Friday, 24 October 2008

NEW BRETTON WOODS

"Bretton Woods II": vital e dificílimo
Martin Wolf05/11/2008

Chegamos ao ponto de uma crise em que líderes ambiciosos pedem um "novo Bretton Woods". É fácil ironizar tal discurso. Mas é também fácil ver porque esta crise faria tais pessoas pensarem em termos tão heróicos.
Em primeiro lugar, a economia mundial está de volta à condição que motivou o acordo original de Bretton Woods - uma gigantesca crise financeira proveniente dos EUA -, então, e ainda hoje, a potência financeira dominante no mundo. A Grande Depressão da década de 30 foi acompanhada - e agravada - por malogros de cooperação econômica, desintegração da economia mundial e ressurgimento de nacionalismo. Mas também produziu uma revolução no pensamento econômico. "Nunca mais" foi o objetivo dos negociadores em Bretton Woods, no Estado de New Hampshire. Atolados na pior crise financeira desde os anos 30, temos boas razões para dizer o mesmo.
Em segundo lugar, é desnecessário aguardar momentos mais calmos para repensar o sistema econômico. A conferência de Bretton Woods culminou em julho de 1944, enquanto a Segunda Guerra Mundial estava longe de terminar. Se então puderam combater uma guerra e reestruturar uma economia mundial simultaneamente, também podemos combater uma crise e, ao mesmo tempo, reestruturar as instituições mundiais.
Terceiro, o sistema financeiro mundial atual é disfuncional. O que está em jogo para uma reforma é a manutenção da economia mundial aberta que oferece oportunidades a tantos. Está também em jogo a cooperação sustentada entre países. Nada é menos provável do que cooperação efetiva entre governos "ensimesmados" administrando sociedades atemorizadas, ou mesmo xenofóbicas.
Finalmente, o que está acontecendo está na intersecção entre macroeconomia mundial - dinheiro, câmbio e balança de pagamentos - e o sistema financeiro mundial: fluxos de capital, fragilidade financeira e contágio. O imperativo de cooperação permanece. Mas como disse Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, em 6 de outubro: "precisamos modernizar o multilateralismo e os mercados para uma economia mundial em mutação".
Então, como fazê-lo? Precisamos partir dos desafios fundamentais.
O primeiro é a impossibilidade de influenciar as políticas de países que registram enormes e persistentes superávits em conta corrente. Essa foi uma preocupação dominante de John Maynard Keynes em 1944. Ironicamente, o problema naquele momento eram os superávits americanos. Hoje, o problema é o colapso da capacidade das famílias americanas e em um punhado de outros países de alta renda de contrabalançar os enormes superávits em conta corrente gerados pela China, Alemanha, Japão e pelos países exportadores de petróleo. Os países superavitários adoram criticar aqueles que gastam o que os primeiros desejam conceder como empréstimos. Aqueles logo descobrirão que não podem dispensar a prodigalidade destes.
O segundo é o financiamento a países sujeitos a "paralizações repentinas" dos afluxos de capital, do tipo que estamos testemunhando, à medida que bancos e outros emprestadores de moeda estrangeira sustam o financiamento a um amplo leque de tomadores de empréstimos, especialmente a países emergentes. Muitos destes fizeram um imenso e oneroso esforço para reduzir a vulnerabilidade acumulando reservas em moeda estrangeira. Em agosto deste ano, o total de reservas em moeda estrangeira dos países emergentes tinha chegado a US$ 5,5 trilhões, muitíssimo maior do que os US$ 260 bilhões disponíveis ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Entretanto, auto-seguro é algo ineficiente e também, conforme comprovado, distribuído desigualmente.
O terceiro desafio é o de tornar o sistema financeiro menos instável e, acima de tudo, menos vulnerável a tais enormes oscilações no apetite por riscos - de financiar qualquer coisa, por mais ridícula, a financiar nada, por mais meritória. Além disso, neste momento, como enfatizou Stephen King, do HSBC, no fórum dos economistas do FT, os esforços dos governos no sentido de obrigar os bancos socorridos a financiar tomadores de empréstimos domésticos tendem a sacrificar seus empréstimos a países emergentes.
O último desafio da lista é o de tornar a arquitetura institucional mundial menos ilegítima do que hoje. As instituições criadas por Bretton Woods - o FMI e o Banco Mundial - são dominadas pelas potências ocidentais: no caso do Fundo, os EUA ainda detêm 17,1 % das quotas (que em larga medida determinam os votos) e a União Européia outros 32,4% (em maio de 2007). Por seu turno, a China tinha apenas 3,7% e a Índia 1,9%. Trata-se, simplesmente, de uma anomalia. Também é anômala a persistência do G-7 como grupo coordenador da economia mundial, especialmente na medida em que três deles - Alemanha, França e Itália - não têm moedas independentes. O Grupo dos 20, cuja cúpula acontecerá em Washington em 15 de novembro, parece grande demais. Zoellick sugere um G-14, com Brasil, China, Índia, México, Rússia, Arábia Saudita e África do Sul.
O interessante sobre essa agenda é em que medida grande parte dela poderia parecer familiar aos olhos dos participantes de Bretton Woods, com uma exceção. Keynes ficaria horrorizado com o fato de o mundo ter deixado escapar da lâmpada o gênio dos livres fluxos de capital. É por isso, assinalaria ele, que mais financiamento externo é necessário do que em qualquer momento anterior, porque enormes reservas em moeda estrangeira foram acumuladas e porque crises financeiras são novamente mundiais, em vez de locais. Ele acrescentaria que "um banqueiro sensato, infelizmente, não é aquele que antevê o perigo e o evita, mas aquele que, quando está arruinado, fica arruinado de uma maneira convencional e ortodoxa juntamente com seus semelhantes, de modo que ninguém pode realmente culpá-lo". Temos um número excessivo desses banqueiros. Keynes certamente acrescentaria que essas instituições subcapitalizadas e ilíqüidas são praticamente bombas-relógios financeiras.
Mas, poderá algo de proveitoso ser feito para enfrentar tais desafios? É, certamente, possível - e, em verdade, necessário - mudar a arquitetura mundial, particularmente em resposta a mudanças nos pesos econômicos. É igualmente necessário prover o FMI de mais recursos financeiros para sustentar sua nova linha de financiamento de curto prazo. Mas é, sem dúvida, otimismo excessivo acreditar que o Fundo possa emitir advertências confiáveis de ameaças de crises. Mesmo se o fizesse, é ainda menos provável que os países relevantes viriam a fazer algo em resposta.
Também não sou otimista quanto a que possamos romper os vínculos que conectam a atividade bancária como burocracia monótona que presta serviços essenciais à economia à atividade bancária como cassino que cria a possibilidade de fazer apostas enormes. Os banqueiros receberam autorização para jogar com o dinheiro dos contribuintes. Para quem está por dentro do negócio, é maravilhoso. É também uma atividade que parecemos incapazes de conter.
Mas eu gostaria que os fatos me provassem errado. Espero que a cúpula do G-20 defina a agenda para uma reforma séria, mediante a criação de grupos de trabalho que comprovem sua capacidade para produzir propostas radicais e eficazes. Pois o que está acontecendo agora pode ser a última oportunidade para uma economia mundial aberta e dinâmica. Em primeiro lugar, temos de atravessar a crise atual. Depois, precisaremos tornar esses catastróficos colapsos financeiros tremendamente menos prováveis. Se não nós, quem? E se não agora, quando?


A New Bretton Woods


New world pragmatism
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Barry Eichengreen: There will be no new financial world order on the scale of Bretton Woods in 1944. Here are some important steps that leaders can take


THE YUAN - debate The Economist sep 2011
This house believes that the yuan will be the world's main reserve currency within ten years

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Start by saving the eurozone
Oct 24 2008:
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Amid the rubble of global finance, a blueprint for Bretton Woods II
Oct 21 2008:
Jeffrey Sachs: Durable reform must tackle climate change and world poverty as well as market regulation

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Oct 19 2008
Andrew Rawnsley: A golden age, and other things they wish they'd never said
Oct 19 2008
Mr Brown and Mr Cameron couldn't flatter financiers enough. Now they're scrambling to reposition themselves in a world of bust


When a politician claims that he always saw the storm on the horizon, it is often more informative to read what he was saying when the sun was still shining. Before I listened to the latest thoughts from Gordon Brown and David Cameron on the crisis of capitalism, I first reminded myself what they were saying before the boom went bust.
Let's start with Gordon Brown in June 2005 giving the Chancellor's annual speech to the City at the Mansion House. Addressing the bow-tied ranks of money-changers, he paid lavish homage to 'your unique innovative skills, your courage and steadfastness'. They had his personal thanks 'for the outstanding, the invaluable contribution you make to the prosperity of Britain'. Though even the financiers may have wondered what courage had to do with it, they clapped long and hard.
Having hosed them with adulation every time he visited the City, Gordon Brown surpassed himself when he returned in 2007 to deliver his final Mansion House speech as Chancellor before he moved into Number 10. 'A new world order has been created,' he proclaimed. Britain was 'a new world leader' thanks to 'your efforts, ingenuity and creativity'. He congratulated himself for 'resisting pressure' to toughen up regulation of their activities. Everyone needed to follow the City's 'great example', emulate this 'high value-added, talent-driven industry'. 'Britain needs more of the vigour, ingenuity and aspiration that you already demonstrate.' Thanks to their 'remarkable achievements', we had the huge privilege to live in 'an era that history will record as the beginning of a new Golden Age'.
Or, as it turns out, an era that history will record as ending in the Great Crash of 2008. Their 'ingenuity' engineered the most seismic financial crisis in 80 years. Their 'aspiration' has destroyed swaths of their own industry and the rest of the economy. Their 'vigour' is propelling us into recession. What he then hailed as a 'Golden Age', the Prime Minister now deplores as an 'Age of Irresponsibility'.
David Cameron has had some fun at the expense of the Prime Minister. Which might make you assume that the Tory leader had foreseen, as Gordon Brown had not, that it would all turn to dust. So here is Mr Cameron in June 2006, offering his thoughts on 'the new global economy'. He trumpeted 'the victory of capitalism, privatisation and liberalisation'. Not to be out-grovelled by Gordon Brown when talking about bankers, the Tory leader lauded the 'highly innovative' City as 'the biggest international finance centre in the world'. Mr Cameron happily noted that 'there are more than 550 international banks and 170 global securities houses in London', numbers that may now be subject to downward revision. The Cameron of this pre-bust vintage gave the credit for all that reckless - sorry, 'innovative' - trading to 'critical Conservative decisions' when the Tories were in government. It proved that 'light regulation' and 'low regulation' were 'keys to success'.
Just over a year ago, in September 2007, Mr Cameron made a speech at the London School Of Economics. The financial markets were already experiencing what was then politely termed 'turbulence', but the Tory leader chose to amplify his thesis about the ascendancy of unconstrained capitalism. In a section entitled 'The End Of Economic History?', he answered the question by declaring that: 'The debate is now settled.' 'Liberalism' had prevailed. The left's silly idea that markets required tight regulation had been thoroughly discredited. 'The result? The world economy more stable than for a generation.' He drizzled sycophancy on the heads of the bankers, drooling that 'our hugely sophisticated financial markets match funds with ideas better than ever before'. What a pity the casino got so sophisticated that it traded trillions of dollars of toxic bets that no one understood, including the gamblers themselves.
I could fill every column until Christmas with the foolish eulogising of the animal spirits of ungoverned markets by the Prime Minister and the Leader of the Opposition. I could probably fill this entire newspaper with embarrassing quotes from senior politicians about the erstwhile masters of the universe. A generation of leaders, here and in much of the rest of the world, fell under the thrall of high finance. The commanding heights of politics were surrendered to the bankers. Right-leaning politicians did so from ideological conviction, left-leaning politicians did so because they came to believe that it was the only way to power. The markets were allowed to set the rules for the politicians. Leaders couldn't tax wealth more than the markets were prepared to allow. They couldn't spend, borrow, intervene or regulate without the permission of the gods of the dealing rooms. When Bill Clinton was in the White House, he would rage about the way in which his presidency was dictated to by 'a bunch of fucking bond traders'. One of his senior aides, James Carville, joked: 'I used to think if there was reincarnation, I wanted to come back as the President or the Pope or a .400 baseball hitter. But now I want to come back as the bond market. You can intimidate everybody.'
This side of the Atlantic, Tony Blair and Gordon Brown took a short spoon to supper with the devil. He seemed such a seductive fellow when the financial sector was growing four times as fast as the rest of the economy. The credit boom kept house prices rising, shop tills ringing, tax revenues flowing, the country feeling prosperous and voting Labour. The financial alchemists of the City appeared to have invented a perpetual motion machine for producing cheap money. No one in government wanted to ask awkward questions about ballooning debt and obscene bonuses that incentivised ever more reckless bets. Mr Brown made his wildly hubristic claim to have abolished 'boom and bust'. In so much as the Tories raised an objection, it was that Labour was over-constraining the 'wealth creators' with bureaucratic red tape.
Vince Cable was alone when he wandered the battlements of the City of Gold crying his warning that it would all end in tears. That the Lib Dem has been proved utterly correct doesn't seem to be doing his party much good in the polls, but at least it has made him Britain's most popular politician.
Gordon Brown and David Cameron are meanwhile scrambling to reposition themselves for the world of the bust. The Prime Minister would prefer we forgot that drivel about a 'Golden Age' and look out those of his old speeches in which he argued for a global surveillance system of financial markets. Mr Cameron would be obliged if we'd pretend we hadn't heard him extolling the gamblers and concentrate on his more recent call for 'economic responsibility'.
The Prime Minister's strategy is to try to internationalise not just the solutions to this crisis, but also the culpability for it. He would have us blame those greedy bankers who were once his heroes and the America that he once so admired. Mr Cameron is conversely keen to localise the blame around the Prime Minister. The Tory party has been uncomfortable supporting the government and unnerved by the sight of Gordon Brown feted as some sort of superhero. The Tory leader has been reassuring worried colleagues: 'I will pin the tail on the donkey.' Hence his speech on Friday which broke the pseudo truce by heaping culpability on the Prime Minister.
This parochial blame game takes place in the context of a much more important global realignment of the balance of power between finance, government and the rest of society. The barons of capital have been devoured by their own excesses. Forced to go running to the state for help, large chunks of their firms now owned by the taxpayers they previously treated with contempt, the bankers are now the supplicants to the politicians. Humiliation has been visited not just on the individual chief executives and chairmen who have lost their jobs; an entire class has been discredited in voters' eyes. High finance will not vanish, but its numbers, glamour and power will shrink. Charles Leadbetter, always an insightful analyst, draws a useful comparison with what happened to the trades union leaders. Those barons grew over-mighty in the Sixties and Seventies until they met their nemesis in the shape of Margaret Thatcher. They are still with us, but they lost their ability to mesmerise politicians and intimidate everyone else. High finance has similarly been dethroned.
There is no appetite, beyond the denuded ranks of revolutionary socialists, for a command economy anything like the model so discredited by the experiment with the Soviet Union. Governments have taken over banks out of necessity not ideological conviction. But there has been a shift. The intellectual and political climate now favours those sceptical about the more exaggerated claims made for markets. George Bush has been forced to nationalise banks. It looks increasingly likely that he will be succeeded by Barack Obama governing with the help of big Democrat majorities in Congress. David Cameron, who as recently as his party conference was inviting us to regard him as the son of Thatcher, is now denouncing 'irresponsible capitalism'. Gordon Brown has rediscovered a purpose for his premiership and a potential legacy in the reform and regulation of global finance.
The full extent and shape of this power shift will take time to become clear. This much is already certain. Political leaders will not fawn before money as they once did. The era of uncritical awe for financiers is over. The epoch of blind faith in the market is done with. When our leaders go to the City in future, they will no longer take knee pads with them.

Folha de São Paulo, 03-11-2008
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA Nova Bretton Woods
A agência que substituir o FMI deverá alertar os países que ultrapassarem o limite de déficit em conta corrente
NOS PRÓXIMOS dias os líderes políticos e econômicos dos grandes países reunir-se-ão para discutir uma nova Bretton Woods, ou seja, uma nova arquitetura e um sistema de regulação mais rigoroso para o sistema financeiro mundial. Aproveitarão também para repassar as medidas que já tomaram para garantir a solvência e para aumentar a liquidez dos bancos. Nesse ponto, o essencial já foi decidido e está sendo implementado: a recapitalização dos bancos. O crédito, porém, está demorando a ser restabelecido, dada a natural desconfiança dos bancos em relação às demais empresas. Nos Estados Unidos, o Fed vem se encarregando de agir nessa direção; no Brasil, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) já revelou essa disposição, embora aqui o problema dos grandes bancos não seja grave. Entrementes as previsões quanto às conseqüências reais da crise estão se agravando. O JPMorgan prevê para 2009 queda de 0,5% no PIB dos países ricos e crescimento de 4,2% no dos emergentes. Para o Brasil, as previsões estão tendendo para 2%. Nouriel Roubini fala em estag-deflação. Embora não tenha dúvida quanto à recessão dos países ricos e à diminuição das taxas de crescimento dos emergentes, creio haver excesso de pessimismo. No momento em que as medidas que estão sendo tomadas fizerem efeito -e farão- deixará de haver motivo para a retração violenta da atividade econômica que está sendo prevista. Como aconteceu em 1929, a crise financeira terá conseqüências reais, mas não serão tão graves porque, ao contrário do que ocorreu naquela época, os governos agora agiram com rapidez e competência para enfrentá-la. Deverão, adicionalmente, tomar medidas fortes para neutralizar a natural contração real da demanda. Medidas dessa natureza começaram a ser tomadas ainda pelo governo Hoover depois de 1929, mas eram tímidas; as políticas mais fortes vieram com Roosevelt, mas em 1933 o desastre já estava feito. O que constituirá uma nova Bretton Woods em vez de meros remendos à desgovernança montada desde 1971? Nessa questão, é preciso diferenciar o crédito interno a empresas do crédito externo a países para cobrir déficits em conta corrente. No crédito interno, o essencial é uma regulação muito maior sobre os bancos de varejo, ao mesmo tempo em que se tomem medidas duras para reduzir a desintermediação financeira -ou seja, a concessão de crédito por agências que não são bancos comerciais. É necessário também limitar os bônus dos agentes financeiros, porque são uma causa maior de especulação irresponsável. No plano internacional, o fundamental é limitar o crédito dado aparentemente a empresas, mas que, na verdade, financia déficits em conta corrente. Em Bretton Woods não havia essa preocupação, e o Banco Mundial foi criado para viabilizar déficits em conta corrente ou "crescimento com poupança externa". Recentemente, ficou afinal claro que os países não crescem com poupança externa, mas com um bom sistema de crédito interno e com suas próprias poupanças. Os déficits em conta corrente são apenas causa de substituição da poupança interna pela externa, e por crises do balanço de pagamentos. A agência internacional que substituir o FMI (Fundo Monetário Internacional) deverá ter como uma de suas atribuições principais alertar publicamente os países que ultrapassarem o limite, a ser convencionado internacionalmente, de déficit em conta corrente. LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 74, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".Internet: http://www.bresserpereira.org.br/lcbresser@uol.com.br

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http://www.bot.or.th/English/EconomicConditions/Semina/Pages/papers_intersym08.aspx

1. Monetary Policy in a Globalized and Uncertain World: Risks and Challenges Speaker: Claes Berg, Sveriges Riksbank

2. The Global Roots of the Current Financial Crisis and its Implications for Regulation Speaker: Raghuram Rajan, University of Chicago

3. Macroeconomic Vulnerability and Reform: Managing Pro-cyclical Capital Flows Speaker: Jose Antonio Ocampo, Columbia University

4. Financial and Multilateralism Speaker: Arvind Subramanian, The Peterson Insititute for International Economics

5. Resisting Financial Globalisation in Asia Speaker: Robert McCauley, Bank for International Settlements

http://rodrik.typepad.com/dani_rodriks_weblog/2008/11/can-you-resist-financial-globalization.html
Can you resist financial globalization?
Yes you can, and Asia has been doing it. I am in Bangkok for a Bank of Thailand conference, and among other interesting contributions (by Jose Antonio Ocampo, Raghu Rajan, and Arvind Subramanian) is a nice paper by the BIS's Robert McCauley and Guonan Ma called "Resisting financial globalization in Asia." The paper documents how fours countries (China, India, South Korea, and Thailand) have thrown "sand in the wheels of finance" to varying extents. Interestingly, those countries that have done the most resisting are the ones that are the least affected by the crisis.
The paper makes the following points in particular:
Asian-style resistance to financial globalization has taken the form of limiting the role of foreign banks in the domestic banking system and of restricting cross-border arbitrage in foreign currency, money, bond and equity markets.
Evidence from prices and quantities shows the most limited globalization in China, followed at a distance by India, followed in turn by Thailand and then Korea.
The extent to which countries have been hit by the recent crisis follows this ranking (in reverse order) almost exactly. In particular, Korea has been the country hardest hit despite many other preventive policies (including large reserve build-up) before the onset of the turmoil.
The following chart, taken from Chinn and Ito's work, and using an entirely different data source (IMF indexes on capital account policies), shows the same broad trend for East and Southeast Asian countries:

Following the Asian financial crisis these countries experienced a reversal from their exceedingly high levels of international financial integration. As a result, they are now less globalized financially than Latin America by a wide margin.
And if you think all of this is just academic stuff which does not capture what is really going on on the ground, I would recommend a short conversation with the governor of Taiwan's central bank. You would quickly shed any doubts you may have harbored on the ability of determined policy to manage their capital accounts.
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Considerações sobre Bretton Woods II
Luiz Gonzaga Belluzzo
11/11/2008
Desde o século XVIII os teóricos e praticantes da moderna economia política debatem os conflitos e contradições entre a moeda universal (e seu caráter mercantil) e o exercício da soberania monetária pelos Estados nacionais.
No final do século XIX, a metástase da Revolução Industrial para os Estados Unidos e para a Europa Continental foi acompanhada pela constituição de um sistema monetário global, amparado na hegemonia da Inglaterra. Essa construção política e econômica do capitalismo suscitou, no imaginário social e na prática dos negócios, a "ilusão necessária" acerca da naturalidade e impessoalidade do padrão-ouro e de suas virtudes na promoção do ajustamento suave e automático dos balanços de pagamentos.
Ao promover a ampliação do comércio internacional, o padrão-ouro impôs a reiteração e a habitualidade da mensuração da riqueza e da produção de mercadorias por uma unidade de conta abstrata. Assim, para escândalo de muitos, a confiança na moeda universal em sua roupagem dourada promoveu a expansão da moeda bancária, suscitando a progressiva absorção das determinações funcionais do dinheiro - unidade de conta, meio de pagamento e reserva de valor - por uma representação, um signo desmaterializado garantido pelas finanças do Estado.
Nos anos 20 do século passado, o declínio da Inglaterra coabitou com incapacidade política do poderio econômico americano em afirmar sua hegemonia. Isso tornou problemática, após o hiato de moedas inconversíveis da Primeira Guerra, a restauração do padrão-ouro, mesmo sob a forma atenuada do Gold Exchange Standard que permitia a acumulação de reservas em dólares e libras. Em sua ressurreição, o padrão-ouro foi incapaz de reanimar as convenções e de reproduzir os processos de ajustamento e as formas de coordenação responsáveis pelo sucesso anterior. Os déficits e os superávits tendiam a se tornarem crônicos. Os países superavitários - sobretudo França e EUA - se empenharam em "esterilizar" o aumento das reservas em ouro para impedir os efeitos indesejáveis sobre os preços domésticos.
Nos trabalhos elaborados para as reuniões que precederam as reformas de Bretton Woods, Keynes formulou uma proposta mais avançada e internacionalista de gestão da moeda fiduciária. Ela previa a "administração" centralizada, pública e supranacional do sistema mundial de pagamentos e de provimento de liquidez. O Plano Keynes visava, sobretudo, eliminar o papel perturbador exercido pelo ouro - ou por qualquer moeda-chave - enquanto último ativo de reserva do sistema. Tratava-se não só de contornar o inconveniente de submeter o dinheiro universal às políticas econômicas do país emissor, mas também de evitar que assumisse a função de um perigoso agente da "fuga para a liquidez".
Na verdade, os países trocariam mercadoria por mercadoria e o dinheiro internacional, o Bancor, seria reduzido à função de moeda de conta. Os déficits e superávits seriam registrados em uma espécie de conta corrente que os países manteriam junto à Clearing Union, a câmara de compensação encarregada de vigiar o sistema de taxas fixas, mas ajustáveis e de promover os ajustamentos entre deficitários e superavitários. No novo arranjo institucional não haveria lugar para a livre movimentação de capitais em busca de arbitragem ou de ganhos especulativos.
Em 1944, nos salões do hotel Mount Washington, na acanhada Bretton Woods, a utopia monetária de Keynes capitulou diante da afirmação da hegemonia americana que impôs o dólar - ancorado no ouro - como moeda universal. Talvez por isso, o segundo pós-guerra conte a história conflituosa da reafirmação do dólar como moeda-reserva e narre as desditas da reprodução dos desequilíbrios globais e da sucessão de ajustamentos traumáticos dos balanços de pagamentos na periferia.
Essas características do arranjo monetário realmente adotado em Bretton Woods sobreviveram ao gesto de 1971 - a desvinculação do dólar ao ouro - e à posterior flutuação das moedas em 1973. Na esteira da desvalorização continuada dos anos 70, a elevação brutal do juro básico americano em 1979 derrubou os devedores do Terceiro Mundo, lançou os europeus na "desinflação competitiva" e culminou na crise japonesa dos anos 90. Na posteridade dos episódios críticos, o dólar se fortaleceu, agora obedecendo ao papel dos Estados Unidos como "demandante e devedor de última instância".
A crise dos empréstimos hipotecários e seus derivativos, que hoje nos aflige, nasceu e se desenvolveu nos mercados financeiros dos Estados Unidos. Na contramão do senso comum, os investidores globais empreendem uma fuga desesperada para os títulos do governo americano. Assim como nas crises cambiais dos anos 90, protagonizadas pela periferia (México, Ásia, Rússia, Brasil e Argentina), os papéis do governo dos Estados Unidos oferecem repouso para os capitais cansados das aventuras em praças exóticas e reservam os tormentos da volatilidade cambial para os incautos que acreditaram nas promessas de recompensa pelo bom comportamento.
Bretton Woods II, ou coisa assemelhada, não vai enfrentar conturbações geradas pela decadência americana. Vai sim acertar contas com os desafios engendrados pelo dinamismo da globalização impulsionada pela grande empresa e ancorada na generosidade da finança privada dos Estados Unidos. O processo de integração produtiva e financeira das últimas duas décadas deixou como legado o endividamento sem precedentes das famílias "consumistas" americanas, causa e efeito da migração da indústria manufatureira para a Ásia "produtivista" e da acumulação de mais de US$ 5 trilhões de reservas nos cofres dos emergentes.
Na posteridade da crise asiática, os governos e o Fundo Monetário Internacional ensaiaram a convocação de reuniões destinadas a imaginar remédios para "as assimetrias e riscos implícitos" no atual regime monetário internacional e nas práticas da finança globalizada. Clamavam por uma reforma da arquitetura financeira internacional. A reação do governo Clinton - aconselhado pelos conselheiros de Barack Obama, Robert Rubin e Lawrence Summers - foi negativa. Os reformistas enfiaram a viola no saco. Mesmo depois da queda do subprime, não vai ser fácil convencer os americanos a partilhar os benefícios implícitos na gestão da moeda reserva.
Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreve mensalmente às terças-feiras.
BelluzzoP@aol.com


Jornal Valor Econômico
Como deveria ser "Bretton Woods II"
Jose Antonio Ocampo
10/11/2008
Para aqueles de nós que há muito tempo reivindicam que a arquitetura financeira internacional necessita uma profunda reforma, a insistência em um "Bretton Woods II" é bem-vinda. Como sabemos, clamores similares foram ouvidos depois das crises asiática e russa em 1997-1998, mas não foram levadas a sério pelos países industrializados ricos. Agora que esses países estão no centro do furacão, talvez sejam encaradas com seriedade.
Existem dois problemas fundamentais na reivindicação por reforma. Em primeiro lugar, ela vem destituída de conteúdo: não sabemos o que será discutido numa eventual cúpula para um acordo de Bretton Woods II. Em segundo lugar, o processo começou da maneira errada, ao excluir a maioria dos países das conversações. É evidentemente bom para o G-7 ou para um subconjunto dos membros do G-7 demonstrar liderança, mas nenhuma reforma fundamental pode ocorrer sem um processo inclusivo que dê voz adequada a países tanto industrializados como em desenvolvimento, grandes e pequenos. Instituições internacionais, e não grupos casuísticos de países, precisam estar no centro do esforço de reforma.
O problema mais nítido, neste momento, é como corrigir o déficit de regulamentação que caracteriza os mercados financeiros em todo o mundo. É preciso iniciar discussões com um consenso em torno de princípios regulamentadores. Um dos princípios evidentes é o de que os regulamentos precisam ser abrangentes, para evitar as enormes brechas que produziram a atual turbulência.
A regulamentação deveria também ter um vigoroso foco anti-cíclico, impedindo excessivo acúmulo e alavancagem, e ampliando as exigências de capital e aprovisionamento (reservas) durante booms, bem como para evitar que bolhas dos preços de ativos alimentem expansões de crédito. Deve-se descartar qualquer dependência em relação a modelos internos de instituições financeiras, que é o foco central do acordo de Basiléia II para regulamentação bancária. Demonstrou-se que essa estratégia é perigosa, e que o uso de modelos similares de risco por instituições financeiras podem resultar em maior instabilidade.
Qualquer que seja um novo sistema regulamentador, deve basear-se em uma rede de autoridades nacionais e regionais com bom funcionamento (ainda ausente na União Européia) e incluir efetiva supervisão internacional de alcance mundial sobre as instituições financeiras. A maioria dos analistas concorda que o Fundo Monetário Internacional (FMI) não deveria ficar no centro do sistema regulamentador. O Banco para Compensações Internacionais (BIS) e a Comissão da Basiléia estão melhor posicionados para tal, mas uma reforma fundamental é necessária para ampliar sua presença e evitar um importante problema da Comissão da Basiléia: ausência de representação nos países em desenvolvimento.
Três questões centrais envolvendo a reforma do FMI também deveriam ser abordadas. A primeira é a necessidade de uma moeda de reserva efetivamente mundial, possivelmente baseada nos Direitos Especiais de Saque do FMI (SDRs, na sigla em inglês). Isso superaria tanto iniqüidades como a instabilidade que é inerente a um sistema mundial de reservas baseada em uma moeda nacional. O sistema atual é assolado por ciclos de confiança no dólar e por choques periódicos devidos a políticas americanas que são adotadas independentemente de seu impacto mundial, e assim impostas ao resto do mundo.
A segunda questão é a necessidade de colocar o FMI, e não o G-7 - ou qualquer o outro "G" - no centro da coordenação mundial da política macroeconômica. Essa é a única maneira de dar voz aos países em desenvolvimento. A monitoração multilateral sobre desequilíbrios mundiais que o FMI deflagrou em 2006 foi um passo interessante nessa direção, mas não havia comprometimento das partes nem dispunha de poder efetivo.
A terceira questão é a principal exigência dos países em desenvolvimento. Por ocasião de crises de balanças de pagamentos, o FMI deveria conceder empréstimos rapidamente e sem condições excessivamente onerosas, especialmente quando a fonte da crise é uma rápida reversão de fluxos de capital ou uma aguda deterioração nos termos de comércio. Isso tornaria o FMI mais semelhante a um banco central, provendo liqüidez com agilidade, assim como os bancos centrais dos países avançados têm recentemente disponibilizado fundos em enorme escala. No caso do FMI, o financiamento de tal liqüidez poderia ser na forma de emissões anti-cíclicas de SDRs.
Em todas essas áreas, o FMI deveria fazer uso mais ativo de instituições regionais. Durante uma década, propus que o FMI do futuro deveria ser visto como o ápice de uma rede de fundos de reserva regionais - ou seja, um sistema estruturado mais semelhante ao Banco Central Europeu (BCE) ou ao sistema do Fed.
Uma formatação institucional similar poderia ser adotada para definir políticas cautelares. Uma rede mais densa de instituições parece mais adequada a uma comunidade internacional heterogênea, e é provável que proporcione melhores serviços e dê uma voz mais vigorosa a países de menor porte.
Finalmente, uma importante deficiência da atual arquitetura financeira internacional é a inexistência de um arcabouço institucional - ou seja, um tribunal similar aos criados para a gestão de colapsos empresariais em economias nacionais - para encarregar-se da gestão de desequilíbrios de endividamento em nível internacional. O sistema atual apóia-se em mecanismos improvisados, que geralmente funcionam tarde demais, depois que endividamento elevado já impôs efeitos devastadores. O único mecanismo institucional regular é Clube de Paris, que cuida exclusivamente de financiamento oficial. Bretton Woods II deveria solucionar esse problema mediante a criação de um tribunal internacional para negociações sobre endividamento.
A atual crise financeira tornou manifestamente clara a necessidade de reforma da arquitetura financeira internacional. Mas a convocação de uma conferência para um acordo de "Bretton Woods II" precisa ser concreta em seu conteúdo. Um sistema mundial de regulamentação e supervisão cautelar; um FMI reestruturado encarregado da gestão de uma moeda de reserva mundial, coordenando a política macroeconômica mundial e proporcionando linhas de crédito com agilidade; e um tribunal internacional para negociações sobre endividamento - tudo isso precisa constar da agenda.
Jose Antonio Ocampo, subsecretário-geral de questões econômicas e sociais da ONU e ex-ministro das Finanças da Colômbia, é atualmente professor e co-presidente da Iniciativa de Diálogo para Políticas na Universidade Colúmbia. © Project Syndicate/Europe´s World, 2008. http://www.project-syndicate.org/
Crise nos EUA e financeirização no Brasil: compreender para superar
Miguel Bruno
10/11/2008
Aciência econômica tradicional rigorosamente não tem uma teoria das crises. A análise desses fenômenos periódicos em economias capitalistas é reduzida a uma abordagem das flutuações cíclicas, convencionalmente chamada de "business cycles theory". A razão para isto decorre do que Bachelard, químico e filósofo da ciência, denominava por obstáculo epistemológico. Trata-se de práticas de pesquisa e de formas de pensamento cristalizadas pelo saber instituído, que se convertem em entraves no processo de conhecimento científico. Segundo o epistemólogo, "diante do real, aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que deveríamos saber". Para Bachelard, o conhecimento do real é uma luz que sempre projeta sombra em algum lugar. Ele nunca é imediato e pleno, as revelações do real são sempre recorrentes. O real nunca é o que poderíamos acreditar, mas sim o que deveríamos ter pensado.
O pressuposto de que mercados liberalizados seriam naturalmente eficientes constitui o primeiro obstáculo epistemológico da teoria econômica padrão. O segundo consiste na premissa de que comportamentos especulativos são benéficos, pois sua função econômica é a de atenuar as flutuações de preços devidas às mudanças na oferta e na demanda, estabilizando o sistema. Mas então como explicar o fato de a maioria das crises financeiras serem precedidas por um período de boom no mercado de crédito e de superespeculação? Como a teoria se fragiliza diante da observação do que ocorre com as economias reais, seus proponentes vão buscar as causas das crises fora da própria lógica mercantil. Milton Friedman argumentava que a causa da crise dos anos 30 do século passado residia numa política monetária equivocada do Fed, àquela época contracionista. Já a atual crise poderia ser "explicada" também pelos equívocos do mesmo Fed, mas desta vez com uma política monetária excessivamente frouxa, cujos efeitos tornaram-se incertos num ambiente de desregulamentação financeira. Portanto, como as crises surgem como a negação empírica do equilíbrio e da eficiência dos mercados, a estratégia "científica" da análise mainstream é atribuir suas causas a agentes supostamente externos (o Estado e suas políticas errôneas, hora gastando de menos, hora gastando demais) e a choques exógenos (preços do petróleo, catástrofes naturais, guerras, revoluções, etc.).
Mas da literatura econômica sobre crises, pode-se extrair vários ensinamentos úteis para compreendê-las e superá-las: 1) Os mercados são construções sociais complexas, cuja eficiência depende de arranjos institucionais específicos. Do contrário, os interesses privados destroem a coerência macroeconômica e a coesão social do conjunto do sistema, instaurando a crise como solução violenta dos desequilíbrios gestados e acumulados na fase de expansão; 2) Mercados financeiros são muito diferentes dos outros mercados, em razão das especificidades dos ativos transacionados, cuja liquidez depende também das características dos regimes monetários e cambiais; 3) Depressões são muito pouco prováveis em economias onde o Estado está inscrito no circuito da produção e da distribuição da renda nacional. O Estado inscrito caracteriza-se por duas inovações principais: a institucionalização do salário indireto e a combinação de gestão monetária com política econômica. No capitalismo liberal da primeira metade do século 20, o Estado era circunscrito. Uma das conseqüências da globalização (exceto para aqueles países que se engajaram em estratégias consistentes de desenvolvimento econômico) foi o retorno, ainda que parcial, desse tipo de Estado, que se baseia na hipótese de que os interesses dos mercados são sempre coincidentes com os interesses de toda a sociedade; 4) As grandes crises têm causas endógenas, não são necessários choques externos para que ocorram. Trata-se do chamado princípio do endometabolismo, segundo o qual o funcionamento da estrutura altera a própria estrutura. O simples fato das estruturas sócio-econômicas operarem no tempo e no espaço pode ser motivo suficiente para a sua transformação e crise. Este princípio permite compreender-se como um modelo econômico considerado bem-sucedido, como o dos EUA nos anos 90, deságua inicialmente em crises financeiras de baixa e média intensidade, para então culminar, via efeitos cumulativos, numa grande crise com impactos diretos sobre o sistema produtivo deste país e dos outros que o mimetizaram passivamente.
A crise de liquidez é apenas uma das formas de expressão de problemas estruturais mais profundos. Os EUA deslocaram plantas industriais importantes para o exterior e aprofundaram a flexibilidade e a precariedade de suas relações de emprego. A taxa média de lucro da economia americana está em queda desde 1998, apesar de o declínio tendencial da participação dos salários no produto nacional ter-se iniciado uma década antes. Como os ganhos de produtividade permaneciam muito acima do crescimento do salário médio real, a expansão do consumo interno passou a depender cada vez mais do efeito riqueza derivado da detenção de ativos financeiros, da forte expansão do crédito e do elevado endividamento familiar. Mas, como a taxa de acumulação de capital fixo produtivo despencou nos anos 1990, para cerca de 1/5 do valor médio de finais dos anos 1970, essa configuração terminou por desestabilizar o sistema econômico porque fragilizou os rendimentos do trabalho e, tornando-os altamente sensíveis à conjuntura, promoveu a inadimplência.
Essa é uma crise do regime de acumulação financeirizado dos EUA, mas que se converte em uma crise do capitalismo financeirizado em escala global. Apesar de suas especificidades, o Brasil tem vários pontos comuns com o caso americano. Como os EUA, praticou, no período pós-Real e pós-liberalização, uma excessiva concentração funcional da renda em favor dos lucros. Nessas condições, se o investimento produtivo não estiver crescendo suficientemente, a sustentabilidade da demanda efetiva é ameaçada e o sistema é empurrado para uma zona de instabilidade estrutural. Temos uma economia onde a financeirização baseia-se em derivativos e renda fixa que, juntos, respondem por mais de 50% de toda a receita operacional do sistema bancário-financeiro brasileiro, enquanto as receitas de operações de crédito não ultrapassam os 20%. Por isso a relação crédito /PIB está em 39%, uma das mais baixas entre os países emergentes. Se lembrarmos que esta economia já se caracteriza por níveis dramáticos de concentração da renda e da riqueza, os analistas que estão advogando cortes dos gastos públicos como medida anti-crise deveriam urgentemente livrar-se dos obstáculos epistemológicos da teoria que utilizam para melhor compreender as causas e os mecanismos de propagação da crise atual.
Miguel A. P. Bruno, assessor de Projetos Especiais - Crescimento e Desenvolvimento do Ipea, professor adjunto do Departamento de Evolução Econômica da UERJ e do Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da ENCE/IBGE.



Seqüência do Bretton Woods fracassará
Gideon Rachman
14/11/2008
Atribuo toda a culpa a Dean Acheson. O estadista americano, há muito falecido, foi uma grande figura na conferência original de Bretton Woods, em 1944, e posteriormente ajudou a inventar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Acheson deu a suas memórias o modesto título de "Present at the Creation" (presente à criação, em inglês) e, ao fazê-lo, inadvertidamente alimentou as fantasias de grandiosidade dos líderes do grupo dos 20 (G-20) países com maior economia, que se reúnem em Washington no fim de semana. Por que eles não poderiam também chegar ao status de quase deuses, reordenando as instituições do mundo?
Alguns dos líderes que se dirigem a Washington são surpreendentemente francos sobre o prazer que estão tendo. Nicolas Sarkozy, o dinâmico presidente da França, congratulou-se por sua "sorte" em ter a chance de refazer o sistema financeiro mundial. Gordon Brown, primeiro-ministro britânico, visivelmente deleita-se com a idéia de ser um líder intelectual mundial.
Como a maioria das seqüências, no entanto, o Bretton Woods II não chegará nem perto do original. A primeira conferência criou o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Seu substituto será mais maçante e gerará menos conseqüências significativas.
O primeiro motivo é que a crise financeira mundial - mesmo tão grave como é - está longe de ser a Segunda Guerra Mundial. A guerra destruiu a ordem estabelecida e, portanto, os estadistas que desenharam as instituições do pós-guerra tinham um papel em branco para rabiscar.
O segundo é que não há tempo suficiente. A conferência original de Bretton Woods teve os benefícios de dois anos de preparação, não duas semanas.
O terceiro - especialmente importante - é que os países que se reunirão em Washington neste fim de semana divergem. Os europeus, que adoram todas as formas de governança internacional, pressionam por novos reguladores mundiais para o sistema de finanças internacionais. Os americanos e chineses - mais zelosos de sua soberania nacional - estão mais cautelosos.
Por fim, ao contrário do ocorrido no Bretton Woods original, os Estados Unidos não têm o poder nem a inclinação para impor um novo conjunto de planos para o resto do mundo.
Este último ponto é algo que os europeus, em particular, mostram dificuldade em compreender. Sua visão geral é a de que há duas formas opostas de arrumar o mundo. A primeira - associada com o temido presidente George W. Bush - era baseada no poder e "unilateralismo". A segunda - que esperam ser adotada pelo santificado Barack Obama - é baseada em um EUA repreendido, que trabalha com os outros para construir uma nova ordem multilateral. Parte da excitação européia em relação ao Bretton Woods II é baseada na idéia de que a era da primazia dos EUA acabou - e que amanhece uma nova era multilateral.
Em 1944-45, entretanto, instituições multilaterais como o FMI, Banco Mundial e Organização das Nações Unidas (ONU) nasceram da força dos EUA e não de sua fraqueza. Um dos motivos para o Bretton Woods ter funcionado é que os EUA eram claramente o país mais poderoso na mesa de negociação e, portanto, no fim das contas tinha capacidade para impor sua vontade aos outros, incluindo uma Grã-Bretanha freqüentemente consternada. Na ocasião, uma alta autoridade do Banco da Inglaterra descreveu o acordo alcançado como "o maior golpe desferido contra a Grã-Bretanha depois da guerra", em grande parte porque ressaltava a forma como o poder financeiro havia passado do Reino Unido para os EUA.
O encontro do próximo fim de semana também reconhece mudanças no poder global. Os entusiastas do G-20 gostam que o grupo não seja o cansado e velho G-8, que vêem como sendo composto principalmente de países europeus exauridos destinados a entrar no matadouro da história. O G-20 inclui novas potências emergentes, como China, Índia, Brasil e África do Sul.
Isso é importante. Um sistema internacional que não acomode a China, Índia e outros novos emergentes claramente não pode funcionar no longo prazo. Contudo, trazê-los ao sistema não é garantia de sucesso. Quanto mais vozes ao redor da mesa do Bretton Woods II - e mais igualdade houver entre eles -, mais difícil será chegar a um acordo.
De fato, o mundo emergente multilateral e multipolar - há muito defendido por aqueles desconfortáveis com o poder americano - mostra todos os sinais de ser altamente inepto.
A ONU está cada vez mais paralisada - assolada por uma liderança fraca e um conselho de segurança bloqueado. Nos últimos 12 meses, a Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) fracassou. E se as negociações da OMC não conseguiram produzir resultados, que chance haverá de sucesso em uma tarefa muito mais difícil, como a de negociar um acordo mundial de mudanças climáticas no próximo ano?
As rodadas comerciais anteriores foram concluídas com êxito, em parte, porque foram costuradas por Europa, América e Japão. Porém, na rodada mais recente, os países em desenvolvimento - em particular a Índia - ficaram poderosos demais para serem ignorados. Este é certamente um avanço para a justiça e equidade mundiais, mas torna muito mais difícil atingir um acordo. O mesmo problema provavelmente afligirá as negociações sobre mudanças climáticas no próximo ano, nas quais a China desempenhará papel central.
Ter montes de países na mesa de negociação não é por si só um fator destruidor de consensos. Havia 44 países no Bretton Woods original. Porém, o que se precisa é de liderança. Em 2008, como em 1944, o líder mais plausível é os EUA. Isso torna duplamente infeliz o fato de que o presidente americano anfitrião em Washington será Bush e não Obama.
Sob o comando do presidente Bush, os EUA descobriram que não podem liderar o mundo por meio do exercício da força bruta. A tarefa do presidente eleito Obama será ver se os EUA agora podem liderar por meio da persuasão. Infelizmente, ele não estará presente à recriação neste fim de semana.

As instituições de Bretton Woods e a nova administração Obama
Paulo Paiva
17/11/2008
A mudança de poder nos Estados Unidos sempre trás à tona aqui indagações a cerca de seu impacto na América Latina e no Brasil, em particular. As questões veiculadas pela imprensa se referem, quase sempre, a aspectos relacionados ao comércio exterior, se maior ou menor protecionismo, e à política, se a América Latina terá ou não um papel estratégico maior na política externa americana.
Neste artigo, gostaria de olhar a questão sob outro ângulo: o que se pode esperar de mudanças na orientação às instituições de Bretton Woods e suas relações com a América Latina e o Brasil?
Normalmente a substituição dos representantes dos Estados Unidos nessas instituições e novas orientações ocorrem no final do primeiro ano do governo, após os novos executivos no Tesouro terem tomado pé de seus encargos. Desta feita, com a profundidade da crise financeira internacional, é razoável supor que a influência da nova administração tanto no Fundo Monetário Internacional (FMI) quanto no Banco Mundial poderá ser antecipada.
Uma maneira de examinar essa questão é através da comparação das orientações nas administrações Clinton e Bush, verificando quais as principais diferenças e, a partir delas, o que se pode esperar da administração Obama.
Além dos diretores executivos que representam formalmente os Estados Unidos nos conselhos (Boards) dessas instituições, postos chaves em suas administrações são exercidos por profissionais indicados pelo Tesouro americano.
O segundo posto na direção do FMI, diretor geral adjunto, é de indicação dos Estados Unidos. O cargo, exercido hoje por John Lipsky, foi no governo Clinton ocupado por Stanley Fisher. Fisher, professor de macroeconomia, teve papel destacado na orientação do FMI nos programas de socorro aos países em crise, como no caso do México (1994), da Ásia (1997), da Rússia (1997/98) e do Brasil (1998/99). O Fundo coordenou suas ações com a participação do Banco Mundial (e no caso da América Latina, também do BID) e dos bancos privados para I) garantir o equilíbrio do balanço de pagamentos; II) manter linhas de crédito e III) evitar o default dos países. Os programas de reformas das economias emergentes ocorreram, em sua grande maioria, com a supervisão da administração de Michel Candessus no FMI (1987-2000), quando Clinton era presidente dos Estados Unidos.
Na administração Bush, ao contrário, teve grande repercussão o relatório Meltzer do Congresso americano que propunha mudanças profundas visando restringir a atuação do FMI e do Banco Mundial. A orientação do relatório indicava o risco moral (moral hazard) como o principal problema das políticas do fundo, aconselhando a instituição a operar apenas em programas de curto prazo, não em programas de ajustes estruturais. Embora o relatório nunca tenha resultado em mudanças, a estratégia do FMI na crise da Argentina (2002) foi, em certa medida, diferente da adotada anteriormente.
No Banco Mundial, os Estados Unidos são responsáveis pela indicação do seu presidente. Na administração Clinton, James Woffenshon teve papel destacado na liderança do apoio aos programas de reformas econômicas e de redução da pobreza. Também exerceram o cargo de economista-chefe do Banco Mundial, professores destacados na comunidade acadêmica como Lawrence Summers, Michael Bruno e o prêmio Nobel de economia, Joseph Stiglitz. Atualmente o presidente do Banco Mundial é Robert Zoellick, que fez carreira na administração pública na área de comércio exterior e o economista chefe, recém empossado, é o chinês Justin Yifu Lin, formado pela Universidade de Chicago.
Em nova administração democrata pode-se esperar que o Banco Mundial volte a ter papel mais ativo nos programas de combate à pobreza e também dê maior ênfase às questões de preservação ambiental (sustentabilidade) e à proteção aos direitos humanos (direitos trabalhistas, igualdade de raça, gênero, religião, etc.). Pode-se esperar também apoio a políticas visando maior participação do Estado nos investimentos para estimular o crescimento econômico. Restam dúvidas quando ao papel que as reformas econômicas poderão ter na nova estratégia de desenvolvimento.
O tema de revisão do papel das instituições de Bretton Woods, na agenda hoje, nada tem em comum com o relatório Meltzer, que sugeria o fechamento do Banco Mundial.
Ao contrário, pode-se esperar um papel mais pró-ativo das duas instituições junto aos países emergentes. Como conciliar necessidade de investimentos públicos, principalmente em infra-estrutura, com equilíbrio fiscal ou como conciliar suporte aos programas de equilíbrio de balanço de pagamentos sem a participação dos grandes bancos internacionais, face à redução da liquidez no mercado financeiro, serão novos e enormes desafios a serem enfrentados por essas instituições.
O tema da governança com maior poder decisório dos membros do G-20, importante do ponto de vista do multilateralismo, precisará ser conciliado com a estrutura de participação dos diferentes países no capital dessas instituições.
Por fim, rever o papel das instituições de Bretton Woods e sua governança é tarefa longa e difícil cujo timing não parece ser adequado à urgência de decisões necessárias para recolocar a economia mundial nos trilhos novamente. O desafio está nas mãos da administração Obama. Seus impactos repercutirão também na América Latina e, em particular, no Brasil.
Paulo Paiva é presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, S.A. (BDMG), ex-vice presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ex-ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento (gestão FHC).



A economia financeira e a lógica do cassino
Carlos Lessa
19/11/2008
Em recente visita ao Brasil, Joseph Stiglitz afirmou, apoiado na melhor doutrina keynesiana, que os bancos centrais europeus e o Fed perderam eficácia para reanimar suas respectivas economias. Nos últimos 90 dias, houve uma sucessão de reduções significativas de juros em economias que já praticavam juros bastante reduzidos. Keynes chamava a atenção que a preferência pela liquidez, característica da situação de crise, não consegue ser revertida pela redução de juros.
Stiglitz lembrou que a economia japonesa, marcada por uma forte recessão durante os anos 90, foi acompanhada pelo aumento de poupança e cenário de juros reais negativos. Isto fez com que, além da migração das matrizes japonesas para fora do mundo, as poupanças fossem todas orientadas para aplicações puramente financeiras, sem reanimar o crescimento da economia nacional japonesa.
A hipertrofia arrogante do neoliberalismo, quando não cancelou, subordinou a política fiscal às orientações monetárias, financeiras e cambiais. Despojou os Estados nacionais de suas instituições interventoras na economia, privatizou tudo o que pôde e encapsulou as regulações de políticas setoriais específicas em agências em parte blindadas à atuação política do poder Executivo. Na crise atual, não sabem a extensão em que estão a securitização e os "produtos" financeiros engendrados pela criatividade bancária (como formas de competição no mercado de capitais) dos derivativos multiplicados fora do controle dos bancos centrais. Não sabem a extensão e a complexidade da rede que a financeirização do mundo engendrou sob o hino triunfal da supremacia do mercado. Fernandinho Beira-Mar tinha contas bancárias nos principais bancos americanos, um no Kuwait e em outro no Paquistão. As relações intra-bancos de grande nome e tradição se enlaçam pelos derivativos, pelos fundos complexos e alavancados via paraíso fiscais. O Banco Central é sempre surpreendido a extensão e variedade de conexões pouco convencionais.
Não é esta a situação do Banco Central brasileiro, super equipado institucionalmente, e agora reforçado com absoluto arbítrio pela MP 443. Pratica o mais elevado juro real do planeta, com a esperança de trazer para o Brasil dólares em busca de uma apetitosa remuneração. Acredita que, com este juro estratosférico, beneficia todos os fundos de pensão complementares. Considera que, ao forçar o Ministério da Fazenda a priorizar os recursos para o pagamento dos juros, contém e atenua a propensão da política fiscal de se espalhar em gastos não-financeiros. Altos juros e deficiências na infra-estrutura de energia e logística inibem o investimento privado e reduzem componentes perigosos de tendência ao crescimento.
Nosso Banco Central sabe que, com seus juros altos, situa os bancos brasileiros nas mais elevadas taxas de rentabilidade, pois tem o cuidado de beneficiá-los, aprovando tarifas que, por si só, já lhes dão lucros operacionais. Vê na âncora cambial o grande instrumento de controle da alta de preços em reais. Acha que, mantendo elevado o juro real, atrai dólares que valorizam o real e ampliam as reservas cambiais. São estas as reservas que blindam, em parte, o Brasil do vendaval. A economia financeira se baseia na confiança recíproca entre os operadores e os que gostam de jogar neste cassino. Se hoje o Banco Central brasileiro começasse a baixar seus juros, suspeito que reduziria significativamente a confiança. Aliás, quando anuncia que vai socorrer operações de montadoras de veículos, projetos imobiliários, bancos em situação difícil etc, com cada anúncio mina a confiança.
Seria necessário reexercer, na plenitude, a soberania nacional. Deveria-se ter conhecimento real da extensão em que empresas, inclusive bancos atuantes no Brasil, se debruçaram e se enredaram em derivativos à escala cósmica. Todos que tivessem haveres ou deveres em moeda estrangeira deveriam registrá-las no BC. Não podemos dormir num dia com Sadia, Aracruz, Votorantim e Vicunha em boa situação e descobrir, pela manhã, que nem elas próprias sabem a extensão das suas perdas. No caso da Aracruz evoluiu de R$ 1,5 bilhão para, em oito dias, U$ 2,5 bilhões.
Todas as operações cambiais deveriam ser centralizadas no Banco do Brasil. E o Banco Central esclareceria o modo pelo qual esses recursos vitais seriam manejados de modo a proteger o escudo das reservas cambiais.
Foi interessante a fusão do Itaú com o Unibanco. Tenho acompanhado a discussão pela qual o Banco do Brasil deveria absorver outras instituições bancárias para conquistar o tamanho Itaú+Unibanco, que justificou seu matrimônio para fazer frente ao Santander (que, no Brasil, cresceu pela proibição de o Banco do Brasil adquirir o Banespa). Quero, independente do mérito das aquisições que o Banco do Brasil venha a fazer, votar a favor de uma "holding financeira" que integre as operações do Banco do Brasil com as da Caixa Econômica; que recupere, para o Banco do Brasil, as atividades de Banco Postal, nas quais foi pioneiro. Isto seria percebido pelo povo e pelo setor empresarial como o nascimento de um complexo bancário de porte.
As operações perdedoras dos bancos privados não devem ser transferidas a critério do Banco Central calçado nos superpoderes da MP 443. O banco privado perdedor não pode quebrar, mas os seus donos não podem migrar para Miami ou Cayman. Se a previdência complementar estiver acumulando perdas patrimoniais por operações em renda variável, cabe rediscutir o tema e fazê-lo retornar ao âmbito do sistema previdenciário oficial.
A crise já está castigando - e vai castigar - uma quantidade imensa de pessoas que não têm culpa nem participação na financeirização. O modo de defendê-las é discutindo um projeto nacional para o Brasil. Porque não creio que exista no mundo - a não ser no BC brasileiro - possibilidade de retorno à globalização financeira do passado.
Carlos Lessa é professor-titular de economia brasileira da UFRJ. Escreve mensalmente às quartas-feiras. E-mail: carlos-lessa@oi.com.br


The New Deal Didn’t Always Work, Either
Tyler Cowen is a professor of economics at George Mason University. More Articles in Business » A version of this article appeared in print on November 23, ...
November 23, 2008 - By TYLER COWEN - Business
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2008/11/24/ult574u8976.jhtm
24/11/2008O New Deal nem sempre funcionou
Tyler CowenMuitas pessoas estão se voltando para a Grande Depressão e para o New Deal em busca de respostas para os nossos problemas atuais. Mas apesar de podermos aprender lições importantes com esse período, nem sempre são aquelas ensinadas na escola.
A história tradicional ensina que o presidente Franklin D. Roosevelt salvou o capitalismo usando uma intervenção extensiva do governo; a verdade é que Roosevelt mudou de rumo a cada ano, experimentando uma série de políticas, algumas boas e outras ruins. Vale à pena examinar essa miscelânea agora, para avaliar se alguma dessas políticas pode ser útil.
Se eu fosse preparar uma "cola sobre o New Deal", começaria com as seguintes lições:
Política Monetária é fundamental
Conforme Milton Friedman e Anna Jacobson Schwartz argumentaram no clássico livro "A Monetary History of the United States" ["Uma História Monetária dos Estados Unidos"], a principal causa da Grande Depressão foi que o Federal Reserve [banco central dos EUA] deixou que o suprimento de dinheiro caísse em um terço, provocando a deflação.
Além disso, permitiu que os bancos falissem, causando uma crise de crédito. As melhores políticas de Roosevelt foram aquelas destinadas a aumentar o suprimento de dinheiro, colocar o sistema bancário de pé e restaurar a confiança nas instituições financeiras.
Um estudo sobre os anos 30 feito por Christina D. Romer, professora da Universidade da Califórnia, Berkeley, ("What Ended the Great Depression?" ["O que acabou com a Grande Depressão"], Jornal de História Econômica, 1992), confirma que a política monetária expansionista foi a chave para a recuperação parcial dos anos 30. Os piores anos da política do New Deal foram 1937 e 1938, logo depois que o Fed aumentou as exigências de reservas para os bancos, inibindo os empréstimos e levando a economia de volta para perigosas pressões deflacionárias.
Hoje, a política monetária expansionista não é tão fácil de ser aplicada, uma vez que estamos vendo uma diminuição no crédito e uma contração da "sombra do setor bancário", representada por vários tipos de comércio de derivativos, fundos hedge e outros investimentos. Então não espere que os benefícios da expansão monetária venham logo, ou até mesmo daqui a seis meses.
Ainda assim, o Fed precisa estar pronto para evitar uma espiral descendente e para estimular a economia assim que seja possível.
Fazer as pequenas coisas direito
Não são apenas as políticas monetária e fiscal que são importantes. Roosevelt deixou um legado desastroso de subsídios agrícolas e quis cartelizar a indústria, apoiado pela força da lei. Nada disso ajudou a recuperação da economia.
Ele também tomou atitudes para fortalecer os sindicatos e para manter os salários reais mais altos. Isso ajudou os trabalhadores que tinham emprego, mas tornou muito mais difícil para os desempregados voltarem ao trabalho. Como resultado, as taxas de desemprego permaneceram altas durante todo o período do New Deal.
Hoje, o presidente-eleito Barack Obama enfrenta pressões para facilitar a sindicalização, mas essas políticas irão provavelmente piorar a recessão para muitos americanos.
Não aumente os impostos de uma vez
O legado de programas públicos do New Deal deixou muitas pessoas com a impressão de que era uma época de política fiscal expansionista, mas isso não é exatamente verdade. Os gastos do governo cresceram consideravelmente, mas os impostos aumentaram também. Sob o comando do presidente Herbert Hoover e depois com Roosevelt, o governo federal aumentou os impostos sobre a renda, sobre produção e consumo, sobre heranças, sobre ganhos corporativos, e manteve os impostos sobre as companhias e sobre o "lucro excessivo".
Quando todos esses aumentos de impostos são levados em conta, a política fiscal do New Deal não fez muito para promover a recuperação.Hoje, um corte de impostos para a classe média é uma boa idéia - e o motivo para rejeitar o corte de impostos de Bush para os mais ricos é hoje mais fraco do que poderia parecer há um ano ou dois.
A guerra não é a arma
A Segunda Guerra Mundial não ajudou a economia americana. Os lucros vieram nos estágios iniciais, quando os EUA estavam apenas vendendo bens relacionados com a guerra para a Europa e ainda não haviam entrado no combate. O historiador econômico Robert Higgs, membro sênior do Instituto Independente, mostrou em seu livro de 2006, "Depression, War, and Cold War" ["Depressão, Guerra e Guerra Fria"], o quanto que a guerra promoveu a falta e o racionamento de bens de consumo.
Apesar de a produção geral da economia ter aumentado, e o alistamento militar ter diminuído o desemprego, de modo geral, os anos de guerra não são um período próspero. No que diz respeito aos dias de hoje, não deveríamos pensar que fazer guerra seja uma forma de restaurar a saúde econômica.
Você não pode transformar o mal em bem
As boas políticas do New Deal, como a construção de uma rede de segurança social básica, fizeram sentido por si só e teriam sido desejáveis também durante a expansão dos anos 20. As políticas ruins deixaram as coisas piores. Hoje, isso significa que deveríamos restringir medidas extraordinárias ao setor financeiro o máximo possível e evitar a tentação de "fazer algo" para o seu próprio bem.
Resumindo, a política de expansão monetária e as encomendas de guerra vindas da Europa, e não as bem conhecidas políticas do New Deal, tiveram um papel maior para fazer a economia dos EUA sair do buraco da Depressão. Nossa crise atual também irá acabar um dia, e, assim como nos anos 30, a recuperação provavelmente virá de razões que têm pouco a ver com a maioria das iniciativas políticas.
*Tyler Cowen é professor de economia na Universidade George Mason Tradução: Eloise De Vylder
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AGENDA PARA BRETTON WOODS II - Taxa Tobin, combate à pobreza e à destruição ambiental.




Bretton Woods II?



Financial Crisis - A new Bretton Woods?

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LUIZ GONZAGA BELLUZZOAutonomia ou soberania?
A crise mostrou que, sem regulação, a instabilidade do crédito se esgueira na sombra da estabilidade monetária
NO DIA 9 deste mês a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado promoveu audiência para tratar de projetos de lei que tratam da autonomia do Banco Central. Encarregado de uma das exposições -a outra ficou a cargo de Joaquim Levy-, cuidei de rever a vasta e variada literatura sobre o tema.
A badalada trinca Gilli, Masciandaro e Tambellini (GMT) construiu índices para avaliar o grau de autonomia política e econômica dos BCs em 18 países da OCDE. Nesse âmbito, o grau máximo é atingido se respeitados os seguintes critérios (vou resumir): 1) o presidente é indicado sem o envolvimento do governo para um mandato de prazo superior a cinco anos; 2) os diretores também são indicados sem intervenção do governo, com mandatos de mais de cinco anos; 3) não há participação de representante do governo na diretoria; 4) a formulação da política monetária não está submetida à aprovação do governo; 5) a tarefa precípua do BC é perseguir a estabilidade monetária (ou seja, não é recomendável que o BC assuma outras funções, como a supervisão das instituições financeiras ou o crescimento); 6) os conflitos entre o governo e o BC são resolvidos por dispositivos legais que fortalecem a posição da instituição diante do governo.
No livro "La Monnaie Souveraine", os economistas Michel Aglietta e André Orléan definem a existência de três lógicas articuladas que sustentam a reprodução da ordem monetária enquanto dimensão essencial da ordem social: a confiança hierárquica, a confiança metódica e a confiança ética. A confiança hierárquica é administrada pelo BC, que anuncia as normas de gestão da moeda e é responsável pela emissão do meio de pagamento final.
A confiança metódica opera no âmbito da segurança das relações interindividuais e regula a prática rotineira dos atos que reproduzem a ordem monetária, sobretudo os pagamentos das dívidas nascidas do seu funcionamento. A confiança ética diz respeito ao caráter universal dos direitos da pessoa humana.
A política de metas de inflação supõe que o mercado e o Banco Central jogam a partida estratégica da "construção da confiança e da reputação". Os banqueiros centrais estão comprometidos a estabilizar as expectativas dos agentes formadores de preços mediante a comunicação adequada de suas decisões e do manejo dos juros de curto prazo. Sob os auspícios da hipótese dos mercados eficientes, os banqueiros centrais garantiam que, uma vez alcançada a estabilidade monetária, estaria assegurada a estabilidade financeira. A crise atual, no entanto, demonstrou que, na ausência de regulação e de supervisão competentes, a instabilidade do sistema de crédito se esgueira nas sombras da estabilidade monetária.
Em tempo: o economista Gabriel Galípollo sugeriu que os critérios de autonomia relacionados acima sejam absorvidos por uma regra única, definitiva e de interpretação não-ambígua. Ela rezaria o seguinte: "O presidente do Banco Central é eleito por seus pares do mercado e indica o presidente da República de sua livre escolha".
LUIZ GONZAGA BELLUZZO , 66, é professor titular de Economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).

E agora, por um governo mundial
Por Gideon Rachman
30/12/2008
Jamais acreditei que existisse uma conspiração secreta das Nações Unidas para tomar o poder nos EUA. Jamais vi helicópteros negros pairando sobre os céus de Montana. Mas, pela primeira vez na vida, acredito que a formação de algum tipo de governo mundial seja plausível.
Um "governo mundial" envolveria muito mais do que cooperação entre países. Seria uma entidade com características semelhantes a dos Estados, apoiada por um conjunto de leis. A União Européia (UE) já constituiu um governo continental para 27 países, e poderia servir de modelo. A UE possui uma suprema corte, uma moeda, milhares de páginas de legislação, um vasto serviço público e a capacidade de acionar força militar.
Poderia, então, o modelo europeu se tornar global? Existem três motivos para acreditar que sim.
Primeiro, está ficando cada vez mais claro que os temas mais difíceis enfrentados pelos governos nacionais são internacionais na sua natureza: há um aquecimento global, uma crise financeira global e uma "guerra global contra o terror".
Segundo, ele seria praticável. As revoluções nos transportes e nas comunicações encolheram o mundo de tal forma que, como escreveu Geoffrey Blainey, um eminente historiador australiano, "pela primeira vez na história humana um governo mundial de algum tipo é agora possível".
Blainey antevê uma tentativa de formar um governo mundial em algum momento nos próximos dois séculos, o que é um horizonte de tempo extraordinariamente longo para uma típica coluna de jornal.
Mas - o terceiro ponto - uma mudança na atmosfera política indica que a "governança global" poderia vir muito antes do que isso. A crise financeira e a mudança climática estão pressionando os governos nacionais na direção de soluções globais, mesmo em países como China e EUA, que são ardorosos guardiões tradicionais da soberania nacional.
Barack Obama, o presidente eleito dos Estados Unidos, não compartilha o desdém do governo Bush por acordos e tratados internacionais. No seu livro "Audácia da Esperança", ele argumentou: "Quando a única superpotência do mundo restringe voluntariamente o seu poder e obedece aos padrões de conduta internacionalmente acordados, ela transmite uma mensagem, de que compensa seguir estas regras". A importância que Obama atribui a isso é visível no fato de ter nomeado Susan Rice, uma de suas assistentes mais próximas, como embaixadora dos EUA para a ONU, e de lhe ter dado um assento no governo.
Uma prova das idéias que transitam nos círculos de Obama é oferecida por um relato recente elaborado pelo projeto "Managing Global Insecurity" (MGI - Administrando a Insegurança Global), cujo pequeno grupo consultor dos EUA inclui John Podesta, o homem que chefia a equipe de transição de Obama, e Strobe Talbott, o presidente do Brookings Institution, de onde Rice despontou recentemente.
O MGI defende a criação de um alto comissariado das Nações Unidas para atividades antiterroristas, um acordo de mudança climática juridicamente vinculante negociado sob os auspícios da ONU e a criação de uma força de manutenção da paz da ONU de 50 mil soldados. Assim que os países se comprometerem a enviar tropas para este exército de reserva, a ONU terá o direito de convocá-las.
Estes são os tipos de idéias que fazem as pessoas buscarem os seus rifles no coração da América dos programas de rádio ao vivo. Consciente da sensibilidade política das suas idéias, o relatório da MGI opta por um discurso tranqüilizador. Ele ressalta a necessidade de haver uma liderança americana e usa o termo "soberania responsável", ao apelar para a cooperação internacional, em vez da frase de tom mais radical preferida na Europa, a "soberania compartilhada". Ele também fala sobre "governança global", em vez de governo mundial.
Alguns pensadores europeus, porém, acreditam que entendem o que está acontecendo. Jacques Attali, um assessor do presidente da França, Nicolas Sarkozy, argumenta que "a governança global é apenas um eufemismo para governo global". Para ele, alguma forma de governo global não poderá vir tão cedo. Attali acredita que "o núcleo da crise financeira internacional é que temos mercados financeiros globais e nenhum regime jurídico global".
Portanto, aparentemente tudo está no seu lugar. Pela primeira vez desde que o Homo Sapiens começou a rabiscar nas paredes das cavernas, existe um argumento, uma oportunidade e um meio para tomar sérias providências na direção de um governo mundial.
Mas não nos deixemos exaltar. Embora pareça viável que algum tipo de governo mundial possa surgir ao longo do próximo século, qualquer pressão por "governança global" aqui e agora será um processo lento e penoso.
Existem motivos bons e ruins para tanto. Os ruins são a falta de vontade e determinação da parte dos líderes políticos nacionais, que, apesar de gostarem de falar sobre "um planeta em perigo", no fundo continuam muito mais concentrados nas suas próximas eleições, na sua terra natal.
Este problema, porém, faz menção a um motivo muito mais positivo, que explica por que o progresso rumo à governança global acontecerá em ritmo lento. Mesmo na UE, o centro geográfico do governo internacional baseado em leis, a idéia continua impopular. A UE sofreu uma série de derrotas humilhantes em referendos, quando planos para uma "união ainda mais estreita" foi referendada pelos eleitores. De forma geral, a União avançou em ritmo mais acelerado quando acordos abrangentes foram acertados por tecnocratas e políticos e depois tramitaram sem referência direta aos eleitores. A governança internacional tende a ser eficaz apenas quando é antidemocrática.
Os problemas políticos mais prementes podem de fato ser internacionais na sua natureza, mas a identidade política do cidadão comum continua sendo teimosamente local. Até que alguém resolva este problema, este plano de governo mundial poderá ter de ficar trancado em algum cofre na ONU.
Gideon Rachman é colunista do Financial Times.
To make a long story short, Washington consensus was a set of mantra-like rules that made good economic policy in the past 20 years. Then the rules begin to change, as nicely summarized by Dani Rodrik in his 2006 paper , Good bye Washington consensus, hello Washington confusion.
The ten commandments of Washington consensus were:
1. Fiscal discipline 2. Reorientation of public expenditures 3. Tax reform 4. Financial liberalization 5. Unified and competitive exchange rates 6. Trade liberalization 7. Openness to FDI 8. Privatization 9. Deregulation 10.Secure Property Rights
First commandment was worshiped, celebrated and cherished. When an emerging market country faced financial crisis, IMF has always recommended to cut fiscal deficit by cutting spending, which often if not always led to severe recession. No wonder, if you go out today on the street in Jakarta and scream I am from IMF you will be lynched.
However, this is a distant past. IMF has just released its crisis user manual, that explains what countries should do to reduce the crisis impact on the real economy. Brief excetutive summary in below:
“The optimal fiscal package should be timely, large, lasting, diversified, contingent, collective,and sustainable: timely, because the need for action is immediate; large, because the current and expected decrease in private demand is exceptionally large; lasting because the downturn will last for some time; diversified because of the unusual degree of uncertainty associated with any single measure; contingent, because the need to reduce the perceived probability of another “Great Depression” requires a commitment to do more, if needed; collective, since each country that has fiscal space should contribute; and sustainable, so as not to lead to a debt explosion and adverse reactions of financial markets. Looking at the content of the fiscal package, in the current circumstances, spending increases, and targeted tax cuts and transfers, are likely to have the highest multipliers. General tax cuts or subsidies, either for consumers or for firms, are likely to have lower multipliers”.
In less technical language it reads: Spend, spend, spend. Subsidize, subsidize, subsidize. Taxes cut, cut, cut. FAST.
In detail IMF recommends for example expanding social safety nets in countries where such nets are limited, or giving tax credit to those consumers that are credit constrained (read my lips, to those that used 10 credit cards and can’t repay today). I am not saying that these proposals are wrong, but I did notice that IMF threw Washington consensus manual to the garbage and is writing a new one. We have just seen first few chapters, but a lot remains to be written. IMF recognizes dangers of massive fiscal easing, take a look at the following two quotes:
“Financial markets do not seem, at present, overly concerned about medium-term sustainability in the largest advanced countries, though there has been some widening of borrowing costs within the euro zone that likely reflect sustainability concerns. This is however limited comfort, as markets often react late and abruptly. Thus, a fiscally unsustainable path can eventually lead to sharp adjustments in real interest rates, and these in turn can destabilize financial markets and undercut recovery prospects […].
“What can be done to avoid this danger? The following features can help:
* Implementing mostly measures that are reversible or that have clear sunset clauses contingent on the economic situation;
* Implementing policies that eliminate distortions (e.g., financial transaction taxes);
* Increasing the scope of automatic stabilizers that, by their nature, are countercyclical;[…]
* Providing more robust medium-term fiscal frameworks. These should cover a period of four to five years and ideally include: accurate and timely projections of government revenues and expenditures; a government balance sheet reporting data on government assets and liabilities; a statement of contingent liabilities and other fiscal risks; and transparent arrangements for monitoring and reporting fiscal information for central and subnational government, other public sector entities, and central bank quasi-fiscal operations, on a regular and timely basis. Such frameworks should be designed to give confidence that increases in public debt resulting from the stimulus are eventually offset;
* Strengthening fiscal governance. For example, independent fiscal councils could help monitor fiscal developments, thus increasing fiscal transparency, and could also advise on specific short-term policies or medium-term budgetary frameworks, to reduce the public’s perception of possible political biases; and
* Improving expenditure procedures to ensure that stepped-up public works spending is well directed to raise long-term growth (and tax-raising) potential.
IMF also goes outside the box (which is good) and recommends several activities to cope with the credit crunch:
“One of the characteristics of the current financial crisis is an extreme shift in investors’ preferences towards liquid treasury bills and away from private assets. To the extent that the state is in a better position than private investors to buy and hold these private assets, it may want to do so, in effect, partly replacing the private sector in financial intermediation. In the U.S. context, the government could issue treasury bills and use the funds to provide financing for some of the ultimate borrowers. The issue is clearly that the public sector does not have a comparative advantage in evaluating credit risk, nor in administering a diverse portfolio of assets. A possible solution may be to outsource the management of the banking activities to a private entity.”

* In the present environment of extreme uncertainty, there may be a high private value to delaying consumption and investment decisions until part of the uncertainty is resolved. Equally important, banks may delay their decisions on which projects to finance for similar reasons.
* In this context, the government could provide insurance against extreme recessions by offering contracts, with payment, for example, contingent on GDP growth falling below some threshold level. Banks could condition loan approvals on firms having purchased such insurance from the government. This is analogous to the flood insurance that mortgage companies often require from borrowers. While such contracts would most likely be attractive to firms, which suffer disproportionately during large recessions, they could be open to individuals as well. Widespread use of such contracts would provide an additional automatic stabilizer because payments would be made when they are most needed, namely in bad times. Such a market would also provide a market-based view of future output and the likelihood of severe shocks. (GDP-linked bonds, which have been discussed in the academic literature for some time, would also go some way towards the same goal.)
* An obvious worry about such a scheme is counterparty risk, i.e., that the government may not be able or willing to honor its obligations. The contingent liabilities created by providing insurance should be included appropriately in the budget and should be taken into consideration when calculating medium-run fiscal sustainability.”
There is also a long list of to-do list and avoid-to-do list. A very interesting reading, highly recommended to policy-makers. It remains to be seen whether Obama economic dream team will use these recommendations. What IMF is missing completely, is focus on intellectual assets, issue raised in two previous posts.
This entry was posted on Tuesday, December 30th, 2008
Op-Ed Contributors
By MICHAEL LEWIS and DAVID EINHORN
Published: January 3, 2009
AMERICANS enter the New Year in a strange new role: financial lunatics. We’ve been viewed by the wider world with mistrust and suspicion on other matters, but on the subject of money even our harshest critics have been inclined to believe that we knew what we were doing. They watched our investment bankers and emulated them: for a long time now half the planet’s college graduates seemed to want nothing more out of life than a job on Wall Street.
This is one reason the collapse of our financial system has inspired not merely a national but a global crisis of confidence. Good God, the world seems to be saying, if they don’t know what they are doing with money, who does?
Incredibly, intelligent people the world over remain willing to lend us money and even listen to our advice; they appear not to have realized the full extent of our madness. We have at least a brief chance to cure ourselves. But first we need to ask: of what?
To that end consider the strange story of Harry Markopolos. Mr. Markopolos is the former investment officer with Rampart Investment Management in Boston who, for nine years, tried to explain to the Securities and Exchange Commission that Bernard L. Madoff couldn’t be anything other than a fraud. Mr. Madoff’s investment performance, given his stated strategy, was not merely improbable but mathematically impossible. And so, Mr. Markopolos reasoned, Bernard Madoff must be doing something other than what he said he was doing.
In his devastatingly persuasive 17-page letter to the S.E.C., Mr. Markopolos saw two possible scenarios. In the “Unlikely” scenario: Mr. Madoff, who acted as a broker as well as an investor, was “front-running” his brokerage customers. A customer might submit an order to Madoff Securities to buy shares in I.B.M. at a certain price, for example, and Madoff Securities instantly would buy I.B.M. shares for its own portfolio ahead of the customer order. If I.B.M.’s shares rose, Mr. Madoff kept them; if they fell he fobbed them off onto the poor customer.
In the “Highly Likely” scenario, wrote Mr. Markopolos, “Madoff Securities is the world’s largest Ponzi Scheme.” Which, as we now know, it was.
Harry Markopolos sent his report to the S.E.C. on Nov. 7, 2005 — more than three years before Mr. Madoff was finally exposed — but he had been trying to explain the fraud to them since 1999. He had no direct financial interest in exposing Mr. Madoff — he wasn’t an unhappy investor or a disgruntled employee. There was no way to short shares in Madoff Securities, and so Mr. Markopolos could not have made money directly from Mr. Madoff’s failure. To judge from his letter, Harry Markopolos anticipated mainly downsides for himself: he declined to put his name on it for fear of what might happen to him and his family if anyone found out he had written it. And yet the S.E.C.’s cursory investigation of Mr. Madoff pronounced him free of fraud.
What’s interesting about the Madoff scandal, in retrospect, is how little interest anyone inside the financial system had in exposing it. It wasn’t just Harry Markopolos who smelled a rat. As Mr. Markopolos explained in his letter, Goldman Sachs was refusing to do business with Mr. Madoff; many others doubted Mr. Madoff’s profits or assumed he was front-running his customers and steered clear of him. Between the lines, Mr. Markopolos hinted that even some of Mr. Madoff’s investors may have suspected that they were the beneficiaries of a scam. After all, it wasn’t all that hard to see that the profits were too good to be true. Some of Mr. Madoff’s investors may have reasoned that the worst that could happen to them, if the authorities put a stop to the front-running, was that a good thing would come to an end.
The Madoff scandal echoes a deeper absence inside our financial system, which has been undermined not merely by bad behavior but by the lack of checks and balances to discourage it. “Greed” doesn’t cut it as a satisfying explanation for the current financial crisis. Greed was necessary but insufficient; in any case, we are as likely to eliminate greed from our national character as we are lust and envy. The fixable problem isn’t the greed of the few but the misaligned interests of the many.

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Michael Lewis, a contributing editor at Vanity Fair and the author of “Liar’s Poker,” is writing a book about the collapse of Wall Street. David Einhorn is the president of Greenlight Capital, a hedge fund, and the author of “Fooling Some of the People All of the Time.” Investment accounts managed by Greenlight may have a position (long or short) in the securities discussed in this article.
Op-Ed Contributors
By MICHAEL LEWIS and DAVID EINHORN
Published: January 3, 2009
Continued from "The End of the Financial World As We Know It"
Mr. Paulson must have had some reason for doing what he did. No doubt he still believes that without all this frantic activity we’d be far worse off than we are now. All we know for sure, however, is that the Treasury’s heroic deal-making has had little effect on what it claims is the problem at hand: the collapse of confidence in the companies atop our financial system.
Weeks after receiving its first $25 billion taxpayer investment, Citigroup returned to the Treasury to confess that — lo! — the markets still didn’t trust Citigroup to survive. In response, on Nov. 24, the Treasury handed Citigroup another $20 billion from the Troubled Assets Relief Program, and then simply guaranteed $306 billion of Citigroup’s assets. The Treasury didn’t ask for its fair share of the action, or management changes, or for that matter anything much at all beyond a teaspoon of warrants and a sliver of preferred stock. The $306 billion guarantee was an undisguised gift. The Treasury didn’t even bother to explain what the crisis was, just that the action was taken in response to Citigroup’s “declining stock price.”
Three hundred billion dollars is still a lot of money. It’s almost 2 percent of gross domestic product, and about what we spend annually on the departments of Agriculture, Education, Energy, Homeland Security, Housing and Urban Development and Transportation combined. Had Mr. Paulson executed his initial plan, and bought Citigroup’s pile of troubled assets at market prices, there would have been a limit to our exposure, as the money would have counted against the $700 billion Mr. Paulson had been given to dispense. Instead, he in effect granted himself the power to dispense unlimited sums of money without Congressional oversight. Now we don’t even know the nature of the assets that the Treasury is standing behind. Under TARP, these would have been disclosed.
THERE are other things the Treasury might do when a major financial firm assumed to be “too big to fail” comes knocking, asking for free money. Here’s one: Let it fail.
Not as chaotically as Lehman Brothers was allowed to fail. If a failing firm is deemed “too big” for that honor, then it should be explicitly nationalized, both to limit its effect on other firms and to protect the guts of the system. Its shareholders should be wiped out, and its management replaced. Its valuable parts should be sold off as functioning businesses to the highest bidders — perhaps to some bank that was not swept up in the credit bubble. The rest should be liquidated, in calm markets. Do this and, for everyone except the firms that invented the mess, the pain will likely subside.
This is more plausible than it may sound. Sweden, of all places, did it successfully in 1992. And remember, the Federal Reserve and the Treasury have already accepted, on behalf of the taxpayer, just about all of the downside risk of owning the bigger financial firms. The Treasury and the Federal Reserve would both no doubt argue that if you don’t prop up these banks you risk an enormous credit contraction — if they aren’t in business who will be left to lend money? But something like the reverse seems more true: propping up failed banks and extending them huge amounts of credit has made business more difficult for the people and companies that had nothing to do with creating the mess. Perfectly solvent companies are being squeezed out of business by their creditors precisely because they are not in the Treasury’s fold. With so much lending effectively federally guaranteed, lenders are fleeing anything that is not.
Rather than tackle the source of the problem, the people running the bailout desperately want to reinflate the credit bubble, prop up the stock market and head off a recession. Their efforts are clearly failing: 2008 was a historically bad year for the stock market, and we’ll be in recession for some time to come. Our leaders have framed the problem as a “crisis of confidence” but what they actually seem to mean is “please pay no attention to the problems we are failing to address.”
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20 January 2009
2008 was the year of asymmetric financial shocks for the Eurozone, but 2009 will be the year of the symmetric economic shock. All of Europe is slipping simultaneously towards recession and the threat of deflation. Here one of the world’s leading international economists explains that a common monetary policy response is optimal. Euro interest rates should be cut to zero and quantitative easing undertaken, all complemented by fiscal expansion by Eurozone nations that can afford it. What started as the euro’s greatest challenge could be its salvation, but only if policy makers act swiftly.
What started as the Subprime Crisis in 2007 and morphed in the Global Credit Crisis in 2008 has become the Euro Crisis in 2009. Sober people are now contemplating whether a euro area member such as Greece might default on its debt. In addition to directly damaging bank balance sheets, this would destroy confidence in its banking and financial system. Unable to borrow and facing horrific bank recapitalisation costs, the country would have to print money. To do so it would have to abandon the euro and reinstate its old national currency.
As not a few critics – from Willem Buiter to Wolfgang Munchau to yours truly – have observed, the previous paragraph is rife with dubious premises and logical non-sequiturs. To start with, that Greece will be allowed to default is questionable. There is an alternative, namely fiscal retrenchment, wage reductions, and assistance from the EU and the IMF for the cash-strapped government.
To be sure, this alternative will be excruciatingly painful. No one will like it except possibly the IMF, which will relish the opportunity of reasserting its role as lender to developed countries. There will be demonstrations against the fiscal cuts and wage reductions. Politicians will lose support and governments will fall. The EU will resist providing financial assistance for its more troublesome members.
But, ultimately, everyone will swallow hard and proceed, much as the US Congress, having played rejectionist once, swallowed hard and passed the $700 billion bank bailout bill when disaster loomed.
Admittedly, if the current crisis has taught us one thing, it is that we should not underestimate the ability of politicians to get it wrong. But even the most blinkered politicians will see what is at stake here. Investors would flee en masse from the banks and markets of a country that contemplated abandoning the euro (Eichengreen 2007). No matter how serious the crisis, politicians will realise that attempting to jettison the euro will only make it worse.
Another lesson of the crisis is that financial shocks can spread unpredictably. No one knows whether or not a Greek default would cause Irish and Italian bond prices to collapse, precipitating full-fledged debt and banking crises there. But no one wants to find out. In the end, the EU will overcome its bailout aversion.
Euro adoption is irreversible: Was it a mistake?
The euro area will hang together, in other words, because the decision to enter is essentially irreversible. Getting out is impossible without precipitating the most serious imaginable financial crisis – something that no government is prepared to risk.
But then was the mistake getting in the first place? Opponents of monetary union founded their arguments on asymmetric shocks. They argued that adverse shocks affecting some members but not others were so prevalent that locking them into a single monetary policy was reckless. If those asymmetric shocks hit heavily-indebted countries, then the latter would also have no capacity to deploy fiscal policy in stabilising ways. Absent coping mechanisms like a system of inter-state transfers, the only option would be a grinding deflation and years of double-digit unemployment. More prudent would have been to allow such countries to retain the option of pushing down the exchange rate instead of pushing down wages. Desperately needed improvements in competitiveness would then be more easily engineered. This is the “daylight-savings-time argument” for exchange rate flexibility.
Part of what we have seen is clearly an asymmetric financial shock. Countries like Greece with debt and deficit problems have been singled out by investors who are now fleeing everything that emits the slightest whiff of risk. Similarly, the countries with the biggest housing bubbles, such as Ireland and Spain, are now suffering the most serious slumps as their bubbles deflate and problems ramify through their financial systems. It is their bond spreads that have shot up. It is there where output has slumped most sharply and where the need for wage reductions is most dramatic. The only mystery is why it took investors so long to focus on their problems – why were they not singled out six months or a year ago?
Asymmetric financial shock, symmetric economic shock
But the more days pass, the more it becomes evident that the truly big event is the negative economic shock affecting the entire euro area. Different euro area members may have felt financial disturbances to a different extent, but they are all now experiencing the economic disturbance in the same way – they are all seeing growth collapse. Germany, which thought itself immune from the economic crisis, is now seeing its exports slump and unemployment rise. The rise in unemployment may be small so far, but it is the tip of the iceberg. And there is no longer any doubt about how much ice lies just below the surface.
This shock is symmetric – it is affecting all euro area members. In turn this means that a common monetary policy response is appropriate. There will now be mounting pressure for the ECB to cut interest rates to zero, move to quantitative easing, and allow the euro exchange rate to weaken. (This last part of the adjustment is already beginning to happen without the ECB having to do anything about it.) Now that recession and deflation loom across the euro area, this is a response on which all members should be able to agree. It can be complemented by fiscal stimulus. If countries in a relatively strong budgetary position, like Germany, are in the best position to apply it, all the better; the result will be help from outside for their more heavily indebted, cash-strapped neighbours who need it most.
What the ECB should do
Of course, this assumes – to return to an earlier theme – that policy makers do the right thing. The ECB will have to abandon its fixation with inflation, cut rates to zero, and proceed with quantitative easing. Germany will have to abandon its deficit phobia and apply the fiscal stimulus that it and the larger euro area so desperately need. After wallowing in denial, both are now moving in the requisite direction. But there is no time to waste.
If 2008 was the year of the asymmetric financial shock, then 2009 is the year of the symmetric economic shock. In the same way that the former should have been the year of the euro’s greatest jeopardy, the latter can be the year of its salvation. But for this to be true, policy makers must act.
References
Eichengreen (2007). “Eurozone break-up would trigger the mother of all financial crises”, VoxEU.org, 19 November 2007.This article may be reproduced with appropriate attribution. See Copyright (below).

28/04/2009 - 07h00
Iniciativas para substituir o dólar por uma nova moeda global refletem a "ascensão do resto", diz Stiglitz
Nathan GardelsDo Global Viewpoint
Joseph Stiglitz, ex-economista-chefe e ex-vice-presidente econômico do Banco Mundial, recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2001. Ele concedeu uma entrevista ao editor de "Global Viewpoint Network", Nathan Gardels, na segunda-feira, 20 de abril.
Nathan Gardels - O ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Hank Paulson, argumentou que uma dinâmica fundamental da bolha de crédito residia na disponibilidade maciça de liquidez chinesa para os Estados Unidos, com o investimento dos dólares de reserva da China em securities do governo norte-americano. Isso manteve baixas as taxas de juros de longo prazo, tornando o crédito fácil e também fazendo com que os investidores "procurassem rendimentos" em instrumentos mais exóticos. Você concorda com essa análise?
Joseph Stiglitz - Sim e não. É verdade que as poupanças chinesas fluíam maciçamente para os Estados Unidos e, obviamente, as taxas de juros nos Estados Unidos foram afetadas - mas de forma alguma determinadas - por isso. O nível geral elevado de liquidez poderia ter sido revertido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que tem o poder de modificar as taxas de juros. Ele poderia ter elevado essas taxas a fim de desacelerar a bolha provocada pela fácil expansão de crédito.
Geralmente, uma abundância de poupança é um fato excelente, e não um problema. A disponibilidade de dinheiro barato é uma das bases para um forte crescimento econômico. O problema é que o sistema financeiro norte-americano não fez aquilo que deveria ter feito - gerenciar o risco e dirigir o capital para as atividades produtivas. Nós literalmente dissipamos esse dinheiro e agora estamos pagando o preço. Mas é absurdo culpar os chineses por isso.
Gardels - Dentre os vários desafios com os quais Obama se depara, o mais difícil não seria a correção deste desequilíbrio de poupança versus consumo entre Estados Unidos e China?
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