20/01/2010
Fim do idílio: o primeiro ano do governo Obama [Final de idilio]
Antonio Caño
Ao se completar um ano da presidência Obama, a excitação se diluiu e prevalece um sentimento de oportunidade perdida. Mas o saldo de sua gestão é favorável: os EUA estão em melhor situação hoje do que em janeiro de 2009, e o novo governo recuperou prestígio e autoridadeToda explosão de paixão, individual ou coletiva, termina na saudade, frequentemente na decepção e, tudo o mais, na calma. ... .... .... ... .... ... ..
22/01/2010
Primeiro ano na Casa Branca: um sucesso relativo dos republicanos
Antonio CañoEm Washington
O verdadeiro vencedor é o radicalismo conservador que cresce na base
A explosão de alegria com que os conservadores receberam na quarta-feira sua vitória na eleição de um representante para o Senado estadual de Massachusetts é mais que justificada em uma formação que conseguiu recuperar a iniciativa política só um ano depois de perder a presidência, mas não é a prova da boa saúde do Partido Republicano nem uma garantia de seus futuros êxitos. ... .... .... .... ... ... ....
23/01/2010
Obama deixa seu programa de reformas para se concentrar na economia
Antonio Caño
Em Washington
A derrota em Massachusetts divide os democratas e põe o Congresso contra a Casa Branca
Em meio ao fogo cruzado entre as forças que apoiam o governo - o Congresso contra a Casa Branca, os responsáveis do Executivo entre eles mesmos, os esquerdistas contra os moderados -, Barack Obama deixou em suspenso não só a reforma da saúde como outras importantes transformações previstas em seu programa para dar prioridade às medidas econômicas que servirão para acalmar a angústia do eleitorado e evitar uma próxima derrota eleitoral. ... ... ... ... ... ... .... .... .... .... ... ..
Tres Obamas y un año presidencial
JEAN-MARIE COLOMBANI
Un año en la Casa Blanca
Um ano de Obama aumenta racha nos EUA
Após promessas de união, democrata vê reanimada uma oposição que fora dada como morta depois da eleição de 2008
Eleição especial ao Senado põe em risco maior trunfo doméstico, a reforma da saúde; aprovação média só fica acima da de Clinton
SÉRGIO DÁVILADE WASHINGTON
Pragmatismo no front externo é risco no interno
Desemprego poderá ser furacão Katrina de presidente dos EUA
Democrata assume "sua guerra" e paga um alto preço por isso
Key Events During Obama's First Year in Office
By THE ASSOCIATED PRESS
Published: January 18, 2010
Timeline of important events during President Barack Obama's first year in office: ... ... ....
Barack Obama OVERVIEW
A relação dos EUA com a América Latina mudou neste primeiro ano de governo Barack Obama?
Folha de São Paulo
NÃO
Onde estão as mudanças?
Matthias Fifka
"OS TEMPOS mudaram", disse Barack Obama antes de embarcar para Cúpula das Américas, em abril de 2009, indicando sua intenção de reformular a política externa dos EUA em relação à América Latina. Levando o argumento adiante em seu discurso de abertura, Obama prometeu "um novo começo" e um relacionamento "sem parceiros seniores ou juniores". Essa promessa de mudança, que tinha sido o tema principal de sua campanha eleitoral, ecoou bem entre os estadistas latino-americanos, muitos dos quais haviam ficado profundamente desapontados com oito anos de Bush e do unilateralismo dos EUA. ... ... ... ... .. ... ... .. .. ... ... ..... ... ... .... ..... ..... .... .... ..... .... ..... .... ...
SIM
Uma nova abordagem às Américas
Eric Farnsworth
COMO MOSTROU a resposta dos EUA à crise no Haiti -maciça, imediata e sem prazo para terminar-, as mudanças chegaram à política americana em direção ao hemisfério Ocidental. Talvez as expectativas exageradamente altas ainda não tenham sido plenamente atendidas, mas, mesmo assim, é inegável que a administração Obama segue uma abordagem às Américas que é diferente da de seu predecessor. ... ... ... ... ... ... ... ... .... .... .... ... ..... .... ..... .... ... ... ... ... ... ... ... .
1 Ano de Obama
Um ano no poder: Realidade freia o ímpeto "yes, we can" do presidente
Obama está percebendo que às vezes ele 'não pode'
Edward Luce, Financial Times, de Washington
21/01/2010
Nem tudo foi como ele queria: no primeiro ano de mandato, Obama teve de enfrentar obstáculos internos e externos que limitaram o seu poder de ação
Durante o período de transição, no fim de 2008, quando Barack Obama estava se preparando para assumir o cargo, Rahm Emanuel deu uma palestra contando vantagem diante dos democratas eleitos para o Congresso. O então futuro chefe de Gabinete da Casa Branca previu que a vitória de Obama seria seguida pelo sucesso nas eleições em meio do mandato presidencial, ocasião em que o partido de um presidente geralmente toma uma surra eleitoral. As eleições em meio do mandato em 2010, assegurou a seus colegas, seriam mais parecido com as de 1934 do que com as de 1994.
Em 1934, dois anos após conquistar a Casa Branca, Franklin Roosevelt ajudou a conceber o seria o início de uma geração de domínio democrata no Congresso. Em 1994, em contrapartida, Bill Clinton foi humilhado pela onda do modelo novo republicano de Newt Gingrich, e os republicanos assumiram o controle da Câmara de Deputados pela primeira vez em 40 anos (leia mais sobre a derrota democrata na eleição para o Senado em Massachusetts à pág. A11).
Depreende-se que Emanuel estivesse proclamando que a eleição de Obama tinha inaugurado o início de um realinhamento no estilo de um New Deal - a longa era conservadora chegara ao fim. Além disso, Emanuel argumentou que um momento de grande crise é também uma oportunidade. Os democratas deveriam caminhar ousadamente rumo a um futuro progressista com um ambicioso programa legislativo. "Nunca queremos que uma crise grave seja desperdiçada", disse ele em palestra alguns dias depois.
Tanto em seu prognóstico como em sua prescrição, Emanuel expressou opiniões amplamente compartilhadas. Após um ano de primeiro mandato de Obama, a validade de cada uma delas está sendo questionado. O surgimento de uma direita "tea party" (referência um evento radical na Revolução Americana contra a taxação britânica) raivosa, que preencheu o espaço deixado vago por uma liderança republicana ausente em Washington, tem tomado as pessoas de surpresa. Longe de ser um meteorito, o movimento anti-impostos ficou mais forte, conquistando a simpatia ou o apoio de até 40% dos eleitores americanos.
Alguns democratas, provavelmente com razão, veem o movimento "tea party" como um beco eleitoral sem saída para um Partido Republicano ainda mergulhado nas fases de raiva e negação da realidade na derrota. Mas, além de sua incipiente e por vezes ofensiva paranoia cultural", pode-se afirmar que os direitistas do "tea party" capturaram o ímpeto de uma ampla reação contra o crescente papel do governo e a relação entre uma generosamente subsidiada Wall Street e as autoridades governamentais em Washington.
"Um ano atrás, aceitei o argumento de Rahm Emanuel de que havia ocorrido uma mudança fundamental na política americana", diz Vin Weber, um importante aliado conservador de George W. Bush. "Agora, acho que o quadro está muito menos claro."
David Gergen, ex-conselheiro de presidentes tanto republicanos como democratas, concorda: "Uma das lições do primeiro ano de Obama é que os EUA estão sofrendo forte nervosismo e não estão dispostos a ver um forte movimento numa direção liberal".
A defesa que Emanuel fez de promover um "big bang" na agenda legislativa - espelhando, em menor grau, as grandes reformas de Roosevelt iniciadas em sua primeira passagem no cargo - também está, agora, sendo questionada. Em algum momento nas próximas semanas Obama pode se tornar o primeiro presidente em mais de 40 anos a conseguir promover uma reforma substancial no setor de saúde. A aprovação da lei que prevê o gasto de US$ 900 bilhões em dez anos será um momento histórico no qual o governo federal trará a maioria dos americanos sem plano de saúde para dentro do sistema.
No entanto, a perspectiva deixou o eleitorado perplexo e até um pouco hostil, segundo pesquisas. Com uma taxa de desemprego de dois dígitos, há preocupações mais prementes na cabeça dos eleitores. Após um ano de barganhas nada edificantes para aprovar o plano de saúde, Obama pretende dedicar a maior parte do seu segundo ano à questão do emprego. Algumas pessoas acreditam que deveria ter sido o contrário. "Acho que Obama subestimou como a economia iria dominar tudo", diz Gergen. "Teria sido melhor que ele invertesse os anos um e dois."
Em política externa, houve também uma gradual deflação pós-euforia de expectativas, principalmente sobre o quanto Obama pode conseguir, apoiado em sua popularidade, em todo o mundo. Ele também foi alvo de uma série de choques de realidade imprevistos. Durante a campanha eleitoral, quando Obama frequentemente citou uma frase do presidente John Kennedy - "Se você quer fazer a paz, não converse com seus amigos" -, Hillary Clinton zombou da promessa de seu rival de conversar com piores ditadores do mundo.
Com exceção de um rápido encontro com o venezuelano Hugo Chávez, Obama ainda não encontrou oportunidades críveis para dialogar com os regimes mais ameaçadores do mundo: Irã e, principalmente, Coreia do Norte. Em relação a esses dois países, a abordagem de Obama representa um grau de continuidade com a fase final do período de Bush no cargo: tentativas de abertura repetidamente rejeitadas.
No entanto, ele não pode ser acusado de não ter tentado. Obama não tem tido sorte com o Irã, por exemplo, onde Mahmoud Ahmadinejad aumentou seu controle sobre o poder desde a eleição disputada em junho passado. Críticos conservadores dizem que a crescente intransigência do Irã prova o fracasso da estratégia de engajamento de Obama. Mas a realidade é mais complexa.
"Estamos claramente caminhando, na questão do Irã, da fase de engajamento para uma fase de sanções", afirmou Strobe Talbott, presidente da Brookings Institution, de Washington. "Mas, tendo tentado um engajamento e tendo sido rechaçado pelo Irã, Obama está agora em posição bem mais forte para convencer a Rússia e a China das justificativas para as sanções. É completamente errado dizer que o engajamento fracassou."
No dia de Natal, Obama foi alvo de mais um choque de realidade indesejável, com a tentativa fracassada de um jovem nigeriano de explodir um avião que rumava para Detroit. Embora o presidente tenha sido aplaudido por sua reação calma, o episódio serviu como lembrete da facilidade com que ele poderia ser consumido por uma crise, se uma tentativa semelhante tiver êxito no futuro. "Detroit nos lembrou que Obama está à distância de uma bomba de uma Presidência fracassada", disse Dick Gephardt, ex-líder da maioria democrata na Câmara. "Pode não ser justo, mas essa é a realidade."
A abordagem de Obama frente à crise financeira também mostrou surpreendente continuidade com a de Bush, que conseguiu a aprovação dos primeiros US$ 350 bilhões em fundos de socorro a bancos e iniciou a ajuda em grande parte incondicional a Wall Street. O sentido de continuidade foi sublinhada pelo fato de Obama ter selecionado Tim Geithner para substituir Henry Paulson como secretário do Tesouro. Como presidente do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) de Nova York, Geithner tinha trabalhado em estreita colaboração com Paulson na época em que a crise ganhava corpo.
Apesar do efeito colateral abominável de, em Wall Street, enriquecer ainda mais os autores do colapso financeiro, a abordagem Paulson-Geithner conseguiu evitar o colapso econômico. Mas Obama tem recebido pouco crédito de um eleitorado que há muito tempo perdeu a confiança nas instituições públicas (um indicador que não se moveu desde que ele assumiu o cargo). Em vez disso, eleitores de direita e esquerda expressaram desencanto diante do crescente fosso entre Wall Street, novamente em vigoroso crescimento, e a economia real, onde a recuperação ainda é uma abstração.
Foi revelador o fato de que , numa pesquisa recente, a proporção de americanos que dizem que seu país está no "caminho errado" cresceu de 42% em abril passado, quando a recessão estava chegando ao fim, para 55% neste mês - após um semestre de aparente recuperação.
Sente-se um desalento generalizado. Na pesquisa, surpreendentes 31% dos entrevistados dizem que perderam seu emprego ou ficaram desempregados durante um longo período no ano passado. Quase metade disse acreditar que as ações do presidente Obama não conseguiram acabar com a recessão.
"Se você sair de Washington, verá como é chocante o número de pessoas que confundem o estímulo fiscal do presidente Obama [o pacote econômico de US$ 787 bilhões aprovado um ano atrás] com o socorro do Tarp [programa de alívio para ativos problemáticos] a Wall Street", diz Dean Baker, presidente do Centro para Pesquisa Política e Econômica, entidade liberal em Washington. "São duas coisas completamente diferentes. Mas as pessoas estão confusas e têm a impressão de que há um monte de dinheiro que está sendo bombeado de Washington, e elas não estão vendo a cor dele."
Mais uma vez, os eleitores de Obama estão dando muito pouco crédito a uma injeção fiscal que, sem dúvida, ajudou a atenuar o que poderia ter sido uma recessão ainda mais profunda. Mas percepção é o que move a política, e Obama revelou-se surpreendentemente inábil para vencer a batalha de relações públicas sobre a economia. Seu pacote bastante morno de reformas para Wall Street, que apenas elipticamente tratou do problema das instituições "grande demais para quebrar", reforçou essa desilusão.
"Bill Clinton disse certa vez que, em política, é melhor ser forte e errado do que fraco e certo", diz Andy Stern, chefe do Sindicato de Trabalhadores do Setor de Serviços. Stern, segundo registros da Casa Branca, visitou o presidente mais vezes do que qualquer outra pessoa de fora do governo. "Não chegarei ao ponto de dizer que o presidente Obama está agindo de modo fraco e errado em relação à re-regulamentação de Wall Street. Mas temos uma oportunidade histórica para pressionar por mais reformas de longo alcance. E essa janela está se fechando."
Quer se trate de adversários recalcitrantes - de republicanos obstrucionistas no plano doméstico a rivais e inimigos ferrenhos dos EUA no exterior - ou de tendências recalcitrantes (especialmente na economia e na crescente dívida pública), o primeiro ano de Obama no cargo tem sido uma aula de cautela sobre os limites do poder presidencial.
Também serviu como lembrete de que não devemos levar muito ao pé da letra as promessas de campanha. Obama chegou ao poder prometendo mudanças, especialmente no modo como a política é conduzida em Washington. Ele também prometeu uma agenda diplomática revitalizadora. Ambas as promessas bateram em obstáculos e restrições que nos são familiares: a primeira, nos limites do poder de um presidente no terreno doméstico; e a segunda, na realidade do declínio da influência americana no mundo.
Seja lá o que possa ser dito sobre o desempenho predominantemente competente de Obama, pouca dúvida existe sobre o fato de ele não ter conseguido resgatar o entusiasmo que gerou na campanha eleitoral. Na verdade, Obama conduziu os Estados Unidos por alguns rumos aparentemente familiares. A estratégia de enviar mais 30 mil soldados ao Afeganistão pode ser muito diferente das ações de Bush no Iraque. Mas, assim como nos casos do Tarp e do pacote de estímulo, as duas guerras já começaram a perder nitidez na mente de muitas pessoas.
Apesar de ainda estarmos muito distantes, é provável que Obama conquiste um segundo mandato em 2012. Os republicanos são uma marca seriamente enfraquecida, e o presidente promete um foco implacável sobre a economia entre agora e o momento da eleição. Mas será um Barack Obama mais endurecido pelas batalhas e mais realista que irá aos palanques da próxima vez: um presidente que terá de fazer campanha com base em seu desempenho, mais do que em sua capacidade de inspirar.
"Não se trata tanto de "Sim, nós podemos" ("Yes, we can", o slogan da campanha eleitoral de Obama), porém mais de "estamos fazendo tudo o que podemos", diz um influente liberal defensor de Obama. "E acho que, na maioria das frentes, ele está fazendo tudo o que pode." (Tradução de Sergio Blum)
Nem maioria no Senado facilitou a vida do presidente
Financial Times
21/01/2010
Ronald Reagan disse certa vez que a política é a segunda mais velha profissão do mundo. O comportamento do Senado americano no ano passado proporcionou abundante ilustração para esse comentário de Reagan.
Diferentemente da Câmara, onde uma maioria simples é exigida, no Senado, com 100 cadeiras, há uma demanda cada vez maior por uma supermaioria de 60 votos. E, no primeiro ano, em vez de garantir um bloco confiável para a agenda de Obama, a bancada de 60 assentos animou muitos senadores democratas a se comportar como se pudessem ser reis por um dia. Os democratas perderam essa maioria com a eleição de um republicano para uma vaga aberta.
O projeto de lei de Obama para o sistema de saúde foi a principal, embora não única, baixa do frenesi "esfomeado" dos senadores.
"Em vez de ser um grupo de irmãos, os democratas no Senado transformaram-se num pelotão de fuzilamento", diz Andy Stern, importante sindicalista. "O Senado dos EUA deveria ser a maior instituição deliberativa do mundo. Mas, no ano passado, sua imagem foi de instituição de terceira categoria, palco de bate-boca de políticos interesseiros."
Alguns analistas culpam Obama por não ter enviado ao Senado um detalhamemento da lei que desejava ver aprovada. Isso, dizem eles, deu ao Senado margem de manobra para permitir que interesses especiais selecionassem o que desejavam. Entretanto, dada a natureza do Senado e de interesses diversificados da coalizão democrata, parece improvável que, se Obama tivesse sido mais preciso, isso teria feito grande diferença.
O espetáculo beirou o cômico. Em novembro, Mary Landrieu manteve refém o projeto de lei, até que Harry Reid, o lider da maioria no Senado, inseriu uma emenda de US$ 300 milhões para o Estado dela, a Louisiana. Apelidada "compra da Louisiana", em referência à aquisição - por Thomas Jefferson, por US$ 15 milhões - desse território da França em 1803, a barganha de Landrieu definiu um tom seguido por outros.
Pouco antes do Natal, Ben Nelson obteve belos US$ 100 milhões para o Nebraska nos termos da seção do projeto de lei intitulado "tratamento equitativo para determinados Estados". "Bem, você sabe, veja, eu não pedi um favor especial nesse caso", disse ele.
Por outro lado, Joe Lieberman, de Connecticut, conquistou para si apenas notoriedade quando ameaçou torpedear a legislação proposta ao combater a inclusão de uma opção já inócua de seguro-saúde público. Seu resíduo foi devidamente eliminado.
E o pior para Obama é que é quase certo que que seu partido vá perder ao menos 3 ou 4 assentos no Senado em novembro. Isso daria ainda mais poder a republicanos moderados, como Susan Collins e Olympia Snowe, do Maine, ambas também extremamente habilidosas em arrancar concessões casuísticas.
+(s)ociedade
Meio Obama
Nome central da ficção dos EUA, Russell Banks diz que, um ano após ser eleito, presidente obteve trunfos no plano interno, mas prosseguiu a política de George W. Bush na área externa
Quem esperava que Obama se revelasse um progressista determinado deve estar decepcionado
Como muitas crianças carentes criadas sem a presença paterna, Obama confia demais na autoridade dos ricos
GILLES ANQUETILFRANÇOIS ARMANET
Russell Banks é um dos mais importantes romancistas norte-americanos da atualidade. Várias obras suas já foram transpostas para o cinema, como "O Doce Amanhã" e "Temporada de Caça" -por, respectivamente, Atom Egoyan e Paul Schrader. Figura de destaque entre os progressistas dos EUA e um dos primeiros a apoiar a candidatura de Obama, Banks faz, no entanto, um balanço duro dos 12 primeiros meses do governo do democrata.
Para ele, no plano externo Obama praticamente não se distancia do governo de seu antecessor, George W. Bush. É apenas nos assuntos internos que Obama se afirma de forma mais clara -embora, segundo ele, ainda aqui de modo um pouco decepcionante.
PERGUNTA - Quais são os êxitos e os fracassos do governo Obama?
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26/01/2010
Ainda resta presidência?
Francisco G. Basterra El País
Obama será julgado por sua capacidade de reconstruir os EUA, e não o mundo
Um ano depois da explosão mundial de entusiasmo provocada pela vitória de Barack Obama, as enormes expectativas causadas pelo primeiro presidente afro-americano se transformaram em decepção. A radiante manhã gelada no Mall de Washington, diante do Capitólio, em 20 de janeiro de 2009, com a promessa do novo presidente de mudar o mundo, parece algo muito distante e inclusive irreal. Da obamania, pelo menos nos EUA, só restam as cinzas. Em um cruel paradoxo, Obama acabou de enterrar os Kennedy, com a fragorosa derrota em Massachusetts para o lugar de Ted no Senado de Washington, um Estado medularmente democrata. A reforma da saúde ainda não nascida, chave da abóbada da revolução doméstica do presidente, corre perigo. A progressiva indigenização de Obama constituiu sem dúvida um dos traços mais relevantes do ano passado. O ressonante "Sim, podemos" é hoje quase inaudível. O presidente, abandonado pela corrente central do país e também por seu próprio partido, parece desconcertado e contra-ataca utilizando o mesmo populismo de seus detratores para pôr a banca em seu lugar. ... ... ... ... .... .... ...
Obama convoca a la unidad y a resucitar la esperanza
"El pueblo norteamericano espera que seamos capaces de trabajar juntos pese a nuestras diferencias" - "No me voy a retirar ni deberían retirarse los miembros de esta Cámara", dice sobre la reforma sanitaria - Fija el empleo como prioridad
ANTONIO CAÑO Washington 28/01/2010
En el momento más difícil de su gestión, cuando su presidencia está en juego, Barack Obama convocó esta noche a los dos partidos del Congreso a trabajar juntos para salvar al país de los sacrificios de la crisis económica y para devolverle la decencia a las instituciones políticas en Washington. Obama expresó su confianza en la fortaleza de sus compatriotas, a los que prometió actuar para frenar la gigantesca deuda que atenaza a la economía y a los que aseguró que no ha renunciado a su objetivo de reformar el sistema sanitario. ... .... ... .... ..
28/01/2010
Obama reconhece erros, mas discurso representa recuo
Sheryl Gay Stolberg
Em Washingon (EUA)
O presidente Barack Obama disse na noite de quarta-feira que os líderes em Washington enfrentam um “déficit de confiança”, ao usar seu primeiro discurso do Estado da União para tentar restaurar a confiança pública em seu governo e convencer o povo americano de que ele está intensamente concentrado nas questões que mais preocupam os americanos: empregos e a economia. ... ... ... ... ... ... ... .... ... .... ... ... ... ... ... ...
"Marxismo latino" assombra "Tea Party"
Movimento conservador vê América Latina como exemplo negativo de intervencionismo e teme que Obama repita modelo nos EUAEntre os disseminadores da mensagem está brasileira, que equipara Lula a Chávez; analista diz que visão é fruto de "mania de conspiração" ANDREA MURTA ENVIADA ESPECIAL A NASHVILLE (EUA)
Para muitos partidários do movimento conservador "Tea Party" nos EUA, há um fantasma que assusta quase tanto quanto o governo Barack Obama. É a América Latina, que veem como exemplo de região dominada pelo intervencionismo, no melhor cenário, e por ditadores marxistas, no pior. O movimento, uma rede frouxa de ativistas de direita, agitou o país na última semana com a reunião de vários grupos em uma convenção nacional em Nashville. No encontro, participantes disseram à Folha que "se identificam" com a América Latina, pois "também nos EUA há hoje uma ameaça de socialismo". O termo é alusão a algumas propostas do presidente democrata, como aumento de impostos a famílias ricas e criação de uma agência governamental para oferecer seguros de saúde. Entre os que que espalham a mensagem está Ana Puig, codiretora da organização Patriotas da Mesa da Cozinha. A ativista, que nasceu no Brasil e se mudou para os EUA em 1986, discursa dizendo que "o que está ocorrendo aqui é exatamente o que ocorreu na América Latina -a implementação do marxismo do século 21". Ela era esperada para a palestra "Paralelos entre o governo atual e ditadores marxistas da América Latina" na Convenção Nacional do "Tea Party", mas desmarcou de última hora. Em eventos similares, porém, Puig afirmou que "líderes latinos [com exceção apenas de chilenos e colombianos] foram eleitos com as mesmas táticas" que os obamistas usam hoje, como "infiltração do sistema educacional, ideologia da luta de classes, lavagem cerebral por meio da mídia e promessas para os pobres". Uma vez eleitos, diz a brasileira, tais líderes promovem mudanças socialistas e tentam se perpetuar no poder. Ela apresenta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos "marxistas", ao lado de Hugo Chávez (Venezuela) e dos irmãos Castro (Cuba), entre outros. "Se não nos unirmos, vamos criar nossa própria "república de bananas" nos EUA." "É a típica direita com mania de conspiração", disse à Folha o analista Peter Hakim, presidente do "think tank" Diálogo Interamericano. "O que é comum nessas mensagens é que: 1) há um grande senso de urgência; 2) o que está realmente sendo defendido nunca fica claro; 3) ou você está conosco, ou contra nós (assim Brasil e Cuba ficam iguais); 4) nenhum crime é grande demais para o inimigo; e 5) o inimigo é claro", afirma. Mas nem todos os argumentos são conspiratórios. É o caso da fala de Bruce Donnelly, criador da organização SurgeUSA, simpatizante do "Tea Party". "Vivi no Brasil durante os governos de José Sarney e Fernando Collor, com todos aqueles planos econômicos. Vi que, mesmo bem intencionado, um governo pode criar o caos com o intervencionismo." Leia entrevista com Joe Bageant, conservador anti-"Tea Party" www.folha.com.br/100372
entrevista
"Aqui ou votamos na esquerda ou na esquerda radical"
DA ENVIADA A NASHVILLE
O conservador purista Jim Linn, 48, encarnou o revolucionário americano Samuel Adams na Convenção Nacional do "Tea Party" para deixar claro que é hora de "os patriotas defenderem a Constituição". O ativista da Louisiana diz que, ao votar no republicano John McCain em 2008 optou "pelo menor de dois males" -e ficou deprimido por semanas. "Esse é o problema nos EUA, ou votamos na esquerda, ou na esquerda radical", afirma. (AM)
FOLHA - Por que o sr. está vestido de Samuel Adams [revolucionário americano considerado um dos fundadores da nação e que foi um dos participantes da Festa do Chá de Boston em 1773, cujo nome inspira o movimento "Tea Party" atual]? JIM LINN - Porque Samuel Adams disse: "Se, em algum momento, homens vaidosos e gananciosos ocuparem o governo, nosso país vai precisar de seus patriotas para prevenir sua ruína". Este é o momento, nós somos os patriotas, e agora é a hora de defender a Constituição e nossa cultura judaico-cristã.
FOLHA - O multiculturalismo é um problema? LINN - Sim. Vejo o que está acontecendo com o resto do mundo -a islamização- e vejo a Europa lutar em vão contra essa onda. Acho que isso poderia ocorrer aqui, especialmente porque estamos deixando todo mundo entrar [imigrantes]. E tudo o que o presidente Barack Obama está fazendo é contrário aos valores da maioria dos cidadãos da América.
FOLHA - Qual o caminho para defender esses valores? LINN - Eu represento uma organização chamada "Caia Fora da Nossa Câmara" ("Get Out of Our House"), um plano apartidário para expulsar os políticos de carreira de nosso sistema. Todos os deputados pegam dinheiro de lobistas e não representam as pessoas e são os primeiros que devem cair fora. Tenho votado em republicanos há 30 anos, mas não sei como vou votar na próxima eleição, talvez em um independente. É preciso agora definir quem são os reais candidatos conservadores e ajudá-los a se eleger.
FOLHA - O sr. votaria em Sarah Palin [a ex-candidata a vice republicana] ? LINN - Não estou convencido sobre ela ainda. É cedo para falar sobre uma campanha presidencial, temos que nos concentrar nas legislativas [em novembro]. Não gosto do fato de ela apoiar McCain no Arizona. É politicagem? Eu sou um purista, acredito na defesa da Constituição a qualquer custo. Há um vácuo enorme na direita, pois esquerdistas se apropriaram dos dois partidos [Democrata e Republicano]. É esse vácuo que o movimento "Tea Party" tem que ocupar.
Ensaio - Richard W. Stevenson
Um vácuo narrativo
Não é fácil convencer uma nação de eleitores irritados, oposição tenaz e mídia dispersa -não quando você se tornou um presidente difícil de se definirPresidência de Obama padece de um vácuo narrativo
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WashingtonNuma coisa amigos e inimigos do presidente dos EUA, Barack Obama, concordam: não é simples rotulá-lo. Sim, ele é um progressista, exceto quando não é. Ele é contra as guerras, exceto a que está ampliando. É a favor de resgates financeiros, mas quer controlar os bancos. Está concentrando cada vez mais poderes, exceto quando é excessivamente deferente ao Congresso.
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EUA: Cresce a preocupação quanto à influência de um grupo extremamente pequeno sobre o presidente
Quarteto de Obama centraliza poder e é alvo de críticas
Edward Luce, Financial Times, de Washington12/02/2010
O presidente Barack Obama: críticos dizem que ele montou uma equipe para fazer campanha, não para governar
Numa fase crucial das primárias democratas, no final de 2007, Barack Obama revitalizou sua campanha com um discurso inflamado, concluído com uma promessa de que sua vitória iria produzir "uma nação curada. Um mundo saneado. Uma América que, novamente, acredita".
Pouco mais de um ano após sua posse, o 44º presidente dos EUA governa um país inflamadamente dividido, um mundo cada vez mais difícil de ser governado e uma América que parece mais desiludida do que nunca com o comportamento de Washington. O que deu errado?
Especialistas, legisladores democratas e diretores de pesquisas de opinião oferecem um leque de razões - desde a decisão de Obama de dedicar seu primeiro ano de mandato à reforma da saúde, à incapacidade do presidente em convencer os eleitores de que ele pode "sentir seu sofrimento [econômico]" e à aparente ingovernabilidade da Washington atual. Todas podem de fato ter contribuído para o dilema em que Obama se encontra. Mas aqueles a seu redor têm um diagnóstico mais específico - e marcante em sua uniformidade. A Casa Branca de Obama foi preparada para tocar uma campanha, em vez de governar, dizem eles.
Em dezenas de entrevistas com seus aliados mais próximos e amigos em Washington - a maioria delas anonimamente, para proteger seu acesso ao Salão Oval -, cada um deles observa que o presidente baseia-se em recomendações de um círculo muito pequeno. O núcleo é composto por apenas quatro pessoas: Rahm Emanuel, o combativo chefe de gabinete, David Axelrod e Valerie Jarrett, seus assessores, e Robert Gibbs, seu chefe de comunicações.
Dois deles, Emanuel e Axelrod, têm salinhas minúsculas a distâncias mínimas do Salão Oval. O presidente, que é a primeiro ter um BlackBerry sempre à mão, raramente realiza uma reunião, inclusive sobre segurança nacional, sem alguns ou todos eles presentes.
Com exceção de Emanuel, que era um democrata importante na Câmara, todos participaram da campanha brilhantemente administrada de Obama. À parte Gibbs, que é do Alabama, todos são de Chicago, como o presidente. E, com exceção da Casa Branca de Richard Nixon, poucos podem se lembrar de um governo tão dominado por um círculo interno tão pequeno.
"É um grupo muito coeso", diz um destacado defensor de Obama que visitou a Casa Branca mais de 40 vezes no ano passado. "Esse é um grupo de 'nós poucos' que conseguiu o improvável na mais improvável vitória eleitoral de que alguém pode se lembrar, e obviamente sua coesão é muito grande."
John Podesta, ex-chefe de gabinete de Bill Clinton e fundador do Center for American Progress, o mais influente think-tank na Washington de Obama, diz que embora acredite que Obama ouça um leque de pontos de vista, inclusive aconselhamentos divergentes, problemas podem surgir da composição estreita do próprio grupo.
Entre o círculo mais amplo que Obama também consulta estão o discretíssimo Peter Rouse, ex-chefe de gabinete de Tom Daschle quando líder da maioria no Senado, Jim Messina, vice-chefe de gabinete; a equipe econômica liderada por Lawrence Summers - que inclui Peter Orszag, o diretor de Orçamento -; Joe Biden, o vice-presidente; e Denis McDonough, assessor de segurança nacional. Mas nenhum deles faz parte do círculo interno.
"Claramente, essa abordagem baseada em núcleo gerencial deu certo para a campanha eleitoral e o presidente Obama estendeu-a à Casa Branca", diz Podesta, que conduziu a amplamente elogiada transição pós-eleitoral de Obama. "É um círculo muito estreito e isso tem suas vantagens. Mas eu gostaria de ver o presidente valer-se mais de outras pessoas em seu governo, em especial de seu gabinete."
Essa estrutura cêntrica da Casa Branca gerou um dominante e inesperado fracasso. Contrariamente a um consenso generalizado, Emanuel administrou o aspecto legislativo do projeto de lei para o setor de saúde muito habilidosamente, dizem observadores. O elo fraco foi não ter conquistado a opinião pública - e não o Congresso.
Não fosse o revés em Massachusetts, que privou os democratas de sua supermaioria de 60 assentos no Senado, Obama já teria agora quase certamente convertido o projeto para a saúde em lei - e com isso teria se tornado um presidente histórico.
Mas os eleitores normalmente liberais de Massachusetts quiseram manifestar um desejo diferente. Os democratas perderam o assento para um candidato, Scott Brown, que prometeu aos eleitores que seria o "41º voto [republicano]" no Senado, aquele que iria fazer pender a balança contra o projeto para a saúde. Pesquisas posteriores confirmam a visão de que um número decisivo de democratas mudou seus votos exatamente com essa motivação em mente.
"Os historiadores tentarão entender o fato de Barack Obama, o melhor comunicador de sua geração, ter perdido totalmente o controle da narrativa em seu primeiro ano no cargo e permitiu que as pessoas vissem algo em que tinham votado como algo que, de uma hora para outra, tinham deixado de querer", diz Jim Morone, principal cientista político americano especializado no tema da reforma na saúde. "Comunicação era algo que, acreditavam todos, Obama seria capaz de dominar."
Qualquer problema que surja, seja uma conspiração terrorista fracassada em Detroit, o projeto de saúde, a depressão econômica ou o envio de mais 30 mil soldados ao Afeganistão, a Casa Branca instintivamente põe Axelrod ou Gibbs diante das câmeras para explicar a posição do governo. "Cada caso é tratado como uma reviravolta de campanha eleitoral e não confiam em ninguém, exceto no círculo interno, para defender o presidente", diz um conselheiro externo exasperado.
Talvez os maiores perdedores sejam os membros do gabinete. Kathleen Sebelius, secretária de Saúde de Obama e ex-governadora do Kansas, quase nunca aparece na televisão e tem sido amplamente excluída tanto da elaboração como do marketing do projeto de saúde. Outros, como Ken Salazar, secretário do Interior e ex-senador pelo Arizona, e Janet Napolitano, chefe do Departamento de Segurança Interna e ex-governadora do Arizona, praticamente sumiram de vista.
Fontes no governo dizem que o sabidamente irascível Emanuel trata os membros do gabinete como subalternos. "Não tenho certeza de que o presidente perceba em que medida ele está humilhando algumas das grandes figuras que ele se deu ao grande trabalho de recrutar", diz o presidente de um conselho consultivo presidencial que visita com frequência o Salão Oval. "Se você quer que as pessoas confiem em você, em primeiro lugar precisa confiar nelas."
Além de lançar frequentes palavrões contra pessoas que fazem parte do governo, Emanuel alienou muitos dos mais próximos defensores de Obama fora do governo. Numa reunião com grupos de democratas, em agosto passado, Emanuel referiu-se aos liberais como "retardados de merda", após um deles ter sugerido que mobilizassem recursos para a reforma da saúde.
"Somos tratados como se fôssemos crianças", diz o chefe de uma grande organização que levantou milhões de dólares para a campanha de Obama. "Nosso conselho nunca é buscado. Apenas nos dizem: 'Essa é a mensagem, por favor divulguem'. Não tenho certeza de que o presidente esteja plenamente consciente de que, quando o chefe de gabinete fala, as pessoas assumem que está falando pelo presidente."
O mesmo pode ser observado em política externa. Na viagem de Obama à China em novembro, membros do gabinete, como Stephen Chu, secretário de Energia e agraciado com o Prêmio Nobel, foram marginalziados, enquanto Gibbs, Axelrod e Jarrett estavam constantemente ao lado do presidente.
A Casa Branca queixou-se amargamente do que considerou a cobertura injustamente negativa da mídia sobre uma viagem apelidada de visita G-2 de Obama à China. Mas, como os jornalistas tinham bastante consciência, ninguém no círculo íntimo de Obama tinha alguma experiência em China. "Estávamos cerca de 40 veículos atrás no cortejo e mal tivemos algum contato com o presidente", diz um alto funcionário governamental com amplo conhecimento da região. "Era como se a campanha de Obama estivesse visitando a China."
Então, há as grandes decisões estratégicas do presidente. Dessas, dedicar o primeiro ano ao plano de saúde é bem conhecida e continua a ser uma fonte de acalorada controvérsia. Menos compreendido é o dano colateral que causou a outras iniciativas. "A abordagem de Rahm Emanuel resume-se a que vitória gera vitória - o sucesso do plano para a saúde gerará o impulso para um sistema de limitação e comercialização de direitos de emissão [de carbono] e, então, para a reforma do setor financeiro", diz um aliado próximo de Obama. "Mas o que acontecerá se o primeiro item na sequência for derrotado?"
Fontes bem situadas no governo atribuem o minguante entusiasmo de Obama quanto à iniciativa de paz árabe-israelense a um desejo de não contrariar legisladores céticos cujo apoio foi necessário para a saúde. O impulso pela paz árabe-israelense perdeu gás em meados do segundo semestre, justamente quando o projeto de saúde estava correndo sérias dificuldades.
O mesmo vale para a reforma do aparelho legal na guerra contra o terror, inclusive o compromisso do presidente de fechar o centro de detenção na baía de Guantánamo antes de um ano após tomar posse. Essa promessa foi abandonada.
Rahm disse: "Nós temos dois Boeing-747 circulando e que estamos tentando fazer pousar [o plano para a saúde e a decisão sobre o envio de mais tropas no Afeganistão] e não podemos arriscar que uma bosta de bando de gansos canadenses provoque sua queda", afirmou um funcionário que participou de uma reunião de estratégia no Salão Oval. Os gansos seriam o fechamento de Guantánamo.
Um assessor externo acrescenta: "Eu não entendo como o presidente poderia deslanchar propostas de reforma para a saúde e para o processo de paz árabe-israelense - dois objetivos nos quais presidentes americanos falharam durante gerações - sem ter elaborado um planejamento de cenários melhor. Qualquer uma dessas iniciativas seria histórica. Mas lançá-las simultaneamente?!"
Mais uma vez, aliados próximos ao presidente atribuem o problema ao "núcleo de campanha" em torno de Obama, para o qual tudo é possível. "Há uma sensação, após ter conquistado uma vitória surpreendente - depois de provar repetidamente que as opiniões consensuais estavam erradas -, de que você pode simplesmente fazer a mesma coisa no governo", diz um aliado. "Evidentemente tratam-se de habilidades distintas. Para ter êxito, os presidentes precisam separar o fluxo de aconselhamento que recebem sobre políticas de governo do fluxo de aconselhamento que recebem sobre política. Isso ainda não está acontecendo."
A Casa Branca recusou-se a responder perguntas sobre se Obama necessitaria ampliar seu círculo de assessores. Mas alguns defensores dizem que ele deveria encontrar um novo chefe de gabinete. Emanuel deu a entender que não poderá permanecer muito tempo no cargo e acredita-se que estaria interessado em disputar a Prefeitura de Chicago. Outros dizem que Obama deveria trazer sangue novo. Eles apontam para a decisão de Bill Clinton de recrutar David Gergen, um veterano de Casas Brancas anteriores, quando o último presidente democrata enfrentou problemas em 1993. A isso credita-se Clinton ter conseguido manter o navio estável, depois que ele também começou (seu governo) com um núcleo em grande parte herdado de sua campanha.
Mas Gergen discorda. Agora professor em Harvard e comentarista da CNN, Gergen diz que os membros do círculo íntimo satisfazem dois critérios cruciais. Em primeiro lugar, todos eles são talentosos. Em segundo lugar, Obama confia neles. "Esses são atributos importantes", diz Gergen. Sua maior dúvida é se Obama vê algum problema no arranjo atual.
"Há uma velha piada", afirma Gergen. "Quantos psiquiatras são necessários para trocar uma lâmpada? Apenas um. Mas a lâmpada tem de querer mudar. Eu não acho que o presidente Obama quer fazer qualquer alteração."
(Tradução de Sergio Blum)
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