Monday, 12 October 2009

OLIVER WILLIAMSON e ELINOR OSTROM

The Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel 2009
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Elinor Ostrom diz que a cooperação é a chave do sucesso - A cientista política foi a primeira mulher a receber o Nobel de Economia.
Confira a entrevista de Lucia Araújo, diretora do Canal Futura, com a cientista política Elinor Ostrom, primeira mulher a ganhar o Nobel de Economia. Para Ostrom, a cooperação é chave do sucesso para qualquer sociedade. Sem cooperar, o ser humano está fadado ao fracasso. Edição 03/05/2010 - Publicado em 04/05/2010

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Num ano de crise: Laureados estudaram governança e o comportamento decisório fora dos mercados
Nobel de Economia premia 'outsiders'
Justin Lahart, The Wall Street Journal
13/10/2009
AP Oliver Williamson, 77
Os economistas americanos Elinor Ostrom e Oliver Williamson, que estudam o modo como decisões são tomadas fora dos mercados, ganharam o Nobel de Economia. Ostrom, professora na Universidade de Indiana, é a primeira mulher a receber esse prêmio, que já foi outorgado a 62 homens desde que foi lançado, em 1969. Os juízes citaram sua análise de o que acontece quando recursos naturais são compartilhados. Williamson, que leciona na Universidade da Califórnia em Berkeley, foi premiado por explicar por que algumas decisões são mais eficientes se tomadas dentro de corporações em vez de nos mercados.
Entre os economistas, nenhum deles era visto como provável premiado. O doutorado de Ostrom é em ciências políticas, embora ela se considere uma economista política. Ostrom, de 76 anos, disse que quando o telefone tocou às 6h30 ontem, ela pensou que era telemarketing. O trabalho de Williamson, por sua vez, tem tido muita influência em outros campos que não o econômico. O acadêmico de 77 anos tem sido descrito como o economista mais citado por não-economistas.
Ambos deram destaque a áreas em que abordagens tradicionais da economia eram inadequadas para explicar o que de fato acontece. "Eles dois prestam uma atenção incrível ao que acontece no mundo real", disse o economista Witold Henisz, da Faculdade Wharton, ex-aluno de Williamson. "Eles vasculham de verdade o modo como as coisas de fato funcionam."
O trabalho de Ostrom questionou a visão de que, quando as pessoas compartilham um recurso finito, vão acabar destruindo-o - o que é conhecido como tragédia dos comuns. Essa visão argumenta que recursos importantes para o bem comum precisam ser regulamentados ou privatizados.
AP
Elinor Ostrom, 76: estudos dos dois vão além do campo mais tradicional da economia
Quando fazia pós-graduação no início dos anos 60 na Universidade da Califórnia em Los Angeles, Ostrom pesquisou a maneira como a água estava sendo administrada no sul do Estado. Os níveis do lençol freático estavam caindo e água salgada estava entrando no sistema. Mas, em vez de cair numa tragédia de comuns, comunidades e produtores de água chegaram a uma solução. Isso a levou a explorar situações ao redor do mundo em que recursos eram propriedade comunitária. Economistas em geral ignoravam a importância dessas redes, disse o economista ambiental Matthew Kotchen, da Universidade Yale , em parte porque não podiam criar modelos elegantes para os descrever.
Quando se trata de um problema de larga escala tal como mudanças no clima, em que há poucas relações conhecidas em que se basear, as soluções tendem a ver de baixo, disse Ostrom. "Mas isso não significa que devemos apenas esperar até que surja o acordo internacional", disse. Em vez disso, governos deveriam encorajar e ajudar as pessoas onde elas estão tentando resolver o problema, por exemplo ao encontrar modos de facilitar o uso de energia solar ou de ir ao trabalho de bicicleta.
O trabalho de Williamson deriva do tempo em que ele trabalhou, no fim dos anos 60, da Divisão Antitruste do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Ele observou que especialistas prestavam pouca atenção ao funcionamento interno das empresas. "Os economistas costumavam pensar que a empresa é uma caixa preta que transforma insumos em produtos, e não olhavam lá dentro", explicou Williamson ao "Wall Street Journal". "Nós abrimos a caixa preta."
O que ele descobriu foi que há muitas decisões econômicas que, segundo a teoria convencional, deveriam ser deixadas por conta do mercado mas, na verdade, funcionam melhor se forem tomadas dentro da empresa. "A concorrência nos mercados funciona relativamente bem porque compradores e vendedores podem buscar outros parceiros comerciais em caso de discordância", disseram os juízes do Nobel. "Mas quando a concorrência no mercado é limitada, as firmas resolvem melhor os conflitos do que os mercados."
O Nobel de Economia é o único dos seis prêmios que não foi estabelecido pelo industrialista sueco Alfred Nobel em seu testamento de 1896, e foi criado para comemorar os 300 anos do Banco Central da Suécia. É conhecido oficialmente como Prêmio Sveriges Riksbank de Ciência Econômica em Memória de Alfred Nobel.
Os dois economistas vão dividir o prêmio US$ 1,4 milhão.


Analíse:
Uma estocada nos economis
De São Paulo
13/10/2009
Muita gente chegou a dizer que o Prêmio Nobel de Economia não deveria ser dado neste ano, talvez até como um meio de protestar contra a incapacidade que a maior parte dos economistas teve de prever a crise mundial. Alguns economistas veem o Nobel de Elinor Ostrom e de Oliver Williamson como uma resposta a esse sentimento, já que os dois são identificados mais com as ciências sociais do que com as ciências econômicas tradicionais. Mas aí aparece outra pergunta: essas duas áreas são tão distintas?
Para economistas reunidos na conferência anual da Nabe (Associação Nacional dos Economistas de Negócios, na sigla em inglês), em St. Louis, a escolha dos dois laureados deste ano significa que parece ser hora de privilegiar uma ampliação do campo de estudo econômico.
Ostrom e Williamson são ambos cientistas sociais que analisam as decisões tomadas fora dos mercados. Ao premiar dois acadêmicos que focam o comportamento não mercadológico, o comitê que define quem ganha o Nobel parece estar querendo jogar uma luz sobre uma área nova, num momento de crise financeira em que muita gente procura por novas abordagens.
"Eu acho que é uma mensagem de que o campo da economia está tentando deixar de ser puramente quantitativo para ser um campo multidisciplinar", disse Kathleen Stephansen, economista-chefe da Aladdin Capital Holdings, de Stamford, Connecticut.
Para Lynn Reaser, economista-chefe da Point Loma Nazarene University e presidente eleito da Nabe, a escolha de Ostrom e Williamson foi positiva. "É importante para os economistas ter um olhar para além de apenas a inflação e o crescimento do PIB", disse ele.
Jack Strauss, professor de economia na Universidade de St. Louis, concorda. "[o prêmio dado aos dois] faz sentido porque são economistas comportamentais", disse ele. "A crise financeira mostrou como os mercados são falhos. E esses economistas têm pesquisado e avaliados as falhas de mercado e as ações coletivas."
Muita gente no presente no encontro da Nabe não tinha muita familiaridade com os trabalhos dos dois lauraedos. Talvez isso mostre como os economistas estejam precisando se reciclar.



"Skyhooks versus Cranes: The Nobel Prize for Elinor Ostrom"
Paul Romer wants to make sure that we understand the importance of Elinor Ostrom's "work on one of the deepest issues in economics": Skyhooks versus Cranes: The Nobel Prize for Elinor Ostrom. by Paul Romer:



Oliver Williamson and Elinor Ostrom Awarded Nobel in Economics
I would not have predicted this (links to other comments are given below):
Two Americans Share Nobel in Economics, by Louis Uchitelle, NY Times:
UC Berkeley Professor Oliver Williamson wins the 2009 Nobel Prize in Economics


Surprising Nobel in Economics
Posted by: Michael Mandel on October 12



Seu trabalho nos convida a estudar as organizações na sociedade, como elas são.
Oliver Williamson: a relevância das instituições
Por Decio Zylbersztajn
14/10/2009
Oliver Williamson (Nobel de Economia) é um exemplo de cientista social sério cuja obra impactante abriu caminhos que ainda estamos a explorar
A premiação do Nobel de economia de 2009 coincide com uma celebração que ocorrerá na Universidade de Chicago em dezembro. Trata-se da comemoração dos 99 anos do professor Ronald Coase. Alguém poderia certamente indagar, qual a relação entre o novo laureado e o professor Coase, que recebeu o mesmo prêmio em 1992.
Na verdade o Nobel foi destinado a dois pesquisadores, Oliver Williamson e Elinor Ostrom, que dividem uma base comum que foi introduzida por Ronald Coase. Tal base se sustenta no fato de que as instituições são importantes e voltaram a fazer parte da teoria econômica. Foi Coase quem convidou os economistas a modelar o mundo real ao invés de brincar com modelos afastados da realidade. Assim afirmou no seu discurso de premiação.
Se Coase apontou para a direção correta, foi Oliver Williamson quem desenvolveu o construto fundamental para que, todos nós que estudamos a Economia das Organizações, pudéssemos fazer análises pautadas por modelos realistas. Oliver Williamson trabalhou incansavelmente por quatro décadas apresentando o seu modelo que permite testar hipóteses sobre os mecanismos de governança das organizações, sobre as relações entre firmas que não ocorrem por meio dos mercados e sim dos contratos. Se o termo "custo de transação" é hoje tão comum, devemos a ambos, Coase e Williamson, respectivamente, a sua criação e difusão.
Mais do que o conceito de governança corporativa, o trabalho de Williamson lançou luz sobre decisões estratégicas fundamentais, como por exemplo, a decisão estratégica sobre o crescimento vertical das organizações. "Um passo além da questão tradicional que permeia as decisões estratégicas sobre 'terceirização'", o modelo de Williamson abriu caminhos para a análise do crescimento das firmas e das relações contratuais complexas que caracterizam as cadeias produtivas e as redes de corporações modernas.
Williamson abriu caminhos e determinou rupturas. Por exemplo, a tradicional visão da análise econômica da concorrência foi criticada por Williamson, que sugere que em muitos casos as intervenções dos organismos de promoção da concorrência geram ineficiências indesejáveis nas organizações. Incomoda a muitos quando considera a firma, como que um tribunal de primeira instância para dirimir conflitos. Também incomodou muitos ao expor as entranhas do comportamento humano explorando o conceito de "oportunismo" dos atores na sociedade.
Afirma Williamson que mesmo que você, leitor, não seja oportunista, o seu vizinho pode ser. Ou você pode agir oportunisticamente vez ou outra, o que traz implicações para o modelo das organizações e para a realização das transações. Incomodou também quando reapresentou o conceito de "racionalidade limitada" gerado por Simon e revivido na obra de Williamson, que colide com a hiperacionalidade que caracteriza a teoria econômica tradicional. Ou seja, temos a intenção de agir racionalmente, mas nossa incompetência cognitiva é tamanha, que só conseguimos atingir parcialmente o nosso intento.
Some-se o oportunismo, a racionalidade limitada e a necessidade de realizarmos contratos, para compreendermos como as instituições são necessárias para evitar o caos social e econômico, como o que se instalou no mundo no final de 2008 e ao longo de 2009.
Seus críticos são tão numerosos quanto os seus admiradores. Alguns afirmam que o seu modelo não reconhece a estrutura social que abriga as complexas transações. Outros o criticam pelo excessivo reducionismo do seu modelo de determinação das estruturas de governança eficientes. Outros ainda implicam com a homogeneidade dos seus artigos, que sempre terminam com um mantra: existe um alinhamento minimizador de custos de transação, entre as formas de governança observadas, regido pela interação entre as características das transações e as instituições.
A sua contribuição fundamental iniciada nos anos 70 foi repetida mundo afora nas suas contínuas peregrinações por universidades em todos os continentes. No curso que costumava dar na Universidade de Berkeley que eu tive a oportunidade de fazer, Williamson iniciava com uma citação de Peguy que está no seu livro "Mecanismos de Governança" de 1996.
Essa citação inspira a primeira aula da disciplina de Economia das Organizações que eu ministro na FEA: "Quanto mais eu vivo menos acredito em iluminações súbitas, que não venham acompanhadas por trabalho sério. Menos eu creio nas súbitas paixões e mais eu creio na eficiência do trabalho modesto, lento, molecular e definitivo. Quanto mais eu vivo, menos acredito nas revoluções sociais, improvisadas e maravilhosas, com ou sem armas e ditadores, e mais eu acredito na eficiência do trabalho modesto, lento, molecular e definitivo".
Vejo em Williamson um exemplo de cientista social sério e cuja obra impactante abriu caminhos que ainda estamos a explorar. Na Haas Business School da Universidade de Berkeley, onde se aposentou, exerceu atividades nos Departamentos de Administração, de Economia e Direito. Seguindo a tradição Coasiana, seu trabalho nos convida a estudar as organizações na sociedade, entre as quais as firmas, como elas são, e não como queremos que sejam.
Se alguns ainda viam a Nova Economia Institucional como uma teoria menor que apenas critica a teoria econômica tradicional, o chamado "mainstream", creio que depois de Ronald Coase, Douglass North, e agora Oliver Williamson e Elinor Ostrom, é chegada a hora de repensarmos as disciplinas dos cursos de Economia, de Administração e de Direito, trazendo um pouco da visão Coasiana.
O professor Ronald Coase será homenageado em dezembro. Vive para ver os seus seguidores intelectuais ganharem a merecida relevância. Conforme afirmou: "O mundo real é o que realmente importa. Vamos pois estudá-lo".
Decio Zylbersztajn, organizador do livro "Direito e economia: análise econômica do Direito e das organizações" (Editora Campus), que contém capítulo escrito por Oliver Williamson, é professor de Economia das Organizações, do Depto. de Administração da FEA/USP.



"Transaction Cost Economics"
Why do firms exist? Why is it sometimes beneficial to, say, produce a part needed in the production process yourself, and why is it better to contract with an outside firm at other times? Where are the boundaries between what will be performed internally, and what will be performed externally? How should firms be organized? Robert Salomon explains the contributions of Oliver Williamson to the field of Transaction Cost Economics, and he reacts to some of the reactions to the announcement of the award: ... .... ... ..... .... ....



Artigo: O Nobel para Oliver Williamson sublinha a relevância da escola de pensamento institucional.
A tríplice coroação de uma nova economia
Por Ramón García Fernández e Huáscar Pessali, para o Valor
16/10/2009
Williamson: sua influência se estende ao direito, à teoria das organizações, à ciência política e à sociologia
A concessão do Nobel de Economia sempre gera acaloradas discussões entre os pesquisadores da área. O prêmio deste ano passará à história, pois um dos laureados, a professora Elinor Ostrom, é a primeira mulher a receber o galardão. Além disso, Ostrom é cientista política e não economista, o que provocou ruído adicional. Se essa metade do Nobel causou relativa surpresa, a outra metade foi a confirmação de uma certeza que demorava a acontecer. O professor Oliver Eaton Williamson, da Universidade da California-Berkeley, era há anos considerado um forte candidato ao prêmio.
Certamente, não deve constituir surpresa que o autor vivo mais citado na área das ciências sociais seja lembrado com esta distinção. De fato, a pergunta é por que não o foi antes. Autor prolífico, Williamson escreveu cinco livros, editou outros sete e publicou muitos artigos em periódicos prestigiosos. Seus trabalhos foram traduzidos para o espanhol, russo, chinês, alemão, japonês e italiano, entre outras línguas, mas ainda não para o português. Além do Nobel, ganhou outros prêmios, foi professor visitante em uma dúzia de países e participa do comitê editorial de vários periódicos reconhecidos.
A influência de Williamson se estende a áreas como o direito, a teoria das organizações, a ciência política e a sociologia, que normalmente olham para a economia com um misto de desconfiança e admiração, dela mantendo prudente distância. O próprio Williamson, em seus escritos, sempre enfatizou a interdisciplinaridade de sua abordagem, colocando-a no cruzamento da economia com o direito e a administração. Por sinal, Williamson é membro do departamento de "business" de sua universidade, não do de "economics".
Essa característica interdisciplinar reflete bem a formação de Williamson. Nascido em 1932, ele graduou-se em administração no Massachusetts Institute of Technology em 1955, concluiu um MBA em Stanford, e resolveu fazer seu doutorado na Universidade de Carnegie-Mellon, na Escola de Pós-Graduação em Administração Industrial. Esse nome pode induzir a erros, pois a formação era essencialmente em economia: vários economistas de primeira linha, entre eles alguns futuros ganhadores do Prêmio Nobel, trabalhavam ali. A figura mais marcante da escola era Herbert Simon, nobelista de 1978. Simon liderava um grupo de economistas insatisfeitos com a visão tradicional da firma como uma "função de produção". Esta perspectiva reduz a firma a uma caixa preta, em que entram insumos e da qual saem produtos, sem que seja considerado relevante saber o que ocorre em seu interior, como relações de comando, conflitos, incentivos, divisão e coordenação de tarefas. Tudo isto era ignorado ou, na melhor das hipóteses, deixado para as teorias da administração e da organização. Em reação a isso, Simon e outros colegas em Carnegie-Mellon passaram a estudar os problemas de decisão enfrentados pelos empresários, as relações entre as pessoas e os conflitos e os mecanismos de coordenação entre diferentes grupos no interior da firma.
Williamson escreveu sua tese de doutorado dentro dessa tradição, e aos 31 anos ganhou o prêmio de melhor tese em economia dado pela Fundação Ford. Ela foi publicada como livro e se tornou referência no desenvolvimento da visão gerencialista da firma. Seu título, "A Economia da Conduta Discricionária", mostra bem sua divergência com uma visão que tratava a firma como uma máquina perfeitamente azeitada, na qual as atitudes das pessoas não faziam a menor diferença.
A outra grande influência intelectual de Williamson foi Ronald Coase, também um nobelista (em 1991). Coase fez nos anos 1930 uma pergunta bastante ingênua - Por que as firmas existem? - mas impossível de se responder dentro da teoria tradicional, que sempre considera o mercado a maneira mais eficiente de organizar as atividades econômicas. Se assim realmente fosse, por que um empresário compraria máquinas, contrataria operários, contadores ou secretárias, em lugar de procurar todos esses serviços no mercado cada vez que precisa deles? Coase propôs que usar o mercado tem custos que tornam vantajoso (eficiente) organizar algumas atividades em firmas nas quais a coordenação não ocorre através do mecanismo de preços, mas da autoridade (alguém dá ordens, outros aceitam obedecê-las).
A obra de Coase inspirou o primeiro livro de grande impacto de Williamson, "Mercados e hierarquias", publicado em 1975. Anos mais tarde, Williamson ampliou e sofisticou essas ideias no livro "As Instituições Econômicas do Capitalismo", de 1985. Nesses dois livros, ele desenvolveu a proposta de Coase, utilizando o conceito de custos de transação. Estes incluem os custos de tempo e dinheiro necessários para efetuar uma transação econômica, tais como procurar informação, escrever contratos e monitorar seu cumprimento, dirimir conflitos quando não há acordos e adaptar o acordo diante de imprevistos.
Dali surge uma questão mencionada na outorga do Nobel: como fazem as firmas para determinar quais atividades fazem e quais não fazem, ou seja, como se chega à decisão de fazer ou comprar feito. Por exemplo, se uma firma resolve dar refeições a seus funcionários, como decide se monta e gerencia um refeitório ela mesma contratando funcionários, terceiriza o serviço ou dá vales-refeição? Para Williamson, a firma tentará reduzir os custos de transação, escolhendo a forma de organizar a atividade que for mais econômica. Essas formas alternativas de organizar uma atividade são chamadas em sua linguagem de "estruturas de governança", e este será o critério para determinar os limites da firma, ou seja, decidir o que ela faz e o que deixa de fazer. Estas idéias são a motivação central do Nobel dado a Williamson, pois a comissão menciona suas contribuições "à análise da governança econômica, especialmente das fronteiras da firma". Reconhece-se, assim, que as relações contratuais são essenciais para compreender a organização e a dimensão das firmas, algo que antes das contribuições de Williamson era praticamente ignorado.
Sua visão teve também consequências práticas muito importantes. A teoria econômica tradicional diz que a organização eficiente das atividades ocorre nos mercados perfeitamente concorrenciais, caracterizados pela presença de um grande número de firmas pequenas. Assim, a integração vertical não faria sentido, pois firmas especializadas aproveitam melhor a divisão do trabalho. Para os apologistas da economia de mercado, isto cria uma saia justa: como compatibilizar sua visão com os muitos mercados reais caracterizados por poucas e grandes firmas verticalmente integradas? Não seria isto uma evidência de abuso sistemático de poder econômico? Williamson sugeriu que, ao contrário, são principalmente critérios de eficiência na avaliação dos custos de transação que levam uma firma a decidir se deve ser pequena ou grande, integrada ou não. Em sua visão, a grande firma não é necessariamente um problema, mas uma solução eficiente face aos custos de transação que teriam estruturas de governança alternativas - como, por exemplo, as muitas transações comerciais que seriam necessárias entre muitas pequenas firmas, encarecendo o produto final.
Um novo livro, "Os Mecanismos de Governança", de 1996, inclui uma nova e importante contribuição de Williamson. Nesta obra, o autor reforma a visão "firmas x mercados", e reconhece e desenvolve a existência de formas alternativas ("híbridas", nos seus termos) que não se encaixam na dicotomia habitual. Isto mostra um pensador atento ao mundo à sua volta: os anos 1980 viram o surgimento dos consórcios de produção, a onda de terceirizações, a explosão das franquias e outros tipos de contratos inovadores que não se encaixavam facilmente em seu esquema anterior.
Outra faceta da atividade intelectual de Williamson, não destacada pela comissão, é sua capacidade de organização intelectual. Em "Mercados e Hierarquias", ele disse que seu trabalho formava parte de uma nova corrente de pensamento, batizando-a como "nova economia institucional". Autores próximos a esta visão começaram a realizar conferências a partir de 1983, o que permitiu estabelecer uma rede de vínculos e, em termos práticos, uma nova escola. Em 1996, foi criada a Sociedade Internacional para a Nova Economia Institucional, cujos dois primeiros presidentes foram ganhadores do Nobel: Coase e Douglass North. Agora, essa lista inclui também seu terceiro presidente. Difícil imaginar outra associação acadêmica com tantos milionários laureados.
Ramón García Fernández é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EESP)
Huáscar Pessali é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)




A propósito do Nobel de economia
Fábio Wanderley Reis
19/10/2009
O prêmio Nobel de economia tem sido outorgado a especialistas de perfil diverso quanto às perspectivas adotadas sobre o instrumental analítico da disciplina e suas consequências para as relações com disciplinas afins. Um perfil se ilustra com Gary Becker (1992), talvez o melhor exemplo de economista a tratar simplesmente de estender os postulados e instrumentos da análise neoclássica tradicional a novas áreas temáticas e a buscar a teoria econômica do crime, da família ou do comportamento humano em geral. Ele contrasta fortemente, por exemplo, com George Akerlof (2001), empenhado em trazer à análise tradicional intuições sociológicas (e psicológicas, antropológicas: fazer uma "psycho-socio-anthropo-economics", como formula ele próprio em texto de 1984), ou com Daniel Kahneman (2002), um dos principais responsáveis pela introdução do que se tornou conhecido como a "economia comportamental", atenta às dificuldades envolvidas na adesão ao postulado de racionalidade dos agentes.
Este ano, a balança pendeu claramente para o lado inclinado a revisões e reorientações. Além de Oliver Williamson, economista que, contra os neoclássicos, salienta os "custos de transação", contrapõe hierarquias a mercados e se dedica a problemas de "governança", temos Elinor Ostrom, que, além de mulher (a primeira a ganhar o prêmio), não é sequer economista, e sim cientista política. Seu trabalho se insere numa linha que, incluindo profissionais de várias áreas e pretendendo mesmo eventualmente unificar as "ciências do comportamento", tem permitido, internamente à ciência política, a oposição criativa à intensa penetração do campo pelos supostos e instrumentos da economia neoclássica ocorrida no último meio século, com a difusão da chamada abordagem da "escolha racional". Um artigo recente ("Policies That Crowd out Reciprocity and Collective Action", 2005) dá acesso, em forma sintética, a aspectos salientes da empreitada.
O ponto crucial pode ser posto em termos de questionar o que se tornou conhecido, desde um trabalho de Mancur Olson que se inscreve entre os pioneiros na afirmação do "imperialismo" da economia ("A Lógica da Ação Coletiva"), como o "dilema da ação coletiva": indivíduos descritos às vezes como "egoístas racionais", aptos ao cálculo orientado pelo interesse próprio, especialmente interesses materiais, tenderão a não agir de maneira condizente com o interesse coletivo, e a realização deste exigiria que eles fossem expostos a "incentivos seletivos" (ou remunerados ou coagidos, em particular pelo Estado) para se obter a conduta apropriada. Em contraste, a perspectiva de Ostrom e outros sustenta que a melhor suposição para explicar o comportamento humano não seria a referida à mera disposição à maximização de ganhos ou utilidades, mas sim a de que existem múltiplos tipos de indivíduos ou agentes. Teríamos especialmente, ao lado dos egoístas racionais, gente guiada pela "lógica da reciprocidade", que manifestaria o que os autores chamam de "reciprocidade forte", ou seja, a disposição, por um lado, de cooperar, mesmo a algum custo pessoal, com outros que mostrem disposição análoga, mas também, por outro lado, a disposição de punir os que violam a norma de cooperação, igualmente mesmo se a punição envolver custos pessoais. Essa lógica é encontrada em operação em variados estudos de campo e investigações experimentais, particularmente em ambientes distintos dos de mercados altamente competitivos. Ela é afim às comunidades caracterizadas por relações face a face, em que os indivíduos podem cada qual observar o comportamento dos outros e em que se têm condições propícias ao surgimento de regras e instituições autônomas, criadas pelos próprios agentes envolvidos. E destaca-se que a intervenção do Estado, que a lógica do dilema da ação coletiva torna fatal, surge aqui como incerta em seus efeitos: ela pode ocasionalmente estimular o ânimo de colaboração, se percebida como complementar e convergente com os mecanismos comunitários, mas pode também opor-se a ele e eventualmente extingui-lo, concorrendo, por exemplo, para colocar em dúvida a disposição cooperativa dos demais.
A perspectiva geral, especialmente em sua articulação com disciplinas como a biologia evolucionária e em suas ambições multidisciplinares ou transdisciplinares, é com certeza promissora. Mas mesmo esta brevíssima apresentação de algumas de suas sugestões já permite visualizar também as dificuldades. Em particular, o problema de escala e certos desdobramentos dele. O dilema da ação coletiva de Olson é formulado com referência explícita a grupos de grandes dimensões, denominados grupos "latentes", onde a impossibilidade da informação e do controle sobre o comportamento dos demais coloca um insolúvel problema de coordenação em que, no limite, se torna também impossível para cada um agir de maneira que viesse a ser coletivamente racional. Se os problemas se dão em escala que ultrapasse a da comunidade de relações face a face, como resolver a dificuldade de chegar a apreender cognitivamente se os outros estão fazendo a sua parte para aplicar a solidariedade condicional da lógica da reciprocidade? Se a disposição confiante que a colaboração exigiria depende de expectativas, com seu componente informacional ou cognitivo, como condicionar expectativas para começar a implantar a confiança em circunstâncias em que a própria lógica da reciprocidade não justificaria presumi-la?
Talvez infelizmente, não há como evitar que o desafio seja justamente o de assegurar que o mercado definido por relações entre estranhos seja também uma comunidade, como quis Max Weber. E se o Estado é o instrumento indispensável disso, tampouco há como escapar, fechando o círculo complicado, do condicionamento do próprio Estado por um substrato de relações mercantis e de enfrentamento de interesses.
Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Escreve às segundas-feiras
E-mail fabiowr@uai.com.br




The Student of Working Together
Who owns the Nobel Prize in economics? A basis for an answer to that question appeared last week, when the Nobel Committee opened the door to a capacious new wing of economic research, citing political scientist Elinor Ostrom, of Indiana University, for her investigations of how ordinary citizens solve problems that arise when sharing common resources (and sometimes fail to solve them). ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...




October 19, 2009
Oliver Williamson, a gentleman
Shane Greenstein @ 11:41 am



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