Saturday 8 August 2009

IMPERIALISMOS

Crítica/"Estados Unidos - O Novo Imperialismo"
Estudo da década de 70 sobre imperialismo permanece atual
Obra de autor escocês com prefácio de Eric Hobsbawm tem reedição no BrasilCLAUDIA ANTUNESDA SUCURSAL DO RIO
Um livro sobre o imperialismo americano publicado em 1978, 11 anos antes da queda do Muro de Berlim, por um acadêmico marxista que pertenceu ao Partido Comunista britânico está por certo parcialmente datado -como reconhece no prefácio Eric Hobsbawm, que compartilha as características acima com o autor, Victor Kiernan.
Mas a reedição de "Estados Unidos, o Novo Imperialismo" faz sentido por pelo menos dois motivos. Primeiro, porque o tema continua atual, como mostrou o discurso em que Barack Obama, visando reaproximar os EUA dos países de maioria muçulmana, fez um mea-culpa do golpe que depôs em 1953 o premiê nacionalista Mohammed Mossadegh, do Irã. Segundo, porque Kiernan, morto neste ano, aos 95, como professor emérito da Universidade de Edimburgo (Escócia), não era estudioso devotado a jargões.
Tendo deixado o PC após a repressão soviética ao levante democrático húngaro de 1956, ele tinha a literatura como segunda fonte de estudos. Publicou um livro sobre Shakespeare e traduziu obras de poetas de língua urdu.
Tanto a paixão pela literatura quanto a experiência de Kiernan como professor, nos anos 30, no subcontinente indiano (então colônia britânica), estão presentes no livro. A obra dá voz a escritores contemporâneos dos fatos, a partir da conquista do Oeste pelos desbravadores dos jovens EUA, e reflete interesse pela perspectiva dos asiáticos e latino-americanos.
Papel dos impérios
Ontem como hoje, o julgamento do papel dos impérios depende tanto da orientação ideológica quanto do ponto de vista de quem o emite.
Em 2008, dois eminentes professores de Harvard travaram polêmica sobre a herança deixada pelos britânicos na Índia. O escocês Niall Ferguson defendia a influência benigna do liberalismo inglês nas instituições pós-coloniais. O indiano Amartya Sen citava as ondas de fome causadas pela economia de exploração colonial.
Kiernan, do mesmo modo, enfatiza que as conquistas imperiais, diretas ou indiretas, estão sempre revestidas de duas características: a certeza de superioridade na escala civilizatória e o enunciado, às vezes sincero, de boas intenções.
Tendo seu país resultado da revolta contra um império europeu, os americanos sempre relutaram em aplicar o rótulo a si. A palavra teve um repique durante a ocupação das Filipinas, no final do século 19, e só foi retomada, pelos próprios neoconservadores, durante o governo Bush (2001-2009). É essa dualidade que Kiernan ressalta o tempo todo. O faz, muitas vezes, pela voz dos americanos. Assim, diz, os africanos retratados por Edgar Rice Burroughs, autor de "Tarzan dos Macacos" (1914), "exibem o anticolonialismo e o racismo lado a lado". Os vizinhos negros de Tarzan, conta Burroughs, são fugitivos da opressão dos coletores de borracha "daquele arqui-hipócrita, Leopoldo 2º da Bélgica". Mas, prossegue, "seus grossos lábios ressaltados acrescentavam ainda mais brutalidade a sua aparência".
O historiador lembra também a tradicional rejeição de dirigentes americanos ao militarismo, tanto que, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, "a força regular ainda somava 250 mil soldados e o Ministério da Guerra ficava espalhado a esmo em alguns prédios".
Kiernan não entra na discussão teórica sobre imperialismo, objeto de controvérsia. Opta por definição economicista: a "coerção exercida pelo exterior, por um ou outro meio, para extorquir lucros além dos que são garantidos pelas simples trocas comerciais". Ele ignora os estudos sobre hegemonia, em que a potência também se impõe pela capacidade de produzir bens coletivos. Erra ao prever que a saída da estagnação dos EUA nos anos 70 seria promover o aumento do consumo nos países pobres.
Como se sabe, o que se seguiu foi a "década perdida", graças em parte ao aumento dos juros americanos. Só com a ascensão da China, a partir de suas próprias reformas capitalistas, haveria uma nova fase de crescimento e redução da pobreza.
ESTADOS UNIDOS, O NOVO IMPERIALISMO
Autor: V.G. Kiernan Tradução: Ricardo Doninelli-Mendes
Editora: Record Quanto: R$ 62 (490 págs.)
Avaliação: bom




Imperialismo, mundialização do capital e integração regionalMarcos Costa Lima, Claude Serfati & Flávio Farias - Fevereiro 2008



Neoliberalism and the Dynamics of Capitalist Development in Latin America
By Prof. James Petras and Prof. Henry Veltmeyer
Global Research, November 19, 2009
An analysis of the dynamics of capitalist development over the last two decades has been overshadowed by an all too prevalent “globalization” discourse. It appears that much of the Left has bought into this discourse, tacitly accepting globalization as an irresistible fact and that in many ways it is progressive, needing only for the corporate agenda to be derailed and an abandonment of neoliberalism. This is certainly the case in Latin America where the Left has focused its concern almost exclusively on the bankruptcy of “neoliberalism”, with reference to the agenda pursued and package of policy reforms implemented by virtually every government in the region by the dint of ideology if not the demands of the global capital or political opportunism. In this concern, imperialism and capitalism per se, as opposed to neoliberalism, have been pushed off the agenda, and as a result, excepting Chavéz's Bolivarian Revolution, the project of building socialism has virtually disappeared as an object of theory and practice.In this paper we would like to contribute towards turning this around—to resurrect the socialist project; to do so by deconstructing the discourse on “neoliberal globalization” and reconstructing the actual contemporary dynamics of capitalist development. This is a major task requiring a closer look at the issues. The modest contribution of this paper is to bring into focus the imperialist dynamics of capitalist development in Latin America. To this end, we present an analytical framework for an analysis of the dynamics of capitalist development and imperialism. We then summarize these dynamics in the Latin American context. Our argument is that the dynamics of capitalist development and imperialism have both an objective-structural and a subjective-political dimension and that a class analysis of these dynamics should include both. This means that it is not enough to establish the workings of capitalism and imperialism in terms of their objectively given conditions that affect people and countries according to their class location in this system. We need to establish the political dynamics of popular and working class responses to these conditions—to neoliberal policies of structural adjustment to the purported requirements of the new world order. The politics of the Left might so be better informed. .... .... .... .... .... grande




Towards an Alternative to Globalization
By Sergey A. Stroev
Global Research, November 21, 2009Civilization Alternative (original Russian)
This text will be presented at the Third All-Russia Anti-Global Forum, Moscow, December 2009
It is easier to manage people when they have low needs. Simply because low needs are easier to satisfy. <...> Thus the dictatorship of show business is a part of the state machine. Previously, rock music, as well as earlier the church, were separated from the state, but now they are part of it. The results are well known. Radislava Anchevskaya
There is a popular expression (attributed to various famous authors), that any "anti-" is dissolved in that, against which it is "anti-". This phrase has a profound meaning, which consists in the fact that to unite in a bare denial of anything is counter-productive and doomed to defeat. A viable alternative may be only an independent project that contains a constructive idea and a program for implementation. Accordingly, the Third Forum of Anti-Global Resistance diverts from the themes of criticism and exposure of the essence of imperialist globalization and seeks to create its own meaningful project, its own civilizational alternative to globalism. As a part of this task, we would like to present our positions in a succinct form.
1. Economy for man, not man for economy.




08/02/2010
Duas superpotências disputam o mundoAndreas Lorenz , Em Beijing (China)
Os EUA e a China já são os dois países mais poderosos do mundo. Como aliados, ninguém os seguraria. Será que está se formando uma era de uma superpotência dupla?
Quando a China espirra, o mundo inteiro pega um resfriado. Bill Clinton reconheceu isso durante seu mandato como presidente dos Estados Unidos, falando sobre o “desafio potencial que uma China forte poderia representar para os Estados Unidos no futuro”. Ao mesmo tempo, ele alertou para o risco apresentado por uma “China fraca”, que poderia desestabilizar regiões inteiras da Ásia.
Agora o sucessor de Clinton e também democrata Barack Obama está buscando formas de trabalhar mais próximo da nação gigante, com seu 1,3 bilhão de pessoas. Obama acredita que a cooperação com a China é essencial nos próximos anos. “Os maiores desafios do século 21, desde a mudança climática à proliferação nuclear passando pela recuperação econômica, são desafios que tocam ambas as nações, e desafios que nenhuma delas pode resolver agindo sozinha”, disse o presidente norte-americano durante sua visita recente à China.
Enquanto isso, na China, políticos, economistas e militares chegam basicamente à mesma conclusão quando pensam sobre a melhor forma de interagir com aquela antiga superpotência, os EUA. “No século 21”, disse o presidente chinês e líder do partido, Hu Jintao, “as relações entre a China e os EUA estão entre as mais importantes do mundo”. Existe a percepção de que, sem a ajuda norte-americana, levaria muito tempo para a China atingir a “prosperidade moderada para todos os cidadãos” que o Partido Comunista promete ao povo e que usa para justificar seu governo.
Nunca os dois países foram mais dependentes um do outro do que hoje. Sem o mercado e os investimentos norte-americanos, as coisas não estariam tão bem quanto estão na China. Mas ao mesmo tempo, muitos norte-americanos teriam dificuldades para pagar suas contas durante a atual crise econômica sem os produtos baratos importados da China. E o governo norte-americano não seria mais capaz de funcionar se o Banco Central chinês não comprasse boa parte da dívida dos EUA. No ano passado, a China tinha cerca de US$ 800 bilhões (cerca de R$ 1,5 trilhão) em títulos do tesouro norte-americano.
A ascensão da Chimérica
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08/02/2010
"Os próprios chineses admitem que não estão prontos" para a liderança global, afirma especialista
Os Estados Unidos e a China se tornaram tão poderosos que as pessoas em todo o mundo falam com reverência em um “G-2”. Mas há fissuras na aliança, como explica Andrew Small da organização German Marshall Fund numa entrevista à “Spiegel Online”. A frustração está crescendo nos EUA em relação à falta de cooperação de Beijing nos assuntos econômicos.
Spiegel Online: A delegação chinesa foi agressiva na conferência climática de Copenhague. Eles se recusaram a fazer praticamente qualquer concessão quanto à mudança climática. Agora, estão protestando veementemente contra as vendas de armas norte-americanas a Taiwan e denunciando a cooperação militar. Muitos observadores concluíram: “Esta é a nova China com a qual devemos nos acostumar”. Devemos?
Small: O governo chinês... ... .... ... .... .... ....


AS INTERVENÇÕES AMERICANAS E UMA CERTA ARMADILHA
Por Cyro Andrade | De São Paulo
Ao dizer que a era da Doutrina Monroe acabou, John Kerry conta apenas um mínimo da história
VALOR ECONÔMICO, 26-11-2013

[Reprodução / ReproduçãoRoosevelt: um "corolário" que reescreveu a essência da Doutrina Monroe]
“A era da Doutrina Monroe acabou”, disse o secretário de Estado americano, John Kerry. A plateia, na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, limitou-se a ínfimos aplausos. Kerry, que já ia adiante no discurso, parou e permitiu-se uma correção pedagógica: “Isso merece aplausos. Não é uma coisa ruim”. Conseguiu mais algumas palmas, nada entusiasmadas.

Ecoava ali, talvez, entre representantes de países latino-americanos, o fato de a Doutrina Monroe não ser lembrada com simpatia fora dos Estados Unidos. Também por que ao nome de James Monroe e aos princípios que estabeleceu em 1823 costumam-se associar preceitos enunciados por outro presidente americano, Theodore Roosevelt — aquele do lema “fale macio e use um porrete”.

Se Monroe advertiu, em sua época, que países europeus deveriam manter-se fora da América Latina e longe de assuntos que a envolvessem —, parte que era das Américas, um lugar de domínio exclusivo dos Estados Unidos —, Roosevelt foi além, em pronunciamento de 1904: reafirmou que os europeus deveriam permanecer fora, mas acrescentou os Estados Unidos tinham o direito de entrar, no exercício de um poder de polícia internacional. Costuma-se chamar a esse adendo de “corolário Roosevelt” à Doutrina Monroe — mas é coisa bem diferente, com se vê. Nos 15 a 20 anos seguintes, os Estados Unidos invadiram a América Latina mais de dez vezes, a ponto de os fuzileiros americanos ficarem conhecidos na região como “tropas do Departamento de Estado”. Podem-se encontrar na mesma gaveta da história iniciativas similares dos governos de John Kennedy (Cuba), Lyndon Johnson (República Dominicana), Ronald Reagan (Granada), entre outras tantas.

Tudo mudou, disse Kerry na OAS. Hoje, o que interessa a todos, nas Américas, é a cooperação. E deu um tempero hispânico à sua exortação: “La unión hace la fuerza”. Antigamente, como se sabe, “la fuerza” ficava em primeiro lugar e “la unión” mais comum se dava entre o ocupante da Casa Branca e investidores em disputas com governos estrangeiros.

Nem tudo, porém, se resolvia por inteiro, e de uma vez por todas, com o ato de interferência do governo americano. Aquele império poderoso não podia evitar, frequentemente, que fosse arrastado para uma armadilha: tomada a decisão de intervir em disputas nas quais investidores americanos consideravam-se ofendidos por governos estrangeiros em seus direitos de propriedade, tornava-se extremamente difícil, se não impossível, desmontar depois os compromissos então estabelecidos entre o governo de Washington e os investidores. É do que trata este “The Empire Trap”, de Noel Maurer.

Theodore Roosevelt, em pleno exercício prático de seu “corolário”, aparece com destaque no capítulo “Setting the trap”. O cenário é o da invasão da República Dominicana. Corria o ano de 1904. Como a instabilidade política no país ameaçasse investimentos diretos americanos, Roosevelt viu-se sob pressão para intervir, mas esperou por apoio, que também deveria ser político — o que aconteceu quando o governo local enfim se juntou a possuidores de títulos de dívida do país e investidores num pedido de intervenção.

Roosevelt proclamou, então, sua intervenção, mas em termos de princípios gerais, declarando que “procedimentos condenáveis crônicos, ou impotência que resulta no afrouxamento dos vínculos da sociedade civilizada, na América ou em qualquer outro lugar, requerem, em última instância, a intervenção de uma nação civilizada, e no Hemisfério Ocidental o comprometimento dos Estados Unidos para com a Doutrina Monroe pode forçar os Estados Unidos, embora relutantemente, em casos flagrantes de tais maus procedimentos ou impotência, a exercer um poder internacional de polícia”.

Ao fundamentar suas razões naqueles termos genéricos, Roosevelt comprometia seus sucessores com a proteção dos direitos de propriedade americanos em toda a área do Mar do Caribe. “Com a declaração de Roosevelt, os prêmios de risco das dívidas soberanas caíram em todos os países da região, mais El Salvador — não apenas da dívida dominicana. Um futuro presidente não poderia desrespeitar aquele compromisso sem arriscar-se a uma forte reação adversa do mercado” — lê-se em Maurer. Um corolário, este de fato, prenunciaria o fechamento da armadilha sempre que, dali em diante, emergissem crises na esfera de intervenção dos Estados Unidos: “Os mercados reagiriam adversamente, até que o governo do dia mostrasse disposição para agir”.

Maurer faz uma ressalva. Governos americanos tinham o poder de intervir em nome de interesses privados, mas sua disposição para agir dependia tanto da personalidade do presidente como da força das pressões exercidas sobre ele. Quando investidores apresentavam-se de comum acordo e conseguiam demonstrar que a intervenção servia a interesses estratégicos americanos, então a intervenção se tornava mais provável. Ao contrário, se os investidores, em seu grupo, se mostravam divididos e não havia interesse estratégico, a intervenção se tornava praticamente impossível. Muito frequentemente, porém, os interesses privados prevaleceriam, mesmo que, em termos de estratégia nacional, os benefícios fossem pouco significativos.

Maurer põe foco sobre mudanças que se dão nas formas de resolução de conflitos entre interesses americanos e governos latino-americanos (mas não apenas estes), com modos também diferentes de interferência do governo americano: confrontações politizadas (em que não se descartava o uso eventual de pressão militar) cedem lugar, com o tempo, a disputas legais.

Está no primeiro caso o que acontece em 1900, quando o presidente venezuelano Cipriano Castro apossa-se de propriedades de um truste americano de asfalto. Depois de uma série de eventos litigiosos, uma resolução é alcançada no Tribunal Internacional de Haia. Mais tarde, seriam comuns as disputas legais, simplesmente, como a que envolveu propriedades da ExxonMobil e da ConnocoPhilips na Venezuela, tomadas pelo presidente venezuelano Hugo Chávez em 2007.

O império também se modificava, ele próprio. “O império americano informal do fim dos anos 1930 e depois era uma mistura de velho e novo”, diz Maurer. As pressões políticas que influíam sobre o governo dos Estados Unidos — as demandas de interesses ultramarinos ameaçados por instabilidade política ou financeira local — estavam virtualmente mantidas. Os mecanismos, entretanto, tinham mudado consideravelmente, o suficiente para que se definisse uma distinção entre um primeiro e um segundo império americano.

“Para citar uma importante razão, a coalizão de detentores de títulos (dos governos estrangeiros) e investidores diretos que havia energizado a armadilha numa primeira fase de interação [entre o governo americano e os investidores] estava completamente ausente na segunda. Com o desaparecimento do mercado privado de dívida externa, veio a quase total extinção da influência política dos detentores de títulos. Além disso, a “diplomacia do dólar”, que havia sido tão proeminente nas relações pré-Depressão entre os Estados Unidos e a América Latina, tinha desaparecido completamente.”

“O segundo império americano era um animal muito diferente. Encontrava sustentação em instituições como o Export-Import Bank e suas promessas de empréstimos” diz Maurer. Mais: “A ansiedade crescente determinada pela expansão do comunismo também contribuiria radicalmente para modificar as políticas de intervenção, ao mesmo tempo que também crescia o uso das ações clandestinas, recurso que, depois da Segunda Guerra Mundial, abria toda uma nova gama de possibilidades”.

Uma grande reviravolta vinha sendo amadurecida ao longo dos anos, enquanto se continuava a fazer a gestão de conflitos à moda tradicional. Então, a partir de meados do século passado, investidores diretos passaram a ter acesso a sistemas de arbitragem internacional para resolver pendências com outros países, independentemente do concurso de governos. É o caso do International Centre for Settlement of Investment Disputes (ICSID), ligado ao Banco Mundial. Outras mudanças permitiriam que decisões resultantes nesses foros fossem levadas à execução por cortes nacionais. São opções que, como acentua Maurer, tiveram o efeito de despolitizar as disputas sobre investimentos e libertaram o governo americano de pressões domésticas que, ao longo do tempo, o arrastaram para conflitos com outros países.

O Brasil merece atenção, no livro, quando se rememora a encampação da Companhia Telefônica Nacional, uma subsidiária da International Telephone and Telegraph, pelo governo de Leonel Brizola, em 1962. Já antes, a mesma medida havia alcançado outra empresa americana, a Bond and Share, da área de energia. Seguiram-se reações do Congresso americano — já agastado com as tendências esquerdistas do governo João Goulart — que, afinal, se revelariam pouco efetivas, limitando-se à imposição de restrições a programas de ajuda.

Maior relevo é conferido ao país, porém, como estando, hoje, em permanente “flerte” com a “armadilha do império”. O Brasil, — que não é signatário da convenção que criou o ICSID — faz uso de sua posição hegemônica na América Latina para interferir em disputas sobre direitos de propriedade de empresas brasileiras em outros países da região. Vários casos protagonizados pelo governo Lula são esmiuçados para ilustrar a referência ao país como exemplo para o desenho de um cenário que decorreria da eventual falta das instituições de arbitragem hoje existentes.

“Investidores de grandes países continuariam a ter proteção significativa contra a predação ou oportunismo de governos estrangeiros menores. Essa proteção, no entanto, dependeria da habilidade de investidores influenciarem ou manipularem a política externa de seus países — em outras palavras, a armadilha do império. A história do primeiro e segundo impérios americanos indica que não será o investidor internacional quem entraria em risco com a perda das instituições que protegem o investimento estrangeiro, mas sim a independência da política externa nacional.”

São estas exatamente as linhas com que Maurer fecha seu livro, dando ao Brasil, portanto, o privilégio de um destaque difícil de não ser notado.

"The Empire Trap - The Rise and Fall of U. S. Intervention to Protect American Property Overseas, 1893-2013"
Noel Maurer. Editora: Princeton Univ. Press. 558 págs., US$ 32,76




ORÇAMENTO USA - ESTADOS UNIDOS - 2014

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