Tuesday, 27 October 2009

IOF 2% - FOREIGN CAPITAL

ANÁLISE
FMI deveria ajudar o Brasil a enfrentar fluxo de capitais
Mundo precisa de uma abordagem menos doutrinária sobre capital estrangeiro, e discutir o IOF sobre remessas sinalizaria que o Fundo pode facilitar essa mudança
ARVIND SUBRAMANIANJOHN WILLIAMSON DO "FINANCIAL TIMES"
A ação brasileira ao impor um tributo sobre certas formas de fluxo de capital estrangeiro, a fim de controlar a alta da moeda do país, tem grande importância, prática e simbólica. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ..


cf. folha, 24-10-2009


LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Patéticas críticas ao IOF
O IOF sobre ações deixa claro que o governo vai aumentar seu esforço para impedir a sobreapreciação do câmbio
ACERTARAM O presidente Lula e o ministro Guido Mantega ao decidirem pela imposição do IOF de 2% sobre as entradas de capital especulativo no Brasil. O IOF é um imposto regulatório que foi criado nos anos 1970 por um notável economista desenvolvimentista -Mário Henrique Simonsen- para, através do desestímulo à entrada de capitais especulativos, corrigir a incapacidade dos mercados financeiros de arbitrar e, portanto, eliminar as diferenças de taxa de juros interna e internacional. ... ... .... .... ..... .... ... ... ... ... .. .. . .. .. .. . .. ... .... ....



CESAR BENJAMIN
Continuamos reféns
Nossos juros continuam a ser uma anomalia, e o mercado de câmbio permanece sensível a movimentos especulativos
AS MAIS influentes escolas de economia, no século 20, foram aquelas que se esforçaram para conciliar o impulso à acumulação de capital, de um lado, e interesses gerais da sociedade, de outro. Ambos não são incompatíveis, mas tampouco são necessariamente harmônicos. A compatibilização é uma construção institucional. ... .... ....



É muito difícil reintroduzir algum equilíbrio no debate sobre os fluxos de capitais
FMI precisa de novas ideiasDani Rodrik13/11/2009
É muito difícil reintroduzir algum equilíbrio no debate sobre os fluxos de capitais
Por que o Fundo Monetário Internacional (FMI) torna tão difícil para pessoas como eu gostarem dele?
O FMI disse e fez todas as coisas certas desde a crise. Agiu tão rápido quanto possível dentro da burocracia internacional para estabelecer novas linhas de crédito aos países emergentes assolados. Remodelou as condições de seus empréstimos para adaptar-se aos tempos. Sob o comando de seu competente diretor-gerente, Dominique Strauss-Khan, e notável economista-chefe, Olivier Blanchard, foi, em meio à dissonância, uma voz pela sanidade nos estímulos fiscais mundiais. Para uma instituição que parecia à beira da irrelevância há não muito tempo, é uma transformação e tanto.
Agora, no entanto, Strauss-Khan vem jogando água fria nas propostas de taxar os fluxos internacionais do dinheiro "quente", como são chamados os investimentos especulativos de curto prazo. A ocasião foi a decisão do governo do Brasil de criar imposto de 2% sobre os fluxos de capitais de curto prazo para evitar uma bolha especulativa e mais valorizações em sua moeda. Quando perguntado sobre o papel dos controles de capitais, Strauss-Khan disse não se ater a nenhuma ideologia rígida sobre o assunto. Porém, segundo o "Financial Times", que publicou alguns dos pontos de vista do diretor-gerente, "o FMI tampouco os recomendaria como receita padrão - já que trouxeram custos e normalmente foram ineficazes". Infelizmente, isso faz o novo FMI soar bastante parecido ao antigo.
Controles prudenciais sobre os fluxos de capital fazem muito sentido. Os fluxos de curto prazo não apenas provocam estragos na gestão macroeconômica doméstica, como também agravam as oscilações adversas das taxas de câmbio. Em particular, os fluxos de capital "quente" dificultam que economias financeiramente abertas, como o Brasil, mantenham uma moeda competitiva, privando-as do que, na prática, é a forma mais poderosa imaginável de política industrial.
Sem dúvida, ao enviar sinais contraditórios aos mercados financeiros, os brasileiros podem ter afetado sua tentativa de esfriar os influxos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia refutado as conversas de controles de capitais, apenas poucos dias antes de serem impostos. Para que os esforços de influenciar o nível do câmbio sejam significativos, é preciso determinação para coordenar impostos financeiros e políticas complementares até que mostrem seus efeitos. A timidez é contraprodutiva, porque o tiro sai pela culatra.
Mais importante, no entanto, foi o simbolismo da medida brasileira, pois sugere que os mercados emergentes podem estar superando sua arruinadora paixão cega pelas finanças estrangeiras. Certamente, como os economistas Arvind Subramanian e John Williamson escreveram, os países emergentes merecem a ajuda do FMI para elaborar melhores controles prudenciais sobre os influxos de capital em vez de ser repreendidos.
A resposta de Strauss-Khan, de que os impostos sobre fluxos de capital são custosos e ineficientes é, portanto, desafortunada. Também é emblemática sobre a reação instintiva que frequentemente ofusca os prós e contras dos controles de capitais. Não há problema em opor-se aos controles por acreditar que os mercados financeiros são, em seu total, uma força positiva e que qualquer interferência, portanto, gerará perda de eficiência. Ou opor-se por acreditar que podem ser driblados com facilidade e, logo, estão condenados a continuar ineficazes. O que não se pode fazer é opor-se aos controles por serem tanto custosos como ineficientes.
Pensem a respeito. Se os controles de capitais podem ser evitados com facilidade - digamos, por meio da manipulação do momento das transações ou contabilizando inadequadamente os fluxos de negócios -, então, haverá pouco impacto no volume real de influxos de capital. Os controles imporiam, portanto, poucos custos nos mercados (embora possam envolver algum custo administrativo para o governo). Por outro lado, se os participantes do mercado tiverem custos significativos - seja com os impostos que pagarão ou pelas despesas que terão para driblá-los - os controles restringirão o influxo com eficiência. Caso se tente ver as duas coisas, é provável que se tenha tomado uma decisão antes de realmente pensar bem a respeito.
Pode parecer curioso que os instintos de Strauss-Khan sejam tão fora de propósito sobre a questão dos controles de capitais. Seria de se imaginar que um socialista - e um socialista francês - estaria mais inclinado ao ceticismo financeiro.
O paradoxo, contudo, é mais aparente do que real. Os mercados financeiros, na verdade, devem muito aos socialistas franceses. A opinião geral é que o Tesouro dos Estados Unidos e Wall Street são os responsáveis pelas pressões para liberar as finanças mundiais. Muito mais influente do que isso, no entanto, pode ter sido a mudança de ideia ocorrida entre os socialistas franceses, após o colapso de seu experimento com a reflação keynesiana no início dos anos 80. Quando a fuga de capitais obrigou François Mitterrand a abortar seu programa em 1983, os socialistas franceses deram uma brusca meia-volta e adotaram a liberalização financeira em escala global.
Segundo Rawi Abdelal, da Harvard Business School, tratou-se de um evento-chave, que deu a partida nos acontecimentos que acabariam consagrando a liberdade de movimento do capital como norma mundial. A União Europeia subiu ao trem na primeira parada, no fim dos anos 80, quando dois socialistas franceses - Jacques Delors e Pascal Lamy (respectivamente presidente da Comissão Europeia e seu assistente) - lideraram o caminho. Depois, foi a vez da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Por fim, quando sob o comando de Michel Camdessus, outro francês, que havia sido presidente do Banco da França no governo Mitterrand, entrou no vagão.
A reação do FMI ao imposto financeiro do Brasil reflete até que ponto arraigou-se a devoção cega às finanças e como é difícil reintroduzir algum equilíbrio no debate sobre os fluxos de capitais - mesmo na esteira de uma das maiores crises financeiras que o mundo sofreu desde a Grande Depressão. O problema não são apenas os fundamentalistas de mercado de direita. A falha em deixar de ver o previsível estende-se por todo o espectro político.
Referindo-se aos controles de capitais, John Maynard Keynes, disse uma frase memorável: "O que costumava ser heresia (restrições sobre os fluxos de capital), agora, é endossado como ortodoxia". Isso foi na aurora da era Bretton Woods, em 1945. Que ironia é, mais de 60 anos depois, termos de passar pela mesma mudança de mentalidade.
Dani Rodrik, professor de Economia Política na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade Harvard, é o primeiro ganhador do Prêmio Albert O. Hirschman, do Social Science Research Council. Seu livro mais recente é "One Economics, Many Recipes: Globalization, Institutions, and Economic Growth" (Uma economia, várias receitas: globalização, instituições e crescimento econômico, em inglês) Copyright: Project Syndicate, 2009. www.project-syndicate.org Podcast em http://media.blubrry.com/ps/media. libsyn.com/media/ps/20091111Rodrik.mp3




O DESAFIO MERCANTILISTA ATUAL
por Dani Rodrik
O novo ambiente econômico produzirá mais tensão do que acomodação. Isso poderá renovar os dormentes debates sobre o tipo de capitalismo que produz maior prosperidade
VALOR ECONÔMICO, Opinião, 10-01-2013
A história da economia é, em larga medida, uma briga entre duas escolas opostas de pensamento, o "liberalismo" e o "mercantilismo". O liberalismo econômico, com sua ênfase na iniciativa privada e no livre mercado, é hoje a doutrina dominante. Mas a sua vitória intelectual nos cegou para o grande apelo - e frequente sucesso - de práticas mercantilistas. Na verdade, o mercantilismo continua vivo e bem, e seu contínuo conflito com o liberalismo provavelmente será a força que influenciará o futuro da economia mundial.
Atualmente, o mercantilismo é normalmente desconsiderado, taxado de conjunto arcaico e errôneo de ideias sobre política econômica. Em seu auge, os mercantilistas defendiam algumas noções muito estranhas - a principal delas: a visão segundo a qual a política nacional deveria ser norteada pelo acúmulo de metais preciosos - ouro e prata.
"A Riqueza das Nações", o tratado de Adam Smith de 1776, demoliu magistralmente muitas dessas ideias. Em especial, Smith mostrou que dinheiro não deve ser confundido com riqueza. Em suas palavras, "a riqueza de um país consiste não apenas em seu ouro e sua prata, mas em suas terras, casas e bens de consumo de todo tipo".
O novo ambiente econômico produzirá mais tensão do que acomodação entre países que trilham os caminhos liberal e mercantilista. Isso também poderá renovar os dormentes debates sobre o tipo de capitalismo que produz maior prosperidade
Mas é mais preciso pensar o mercantilismo como uma forma diferente de organizar a relação entre o Estado e a economia - uma visão não menos importante hoje do que no século XVIII. Teóricos mercantilistas como Thomas Mun eram, na realidade, grandes defensores do capitalismo, apenas propunham um modelo diferente do liberalismo.
O modelo liberal vê o Estado como necessariamente predatório e o setor privado como focado apenas em maximização de lucros, sem quaisquer preocupações de caráter social. Por isso, o modelo liberal defende uma separação rigorosa entre o Estado e o setor privado. O mercantilismo, por outro lado, oferece uma visão corporativista segundo a qual o Estado e as empresas privadas são aliadas e cooperam na busca de objetivos comuns, como o crescimento econômico doméstico ou o poder nacional.
O modelo mercantilista pode ser criticado como sendo capitalismo de Estado ou de compadrio. Mas quando funciona, como tão frequentemente na Ásia, o modelo de "colaboração governo-empresa" ou "Estado incentivador do setor privado" rapidamente acumula elogios entusiásticos. Economias menos desenvolvidas não deixaram de notar que o mercantilismo pode ser seu amigo. Mesmo no Reino Unido, o liberalismo clássico chegou apenas em meados do século XIX - ou seja, depois que o país já havia se tornado a potência industrial dominante do mundo.
Uma segunda diferença entre os dois modelos reside em quais interesses são privilegiados: os do consumidor ou os do produtor? Para os liberais, os consumidores devem reinar. O objetivo último da política econômica é aumentar o potencial de consumo das famílias, o que exige dar a elas livre acesso a bens e serviços os mais baratos possíveis.
Os mercantilistas, em contraste, enfatizam o lado produtivo da economia. Para eles, uma economia sólida requer sólida estrutura de produção. E o consumo precisa se basear em elevados níveis de emprego e salários adequados.
Esses modelos distintos têm implicações previsíveis para as políticas econômicas internacionais. A lógica da abordagem liberal é que os benefícios econômicos do comércio surgem das importações: quanto mais baratas as importações, melhor, mesmo que o resultado seja um déficit comercial. Para os mercantilistas, porém, o comércio é um meio de apoiar a produção nacional e o emprego, e preferem estimular as exportações, e não as importações.
A China é hoje o principal porta-bandeira do mercantilismo, embora os líderes chineses nunca o admitam - o termo ainda é muito estigmatizado. Grande parte do milagre econômico chinês é produto de um governo ativista que tem apoiado, estimulado e subsidiado abertamente produtores industriais - tanto nacionais como estrangeiros.
Embora a China tenha eliminado gradualmente muitos de seus subsídios explícitos à exportação, como condição de aderir à Organização Mundial do Comércio (OMC), o sistema de apoio ao mercantilismo persiste. Em especial, o governo administrou a taxa de câmbio para manter a lucratividade dos fabricantes, o que produziu um superávit comercial de considerável dimensão (que, recentemente, encolheu, mas em grande parte como resultado de uma desaceleração econômica). Além disso, as empresas focadas em exportações continuam a beneficiar-se de uma série de incentivos fiscais.
Da perspectiva liberal, esses subsídios à exportação empobrecem os consumidores chineses, beneficiando os consumidores no resto do mundo. Um recente estudo dos economistas Fabrice DeFever e Alejandro Riaño 1 , da Universidade de Nottingham, estima as "perdas", para a China, em cerca de 3% da renda chinesa, e os ganhos, para o resto do mundo, em torno de 1% da renda mundial. Da perspectiva mercantilista, porém, esses são simplesmente os custos de construção de uma economia moderna e da preparação do palco para prosperidade no longo prazo.
Como mostra o exemplo dos subsídios à exportação, os dois modelos podem coexistir harmoniosamente na economia mundial. Os liberais deveriam ficar felizes por terem seu consumo subsidiado pelo mercantilistas.
Com efeito, essa, em resumo, é a história das últimas seis décadas: uma sucessão de países asiáticos conseguiram crescer a passos largos mediante a aplicação de diferentes variantes de mercantilismo. Os governos dos países ricos, em larga medida, mantiveram uma atitude indiferente, enquanto o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan e a China protegeram seus mercados domésticos, apropriaram-se de "propriedade intelectual", subsidiaram seus produtores e administraram seus câmbios.
Chegamos agora ao fim dessa feliz coexistência. O modelo liberal é hoje duramente questionado devido ao crescimento da desigualdade e à situação da classe média no Ocidente, juntamente com a crise financeira produzida pela desregulamentação. As perspectivas de crescimento das economias americana e europeia no médio prazo vão de moderadas a sombrias. O desemprego continuará a ser uma grande dor de cabeça e motivo de preocupação para as autoridades econômicas. Assim, as pressões mercantilistas provavelmente se intensificarão nos países avançados.
Em consequência, o novo ambiente econômico produzirá mais tensão do que acomodação entre países que trilham os caminhos liberal e mercantilista. Isso também poderá renovar os dormentes debates sobre o tipo de capitalismo que produz maior prosperidade. (Tradução de Sergio Blum)
1 www.bit.ly/ZsnQRU
Dani Rodrik professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard, é autor de "The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy (O paradoxo da globalização: a democracia e o futuro da economia mundial).. Copyright: Project Syndicate, 2012. www.project-syndicate.org

The New Mercantilist Challenge

 

Today, mercantilism is typically dismissed as an archaic and blatantly erroneous set of ideas about economic policy. But it is more accurate to think of mercantilism as a different way to organize the relationship between the state and the economy – a vision that holds no less relevance now than it did in the eighteenth century.


POLÍTICA DE TERCEIRO MUNDO DOS EUA
por Dani Rodrik
As concessões a grupos extremistas, a rejeição à ciência e a tática de evitar os verdadeiros problemas que caracterizaram este ciclo eleitoral representaram um novo patamar de baixarias para a política democrática.
Valor Econômico - 12/11/2012

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