Tuesday 24 December 2019

EM 2020, AS DUAS

primeiras coisas que farei, assim que ano começar, será a leitura de Essa Gente; neste caso, essencialmente por causa da inteligência do autor.
E, no dia 04, aniversário do ID, vou usar os tickets da Rio Star. Relembrar os momentos de London Eye.
O resto, depois veremos; o ano não tem apenas quatro dias.

Monday 23 December 2019

O QUE EU DISSE DE 2019

          Ninguém (analistas lúcidos) previu a eleição de Donald Trump, em 2016; o primeiro que admitiu, em maio daquele ano, foi o extraordinário documentarista e escritor Michael Moore (diretor dos magistrais documentários Sicko - SOS Saúde e Capitalismo, uma história de amor). Ninguém acreditava na eleição desse negócio do atual presidente brasileiro, já que os ovos foram todos colocados na cesta psdbista Geraldo Aclkmin. Assim, o ano do brasileiro circulou em torno das alucinações dessa besta louca. O Acre, que residualmente também existe, comento brevemente, mais no final.
Lisboa, fonte
         Lili Schwarcz fez uma retrospectiva de 2019, focada no Brasil, na qual sintetizou como um momento de grande retrocesso nos nossos direitos civis e da nossa agenda cidadão/republicana, conduzidos pelo atual governo, desde a posse, com a afirmação "Brasil acima de tudo, deus acima de todos". Desdobrou essa mistura Estado/religião com uma série de acontecimentos, que por falta de outra denominação, chamo de "marcantes": (i) desmatamentos/queimadas combinados com a estranha maneira do ministro Ricardo Salles; (ii) a infantil pastora Damares Alves de Oliveira, com suas inflexíveis ideias no campo das chamadas minorias, dividindo o mundo entre azul e rosa; (iii) os ministros da educação Ricardo Vélez e Abraham Weintraub, incapazes para o cargo, tanto administrativamente, principalmente o primeiro, quanto ao que se refere ao campo da educação, no caso do segundo, um exímio produtor de fake news; (iv) ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, porta-voz do terraplanismo e do antiglobalismo - um dos mais toscos olavetes do governo, ao lado de Weintraub, para os quais a realidade é um mero detalhe; (v) a indicação do filho do presidente para a embaixada do dos EUA - o que dizer? (vi) atos arbitrários contra populações negras, indígenas, veto à propagandas - indicação do monstro Sérgio Camargo para dirigir a Fundação Palmares - elogios as ditaduras do passado.
Palácio Real de Madrid
         O requintado jurista Pedro Dallari reforçou, na sua coluna da rádio USP, que contestação aos direitos fundamentais dos seres humanos, expresso num quadro de risco generalizado dos direitos das minorias, das mulheres, dos imigrantes, da população LGBT, dos indígenas, é um dos principais resultados do ano de 2019.
          Se eu fizer um parêntese nos assuntos de Lili Schwarcz e Pedro Dallari, confesso que meu 2019 foi muito bom, contraditoriamente neste mar de tristezas e de gente reacionária/conservadora. Em janeiro, visitei o Museu Rainha de Sofia, exclusivamente para ver Guernica, obra prima de Pablo Picasso sobre a Guerra Civil espanhola, que vinha lendo de modo muito encantado. Visitei Alhambra, um dos grandes momentos da minha vida. Passei pela Mesquita-Catedral de Córdoba, também por Sevilla. Essa lista de janeiro é muito grande. Vou deixar um vácuo enorme, por Portugal (Mosteiro dos Jerônimos, Biblioteca Joanina, Pastéis, Santuário de Fátima, Pastéis, Livraria Lello), para finalizar pelo enigmático Museu do Prado (imagina, El Greco, Velázquez, Murillo, Goya, Rubens, etc.). Eu poderia dizer que meu 2019 foi janeiro?
As Três Graças, de Rubens - Museu do Prado
          Um ano não se resume a um mês. Em 2019, veio a mais drástica mudança de política econômica dos últimos quarenta anos (Grupo Conjuntura Ufrj ou prof. Simão Silber/USP) - vide ministro da economia, Paulo Guedes, na GloboNews (18-12-2019). Da perspectiva dos analistas econômicos, restritos aos indicadores econômicos de desempenho (PIB, inflação, dívida/déficit pública/o), estamos a ver o paraíso.  Apenas os analistas mais "sistêmicos" lembram sapientemente que economias que entram em profunda recessão, como o Brasil, em 2016/2017, voltam a crescer, quase automaticamente, muito rápido. Significa que o Brasil, contrariamente, combina, por enquanto, duas situações bastante complicadas: retardo/lentidão na recuperação econômica com níveis bastante baixos - considerando a intensidade da queda da economia. Além disso, estes mesmos animados analistas pouco falam dos prognósticos da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) sobre o mais baixo crescimento da região nos últimos anos, e, e o dramático aumento da pobreza, pelo quinto ano consecutivo.
        Em 2019, o Igor Diore terminou o ensino médio. Conseguiu entrar no curso de medicina da Universidade Federal do Acre, classificado em primeiro lugar. Desejamos que posso ir construindo os caminhos necessários para caminhar em direção aos seus sonhos. A dona Sheila e eu ficamos muito alegres com o feito do ID.
        A "política" para a educação superior tomou muito das minhas energias, em 2019. Sem falar nas questões mais ordinárias (emenda constitucional do teto dos gastos, contingenciamentos), o programa Future-se, do ministro Weintraub, monopolizou muito do que se falou sobre universidades neste ano. Por razões diversas, li praticamente "tudo" o que foi escrito sobre o Future-se, aproveitando, também, para caminhar pelas principais análises e interpretações sobre o estado atual das universidades pelo mundo (algo que já faço há uma década, em decorrência da minha passagem pela UFRJ). Vou deixar de lado essa dimensão, pois falar de universidade é algo complexo e meio sem eco; é um tema que interessa essencialmente ao meio universitário público, caracterizado e constituído por "igrejinhas" e "diálogos" de surdos.
          Foi um ano que li pouco. Comecei a escrever um livro, que talvez virei a concluir em 2022/23. Será que consigo? Três professores com os quais estive em sala de aula, há cerca de nove/dez anor, faleceram! No entanto, preciso intensificar minhas leituras em 2020, bem como organizar melhor a produção desse projeto de livro. Com paciência, eu conseguirei. Mesmo tendo lido pouco, li livros fantásticos. Alguns por obrigação. Sou assinante de algumas revistas de periodicidade mensal e uma semanal; são excelentes fontes de acompanhamento do que acontece nos campos político-econômicos. Falando nisso, não posso esquecer daqueles bons que nos deixaram em 2019: Paulo Henrique Amorim, Fernanda Young, Damiana (ex-aluna), Beth Carvalho, João Gilberto, Ruth de Souza, Wanderley Guilherme dos Santos (cada qual que faça a lista de seus bons).
Livro de Yannis Varoufakis
          No Acre, foi o primeiro ano de governo de Gladson Cameli. Um governo que representa uma escaramuça de vinte anos para derrotar os governo de Jorge Viana, Binho Marques e Tião Viana. Noutras palavras, entendido em outras circunstâncias, o governo de Gladson Cameli seria o retorno do governo de seu tio Orleir Cameli (1995-1998). É um primeiro ano que pode ser comparado ao primeiro ano de dos governos de seu tio e de Jorge Viana, considerando outros propósitos e outros componentes.
          Infelizmente, no âmbito do curso de economia, não comentarei, devido ter estabelecido um padrão de interação estritamente formal, nos últimos dez anos, no qual sempre estarei à disposição, cumprindo com minhas obrigações e sendo solidários naquilo afeito a natureza humana e profissional. Trabalhei, totalmente ou em parte, nas disciplinas Teorias do Comércio Internacional, Introdução às Ciências Sociais, Economia Internacional, Análise de Conjuntura Econômica III.
          No campo mais geral da Ufac, 2019 reflete essencialmente as intenções do atual governo para o setor da educação superior. Mas, não sintetizarei.
Largo do Machado, Rio de Janeiro
          Além de tudo que que já disse de 2019, das minhas leituras sobre economia, sobre universidades, etc., uma preocupação me tomou por demais o tempo neste ano. Por dentro de tudo que fiz, absolutamente imbricada, esteve minha inquietação de entender o atual momento político do mundo, dominado "completamente" pelo conservadorismo/reacionarismo. Por que negros, certas minorias, pobres simpatizam justamente por aquilo que vão de encontro as suas condições humanas? Busquei superar ao senso comum das afirmações de que são meros "burros", ignorantes, ingênuos. Dando continuidade ao que já vinha fazendo há quatro ou cinco anos, procurei me dedicar aos impactos, implicações, interações, estratégias das facções religiosas no campo político, a partir de muito(a)s pesquisadores(as) que vem se dedicando a este tema. Afirmo que avancei muito, mesmo, no entendimento dessa questão. Outra dimensão que me toma um pouco de tempo, são as leituras sobre as estratégias e debates desse povo doutrinador da extrema direita estrita - libertários (escola de economia austríaca), olavetes, etc. Essas duas vertentes, religião fanática x libertários, praticamente está jogando o país numa possível guerra religiosa a se suceder nos próximos 20 ou trinta anos.
Um ano não é apenas isso; mas fica o registro.