por Naercio Menezes Filho
A política industrial correta seria aumentar a abertura da economia, baixando as tarifas de importação e aumentando a concorrência para eliminar as firmas ineficientes
VALOR ECONÔMICO, 20-09-2013
Nos últimos anos, o crescimento do Brasil tem se dado com base no aumento do emprego, ao contrário de outros países emergentes, que cresceram aumentando sua produtividade. Dados da Conference Board mostram que entre 2006 e 2011 a produtividade do trabalhador brasileiro cresceu apenas 2% ao ano, enquanto na média das maiores economias emergentes ela cresceu 6,5%. Além disso, em 2011 a produtividade cresceu 0,7% e as estimativas para 2012 apontam para um crescimento negativo. O que está acontecendo com o Brasil?
Existem duas maneiras para aumentar a produtividade dos trabalhadores de uma economia. A primeira é aumentar a produtividade das firmas existentes, sem alterar suas parcelas de mercado. A outra é deslocar produção e trabalhadores das firmas menos produtivas para as mais produtivas. Surpreendentemente, a segunda tende a ser mais importante na maioria dos casos. Nos EUA, por exemplo, a realocação do emprego para firmas mais produtivas foi responsável por 50% do crescimento recente da produtividade no setor industrial e por 90% no comércio. Mais ainda, a entrada de novas firmas (mais produtivas do que as existentes) tem sido responsável por quase todo o aumento da produtividade no comércio. Assim, o processo de destruição criativa é o que move a economia americana.
Além disso, para aumentar a produtividade de cada firma, é necessário que ela invista em máquinas e equipamentos e inove. A inovação pode ocorrer por conta própria ou pela absorção de novos produtos ou processos desenvolvidos em outras firmas ou países. Os gastos com pesquisa e desenvolvimento (P&D) facilitam essa absorção de conhecimento. Assim, os retornos sociais dos investimentos em P&D são maiores do que os privados, pois novos processos descobertos por uma firma podem ser imitados pelas demais. Logo, subsídios do governo aos gastos com P&D são em geral socialmente justificados.
A proporção de empresas inovadoras que realizam gastos com P&D está diminuindo no Brasil
Nos últimos 10 anos, o governo tem lançado várias políticas de incentivo à inovação, como: Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior; Plano de Desenvolvimento Produtivo; Plano Brasil Maior e Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Apesar disso, o número de patentes obtidas por firmas brasileiras é mínimo e o gasto empresarial com P&D muito pequeno. As empresas brasileiras empregam um pesquisador a cada mil trabalhadores; as coreanas empregam dez. Ou seja, apesar de todo o incentivo, as firmas brasileiras privadas investem pouco em P&D e quase não inovam. O que está acontecendo?
A resposta está num artigo publicado recentemente por um dos maiores economistas da atualidade, Daron Acemoglu, em conjunto com outros autores*. Segundo esse artigo, em qualquer mercado existem empresas novas e antigas, inovadoras ou acomodadas. As menos inovadoras tendem a desaparecer; as mais inovadoras tendem a ganhar mercado e crescer. O problema é que mesmo as mais inovadoras envelhecem e podem ser tornar menos inovadoras, acomodando-se. Nos dados americanos, grande parte do crescimento das vendas, do emprego e dos gastos em P&D ocorre nas novas empresas. No Brasil, a maior parte do emprego também é gerado pelas pequenas empresas.
Para aumentar a produtividade da economia, a política industrial deveria incentivar o crescimento das firmas inovadoras e tirar do mercado as firmas que já se acomodaram. Por exemplo, os autores mostram que gastar 5% do PIB para proteger as firmas existentes reduz o crescimento do país em 5% e diminui o bem-estar da sociedade em 0,8% do PIB. Além disso, como parte das empresas já se acomodou, subsidiar o P&D dessas empresas tem efeitos pequenos sobre o crescimento e bem-estar. A política industrial ideal seria taxar as empresas existentes, ao mesmo tempo em que se incentivam os gastos com P&D.
Corta para o caso brasileiro. Nossas políticas dos últimos anos foram exatamente na direção oposta às preconizadas pelos autores. Nossa política industrial, ao proteger o setor industrial estabelecido e a escolha de campeões nacionais pelo BNDES, é exatamente a que se mostra equivocada no artigo. Ao proteger as grandes firmas existentes, o governo está diminuindo a realocação da produção para as firmas novas e mais eficientes, que é o grande motor do crescimento da produtividade e do bem-estar.
Os dados da Pintec coletados pelo IBGE mostram isso claramente. As empresas inovadoras que mais recebem incentivos do governo para gastos em P&D são as grandes empresas (com mais de 500 empregados). Esta proporção dobrou ao longo do tempo (de 8% em 2001/03 para 16% em 2005/08). Como parte dessas empresas já se acomodou, a produtividade dos gastos em P&D é baixa e essa alocação equivocada diminui o crescimento da economia. O resultado é que a proporção de empresas inovadoras que realizam gastos em P&D está diminuindo no Brasil e a produtividade industrial está declinando.
A política industrial correta seria aumentar a abertura da economia, baixando as tarifas de importação e aumentando a concorrência para eliminar as firmas ineficientes. Além disso, seria necessário desburocratizar o processo de criação de novas empresas e simplificar a estrutura tributária para que as pequenas empresas inovadoras possam crescer. Exatamente o contrário do que o governo está fazendo. Os resultados estão aí para todos verem.
* Innovation, Reallocation and Growth, NBER working paper número 18993
Naercio Menezes Filho, professor titular - Cátedra IFB e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, é professor associado da FEA-USP e escreve mensalmente às sextas-feiras. naercioamf@insper.edu.br
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GOVERNO LIBERA RECURSOS PARA BOLSAS DE ESTUDO
Por Gustavo Brigatto | De São Paulo
Pela primeira vez, empresas com centros no Brasil poderão participar diretamente de uma chamada pública
VALOR ECONÔMICO, Empresas, 20-09-2013
[Leonardo Rodrigues/Valor / Leonardo Rodrigues/ValorMinistro Marco Antônio Raupp: incentivo para que pesquisadores atuem no país]
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação publicou ontem um edital que oferece um total de R$ 14 milhões para bolsas de estudo em pesquisa, desenvolvimento e inovação no Brasil. O valor poderá ser distribuído em diversos projetos, com teto máximo de R$ 2 milhões cada. Podem participar da chamada, instituições ou Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), e empresas que mantêm centros de pesquisa no país.
Os recursos poderão ser aplicados na contratação de pesquisadores e especialistas para desenvolver projetos por um período de até três anos. O total investido pode chegar a R$ 28 milhões, já que a previsão é que as empresas apliquem outros R$ 14 milhões nos projetos. É a primeira vez que um edital do governo permite a participação direta de empresas. "Geralmente, empresas com centros de pesquisa no Brasil não conseguem participar porque seus centros ficam embaixo de um único CNPJ para aproveitar benefícios de isenção fiscal. Com o edital, abre-se essa possibilidade", disse Rafael Moreira, coordenador de serviços e de software do ministério, durante evento em São Paulo.
Segundo Moreira, o edital também traz mudanças na forma como as propostas devem ser apresentadas. Em vez de se candidatar a iniciativas predefinidas, como costuma ser feito, as companhias poderão apresentar uma espécie de plano de negócios dos projetos que pretendem realizar, descrevendo o perfil de pesquisador desejado. Poderão ser contratados profissionais brasileiros e estrangeiros. Os projetos precisam se enquadrar nas diretrizes do programa de estímulo ao mercado de tecnologia da informação do governo federal, o TI Maior.
"A ideia é que esses pesquisadores trabalhem no desenvolvimento de produtos no Brasil", disse o ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp. As propostas poderão ser apresentados nos próximos 45 dias. O resultado sairá em dezembro. A avaliação será feita por uma banca formada por membros do mundo acadêmico e profissionais da área de negócios. De acordo com o coordenador do ministério, a ideia é garantir que as iniciativas tenham relevância nesses dois aspectos e que gerem a estrutura para que participantes do programa Ciência sem Fronteiras retornem ao Brasil depois de estágios no exterior.
O edital era aguardado pelas empresas participantes do programa TI Maior que instalaram centros de pesquisa e desenvolvimento no Brasil nos últimos 12 meses. Quando o programa foi lançado, a meta do governo era atrair quatro companhias até o fim de 2015. A lista, que já contava com EMC, Intel e Microsoft, dos EUA, foi completada ontem pela SAP, da Alemanha, que incluiu no projeto seu centro de pesquisa, localizado na cidade de São Leopoldo (RS), conforme adiantado pelo Valor, ontem.
O investimento de R$ 60 milhões anunciado em 2012 pela SAP dobrará a capacidade do centro para mil profissionais e permitirá que a empresa faça projetos personalizados para os clientes, disse Daniel Duarte, diretor do laboratório da SAP. A inauguração da nova área será em dezembro. Segundo Raupp, apesar de a meta ter sido cumprida, o ministério discute iniciativas com outras empresas, que resultarão em mais projetos a serem anunciados em 2014. "As parcerias do governo com as empresas é a forma de acelerar a inovação no Brasil", disse.
Um dos projetos pode ser de um centro de pesquisa e desenvolvimento de software para computadores de alto desempenho da empresa francesa Bull. O investimento faria parte da negociação de um supercomputador para ser usado por instituições de pesquisa dentro da Rede Nacional de Pesquisa (RNP). O investimento é estimado em € 30 milhões, segundo o secretário de políticas de informática do ministério, Virgílio Almeida.
Almeida disse que a máquina teria capacidade de processamento suficiente para incluí-la na lista das 20 mais potentes do mundo e poderia ser usada em projetos de pesquisa nas áreas de petróleo, energia e TI. Também faz parte da negociação o investimento da Bull na produção local de partes do equipamento. A expectativa é que o acordo seja concretizado até o fim de 2014.
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SUPLEMENTO - INOVAÇÃO: 20-09-2013
ELEMENTO TRANSVERSAL
Por Paulo Brito | Para o Valor, de São Paulo
Tecnologia da informação está, cada vez mais, na base dos processos das empresas mais inovadoras do país
VALOR ECONÔMICO, 20-09-2013
A tecnologia da informação (TI) é um dos ingredientes mais importantes nos processos de inovação. Qualquer dúvida sobre essa relevância pode ser esclarecida na lista das dez empresas mais inovadoras da América do Sul em 2013, selecionadas pelo site Fast Company: somente o décimo colocado, a companhia teatral argentina Fuerza Bruta poderia, em tese, dispensar a TI como essencial - mas até isso é amplamente discutível. Quatro das dez classificadas são brasileiras: a Enalta, a GranBio, a Tecsis e a Netshoes. E em todas elas, a TI é fundamental.
Na GranBio, startup da área de bioenergia, fundada em 2011 pela Gran Investimentos, holding da família Gradin, o foco está nos segmentos de biocombustíveis e bioquímica. A estratégia da empresa inclui a produção de etanol a partir da celulose, agora chamado de álcool 2G (de segunda geração), e também o desenvolvimento de uma nova espécie de cana, a "cana energia", que rende 200 toneladas por hectare, enquanto a cana comum rende 85. Nada disso seria possível sem a bioinformática, garante Gonçalo Pereira, cientista-chefe da GranBio: "Nossa missão é transformar biomassa em combustível, e para isso temos de trabalhar com bioinformática", diz ele.
Na concepção de Pereira, as próprias células dos organismos vivos são computadores, nos quais o código genético é o programa armazenado: "É esse código que define o que é ligado ou desligado, o que funciona ou não. Faz 20 anos que a ciência está decompondo a informação biológica e armazenando-a em bits - estruturando assim a genômica, a proteômica e outras 'ômicas'", brinca ele. "O que elas fazem é reunir várias áreas do conhecimento para simular a vida dentro do computador", explica.
É com o auxílio dessas ciências, conta Pereira, que a GranBio está pesquisando os insumos para seus processos industriais. O processo para a obtenção do álcool 2G, segundo ele, começa com "biomassa de alta produtividade e baixo valor", que será obtida a partir da cana energia. Ali, o bagaço é pura celulose, substância formada por uma série de açúcares encadeados. A tarefa da GranBio será transformar em álcool os dois tipos de açúcar contidos nessa biomassa. "No processamento tradicional da cana obtém-se álcool a partir da glicose, mas é possível conseguir mais 25 a 30% com o açúcar que está ali sob outra forma, a xilose", explica Pereira. A solução está em novas leveduras que a empresa está desenvolvendo em computador: elas são geneticamente modificadas, para que consigam transformar a xilose da biomassa em álcool.
Na Netshoes, que começou em 2000 como loja de sapatos na rua Maria Antônia, em São Paulo, e se transformou numa das maiores empresas de comércio eletrônico do mundo, a inovação é sempre em TI. Rodrigo Nasser, CTO da companhia, diz que toda inovação precisa resolver problemas dos clientes, em geral apaixonados por esportes. "Temos de fazer tudo pelos canais digitais, oferecendo ao nosso usuário a melhor experiência possível para sua compra." Para atingir esse objetivo, a empresa investe muito, embora não revele quanto.
Foi justamente para melhorar a experiência dos usuários (que fazem de 25 mil a 30 mil pedidos por dia) que a Netshoes desenvolveu seu sistema de localização de calçados, que funciona assim: o usuário fotografa qualquer calçado, envia para o site da Netshoes e ele responde com a marca e modelo da foto, pronto para entrar no carrinho de compras - ou com uma lista dos mais parecidos. É o que acontece com frequência com usuários que veem tênis em academias de ginástica e querem descobrir de que marca são. "Para isso tivemos de escanear todos os calçados em 3D e implantar técnicas de reconhecimento facial", revela. Isso permite que o usuário compare até os tamanhos de fabricantes diferentes para descobrir qual lhe servirá melhor. Agora que o sistema funciona bem, o próximo passo será utilizá-lo para identificar suplementos alimentares e peças de vestuário, diz o CTO da Netshoes.
Na Tecsis, empresa que fabrica pás para hélices de aerogeradores em Sorocaba (SP), a inovação não é tão aparente. As pás têm de 25 m a 45 m de comprimento. Projetá-las é complexo e a inovação está justamente aí: com as ferramentas tradicionais, conta Philips Lemos, diretor de tecnologia, o tempo gasto pelos engenheiros variava de 12 a 18 semanas. Com o software "Laminae", desenvolvido pela Tecsis com uma parceira da Espanha, o projeto fica pronto em apenas oito.
"Agora, ao projetarmos as pás, conseguimos simular a força do vento e visualizar a distribuição de carga ao longo do rotor." Isso permite aos engenheiros um cálculo preciso da quantidade de material necessária em cada ponto da pá. "Só ferramentas sofisticadas são capazes de projetar com os novos materiais que estamos começando a usar, como a fibra de carbono", diz ele.
A Enalta, no topo da lista das mais inovadoras, começou com a manutenção de máquinas agrícolas automatizadas, mas evoluiu mesmo ao desenvolver um sistema integrado de gestão de frota agrícola, todo baseado na coleta de dados das máquinas - não há entrada manual de dados. Cleber Manzoni, presidente da empresa, explica que a Enalta é pura tecnologia da informação, e seu sistema integra as máquinas de forma a interagirem uma com a outra: "A máquina agrícola não vai mais ao posto de gasolina, mas avisa ao sistema que precisa do caminhão de abastecimento."
Os dados alimentam os sistemas de produção e de gestão das propriedades agrícolas, permitindo que os administradores tomem decisões na hora certa - inclusive determinando alteração na operação das máquinas.
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GOVERNO QUER FORMAR JOVENS PROGRAMADORES
Por Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo
Programa Mais TI vai unir ofertas de vagas e cursos num mesmo ambiente, com apoio de empresas
VALOR ECONÔMICO
[Regis Filho/Valor / Regis Filho/ValorMinistro da Ciência e Tecnologia Marco Antonio Raupp: "Para formar gente em TI temos de ter plataformas inovadoras"]
A possibilidade de obter certificações de empresas como Totvs, Microsoft e Motorola e de institutos federais é um dos avanços inseridos na segunda fase do programa Brasil Mais TI, criado em 2012 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em parceria com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) como parte do programa TI Maior.
A base da iniciativa, cujo objetivo é unir as ofertas de oportunidades de trabalho e de formação profissional em um mesmo ambiente, é uma plataforma Mooc (cursos online massivos e abertos, na sigla em inglês) turbinada por todas as inovações tecnológicas disponíveis no campo da formação, incluindo redes sociais, games, vídeo, big data e mobilidade. "Para formar gente em TI temos de ter plataformas inovadoras", apontou o ministro Marco Antonio Raupp.
Em um ano, o programa contabilizou mais de 104 mil cursos concluídos, dos quais 24 mil se referem a programas com carga entre 200 e 380 horas. Os investimentos iniciais ficaram em R$ 2 milhões - para a segunda fase, que inclui os programas mais parrudos, serão R$ 12 milhões, dos quais R$ 8 milhões virão do Ministério da Educação, disse o ministro durante o lançamento da segunda fase do programa, no último dia 12.
O Brasil Mais TI nasceu depois de uma pesquisa realizada em 2010 para formar um retrato do mercado de trabalho de TI no país, com dados de 11 Estados. O estudo apontou as 20 áreas e 14 subfunções mais demandadas pelo setor e identificou o déficit educacional que se delineava a partir de dados como a queda na procura por cursos formais de graduação em tecnologia de nível superior - a relação de interessados por vagas passou de 2,81 em 2002 para 1,73 em 2010. Em paralelo, outra pesquisa indicou que o descasamento entre universidade e mercado de trabalho estava na raiz do desinteresse dos jovens que veem a TI como hobby e têm menos interesse em ciência da computação do que, digamos, programação web.
A possibilidade de treinar um imenso número de pessoas ao mesmo tempo com cursos que têm níveis distintos de conhecimento dirigidos levou à opção pelo Mooc. "A demanda por mão de obra não seria suprida por alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo", compara Rafael Moreira, diretor de políticas de TIC do MCTI.
Para despertar o interesse de jovens das classes BCD, o programa foi criado com base em educação a distância orientada por demanda do mercado, uso intenso de mídias sociais e intermediação de vagas.
Os cursos são gratuitos e distribuídos em três camadas. Na base estão 14 programas introdutórios com carga horária entre 16 e 80 horas de disciplinas como programação web, algoritmos, programação estruturada, matemática e inglês. A segunda camada exige provas para ingressar em cursos como programação Cobol, com carga de 140 a 380 horas, distribuídos em trilhas de formação como banco de dados, cloud computing, webdesign, aplicações, segurança e mobilidade. Na terceira camada, recém lançada, conteúdos mais robustos renderão vouchers para os melhores alunos fazerem provas das tecnologias proprietárias. A partir de outubro estarão disponíveis cursos da Totvs e da Microsoft (.NET) e até o fim do ano, o de mobilidade, que inclui as linguagens Java para Android e objective-C para iOS.
Até agora, os cursos mais procurados são os de algoritmo, programação básica e programação web - e tem crescido a procura pelas aulas de inglês. Segundo o secretário de Política de Informática do MCTI, Virgilio Almeida, os cursos foram acessados de mais de 80 países. A plataforma contabiliza quase 20 mil currículos cadastrados, cerca de 70 mil seguidores no Facebook, mais de 262 mil visitas em agosto e mais de 170 mil seguidores no Twitter, onde diariamente são postadas vagas decorrentes de parceria com o siteCurriculum.com - só as oportunidades cadastradas diretamente pelas empresas ofertantes no portal Brasil Mais TI já passam de 2,6 mil.
Segundo o diretor de recursos humanos da entidade, Sergio Sgarbi, empresas como Totvs, Assist, Cast e Stefanini já contrataram profissionais oriundos do programa. "Hoje o Brasil tem 2,5 milhões de pessoas envolvidas em TI. Vai precisar de mais 300 mil até 2022", antecipou o presidente da Brasscom, Antonio Gil. "Não sabemos quais tecnologias vão direcionar o mundo, mas certamente entre elas estarão inovações como redes sociais, big data e cloud computing."
Todas estão sendo usadas pelo próprio programa. Para engajar o público de 16 a 25 anos, a plataforma soma uso intenso de redes sociais e está lançando novidades como séries de vídeos como Traduz para Mim, que decifra temas técnicos, ou Vida de TI, com orientações sobre a carreira na área, além de games em formatos como cartas e RPG, como Heróis da TI e Minha Carreira.
Os conteúdos estão sendo disponibilizados também em aparelhos móveis - o próximo passo é incluir no cardápio a TV Digital, com interatividade por meio da plataforma Ginga. W3C, Accenture, Totvs, Microsoft, Motorola, British Council e +Unidos são as marcas responsáveis pelas novas trilhas de conteúdo e a rede Certific responderá pelos certificados emitidos pelos institutos federais de formação tecnológica.
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FALTAM TALENTOS E SOBRAM VAGAS
Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Parcerias com universidades e incubadoras ajudam muito em cenário de escassez
valor econômico
[Peu Robles/ValorLuiz Tavares: “Temos de melhorar o atendimento, por meio da inovação”]
Um dos maiores entraves dos projetos de inovação em tecnologia da informação (TI) é encontrar talentos. Dependendo da complexidade do trabalho, as empresas levam até dois meses para preencher uma vaga em aberto. Para não depender apenas dos currículos do mercado, as organizações investem em ações de treinamento e coaching para capacitar o quadro. Há posições em aberto na maioria das companhias, em segmentos emergentes como computação em nuvem e tecnologias móveis.
"Não é fácil encontrar profissionais de TI com foco em inovação", diz Malena Martelli, vice-presidente de recursos humanos (RH) da Capgemini no Brasil, da área de serviços de consultoria, tecnologia e terceirização. Na empresa, o processo de seleção e contratação de um funcionário para o setor de inovação pode variar de 30 dias a dois meses.
Quando seleciona currículos no Brasil, a multinacional, com mais de 125 mil funcionários em 40 países, recorre ao networking e headhunters. "Também temos um programa interno, chamado de 'Indique um Talento', em que os funcionários podem destacar nomes do mercado."
Recentemente, a Capgemini iniciou um projeto em Brasília e deve contratar mais de mil funcionários da área de TI, até dezembro. "Um percentual importante dessas admissões é de pessoal com habilidade em novas tecnologias, como mobilidade." Para Malena, os talentos do setor, além de conhecimento técnico, precisam ser "curiosos, resilientes e conhecer tendências."
Com o objetivo de não contar apenas dos currículos disponíveis no mercado, a empresa investe, desde 2007, na contratação e capacitação de estagiários para renovar o quadro. São admitidos, em média, 300 estudantes ao ano e cerca de 80% são efetivados em posições-chave. A companhia começou também um projeto de aproximação, baseado em apresentações, com estudantes do segundo grau, para despertar nos alunos o interesse na carreira de TI.
A Dell, de soluções para usuários finais e empresas, está sempre "mapeando" profissionais focados em inovação, segundo Miriam Kimura, gerente de aquisição de talentos da Dell Brasil. Cerca de 40% das vagas abertas na companhia são relacionadas à tecnologias emergentes. "Assim que encontramos um candidato com perfil alinhado às nossas estratégias, procuramos estabelecer um relacionamento de longo prazo", diz.
A fabricante também identifica talentos por conta de parcerias que mantém com universidades, centros de pesquisa e incubadoras de negócios. "Criamos vínculos com os estudantes, desde o início da formação", afirma. "Quando eles buscarem um local para trabalhar, poderão considerar a Dell como opção." A companhia também garimpa currículos nas redes sociais e em fóruns de discussão na internet.
Com 263 funcionários no Brasil, a Avaya, do setor de telecomunicação, está à procura de um profissional de tecnologia com foco em inovação para a área de desenvolvimento de software. "Encontrar bons currículos é um desafio. Mas quando se trata do setor de TI, a dificuldade é salientada pela competitividade do mercado e as diferentes especializações dos candidatos", diz Paulo Roberto Roseira, especialista de RH da Avaya.
Dependendo da vaga, o período de seleção na companhia pode se estender por até 45 dias, segundo o executivo. Para reverter o cenário de escassez de mão de obra, a Avaya investe em uma universidade corporativa, especializações e certificações para os funcionários.
Para Mariana Boner, diretora de RH da Globalweb Corp., de desenvolvimento de softwares de gestão, os candidatos a colocações no setor devem saber identificar oportunidades de melhoria de processos e de aplicação de novas ideias.
Com o intuito de aperfeiçoar as equipes, a empresa treinou 1,3 mil pessoas e concedeu 35 certificações profissionais, exigidas por parceiros de TI do grupo, no ano anterior. Também mantém um programa de coaching executivo, desde 2009, que ajuda os funcionários a aprimorarem competências por meio de avaliações e sessões individuais com um coach. Com 1,4 mil funcionários no Brasil, boa parte alocada em clientes por conta de projetos de gestão e consultoria, a Globalweb tem posições em aberto para áreas como computação em nuvem.
Na BRQ, empresa de serviços de TI com quatro mil colaboradores no Brasil, além da indicação por funcionários, a seleção de profissionais é feita com a ajuda de anúncios e triagem em sites especializados. A empresa tem 170 vagas em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba (PR) e no Nordeste, para áreas como desenvolvimento, infraestrutura, testes e gerência.
"Todo profissional de TI deve ter interesse em inovação, como característica básica", afirma José Roberto Haddad, diretor de RH da BRQ. Por conta da falta de pessoal capacitado no mercado, a BRQ não quer perder o capital humano que já conquistou e investe em ações de retenção. Oferece, nos escritórios, atividades como shiatsu e ginástica laboral, além de sala de massagens e de repouso.
Baseada em dados da empresa de pesquisas IDC, a sócia da consultoria de recursos humanos Search, Manuela Calumby, diz que o Brasil terá um déficit de cerca de 117 mil posições, na área de TI, até 2015. As demandas, segundo ela, se acumulam por conta da falta de formação especializada, entrada de novas tecnologias e necessidade de competências específicas.
Segundo Alexandre Attauah, gerente da divisão de TI da Robert Half, de recrutamento de executivos, os profissionais de inovação e projetos devem continuar em alta nas entrevistas. "Cerca de 20% das novas demandas em tecnologia são para esse tipo de posição."
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MERCADO LEVA A MUDANÇA DE PERFIL PROFISSIONAL
Por De São Paulo
[Peu Robles/Valor / Peu Robles/ValorLuiz Tavares: "Temos de melhorar o atendimento, por meio da inovação"]
Pensar "fora da caixa", mostrar comprometimento com novos projetos e sugerir ideias simples, com um rápido retorno do investimento. Essas são as características mais visadas do profissional de inovação em TI, apontadas por executivos recém-contratados por grandes empresas.
Admitido em março, Luiz Eduardo Lobo Tavares, gerente regional da Globalweb Outsourcing, já ganhou uma tarefa de peso. Vai liderar um projeto de fábrica de software na Caixa Econômica Federal (CEF), para desenvolver aplicações que atendam às demandas de novas tecnologias da instituição.
A empreitada envolve ativos importantes da Caixa, como o controle de orçamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e sistemas de inteligência de negócios e informações gerenciais. "Temos de melhorar ainda mais o atendimento aos clientes, por meio da inovação", diz Tavares, que era gerente de outsourcing em outra organização, antes de assumir o posto.
Formado em processamento de dados, com pós-graduação em administração de negócios, o executivo trabalha na área de TI há 19 anos. Para ele, um especialista em inovação deve ter a habilidade de "pensar fora da caixa". "Não é possível se ater às mesmas premissas na hora de criar soluções para um projeto", diz. Além disso, é essencial demonstrar comprometimento com o trabalho. "Isso faz a diferença no modo como a empresa vai enxergar o profissional."
Para Edimilson José Corrêa, vice-presidente de software e serviços da OpenTech, há 25 anos na área de TI, o mercado tem forçado mudanças no perfil do especialista em inovação. "As empresas querem soluções cada vez mais simples, intuitivas e com uma menor necessidade de capacitação", explica. "O retorno do investimento (ROI, da sigla em inglês Return On Investment) precisa acontecer em um tempo menor." (JS)
{[CIFRAS & LETRAS - CRÍTICA INOVAÇÃO}]
LIVRO APRESENTA ESTADO COMO VERDADEIRO MOTOR DA INOVAÇÃO
Governos assumem mais risco e criam principais invenções, afirma autora
[No brilhante "The Entrepreneurial State: Debunking Public vs,. Private Sector Myths" (O Estado Empreendedor, Desmascarando Mitos do Setor Público vs Privado), Mariana Mazzucato, professora de economia na Universidade de Sussex (Reino Unido), diz que o empreendedorismo privado é insuficiente para garantir a inovação.]
CARTA IEDI N. 605 – O ESTADO EMPREENDEDOR: AS INTERVENÇÕES ESTATAIS POR TRÁS DAS PRINCIPAIS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
OTÁVIO J. G. SIDONE
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