Ciência sem fronteiras
Autor(es): Paulo Nathanael Pereira de Souza |
Correio Braziliense - 03/09/2011 |
Finalmente, uma boa notícia na seara da educação brasileira: vai entrar em funcionamento o programa Ciência sem Fronteiras, que oferecerá 100 mil bolsas nas 50 melhores universidades do exterior, para brasileiros graduados no ensino superior. Já não era sem tempo, eis que a medida visa a remediar esse apagão de competência por falta de talentos, que retarda e bloqueia o esforço nacional de desenvolvimento. Daí que a maior parte dessas bolsas de doutoramento do programa diga respeito à área tecnológica. Afinal, o desempenho brasileiro nesse setor vem sendo pífio, não só no quantitativo, visto que estamos a formar por ano cerca de 4 mil engenheiros (a Coreia do Sul forma 200 mil e a Índia 300 mil, além da China, onde o escore alcança 600 mil), mas também no qualitativo, eis que os cursos no Brasil seguem ainda uma rotina de antanho, com pouca ênfase nas novas tecnologias em surgimento na atualidade.
Daí que a pesquisa científica e os ganhos de inovação entre nós ressentem-se da lentidão das tartarugas. O propósito da oferta dessas vagas vai além de colocar nossos engenheiros e tecnólogos na intimidade da ciência mais avançada do século 21, e traduz a urgência em mundializar o seu saber, eis que a eficácia dessas políticas de casamento entre a futurição tecnológica e os cursos pós-graduados, deve necessariamente dar aos seus usuários ampla visão global do avanço das ciências.
Ninguém mais nos dias de hoje consegue sucesso numa atividade autárquica e intramuros de preparação de recursos humanos para o desenvolvimento. A escola é o mundo, são os países líderes e já provados na utilização dos novos procedimentos científicos. Foi o que fizeram as nações em processo de rápido crescimento e inegável prosperidade: iniciaram o desenvolvimento com o envio de levas maciças de engenheiros ao Primeiro Mundo, como bolsistas.
Nosso objetivo maior nesse campo deve ser, como já se aprovou, em 2010, na 4ª CNCTI (Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para um Desenvolvimento Sustentável), "agregar valor à produção e à exportação, através da inovação e do reforço ao protagonismo internacional em ciência e tecnologia".
Para tanto, o programa vai dispor de uma verba estimada em R$ 3,1 bilhões, a qual virá como acréscimo ao modesto dispêndio orçamentário para P e D que, no ano de 2009, no Brasil, andou por volta de apenas 1,19% do PIB, enquanto que a Coreia do Sul gastou 3,37%, os USA e o Japão despenderam respectivamente 2,77% e 3,24% dos seus PIBs. E com uma vantagem adicional: no nosso caso haverá uma participação da iniciativa privada em 25% das bolsas a serem oferecidas (75%, ou seja 75 mil vagas pagas com verbas públicas e 25.000 com recursos de particulares), o que introduz, nas operações educacionais, uma espécie de bem bolada PPP.
Por todas essas razões está a presidente Dilma Rousseff de parabéns!
PS. 1 — Concomitantemente com isso tudo, há que melhorar, no ensino básico, a didática do ensino de matemática, eis que, de cada 10 jovens brasileiros, quatro não sabem sequer as quatro operações aritméticas.
PS. 2 — Na última reunião do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), realizada no Palácio do Planalto, a presidente da República anunciou que vai estender ao programa Ciência sem Fronteira o critério de cotas, já vigente nos cursos superiores para beneficiar os menos incluídos socialmente, como negros e indígenas. É um ato de coerência nessa política de igualdade de oportunidades mediante cotas, que caracteriza o atual governo.
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28.07.11: O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, explicou o funcionamento do programa Ciência sem Fronteiras, que vai conceder 100 mil bolsas a estudantes brasileiros. O objetivo principal do programa é promover o avanço do Brasil em ciência, tecnologia, inovação e competitividade, concedendo bolsas de estudo no exterior em áreas consideradas prioritárias para o desenvolvimento do país...
VLADIMIR SAFATLE - folha de são paulo, 01-05-2012
Atualmente, é consensual a visão de que a internacionalização é o grande desafio da universidade brasileira. A conjunção entre a língua portuguesa, pouco falada, e o isolamento geográfico em relação aos grandes centros universitários da Europa e dos EUA contribuíram para a produção intelectual brasileira ser desconhecida no resto do mundo.
Quem frequenta congressos internacionais sabe que tal desconhecimento não tem necessariamente a ver com a qualidade de nossa produção, mas, principalmente, com a dificuldade de sua circulação.
Com a transformação do país em ator importante da nova geopolítica mundial, é natural que muitos países comecem a se perguntar sobre o que as universidades daqui produzem, quais seus debates e correntes fundamentais, assim como se associar a tais debates.
É nesse contexto que as discussões sobre internacionalização das universidades se coloca. No entanto é triste ver que elas ocorrem de maneira irrefletida, parecendo guiar-se meramente por posições em rankings internacionais.
É impressionante como as universidades brasileiras não estão preparadas administrativamente para isso. Na USP, é comum um aluno esperar inacreditável um ano e meio para ver um pedido de cotutela de doutorado assinado. Uma proposta de acordo de cooperação internacional pode demorar mais tempo. Tudo porque não temos pessoal suficiente e simplicidade burocrática.
Por outro lado, a verdadeira internacionalização se refere ao tripé: pesquisa, formação e docência. Até agora, enxergamos só o segundo ponto, com bolsas de estudo para que nossos alunos passem temporadas no exterior.
Diga-se de passagem, o último programa brasileiro de bolsas (Ciência sem Fronteiras) teve o disparate de ignorar as áreas de ciências humanas na definição de suas prioridades, o que só se justifica por uma ideia tosca de desenvolvimento social que nem sequer a ditadura militar teve coragem de implementar.
Mesmo no quesito "formação" seria fundamental que nossas universidades permitissem, de uma vez por todas, que estrangeiros prestassem concursos para professor universitário, mesmo que não tenham domínio do português. Basta que eles se comprometam a aprender português. Nossos alunos teriam uma formação mais sólida e diversificada.
Por sua vez, nossa pesquisa deveria ser objeto sistemático de difusão internacional. Os professores deveriam ter linhas de financiamento para a tradução de artigos e livros a serem publicados em outros países.
O governo deveria investir na formação de redes internacionais de pesquisadores por intermédio de acordos acadêmicos. Com um conjunto claro de ações, nossos resultados na internacionalização seriam muito mais visíveis.
VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.
FEDERAL DO ABC AMPLIA INTERNACIONALIZAÇÃOPor Luciano Máximo | De Santo André (SP)
Aberta em 2006, instituição tem são parcerias com universidades de mais de 20 países, em todos os continentes
VALOR ECONÔMICO, 14-01-2014
FEDERAL DO ABC AMPLIA INTERNACIONALIZAÇÃOPor Luciano Máximo | De Santo André (SP)
Aberta em 2006, instituição tem são parcerias com universidades de mais de 20 países, em todos os continentes
VALOR ECONÔMICO, 14-01-2014
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