Thursday, 4 February 2010

FÁBRICA DE CHIPS - CEITEC + OUTRAS

Semicondutores: Capacidade anual vai variar de 50 milhões a 100 milhões de unidades
Ceitec inicia hoje produção de chip
Sérgio Bueno, de Porto Alegre05/02/2010
Ruy Baron/Valor
Eduard Weichselbaumer, presidente do Ceitec: planos para construir uma nova unidade orçada em US$ 1 bilhão
Depois de quase cinco anos de trabalho, o Centro Nacional em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), companhia pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), inaugura hoje em Porto Alegre a primeira fábrica de circuitos integrados (chips) da América Latina já pensando na expansão do projeto. Se os negócios correrem conforme o planejado, em 2013 será necessária a construção de uma nova unidade industrial, orçada preliminarmente em US$ 1bilhão, informou o presidente da empresa estatal, o alemão Eduard Weichselbaumer.
A unidade, que será inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência da República, é o ponto alto de um processo iniciado em abril de 2005, quando começou a construção das instalações do Ceitec.
O projeto já exigiu investimentos de R$ 400 milhões, além de outros R$ 25 milhões que serão aplicados em obras complementares e fazem parte do orçamento de R$ 79 milhões reservado pelo MCT em 2010. Segundo Weichselbaumer, a meta da companhia é atingir o equilíbrio econômico-financeiro, sem considerar a amortização do investimento inicial, em cerca de três anos.
Constituído originalmente como uma associação civil sem fins lucrativos e transformada em uma companhia estatal federal por decreto do presidente da República em novembro de 2008, o Ceitec já desenvolveu circuitos integrados para rastreabilidade bovina (o "chip do boi"), para automação industrial e para moduladores de TV digital.
O centro escolheu como nichos de operação os sistemas de identificação por radiofrequência (RFID, na sigla em inglês), de comunicação sem fio (como as redes WiFi e WiMax) e de multimídias digitais em função das perspectivas de demanda da indústria nacional.
Agora, além de desenhar os circuitos integrados, a companhia vai produzir os chips para RFID a partir de lâminas de silício ("wafers") de seis polegadas de diâmetro adquiridas no mercado internacional, explicou Weichselbaumer.
De acordo com o executivo, até o fim do ano, após os ajustes e a "qualificação" de todos os equipamentos, o grau de eficiência da operação, que mede o nível de aproveitamento dos "wafers", será de cerca de 90%.
A capacidade de produção do Ceitec vai variar de 50 milhões a 100 milhões de chips para RFID por ano, dependendo das dimensões de cada um, revelou o executivo. Já os demais tipos de circuitos integrados desenvolvidos pela companhia - para comunicação sem fio e para multimídias digitais - serão enviados para produção fora do Brasil, pelo menos até a implantação da segunda etapa do projeto do Ceitec, em 2013.
Segundo Weichselbaumer, um dos objetivos da construção da segunda fábrica será absorver a produção desses circuitos, além de desenvolver chips mais modernos, de tecnologia mais avançada e em quantidades maiores. Nessa etapa, a companhia deverá buscar também a participação da iniciativa privada para bancar o investimento, disse o presidente do Ceitec. A forma de entrada do capital privado no empreendimento ainda não foi definida, mas quando migrou de associação civil para estatal o centro foi constituído como uma sociedade anônima.
O primeiro circuito integrado produzido em Porto Alegre será o "chip do boi", que será vendido por R$ 2,50 a R$ 3, contra R$ 4 a R$ 7 dos similares importados, informou o executivo. O produto - ainda fabricado fora do país a partir do projeto desenvolvido pelo centro - já está em testes de campo e tem grande potencial de mercado, comentou Weichselbaumer.
"O rebanho bovino brasileiro tem 200 milhões de cabeças, se renova a cada três ou quatro anos e hoje apenas um percentual muito pequeno dos animais usa brincos ópticos de identificação", comentou o presidente do Ceitec. De acordo com o executivo, a companhia também está desenvolvendo outros dois chips RFID para identificação de produtos industriais e farmacêuticos, que podem representar a produção de cerca de 10 milhões de unidades já em 2011.


Microeletrônica: Ceitec vai produzir chips no País




Semicondutores: Um dos desafios da companhia é criar chip para celulares e outros equipamentos móveis
Depois de vender fábricas, AMD tenta voltar à boa forma
André Borges, de São Paulo
26/02/2010
Davilym Dourado/Valor
Chris Cowger, principal executivo da AMD nas Américas: "Agora somos uma companhia de design e somos lucrativos"
Quando a Advanced Micro Devices (AMD) anunciou, há poucos dias, os resultados financeiros do último trimestre de 2009, o mercado se surpreendeu. Depois de 13 trimestres consecutivos de prejuízos, a fabricante de chips finalmente conseguiu voltar ao azul, com um lucro de US$ 1,18 bilhão. O resultado, no entanto, não foi um reflexo exato do desempenho da companhia com a venda de processadores. Os números foram influenciados por uma multa de US$ 1,2 bilhão paga pela rival Intel. Mesmo assim, o clima foi de comemoração. Durante cinco anos a AMD brigou com a Intel na Justiça americana, acusando a rival de asfixiar a concorrência em diversos países ao utilizar incentivos ilegais e ameaças de retaliação para forçar fabricantes de computadores a só comprar os seus processadores.
Foi uma vitória importante para a AMD porque pode abrir precedentes jurídicos e complicar ainda mais a vida da Intel. Esse capítulo, porém, está longe de encerrar a série de dúvidas que pairam sobre o futuro da companhia de chip, fundada em 1969, na Califórnia.
A AMD vive uma fase de reformulação, afirma Chris Cowger, vice-presidente corporativo e gerente geral para as Américas. Em entrevista exclusiva ao Valor, durante visita ao país, o executivo concordou que a companhia perdeu algo no caminho. A empresa hoje é bem bem menor do que já foi no passado. Mas boa parte do ceticismo do mercado em relação ao futuro da AMD, afirma Cowger, está contaminado por questões alheias às decisões e aos projetos da companhia. Ao falar das dificuldades, ele atribui parte dos problemas às práticas de competição de sua maior rival e à dificuldade do setor em lidar com as oscilações bruscas da economia.
Sejam quais forem os motivos, porém, uma coisa é certa: a AMD terá de provar, nos próximos meses, que as mudanças radicais feitas recentemente serão suficientes para colocar a companhia novamente na rota do crescimento.
Há pouco mais de um ano, a direção da AMD pegou a todos de surpresa ao anunciar que estava abrindo mão da produção de seus processadores. Foi como se a Volkswagen ou a GM decidissem vender suas fábricas, passando apenas a desenhar os carros, transferindo a manufatura para outras empresas. Por meio de um acordo com o governo de Abu Dhabi, que assumiu US$ 1,2 bilhão em dívidas da AMD como parte da transação, foi criada a Globalfoundries, que desde então assumiu a produção dos chips.
Da noite para o dia, a AMD substituiu o chapéu de fabricante pelo de "designer" de processadores. "É normal que, no princípio, as pessoas não tenham compreendido essa decisão, mas a realidade é que agora somos uma companhia de design e somos lucrativos", diz Cowger. "Foi um movimento absolutamente sensato. Hoje nós podemos criar, ir até o mercado e vender. É essa a nossa habilidade."
No mercado, a dúvida que persiste até hoje é se a decisão de vender as fábricas foi um movimento estratégico ou, simplesmente, uma saída de emergência para a companhia. Boa parte da dívida transferida pela AMD com a operação brotou de uma transação anterior, que também provocou polêmica. Em 2006, a empresa desembolsou US$ 5,4 bilhões pela fabricante de chips gráficos ATI. Aquisições bilionárias não são uma raridade no setor, mas o valor pago estava muito próximo ao de todo o faturamento da AMD no ano anterior, de US$ 6 bilhões. "É claro que foi muito dinheiro e que, inicialmente, boa parte do mercado também não entendeu essa aquisição, mas de lá para cá, as pessoas passaram a ver a sinergia que existe entre os produtos das duas empresas", diz Cowger. "Hoje não estamos interessados apenas na venda dos chips, mas também na integração desses processadores com os componentes gráficos."
No ano passado, pouco mais de 20% da receita total obtida pela empresa veio dos componentes gráficos, muito usados em computadores destinados a fãs de games ou profissionais que lidam com aplicações como editoração, fotografia, vídeo etc. É um segmento em expansão no mercado, o que garante vantagens para a AMD. O desafio, porém, é a a companhia não é a única a investir na área. No mês passado, a própria Intel anunciou que prepara o lançamento de 17 chips da família "Westmere", que promete aprimorar o desempenho gráfico em notebooks e micros de mesa. Além disso, é preciso lidar com a criatividade de concorrentes como a Nvidia, especializada na área.
Para ir ao combate, diz Cowger, a principal arma da AMD é a capacidade de inovação de seus engenheiros. A ideia é estimular a inovação em seus laboratórios para tentar diminuir a disparidade financeira que a separa da Intel. No ano passado, a AMD atingiu uma receita de US$ 5,4 bilhões, com lucro líquido de US$ 376 milhões. No mesmo período, o faturamento da Intel foi de US$ 35,1 bilhões, com lucro de US$ 4,4 bilhões. A AMD, que em 2006 chegou a ter um valor de mercado de US$ 13,7 bilhões, vale hoje US$ 8,4 bilhões, de acordo com o preço de ontem de suas ações. O valor de mercado da Intel ultrapassa US$ 102 bilhões.
Em sua missão de se fazer entender pelo mercado, a AMD quer simplificar as coisas, inclusive para seus consumidores. No fim do ano passado, a empresa apresentou a campanha batizada de "Vision", com a qual pretende desmistificar a linguagem tecnológica e transformá-la em um tema mais palatável para o usuário. A campanha de marketing, de US$ 25 milhões, deverá durar três anos e servirá de preparação para a visão de futuro da AMD: um mercado totalmente concentrado na oferta de chips que integrem componentes gráficos e de processamento, a geração "Fusion", comenta Cowger.
Para seguir essa rota, porém, a AMD tem muito a fazer. Ao contrário de seus principais concorrentes, a companhia ainda não tem um processador voltado ao promissor mercado de celulares inteligentes, computadores do tipo "tablet" e demais portáteis de baixo desempenho. A Intel já declarou que pretende apresentar, até o fim do ano, um processador desenhado para celulares que permita acesso à internet . Batizado de "Moorestown", o produto faz parte da linha de chips Atom, que vem sendo utilizada também nos netbooks, portáteis de tamanho reduzido.
Com esse movimento, a Intel quer se antecipar à crescente adoção da tecnologia "ARM", um sistema criado pela ARM Holdings, do Reino Unido, que tem obtido forte aceitação entre os fabricantes de eletrônicos. Concorrente da tecnologia vendida pela AMD e a Intel, o sistema ARM já está presente nos componentes de fabricantes de processadores como Marvell Technology, Nvidia, Freescale Semiconductor e Texas Instruments. O celular "Nexus One", do Google, que traz embutido um processador da Qualcomm, também usa o ARM, e já se especula que ainda este ano o iPhone, da Apple - que hoje fabrica seus próprios processadores nas instalações da Samsung -, vai incorporar a tecnologia inglesa.
Questionado sobre o assunto, Chris Cowger afirma que a AMD vai entrar na disputa por esse mercado, mas reconhece que a empresa está atrasada. "Sim, temos demorado um pouco para abordar esse setor, mas estamos observando como podemos participar dele com produtos que realmente ofereçam uma boa experiência para o usuário", justifica o executivo da AMD. De concreto, o que já sabe é que não será em 2010 que a companhia terá um processador desenhado para esses equipamentos.
Hoje, garante Cowger, a AMD é uma empresa mais leve e dinâmica para agir no dia a dia e para pensar no futuro. Paralelamente, comenta ele, o acerto de contas fechado com a Intel trouxe novos ares para a empresa, embora a disputa com a Intel persista em outros tribunais. Em dezembro, um mês depois de encerrar seu embate judicial com a AMD, a Intel passou a ser alvo de um novo processo, dessa vez movido pela Comissão Federal de Comércio (FTC, agência americana de defesa da concorrência), que acusa a companhia de usar táticas ilegais para eliminar a concorrência. "Ainda é muito cedo para dizermos se esse acordo resolveu todos os problemas de concorrência que enfrentamos. Há países em que o comportamento mudou e outros que seguem com problemas", comenta Cowger. "Mas o importante é que agora temos espaço aberto para discutir o que precisa ser melhorado."






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