilizações, o qual poderia vir a constituir nosso último e definitivo choque devastador. Para superarmos, pacificamente, essas dificuldades, teremos de aprender, em escala global, as mesmas lições básicas que as sociedades bem-sucedidas aprenderam, gradual e relutantemente, no interior de suas próprias fronteiras nacionais” (Sachs, 2008, 14).Nesse contexto a atividade de todos pode ser orientada por um comportamento de Mediação, pelo quais os interesses vão sendo autocompostos para que se preserve permanentemente o ritmo social e econômico em bases sustentáveis, sem agredir a ecologia, sem colocar a natureza apenas a serviço do lucro. Qualquer solução tem que levar em consideração o esgotamento do atual modelo energético, baseado no petróleo, o esgotamento do modelo alimentar, baseado na agricultura extensiva e na produção de gado e o esgotamento do modelo industrial que produz o efeito estufa e assim por diante.É necessário consultar a população para saber em que tipo de sociedade pretendemos viver daqui para frente. Não basta mais os governantes agirem, nem a ONU, a OEA, a União Européia e outros organismos internacionais traçarem diretrizes de ação. A participação dos bilhões de seres humanos é indispensável. As soluções hão de ser coletivas, participativas e não mais impostas pela intervenção do Estado.A crise mundial coloca a necessidade de resolver as contradições entre a predominância do Direito Privado, centrado na propriedade individual, e o Direito Público, centrado nos interesses gerais da população. O Direito, na verdade, é um todo indissociável. Da mesma forma, a economia não pode funcionar, eficazmente, só com base nas particularidades do individualismo possessivo e consumista em que mergulhamos. O sistema econômico individualista também tem limites. Esses limites devem ser consagrados, pedagogicamente, pelo ordenamento jurídico como uma sinalização do dever ser, do comportamento desejado como melhor para todos. Os Direitos Humanos foram consagrados pela ONU em 1948, pela primeira vez na história, e são parte do Direito Positivo. É oportuno enfatizar que o Direito se fundamenta na dignidade da pessoa humana, na moralidade, na ética e na honestidade, como aprendemos desde o Direito Romano (Honeste vivere, neminem laedere, suum cuique tribuere, ou seja, viver honestamente, não lesar ninguém, e dar a cada um o que é seu).Não basta a racionalidade econômica e a eficiência, nem o planejamento estatal, ou privado, da economia. A crise atual tem muito de previsível, mas tem muito de acaso, pois o ser humano é também obra da evolução, cheio de imperfeições e imprevisibilidades. A natureza não funciona segundo leis deterministas. Segundo Jung, metade dos acontecimentos na vida humana são previsíveis e metade são imprevisíveis:"Apesar de nosso sentimento e não obstante os fatos ocorrerem segundo as leis gerais, não se pode negar que estamos sempre e em toda parte expostos aos acasos mais imprevisíveis. Será que existe algo mais imprevisível e mais caprichoso do que o acaso? O que poderia ser mais inevitável e mais fatal? Em última análise, podemos dizer que a conexão causal dos fatos, de acordo com a lei geral, é uma teoria que se confirma na prática em cinqüenta por cento dos casos. Os outros cinqüenta por cento ficam por conta da arbitrariedade do demônio chamado acaso”. (Jung, 1993, 58)No entanto, insistimos em buscar a onipotente segurança da certeza. Não integramos o acaso, o analógico, no todo social. Perdemos a visão grega da história (Heródoto e Tucídides) que valorizava o acaso e adotamos a visão iluminista que valoriza mais o esforço humano. Agredimos a natureza, exploramos as florestas e os animais, os rios e os mares, na vã expectativa de obter uma permanência e estabilidade sócio-econômica, quando a ecologia planetária é instável e em constante mutação.O efeito estufa, reconhecido pelos cientistas, mostra como a ecologia tem de ser respeitada, como o ser humano precisa parar de destruir a natureza e retomar uma conduta de harmonia com o meio ambiente. Nesse sentido Ecologia, inclusive, deve ser entendida na sua tríplice dimensão: ambiental, social e mental, ou seja: ”Mais do que nunca a natureza não pode ser separada da cultura e precisamos aprender a pensar transversalmente as interações entre ecossistemas, mecanosfera e universo de referências sociais e individuais” (Guatari, 2001, 25).Cada qual a seu modo, Direito e Economia devem ser conhecimentos a serviço da convivência social, e, sobretudo dessa nova concepção de ecologia. A moeda não pode ser a mercadoria mais valiosa do mundo! O momento atual exige a criação de um novo modo de atividade econômica, onde a moeda atue como mediadora no conjunto das demais atividades sociais, e não seja mais o principal elemento da vida social.6. CONCLUSÕESA moeda é um símbolo mediador, de grande significação para a vida social. A eficiência da moeda reside na sua interação qualitativa com a realidade econômica e não, isoladamente, na sua expressão jurídica. A crise econômica mundial deve levar em conta a complexidade dos fatores, pois o controle e solução dos problemas econômicos não se dá unicamente pela imposição de normas jurídicas. O momento atual exige uma postura de Mediação das pessoas, dos Estados, da sociedade civil, das instituições econômicas, das Ongs, do sistema financeiro, enfim de todos. Esse poder de autocomposição e de decisão os próprios interessados devem manifestar para construir uma sociedade mais solidária. Somos todos iguais, vivemos num só planeta. Não basta resolver essa crise econômica mundial para restabelecer tudo como era antes, tudo de volta ao “status quo ante”. É necessário retomar a Ética e a verdade, eliminar o cinismo, visando construir uma nova sociedade baseada não na moeda, mas sim na dignidade da pessoa humana, valor primordial da sociedade.Alías, isso está escrito na nossa Constituição: o fundamento do Estado é a dignidade da pessoa humana (art.1, III) e um dos objetivos fundamentais da República é “construir uma sociedade livre, justa e solidária” (art.3, I). Não teria chegado o momento de cumprir esses objetivos consagrados pela Constituição? Não teria chegado o momento de recolocar a moeda como Mediadora das relações econômicas e não como fim último, como razão de ser de toda a atividade deste mundo complexo e global?É urgente responder essas questões básicas, antes que o desequilíbrio ecológico do Planeta provoque catástrofes incontroláveis e ameace a própria sobrevivência do ser humano.A crise mundial deve, no mínimo, recolocar o símbolo moeda no seu devido lugar, aliás, de onde nunca deveria ter saído: a Moeda é meio e não fim.ADEMIR BUITONI é Doutor em Direito Econômico pela FDUSP, Advogado e Mediador em São PauloNOTASAglieta, Michel - A violência da Moeda. S. Paulo, Brasiliense, 1990, p. 25.Buitoni, Ademir - O Direito na Balança da Estabilização Econômica, SP, LTR, 1997.Friedman, Milton - Episódios da História Monetária, RJ, Record, 1992, p. 9.Galiani, Ferdinando - Da Moeda, Curitiba, Musa, 2000.Guattari, Félix - As Três Ecologias, SP, Papirus, 2001.Jansen, Letácio - A norma monetária, RJ, Forense, 1988, p. 17.Jung, C.G. - Civilização em transição, Petrópolis, Vozes, 1993, p. 58.Marx, Karl - "Economia Política e Filosofia”, Rio, Mebo, 1963, p. 107.Morin, Edgar - Os sete saberes necessários à educação do futuro, SP, Cortez, 2000.Pierce, Charles C. - "Semiótica", São Paulo, Perspectiva, 1990, p. 160.Rivoire, Jean - História da Moeda, Lisboa, Teorema, 1985.Sachs, Jeffrey - A riqueza de todos, RJ, Nova Fronteira, 2008.Santaella, Lúcia - O que é Semiótica, 6. ed., S.Paulo, Brasiliense, 1988, p. 78.Say, Jean Baptiste - Tratado de Economia Política, S. Paulo, Abril Cultural, 1983, p. 210.Weber, Max - Economia e Sociedade, UNB, 1991, p. 227.




07/02/2009
"Solução neokeynesiana e novo Bretton Woods são fantasias"
Em entrevista à revista inglesa Socialist Review, István Mészàros, um dos principais pensadores marxistas da atualidade, analisa a crise econômica mundial e critica aqueles que apostam que ela será resolvida trazendo de volta as idéias keynesianas e a regulação. "É uma fantasia que uma solução neo-keynesiana e um novo Bretton Woods resolveriam qualquer dos problemas dos dias atuais", defende Mészàros. Para ele, estamos vivendo a maior crise na história humana, em todos os sentidos.
Judith Orr e Patrick Ward - Socialist Review
Em 1971 István Mészàros ganhou o Prêmio Deutscher pelo seu livro A Teoria da Alienação em Marx e desde então tem escrito sobre o marxismo. Em janeiro deste ano, ele conversou com Judith Orr e Patrick Ward, da Socialist Review, sobre a atual crise econômica.Socialist Review: A classe dominante sempre é surpreendida por crises econômicas e fala delas como fossem aberrações. Por que você acha que as crises são inerentes ao capitalismo?István Mészàros – Eu li recentemente Edmund Phelps, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia, em 2006. Phelps é um tipo de neokeynesiano. Ele estava, é claro, glorificando o capitalismo e apresentando os problemas atuais como apenas um contratempo, dizendo que “tudo o que devemos fazer é trazer de volta as idéias keynesianas e a regulação.”John Maynard Keynes acreditava que o capitalismo era ideal, mas queria regulação. Phelps estava reproduzindo a idéia grotesca de que o sistema é como um compositor musical. Ele pode ter alguns dias de folga nos quais não pode produzir tão bem, mas se você olhar no todo verá que ele é maravilhoso! Pense apenas em Mozart – ele deve ter tido o velho e esquisito dia ruim. Assim é o capitalismo em crise, como dias ruins de Mozart. Quem acredita nisso deveria ter sua cabeça examinada. Mas, no lugar de ter sua cabeça examinada, ele ganhou um prêmio. Se nossos adversários têm esse nível de pensamento – o qual tem sido demonstrado, agora, ao longo de um período de 50 anos, não é apenas um escorregão acidental de economista vencedor de prêmio – poderíamos dizer, “alegre-se, esse é o nível baixo do nosso adversário”. Mas com esse tipo de concepção você termina no desastre de que temos experiência todos os dias. Nós afundamos numa dívida astronômica. As dívidas reais neste país (Inglaterra) devem ser contadas em trilhões. Mas o ponto importante é que eles vêm praticando orgias financeiras como resultado de uma crise estrutural do sistema produtivo. Não é um acidente que a moeda tenha inundado de modo tão adventista o setor financeiro. A acumulação de capital não poderia funcionar adequadamente no âmbito da economia produtiva. Agora estamos falando da crise estrutural do sistema. Ela se extende por toda parte e viola nossa relação com a natureza, minando as condições fundamentais da sobrevivência humana. Por exemplo, de tempos em tempos anunciam algumas metas para diminuir a poluição. Temos até um ministro da energia e da mudança climática, que na verdade é um ministro do lero lero, porque nada faz além de anunciar uma meta. Só que essa meta nunca é sequer aproximada, quanto mais atingida. Isso é uma parte integral da crise estrutural do sistema e só soluções estruturais podem nos tirar desta situação terrível. SR - Você descreveu os EUA como levando a cabo um imperialismo de cartão de crédito. O que você quer dizer com isso?IM – Eu lembro do senador norte-americano George McGovern na guerra do Vietnã. Ele disse que os EUA tinham fugido da guerra do Vietnã num cartão de crédito. O recente endividamento dos EUA está azedando agora. Esse tipo de economia só avança enquanto o resto do mundo pode sustentar sua dívida. Os EUA estão numa posição única porque tem sido o país dominante desde o acordo de Bretton Woods. É uma fantasia que uma solução neokeynesiana e um novo Bretton Woods resolveriam qualquer dos problemas dos dias atuais. A dominação dos EUA que Bretton Woods formalizou imediatamente depois da Segunda Guerra era realista economicamente. A economia norte-americana estava numa posição muito mais poderosa do que qualquer outra economia do mundo. Ela estabeleceu todas as instituições econômicas internacionais vitais com base no privilégio dos EUA. O privilégio do dólar, o privilégio aproveitado pelo Fundo Monetário Internacional, pelas organizações comerciais, pelo Banco Mundial, todos completamente sob a dominação dos EUA, e ainda permanece assim hoje. Não se pode fazer de conta que isso não existe. Você não pode fantasiar reformas e regulações leves aqui e acolá. Imaginar que Barack Obama vai abandonar a posição dominante de que os EUA dispõe, nesse sentido – apoiada pela dominação militar – é um erro. SR – Karl Marx chamou a classe dominante de “bando de irmãos guerreiros”. Você acha que a classe dominante vai trabalhar junta, internacionalmente, para encontrar uma solução?IM – No passado o imperialismo envolveu muitos atores dominantes que asseguraram seus interesses mesmo às custas de duas horrendas guerras mundiais no século XX. Guerras parciais, não importa o quão horrendas são, não podem ser comparadas ao realinhamento do poder e da economia que seria produzido por uma nova guerra mundial. Mas imaginar uma nova guerra mundial é impossível. É claro que ainda há alguns lunáticos no campo miliar que não negariam essa possibilidade. Mas isso significaria a destruição total da humanidade. Temos de pensar as implicações disso para o sistema capitalista. Era uma lei fundamental do sistema que se uma força não pudesse ser assegurada pela dominação econômica você recorreria à guerra. O imperialismo global hegemônico tem sido conquistado e operado com bastante sucesso desde a Segunda Guerra Mundial. Mas esse tipo de sistema é permanente? É concebível que nele não surjam contradições, no futuro?Algumas pistas vem sendo dadas pela China de que esse tipo de dominação econômica não pode avançar indefinidamente. A China não será capaz de seguir financiando isso. As implicações e consequencias para a China já são bastante significantes. Deng Xiaoping uma vez disse que a cor do gato – seja ele capitalista ou socialista – não importa, desde que ele pegue o rato. Mas e se, no lugar da caçada feliz do rato se termine numa horrenda infestação de ratos de desemprego massivo? Isso está acontecendo agora na China. Essas coisas são inerentes nas contradições e antagonismos do sistema capitalista. Portanto, temos de pensar em resolvê-los de uma maneira radicalmente diferente, e a única maneira é uma genuína transformação socialista do sistema. SR - Não há em parte alguma do mundo econômico desacoplamento dessa situação?IM- Impossível! A globalização é uma condição necessária do desenvolvimento humano. Desde que o sistema capitalista se tornou claramente visível Marx teorizou isso. Martin Wolf, do Financial Times tem reclamado de que há muitos pequenos, insignificantes estados que causam problemas. Ele argumenta que seria preciso uma “integração jurisdicional”, em outras palavras, uma completa integração imperialista – um conceito fantasia. Trata-se de uma expressão das contradições e antagonismos insolúveis da globalização capitalista. A globalização é uma necessidade, mas a forma em que é exequível e sustentável é a de uma globalização socialista, com base nos princípios socialistas da igualdade substantiva. Ainda que não haja desacoplamento na história do mundo, é concebível que isso não signifique que em toda fase, em todas as partes do mundo, haja uniformidade. Muitas coisas diferentes estão se desenvolvendo na América Latina, em comparação com a Europa, para não mencionar o que eu já assinalei sobre a China, o Sudeste Asiático e o Japão, que está mergulhado em problemas mais profundos. Vamos pensar no que aconteceu há pouco tempo. Quantos milagres tivemos no período do pós-guerra? O Milagre Alemão, o Milagre Brasileiro, o Milagre Japonês, o Milagre dos cinco Tigres Asiáticos? Engraçado que todos esses milagres tenham se convertido na mais terrível realidade prosaica. O denominador comum de todas essas realidades é o endividamento desastroso e a fraude. Um dirigente de um fundo hedge foi supostamente envolvido numa farsa envolvendo 50 bilhões de dólares. A General Motors e outras estavam pedindo ao governo norte-americano somente 14 bilhões de dólares. Que modesto! Eles deveriam ter dado 100 bilhões. Se um fundo hedge capitalista pode organizar uma suposta fraude de 50 bilhões, eles devem chegar a todos os fundos possíveis. Um sistema que opera nesse modo moralmente podre não pode provavelmente sobreviver, porque é incontrolável. As pessoas chegam a admitir que não sabem como isso funciona. A solução não é desesperar-se, mas controlá-lo em nome da responsabilidade social e de uma radical transformação da sociedade. SR – A tendência inerente do capitalismo é exigir dos trabalhadores o máximo possível, e isso é claramente o que os governos estão tentando fazer na Grã Bretanha e nos EUA. IM – A única coisa que eles podem fazer é advogar pelos salários dos trabalhadores. A razão principal pela qual o Senado recusou a injetar 14 bilhões de dólares nas três maiores companhias de automóveis é que não puderam obter acordo sobre a drástica redução dos salários. Pense no efeito disso e nos tipos de obrigações que esses trabalhadores têm – por exemplo, repagando pesadas hipotecas. Pedir-lhes que simplesmente passem a receber metade de seus salários geraria outros tipos de problemas na economia – de novo, a contradição. Capital e contradições são inseparáveis. Temos de ir além das manifestações superficiais dessas contradições e de suas raízes. Você consegue manipulá-las aqui e ali, mas elas voltarão com uma vingança. Contradições não podem ser jogadas para debaixo do tapete indefinidamente, porque o carpete, agora, está se tornando uma montanha. SR – Você estudou com Georg Lukács, um marxista que retomou o período da Revolução Russa e foi além.IM – Eu trabalhei com Lukács sete anos, antes de deixar a Hungria em 1956 e nos tornamos amigos muito próximos até a sua morte, em 1971. Sempre nos olhamos nos olhos – é por isso que eu queria estudar com ele. Então aconteceu que quando eu cheguei para estudar com ele, ele estava sendo feroz e abertamente atacado, em público. Eu não aguentei aquilo e o defendi, o que levou a todos os tipos de complicações. Logo que deixei a Hungria, fui designado sucessor, na universidade, ensinando estética. A razão pela qual deixei o país foi precisamente porque estava convencido de que o que estava acontecendo era uma variedade de problemas muito fundamentais que o sistema não poderia resolver. Eu tentei formular e examinar esses problemas em meus livros, desde então. Em particular em "A Teoria Alienação em Marx" e "Para Além do Capital" (*). Lukács costumava dizer, com bastante razão, que sem estratégia não se pode ter tática. Sem uma perspectiva estratégica desses problemas você não pode ter soluções do dia-a-dia. Então eu tentei analisar esses problemas consistentemente, porque eles não podem ser simplesmente tratados no nível de um artigo que apenas relata o que está acontecendo hoje, ainda que haja uma grande tentação de fazê-lo. No lugar disso, deve ser apresentada uma perspectiva histórica. Eu venho publicando desde que meu primeiro ensaio justamente substancial foi publicado, em 1950, num periódico literário na Hungria e eu tenho trabalhado tanto como posso, desde então. À medida de nossos modestos meios, damos nossa contribuição em direção da mudança. Isso é o que tenho tentado fazer ao longo de toda minha vida. SR- O que você pensa das possibilidades de mudança neste momento?IM – Os socialistas são os últimos a minimizar as dificuldades da solução. Os apologistas do capital, sejam eles neokeynesianos ou o que quer que sejam, podem produzir todos os tipos de soluções simplistas. Eu não penso que podemos considerar a crise atual simplesmente da maneira que o fizemos no passado. A crise atual é profunda. O diretor substituto do Banco da Inglaterra adimitiu que esta é a maior crise econômica na história da humanidade. Eu apenas acrescentaria que esta não é apenas a maior crise na história humana, mas a maior crise em todos os sentidos. Crises econômicas não podem ser separadas do resto do sistema. A fraude e a dominação do capital e a exploração da classe trabalhadora não podem continuar para sempre. Os produtores não podem ser postos constantemente e para sempre sob controle. Marx argumenta que os capitalistas são simplesmente personificações do capital. Não são agentes livres; estão executando imperativos do sistema. Então, o problema da humanidade não é simplesmente vencer um bando de capitalistas. Pôr simplesmente um tipo de personificação do capital no lugar do outro levaria ao mesmo desastre e cedo ou tarde terminaríamos com a restauração do capitalismo. Os problemas que a sociedade está enfrentando não surgiram apenas nos últimos anos. Cedo ou tarde isso tem de ser resolvido e não, como o vencedor do Prêmio Nobel deve fantasiar, no interior da estrutura do sistema. A única solução possível é encontrar a reprodução social com base no controle dos produtores. Essa sempre foi a idéia do socialismo. Nós alcançamos os limites históricos da capacidade do capital controlar a sociedade. Eu não quero dizer apenas bancos e instituições financeiras, ainda que eles não possam controlá-las, mas o resto. Quando as coisas dão errado ninguém é responsável. De tempos em tempos os políticos dizem: “Eu aceito total responsabilidade”, e o que acontece? Eles são glorificados. A única alternativa exequível é a classe trabalhadora, que é a produtora de tudo o que é necessário em nossa vida. Por que eles não deveriam controlar o que produzem? Eu sempre enfatizei em todos os livros que dizer não é relativamente fácil, mas temos de encontrar a dimensão positiva. István Mészàros é o autor do recentemente publicado "The challenge and burden of Historical Time", "Os Desafios e o Fardo do Tempo Histórico", publicado no Brasil pela Boitempo Editorial, 2007.(*) Ambos publicados no Brasil pela Boitempo Editorial.Artigo originalmente publicado na Socialist Review



The Capitalist Manifesto: Greed Is Good (To a point)
By Fareed Zakaria NEWSWEEK
Published Jun 13, 2009 From the magazine issue dated Jun 22, 2009
A specter is haunting the world—the return of capitalism. Over the past six months, politicians, businessmen and pundits have been convinced that we are in the midst of a crisis of capitalism that will require a massive transformation and years of pain to fix. Nothing will ever be the same again. "Another ideological god has failed," the dean of financial commentators, Martin Wolf, wrote in the Financial Times. Companies will "fundamentally reset" the way they work, said the CEO of General Electric, Jeffrey Immelt. "Capitalism will be different," said Treasury Secretary Timothy Geithner. ... .... .... .... ..... .... ...... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ......... ..... ..... ..... ..... ...... ... .


Sep 14, 2009
"The Tobin Tax Lives Again"
Dani Rodrik thinks he must be dreaming: ... ... .... ... .... .... .... .... .... .... .... ... .... ..... ... ..... .... ..... ....
Tributo seria um desestímulo à especulação sem prejudicar investimentos.

A volta do imposto TobinPor Dani Rodrik
15/09/2009
Uma autoridade econômica inglesa voltou a falar no imposto Tobin como uma possibilidade real para corrigir a economia
No fim de agosto, aconteceu algo que nunca pensei ver em toda minha vida. Uma importante autoridade econômica no império anglo-americano das finanças manifestou efetivamente seu apoio ao imposto Tobin - um imposto mundial sobre transações financeiras.
A autoridade em questão é Adair Turner, que comanda a Autoridade de Serviços Financeiros (FSA, na sigla em inglês), no Reino Unido, principal agência de supervisão financeira no país. Turner, manifestando suas preocupações sobre a dimensão do setor financeiro e seus obscenos níveis de remuneração, disse acreditar que um imposto mundial sobre transações financeiras poderia contribuir para conter ambos. Esse tipo de declaração teria sido impensável em anos anteriores. Agora, porém, é um sinal de quanto as coisas mudaram.
A ideia de tal imposto foi originalmente lançada na década de 1970 por James Tobin, economista premiado com o Nobel, ao defender "jogarmos alguma areia nas engrenagens das finanças internacionais". Tobin estava preocupado com flutuações cambiais excessivas. Ele argumentou que taxação sobre movimentações financeiras e conversão entre moedas em curto prazo coibiria especulação e criaria algum margem de manobra para gestão macroeconômica doméstica.
A partir de então, a ideia tornou-se "cause célèbre" para uma ampla diversidade de organizações não governamentais (ONGs) e grupos ativistas, que nela veem a dupla virtude de reduzir a escala do mundo financeiro e obter um bom montante de receitas para causas mais nobres - ajuda externa, vacinas, tecnologias verdes, etc. A ideia foi também apoiada por alguns franceses (previsivelmente!) e por outros líderes na Europa Continental. Mas, até que Turner mencionasse o conceito, não tinha sido identificada nenhuma autoridade importante nos EUA ou no Reino Unido - os dois principais centros internacionais do mundo financeiro mundial - disposta a dizer algo a esse respeito.
A beleza de um imposto Tobin é que desestimularia especulação de curto prazo sem produzir grande efeito adverso sobre decisões de investimento internacionais no longo prazo. Consideremos, por exemplo, um imposto de 0,25% sobre todas as transações financeiras internacionais. Um imposto assim extinguiria instantaneamente operações intradia realizadas em busca de margens de lucro muito menores do que aquele percentual, assim como operações financeiras com o objetivo de explorar diferenciais minúsculos entre mercados.
Atividades econômicas desse tipo são de duvidoso valor social, entretanto consomem recursos reais em termos de talento humano, capacidade computacional e endividamento. Por isso, não deveríamos lamentar a extinção desse tipo de prática financeira.
Por outro lado, investidores com horizontes de tempo mais dilatados e interessados em retornos significativos não seriam desencorajados significativamente pelo imposto. Assim, o capital continuaria a fluir na direção apropriada em mais longo prazo. Um imposto Tobin também não seria obstáculo a que os mercados financeiros punissem governos que administram extremamente mal suas economias.
Além disso, é inegável que tal tipo de imposto arrecadaria muito dinheiro. As estimativas de receitas proporcionadas por um pequeno imposto sobre transações cambiais internacionais chegam a centenas de bilhões de dólares por ano. As receitas seriam ainda maiores se a base fosse ampliada, conforme sugerido por Turner, englobando todas as transações financeiras mundiais. Seja qual for o montante exato, é seguro dizer que os números em questão são enormes - maior do que, por exemplo, os fluxos de ajuda externa ou quaisquer estimativas razoáveis dos ganhos decorrentes da conclusão da Rodada Doha de negociações comerciais.
Previsivelmente, Turner foi alvo de fortes críticas de banqueiros da City londrina e do Tesouro britânico. Grande parte dessas críticas não se justifica. Um imposto Tobin aumentaria o custo das operações financeiras de curto prazo, argumentaram alguns, por alguma razão fechando os olhos para o aspecto de que, na verdade, esse é justamente o propósito essencial de um imposto Tobin.
Outros argumentaram que esse tipo de tributo não ataca o problema básico dos "incentivos" nos mercados financeiros, como se dispuséssemos de uma alternativa eficaz comprovada para atingir tal objetivo. O imposto ameaçaria o papel de Londres como centro financeiro, queixaram-se alguns, como se o alvo de aplicação da proposta fosse unicamente Londres, e não o mundo inteiro. O imposto Tobin poderia ser facilmente driblado recorrendo a centros bancários em paraísos fiscais, enfatizaram alguns, como se toda regulamentação financeira não se defrontasse com exatamente o mesmo problema.
De todo modo, como observou Dean Baker, do Centro de Pesquisa Econômica e Política de Washington, há muitas maneiras imaginativas para dificultar a evasão a um imposto Tobin. Suponhamos, argumenta ele, que oferecêssemos 10% das receitas do governo a funcionários de empresas financeiras que delatem seus patrões sonegadores. Isso constituiria um belo incentivo à automonitoração.
O que o imposto Tobin não faz é ajudar a reduzir os desalinhamentos de mais longo prazo nos mercados financeiros. Esse tipo de imposto não teria evitado o desequilíbrio comercial entre os EUA e a China. Também não teria impedido que a superoferta mundial de poupança se convertesse numa bomba relógio em contagem decrescente na economia mundial. Não teria protegido países europeus e outros de ficarem inundados com ativos hipotecários tóxicos exportados dos EUA. E não dissuadiria governos determinados a praticar políticas monetárias e fiscais insustentáveis financiadas por empréstimos tomados no exterior.
Para esses problemas, necessitaremos outros corretivos. Mas um imposto Tobin é um bom começo se desejamos sinalizar sobre o valor social desse cassino denominado sistema financeiro mundial.
Dani Rodrik é professor de Economia Política na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade Harvard., foi o primeiro a receber o prêmio Albert O. Hirschman, do Social Science Research Council. Copyright: Project Syndicate, 2009. www.project-syndicate.org


Capitalism 3.0 -- the reviews are in

Em breve: capitalismo 3.0
Dani Rodrik
13/02/2009
O capitalismo está em meio às dores de sua crise mais severa em muitas décadas. A combinação de recessão aguda, deslocamentos econômicos mundiais e estatização eficaz de grandes faixas do setor financeiro nas economias mais avançadas do mundo desarrumou profundamente o equilíbrio entre mercados e Estados. Como o novo equilíbrio será atingido ninguém sabe ao certo.
Os que preveem o perecimento do capitalismo precisam enfrentar um importante fato histórico: o capitalismo possui uma capacidade quase ilimitada de reinventar-se. De fato, sua maleabilidade foi o que lhe permitiu superar crises periódicas ao longo de séculos e sobreviver a críticos, de Karl Marx em diante. A verdadeira questão não é se o capitalismo pode sobreviver - porque a resposta é que pode -, mas se os líderes mundiais demonstrarão a liderança necessária para levá-lo a sua próxima fase, enquanto saímos de nossos atuais apertos.
O capitalismo não tem equivalente quando se trata de liberar a energia econômica coletiva das sociedades humanas. É por isso que todas as sociedades prósperas são capitalistas, no sentido mais amplo do termo: são organizadas em torno da propriedade privada e permitem aos mercados desempenhar um grande papel na alocação dos recursos e determinação das recompensas financeiras. A questão é que nem os direitos de propriedade, nem os mercados conseguem funcionar por si sós. Precisam de outras instituições sociais para apoiá-los.
Os direitos de propriedade, então, dependem de tribunais e do cumprimento da lei, enquanto os mercados dependem de as autoridades reguladoras domarem os abusos e consertarem as falhas de mercado. Na área política, o capitalismo requer mecanismos de transferência e compensações para fazer com que seus resultados sejam aceitáveis. Como a atual crise voltou a demonstrar, o capitalismo precisa de dispositivos de estabilização, como uma instituição de crédito de última instância e políticas fiscais anticíclicas. Em outras palavras, o capitalismo não é autogerado, autossustentado, autorregulado ou autoestabilizado.
A história do capitalismo vem sendo um processo de aprendizado e reaprendizado dessas lições. A sociedade de mercado idealizada de Adam Smith precisava de um pouco mais do que um "Estado como vigia noturno". Tudo o que os governos precisavam fazer para assegurar a divisão do trabalho era cumprir os direitos de propriedade, manter a paz e arrecadar alguns impostos a serem pagos em troca de um grupo restrito de bens públicos.
Ao longo do início do Século XX, o capitalismo era governado por uma visão estreita das instituições públicas necessárias para sustentá-lo. Na prática, o alcance do Estado, com frequência, ia além dessa concepção (como, por exemplo, no caso da introdução de aposentadorias para idosos por Bismarck na Alemanha, em 1889). Os governos, contudo, continuaram a ver seu papel econômico em termos restritos.
Isto começou a mudar à medida que as sociedades ficaram mais democráticas e sindicatos e outros grupos mobilizaram-se contra os abusos detectados no capitalismo. Nos Estados Unidos, foram lançadas políticas antitruste. A utilidade de políticas fiscais e monetárias ativistas tornou-se amplamente aceita na sequência da Grande Depressão.
A proporção dos gastos públicos na renda nacional subiu rapidamente nos atuais países industrializados, de uma média inferior a 10%, no fim do Século XIX, para mais de 20%, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Após a guerra, a maioria dos países erigiu Estados de bem-estar social bastante elaborados, nos quais o setor público expandiu-se até chegar a mais de 40% da renda nacional, em média.
Este modelo de "economia mista" foi o maior feito do Século XX. O novo equilíbrio estabelecido entre mercado e Estado preparou o palco para um período inédito de coesão social, estabilidade e prosperidade nas economias avançadas que durou até meados dos anos 70.
O modelo desgastou-se a partir da década de 80 e agora parece ter se partido. O motivo pode ser expresso em uma palavra: globalização.
A economia mista do pós-guerra foi desenvolvida para a - e operada na - esfera de Nações-Estado e exigia que a economia internacional ficasse encurralada. O regime Bretton Woods-Gatt comportava uma forma "superficial" de integração econômica internacional, que implicava em limitações e controles sobre os fluxos internacionais de capital, algo que Keynes e seus contemporâneos viam como crucial para a gestão econômica doméstica. Exigia-se que os países adotassem uma liberalização comercial apenas limitada, com exceções aos montes para setores delicados socialmente (agricultura, têxtil e serviço). Tal quadro deixou-os livres para construir suas próprias versões de capitalismo nacional, desde que obedecessem algumas poucas e simples regras internacionais.
A atual crise mostra como nos distanciamos desse modelo. A globalização financeira, em particular, demoliu as antigas regras. Quando capitalismo no estilo chinês encontrou-se com o capitalismo no estilo dos EUA, com poucas válvulas de segurança à disposição, deram à luz a uma mistura explosiva. Não havia mecanismos de proteção para prevenir o desenvolvimento de uma bolha mundial de liquidez ou para evitar que esta criasse, em combinação com falhas de regulamentação nos EUA, a onda espetacular de ascensão e queda do setor habitacional. Tampouco houve nenhuma barreira internacional para evitar que a crise se espalhasse a partir do epicentro.
A lição não é que o capitalismo está morto. É que precisamos reinventá-lo para um novo século no qual as forças da globalização econômica são muito mais poderosas do que antes. Assim como o capitalismo mínimo de Smith foi transformado na economia mista de Keynes, precisamos contemplar a transição da versão nacional da economia mista para algo homólogo mundial.
Isto significa imaginar um melhor equilíbrio entre mercados e as instituições que os sustentam na esfera global. Algumas vezes, isto exigirá estender as instituições além das Nações-Estado e fortalecer a governança mundial. Outras vezes, exigirá evitar que os mercados se expandam além de instituições que precisem continuar nacionais. A abordagem apropriada variará entre agrupamentos de países e áreas em questão.
Desenhar o próximo capitalismo não será fácil. Temos, no entanto, a história de nosso lado: a redenção do capitalismo é sua maleabilidade quase infinita.
Dani Rodrik, professor de Economia Política na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard, é o primeiro ganhador do Prêmio Albert O. Hirschman, do Social Science Research Council. © Project Syndicate/Europe´s World, 2009. http://www.project-syndicate.org/



A dependência em relação ao capital estrangeiro e seus fluxos é uma estratégia insensata
Um mundo desglobalizado?
Dani Rodrik
12/05/2009
Os países emergentes terão de substituir políticas que operam através do câmbio por políticas industriais reais
Poderá demorar alguns meses ou um par de anos, mas de uma forma ou de outra os EUA e outras economias avançadas irão acabar se recuperando da atual crise. É improvável, porém, que a economia mundial, então, se assemelhe à atual.
Mesmo passado o pior da crise, provavelmente nos encontraremos em um mundo algo desglobalizado, um mundo no qual o comércio internacional crescerá mais lentamente, haverá menos financiamento externo e a disposição dos países ricos para incorrer em grandes déficits em conta corrente será substancialmente menor. Será isso trágico para os países em desenvolvimento?
Não necessariamente. O crescimento no mundo em desenvolvimento tende a se dar segundo três variantes distintas. Primeiro, há o crescimento impulsionado por empréstimos estrangeiros. Em segundo, há o crescimento como subproduto de alta nos preços de commodities. Em terceiro lugar, há o crescimento resultante de reestruturação econômica e diversificação em novos produtos.
Os primeiros dois modelos estão em maior risco do que o terceiro. Mas não devemos perder o sono por eles, porque são inadequados e, em última análise, insustentáveis. O que deveria ser a maior preocupação é o possível sofrimento dos países no último grupo. Esses países terão necessidade de realizar grandes mudanças em suas políticas para se adaptar às novas realidades atuais.
Os dois primeiros modelos de crescimento invariavelmente conduzirão a um desfecho desfavorável. Um endividamento no exterior pode permitir a consumidores e governos viver além de seus meios por algum tempo, mas a dependência em relação ao capital estrangeiro é uma estratégia insensata. O problema é não apenas que os fluxos de capital externo podem facilmente inverter seu sentido, como também produzir o tipo errado de crescimento, baseado em moedas sobrevalorizadas e investimentos em mercadorias e serviços não comercializáveis, como habitação e construção.
Crescimento impulsionado por altas nos preços de commodities é também suscetível a contração brusca por razões semelhantes. Os preços das commodities tendem a desenhar ciclos. Quando estão elevados, tendem a desestimular investimentos em produtos industrializados e outros comerciáveis não tradicionais. Além disso, altas nos preços das commodities frequentemente produzem políticas nocivas em países com instituições fracas, resultando em enfrentamentos dispendiosos por rendimento de recursos, que são raramente investidos sabiamente.
Portanto, não é surpreendente que os países que têm produzido crescimento ininterrupto de longo prazo durante as últimas seis décadas são os que apoiaram-se numa estratégia distinta: promovendo diversificação em produtos industrializados e outros bens "modernos". Ao capturar uma parcela crescente dos mercados mundiais de manufaturados e de outros produtos não-primários, esses países ampliaram suas oportunidades de emprego internamente em atividades de alta produtividade. Seus governos adotaram não apenas bons "fundamentos" (por exemplo, estabilidade macroeconômica e uma orientação voltada para fora), mas também o que poderiam ser denominadas políticas "produtivistas": moedas desvalorizadas, políticas industriais e controles financeiros.
A China é um exemplo dessa abordagem. Seu crescimento foi impulsionado por uma transformação estrutural extraordinariamente rápida rumo a um conjunto cada vez mais sofisticado de produtos industrializados. Em anos recentes, a China também ficou viciada em um grande superávit comercial vis-à-vis os EUA - a contrapartida da sua moeda subvalorizada.
Mas não foi apenas a China. Países que vinham crescendo rapidamente no período que antecedeu o grande crash de 2008 tinham, habitualmente, superávit comerciais (ou déficits muito pequenos). Esses países não querem ser destinatários de afluxos de capital, porque perceberam que isso iria arruinaria suas necessidades de manter suas moedas competitivas.
Hoje é consenso generalizado que grandes desequilíbrios nas contas externas - tipificado na relação comercial bilateral EUA-China - desempenhou importante papel no grande crash. A estabilidade macroeconômica mundial exige que evitemos esse tipo de grandes desequilíbrios em conta corrente no futuro. Mas uma volta ao crescimento elevado em países em desenvolvimento exige que eles retomem seu empenho nos setores de bens e de serviços comerciáveis. No passado, essa investida foi acomodada pela disposição dos EUA e um punhado de outros países desenvolvidos de incorrer em grandes déficits comerciais. Essa já não é mais uma estratégia viável para países em desenvolvimento grandes ou de renda média.
Haverá, portanto, um conflito entre requisitos mundiais para estabilidade macroeconômica e o crescimento de países em desenvolvimento? Será que a necessidade dos países em desenvolvimento de gerar grandes aumentos no suprimento de produtos industriais irá, inevitavelmente, chocar-se com a intolerância mundial a desequilíbrios comerciais?
Não há, na verdade, nenhum conflito intrínseco, desde que compreendamos que o relevante para o crescimento nos países em desenvolvimento não é a escala de seus superávits comerciais, nem mesmo o volume de suas exportações. O que importa é sua produção de bens industrializados (e serviços) modernos, que possa expandir sem limites desde que a demanda interna cresça simultaneamente. Manter uma moeda subvalorizada produz a vantagem de subsidiar a produção desse tipo de mercadoria; mas também traz a desvantagem de penalizar o consumo interno - sendo essa a razão pela qual gera um superávit comercial. Ao incentivar diretamente a produção industrial, é possível ter as vantagens sem as desvantagens.
Há muitas maneiras como isso poderia ser feito, entre elas a redução do custo de insumos e serviços domésticos por meio de investimentos focados em infraestrutura. Políticas industriais explícitas podem ser um instrumento ainda mais potente. O ponto essencial é que os países em desenvolvimento preocupados com a competitividade de seus setores modernos podem permitir que suas moedas valorizem (em termos reais), desde que tenham acesso a políticas alternativas que promovam mais diretamente atividades industriais.
Assim, a boa notícia é que os países em desenvolvimento podem continuar a crescer rapidamente, mesmo que o comércio mundial diminua e haja reduzido apetite por fluxo de capitais e desequilíbrios comerciais. Seu crescimento potencial não precisa ser gravemente afetado, desde que as implicações desse novo mundo para as políticas doméstica e internacional sejam compreendidas.
Uma dessas implicações é que os países em desenvolvimento terão de substituir políticas que operam através do câmbio por políticas industriais reais. Outra é que atores de política externa (por exemplo, a Organização Mundial de Comércio) precisarão ser mais tolerantes diante dessas políticas, desde que efeitos sobre os equilíbrios comerciais sejam neutralizados por meio de ajustes apropriados na taxa de câmbio real. Maior emprego de políticas industriais é o preço a ser pago por uma redução dos desequilíbrios macroeconômicos.
Dani Rodrik, professor de Economia Política na Escola John F Kennedy de Governo na Universidade Harvard, foi o primeiro agraciado com o prêmio Albert O Hirschman, do Social Science Research Council. © Project Syndicate/Europe´s World, 2009. http://www.project-syndicate.org/

A crise não ajudou a melhorar a imagem da globalização; na verdade, revelou seu ponto fraco
O caminho acidentado adiante
Dani Rodrik
22/06/2009
A crise financeira não ajudou a melhorar a imagem da globalização; na verdade, revelou seu ponto fraco
Se acreditarmos no mercado acionário e nos spreads das taxas de juros, a economia dos EUA já terá visto o pior e pode estar a caminho de uma lenta recuperação. Mas os problemas da economia mundial estão apenas começando. Se a globalização não receber o ajuste de que necessita, as perspectivas econômicas serão igualmente sombrias para países ricos e pobres.
O pior que poderia acontecer seria um retorno à década de 1930, quando os países levantaram barreiras comerciais e se refugiaram no isolacionismo, para prejuízo de todos. Felizmente, este é um cenário remoto hoje. Mas a coisa pior seguinte seria supor que um modesto remendo seria suficiente para tornar a globalização saudável e sustentável. Serão necessários esforços e criatividade reais para reparar as profundas fissuras na globalização reveladas pela crise financeira.
Primeiro, as boas novas. A resposta global à crise pode não ter sido excelente, mas tampouco foi a luta que se poderia temer. O G-20 não conseguiu chegar a um acordo sobre incentivos fiscais coordenados ou medidas concretas no tocante à reforma do setor bancário, mas conseguiu se aglutinar por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI) e forneceu a ele recursos adicionais. Apesar do grande número de novas medidas protecionistas adotadas em todo o mundo desde o início da crise financeira, a vasta maioria não é de tirar o sono. A globalização não recebeu um golpe mortal - pelo menos não ainda.
O verdadeiro teste ainda está por vir. O problema é que nenhuma das deficiências básicas da globalização deverá ser adequadamente abordada sob a agenda atual. A regulamentação e a supervisão financeira certamente serão reforçadas, mas seu caráter permanecerá nacional, com poucas salvaguardas contra excedentes transnacionais e arbitragem regulatória.
Além disso, a agenda da Organização Mundial do Comércio continuará irrelevante e, seja como for, paralisada. A China ainda não descobriu nem adaptou uma estratégia de crescimento alternativo que não dependa de um grande excedente no comércio exterior. O comércio exterior e a imigração (legal e ilegal), se não forem restringidos, continuarão pressionando os mercados de trabalho dos países ricos para baixo. A crise financeira não ajudou a melhorar a imagem da globalização, que há muito tem sido profundamente impopular entre os eleitores comuns na maioria dos países avançados.
Consequentemente, a tendência da globalização de produzir desequilíbrios macroeconômicos e fragilidade financeira, seu impacto prejudicial sobre a igualdade e a paz social em muitos países e sua débil legitimidade política continuarão gerando tensão e crises periódicas.
Dois outros acontecimentos agravarão enormemente essas debilidades. O primeiro é a improbabilidade de os Estados Unidos e outros países avançados recuperarem seu dinamismo econômico anterior, mesmo depois que a estabilidade financeira for restaurada. Os domicílios nos países ricos já sofreram uma perda colossal de riqueza (que equivale a dezenas de trilhões de dólares dos EUA). Isso significa que a expansão do consumo permanecerá atenuada por algum tempo. Enquanto a dívida pública cresce muito rapidamente e em alguns países projeções apontam que superará 100% do PIB, os governos não estarão numa posição de compensar a deficiência. A reestruturação de economias para longe das finanças necessariamente levará algum tempo. Estagflação, não crescimento, será o nome do jogo.
Segundo, a oferta de liderança global provavelmente continuará muito escassa. Os EUA serão incapacitados por sua economia de baixo desempenho, endividamento elevado e modelo econômico desacreditado. A União Europeia estará preocupada com seu próprio processo de integração interna. E a China, onde a renda per capita é um oitavo do nível dos EUA (ajustada pelo poder de paridade de compra), é simplesmente pobre demais para se tornar a nova hegemonia.
A história ensina que é difícil estabelecer e manter a ordem econômica mundial na ausência de uma potência econômica dominante. O período entre guerras, que padeceu de uma crise de liderança semelhante, produziu não só um colapso da globalização, mas um conflito armado devastador em escala global. Assim, os riscos de corrigir a economia do mundo não poderiam ser maiores. Administre mal o processo e as consequências poderão ser inimagináveis. Infelizmente, grande parte das soluções à disposição é tímida demais ou demanda demasiado de uma liderança global em baixa oferta. A charada da reforma global é que as propostas que chegam perto, como a de estabelecer um órgão regulador financeiro global, são absurdamente irrealistas, ao passo que as realistas, como a reforma do FMI, ficam muito aquém do que é necessário.
Nós precisamos de uma visão da globalização que seja plenamente consciente dos seus limites. Podemos começar com um simples princípio: não devemos nos empenhar em abertura máxima no comércio exterior e nas finanças, mas em níveis de abertura que deixem amplo espaço para a busca de objetivos econômicos e sociais domésticos, tanto nos países pobres como nos ricos. De fato, a melhor forma de salvar a globalização é não forçá-la demais.
Tomemos uma analogia de trânsito. Uma forma de evitar acidentes de trânsito é exigir que todos dirijam um carro semelhante, viajem à mesma velocidade e sigam na mesma direção. Outra é impor normas simples: não dirija na pista de alta velocidade se estiver lento, pare no farol vermelho, dê seta antes de uma conversão e assim por diante.
A primeira abordagem pode maximizar a carga de trânsito que pode ser suportada com segurança, mas ela não consegue levar a maioria das pessoas ao lugar que elas querem ir e é autodestrutiva em última análise. A segunda abordagem permite aos motoristas fazer suas próprias escolhas, ainda que isso signifique que precisem reduzir a velocidade ou parar de vez em quando. De forma semelhante, a globalização saudável e sustentável não deve impor uma camisa de força de normas comuns sobre todos.
A crise financeira revelou o ponto fraco da globalização. Seria um equívoco reagir tentando levar a globalização ao próximo nível. Os obstáculos políticos e econômicos que bloqueiam a integração profunda não podem ser eliminados como que por um passo de mágica através de exortações. Teremos maior proveito se levarmos esses limites em consideração e reduzirmos as nossas ambições.
Dani Rodrik é professor de Política Econômica na Escola de Governo John F. Kennedy na Universidade Harvard. © Project Syndicate/Europe´s World, 2009. http://www.project-syndicate.org/

June 14, 2009
The long view on the global economy
My latest Project Syndicate piece argues that the world economy has handled the financial shock rather well so far, but that the real test for globalization is yet to come.
History teaches that global economic order is difficult to establish and maintain in the absence of a dominant economic power. The interwar period, which suffered from a similar crisis of leadership, produced not only a collapse of globalization, but a devastating armed conflict on a global scale.
So the stakes in righting the world economy could not be higher. Mismanage the process, and the consequences could be unimaginable.Unfortunately, many of the solutions on offer are either too timid or demand too much of a global leadership that is in short supply.
The conundrum of global reform is that the proposals that go far enough, such as establishing a global financial regulator, are wildly unrealistic, while those that are realistic, such as reform of the IMF, fall far short of what is needed.
What we need is a vision of globalization that is fully cognizant of its limits. We can start with a simple principle: We should strive not for maximum openness in trade and finance, but for levels of openness that leave ample room for the pursuit of domestic social and economic objectives in rich and poor countries alike. In effect, the best way to save globalization is to not push it too far.
The column offers some hints about what I have in mind, but those who are curious about the details will have to show up at LSE on Tuesday.





A indecisão que freia o bem-estar social
Por Pedro C. Chadarevian, para o Valor, de São Paulo
13/02/2009
É praticamente irresistível comparar a atual onda de desemprego e recessão que se abate sobre o mundo desenvolvido, atingindo-nos também com surpreendente força, com a crise de 1929. Outro exercício interessante é mirar nas crises dos anos 70, que representaram o fim de um modelo de desenvolvimento inaugurado precisamente como resposta à Grande Depressão de 1929.
Artur Lopes
O modelo econômico de hoje é, em grande parte, uma herança das escolhas feitas depois do primeiro grande choque do petróleo. Os grandes desafios lançados naquele momento - a necessidade de substituição da matriz energética, a ameaça de conflito nuclear e as condições de vida ainda sofríveis de boa parte da população do planeta - continuam aguardando solução. Nesse sentido, não seria exagero supor que a atual crise é mera e simplesmente uma continuidade dos limites econômicos, ambientais e sociais que se apresentaram há cerca de 35 anos.
Na periferia, o sonho de superar a condição de subdesenvolvimento se renova a cada surto de crescimento. O boom econômico recente no Brasil tende, porém, a se dissolver em consequência da recessão global e de seus impactos na economia nacional. A bolha não deve tardar a estourar por aqui também, tendo em vista o grau de endividamento das famílias e a drástica redução em sua capacidade de pagamento. O desenvolvimento - considerado em seu aspecto mais amplo, ou seja, a evolução do produto interno combinado à promoção de bem-estar e qualidade de vida para o conjunto da população - corre o risco, mais uma vez, de não passar de ilusão.
A indecisão do governo brasileiro sobre que caminho tomar em face desses desafios contrasta com a reação do governo militar em 1974, quando se apostou firmemente em políticas anticíclicas para contornar os efeitos da crise e manter o país na trajetória do crescimento.
O preço daquela estratégia foi amargo, já que dívida externa e inflação se expandiram em ritmo galopante, corroendo, paradoxalmente, a capacidade de investimento do Estado. Estado, que, diga-se de passagem, já vinha reduzindo sua atuação em setores-chave como saúde e educação, sintomático da ausência de preocupação dos militares com o bem-estar da população, exatamente em um momento em que se promovia a concentração de terras no campo, o inchaço das grandes cidades e a redução real dos salários dos trabalhadores.
À época, a retórica oficial (para a qual os economistas contribuíram decisivamente) sustentava que deveríamos optar entre eficiência econômica ou combate à desigualdade. Isso se provou ser uma falsa escolha. Hoje, o discurso parece ter mudado, mas a tolerância com a desigualdade pouco se alterou.
Nunca é demais relembrar os benefícios de um mercado interno forte, composto por trabalhadores bem-remunerados, cuja saúde e educação gratuitas e de qualidade são fornecidos pelo Estado. Em primeiro lugar, não há, no mundo desenvolvido, exemplo de países que tenham chegado a essa condição e se mantido nela sem antes garantir qualidade de vida para a maioria da população.
O mais desigual dos países desenvolvidos, os Estados Unidos, é exatamente o que vê a sua liderança ameaçada neste momento, com seu mercado interno em frangalhos. Certo, o salto para o Estado de bem-estar não se fez sem lutas e resistências ferozes na Europa, na Rússia, nos Estados Unidos e, por último, na Coreia do Sul. Mas algumas de suas conquistas são incontestáveis, até mesmo entre os conservadores desses países - apesar da violenta flexibilização que vem ocorrendo especialmente nos EUA e parte da Europa.
O Brasil, que insinuou um sistema de proteção social periférico até 1964, ficou para trás, quando se abortou a construção de um inédito projeto nacional de desenvolvimento apoiado em um esforço de justiça social.
Os sinais de correção da trajetória no Brasil são ainda muito tímidos. Os programas sociais adotados têm efeito diminuído no combate à desigualdade enquanto são mantidos os juros nos atuais patamares. A redução anunciada de impostos para a classe média baixa seria muito mais eficiente se fosse compensada por um aumento na tributação das grandes fortunas e capitais. A política de cotas - elemento indispensável para a construção de um país mais justo -, ao se ater apenas ao setor educacional, deixando de lado o mercado de trabalho (onde se encontra a raiz do problema da desigualdade racial), faz o serviço pela metade. A política de investimentos não distingue o capital nacional do estrangeiro.
A doutrina do livre-mercado - aquela mesma que colocou o mundo na rota da crise - segue sendo adotada no país, apesar desses pequenos ajustes. A ruptura que se esboça, a julgar pelas declarações de integrantes do governo, está ainda distante de um caminho autônomo, nacional de desenvolvimento; distante da ênfase na redistribuição de riquezas como aspecto central de uma política anticíclica; distante do objetivo de alçar o país, em poucos anos, à condição de país desenvolvido, com um Estado de bem-estar que garanta a qualidade de vida para o conjunto de sua população.
A crise atual abre uma brecha para que se adote uma estratégia desse tipo, pois, contrariamente ao cenário de 1974, o custo de captação de créditos externos é próximo de zero. Basta que os governantes sejam convencidos da necessidade de inversão de prioridades - migrando da busca da eficiência a qualquer preço para a busca da promoção do bem-estar, a um preço seguramente elevado em um primeiro momento, que trará, porém, retorno seguro para as próximas gerações.
O combate às desigualdades está associado ao alcance de paz social, ao aumento de produtividade no trabalho, à redução dos gastos com saúde pública e ao aumento do potencial de consumo dos cidadãos. Mas, em um país de dimensões continentais como o Brasil, isso representaria muito mais. Essa é uma estratégia que, além das evidentes implicações econômicas, traz um impacto de ordem geopolítica considerável, em um momento em que os EUA se enfraquecem e despontam novas lideranças globais. A quem então interessa que continuemos subdesenvolvidos?
Pedro C. Chadarevian, doutor em economia pela Universidade de Paris 3 - Sorbonne Nouvelle, é professor do curso de Economia da Universidade Federal de São Carlos




Reforma institucional deveria ser inclusiva
Lorde Malloch Brown
12/02/2009
Esta não é a primeira vez em que o mundo enfrenta uma crise econômica com a escala da atual recessão econômica. Em 1933, enquanto bancos desmoronavam e o desemprego disparava como resultado do crash de Wall Street, os líderes mundiais reuniram-se em Londres para encontrar um caminho comum que os levasse à frente. Franklin Roosevelt condenou os "velhos fetiches dos chamados banqueiros internacionais" e ressaltou a importância de revigorar a economia mundial.
Os anos 1930 e a década seguinte não entraram para a história como exemplo de cooperação internacional, mas como um alerta gritante para futuras gerações sobre o que acontece quando conflitos internacionais triunfam sobre o comprometimento conjunto. Na Cúpula de Londres, em abril deste ano, teremos uma grande oportunidade de mudar a história: de construir as bases para uma cooperação internacional mais sólida para resistir a esta crise e às décadas por vir.
Desde que a escala da crise econômica ficou clara, governos por todo o mundo, incluindo os do Reino Unido e Brasil, lançaram as fundações para a recuperação. Fornecemos capital ao sistema bancário, estímulos fiscais e monetários para a economia e crédito para ajudar as empresas interessadas em investir e criar empregos. Todos nós, no entanto, precisamos fazer mais. Como mostrou a crise, agora somos todos interdependentes e interconectados e precisaremos trabalhar juntos. Estou muito satisfeito de estar no Brasil nesta semana para descobrir como levar essa parceira adiante em abril.
No centro de nossa visão por uma economia mundial revigorada está um internacionalismo mais inclusivo. Vivemos em um mundo globalizado no qual, até 2050, as economias de Brasil, Rússia, Índia e China igualarão a participação do G-7 no PIB mundial. Está claro que as decisões sobre o futuro da economia mundial não podem ser tomadas sem o Brasil e essas outras grandes potências - as economias emergentes do mundo - na mesa. As únicas soluções viáveis serão as que beneficiem não apenas o mundo desenvolvido, mas também o mundo em desenvolvimento. Isto vale para a economia, mas também para decisões sobre paz e segurança internacional e é por isso que apoiamos as aspirações do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Na reunião da Cúpula de Londres, esperamos ter progressos em várias áreas. Esperamos fortalecer os esforços para construir um sistema de alerta antecipado, para melhor prever futuras crises. Esperamos ter condições de trabalhar com os países superavitários para reequilibrar o crescimento mundial e assegurar que ninguém seja deixado para trás.
Na esfera macroeconômica, isto significará trabalhar para evitar contágios por meio de um Fundo Monetário Internacional (FMI) que tenha os fundos e instrumentos de crédito necessários e reencaminhar a Rodada Doha de uma forma que funcione tanto para as economias do G-20 como para as do mundo em desenvolvimento. Esperamos também que a Cúpula de Londres impulsione uma recuperação que seja de baixa emissão de gás carbônico. Como disse o primeiro-ministro Gordon Brown no Fórum Econômico Mundial passado, em Davos, "não podemos permitir-nos relegar a mudança climática entre as pendências internacionais por causa de nossas dificuldades econômicas".
Na esfera microeconômica, isto significará reafirmar nosso compromisso com as Metas de Desenvolvimento do Milênio e encontrar outras formas inovadoras de assegurar que os mais pobres sejam protegidos da retração mundial. Precisamos fazer nosso máximo para assegurar que as pessoas comuns não sofram com perdas de empregos e renda familiar.
Embora a Cúpula de Londres seja para dar sequência ao processo de recuperação da atual crise econômica, também precisamos manter um olho aberto para o longo prazo. Apenas será possível manter o mundo no caminho do crescimento sustentável com um internacionalismo mais inclusivo, centrado na reforma do Instituto Internacional de Finanças (IIF). É algo que o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, vem argumentado de forma reiterada, tendo declarado em 2008 que "precisamos construir instituições que promovam interesses mútuos por estarem fundamentadas em valores comuns". O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou intenções similares.
Algum progresso foi obtido. Em abril de 2008, o conselho diretor do FMI aprovou uma grande reforma nas cotas de voto para refletir melhor as realidades econômicas da moderna economia mundial. Na semana passada, o primeiro-ministro britânico e o premiê da China, Wen Jibao, concordaram em avançar mais a partir dessas reformas de governança e cotas, incluindo mudanças no mecanismo de votação com as quais o Banco Mundial e o FMI concordaram em 2008. Claramente, entretanto, há muito mais a ser feito, tanto pelo FMI como pelos bancos de desenvolvimento regionais multilaterais.
Para construir um futuro global mais próspero precisamos aprender com os erros de nossos predecessores. Na Cúpula de Londres de 2009 precisamos não ceder ao nacionalismo e protecionismo. Precisamos superar nossas diferenças para erigir o que o presidente Lula chamou de uma "nova ordem econômica mundial" que funcione por igual para economias desenvolvidas e em desenvolvimento. O futuro de ambas está em jogo - e ambas precisam ser parte da solução.
Lorde Malloch Brown é enviado especial do primeiro ministro britânico da Cúpula do G-20.




A aposta do Brasil no G-20 financeiro
Assis Moreira
12/02/2009
O Brasil tem sinalizado a "máxima determinação" para que o encontro de cúpula do G-20 em abril, em Londres, seja bem-sucedido na resposta coordenada à pior crise econômica dos ultimos 75 anos, que aumenta o desemprego, as falências e traz a ameaça de explosão social.
Esse encontro dos chefes de Estado e de governo de países que respondem por 80% da produção mundial tem três prioridades ambiciosas, definidas na primeira reunião em novembro, em Washington: primeiro, ações para reativar a economia mundial; segundo, reformar o sistema financeiro; e terceiro, definir princípios para reformar as instituições, como Fundo Monetário Internacional , Banco Mundial e Fórum de Estabilidade Financeira.
Em meio à crise, o governo Lula vê uma oportunidade para aumentar o peso dos emergentes nos processos decisórios das principais instituições financeiras internacionais. E avalia que o sucesso em Londres ajudaria a provar que uma governança global com os emergentes é possível e de interesse da economia mundial.
É que existe a tentação entre membros do G-8, até agora o diretório econômico do planeta (formado pelos EUA, Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Itália, Canadá e Rússia), de tentar voltar a ser o principal foro internacional, depois que a atual crise tenha passado. Para esses países, é mais confortável funcionar com o formato passado, discutindo os problemas mundiais entre eles, sem levar necessariamente em conta as percepções e demandas dos emergentes, só recentemente convidados para o cafezinho.
Basta ver que o G-20 foi criado em 1999 como um fórum periférico, composto de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais, por ordem dos países mais desenvolvidos reunidos no G-7. O objetivo era "educar" os emergentes a não se meterem mais nas crises financeiras que partiam da América Latina e Ásia, com impacto no resto do mundo.
Mas a situação está mudando mais rápido do que Washington ou Paris imaginavam. Os emergentes têm sido responsáveis pelo que resta de expansão econômica. A dramática crise financeira atual deu um golpe nos paises desenvolvidos, onde a crise foi originada. China e Rússia reivindicam inclusive a criação de moedas regionais de reserva, para reduzir a dependência em relação ao dólar americano.
Roger Altman, ex-vice-secretário de Tesouro dos EUA, em 1993-94, reconhece, na revista "Foreign Affairs", que os EUA e os governos europeus não terão nem os recursos nem a credibilidade econômica no médio prazo para assumir o papel nos assuntos globais que eles, de outra maneira, teriam, e uma mudança no centro de gravidade do poder fora dos EUA parece clara.
É nesse cenário que o Brasil diz ter determinação real pelo êxito da cúpula de Londres, para demonstrar que a "governança inclusiva" funciona melhor. E espera que o G-20 seja mais que catalisador contra a crise, e se consolide como o encontro dos líderes, substituindo o G-8. "O grande fórum de discussão e tomada de decisão de cooperação mundial deve ser o G-20 e o Brasil terá papel preponderante", acredita o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Para isso, "é fundamental que a reunião de Londres dê certo", acrescenta um negociador. Dar certo, na visão brasileira, significa que os líderes dos 20 paises produzam um compromisso de resposta à crise capaz de convencer os atores econômicos, "um desafio político e psicológico".
Reuniões preparatórias já ocorreram em Londres, mas os americanos praticamente ficaram de fora, porque os funcionários enviados não tinham instruções da nova administração da Casa Branca, mais ocupada em atenuar o incêndio em casa. Agora que o presidente Barack Obama definiu dois planos de estabilização de até US$ 2,8 trilhões para combater a pior crise econômica dos últimos 75 anos, a expectativa do Brasil e de outros países é que os Estados Unidos comecem a se engajar na preparação da cúpula.
Todo mundo está na expectativa do que pode resultar desses pacotes americanos. Com a conjuntura extremamente incerta, os ministros de Finanças só em meados de março vão discutir pontos mais cruciais da crise e como responder a eles na mensagem que sairá de Londres. Se a crise for ainda mais aguda, o foco será como completar as medidas para estabilizar a economia.
O Brasil, em todo caso, defende que as tentativas de reversão da crise não percam de vista as reformas da governança global. O plano de ação do G-20, com 47 pontos, definido em Washington, está sendo discutido em quatro grupos, nos quais os principais negociadores brasileiros são o chefe da assessoria internacional do Ministério da Fazenda, embaixador Marcos Galvão, a representante do BC Celina Arraes, na parte econômica, e o representante do Itamaraty, embaixador Pedro Luis Mendonça, nos temas políticos.
A cúpula de Londres deve prometer uma resposta à crise que resulte em benefício mútuo. Na prática, cresce o risco de a crise econômica e financeira se transformar em crise política, porque quanto pior a situação, maiores as pressões internas por proteção às indústrias e ao emprego ou por reações ao que parceiros fizeram. Além disso, a participação dos emergentes na governança vai ser testada além dos discursos.
O Brasil se sente confortável em relação ao que vem sendo negociado sobre supervisão e regulação do sistema financeiro. O BC e o Ministério da Fazenda acham que as lacunas por trás da dramática crise atual não existiam no país, e que todas as áreas de atividade financeira estão reguladas. Em contrapartida, o país coloca seu peso para entrar no Fundo de Estabilidade Financeira, órgão da maior importância na regulamentação financeira internacional. É sediado no BIS, o banco dos bancos centrais, e composto apenas pelos membros do G-7 e cinco outros países: Holanda, Suíça, Austrália, Cingapura e Hong Kong.
Brasília mantém a pressão também pelo aumento de participação dos emergentes no FMI, que o fundo supervisione economias importantes como a dos EUA, e que facilite o acesso aos créditos. Quanto ao Banco Mundial, quer que forneça mais recursos para os países em desenvolvimento.
Assis Moreira é correspondente em Genebra





Deixem Pelé jogar
Marcio Garcia
13/02/2009
As taxas de juros do crédito no Brasil são extremamente elevadas. Uma rápida visita ao site do Banco Central (BC) mostra que a taxa do financiamento para aquisição de bens para pessoas físicas pode variar de 0,55% a 12,65% ao mês, ou seja, desde modestos 7% até espantosos 318% ao ano! Claro que tais dados referem-se a operações com condições e garantias bancárias totalmente distintas. Ainda assim, a diferença entre as taxas de juros do crédito no Brasil e as taxas de captação dos bancos, o spread bancário, é anormalmente elevada - desde 1999, o Banco Central produz relatórios anuais ("Relatório de Economia Bancária e Crédito", disponível na internet) sobre crédito e spread bancário). O gráfico mostra a evolução do spread médio para operações às firmas (PJ), famílias (PF) e total, desde 2000. Mostra também a evolução da taxa Selic (escala à direita). É visível a elevada correlação entre a taxa Selic e as séries dos spreads. Apenas no episódio de aperto monetário em 2004/2005 não houve elevação dos spreads correspondente à da Selic. Ainda que a forma pela qual o BC calcula os spreads (por subtração) faça com que o nível da Selic afete positivamente os spreads, a correlação positiva entre taxa Selic e spread bancário está provavelmente ligada ao comportamento das taxas de inadimplência percebidas pelos bancos. Quanto maior a inadimplência, maior o spread, pois o banco precisa recuperar seu capital no pool menor de empréstimos adimplentes. A elevação dos spreads, desde janeiro de 2008, apesar de associada à elevação da Selic até setembro de 2008, já ocorreu com a crise internacional em andamento. O agravamento do quadro, com a quebra do banco Lehman Brothers, também em setembro, causou fuga de capital e agravou muito a situação do mercado de crédito brasileiro, elevando ainda mais os spreads, como se vê no gráfico. Dado que o nível de atividade tem sofrido bastante, com impactos nocivos sobre emprego, renda dos trabalhadores, e lucros, é improvável que a inadimplência venha a cair. Não será surpreendente se os spreads continuarem elevados, mesmo com quedas futuras da Selic. Com spreads mais elevados, o mesmo nível da taxa Selic produz, hoje, efeito muito mais contracionista sobre a demanda agregada do que antes da crise. Ou seja, o comportamento do spread bancário abre caminho para reduções adicionais de juros. Tal efeito, aliado à já aludida queda do nível de atividade e ao extremamente reduzido repasse da depreciação cambial à inflação (pelo menos até agora) parece configurar cenário muito propício à redução mais intensa dos juros. Por que isso não acontece? Se excluirmos explicações simplistas, infelizmente muito frequentes, a resposta tem que ser, obrigatoriamente, a de que os membros do Copom não acham que possam, com taxa Selic mais baixa, garantir o cumprimento da meta para a inflação. Claro que podem estar errados. Mas, dado que são técnicos bem preparados e calejados, deve haver razões substanciais para que a Selic não caia mais rapidamente. Um obstáculo importante para a queda mais intensa da Selic é o restante da política econômica, notadamente a política fiscal. O governo vem expandindo fortemente os gastos de custeio da máquina pública, agora com a justificativa de que o mesmo se faz no exterior. Tal justificativa é imprópria, pois os governos que recorrem à política fiscal o fazem após exaurir a política monetária, mais eficiente. Além disso, política fiscal anticíclica não pode se basear em expansão de gastos de custeio, muitos deles recorrentes, como vem sendo feito. Tal expansão de gastos públicos limita o espaço para a baixa de juros. Mesmo que os resultados fiscais de 2008 tenham sido satisfatórios, as perspectivas de aumentos já encomendados para o futuro são preocupantes. Também a expansão para-fiscal que vem sendo feita via bancos públicos, se exagerada, tem o efeito de limitar a queda dos juros, que seria mais eficiente no combate à recessão. Outro óbice é a pressão que vem sendo feita por importantes figuras do governo (e também da oposição com perspectivas de chegar ao poder) para o BC acelerar a queda dos juros. Um dos pilares da política monetária é a credibilidade do BC, a percepção de que o BC tem autonomia (pelo menos) de fato para fixar a taxa Selic. Isto é particularmente importante em momentos como o atual, no qual, dada a imprevisibilidade do cenário internacional, mudanças bruscas de taxa de juros se fazem mais necessárias. Por exemplo, suponha que, nos próximos meses, o BC venha a reduzir mais intensamente a Selic, para evitar a queda do nível de atividade. Suponha, adicionalmente, que (oxalá) a crise internacional seja mais breve e o nível de atividade interna se recupere em 2010. Nesse cenário, terá o BC liberdade para voltar a elevar a taxa Selic ou deixará a inflação subir em ano eleitoral? Se a credibilidade do BC cai, elevam-se as expectativas de inflação e os juros não podem cair tão rápido. Em suma, um tiro no próprio pé! Segundo entrevista do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, à Veja, o presidente Lula teria declarado que o Brasil está muito bem situado para resistir à crise, mesmo antes de Pelé ter entrado em campo. A entrada de Pelé seria a metáfora para a queda da taxa de juros, recentemente iniciada pelo BC. A metáfora do presidente é apropriada. Inapropriado é o resto da política econômica que não deixa Pelé jogar. Márcio G. P. Garcia, Ph.D. por Stanford, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, escreve neste espaço uma sexta-feira a cada mês. (http:// www.econ.puc-rio.br/mgarcia )



Spreads: mais luz, menos barulho
Gustavo Loyola0
2/03/2009
A questão dos spreads bancários está na ordem do dia. O tema é relevante para a economia do país e, sem dúvida, merece ampla discussão. No entanto, muitas vezes o debate parece adquirir características de bate-boca, deixando pouco espaço para uma discussão séria sobre um assunto tão complexo e importante para o país.
Tome-se como exemplo uma declaração sobre o assunto que teria sido feita por uma alta autoridade governamental. No final de dezembro, o ministro da Fazenda teria dito, segundo a imprensa, que a subida dos spreads era intolerável e que "tomaria medidas para forçar os bancos a baixar o spread".
Forçar a baixa dos spreads iria certamente levar a um beco sem saída. Provavelmente apenas pioraria a qualidade da intermediação financeira e reduziria o acesso ao crédito de pequenas e médias empresas. É fácil ver isso. Basta lembrar, inicialmente, que o governo já é o "dono" de um grande naco (um terço) do crédito no país, através dos bancos oficiais. Ademais, quase 30% do crédito total é na modalidade "direcionado", ou seja, não contratado livremente a taxas de mercado. Assim, fosse spread baixo apenas uma questão de vontade do governo, já estaria o Brasil entre os países privilegiados por módicas taxas de empréstimos e financiamentos bancários.
Voluntarismo não vai resolver a questão. O necessário é dissecar o problema e atacá-lo com políticas não imediatistas, mas que levem a soluções definitivas, aumentando a eficiência da intermediação financeira e, ao mesmo tempo, preservando a saúde do sistema bancário.
O aprofundamento da agenda de discussões sobre juros e spread bancário iniciada pelo Banco Central em 1999 parece um bom caminho. Essa iniciativa já jogou muita luz sobre o problema e levou à adoção de várias medidas que contribuíram para a expansão do crédito nos últimos anos, bem como para a queda dos spreads em vários segmentos do mercado. A agenda do BC também frutificou fora da instituição, como se vê pelo número crescente de trabalhos acadêmicos que cuida de temas de microeconomia bancária aplicados ao Brasil.
A propósito, talvez fosse bom relembrar aqui algumas das conclusões desses estudos sobre o custo do crédito no Brasil:
a) O spread bancário é influenciado pelo nível da taxa Selic. Estudos econométricos evidenciam que há um correlação positiva entre o nível da Selic e o spread bancário no Brasil. Em consequência, um dos culpados pelos spreads altos é o próprio nível elevado da taxa Selic. Assim, sem prejuízo de outras ações, reduzir o spread implica a necessidade de reduzir de forma sustentável e não inflacionária a taxa básica de juros;
b) impostos sobre a intermediação financeira, recolhimentos compulsórios não remunerados ou sub-remunerados, direcionamento de crédito e outras formas de intervenção do governo explicam cerca de 11% do spread bancário no Brasil;
c) os custos administrativos e operacionais dos bancos correspondem a uma parte relevante do spread. Segundo o BC, cerca de 13% do spread seriam explicados pelos custos administrativos, mas provavelmente esse percentual está subestimado;
d) Mais de um terço do spread é explicado pela inadimplência. Comparativamente a outros países, são maiores as dificuldades no Brasil para a recuperação de créditos, por causa de deficiências legais e processuais que beneficiam os devedores;
e) O sistema bancário brasileiro não tem índices de concentração elevados quando comparados com outros países. Se porventura a estrutura de mercado estiver influenciando o custo do crédito, isso deve ser específico de algumas linhas de negócios, provavelmente em razão de problemas de assimetrias de informação.
Por outro lado, a divulgação, pelo Banco Central, dos spreads praticados pelas instituições financeiras poderia até ser útil, com vistas a orientar o público. Porém, haja vista as complexas questões de mensuração do spread, há grande risco de o BC divulgar gato por lebre. Não apenas deve o BC considerar que o relevante para os tomadores de empréstimos é o custo total da operação - e não o spread - como também atentar para o fato de que o cálculo do spread envolve maior complexidade do que o da taxa de juros das operações de crédito.
Há várias dificuldades envolvidas na mensuração do spread. O BC calcula o spread ex ante, isto é, utilizando as taxas cotadas pelos bancos e não as efetivamente contratadas. Ocorre que recente estudo do Banco Mundial mostra que há diferenças significativas entre as taxas cotadas e as efetivamente praticadas, sendo estas mais baixas do que aquelas. Por isso, a discussão sobre o custo do crédito no Brasil seria enriquecida, caso o BC publicasse as taxas efetivamente praticadas (e registradas na Central de Risco de crédito).
Ademais, o cálculo do spread deve necessariamente levar em conta as diferenças de custos de captação entre as diversas instituições, assim como os custos associados aos descasamentos de prazos e taxas de juros. Uma das disfunções do mercado financeiro brasileiro é a falta de captações de longo prazo e a curta "duration" dos ativos financeiros, que são reprecificados diariamente pela taxa do CDI. Para fazer empréstimos com taxas prefixadas, com prazos maiores, os bancos são obrigados a realizar operações em mercados de derivativos para mudar a moeda de seus passivos, além de incorrerem em riscos maiores de liquidez. Não apenas tais disfunções aumentam o custo médio do crédito no Brasil vis-à-vis outros países, como também tornam mais complicado calcular, para cada banco, o spread de fato praticado.
Finalmente, outro aspecto diferenciador do spread entre os bancos diz respeito ao seu público-alvo. Um banco pode cotar uma taxa mais alta porque tem um apetite maior de risco de crédito e está disposto a emprestar a um grupo de clientes potencialmente mais arriscado, cobrando para isso uma remuneração mais alta. Outro banco pode reportar um "spread" mais baixo, por ser mais conservador e estar mirando em um grupo de menor risco de crédito. A simples publicação comparada do "spread" desses dois bancos não traz, obviamente, informação suficiente para o público fazer uma escolha. Ao bater às portas do banco mais barateiro, a empresa ou a pessoa física pode terminar sem crédito, numa situação que lembra aquela antiga de música "quem eu quero não me quer, quem me quer, mandei embora..."
Gustavo Loyola, doutor em Economia pela EPGE/FGV e ex-presidente do BC, é Sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, em São Paulo. Escreve mensalmente às sextas-feiras.



LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Financeirização e riqueza fictícia23-02-2009 - Folha de São Paulo
Acrise não destrói só riqueza fictícia, ela cria desemprego, diminui o PIB; destrói, portanto, a riqueza real
O ENVIADO especial de "El País" ao Fórum Mundial de Davos encerrou seu trabalho com uma reportagem com o título "Davos assume a decadência do capitalismo à americana". Depois de tantos anos de exuberância especulativa e arrogância ideológica, está se tornando claro agora para todos quão perversa foi para os Estados Unidos a transformação das finanças em financeirização e a do liberalismo em neoliberalismo. Depois dos "30 anos gloriosos do capitalismo" (1945-75), o capitalismo regrediu: passou a crescer menos, as crises financeiras tornaram-se mais frequentes, e a desigualdade aumentou, privilegiando os 2% mais ricos da população.
Mas, hoje, nada de grandes análises, e sim mais uma aula para Maria e para João. Este me pergunta: "Essa palavra financeirização que cada vez um número maior de pessoas usa -é a mesma coisa que finanças?".
Não é. A atividade financeira é necessária; a financeirização, sua distorção. Principalmente os bancos e as Bolsas de Valores têm um papel fundamental em qualquer sistema econômico. É por meio deles que os poupadores transferem suas poupanças para os empresários que realizam investimentos e promovem, assim, o desenvolvimento econômico. É por meio dos bancos e dos seus cheques e cartões de crédito que fazemos nossos pagamentos. O mercado só pode funcionar bem e a economia só se torna eficiente quando os bancos e as Bolsas realizam bem sua tarefa de financiar a produção.
Já a financeirização é uma palavra cada vez mais usada para indicar que o sistema financeiro está deixando de cumprir a sua missão e passa a assumir um papel principalmente especulativo. Mais precisamente, a financeirização é a distorção do sistema financeiro que resultou da desregulação neoliberal do sistema financeiro. Tal desregulação tornou possíveis "inovações financeiras" que, em vez de facilitarem o financiamento da produção, produziram para seus inventores -os financistas profissionais- grandes comissões e bônus, e, para os rentistas, riqueza financeira fictícia.
"Então todas as inovações financeiras foram más?", pergunta João. Nem todas, mas muitas delas. Aparentemente elas pretendem dar mais segurança às finanças, mas afinal são uma forma que os financistas inventaram para tornar os rendimentos dos rentistas muito mais elevados que a taxa de lucro normal das empresas e a correspondente taxa de juros e, assim, justificar suas comissões. São mecanismos que aproveitam a desinformação e a insegurança dos investidores para realizar ganhos muito maiores do que o crescimento do PIB.
"Mas quem é que perde nesse processo? Se a riqueza está aumentando, parece que todos ganham", diz-me Maria. Durante algum tempo, todos parecem ganhar. É a euforia do boom. Mas, como a riqueza que está sendo criada é fictícia (o valor das ações nos Estados Unidos aumentou cerca de quatro vezes mais do que o PIB desde 1980), de repente a confiança desaparece e os preços dos ativos (ações, imóveis) caem verticalmente. É a crise destruindo a riqueza fictícia que havia sido criada pela financeirização -pelas inovações financeiras e a especulação.
"Mas, afinal, parece que a crise destrói apenas riqueza fictícia", observa João. Tomara fosse assim! Na verdade, leva também boas empresas à falência, cria desemprego, diminui o PIB, destrói, portanto, a riqueza real. O pior, porém, é que provoca insegurança e sofrimento desnecessários para as pessoas.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 74, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994". Internet: http://www.bresserpereira.org.br/
lcbresser@uol.com.br

ENSAIO
Economista de Lenin previu criseSTEFANIE AUGUSTINE
KYLE CRICHTON
23-02-2009 - Folha de São Paulo - Caderno NYT
Nikolai Kondratieff não foi exatamente um burocrata sem rosto na Rússia pós-revolucionária. Ele trabalhara no último governo de Alexander Kerensky, antes da tomada do poder pelos bolcheviques, e então tornou-se teórico importante da chamada nova política econômica, sob a égide de Lênin.
Mas ele teria sido consignado à lata de lixo da história há muito tempo se não fosse por sua paixão acadêmica excêntrica, que exerceu em livros e artigos escritos ao longo da década de 1920. Revendo a história econômica desde o final do século 18, Kondratieff chegou a uma conclusão espantosa, do tipo "fim dos tempos": que as economias capitalistas estão fadadas a passar por ciclos previsíveis de cerca de 50 anos, que inevitavelmente culminam numa depressão.
Apesar de comunista engajado e autor de uma teoria de colapsos capitalistas inevitáveis, embora periódicos, Kondratieff foi executado em 1938, vítima dos expurgos stalinistas. Aparentemente, ele levantara dúvidas fortes demais sobre o entusiasmo do governo pela indústria pesada e os coletivos agrícolas. Após oito anos no gulag, ele deixou para sua filha uma carta final em que recomendou que ela fosse "uma menina inteligente e boa" e pediu: "não se esqueça de mim".
Foi um epitáfio apropriado, pois, a cada vez que parece que Kondratieff está prestes a ser esquecido, a economia tem uma queda -que seus discípulos tentam enquadrar em ciclos, ou "ondas de Kondratieff".
Ele identificou em cada ciclo quatro estágios, que corresponderiam às estações do ano. Depois de avançar rapidamente durante a fase primaveril, diziam seus discípulos, a economia segue bem durante o verão, vive uma queda assustadora com a chegada do outono e, então -mesmo que os governos tentem evitar-, mergulha numa fase invernal que pode durar até 20 anos.
Coinciência ou não, o hemisfério norte vem enfrentando um inverno especialmente rigoroso.
Com o passar dos anos, o apelo das ideias de Kondratieff aumentou e diminuiu -perde espaço nos tempos bons e volta com força quando as perspectivas parecem sombrias. Mas sua teoria nunca chegou a ser aceita pelos economistas convencionais.
Os seguidores de Kondratieff já gritaram "depressão" antes, por exemplo em 1982. Na época, um correspondente do "New York Times", Paul Lewis, observou: "Segundo a análise de Kondratieff, o mundo está passando pela quarta grande queda econômica desde os anos 1790, um período de recessão global que provavelmente durará até quase o final do século, quando terá início uma nova era de prosperidade -e há muito pouco que se possa fazer para mudar isso."
Hoje os discípulos de Kondratieff estão igualmente certos de que o período negativo atual começou em 2000, com o crash do mercado acionário daquele ano, seguido pela fase outonal dos anos Bush, caracterizada pelo enorme crescimento da dívida e da alavancagem, numa tentativa de manter a prosperidade dos anos de primavera e de verão.
Evidentemente, as ondas de Kondratieff tendem a estar na cabeça daqueles que as enxergam. Afinal, a economia americana terminou por reagir a várias quedas do mercado como a de 2000, permitindo que os 25 anos seguintes a 1982 fossem um período de crescimento em grande medida ininterrupto. Na última década desse período, porém, o crescimento foi movido pela dívida, numa tentativa desesperada de manter um nível insustentável de consumo -uma etapa que a teoria de Kondratieff explica com bastante precisão.
"As pessoas que traçam as previsões geralmente não exercem papel central na discussão da ciência econômica", disse David Colander, historiador de economia no Middlebury College, em Vermont (EUA). Mas, acrescentou, as economias têm, sim, "essa tendência ao excesso" captada por Kondratieff e outros, e isso é algo que passa em grande medida despercebido na teoria econômica moderna.
Colander cita a Escola Austríaca como possível rival à linha de pensamento de Kondratieff. Seus economistas tendem a enfatizar uma abordagem empreendedora baseada no "laissez-faire" e em limites rígidos ao crescimento da disponibilidade de moeda. Embora seja vista como fora da linha de pensamento econômico mais convencional, a Escola Austríaca é muito mais prestigiosa, tendo em suas fileiras dois Prêmios Nobel, Friedrich Hayek e James Buchanan.Consta que Hayek previu a Grande Depressão, e alguns devotos da Escola Austríaca reivindicam o crédito por terem previsto a atual.
Nos anos 1930, John Maynard Keynes tomou o lugar de Hayek e da Escola Austríaca na popularidade intelectual. A linha de pensamento austríaca voltou, até certo ponto, durante os anos Reagan, mas, segundo Colander, nunca chegou a conquistar aceitação entre os economistas. "Deveria ter conquistado", disse ele. "Uma boa disciplina deve levar mais a sério seus próprios outsiders. Eles fazem você olhar para as coisas sob óticas diferentes. A pior coisa para os líderes políticos é pensar que têm razão."

Corrections
Published: February 22, 2009
New York
An article in some editions last Sunday about the many links between the victims of the crash of Continental Connection Flight 3407 and residents of the Buffalo suburbs surrounding the site of the crash misstated, in some copies, the surname of an event planner who gathered with others to mourn Susan Wehle, a local cantor who died in the crash. She is Bonnie Gersh, not Stern. The article also referred incorrectly in some copies to Leon Komm, a funeral director who also knew Ms. Wehle. It is a friend of Mr. Komm’s — not Mr. Komm himself — who lives several hundred feet from the crash site, in Clarence Center. (Go to Article)

BUSINESS FORUM: PEACE AND PROSPERITY; How Military Might Robs an ...
... Waves'' - long-term cycles of about 50 years of inflation and deflation in the world economy first identified by Soviet researcher Nikolai Kondratieff. ...October 16, 1988 - By JOSHUA S. GOLDSTEIN; Joshua S. Goldstein, an assistant professor of International Relations at the University of Southern California, is the author of ''Long Cycles: Prosperity and War in the Modern Age.''

THE WIDE, WIDE WORLD OF WEALTH
It tells the reader a little bit about the depressions at the end of the 19th century and in the 30's, and it mentions, but barely, Nikolai Kondratieff (why ...March 20, 1988 - By ROBERT M. SOLOW; Robert M. Solow, who teaches at M.I.T., won the Nobel Memorial Prize in Economic Science last year.

Credit Crisis - News
Nikolai Kondratieff’s theory: capitalist economies are fated to go through regular and predictable cycles, inevitably culminating in a depression. ...

Kondratieff's Roller Coaster
Nikolai Kondratietf was a Soviet economist who thought the West was trapped on an ... Could the West be peering down from the peak of a Kondratieff cycle? ...June 12, 1978

ON THE CORPORATE BOOKSHELF; NEW TRANSLATION REVIVES AN OLD 'WAVE ...
DISPLAYING ABSTRACT ]The Long Wave Cycle, by Nikolai Kondratieff. Translated by Guy Daniels. Introduction by Julian M. Snyder. Richardson Snyder, N.Y. 138 ...May 27, 1984 - By Edwin McDowell

MSIa - Kondratiev, Schumpeter e as "ondas longas" do ...
Aqui na Alemanha, a crise financeira permanece no centro das atenções públicas. ... Kondratiev e Schumpeter não são desconhecidos, mas, nas últimas três ...

O que um economista assassinado por Stalin diz sobre a crise ...
Pois então, a crise econômica tem sido uma componente da dinâmica econômica do ... sobre a certa presença das ondas de Kondratiev na academia brasileira, ...

VERMELHO .:: A esquerda bem informada ::
Cesar Benjamin: Cautela com Kondratiev. A hipótese apresentada na década de 1920 .... A crise financeira internacional deixou sua marca na Espanha em 2008, ...

Poder Global, Geopolítica e Tendências da Economia Mundial
Iniciou-se a fase expansiva de um novo Kondratiev, com uma súbita e drástica elevação das taxas ... A crise da economia estadunidense, entre 2007 e 2008, ... para o sistema financeiro estadunidense cria uma enorme disparidade mundial.

O Quarto Ciclo de Kondratiev
No presente Ciclo Longo — o Quarto Kondratiev — algumas discrepân- ..... A crise económica, embora sendo menos violenta nos países céntricos do ... SEP

Capitalismo e teorias da crise (Parte I)
Entre elas, os estudos do economista soviético Nicolai Kondratiev que ... A interpretação da crise econômica feita por ele, foi logicamente afetada por essa ...

Inovação tecnológica e ciclos de Kondratiev *
riam nu base dos ciclos de Kondratiev, pondo em dúvida a validade ...... existe uma parada na atividade inovadora até o princípio das crises económicas, ...



A crise na era senil do capitalismo. Esperando, inutilmente, o quinto Kondratieff
Levando em conta o contexto de crise sistêmica, há quatro esperas inúteis que florescem nos círculos de poder. A primeira, que sobredetermina as demais, é a da chegada de um quinto ciclo de Kondratieff, de uma nova prosperidade produtiva do capitalismo. A segunda se refere à chegada milagrosa de um novo keynesianismo que, portando a espada do intervencionismo estatal, cortaria a cabeça dos malvados especuladores. A terceira e a quarta estão ligadas à idéia do renascimento do Império e de um novo centro do mundo burguês. A análise é de Jorge Beinstein.
Jorge Beinstein
Artigo publicado originalmente na revista espanhola El Viejo Topo.






A ilusão monetária
Antonio Delfim Netto
17/02/2009
Nos últimos 50 anos, o conhecimento de como funciona o sistema econômico melhorou dramaticamente: sofisticou-se, enfatizou a necessidade de construir modelos mais rigorosos em linguagem matemática e exigiu a construção de uma metodologia estatística especial para verificar se eles resistem à comparação com a realidade. Esperava-se um bônus adicional: a eventual possibilidade de que tais modelos permitissem algum tipo de "previsão" utilizável fora do período da amostra, o que, infelizmente, até agora não se verificou.
As razões do fracasso dessa ardente aspiração científica são várias. Muito provavelmente estão ligadas ao próprio objeto de estudo: um universo, que ao contrário do físico, está sempre em rápida mutação, onde o átomo (o homem) aprende, antecipa, escolhe e as "leis naturais" (as instituições) são produto de sua própria ação. De qualquer forma, é impossível negar que foi apreciável o resultado final desse esforço. Ele ajudou a formular políticas econômico-sociais mais adequadas para atingir objetivos definidos pelo poder político incumbente.
Suspeito que, em nenhum dos campos do conhecimento e do ensino da economia, a diferença entre o que se fazia há 50 anos e o que se faz hoje seja maior do que a que se refere à moeda e ao crédito. Por um lado houve um enorme avanço na teoria monetária, com a construção de sofisticadíssimos modelos (que resistem duvidosamente aos ataques empíricos) e, por outro, um enorme empobrecimento do conhecimento do papel da moeda e do crédito no processo de desenvolvimento da sociedade humana.
Na velha FEA/USP dos anos 50 do século passado, um competente e exigente autodidata em economia, mas com sólida formação humanística, o professor Dorival Teixeira Vieira, investia na disciplina Moeda e Crédito meia dúzia de horas para explorar a fundamental história da origem da moeda e do crédito e o seu sentido mais profundo como "relação social", isto é, instituição construída sobre a confiança dos indivíduos uns nos outros, o cimento que precede e torna possível a existência da própria sociedade.
Tratava-se de um rápido sobrevoo pela psicologia, pela antropologia e pela sociologia da moeda e do crédito para insistir que a confiança que cada pessoa deposita na outra - uma relação social institucional - é a condição básica para o funcionamento do "circuito" econômico, onde o dispêndio de um é a renda do outro. No curso, o tratamento da taxa de juros (mais de cunho histórico) deixava muito a desejar. Sua principal influência era uma tênue ligação empírica entre ela e a velocidade de circulação da moeda na teoria quantitativa.
Na disciplina Moeda e Crédito, em 1951, o Keynes do Tratado da Moeda (1930) era restrito ao início da incorporação das finanças na teoria monetária e às suas identidades ("equações fundamentais"). Não se entendia o papel da variação dos preços na distribuição da renda para acomodar o equilíbrio entre poupança e investimento, nem o novo protagonismo da taxa de juros. E não se falava de sua dúvida devastadora sobre a estabilidade da economia de mercado.
Para entender a diferença do ensino e do conhecimento entre 1950/1955 e 2003/08 nessa matéria, basta dizer que os livros mais sofisticados e na "moda" da "teoria monetária" de hoje, que pretendem ensinar aos bancos centrais do mundo como controlar suas taxas de inflação, ignoram diretamente a moeda e não veem necessidade da palavra "crédito". Basta-lhes a manipulação da taxa de juros. Foi por isso que eles demoraram tanto para entender a crise de confiança que se instalou no sistema financeiro mundial, confundindo-a com uma crise de liquidez.
No Brasil, pelo mesmo motivo, importamos a crise em grau maior do que o necessário, porque nossa política monetária esteve sempre na direção certa, mas sempre, também, atrasada e homeopática. Faltou-lhe (mesmo com o swap do FED) o conhecimento, a coragem e a convicção para dar decisivo conforto ao sistema bancário nacional. Pior, promoveu uma miótica seleção "huxleyana": banco privado grande come banco privado pequeno e os dois serão comidos pelos bancos oficiais, o que terá terríveis consequências para a competição futura...
É preciso insistir na irrelevância da afirmação que, no longo prazo, a moeda é "neutra", ou que ela é apenas um "véu" que esconde, mas não modifica, os fatos reais da economia, que no fundo informa a "moderna" teoria. No curto prazo (que é onde temos que viver), há uma insuperável ligação entre os fenômenos monetários e creditícios e os fenômenos da economia real. A ideia que os fenômenos reais da economia são produzidos apenas pela variação dos recursos, das preferências e das tecnologias à disposição dos agentes (a teoria dos ciclos reais apreciada por alguns dos nossos economistas) é tão insatisfatória quanto a ideia (defendida por outros não menos ilustres) que eles são produzidos apenas pelos fenômenos monetários.
Por mais poderosos que sejam os argumentos da moderna teoria monetária sobre a possibilidade e a conveniência de ignorar a moeda e o crédito e substituí-los pela manipulação da taxa de juros na execução da política monetária, eles não resistem nem a pequenas modificações nos modelos (por exemplo a simples introdução do crédito bancário e de títulos do governo no modelo neowickselliano ou neokeynesiano), nem melhoram sua aderência à realidade. É hora de reconhecer que a "grande moderação" que parecia ter sido conseguida pela política monetária que ignorava a confiança, a moeda e o crédito era, apenas, uma "ilusão"... monetária.
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feira





Descongelando o créditoRaghuram Rajan e Douglas Diamond
17/02/2009
Existe pouco interesse político em conceder apoio adicional ao setor bancário. Um motivo é que os bancos que receberam dinheiro nos planos de resgate iniciais não parecem ter elevado seu nível de concessão de empréstimos, sem o qual é improvável que os incentivos monetário e fiscal sejam eficazes. Para os bancos começarem a conceder empréstimos novamente, será preciso haver ainda mais intervenção.
Para entender o motivo, precisamos entender porque os bancos continuam tão relutantes. Uma possibilidade é que eles se preocupam com o nível de risco de crédito dos tomadores de empréstimo, embora este devesse ser extremamente elevado para justificar a interrupção total da concessão de empréstimos de longo prazo. Uma segunda possibilidade é que os bancos se preocupam se terão recursos suficientes para atender às demandas dos seus próprios credores, se eles amarrarem os seus fundos em empréstimos de longo prazo. As muitas linhas de crédito de bancos centrais que têm sido abertas ao redor do mundo, porém, deveriam aliviar essas preocupações, especialmente para os bancos grandes e bem capitalizados.
Por outro lado, a resistência dos bancos em conceder empréstimos talvez reflita um temor de ficarem destituídos de fundos se as oportunidades de investimento melhorarem ainda mais. O executivo-chefe do Citicorp,Vikram Pandit, falou exatamente nestes termos quando indicou que era mais barato comprar créditos no mercado a produzi-los. E comprar pode ficar ainda mais barato!
Consideremos, por exemplo, a possibilidade real de que uma grande instituição financeira endividada enfrente uma corrida contra os seus depósitos, como ocorreu no caso do Lehman, e que comece a despejar créditos no mercado.
O preço desses créditos não só cairá, se ao menos algumas poucas entidades dispuserem dos recursos extras necessários para comprá-los, como as demais entidades em dificuldades, que se debatem para tomar crédito, também dificultarão a possibilidade de que qualquer instituição desprovida de fundos possa vir a obtê-las. Antecipando a perspectiva deste tipo de venda emergencial futura (de empréstimos, ativos financeiros, ou instituições), é compreensível que até bancos sólidos possam vir a restringir suas concessões de empréstimos a prazos de resgate muito curtos, e os seus investimentos, a títulos extremamente líquidos.
Isto também pode explicar porque os mercados para alguns ativos evaporaram. Alguns bancos em dificuldades certamente possuem vastas quantidades de títulos lastreados em crédito imobiliário, e estão se atendo a eles na esperança de que suas cotações subirão no futuro, salvando-os do fracasso. Ao mesmo tempo, os compradores esperam preços ainda mais baixos adiante. Apesar de hoje haver um preço que reflete estas expectativas, não é um preço pelo qual os bancos em dificuldades estão dispostos a vender.
Consequentemente, há um excesso de oferta de instituições financeiras ilíquidas, cujos investimentos poderiam ser descarregados se elas se envolverem em dificuldades. Para algumas, os preços baixos as tornariam insolventes. Para outras, os preços baixos seriam uma formidável oportunidade de compra, cujos retornos potenciais superam em muito os retornos obtidos com as concessões de empréstimos atualmente.
As exortações políticas para a concessão de empréstimos poderão surtir algum impacto, embora limitado. Qualquer retomada voluntária das concessões de crédito precisará reduzir tanto os temores quanto as oportunidades potenciais.
Eis algumas formas de reduzir o excesso de oferta. Primeiro, as autoridades podem oferecer comprar ativos ilíquidos por meio de leilões e abrigá-los em uma entidade governamental, de forma semelhante ao contemplado no Programa Governamental de Recuperação de Ativos Problemáticos (TARP, na sigla em inglês) original dos Estados Unidos. Isso poderá reverter um congelamento no mercado, causado por instituições em dificuldades que não estão dispostas a vender aos preços de mercado atuais.
O fato de o governo estar disposto a comprar no futuro (e agora) deverá elevar os preços hoje, pois isso reduz a possibilidade de preços baixos numa venda emergencial futura. Além disso, assim que um número suficiente de instituições em dificuldades venderem seus ativos, os preços subirão simplesmente porque já não existirá um excesso de oferta potencial de vendas emergenciais futuras. Os dois efeitos poderão levar a um aumento nas transações de ativos ilíquidos hoje, e desbloquear a concessão de crédito, apesar de este desfecho exigir gastos governamentais significativos.
Uma segunda abordagem é de o governo garantir a estabilidade de parcelas significativas do sistema financeiro que detêm ativos ilíquidos por meio da recapitalização de instituições reguladas que tenham uma possibilidade realista de sobrevivência, e unir ou fechar as que não tiverem. Para aquelas instituições que seriam fechadas, isso significaria transferir ativos ilíquidos para uma instituição controladora que as venderia gradualmente. Um problema é que o apetite do público por um plano de socorro do sistema financeiro "paralelo" desregulado e hemorrágico, que consiste de instituições como fundos de hedge e firmas de "private equity", é justificadamente pequeno, porém ele também pode se prestar a conter a concessão de empréstimos bancários, se uma grande proporção dos ativos problemáticos for mantida lá, em instituições fracas.
Talvez, possivelmente, uma mescla das duas abordagens possa funcionar melhor, com as autoridades comprando ativos ilíquidos, que podem ajudar até as instituições não regulamentadas, mesmo durante a faxina do setor financeiro regulamentado, concentrando-se especialmente em instituições que tiverem maior probabilidade de se tornarem problemáticas. Isso difere consideravelmente da abordagem atual (pela qual instituições bem capitalizadas recebem ainda mais capital), que não trata da enorme oferta potencial de ativos ilíquidos em poder das instituições em maior dificuldade. A menos que o sistema financeiro seja sistematicamente auditado, com instituições fracas estabilizadas por meio de injeções de capital, compra de ativos, ou fusões, ou liquidadas rapidamente, a grande oferta potencial de instituições em dificuldade persistirá, restringindo a concessão de crédito.
Uma lição aprendida com a experiência do Japão na década de 1990 é que quanto antes as autoridades enfrentarem o problema e promoverem uma faxina, mais rapidamente a economia entrará na rota de recuperação. Quanto mais as autoridades continuarem paralisadas, esperando que o sistema financeiro se endireite, maior será o custo futuro da faxina.
Raghuram Rajan é professor na Escola de Administração de Empresas Booth, na Universidade de Chicago. Foi economista-chefe do FMI.
Douglas Diamond é professor na Escola de Administração de Empresas Booth, na Universidade de Chicago. © Project Syndicate/Europe´s World, 2009. http://www.project-syndicate.org/






As lições japonesas
Martin Wolf
18/02/2009
O que tem a nos ensinar a "década perdida" do Japão? Mesmo há um ano, esta pergunta parecia absurda. O consenso geral das pessoas bem informadas era de que os EUA, o Reino Unido e outras economias ocidentais pesadamente endividadas não sofreriam como o Japão.
Agora a pergunta está mudando, e passou a ser se estes países conseguirão se sair tão bem como o Japão. Bem-vindo ao mundo da deflação no balanço patrimonial.
Como já observei antes, a melhor análise do que aconteceu ao Japão é de Richard Koo, do Instituto de Pesquisas Nomura ("The Holy Grail of Macroeconomics" - "O santo graal da macroeconomia", 2008).
Seu grande argumento, embora simples, é ignorado pela teoria econômica convencional: o balanço patrimonial é importante. Ameaçados por falências, os demasiadamente endividados lutarão para saldar as suas dívidas. Um colapso nos preços dos ativos adquiridos por meio de endividamento terá um impacto muito mais destrutivo do que o mesmo colapso acompanhado de pouco endividamento.
A maioria da queda ocorrida nos gastos e tomadas de crédito privados japoneses na década de 1990 não se deveu, na opinião de Koo, à condição dos bancos, mas à dos seus tomadores de crédito. Esta foi uma situação na qual, nas palavras de John Maynard Keynes, as baixas taxas de juros - e as do Japão foram, por anos, as mais baixas possíveis - estavam "dando um empurrão na corda". Os devedores continuaram quitando as suas dividas.
Até que ponto então, este ponto de vista nos informa sobre os apuros nos quais nos encontramos? Em muito, é a resposta.
Primeiro, as comparações entre hoje e as profundas recessões do começo da década de 1980 são completamente equivocadas. Em 1981, o endividamento privado nos EUA era de 123% do PIB; até o terceiro trimestre de 2008, foi de 290%. Em 1981 o endividamento das famílias era de 48% do PIB; em 2007, foi de 100%. Em 1980, a taxa de intervenção do banco central dos EUA atingiu 19%-20%. Hoje, ela está perto de zero.
Quando as taxas de juros caíram no começo da década de 1980, as tomadas de crédito deram um salto. As probabilidades de provocar um surto nas tomadas de crédito agora estão próximas de zero. Uma recessão causada pela determinação do banco central de eliminar a inflação é bem diferente daquela causada pelo endividamento excessivo e do colapso do patrimônio líquido. No primeiro caso, o banco central causa a recessão. No segundo, se esforça para evitá-la.
Segundo, aqueles que argumentam que a expansão fiscal do governo japonês fracassou, estão, mais uma vez, equivocados. Quando o setor privado tenta saldar seu endividamento ao longo de muitos anos, um país tem três opções: deixe o governo tomar emprestado; amplie as exportações líquidas; ou deixe a economia desabar numa espiral descendente de falências em massa.
Apesar de uma perda de riqueza equivalente a três vezes o PIB e de uma guinada de 20% do PIB na balança financeira do setor corporativo, passando de déficits para superávits, o Japão não sofreu uma depressão. Isso foi um sucesso. A explicação foi os grandes déficits fiscais. Quando, em 1997, o governo Hashimoto tentou reduzir os déficits fiscais, a economia desmoronou e os déficits fiscais reais aumentaram.
Terceiro, reconhecer perdas e recapitalizar o sistema financeiro são medidas vitais, ainda que, como argumenta Koo, a resistência a tomar emprestado tenha sido ainda mais importante. Os japoneses viveram com bancos zumbis por quase uma década. A explicação foi um impasse político: a hostilidade pública a banqueiros impossibilitou a injeção de dinheiro do governo em larga escala, e o poder dos banqueiros impossibilitou a nacionalização das instituições insolventes. Por anos, as pessoas fingiram que o problema era uma disparada decrescente nos preços dos ativos. No fim, a implosão financeira pressionou o governo japonês. O mesmo se aplicava aos EUA no outono passado, mas a oportunidade de promover uma plena recapitalização e reestruturação do sistema foi perdida.
Nos EUA, o estado do setor financeiro pode até ser bem mais importante do que foi no Japão. Os vastos acúmulos de dívida nos EUA não foram criados por corporações não-financeiras, mas pelas famílias e o setor financeiro. A dívida bruta do setor financeiro aumentou de 22% do PIB em 1981 para 117% no terceiro trimestre de 2008, enquanto a dívida das empresas não financeiras aumentou apenas de 53% para 76% do PIB. Assim, o desejo das instituições financeiras, de encolher os balanços patrimoniais, pode ser uma causa ainda maior para recessão nos EUA.
Até que ponto, então, a experiência japonesa como um todo é relevante para hoje?
A boa noticia é que as próprias bolhas dos preços dos ativos foram muito menores nos EUA do que no Japão. Além disso, o banco central dos EUA foi muito mais ágil em reconhecer a realidade, reduzindo as taxas de juros rapidamente para perto de zero e movendo-se na direção de politica monetária "não convencional".
A má noticia é que a discussão em torno da política fiscal nos EUA parece ser ainda mais primitiva do que no Japão: não se pode enfatizar em termos vigorosos demais que numa deflação de balanço patrimonial, com taxas de juros oficiais a zero, a política fiscal é tudo o que temos. O grande perigo é que seja feita uma tentativa de fechar o déficit fiscal prematuramente, com resultados terríveis. Mais uma vez, as propostas do governo dos EUA, de uma parceira público/privada, para comprar ativos tóxicos, parecem desesperadoras. Mesmo se pudessem ser postas em ação, os preços provavelmente serão baixos demais para estimular os bancos a vender ou a representar um grande subsídio dos contribuintes para compradores, vendedores, ou ambos. Mais importante ainda, é pouco provável que elevações modestas nos preços de uma grande variedade de ativos imprestáveis poderão recapitalizar as instituições abaladas. No fim, a realidade virá à tona.
O que está acontecendo dentro dos EUA, porém, está longe de ser a pior notícia. Este é o alcance global da crise. O Japão conseguiu se apoiar em exportações para uma economia mundial aquecida. Esta crise é global: as bolhas e as expansões de gastos associadas se espalharam por grande parte do mundo ocidental, assim como a mania financeira e as compras dos créditos de baixa qualidade. As economias diretamente atingidas respondem por quase metade da economia do mundo. As economias indiretamente atingidas, através da queda na demanda externa, respondem pelo resto. Os EUA, está claro, continuam sendo o núcleo da economia mundial.
Consequentemente, nos deparamos com uma deflação de balanço patrimonial que, embora seja muito mais superficial do que a do Japão na década de 1990, tem um alcance muito mais amplo. Por este motivo, é muito mais fantasioso imaginar um retorno sólido e veloz ao crescimento global. De onde virá a demanda? Dos consumidores ocidentais super endividados? Dificilmente. Dos consumidores dos países emergentes? Improvável. Da expansão fiscal? Até certo ponto. Mas isso ainda aparenta ser frágil demais e desequilibrado demais, com muito vindo dos EUA. A China está ajudando, mas a zona do euro e o Japão parecem paralisados, enquanto a maioria das economias emergentes não pode arriscar uma ação agressiva.
O ano passado marcou o fim de uma era auspiciosa. Hoje, é impossível descartar uma década perdida para a economia mundial. Isso deve ser evitado. A posteridade não perdoará lideres que não conseguirem se postar à altura deste grande desafio.
Martin Wolf é colunista do "Financial Times".



A crise de 29 e os erros a evitar
Por Bernardo Guimarães e Carlos Eduardo Soares Gonçalves, para o Valor20/02/2009
A crise econômica originada nos mercados de crédito por causa de uma regulamentação bancária de má qualidade chegou com vigor ao que se costumou chamar de economia real. A tal ponto que um PIB mundial negativo já é um cenário possível - talvez até mesmo provável - para 2009. Isso porque também as economias emergentes estão enfrentando dificuldades maiores do que as previstas até alguns meses atrás e, portanto, não servirão de âncora para o crescimento. A produção industrial no mundo todo cai com vigor, a exemplo do que aconteceu no Brasil em dezembro. Como resultado, os políticos de vários países estão sob grande pressão de seus eleitores para agir, e agir rápido.
Caballero
Nesse cenário de naufrágio das economias reais mundo afora, vêm ressurgindo em vários cantos ideias econômicas que havia algum tempo vinham perdendo força entre os formuladores de políticas, como o protecionismo comercial e o nacionalismo econômico. Para se ter uma ideia, a famosa revista inglesa "The Economist" traz na capa da sua edição da primeira semana deste mês o título: "A volta do nacionalismo econômico". E até mesmo o recém-chegado e aclamado presidente americano chegou a aventar que as empresas automobilísticas americanas candidatas à ajuda financeira do Tio Sam deveriam utilizar aço nacional na produção de seus carros. Muito do falatório nacionalista pode se tratar apenas de retórica, mas não deixa de ser marcante tamanha reviravolta na maneira de ver a tal "globalização".
De fato, a história teimosamente se repete. Em 1929, uma crise com raízes no sistema financeiro americano provocou forte queda da atividade econômica mundial, a qual, por sua vez, despertou os sentimentos nacionalistas que apagaram as luzes da belle époque e suprimiram o vigor do livre comércio entre as nações.
Ocorre, porém, que a corrida protecionista há 80 anos não ajudou as economias a se recuperarem da recessão. A propósito, nos anos 30, o quadro foi ainda mais tenebroso porque o sistema monetário em vigor, o padrão-ouro, engessava as mãos das autoridades monetárias, o que permitiu que a recessão se alastrasse com mais virulência. Há evidências empíricas de que os países que mais rapidamente abandonaram o padrão-ouro também saíram mais rápido da depressão econômica.
Com esse pano de fundo, a mensagem principal desta crônica é: erguer barreiras ao comércio internacional - ainda que politicamente popular em um momento como este - não ajudará as economias a saírem do quadro recessivo. Nunca é demais ressaltar que, como em 1929, as vicissitudes correntes nada têm a ver com efeitos colaterais do comércio internacional de bens e sim com falta de regulamentação nos mercados de crédito. Fechar as portas do comércio por conta de uma recessão causada nos mercados financeiros é ilógico e, como veremos, improducente.
Comércio é troca e trocar é preciso, porque apenas assim podemos nos especializar em produzir aquilo que fazemos com mais eficiência. Por exemplo, nós podemos exportar soja e, em troca, importar chips. Ou então aviões pequenos em troca de aparelhos médicos modernos, etc. Além disso, quando trocamos com outros países, ganhamos acesso a mercados mais amplos e, desse modo, todos os envolvidos são capazes de melhor aproveitar o que os economistas chamam de ganhos de escala na produção (quando produzir algo envolve custos fixos altos, produzir para mercados mais amplos significa produzir mais barato).
Outra consequência é que a escala provida pelo mercado mundial permite que se produza também maior variedade de bens, beneficiando amplamente os consumidores. Não é à toa que a quantidade de bens produzidos mundialmente aumentou pari passu com o crescimento das trocas internacionais.
Além disso, há outros três importantes efeitos, majoritariamente associados à possibilidade de importar: (1) a abertura comercial força as empresas a se manterem eficientes, o que beneficia todos na economia - principalmente os consumidores; (2) as importações introduzem novas tecnologias no país de modo indireto (elas vêm imbutidas nos bens que aqui aportam); (3) muitos setores domésticos ganham com a possibilidade de empregar, em seu processo produtivo, bens intermediários e máquinas produzidas no exterior.
Resumindo essa realidade, os dados de fato mostram com certa segurança que países que comercializam mais com o exterior - exportação e importação - são mais ricos que os mais fechados, sendo esse efeito sobre a renda por habitante tanto maior quanto menor for o mercado doméstico do país em questão. Veja que os estudos associam o volume de comércio total à maior renda, mas não saldo (exportação menos importação) da balança comercial à renda.
A mesma evidência se verifica no plano microeconômico, com estudos mostrando que, dentro de um mesmo país, firmas que usam insumos importados veem sua produtividade crescer acima da média quando as tarifas de importação sobre os insumos que ela usa são reduzidas (relativamente às que não são agraciadas com quedas nas tarifas de importação de seus insumos).
OK, pensando na renda do longo prazo, não faz sentido dar marcha à ré no movimento de integração comercial reiniciado depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Mas e se no curto prazo fechar as portas da economia ao comércio exterior ajudar na recuperação da tão combalida produção interna? Aí não valeria a pena impor um viés protecionista passageiro à condução da política comercial, salvaguardando alguns empregos para os eleitores nacionais? A resposta a essa pergunta, que em si carrega uma hipótese que nos parece equivocada, é: não!
O raciocínio de quem propõe essas ideias é o seguinte: tornando as importações mais caras e difíceis, os produtores domésticos passariam a fabricar os bens antes supridos pelo exterior, criando mais empregos no processo, ainda que com perda de eficiência. Em outras palavras, a demanda por produtos nacionais cresceria, tirando a economia nacional do sufoco. Um aumento de tarifas serviria então para aumentar a demanda agregada, similarmente ao logrado pelas tradicionais expansões fiscais e monetárias.
Não tão rápido. O problema, mesmo no curto prazo, é que a imposição de barreiras aos produtos vindos de outros países não passa incólume. Em geral ela termina em retaliações por parte dos atingidos pelo aumento de barreiras - como foi o caso nos anos 30. Isso dada a imensa dificuldade de convencer seus concidadãos de que o país deve manter as tarifas de importação intactas quando seus parceiros comerciais as estão elevando para supostamente combater seu problema recessivo. Acontece que, como consequência dessas retaliações, as exportações do país que inicialmente impôs um aumento de tarifas declinam e, portanto, a demanda por bens produzidos no país sofre um baque.
Ou seja, todo mundo erguendo barreiras, ninguém consegue colher nem mesmo os ganhos de curto prazo supostamente delas derivados e a única coisa que de fato muda é que todas as economias se tornam menos eficientes.
Além disso, lembremos que muitos produtos exportados são produzidos usando insumos de produção e máquinas que vêm de outros países. Por causa disso, se fica mais difícil importar, pode ficar também mais difícil exportar outros bens. A lógica é bem intuitiva: se fica muito caro importar tratores e fertilizantes porque meu país impôs altas tarifas de importação sobre esses itens, minha produção - e exportação - de soja também declinará. De novo, o impacto sobre a produção total no curto prazo não é necessariamente positivo.
Nada disso significa que os governos não devam agir para ajudar a população em tempos de maior dificuldade econômica, significa apenas que o protecionismo comercial não é a via apropriada para isso. Nem tampouco um arrocho nas restrições à mobilidade ao fator trabalho, visto que ela auxilia na diminuição da desigualdade mundial e contribui para aumento na eficiência econômica global, levando os trabalhadores com características específicas aonde eles são mais demandados. As armas convencionais contra a recessão são a política fiscal - incluindo maiores gastos públicos com seguro-desemprego - e a monetária, via redução de juro e expansão de agregados monetários.
Acionar o arsenal protecionista se provou uma estratégia falha no passado. É assim importante manter a serenidade em meio à crise e não repetir os erros do passado. Para afastar esse risco, urge que os líderes das grandes economias mundiais saiam na frente, explicando a seus eleitores os riscos e a improdutividade de atacar o problema atacando o livre comércio.
Bernardo Guimarães, professor da London School of Economics, e Carlos Eduardo Soares Gonçalves, professor da FEA-USP, são autores de "Economia sem Truques" (Campus/Elsevier)



Monetize This!: Resolving a Spiraling Public Debt Crisis
How Obama could take a Page from the Fed's Playbook
By Ellen Brown
Global Research, February 21, 2009
webofdebt.com




Op-Ed Contributors
Matters of Principal
By JOHN D. GEANAKOPLOS and SUSAN P. KONIAK
Published: March 4, 2009
TO stanch the hemorrhage of foreclosures, we don’t need another bailout. What we need is a fix — and the wisdom to see what is in our own self-interest. ... ... ... ... ... ... ... ... .... .... .



The economy
The collapse of manufacturing
Feb 19th 2009
From The Economist print edition
The financial crisis has created an industrial crisis. What should governments do about it?


Op-Ed Contributor
Obama’s Ersatz Capitalism
By JOSEPH E. STIGLITZ
Published: March 31, 2009
THE Obama administration’s $500 billion or more proposal to deal with America’s ailing banks has been described by some in the financial markets as a win-win-win proposal. Actually, it is a win-win-lose proposal: the banks win, investors win — and taxpayers lose.
Treasury hopes to get us out of the mess by replicating the flawed system that the private sector used to bring the world crashing down, with a proposal marked by overleveraging in the public sector, excessive complexity, poor incentives and a lack of transparency.
Let’s take a moment to remember what caused this mess in the first place. Banks got themselves, and our economy, into trouble by overleveraging — that is, using relatively little capital of their own, they borrowed heavily to buy extremely risky real estate assets. In the process, they used overly complex instruments like collateralized debt obligations.
The prospect of high compensation gave managers incentives to be shortsighted and undertake excessive risk, rather than lend money prudently. Banks made all these mistakes without anyone knowing, partly because so much of what they were doing was “off balance sheet” financing.
In theory, the administration’s plan is based on letting the market determine the prices of the banks’ “toxic assets” — including outstanding house loans and securities based on those loans. The reality, though, is that the market will not be pricing the toxic assets themselves, but options on those assets.
The two have little to do with each other. The government plan in effect involves insuring almost all losses. Since the private investors are spared most losses, then they primarily “value” their potential gains. This is exactly the same as being given an option.
Consider an asset that has a 50-50 chance of being worth either zero or $200 in a year’s time. The average “value” of the asset is $100. Ignoring interest, this is what the asset would sell for in a competitive market. It is what the asset is “worth.” Under the plan by Treasury Secretary Timothy Geithner, the government would provide about 92 percent of the money to buy the asset but would stand to receive only 50 percent of any gains, and would absorb almost all of the losses. Some partnership!
Assume that one of the public-private partnerships the Treasury has promised to create is willing to pay $150 for the asset. That’s 50 percent more than its true value, and the bank is more than happy to sell. So the private partner puts up $12, and the government supplies the rest — $12 in “equity” plus $126 in the form of a guaranteed loan.
If, in a year’s time, it turns out that the true value of the asset is zero, the private partner loses the $12, and the government loses $138. If the true value is $200, the government and the private partner split the $74 that’s left over after paying back the $126 loan. In that rosy scenario, the private partner more than triples his $12 investment. But the taxpayer, having risked $138, gains a mere $37.
Even in an imperfect market, one shouldn’t confuse the value of an asset with the value of the upside option on that asset.
But Americans are likely to lose even more than these calculations suggest, because of an effect called adverse selection. The banks get to choose the loans and securities that they want to sell. They will want to sell the worst assets, and especially the assets that they think the market overestimates (and thus is willing to pay too much for).
But the market is likely to recognize this, which will drive down the price that it is willing to pay. Only the government’s picking up enough of the losses overcomes this “adverse selection” effect. With the government absorbing the losses, the market doesn’t care if the banks are “cheating” them by selling their lousiest assets, because the government bears the cost.
The main problem is not a lack of liquidity. If it were, then a far simpler program would work: just provide the funds without loan guarantees. The real issue is that the banks made bad loans in a bubble and were highly leveraged. They have lost their capital, and this capital has to be replaced.
Paying fair market values for the assets will not work. Only by overpaying for the assets will the banks be adequately recapitalized. But overpaying for the assets simply shifts the losses to the government. In other words, the Geithner plan works only if and when the taxpayer loses big time.
Some Americans are afraid that the government might temporarily “nationalize” the banks, but that option would be preferable to the Geithner plan. After all, the F.D.I.C. has taken control of failing banks before, and done it well. It has even nationalized large institutions like Continental Illinois (taken over in 1984, back in private hands a few years later), and Washington Mutual (seized last September, and immediately resold).
What the Obama administration is doing is far worse than nationalization: it is ersatz capitalism, the privatizing of gains and the socializing of losses. It is a “partnership” in which one partner robs the other. And such partnerships — with the private sector in control — have perverse incentives, worse even than the ones that got us into the mess.
So what is the appeal of a proposal like this? Perhaps it’s the kind of Rube Goldberg device that Wall Street loves — clever, complex and nontransparent, allowing huge transfers of wealth to the financial markets. It has allowed the administration to avoid going back to Congress to ask for the money needed to fix our banks, and it provided a way to avoid nationalization.
But we are already suffering from a crisis of confidence. When the high costs of the administration’s plan become apparent, confidence will be eroded further. At that point the task of recreating a vibrant financial sector, and resuscitating the economy, will be even harder.
Joseph E. Stiglitz, a professor of economics at Columbia who was chairman of the Council of Economic Advisers from 1995 to 1997, was awarded the Nobel prize in economics in 2001


Kindleberger continua falando coisa com coisa
Por Oscar Pilagallo | Para o Valor, de São Paulo

A obra clássica do economista americano vem de séculos atrás e deságua no agora

Valor Econômico, 05-11-2013

Manias, pânicos e crises vêm em sucessão perfeitamente previsível, após longos períodos de bonança, como aconteceu na Ásia, em 1997, com reflexos em todo o mundo (acima, operadores da bolsa de Tóquio em suspense, num dia de alta que acabaria não se sustentando, em dezembro daquele ano)
A derrocada do império econômico de Eike Batista empresta interesse adicional ao clássico "Manias, Pânicos e Crises", de Charles Kindleberger, que chega ao Brasil depois de 35 anos da edição original em inglês. Embora o conglomerado X não seja citado, o comportamento irracional daqueles a quem o senso comum atribuía um grau superior de racionalidade ilustra, de certa forma, o argumento do livro: a euforia turva a percepção de risco e gera bolhas especulativas que, mais cedo ou mais tarde, explodem.

Publicada em 1978, a obra do professor do Massachusetts Institute of Technology estabeleceu uma narrativa que identificou uma causa comum das crises financeiras dos últimos quatro séculos e que, desde então, passou a integrar o repertório de economistas. Resumidamente, Kindleberger afirma que as manias, pânicos e crises desde os primórdios do capitalismo ocorrem na esteira de surtos de expansão do crédito ou guinadas institucionais promotoras de longos períodos de bonança. Tais condições, ele argumenta, levam os investidores a baixar a guarda e arriscar além do razoável.

O livro não teve reconhecimento imediato. Ao contrário, no final dos anos 1970, ainda prevaleciam os modelos matemáticos e a crença na eficiência dos mercados, ambos responsáveis pela conclusão de que a sofisticação da economia tinha deixado para trás as bolhas especulativas. Para os entusiastas do mercado, a mania das tulipas - para citar apenas o exemplo de uma febre que rapidamente gerou e dilapidou fortunas, na Holanda do século XVII - pertencia a um passado que não mais se repetiria.

O trabalho de Kindleberger foi recebido com boa dose de condescendência. Admitia-se que ele escrevia bem, mas sua leitura da história não era levada a sério. O que deu credibilidade à obra foi a sequência de crises econômicas mundiais a partir da publicação do livro: a das dívidas externas de países da América Latina no início dos anos 1980; a imobiliária do Japão, a partir de 1985; a asiática dos anos 1990, que respingou na crise cambial do Brasil; e a atual, que teve epicentro no mercado imobiliário dos Estados Unidos e, depois, nos déficits fiscais de países europeus.

Em sucessivas edições, tais desdobramentos foram sendo agregados, reforçando a hipótese original e, consequentemente, o prestígio do livro. Kindleberger morreu em 2003, e as alterações posteriores ficaram a cargo de Robert Aliber, professor da Booth School of Business, da Universidade de Chicago. O que o texto perdeu em unidade estilística ganhou em atualidade. Na sexta edição americana, que serviu de base para a tradução ao português, Aliber acrescenta um capítulo para tratar da "quebra evitável" do Lehman Brothers em 2008, que deflagrou a crise da qual a economia mundial ainda se ressente.

Charles Kindleberger
O livro é persuasivo ao notar que não apenas as crises têm se intensificado, como estão mais interconectadas, em decorrência da globalização. Na essência, elas teriam uma origem comum, com variações locais, imobiliária aqui, cambial ou fiscal ali. O padrão seria sempre o mesmo. O estouro de uma bolha expulsa de um país o dinheiro que, em outro, vai alavancar o crédito e gerar o boom que, por sua vez, dará lugar a nova bolha, a novo estouro, a nova migração de capital, e assim por diante.

No prefácio à edição brasileira, Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, oferece uma chave de leitura, ao observar que a análise de Kindleberger desmoraliza teses simplistas e/ou movidas por visões ideológicas. Para ele, é "tolice" tentar explicar essas crises a partir do neoliberalismo, da desregulação dos mercados ou da "ganância dos banqueiros". Em outro texto introdutório, Robert Solow, detentor de um prêmio Nobel de Economia, afasta o autor dos polos ideológicos: "Ele desconfiava de sistemas intelectuais férreos, fossem seus proponentes defensores do mercado livre ou engenheiros sociais".

Kindleberger acreditava que os mercados funcionam - a ressalva é relativa à fé cega em sua eficiência -, mas não descartava algum grau de intervenção. Defendia, por exemplo, o papel de um emprestador de última instância, aquela instituição estatal que "anda em uma corda bamba, entre evitar salvar instituições financeiras que já estão quebradas [...] e salvar os concorrentes mais saudáveis".

O livro é pessimista em relação à saída da crise atual. Não apenas conclui que pouco se aprendeu das crises passadas - o que Maílson contesta, com razão, haja vista o aumento das regulações - como é cético em relação à lei Dodd-Frank, o ambicioso e detalhado conjunto de regras para o mercado financeiro e imobiliário aprovado em 2010 pelo Congresso dos Estados Unidos. Para Aliber, que escreveu o epílogo, essa legislação, além de aumentar os custos dos bancos, não impedirá nova disparada nos preços dos imóveis, como a que antecedeu a crise atual. No máximo, "a participação do crédito dos bancos regulamentados seria um pouco menor devido às regulamentações".

A conclusão está em sintonia com o raciocínio de Kindleberger. A lei Dodd-Frank tem como premissa o fato de que a causa das crises financeiras está na demanda ou nos empréstimos irresponsáveis, enquanto os autores acreditam que está na explosão do crédito. "Os empréstimos irresponsáveis e a cobiça tiveram somente um pequeno impacto sobre a oferta de crédito", diz Aliber. "Os bancos foram um dos canais para os fluxos de crédito, e a oferta poderia ter sido satisfeita de algum outro modo se os bancos fossem mais cuidadosos."

Quanto ao Brasil, não seria uma ilha de tranquilidade em meio à crise mundial. A diferença em relação a crises anteriores é que, desta vez, a origem dos problemas seria doméstica. O livro alerta que uma bolha pode estar sendo gerada no país devido à disparada do crédito, que mais do que dobrou a partir de 2000 em relação ao PIB, passando de 22% para mais de 50%. O padrão, no entanto, não é diferente do observado nas crises mundiais analisadas no livro. O crescimento dos empréstimos segue-se a mudanças que promoveram expansão econômica, como a estabilização dos preços, a melhora das contas públicas e a queda dos juros. Grande parte dos empréstimos foi direcionada para financiar a compra de bens de consumo. Mas o mercado imobiliário também se beneficiou desse movimento: entre 2008 e 2012, o preço médio dos imóveis no Brasil aumentou quase 150%. "Só a história dirá se essa forte expansão do crédito no Brasil resultará ou não em uma bolha."

A previsão não é elaborada. "Manias, Pânicos e Crises" não tenta cravar tendências. É basicamente um livro de história econômica e que, portanto, se concentra no passado, embora os autores não percam de vista que, para avançar com segurança. é preciso sempre estar olhando no retrovisor.

"Manias, Pânicos e Crises"
Charles P. Kindleberger e Robert Z. Aliber. Tradução: Eduardo Kraszczuck. Editora: Saraiva. 416 págs., R$ 49,90

Oscar Pilagallo é coordenador de publicações do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial e autor de "A Aventura do Dinheiro" e "História da Imprensa Paulista".

Ação coordenada põe o dólar em novo patamar
Por Claudia Safatle | De Brasília
Com um olho na taxa de investimento e outro na inflação, o Banco Central fez um movimento de valorização do real frente ao dólar. Ontem, a moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 1,985 - o menor nível desde julho do ano passado.
VALOR ECONÔMICO, 30-01-2013

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