O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) concluiu um estudo inédito sobre o desenvolvimento econômico de 14 países asiáticos e latino-americanos no período de 1950 a 2007. O documento, produzido em parceria com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), contém análise de especialistas brasileiros que permitem compreender, por exemplo, o crescimento acelerado da China, a estagnação da Venezuela e a industrialização da Coreia do Sul.
“Padrões de desenvolvimento econômico: um estudo comparado de 14 países” analisa e compara o desenvolvimento econômico das sete maiores economias da América Latina e do Caribe (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela), e de seis entre as maiores economias em desenvolvimento da Ásia (China, Coreia, Filipinas, Índia, Indonésia e Tailândia), além da Rússia, único país incluído na análise cujo território se estende até a Europa. O estudo teve duração de aproximadamente um ano e...
Análise mais detalhada sobre os resultados da última edição da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec 2008) feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o crescimento dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D&I) nacional não reduziu a distância que separa o Brasil dos demais países no esforço de ter empresas mais inovadoras. Entre 2005 e 2008, os gastos em P&D das companhias em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) cresceram 145% em Portugal, 23% na Espanha, 21% na China, 12% nos Estados Unidos e apenas 10% no Brasil, em um período de crescimento da economia mundial. O País, contudo, ficou um ponto percentual acima da média de crescimento dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para o período, que foi de 9%, três acima da Alemanha (7%) e cinco em relação à União Europeia (5%). Se o Brasil continuar nesse ritmo de crescimento da taxa de inovação, alerta o Ipea, demorará 20 anos para que o País chegue ao patamar observado nos países europeus.
Os números foram apresentados por Luiz Ricardo Cavalcante e Fernanda de Negri, pesquisadores do Ipea, no artigo "Pintec 2008: análise preliminar e agenda de pesquisa". A Pintec 2008 mostrou que o Brasil aumentou o investimento em atividades de inovação nas empresas industriais extrativas e de transformação e nas de serviços. A pesquisa, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), calcula a taxa de inovação das empresas, ou seja, a relação percentual entre o número de empresas que declararam ter introduzido pelo menos uma inovação no período considerado e o número total de empresas nos setores pesquisados. Na Pintec 2000, a primeira feita no País, a taxa de inovação foi de 31,52%. A Pintec 2003 registrou uma taxa de 33,27%, enquanto na Pintec 2005 a taxa foi de 33,36%. A última edição, de 2008, mostrou que a taxa de inovação nacional ficou em 38,11%. A Pintec levanta os gastos em atividades de inovação tecnológica, que são basicamente a aquisição de máquinas e equipamentos e a realização de projetos de P&D.
"Houve avanços significativos, mas ficaram aquém da expectativa que se criou em face das taxas de crescimento econômico entre 2005 e 2008, pois os investimentos em P&D tendem a ser pró-cíclicos, e também em virtude da disseminação de instrumentos de apoio à inovação nas empresas", afirma Cavalcanti, em entrevista ao Inovação. Os pesquisadores do Ipea preferem não considerar, para comparação, os números de 2000. "A Pintec 2000 deve ser usada com cautela. Foi a primeira edição da pesquisa e contém alguns conceitos que ainda não estavam cristalizados no Brasil. Tendo a achar que essa edição da Pintec é um outlier [valor discrepante], e que devemos concentrar a análise nas três últimas edições da pesquisa", aponta Cavalcanti.
"O problema fundamental, em minha opinião, é que os investimentos em P&D também cresceram significativamente no mundo todo, o que nos deixou praticamente na mesma posição em relação aos outros países", destacou Fernanda de Negri ao Inovação. "Apesar do crescimento recente, nós não estamos conseguindo reduzir a distância que nos separa dos países desenvolvidos. Vale lembrar que o período 2005 – 2008, até antes da emergência da crise, foi um período de elevado crescimento econômico não apenas no Brasil, o que contribuiu para impulsionar as atividades inovativas no mundo todo", acrescenta.
No artigo publicado pelo Ipea, os pesquisadores explicam que o Brasil está em estágio intermediário de desenvolvimento tecnológico e, para reduzir sua defasagem em relação aos países mais desenvolvidos, precisa ter níveis de crescimento dos esforços tecnológicos superiores aos observados nos países centrais. Os autores lembram que os Estados Unidos, por exemplo, estão na fronteira tecnológica, e seria esperado que o aumento dos investimentos em P&D nesse país fosse menor. Contudo, ficou em 12%, superior ao brasileiro. "Países que estavam em um patamar de esforço tecnológico muito próximo ao Brasil em 2005, como Portugal, Espanha e China, tiveram um crescimento muito mais expressivo nos seus esforços tecnológicos e lograram, efetivamente, reduzir a distância em relação aos países da fronteira", destacam os pesquisadores do Ipea no texto. E alertam: "mesmo com o crescimento significativo dos esforços tecnológicos brasileiros no período recente, se o País mantivesse a mesma taxa, seriam requeridos cerca de 20 anos para chegar ao patamar observado atualmente nos países europeus."
Investimentos concentrados em número menor de empresas
Observando apenas a indústria extrativa e de transformação (excluindo-se serviços, portanto), os pesquisadores destacam o aumento das atividades inovativas – 24,45% na Pintec 2003 para 30,49% na Pintec 2008 (houve mudança na amostra na última edição da Pintec, pois não foram englobadas as atividades de edição e reciclagem). Contudo, esse aumento da taxa de inovação não se refletiu no esforço de P&D das empresas. A Pintec 2008confirmou que as firmas brasileiras continuam inovando mais pela compra de máquinas e equipamentos para implementar produtos e processos novos ou melhorados do que pela realização ou aquisição externa de P&D. Apesar do aumento das atividades e gastos em inovação, a Pintec 2008 mostra redução nas atividades de P&D internas e na aquisição externa de P&D – atividades de P&D realizadas por outra organização, como outras empresas, institutos de pesquisa e universidades.
Conforme o levantamento feito pelos pesquisadores do Ipea, 5,86% das empresas industriais que se declararam inovadoras na Pintec 2003 fizeram atividades internas de P&D e 1,43% disse ter feito aquisição externa. Na Pintec 2008, esses percentuais são de 4,25% e 1,41%, respectivamente. Essa informação já havia despertado a preocupação de analistas, conforme Inovação noticiou em novembro do ano passado.
O percentual dos gastos em atividades de inovação em relação ao faturamento aumentou no período 2003 e 2008 de 2,46% para 2,54%. Mas o índice de 2008 foi menor do que o 2005 (2,77%), apesar de a última edição da Pintec ter capturado um momento de maior crescimento econômico. Os gastos em P&D relacionados ao faturamento cresceram de 0,61% para 0,73% no período. Em atividades internas, o gasto em relação ao faturamento ampliou-se de 0,53% para 0,62%; e em aquisição externa cresceu de 0,07% para 0,10%.
Fernanda explica que a queda no número de empresas que fazem atividades de P&D interna ou aquisição externa não é necessariamente ruim, pois o indicador que relaciona o percentual de gastos em P&D com faturamento está aumentando. "O que esse indicador mostra é que as atividades de P&D estão se concentrando em um número menor de empresas", diz. Segundo ela, o investimento em P&D é concentrado em poucas empresas no mundo todo: segundo estudo de 2005 da UNCTAD, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, as 700 maiores firmas com gastos em P&D no mundo – entre as quais 90% são transnacionais – respondem por quase metade do total dos gastos em P&D mundiais e por 69% dos gastos empresariais em P&D. "Isso [a queda no número de empresas que fazem P&D], em si, não seria algo que merecesse um juízo de valor negativo. É um ponto a ser explorado [em análises futuras sobre os resultados da Pintec 2008]", completa Cavalcante.
Análise dos investimentos por intensidade tecnológica
No artigo do Ipea, os pesquisadores fazem uma análise diferenciada dos dados da Pintec 2008 ao olhar o desempenho das empresas de acordo com a classificação das mesmas por intensidade tecnológica. Do total de 98.420 indústrias da amostra da Pintec 2008, apenas 37.808 se declararam inovadoras, e registraram uma taxa de inovação de 38,41%. Entre essas quase 38 mil empresas, a grande maioria (19.405) foi classificada no segmento de baixa intensidade tecnológica. A seguir vêm as empresas de média-baixa (10.377), de média-alta (6.883) e de alta (1.143). As que registram a maior taxa de inovação são as de alta intensidade tecnológica, com 58,27%, seguidas pelas de média-alta, com 50,27%; média-baixa (36,12%) e baixa (35,91%).
O estudo mostra que as empresas do setor de média-alta tecnologia são responsáveis pelos maiores gastos em atividades de P&D em relação ao faturamento, quando comparado aos segmentos de alta, média-baixa e baixa intensidade tecnológica, seguindo metodologia da OCDE e do próprio IBGE. Os pesquisadores do Ipea classificaram as empresas que estão no segmento "outros equipamentos de transporte" como firmas de média-alta intensidade tecnológica. Entre as empresas da categoria "outros equipamentos de transporte" estão desde firmas que produzem bicicletas, que são de baixa intensidade tecnológica, até as que produzem aviões, de alta intensidade.
Na Pintec, não é possível fazer essa desagregação de informação. Por isso, os pesquisadores do Ipea optaram por classificar todo o setor que produz "outros equipamentos para transporte", incluindo o de fabricação de aeronaves, que é de alta intensidade, no setor de média-alta tecnologia. Dessa forma, os gastos da Embraer, por exemplo, uma das empresas que mais investem em P&D&I e no Brasil, consta no estudo do Ipea como um gasto de uma empresa de média-alta intensidade tecnológica, apesar de a companhia ser de alta tecnologia. Mas, segundo Cavalcanti, esse aspecto da metodologia não compromete os resultados da pesquisa.
Segundo o levantamento do Ipea, o setor de média-alta tecnologia é o que mais investiu em atividade interna de P&D (R$ 5,7 bilhões). A seguir vieram as empresas classificadas como média-baixa (R$ 2,5 bilhões), e as de baixa intensidade tecnológica, que investiram R$ 1,2 bilhão, mesmo patamar de investimento do setor de alta tecnologia. Na aquisição de atividades externas, quem mais investiu foi o segmento de média-baixa (R$ 676 milhões), seguido pelas empresas de média-alta intensidade (R$ 506 milhões), alta (R$ 499 milhões) e baixa (R$ 71 milhões).
Se observada relação entre o gasto em P&D interno e externo e o faturamento, a maior proporção fica com as empresas de alta tecnologia, cujo dispêndio em P&D corresponde a 1,89% do faturamento do setor, seguido pelas firmas de média-alta tecnologia (1,13%), média-baixa (0,62%) e baixa (0,26%). "A relação P&D sobre faturamento nos setores de baixa é, obviamente, menor do que dos de alta. O problema é que temos mais empresas de baixa do que de alta, assim, os gastos totais das de baixa são altos", explica Cavalcanti, acrescentando que a estrutura industrial brasileira ainda é relativamente concentrada em empresas de baixa intensidade tecnológica.
Se temos maior esforço no segmento de empresas de média-alta tecnologia, não seria recomendável que o Brasil focasse seus programas de apoio à inovação nesse setor? "Pessoalmente, acredito que políticas estritamente horizontais podem ter um universo muito amplo, o que dificultaria sua aplicação. Além disso, desconfio que nossa relação P&D sobre faturamento nos setores tradicionais não é muito diferente dos padrões mundiais, ao passo quetemos espaço para crescer nos setores de alta e média-alta - e nesses setores o universo de empresas é menor", responde Cavalcanti. "Isso, é claro, não significa abandonar os setores tradicionais, mas enfatizar atividades de inovação incremental que têm mais impactos sobre seus níveis de competitividade e são mais baratas", prossegue.
Sobre esse aspecto, Fernanda de Negri acrescenta que as políticas de inovação são recentes e talvez ainda não tenha havido tempo para que o potencial de mudança dessas ações se reflita nos indicadores de inovação das empresas. "Entretanto, é certo que é preciso focalizar essas políticas em setores mais intensivos em tecnologia, que teriam maiores possibilidades de impulsionar o desenvolvimento tecnológico do País. Setores como tecnologia da informação e comunicação [TICs] e fármacos respondem pela maior parte dos investimentos em P&D no mundo - 35% do investimento mundial em P&D é feito em TICs", diz. "Não é possível pensar em ampliar nossos investimentos em P&D sem aumentar a participação desses setores na economia, bem como seus esforços tecnológicos", conclui.
Cenário Mundial Relatório da Unesco sobre políticas e indicadores de C&T mostra avanço da fatia dos emergentes na produção mundial de ciência Pesquisa de Inovação Tecnológica — Pintec 2008 Taxa de inovação cresce, mostra pesquisa do IBGE; compra de máquinas e equipamentos permanece principal forma para inovar Pesquisa de Inovação Tecnológica II — Pintec 2008 Estudiosos preocupam-se com dados que mostram queda no esforço de pesquisa na empresa; governo e empresas gostam dos resultados Financiamento à inovação Empresas participaram de 13,6% dos projetos apoiados pelos fundos setoriais entre 2000 e 2008, aponta estudo do Ipea Incentivos fiscais à inovação Empresas aplicam mais em P&D do que exigido pela Lei de Informática; valor investido em 2008 equivale ao de 2002 Incentivos fiscais à inovação II Cresce número de empresas que usam benefícios da Lei "do Bem", mas
investimentos em P&D foram 5% menores em 2009 em relação a 2008
The British sociologist Roy Rothwell was widely regarded as one of the pioneers in industrial innovation with his significant contributions to the understanding of innovation management.
Rothwell’s five generations of innovation provides an historic overview of industrial innovation management in the Western world from the 1950’s onwards. He found that each new generation was in fact a response to a significant change in the market such as economic growth, industrial expansion, more intense competition, inflation, stagflation, economic recovery, unemployment and resource constraints. The five generations of innovation management is a descriptive model of how (manufacturing) companies structure their innovation processes over time. His research focused on technological innovation at multinationals and high-tech start-ups. The model can be used when defining a corporate innovation management strategy.
Traditionally, there are two ways to view the innovation process: the technology push approach and the market pull approach. This simple linear model prevailed from the 1950s till early 1970s. SEGUE......................
Embora seja incontestável o avanço do Brasil em pesquisa e ciência, com a formação de 12 mil doutores por ano e a 13.ª posição no ranking de artigos científicos, novíssimo estudo da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi) permite concluir que o País ainda precisa evoluir muito em inovação. Há considerável lacuna entre o desempenho internacional e o doméstico nesse quesito tão decisivo para o crescimento sustentado e a soberania econômica.
O trabalho, intitulado Relatório Mundial da Propriedade Intelectual 2011 - A face mutante da inovação, ratifica como o domínio sobre os direitos ligados à tecnologia, processos, produtos e conhecimento tornou-se preponderante para se delinearem estratégias vencedoras de empresas em todo o mundo. Os dados também surpreendem, mostrando que nem mesmo as crises internacionais têm arrefecido o ânimo relativo à pesquisa e desenvolvimento (P&D): entre 1980 e 2009, as requisições de novas patentes cresceram de 800 mil para 1,8 milhão.
Depreende-se, assim, que a competitividade imposta pela globalização torna os investimentos em P&D - ou seja, em inteligência - um imenso diferencial competitivo e uma questão pragmática de sobrevivência e sucesso dos negócios e das próprias nações. O conceito mais contemporâneo de inovação, em que há companhias que chegam a investir entre 4% e 5% de seu faturamento, se refere à pesquisa e à ciência voltadas ao foco de agregar valor às empresas, resultando em produtos ou serviços únicos e de absoluta excelência. Por isso, essas companhias primam por deter milhares de patentes e pagam bônus aos seus cientistas quando as suas invenções conquistam o mercado.
É exatamente nesse aspecto que o Brasil parece estar na contramão das tendências, apesar de sua economia ser hoje uma das mais aquecidas e dinâmicas do mundo. Dentro dessa incontestável realidade, nosso governo não pode continuar demorando até sete anos para conceder uma patente. No vácuo deste imenso hiato burocrático, os produtos e serviços perdem sua condição inovadora, tornam-se obsoletos e têm competitividade prejudicada.
Tal descompasso fica muito claro nas estatísticas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): nosso país registrou, em 2008, somente 0,3 patente triádica (válida na Europa, nos Estados Unidos e no Japão) por grupo de 1 milhão de habitantes, muito abaixo dos países desenvolvidos e de seus principais competidores entre os emergentes. No período de 2003 a 2005, apenas 3,6% das empresas brasileiras lançaram produtos novos.
O relatório Science, Technology and Industry Outlook 2010, da OCDE, observa que o perfil da ciência e tecnologia no País ainda apresenta vários pontos fracos, como a baixa intensidade de P&D, com investimentos equivalentes a apenas 1,1% do PIB, e carências em termos de qualificação dos recursos humanos em ciência e tecnologia. Tais deficiências são ainda mais preocupantes diante de outra informação revelada pelo novo estudo da Ompi: o fomento da tecnologia não é mais prerrogativa exclusiva das economias de alta renda. Nesse item, a lacuna entre as nações desenvolvidas, emergentes e em desenvolvimento está diminuindo. Formas mais elaboradas e locais de inovação contribuem para o desenvolvimento econômico e social.
O Brasil não pode continuar defasado no contexto desse deslocamento do eixo mundial da inovação, pois, conforme afirma o documento da Ompi, o aumento da demanda por direitos de propriedade intelectual reflete a ascensão do mercado do conhecimento, fator exponencial para que as empresas se especializem e se tornem mais eficientes. A rigor, é preciso avançar muito, para não sermos surpreendidos por estudos como esse revelador relatório.
Empresas brasileiras de médio porte inovam pouco, diz estudo
Maioria não faz parcerias nem usa incentivos para inovação, segundo a Fundação Dom Cabral
Para empresários das companhias médias, falta uma cultura de inovação no país; burocracia também é criticada
SABINE RIGHETTI - ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE - folha, 24-03-2012
As empresas médias brasileiras inovam pouco, desconhecem incentivos fiscais à inovação e fazem poucas parcerias com universidades e com institutos de pesquisa.
Esse retrato veio à tona em um estudo inédito da FDC (Fundação Dom Cabral) apresentado em Belo Horizonte e acompanhado pela Folha.
Hoje, 80% das médias não usam... SEGUE...
BOX:Hypermarcas cria laboratório de biotecnologia DA REUTERS - DE SÃO PAULO
A Hypermarcas e os laboratórios Aché, EMS e União Química Farmacêutica se uniram para criar uma empresa focada em medicamentos biotecnológicos.
O investimento estimado na joint venture Bionovis será de R$ 500 milhões em cinco anos, anunciou ontem a Hypermarcas.
Cada sócio terá 25% de participação acionária. A nova empresa focará em pesquisa e desenvolvimento de produtos biotecnológicos. Esse mercado movimentou cerca de US$ 160 bilhões no mundo e R$ 5 bilhões no Brasil em 2011.
O acordo prevê a obrigação de não concorrência entre as empresas. Isso quer dizer que elas se comprometem a não criar outras operações para a área de biotecnologia.
"A companhia, através da Bionovis, busca fomentar o desenvolvimento da indústria farmacêutica nacional e incentivar a inovação de medicamentos, colaborando com os poderes públicos para implementar soluções e políticas de saúde pública", afirmou a Hypermarcas em nota.
Ao pensar o futuro da ciência no Brasil, boa parte dos pesquisadores brasileiros volta os olhos, automaticamente, sem pestanejar, para Estados Unidos, Europa e Ásia. Miguel Nicolelis, um dos mais respeitados neurocientistas do mundo, mira em outro alvo.
É uma infatigável usina de propostas inovadoras, que funciona a mil por hora.
Tanto que, em 23 de novembro de 2010, divulgou aqui, em primeira mão, o Manifesto da Ciência Tropical: Uso democrático da ciência para transformação social e econômica do Brasil.
Agora, três meses depois, se lança a mais este desafio: a Comissão do Futuro da Ciência Brasileira, anunciada nesta quinta-feira, 3 de março, em meio a uma porção de crianças do bairro Cidade Esperança, periferia de Natal, numa escola de educação científica para alunos do IINN-ELS. Escola que nasceu justamente com a proposta de descentralizar a produção da ciência brasileira.
A nova política industrial do governo, que substituirá a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), terá como foco principal a inovação. Segundo a assessora especial da presidência da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Marina Oliveira, o lançamento da política, agora chamada de Política de Desenvolvimento da Competitividade (PDC), ficou para final de junho. O governo havia divulgado inicialmente que a apresentação estava prevista para final de maio. Marina participou do X Encontro Nacional da Inovação Tecnológica (X Enitec), realizado em São Paulo nos dias 25 e 26 de maio.
"É a inovação que vai permitir ao Brasil dar o salto de competitividade necessário para ampliar nossa inserção internacional e nossa participação em segmentos de alta e média-alta intensidade tecnológica", afirmou ela. Segundo ela, o foco em inovação difere a PDC da política industrial em vigor, apesar de, no lançamento da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), o governo ter afirmado que a inovação era um de seus principais pilares.
A PDP inclusive continha a meta de elevar os investimentos privados em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para 0,65% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2010, o que o próprio governo admite não ter ocorrido, devido à crise econômica. Em seu recenteestudo sobre intenções de investimento, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que representa as empresas do Estado que mais inova no Brasil, reconheceu que a meta não foi alcançada, apesar de o governo ainda não ter divulgado os números consolidados sobre o ano de 2010.
Na sua apresentação, Marina lembrou também a economia ainda sofre com os efeitos da crise de 2008, mencionando a apreciação cambial, a deterioração da pauta de exportação brasileira e de cadeias produtivas nacionais, que não estão conseguindo competir com produtos importados. "Inovação é a grande aposta da PDC, em fase final de elaboração. Deve ser lançada no fim de junho", contou.
Ela revelou também que a PDC deverá trazer medidas para incentivar empresas de grande porte que já são reconhecidamente inovadoras e que podem puxar as demais empresas da cadeia instaladas no Brasil, algo que foi identificado por um grupo de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Liderados por Mário Salerno, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, e por João Alberto de Negri, que era pesquisador do Ipea.
Os estudos que indicaram a existência desse grupo de empresas mais inovadoras e com maior inserção internacional foram divulgados inicialmente no livro organizado por Salerno e Negri, Inovações, Padrões Tecnológicos e Desempenho das Firmas Industriais Exportadoras. A obra foi publicada em 2005, quando Glauco Arbix presidia o Ipea. Atualmente, Arbix é presidente da Finep, agência de fomento do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e João de Negri é diretor de inovação da financiadora. Ambos estão trabalhando junto a equipe do governo que elabora a nova política industrial.
Negri identificou esse grupo de empresas, que foram inclusive alvo da primeira Sondagem de Inovação feita pela ABDI, divulgada em julho de 2010. Uma das sugestões do então pesquisador do Ipea era justamente focar algumas ações de incentivo à inovação para esse grupo, responsável pela maior parte das atividades de pesquisa e desenvolvimento e dos investimentos em bens de capital realizados no Brasil e cujas decisões determinariam o movimento industrial do País, segundo o economista.
Alguns elementos da PDP devem ser mantidos na nova política, a PDC. Os setores de energia e negócios ambientais, defesa, aeroespacial e tecnologia da informação e comunicação, que na PDP são considerados estratégicos, poderão ser alavancados com o uso do poder de compra do Estado na nova política industrial. Mariana revelou também que a PDC terá ações estruturantes setoriais e ações sistêmicas. No caso dessas últimas, seriam exemplos as ações para formação de recursos humanos em áreas críticas, como as engenharias, o apoio a micro e pequenas empresas, e à produção sustentável.
De acordo com Mariana, o governo estava discutindo a possibilidade de lançar o programa Pró Engenharia junto com a PDC. O objetivo desse programa é ampliar a formação de pessoas nas carreiras de engenharia e ciências. Um dos pontos previstos é o maior engajamento das universidades em atividades de apoio ao ensino de ciências e matemática nos níveis fundamental e médio. "Muitos chegam ao ensino superior com déficit em ciência e matemática e desistem do curso", justificou.
Na abertura do X Enitec, Marcos Vinícuis de Souza, representando o secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Francelino Grando, também falou sobre a nova política industrial. Ele afirmou que a PDC está interligada com o Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação 2011-2015 (PACTI), em elaboração pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Contou que inovação, comércio exterior, comércio e serviços são as "pernas" da nova política industrial. Disse, ainda, que a política vai prever instrumentos para fortalecer os setores da economia que estão sofrendo com a concorrência das empresas estrangeiras e que uma preocupação do governo é elevar a competitividade das firmas nacionais de maneira mais rápida, pensando a inovação de forma mais pragmática.
Também na abertura do X Enitec, antes da fala de Marina Oliveira, da ABDI, João Alfredo Saraiva Delgado, presidente do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (IPDMAQ/Abimaq) e diretor de tecnologia da entidade, falou sobre a expectativa do setor em relação a PDC. "Temos medo de que a culpa da vez seja nossa; pode ser que o governo diga que não inovamos, apesar de haver instrumentos [de apoio às empresas para inovar]. Há instrumentos, mas ninguém cuidou do ambiente sistêmico", apontou. Segundo o empresário, o ambiente para inovar no Brasil é árduo. "Preferimos investir no consumo, apesar do câmbio avassalador e dos juros altos", apontou.
(Des)industrialização e desenvolvimento
As provas de desindustrialização no Brasil durante o período neoliberal são incontestes. Sua estabilização, mas com elevação do coeficiente importado, entre 2004 e 2008, também encontra suporte nos fatos. Do mesmo modo, são fortes as evidências de uma nova rodada de desindustrialização após 2010. Nesse sentido, é urgente a formulação de uma política de reindustrialização do país
por Ricardo Carneiro
Revista Teoria e Debate, Edição 100, 18 maio 2012
MODELO ECONÔMICO O caminho para a reindustrialização
por Luiz Gonzaga Belluzzo
O debate nacional dá a impressão de que os brasileiros não fizeram um esforço para compreender a natureza das transformações ocorridas nos últimos 30 anos. A esquerda continua prisioneira do estatismo míope e inibidor das decisões privadas de investimento, já a direita aposta num liberalismo mítico, que nunca existiu
Le Monde Diplomatique Brasil, Edição 58 - Maio 2012
A indústria em perigo
por Luiz Gonzaga Belluzzo
Na era da arrancada chinesa, é superstição acreditar que as aberturas financeira e produtiva são capazes de promover a modernização tecnológica e os ganhos de competitividade
Valor Econômico - 04/09/2012
Relembrando: durante todo o pós-guerra, até a crise da dívida externa de 1982, o Brasil manteve um ritmo acelerado de crescimento econômico. Entre 1947 e 1980 o PIB cresceu em média 7,1%, uma marca não igualada, no período, nem mesmo pelo Japão ou pelos celebrados Tigres asiáticos.
Comparado a esta "era de alto crescimento" o desempenho econômico dos últimos 35 anos tem sido sofrível. Perde, por exemplo, para a "recessão" que apareceu...
07 de Março de 2012
DESINDUSTRIALIZAÇÃO Pistas para uma nova revolução produtiva
A despeito dos discursos sobre a “sociedade pós-industrial do lazer” florescidos nas décadas de 1990 e 2000, a produção industrial ainda desempenha papel e...
Por Lawrence Carroué
07 de Março de 2012
DESINDUSTRIALIZAÇÃO O que esconde o entusiasmo pela reindustrialização
O prolongamento da crise iniciada em 2008 levantou uma temática primordial nos debates: a desindustrialização dos países do “centro” do sistema mundial (Es...
Por Gérard Duménil e Dominique Lévy
Na seqüência do Japão e dos países recém-industrializados do Nordeste asiático, a China passou, no espaço de vinte anos, por uma dinâmica de crescimento que transformou o... Por Philip S.Golub
Commodities versus manufaturas por David Kupfer VALOR ECONÔMICO, 13-02-2012 Já há alguns anos o tema da desindustrialização vem motivando um amplo debate na sociedade brasileira. Provavelmente, o fato econômico que forneceu....
O partido industrial por Janine Ribeiro Valor Econômico - 13/02/2012 Há no Brasil um projeto político - sem partido - composto daqueles que se inquietam com a desindustrialização do país, ou melhor, com a redução da parte da indústria e
Pacote pode promover desoneração superior a R$ 45 bilhões, mais da metade da arrecadação mensal da Receita Ministério da Fazenda resiste à intenção de ampliar desonerações; presidente insiste em que plano saia na terça ANA FLOR; ANA CAROLINA OLIVEIRA
DE BRASÍLIA - folha 30julho2011
Resumo: Esta Tese discute a trajetória recente e as perspectivas do desenvolvimento econômico brasileiro sob a ótica da indústria. A hipótese central é que o Brasil vem sofrendo um processo de desindustrialização relativa e que essa é a principal causa da ampliação da distância do país com relação à fronteira do desenvolvimento. A destruição da indústria foi apenas parcial porque os segmentos da estrutura produtiva que haviam alcançado certo grau de maturidade mantiveram sua capacidade produtiva, mesmo perdendo elos importantes da cadeia. A análise detalhada do comércio externo à luz dos condicionantes mais gerais do mercado mundial revela o recuo da importância da indústria brasileira apesar do avanço absoluto de suas exportações manufatureiras. O sentido geral do conjunto de evidências apresentadas, que são por vezes contraditórias ou inconclusivas, está fundamentado em diversas contribuições teóricas que convergem para as duas proposições centrais da Tese: (i) o desenvolvimento econômico, definido como a incorporação progressiva de conhecimento aos processos produtivos, é inseparável da industrialização; (ii) a internalização dessas atividades promotoras do desenvolvimento não pode se dar exclusivamente através de mecanismos de mercado, isto é, sem a implementação continuada de políticas de desenvolvimento. O exame das características do mercado mundial e a discussão atualizada dos conceitos de desindustrialização e de deterioração dos termos de troca permitiram estabelecer uma tipologia dos países em desenvolvimento de acordo com sua capacidade de internalizar setores industriais. A diversificação industrial até o começo dos anos 1980, a sobrevivência de parte dos instrumentos de política industrial e algumas peculiaridades da economia brasileira impediram uma regressão generalizada da estrutura produtiva. Mas isso não foi suficiente para garantir uma trajetória dinâmica como a dos países asiáticos, que mantiveram o processo de desenvolvimento porque o caráter ambíguo da política econômica não possibilitou um avanço da competitividade industrial se não em alguns setores. A interrupção do desenvolvimento está centralmente relacionada a esse padrão próprio de reestruturação industrial resultante da incapacidade do Brasil de continuar, por meio de políticas de desenvolvimento, internalizando setores industriais dinâmicos. No plano metodológico, diversos problemas tiveram de ser tratados, alguns mediante soluções inovadoras. Foi criado um indicador sintético de desenvolvimento econômico com o propósito de tornar estatisticamente robusta a tipologia de trajetórias de desenvolvimento. Foi mostrado que, em alguns indicadores, as diferentes delimitações entre Indústria de Transformação e Indústria Extrativa podem levar à subestimação da desindustrialização. Foi utilizada uma metodologia inovadora para medir a evolução da intensidade tecnológica da indústria brasileira que reafirma seu caráter regressivo. Foram examinados alguns problemas de cálculo da taxa real de câmbio com o objetivo de desqualificar qualquer interpretação positiva da reestruturação industrial que parta dessa variável. Outra contribuição são os indicadores sintéticos de inserção externa que procuram medir a performance comercial numa perspectiva comparativa global. Por fim, os dados desagregados do comércio exterior brasileiro foram tratados de modo a localizar os poucos setores responsáveis pela melhoria da balança comercial no século XXI.
Industrial Revolution or Agricultural Revolution?
Speakers: Ernest Aryeetey, Ijaz Nabi, Professor Mark Rosenzweig, Paul Romer, Professor John Sutton
Chair: Joel Kibazo
This event was recorded on 21 September 2010 in Sheikh Zayed Theatre, New Academic Building
A distinguished panel tackles controversial and highly significant questions regarding the relative importance of industrial and agricultural revolution in the developing countries today, for both economic growth and wider development
A desindustrialização que ameaça o Brasil
Autor(es): José M. Dallari
Valor Econômico - 29/06/2011
O Brasil festeja a escolha para sede da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Comemora o fato de ter saído incólume da crise financeira mundial, e a perspectiva de que a economia continue crescendo. Tudo isso é positivo, mas o país ainda possui deficiências estruturais que precisam ser atacadas agora. Veja o que está acontecendo na indústria.Neste momento, o Brasil corre o risco de se transformar apenas em um grande revendedor de produtos tecnológicos e se desindustrializar. Para se chegar a essa conclusão, a conta é simples: importamos muito mais produtos com alguma tecnologia agregada do que exportamos.
Hoje o déficit de tecnologia do Brasil cresce cerca de 20% ao ano. Caminha para ultrapassar os US$ 100 bilhões em 2011. Muitas fábricas - de chips a eletroeletrônicos completos - abriram mão de parte de sua produção. Se antes fabricavam o produto do começo ao fim, agora importam, principalmente da China, uma parte de seus componentes. Os preços são mais baixos do que se fossem produzidos aqui.
Os chineses tiram proveito da decisão de empresários ocidentais que preferem terceirizar a produção para ficar apenas com a parte que "agrega valor" à sua marca.
As empresas e os empresários ganham rios de dinheiro comprando dos chineses por centavos e vendendo por centenas de dólares, interessados apenas no lucro imediato e a qualquer preço, mesmo ao custo do fechamento de suas fábricas e do brutal desemprego. É o que se pode chamar de "estratégia do avestruz".
O problema é que essa atitude não agrega valor, muito menos ao Brasil, um país que ainda tem muito a fazer para conquistar seu espaço no mercado mundial e está longe de oferecer aos brasileiros, de todas as classes sociais, condições de vida comparáveis às dos chamados países do primeiro mundo.
Enquanto os empresários ocidentais terceirizam as táticas e ganham no curto prazo, a China assimila essas táticas, cria unidades produtivas de alta performance e vai dominar o mercado de produtos de massa no longo prazo.
A substituição da produção local pela importação de produtos chineses - sejam eles componentes ou mercadoria acabada - leva, a longo prazo, ao sucateamento do parque industrial brasileiro.
A magnitude dos números é um bom exemplo: se uma fábrica brasileira produz um milhão de unidades do produto X, uma só fábrica chinesa produz quarenta milhões de unidades. A qualidade dos dois é equivalente, mas a velocidade de produção e atendimento que a China oferece são impressionantes.
Os chineses colocam qualquer produto no mercado, em qualquer lugar do planeta, em semanas, com os preços que são uma fração dos praticados aqui.
Com a importação dos produtos chineses, o preço do produto final cai, o que é bom para o consumidor, mas é péssimo para o trabalhador brasileiro que, no final das contas, perde seu emprego para um trabalhador chinês.
No Brasil, o boom de empregos gerados atualmente acontece em setores de produtos com baixo valor agregado. Ou seja, onde se contrata mão de obra barata e de baixa qualificação.
Recebemos só neste primeiro trimestre de 2011 investimentos da ordem de US$ 17,5 bilhões.
Mas eles não se refletem em ganhos em tecnologia já que o déficit, nesse setor, não para de crescer. Uma parte desse dinheiro estrangeiro pousa no país, atraída pelos ganhos financeiros proporcionados pelos juros altos. E a fatia que vai para instalação de fábricas repete o modelo prejudicial ao Brasil: são empresas que importam componentes e produtos acabados de fora - ou seja, são apenas montadoras e maquiadoras de produtos.
É esse modelo que precisa ser revisto. Se mantido o atual perfil de investimento em produção, num futuro próximo a China se mostrará ainda mais inalcançável.
Veremos os produtos chineses aumentando os seus preços, com as empresas produzindo um choque de produtos de valor agregado, como aconteceu com o choque do petróleo nos anos 70. E aí já será tarde demais. O mundo então perceberá que reerguer as suas fábricas terá um custo proibitivo e irá render-se ao poderio chinês; pois, alimentou um enorme dragão e acabou se tornando refém da criatura.
O resultado desse modelo é desastroso. Num ranking global de competitividade, que mede o ambiente de negócios de uma nação, o Brasil, que é a oitava economia do mundo, ficou em 44º lugar, perdendo seis posições em relação ao levantamento do ano passado.
O estudo foi feito pelo Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Administração, da Suíça, em parceria com a Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais. Fomos ultrapassados por países como Peru, Filipinas, Turquia e Emirados Árabes.
E o ciclo é vicioso, já que quanto mais se importam produtos de tecnologia agregada, menos precisamos da nossa mão de obra especializada, colocando nossos jovens qualificados com dilema difícil, ou se sujeitam a ficar no Brasil em funções aquém de sua capacidade ou vão buscar alternativas em outros países.
O cenário nos coloca a perspectiva de o Brasil se tornar um país importante, entre as cinco economias mais poderosas do mundo, mas sem liderar seu próprio desenvolvimento tecnológico. É isso que queremos? Certamente não.
Nossas deficiências não são novas e estão aliadas a dificuldades igualmente antigas, como um câmbio que favorece a importação de peças e componentes, a alta carga tributária incidente sobre a produção e uma legislação trabalhista ultrapassada. Sem contar a burocracia e a ineficiência do setor público que ano após ano seguem inalteradas.
Muitos desses acertos podem ser feitos de imediato, mesmo sem as famosas mudanças estruturais. É possível ajustar tarifas para que o Brasil importe o que necessita e abra espaço para o uso de tecnologia na produção local. A carga tributária pode ser usada como mecanismo de incentivo a quem investe em pesquisa & desenvolvimento. A burocracia pode ser reduzida, com mais agilidade para quem quer fazer negócios. Tudo isso sem contar que a legislação trabalhista precisa ser modernizada e o setor público carece de um choque de eficiência.
Sem que nada disso se altere, a perspectiva é preocupante para a indústria brasileira. Reflitam, corremos ou não o risco da desindustrialização?
José Milton Dallari, ex-secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, integrante da equipe que implantou o Plano Real. É sócio da Decisão Consultores.
Desindustrialização e a ortodoxia por José Luis Oreiro Atribuir à industrialização a culpa pela péssima distribuição de renda prevalecente em nosso país é, no mínimo, desconhecer a história do Brasil. Valor Econômico - 26/04/2012
Estudo contesta encolhimento da indústria no Brasil Tecnologia na agricultura e na mineração precisa ser levada em conta, diz economista em seminário no IPEA Já federações de empresários e líderes da oposição defendem tese de que país vive desindustrialização GUSTAVO PATU, DE BRASÍLIA - folha de são paulo, 09-04-2012
Dúvidas sobre a política industrialSergio Leo Os próximos dias são de ajuste na nova política industrial e o Governo tenta reduzir fricção com os interesses privados Valor Econômico › Impresso › Brasil - 15/08/2011
DECRETO Nº 7.540, DE 2 DE AGOSTO DE 2011.
Institui o Plano Brasil Maior – PBM e cria o seu Sistema de Gestão.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição,
DECRETA:
Art. 1o Ficam instituídos o Plano Brasil Maior - PBM e seu Sistema de Gestão, com vistas a integrar as ações governamentais de política industrial, tecnológica e de comércio exterior.
§ 1o O PBM tem por objetivos centrais acelerar o crescimento do investimento produtivo e o esforço tecnológico e de inovação das empresas nacionais, e aumentar a competitividade dos bens e serviços nacionais.
Improviso e timidez tiram brilho do Plano Brasil Maior
Valor Econômico (Edit) - 05/08/2011
Saiu finalmente do forno o Plano Brasil Maior, idealizado para permitir ao governo cumprir as metas ambiciosas de, até o fim do mandato de Dilma Rousseff, em 2014, ampliar o investimento fixo de 18,4% a 22,4% do Produto Interno Bruto (PIB), aumentar os gastos do setor privado com pesquisas e desenvolvimento de 0,59% a 0,9% do PIB e levar a participação do Brasil nas exportações mundiais de 1,36% para 1,6%.
Em gestação há meses, empacado nos embates entre desenvolvimentistas e as alas mais conservadoras do governo e nos limites fiscais do próprio governo, o pacote recebeu o impulso final nos últimos dias quando a presidente teria pedido "ousadia" aos ministros envolvidos na discussão.
Mas o resultado parece tímido para os objetivos propostos. Nem de longe é a política industrial esperada. Envolve 35 medidas que implicarão em renúncias fiscais no montante de R$ 24,5 bilhões e um volume apreciável de crédito para estimular os investimentos, a inovação e minimizar os efeitos da apreciação cambial em alguns setores da indústria, em que a situação é mais crítica.
Sem condições objetivas nem políticas de avançar na mais do que necessária reforma fiscal, o novo pacote fez remendos na área. Para compensar o pagamento de tributos ao longo da cadeia de produção, foi lançado o Reintegra que promete a restituição em espécie aos produtores de bens manufaturados do equivalente a até 3% das exportações. Estima-se que o governo gastará R$ 4 bilhões com esse incentivo, devolvendo com uma mão o dinheiro que tirou com a outra, em um operação que vai acarretar mais burocracia. Apesar disso, a medida foi bem recebida pelos exportadores que acabaram decepcionados no dia seguinte porque, ao sair a regulamentação, verificaram que o percentual ressarcido dos volumes embarcados não será igual para todos, variando conforme a atividade da empresa.
Outra medida importante do Brasil Maior é a desoneração da folha de pagamentos de alguns setores mais fortemente afetados pela apreciação cambial que serão dispensados do recolhimento de 20% para o INSS em troca de uma contribuição sobre o faturamento de 1,5%, no caso de confecções, têxteis, calçados e móveis, e de 2,5% no caso dos produtores de software. O governo calcula que a Previdência deixará de receber R$ 1,6 bilhão com essa medida, buraco que será coberto pelo Tesouro.
O governo também vai reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que atualmente chega a 45%, das montadoras se essas empresas aumentarem o conteúdo nacional, ampliarem os investimentos e produzirem veículos inovadores. Esse estímulo vai se prolongar até julho de 2016, avançando no próximo governo, portanto.
Algumas medidas têm um viés emergencial, como as tomadas no auge da crise internacional, o que não é mais cabível. Tanto é que faz parte do pacote, no capítulo das desonerações, a prorrogação da isenção do IPI para bens de capital, material de construção, caminhões e veículos leves até dezembro de 2012. A medida vai na contramão dos esforços do Banco Central pare reduzir a inflação e poder então derrubar os juros, sem o que a economia brasileira jamais será competitiva.
Também faz parte do pacote zerar a fila de pedidos de ressarcimento da Contribuição para o Programa de Integração Social e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) dos exportadores, que somam R$ 19 bilhões e podem ser devolvidas em até cinco anos. Essa promessa já fazia parte do pacote de estímulo às exportações lançado em maio de 2010 e começou a ser cumprida há exatamente um ano, sem muito resultado, pelo visto, uma vez que volta ao cardápio de promessas.
O Plano Brasil Maior inclui a criação do marco legal para a inovação, intensificação da a defesa comercial e um pacote de financiamento, com a ampliação do escopo de linhas já existentes e a criação de novas, no âmbito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que necessitará de mais capital do Tesouro, naturalmente.
Muitas das medidas anunciadas são temporárias e não soluções permanentes para questões graves como a pesada carga tributária e a burocracia que tanto influem no custo de fazer negócios no Brasil. Além disso, certamente implicarão o aumento dos impostos em outros setores, como já aconteceu nesta semana na indústria de cigarros. Os efeitos de um ajuste fiscal que permitisse reduzir os juros e de um rearranjo tributário para valer seriam muito mais importantes para a competitividade das empresas e mais duradouros que os do Brasil Maior.
VINICIUS TORRES FREIRE Política de guerra cambial
Política industrial de Dilma é um programa de defesa comercial disfarçado e um analgésico para o real forte
VINICIUS TORRES FREIRE
Impostos e perfumarias
Como não consegue baixar valor do real, governo reduz impostos de alguns setores, mas vai aumentar outros
Editoriais - folha, 04agosto2011 editoriais@uol.com.br Indústria pouca
Falta ambição às medidas do governo federal; para mudar padrão de desenvolvimento, distorções estruturais da economia têm prioridade
Real valorizado anula proteção e incentiva importações, diz estudo Assis Moreira | De Genebra Valor Econômico › Impresso › Brasil 05/08/2011 O real valorizado em mais de 30% anulou a proteção dada à indústria brasileira pelas tarifas de importação. As alíquotas aplicadas representam hoje incentivo para as importações em 25%, já que estão na prática em níveis negativos comparado ao que o país negociou na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Se não houver eficácia em neutralizar a desvalorização de moedas estrangeiras, a economia será destruída - folha, 08-08-2011
Funcionará mesmo essa nova política industrial? Rodrigo L. Medeiros Gastos com as despesas financeiras ultrapassaram os 5% do PIB, mais do que com educação. Valor Econômico › Impresso › Opinião - 19/08/2011 O pacote de medidas do Plano Brasil Maior pode ao final se mostrar tímido e bem aquém dos desafios enfrentados pela indústria
O Plano Brasil Maior
Autor(es): David Kupfer
Valor Econômico - 29/08/2011
No início deste mês de agosto o governo federal trouxe a público o novo plano de política industrial. Editado com o nome de "Brasil Maior", o novo plano desdobra-se em 35 iniciativas, algumas já em curso, outras de implementação imediata e outras ainda dependentes de regulamentação ou definição dos mecanismos de efetivação.
Em linhas gerais, o Plano Brasil Maior volta-se para quatro frentes: investimento; inovação; comércio exterior e defesa do mercado interno. Para incentivar o investimento, o plano recorre a uma bateria de incentivos financeiros e tributários convencionais. Além de rodada adicional de desonerações tributárias, cabe destacar o aumento da cobertura setorial e a prorrogação até dezembro de 2012 do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), uma iniciativa bem sucedida adotada pelo BNDES como resposta contracíclica aos efeitos da crise de 2008, e que parece prudente preservar diante da deterioração do cenário econômico internacional.
No que tange ao estímulo ao desenvolvimento tecnológico, tão ou mais importantes do que o reforço do caixa da Finep e das linhas de financiamento do BNDES parecem ser as mudanças introduzidas no marco legal da inovação. A regulamentação de contratos com cláusulas de risco tecnológico que, embora previstos na Lei de Inovação, não vinham sendo celebrados devido à insegurança jurídica que os cercava poderá tornar-se um elemento importante de disseminação de encomendas tecnológicas. Juntamente com o aumento do escopo de atuação das Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) públicas e privadas, constituem iniciativas que, embora relativamente tímidas, apontam na direção correta de buscar conferir maior verticalidade ao processo de alocação de recursos destinados a essa finalidade.
No campo do comércio exterior, o Plano prevê igualmente uma rodada adicional de medidas de desoneração ou correção de algumas das tantas distorções tributárias que desestimulam as exportações. Também aqui o principal avanço parece provir do plano institucional, expresso em ações que visam o fortalecimentos da defesa comercial em diversas de suas vertentes, especialmente no que diz respeito às regras de origem, prática de preços subfaturados e outras reconhecidas fragilidades desses mecanismos no país. Chama a atenção, porém, a ausência de iniciativas voltadas para a melhoria do acesso dos produtos brasileiros a terceiros mercados, tema que efetivamente não pode deixar de integrar o escopo da política comercial brasileira.
Por fim, o conjunto de medidas de defesa do mercado interno pode ser considerado como a principal novidade do Plano. Ao introduzir um projeto piloto para desoneração da folha de pagamento em setores intensivos em trabalho como vestuário, calçados, móveis e software e buscar regulamentar a Lei que instituiu mecanismos de mobilização preferencial do poder de compra governamental para produtos e serviços nacionais, o governo sugere uma mudança no diagnóstico e na linha geral de ação diante do agravamento dos problemas de competitividade da indústria brasileira. Se bem sucedidas, essas iniciativas podem servir de modelo para a definição de novos instrumentos capazes de potencializar o alcance da própria política industrial.
Porém, de pouco adianta contabilizar pontos positivos ou lacunas dessa família de medidas sem que as mesmas sejam colocadas na moldura dada pela preocupante evolução do cenário econômico mundial. De fato, embora muitos analistas prefiram compartilhar o diagnóstico de que a crise maior está circunscrita à Europa, há boas razões para se acreditar que também os EUA enfrentarão uma longa recessão e, pior, cuja saída poderá ser muito custosa em termos do aprofundamento dos atuais desequilíbrios da economia mundial.
Um mergulho para valer também da economia americana terá o efeito de enfraquecer a máquina de crescimento chinesa, tornando o Brasil muito mais dependente de seu dinamismo endógeno do que tem sido a norma nos últimos anos. Nesse cenário, o pós-crise certamente implicará uma profunda reorganização dos fluxos internacionais de mercadorias e de capitais e, neste contexto, a China, que possui estrutura produtiva parcialmente complementar, mas também parcialmente competitiva com a brasileira, poderá empurrar a indústria nacional para a produção de commodities e outros itens pouco elaborados.
Evidentemente, uma transformação dessa natureza virá na contramão dos objetivos de desenvolvimento nacional, razão pela qual é imprescindível a inclusão da dimensão da mudança estrutural na reflexão sobre as diretrizes gerais da política industrial. Especialmente diante do aprofundamento das incertezas que rondam a economia mundial, o reposicionamento da indústria brasileira não poderá prescindir da manutenção ou mesmo aceleração do processo de aumento das escalas técnicas e econômicas das empresas, da maior convergência entre o esforço exportador e as estratégias de internacionalização das bases produtivas dessas empresas e da retomada do processo de diversificação estrutural das atividades produtivas, tanto na indústria quanto nos serviços, recuperando o padrão que historicamente sempre caracterizou o desenvolvimento brasileiro.
Não somente na economia prepondera a incerteza; na vida também. Um acidente inimaginável levou prematuramente Antonio Barros de Castro, ainda no auge da sua capacidade intelectual. O desenvolvimentismo perdeu um dos seus esteios e o pensamento econômico brasileiro um dos seus mais competentes formuladores.
David Kupfer é professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC-IE/UFRJ. Escreve mensalmente às segundas-feiras. E-mail: gic@ie.ufrj.br)
O caminho é conhecido: promover condições atrativas para os investimentos em capacidade produtiva e em inovação tecnológica.
Valor Econômico, 09-01-2012
Cientistas políticos gostam de debater se o início do século XXI ocorreu, de fato, em setembro de 2001, quando da queda das torres gêmeas (início da "Guerra ao Terror") ou se aconteceu bem antes, em novembro de 1989, quando da queda do muro de Berlim (o fim da "Guerra Fria"). Economistas parecem estar mais próximos de um consenso: o século XXI demorou mas chegou com grande estardalhaço em setembro de 2008, quando da queda da corretora Lehman Brothers, marco simbólico da grande crise internacional que desde então arrasta o planeta. Entre tantas quedas, a virulência da crise inaugural do século derrubou o mito de que a política econômica poderia se resumir à busca de estabilidade monetária e de um bom ambiente de negócios e recolocou a política industrial no centro das iniciativas governamentais em quase todos os países mundo afora.
Porém, da mesma forma que parece inquestionável que a política industrial está reconquistando a proeminência que exerceu na chamada era do ouro do capitalismo - os 25 anos do pós-2ª Guerra - é igualmente fora de dúvida que o seu arcabouço teórico e prático já não é mais o mesmo. Por essa razão, conceitos, objetivos, diretrizes, instrumentos, enfim, todo o aparato definidor da política industrial encontra-se em conformação aos novos parâmetros trazidos pelo século que se inicia, quais sejam, uma nova dinâmica macroeconômica internacional, um novo paradigma tecnológico e um novo perfil da empresa e da estrutura industrial.
Uma nova dinâmica macroeconômica, novo modelo tecnológico e um novo perfil da empresa e... ... ...... ...
Na rodada de vinte anos atrás a indústria não se reestruturou e vem daí parte dos problemas estruturais que ainda perseguem a indústria e a economia brasileira no presente
VALOR ECONÔMICO, 08-10-2012
Conteúdo eficiente por David Kupfer Políticas de conteúdo local são uma iniciativa centenária, generalizadamente praticadas em grande número de países, para não dizer todos que almejaram avançar na trilha do desenvolvimento industrial Valor Econômico - 14/01/2013
Problema tecnológico básico por David Kupfer O governo constrói políticas de inovação voltadas para uma clientela com um determinado perfil e os clientes, por sua vez, esperam do governo políticas de perfil diferente. Valor Econômico - 12/11/2012 A política tecnológica é peça essencial de uma política industrial contemporânea. Isso todos sabem. Mas qual política tecnológica? Essa é uma pergunt
a de difícil resposta, ainda mais em países como o Brasil, que estão a meio caminho do processo de desenvolvimento.
Existe uma linha de entendimento da questão que coloca ênfase na geração de conhecimento. São os que defendem uma estratégia "science-push", na qual universidades e centros de pesquisa devem exercer a função de âncoras do sistema de ciência, tecnologia e inovação. Se é certo que permita vencer algumas batalhas, é duvidoso que essa estratégia possibilite "ganhar a guerra". Primeiro, devido à grande distância da fronteira que atualmente caracteriza a maioria dos campos de conhecimento no Brasil, trata-se de uma estratégia excessivamente custosa quando contraposta as condições concretas de mobilização de recursos para a sua consecução. Segundo e mais importante, na ausência desses recursos, a massa crítica incipiente torna muito lento o avanço em vista das dificuldades típicas das fases iniciais de aprendizado tecnológico. Devido à óbvia retroalimentação negativa entre custo e prazo, quando avaliada intertemporalmente a estratégia tende a se tornar ainda mais custosa. E mais lenta. À industria caberia tão somente ter paciência para colher os frutos do necessariamente longo processo de acumulação de conhecimentos.
Uma segunda linha centra o enfoque nas necessidades. Nessa estratégia "demand pull" dá-se o oposto. O foco é colocado na indústria, devendo o sistema de C&T ser direcionado exclusivamente para atender as necessidades mais prementes das empresas industriais. Essa estratégia é, certamente, menos custosa. Porém, dado o atraso relativo da indústria brasileira, causa e consequência de seu padrão de especialização, o "velho novo" ofusca o "novo novo", condenando-a a graus muito baixos de efetividade. O fato relevante aqui é que a fronteira tecnológica se move e, para complicar, em direções nem sempre corretamente antecipadas. Por isso, o direcionamento do esforço de inovação exclusivamente para as necessidades do sistema produtivo pode significar um enorme dispêndio de energia para atingir capacitações em vias de se tornarem obsoletas. Ao invés do "catching-up", o risco real é de se pavimentar o caminho para o "falling behind". No estágio intermediário de desenvolvimento industrial e tecnológico a virtude está igualmente no meioNo estágio intermediário de desenvolvimento industrial e tecnológico a virtude está igualmente no meio. É preciso promover as necessárias ligações entre o sistema de C&T e o sistema produtivo, mas não apenas como uma iniciativa genérica de aproximação entre universidades e empresas. A essência do problema não parece ser a existência de conhecimento nas universidades que, por estar lá represado, não fica acessível para a utilização industrial. O cerne do problema está na ausência de massa crítica, para cuja formação se requer uma maior seletividade e uma menor dispersão de recursos voltados para a construção das capacitações requeridas.
Por isso, o fomento à inovação deve pautar-se por grande dose de seletividade, mirando alvos muito claros e bem definidos, expressos em objetivos específicos que deem margem à construção de indicadores de acompanhamento e possam ser revistos periodicamente. Nesse sentido, é preciso identificar "sistemas setoriais de inovação" (agronegócios, pré-sal, saúde, etc.), o que, por sua vez, impõe um grande desafio associado à institucionalidade da política tecnológica: além de fazer as escolhas, é necessário legitimá-las.
Se não bastasse a complexidade que cerca a definição da estratégia da política tecnológica, é também necessário um avanço compatível na superação dos problemas concretos que dificultam a sua implementação. O Brasil avançou com a segunda geração de políticas de inovação que, hoje, vai muito além do apoio à instalação de infraestrutura física de P&D. Não há dúvida de que a última década presenciou um aumento significativo do volume de recursos destinado a essas atividades. Há pouco mais de dez anos, esses recursos limitavam-se aos programas de crédito reembolsável e não reembolsável operados pelo MCT e aos incentivos fiscais muito limitados dos programas PDTI e PDTA ou muito específicos da Lei de Informática.
Desde então, foi colocado à disposição das empresas brasileiras um verdadeiro arsenal de estímulos para realizar atividades inovativas, sejam incentivos fiscais à P&D automáticos, semelhantes aos principais países do mundo; subvenção a projetos pré-selecionados; apoio a fixação de pesquisadores nas empresas, variados programas de financiamento ao empreendedorismo tecnológico, etc. Cabe destacar ainda a construção de um arcabouço legal muito mais propício com a Lei da Inovação de 2005, ou mais recentemente, margens de preferência nas compras públicas, regimes tributários especiais, requisitos de conteúdo local, dentre outras políticas de demanda.
Então, onde está o problema? O problema tecnológico básico é simples de identificar, embora, reconheça-se, bastante difícil de resolver: o governo constrói políticas de inovação voltadas para uma clientela com um determinado perfil e os clientes, por sua vez, esperam do governo políticas de perfil diferente. Cabe aqui uma analogia, possivelmente tola mas, quem sabe, justificável em nome da economia de espaço. O governo está oferecendo um supermercado (prateleiras repletas de ingredientes). As empresas querem um restaurante (cardápio com pratos já montados).
David Kupfer é professor e pesquisador licenciado do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ (GIC-IE/UFRJ) e assessor da presidência do BNDES. Escreve mensalmente às segundas-feiras. E-mail: gic@ie.ufrj.br/www.ie.ufrj.br/gi
O enigma da produtividadePor David Kupfer Não confundir com produtivismo, que é a busca da eficiência para ampliar lucros privados, sem retorno social Valor Econômico, 12-12-2011 "Produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo". Escrita em 1994 por Paul Krugman, economista po
Desafios da política industrial
Autor(es): Nelson Brasil de Oliveira E MARCOS HENRIQUE OLIVEIRA
Correio Braziliense - 03/09/2011
Vice-presidentes da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina (Abifina)
Ninguém duvida de que o maior obstáculo a uma política de desenvolvimento industrial no Brasil de hoje é a enorme distorção nos dois preços básicos da economia — a taxa de juros e o câmbio — em relação aos nossos concorrentes no exterior. Com o real fortemente sobrevalorizado em relação ao dólar, é muito difícil, senão impossível, estancar o fluxo de importações de produtos industrializados.
O reflexo disso é a rápida deterioração do balanço comercial da indústria nos últimos anos, sobretudo nas cadeias produtivas de maior densidade tecnológica e maior valor agregado. O deficit do setor industrial no primeiro semestre de 2011 atingiu nada menos que US$ 21 bilhões, uma expansão de cerca de 50% sobre o mesmo período do ano anterior. Para alcançar ganhos de produtividade capazes de superar a barreira da defasagem cambial seria necessário investir pesadamente, iniciativa que na atual conjuntura esbarra na taxa de juros efetiva mais alta do mundo.
A despeito disso, o governo vem, desde 2004, com o lançamento de sucessivas políticas de desenvolvimento industrial, procurando oferecer condições de melhor competitividade à indústria local. Mas essas iniciativas esbarram na falta de eficácia no nível da gestão e na falta de sinergia entre as diversas instâncias governamentais envolvidas. O desenvolvimento de uma empresa, de uma região ou de uma nação é um processo que requer o engajamento de uma ampla variedade de agentes econômicos e que, para ter sucesso no caso de um país, demanda uma política de desenvolvimento incondicionalmente seguida por todas as instâncias de governo, trabalhando com o mesmo objetivo.
São bem conhecidos os mecanismos clássicos de apoio ao desenvolvimento: subvenção econômica aos investimentos de maior risco, crédito subsidiado, isenções fiscais, proteções tarifárias, exigências de conteúdo local, preferências em compras governamentais e estabelecimento de um marco regulatório adequado. Desde 2004, com o lançamento da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), o governo vem lançando mão desses mecanismos, primeiro com a Lei da Inovação, que criou a subvenção econômica; depois com a Lei do Bem, que instituiu incentivos fiscais no Imposto de Renda para firmas inovadoras; e posteriormente com a Lei nº 12.349/2010, já no âmbito da Política de Desenvolvimento Produtivo, que criou preferência para produtos locais nas compras governamentais.
Essas iniciativas não chegaram a produzir os efeitos que delas se esperavam. A subvenção econômica foi limitada e concentrou-se mais em invenções do que em inovações propriamente ditas, privilegiando a pesquisa acadêmica em detrimento do desenvolvimento tecnológico realizado pela indústria. Os incentivos fiscais foram severamente restringidos pela regulamentação da Receita Federal, atingindo apenas as grandes empresas que declaram pelo lucro real e deixando de fora as de lucro presumido — mais de 90% do total.
A Lei nº 12.439/2010, que institui a preferência para a indústria local em compras governamentais, ainda não teve sua regulamentação concluída.
A diretriz nesse sentido, que já havia sido formulada pelo Ministério da Saúde em 2008, por meio de portarias que determinavam essa preferência nas compras públicas de fármacos e medicamentos, foi solenemente ignorada pelos laboratórios estatais, com exceção de Farmanguinhos, que é diretamente vinculado ao referido ministério. Os demais continuaram a fazer suas aquisições exclusivamente com base no menor preço internacional, sem isonomia nem no plano tributário nem nos critérios de qualidade.
No campo regulatório o panorama é o mesmo. O Brasil parece ter esquecido a lição histórica de que a regulação sucede ao desenvolvimento, não o contrário. Todos os países desenvolvidos alcançaram esse estágio num ambiente regulatório muito mais flexível do que aquele que estamos tentando estabelecer, por exemplo, na regulação de produtos biológicos.
A atuação do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) segue inteiramente desvinculada dos propósitos da política de desenvolvimento, chegando ao cúmulo de esse órgão desconhecer uma resolução emanada do Grupo Interministerial de Propriedade Industrial, criado exatamente para orientar sua atuação.
Há aspectos muito positivos nas recentes medidas do programa Brasil Maior que merecem análise mais detalhada, mas colocar todas as instâncias do governo vibrando num mesmo diapasão permanece sendo, indiscutivelmente, o maior desafio a ser vencido.
Há uma tácita ironia na história do desenvolvimento econômico brasileiro. O chamado milagre econômico no início da década de 1970 foi arquitetado na década anterior por meio do Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), em 1964. No cerne da sua estratégia de crescimento, o PAEG carregava as sementes da inserção do País no capitalismo global. Esse plano veio a ser, em grande parte, copiado pelos governos desenvolvimentistas da Coreia do Sul. O sucesso do planejamento econômico desse país contagiou os demais da região asiática, conhecidos como os Novos Países Industrializados (NICs). No Brasil, os governos militares optaram pelo capitalismo estatal em vez do capitalismo competitivo global. Assim, enterraram tanto o PAEG como todos os demais planos plurianuais de desenvolvimento.
Por conta disso, após a década de 1970, o Brasil perdeu a capacidade de planejamento e viveu no inferno fiscal e na superinflação por mais de duas décadas. Optou pelo endividamento público interno e externo, empobreceu a população, deu o calote nos credores externos e transformou-se em uma economia de crises, cujos resultados foram idênticos aos dos atuais países menos desenvolvidos da região da União Monetária Europeia, que vivem no inferno do euro.
Após quatro décadas, ironicamente, o Brasil está seguindo os fundamentos dos NICs. A nova política industrial está propiciando a criação de um ambiente inovador, ou seja, não basta crescer, importa a aceleração do crescimento.
O plano visa criar condições para a ascensão competitiva dos setores expostos à concorrência global
Esta nova política industrial, intitulada Plano Brasil Maior, difere das anteriores por ser leve, ágil e objetiva no tocante aos estímulos à escala de produção dentro de um escopo competitivo das empresas brasileiras e conforme os limites do meio ambiente. Nesse sentido, é imprescindível que haja empresas nacionais de grande porte. Sem grandes empresas, o País não tem como sustentar a competitividade industrial e, muito menos, tornar o setor mais robusto tanto na escala como na capacidade competitiva inovadora e inserida na economia global. São as grandes empresas que arrastam as de médio porte para a competitividade. A política industrial vigente objetiva estimular a competitividade global das empresas de alta tecnologia (softwares, bens de capital, caminhões e veículos leves) para que elas se tornem capazes de atrair recursos físicos, humanos e financeiros e de adquirir conhecimento sobre processos de produção e tecnologias internacionais. O Brasil Maior protege e cria condições para a ascensão competitiva dos setores mais expostos à concorrência global.
Nos tempos atuais da globalização, o papel do Estado é vital na formulação e na implementação de estratégias de competitividade industrial. A política industrial do governo Dilma Rousseff é uma estratégia de curto prazo. Trata-se de um primeiro movimento na remoção e na correção de obstáculos estruturais: eliminaram-se encargos fiscais sobre a folha de pagamento de empresas potencialmente competitivas no mercado global; deram-se estímulos ao desenvolvimento tecnológico e à organização empresarial, à capacidade concorrencial e ao fortalecimento da escala de produção competitiva global.
Essa política está sendo implantada de forma adaptativa, como ocorreu nos NICs, pois nenhum planejamento estratégico industrial tem, na sua largada, todos os detalhes alinhados. O que importa é o direcionamento estratégico. Nesse sentido, o olhar da política industrial está mais direcionado para os riscos da competitividade da indústria em face da concorrência global do que atender às demandas do mercado nacional.
As grandes diretrizes da política industrial consistem na eliminação da alíquota dos 20% de INSS sobre a folha de pagamento das indústrias intensivas no emprego da mão de obra, como as de calçados, confecção, móveis e softwares. A recomposição dessa desoneração dar-se-á por meio de uma alíquota que poderá variar de 2,5% a 1,5% sobre o faturamento, mas poderá ser menor para alguns setores em que a alíquota não representar uma redução efetiva de custo, como o de confecção e têxtil. Essa desoneração valerá até o próximo ano, quando uma reavaliação for feita no tocante aos resultados obtidos quanto ao faturamento e emprego. Se houver uma perda de arrecadação para o INSS, o Tesouro arcará com a diferença. Isso faz sentido, pois não se podem criar condições de competitividade aos empresários e aumentar o rombo na conta da previdência.....SEGUE.... .
O Plano Brasil Maior tem o mérito de adotar medidas de redução do custo tributário da indústria em um momento de dificuldades do setor. Traz ainda contribuições pioneiras, como a desoneração da folha e a instituição de um ressarcimento de até 3% das exportações por tributos não recuperados pelos exportadores. Além disso, completou a remoção de tributos federais sobre o investimento. Ficou de fora a retirada dos indevidos incentivos fiscais que certos estados dão às importações. Não devemos perder de vista que, mesmo com as novas medidas, o Brasil ainda não facilita o investimento, a inovação e a exportação como fazem outros países. A nosso ver, uma política industrial pode prever incentivos mais amplos, desde que reservados para premiar os esforços de investir e inovar não só da indústria, mas de todos os setores da economia, e para promover o florescimento das atividades industriais que nos conduzirão ao futuro. Áreas de sustentabilidade e de novas tecnologias estão entre as atividades para as quais o incentivo fiscal pode ser fundamental.
Inovar é imprescindível, mas não há no Plano Brasil Maior uma única palavra sobre produtividade
Talvez o maior mérito do Plano Brasil Maior seja o reconhecimento de que a indústria é um vetor fundamental do desenvolvimento e que a política industrial é uma construção permanente, como salientou a presidente Dilma Rousseff. Nesse sentido, gostaria de tratar três... .... .... ...
"A produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo" Paul Krugman
Os responsáveis pela política econômica do país têm declarado repetidas vezes que é necessário proteger a indústria brasileira da concorrência predatória de outros países, de forma a preservar o nosso mercado para a indústria brasileira. Com esse objetivo, várias medidas de isenção fiscal tem sido implementadas nos últimos meses. Mas, será que os programas de ajuda à indústria fazem sentido do ponto de vista da sociedade como um todo? Como os produtos estrangeiros conseguem chegar tão baratos ao mercado brasileiro? Enfim, conseguiremos salvar nossa indústria? ...SEGUE...
--Inflation should slow to about 4.5% by 2013, OECD says
BRASILIA (Dow Jones)--The Organization for Economic Cooperation and Developed has criticized Brazil's recently-unveiled industrial policy, and the country needs to do more to improve competitiveness.
The so-called Brasil Maior plan "may provide short-term relief" for manufacturing companies but "will not be sufficient to reduce the cost disadvantage of producing in Brazil," the OECD said in its latest economic outlook report published Monday.
"Further reforms to the tax system and to foster ...
Iedi alerta que PBM estimula inovação na indústria, mas câmbio anula produtividade
Economistas ligados ao Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi) alertam para a fragilidade da política industrial do governo, batizada de Plano Brasil Maior (PBM).
O financiamento de longo prazo e o BNDES por Pedro Luiz Barreiros Passos Valor Econômico - 02/01/2012 Não há dúvida de que em algum momento do futuro o amplo leque de taxas de juros existente no crédito no Brasil deverá passar a refletir bem mais as taxas de mercado, a exemplo do que ocorre em outros países. Esse será um indicativo da evolução de nossa economia e, por isso, devemos mobilizar as forças de que dispomos para alcançarmos essa etapa o quanto antes. Temos assistido a manifestações que propõem o imediato fim do crédito direcionado mantido pelo Brasil nas áreas do investimento, habitação e setor rural. Alternativamente, alguns participantes do debate defendem que os financiamentos nessas áreas desde já passem a ter a taxa Selic como referência, o que os encareceria sobremaneira. O argumento é que com ações dessa ordem, a taxa básica de juros da economia poderia cair mais rapidamente. O tema é muito relevante e seu debate deve considerar os
Os riscos da política industrial
por Mansueto Almeida
O Estado de S. Paulo - 01/01/2012
Um dos maiores desafios é o de transformar o apoio do Estado, que deve ser temporário, em incentivos permanentes às empresas contempladas pelas medidas
Desde 2003, o governo brasileiro voltou a fazer uso de políticas com o objetivo de ajudar o crescimento de empresas individuais e setores econômicos. Essas políticas, denominadas de política industrial, partem do pressuposto de que algumas empresas e setores econômicos devem ser apoiados pelo Estado devido aos amplos benefícios que ocasionariam para outras empresas e setores da economia.
O problema é que, com raras exceções, o termo "política industrial" é utilizado para justificar políticas de incentivos que não têm relação alguma com incentivos à inovação ou aumento de produtividade. Utiliza-se esse....
Política industrial para a transformação econômica
por João Carlos Ferraz
O Estado de S. Paulo - 01/01/2012
Plano Brasil Maior consolida a evolução da política industrial no País e sua atuação contribuirá para a aceleração das transformações econômicas dos últimos anos
O debate sobre a política industrial costuma ser, para dizer o mínimo, viesado por paixões: argumentos contra e a favor costumam ser construídos com base em apriorismos acerca dos papéis que Estado e mercado devem ter no desenvolvimento econômico. Ainda assim, a política industrial tem ganhado destaque globalmente nas agendas de políticas tanto do setor público quanto do privado.
Não faltam motivos para tanto: os efeitos deletérios da crise financeira internacional, a emergência de setores industriais novos e altamente competitivos em países em desenvolvimento, a preocupação ambiental, a necessidade de reduzir as disparidades regionais, a segurança nacional, entre outras razões.
Governos mundo a fora têm ativamente implementado políticas industriais. Alguns países, como a China e a Coreia do Sul, sempre conferiram alta prioridade a tal tipo de política. Outros, como o Japão e a Rússia, tentam transformar o relacionamento entre o Estado e o setor privado. Mesmo os EUA têm trazido para a política industrial um surpreendente ativismo. Observa-se a emergência de uma nova geração de políticas industriais, desenhadas para atender as singularidades de seus países, mas todas buscando fortalecer competências empresariais e laborais para fazer frente aos novos desafios competitivos.
Para tanto, uma política industrial precisa lidar com duas questões relacionadas: os níveis de desenvolvimento da atividade econômica e da capacidade institucional. Ambos estabelecem o escopo e o alcance que em dado momento uma política industrial consegue ter. É certo que o desenvolvimento ocorre tipicamente por saltos, mas a política precisa ser concebida de forma que objetive um processo factível de transformação, a partir de uma perspectiva evolucionista acerca das ambições e metas desejadas. A política precisa ser capaz de diferenciar e agir sobre distintos desafios competitivos dos vários setores, mirando o avanço da fronteira competitiva internacional. As capacitações institucionais, por seu turno, definem os limites das ambições da política. Esses limites não devem ser tomados como absolutos ou como obstáculos inamovíveis, o que levaria à adoção de políticas tímidas e defensivas ou mesmo à abstenção de colocá-las em prática. Essas limitações precisam, sim, ser tomadas como ponto de partida para o desenho e para a implementação da política, de maneira que novas ambições sejam incorporadas ao longo do tempo à medida que o país consiga subir novos degraus no desenvolvimento produtivo e de suas capacitações institucionais.
No Brasil, desde 2004 houve três políticas distintas. A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE, 2004-2007), que visou a fortalecer a base institucional por meio da criação de agências e da modernização da legislação para conferir maior efetividade aos instrumentos de indução à inovação. A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP, 2008-2010) que, entre outras coisas, visou a alavancar o investimento e a inovação, tendo um papel crucial nas ações do governo federal no combate aos efeitos da crise financeira internacional. O Plano Brasil Maior (PBM, 2011-2014), que tem como prioridade a agregação de valor por meio da inovação.
Essas experiências, a despeito de suas distintas ênfases, guardam características em comum. Em primeiro lugar, há a preocupação em manter uma continuidade com flexibilidade: inovação e competitividade foram prioridades claras em todas elas, mas os focos e a organização de cada uma foram alterados para dar conta de desafios inesperados. Em segundo, há uma crescente preocupação em explicitar metas, mobilizar os instrumentos mais relevantes e estabelecer uma interação efetiva entre setores público e privado. Em terceiro lugar, a política industrial no Brasil faz parte de um conjunto mais amplo de políticas de desenvolvimento relacionadas, como as de educação e de ciência e tecnologia.
Elas também propiciaram alguns aprendizados, que permitem firmar linhas gerais de atuação de uma política industrial bem-sucedida. Um deles se refere à crítica de que políticas industriais propiciam oportunidades de o Estado ser capturado pelo setor privado. Em democracias plenas não é viável a saída de criar no Estado uma burocracia forte e isolada. No entanto, há precauções que permitem mitigar o fenômeno da "captura". Primeiro, em cada estágio da política - desde o diagnóstico até a sua avaliação, passando pelo seu desenho e implementação - é preciso explicitar os papéis dos agentes públicos e privados. Segundo, as ações da política precisam estabelecer previamente benefícios e exigências. Terceiro, é preciso reforçar os mecanismos de transparência e monitoramento das ações públicas.
De uma maneira mais ampla, é possível afirmar que o debate atualmente não é mais se há razões para estabelecer uma política industrial, mas sim como implementá-las evitando incorrer em "falhas de governo". Não há fórmulas prévias e infalíveis para lidar com esses riscos. O caminho para que a política industrial consiga ser efetiva em alcançar seus objetivos de longo prazo - reduzir as lacunas de competências e tecnológica entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, bem como a disparidade entre suas rendas per capita - passa pela sua perenização como prioridade pública, mantendo constantes avaliações e reformulando seus objetivos quando necessário. O Plano Brasil Maior consolida a recente evolução da política industrial no Brasil. Sua atuação não será isenta de debates e controvérsias, mas tenho a convicção de que o PBM contribuirá para que o País continue acelerando as magníficas transformações econômicas dos últimos anos.
JOÃO CARLOS FERRAZ É VICE-PRESIDENTE DO BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SOCIAL (BNDES)
O problema que a indústria leva para 2012 [+ export 2011] por Denise Neumann O total descolamento entre a produção nacional e o Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 deixa uma interrogação com cara de problema para 2012 Valor Econômico, 02-01-2012 2011 terminou deixando movimentos que ainda serão muito estudados pelos economistas, como o real efeito das medidas macroprudenciais na expressiva desaceleração da economia brasileira ao longo do ano, a resistência do emprego à mesma desaceleração e a profunda retração na produção industrial. Entre outros, esses tópicos comporiam uma lista das 10 maiores surpresas econômicas do ano, com certeza. Dos três, o total descolamento entre a produção nacional e o Produto Interno Bruto (PIB) é o que deixa uma interrogação com cara de problema para 2012, 2013, 2014.... A indústria terminou 2010 com uma produção 10% superior à de 2009, enquanto o PIB cresceu 7,5% na mesma comparação. Em 2011, o setor vai, na melhor das hipóteses, crescer 0,5%, para um PIB próximo a 3%. Além do crescimento pífio, o resultado dos últimos três meses mostra que a indústria brasileira nunca se recuperou efetivamente da crise externa - a produção está hoje 3% inferior à do auge pré-quebra do... ...
Conjuntura Indústria deve ficar forte só no 2º semestre, diz Kupfer Por João Villaverde | De Brasília Apenas entre o fim deste ano e o início de 2013 é que a produção industrial vai atingir o nível em que deveria estar neste momento, diz o economista David Kupfer Valor, 04-01-2012 A indústria brasileira vai fazer em dois anos o que poderia, e deveria, ter feito em um. Apenas entre o fim deste ano e o início de 2013 é que a produção industrial vai atingir o nível em que deveria estar neste momento. Essa é a avaliação do economista David Kupfer, professor da UFRJ e um dos principais especialistas em indústria do país. Além de sua posição de destaque no debate sobre o tema, no Brasil, Kupfer também assumiu, este mês, a função de assessor econômico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Já está, desde ontem, trabalhando na sede do banco, no Rio de Janeiro, de onde falou, pela primeira vez depois de assumir o cargo, ao... ... ...
Ásia Indústria japonesa enfrenta ameaça de declínio irreversível por Jonathan Soble | Financial Times ESPECIAL Câmbio desfavorável e ascensão de Coreia do Sul e China deixam sob pressão os fabricantes do país Valor Econômico, 06-01-2012 Sob pressão das políticas domésticas e dos concorrentes estrangeiros, o setor por trás do milagre japonês do pós-guerra está transferindo suas atividades para outros países, aumentando as preocupações com a capacidade da nação de vencer uma estagnação que já dura duas décadas. Em junho, Akio Toyoda, presidente da Toyota Motor do Japão, fez uma....
Cenários 2012 Holland prevê pressão menor sobre preços Por João Villaverde | De Brasília A forte pressão sobre os preços em 2011 não se repetirá este ano, diz Márcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Valor, 09-01-2012 A inflação de 2011 foi um ponto fora da curva, e a forte pressão sobre os preços não se repetirá em 2012 e nos demais anos do governo Dilma Rousseff, disse Márcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, em entrevista ao Valor. Este ano, o desempenho do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passará a se basear sobre a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) atualizada, o que deve reduzir a taxa de inflação em até 0,4 ponto... ...
Um momento excepcional Por Carlos Alvarez A América Latina pode ser uma das protagonistas, tanto na nova etapa de desenvolvimento mundial, como na reconfiguração de uma ordem multipolar. Valor, 09-01-2012 Pela primeira vez em nossa história conjugaram-se na América Latina cinco dimensões estratégicas importantes que permitem definir a situação da região como excepcional.
Saúde e protecionismo por Edmar Bacha Não é aceitável que o Ministério da Saúde gaste recursos da arrecadação de impostos para pagar 25% a mais por bens produzidos no país quando há tantas deficiências na áreaValor Econômico - 10/01/2012 Em entrevista ao Valor em 30 de dezembro, o ministro da Saúde anunciou que, em breve, o governo pretende instituir uma margem de proteção de 25% para os produtores nacionais de bens e serviços adquiridos pelo Ministério da Saúde. Ou seja, o governo se dispõe a pagar 25% a mais por... ....
A nova vanguarda do atraso por José Serra O Estado de S. Paulo - 12/01/2012 O desempenho da economia brasileira em 2011 foi modesto: o PIB cresceu menos de 3%, a segunda pior performance desde 2004. O freio da economia foi a indústria de transformação, que permaneceu estagnada. ... ....
por Luiz Carlos Bresser-Pereira - Valor Econômico - 29/03/2012
O Brasil vem se desindustrializando prematuramente desde 1980, primeiro, devido à crise da dívida externa e à alta inflação; depois, a partir de 1990, com a abertura comercial e financeira. Estas, além de permitir entradas de capital que apenas apreciavam o câmbio e aumentavam o consumo, implicaram na eliminação do imposto sobre exportações que existia implícito no sistema cambial e tarifário.
O Brasil ficou, assim, à mercê da tendência cíclica à sobreapreciação da taxa de câmbio que caracteriza os países em desenvolvimento que não a administram adequadamente. E sua taxa de câmbio tornou-se...
O problema da indústria por Mansueto Almeida Com um salário mínimo perto de US$ 350 e dada a nossa produtividade, o Brasil tornou-se um país caro para a produção de produtos intensivos em mão de obra Valor Econômico - 20/04/2012
Idiossincrasias do pacote à indústria por Antoni Corrêa de Lacerda O Estado de S. Paulo - 19/04/2012 Foram muito bem-vindas as medidas adicionais do Plano Brasil Maior anunciadas pelo governo no início do mês para ampliar a competitividade da indústria, como já tratei neste espaço (Estado, 4/4). Foi um reconhecimento da necessidade de ajustes que propiciem uma melhora do ambiente de produção e investimentos. Ao contrário de algumas análises, há muito mais virtudes que vícios no conjunto de...
No novo regime automotivo, as montadoras que não conseguirem pontos suficientes em lista de avaliação do governo terão de pagar mais IPI, disse Pimentel
valor econômico, 30-03-2012
Carro não terá IPI zero e pode até recolher mais imposto
Fernando Pimentel: com o novo regime automotivo que está para ser anunciado "as empresas vão ter de se mexer"
No novo regime automotivo, as montadoras que não conseguirem pontos suficientes em uma lista de avaliação a ser elaborada pelo governo terão aumentado o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), acima do nível que pagam atualmente, informou ao Valor o ministro do Planejamento, Fernando...
EDITORIAIS - editoriais@uol.com.br Declínio fabril Embora contestada por alguns, a fragilização da indústria está em curso e precisa ser contida com aumento do investimento
Dependência restaurada
por Marcelo coutinho - folha, 11-09-2012 Sábios que pediam autonomia aos EUA decidiram nos acoplar à China. O país está estagnado. O crescimento lembra os anos 1980. As exportações, a Colônia ...