Série de artigos [16 a 29-06-2011] sobre a conjuntura econômica (<=), com foco nos problemas de câmbio, juros e inflação, feitos por renomados economistas a pedido do "Valor".
(i) Samuel Pessoa; (ii) Francisco Lopes; (iii) André Lara Resende; (iv) Luiz Carlos Mendonça de Barros; (v) Fernando J. Cardim de Carvalho; (vi) Antonio Delfim Netto; (vii) Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo; (viii) José Luis Oreiro, com Luiz Fernando de Paula; (ixi) Ilan Goldfajn; (xi) Márcio Holland e (xi) Octavio de Barros
O blefe Albert Fishlow
Enviado por luisnassif, sab, 02/07/2011 - 13:09Uma enorme confusão, recorrente na cobertura econômica, é tratar a economia como se fosse uma ciência única. Já cansei de ver o reputado filósofo Eduardo Gianetti dando entrevistas sobre cenário macro-econômico. Assim como o cabeça de planilha Fábio Gimabiaggi pretendendo pontificar sobre projetos de país.Para quem conhece cenários, Fishlow não é nada. Era especialista em trabalho. Nos últimos quinze anos passou a enganar plateias norte-americanas, por seu suposto conhecimento sobre cenários econômicos brasileiros, e platéias brasileilras - por seu suposto conhecimento do que os EUA pensam sobre cenários brasileiros.Já participei de alguns debates com ele. É o chamado construtor de cenários do dia. Levanta, vai para a rua, molha o dedo, vê para que lado o vento sopra e depois joga para o futuro uma percepção exclusiva daquele momento.
Em dezembro de 1998, pós-acordo com o FMI, com os dólares fugindo do país, esse senhor preconizava uma volta à normalidade. Um mês depois, com a explosão da maxi, dizia que a economia brasileira iria se esfrangalhar. Seis meses depois, com a normalização do mercado cambial, sustentava que dali para frente, tudo seria diferente.Em dezembro de 1998 participei de uma mesa com ele, promovida, se não me engano, pela Anbid. Foi vergonhoso para eu e outros companheiros presentes - Mirian Leitão, Celso Pinto - o discurso vazio de Fishlow.Meses depois, fui mediar um debate em BH, com ele na mesa. Deixei a posição de moderador para informar, em alto e bom tom, meu inconformismo com a fragilidade de seus argumentos.Dia desses a Época fez um seminário com Fishlow como estrela principal. Agora, essa entrevista na Folha.Em ambos os casos, apenas um atestado da juventude da imprensa, que não captou o histórico de chutes e irresponsabilidades desse senhor.Folha de S.Paulo - Fishlow defende corte de gastos de verdade - 02/07/2011
Fishlow defende corte de gastos de verdade
Professor emérito da Universidade Columbia diz que país não conseguirá crescer e conter a inflação ao mesmo tempo
Fishlow diz que a taxa de juros é insuficiente para alcançar os dois objetivos e sugere aperto na Previdência
MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO
Debelar a inflação e manter o crescimento...segue...... .. . . .. . ..
O forte desejo de purgar
27 de junho de 2011 | 15h39Paul Krugman - BLOG
No ano passado foi a OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento das Nações Unidas; agora é a vez do BIS – Banco de Compensações Internacionais. E novamente, senhores muito sérios de uma organização internacional parecem determinados a encontrar razões para um aperto da política monetária em face de uma forte depressão econômica que continua persistente.O BIS cita os preços cada vez mais altos das commodities e o implícito aumento da inflação com base nos spreads bancários. No caso de informes como este, contudo, a questão é que foram escritos e aprovados por comissões, o que significa que se baseiam em dados retroativos – e com certeza, os spreads bancários e ainflação dos preços das commodities estão narrando uma outra história no momento presente.O informe da comissão afirma também que a produção potencial vem sendo permanentemente reduzida pela depressão econômica, afirmando em particular que “a destruição de capital humano devido ao desemprego a longo prazo” pesará no crescimento. Você pode achar que esta é uma das razões para adotar medidas urgentescom vistas a o nível de desemprego de longo prazo. Mas não.E, inevitavelmente, constam também do informe os supostos paralelos com a década de 70. Salvo os próprios dados do BIS, nada sugere que exista algum paralelo, absolutamente. Existe uma única comparação (o Custo Unitário do Trabalho, ou ULC na sigla em inglês).Note a diferença em escalas. Nos anos 70 havia uma importante espiral de preços dos salários; desta vez não há nada disso. Mas tanto faz.E O BIS ainda emite uma série de alertas vagos sobre como as taxas de juro baixas desencorajam o comportamento responsável.Algo está ocorrendo, e não acredite que tem realmente a ver com análises econômicas. Como outros, o BIS está claramente engajado num “Calvinball” monetário, criando regras e conceitos de improviso para justificar um aperto monetário, sejam quais forem as circunstâncias. Parece que há uma profundo desejo de infligir sofrimento, purgar o que há de imprestável ou qualquer coisa do gênero.É assustador. E o mundo irá sofrer por isso.
Recomendações do BIS
02 de julho de 2011 | 0h 00 O Estado de S.PauloOs países emergentes conseguiram escapar dos piores efeitos da crise mundial e não parecem abalados pelos problemas que afligem a Europa. Mas, como ocorreu com Irlanda, Espanha e outros, em grandes dificuldades, também os emergentes registram uma rápida expansão do crédito e um boom imobiliário que podem resultar em problemas sérios. Esse foi o alerta do Banco de Compensações Internacionais (BIS), em seu relatório anual. Para evitar os riscos, a recomendação é que os emergentes, como Brasil, China e Índia, reduzam o ritmo de crescimento, reforcem sua política monetária e pratiquem o rigor fiscal.O alerta se baseia em dados: em 2006, antes da crise, o crédito estava crescendo rapidamente - 23,4% ao ano, na Irlanda; 24,3%, na Espanha; e 23,3% ao ano, no Reino Unido. Ou seja, números semelhantes aos de países como o Brasil, onde o crédito cresceu 26%, em 2010; a Índia, 26,8%; e a China, 20,3%. O crescimento do crédito é positivo, pois permite que as empresas invistam e as pessoas físicas ampliem o consumo. Mas a velocidade do crescimento deve ser proporcional à expansão da economia.A proporção entre o crédito e o PIB é bem menor em países como o Brasil e a Índia (da ordem de 50%), do que na Irlanda (onde o crédito, em 2006, atingiu 181,4% do PIB), na Espanha (167,2%) e no Reino Unido (170,8%). A questão é a tendência de aumento do crédito num período de incertezas da economia global, abalada pela crise grega. Para reforçar seu alerta, o BIS enfatiza os indicadores de desequilíbrio macroeconômico nos países emergentes. A inflação, por exemplo, aumentou na China, na Índia e no Brasil, onde superou 6,5% nos últimos 12 meses, 2 pontos de porcentagem acima do centro da meta de inflação.O comportamento anormal do mercado imobiliário também é apontado como indicador de crises: entre 2002 e 2006, segundo o BIS, o preço médio dos imóveis subiu 15% na Espanha, 11,2% no Reino Unido e 10,2% na Irlanda. Na China, avançou 11,3% entre 2006 e 2010.Ao mesmo tempo, cresceu o desequilíbrio nas contas correntes do balanço de pagamentos dos emergentes. O Brasil, diz o relatório, "é um dos países onde um fraco resultado nas contas correntes é mascarado por importantes entradas e saídas brutas de capital". O risco é de um ajustamento desordenado das taxas de câmbio e uma onda de protecionismo, cujo resultado seria uma diminuição dos fluxos de capitais dos países industrializados para os emergentes.Dólares demais empurram o crédito e os gastos. Por isso, os bancos centrais dos emergentes "devem estar preparados para elevar suas taxas de juros", para conter o consumo exagerado. Se a entrada de dólares for excessiva, é preciso fortalecer as políticas macroeconômicas "baseadas na estabilidade monetária e na viabilidade orçamentária". Em último caso, até controles de capital podem ser paliativos para evitar o risco "de entradas maciças de fundos".É possível que as recomendações do BIS sejam mais úteis para outros países do que para o Brasil, que está elevando o juro básico, tomou medidas para refrear a expansão do crédito e tributou o ingresso de capitais - ainda que não todos (os investimentos diretos não são taxados). Mas, até agora, o ritmo da economia parece ter sido pouco afetado e o emprego se expande. O endividamento das famílias, no entanto, aumentou, e a inadimplência já é vista como ameaça.Como diz o BIS, nos países que entraram em crise, "o boom econômico mascarava também uma grande vulnerabilidade estrutural das finanças públicas que, na falta de medidas de correção, poderia ser o deflagrador da nova crise". Para os governos dos países emergentes - entre os quais o Brasil - é aconselhável agir preventivamente, evitando as surpresas. Afinal, admoesta o BIS, "se as economias emergentes aprenderem o que pode ser a principal lição (da crise dos países europeus) - mais vale prevenir do que remediar -, elas conseguirão talvez evitar pagar o preço" de uma crise delas mesmas.
(i) Samuel Pessoa; (ii) Francisco Lopes; (iii) André Lara Resende; (iv) Luiz Carlos Mendonça de Barros; (v) Fernando J. Cardim de Carvalho; (vi) Antonio Delfim Netto; (vii) Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo; (viii) José Luis Oreiro, com Luiz Fernando de Paula; (ixi) Ilan Goldfajn; (xi) Márcio Holland e (xi) Octavio de Barros
Para quem conhece cenários, Fishlow não é nada. Era especialista em trabalho. Nos últimos quinze anos passou a enganar plateias norte-americanas, por seu suposto conhecimento sobre cenários econômicos brasileiros, e platéias brasileilras - por seu suposto conhecimento do que os EUA pensam sobre cenários brasileiros.
Já participei de alguns debates com ele. É o chamado construtor de cenários do dia. Levanta, vai para a rua, molha o dedo, vê para que lado o vento sopra e depois joga para o futuro uma percepção exclusiva daquele momento.
Em dezembro de 1998, pós-acordo com o FMI, com os dólares fugindo do país, esse senhor preconizava uma volta à normalidade. Um mês depois, com a explosão da maxi, dizia que a economia brasileira iria se esfrangalhar. Seis meses depois, com a normalização do mercado cambial, sustentava que dali para frente, tudo seria diferente.
Em dezembro de 1998 participei de uma mesa com ele, promovida, se não me engano, pela Anbid. Foi vergonhoso para eu e outros companheiros presentes - Mirian Leitão, Celso Pinto - o discurso vazio de Fishlow.
Meses depois, fui mediar um debate em BH, com ele na mesa. Deixei a posição de moderador para informar, em alto e bom tom, meu inconformismo com a fragilidade de seus argumentos.
Dia desses a Época fez um seminário com Fishlow como estrela principal. Agora, essa entrevista na Folha.
Em ambos os casos, apenas um atestado da juventude da imprensa, que não captou o histórico de chutes e irresponsabilidades desse senhor.
Folha de S.Paulo - Fishlow defende corte de gastos de verdade - 02/07/2011
Fishlow defende corte de gastos de verdade
Professor emérito da Universidade Columbia diz que país não conseguirá crescer e conter a inflação ao mesmo tempo
Fishlow diz que a taxa de juros é insuficiente para alcançar os dois objetivos e sugere aperto na Previdência
MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO
Debelar a inflação e manter o crescimento...segue...... .. . . .. . ..
Professor emérito da Universidade Columbia diz que país não conseguirá crescer e conter a inflação ao mesmo tempo
Fishlow diz que a taxa de juros é insuficiente para alcançar os dois objetivos e sugere aperto na Previdência
MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO
Debelar a inflação e manter o crescimento...segue...... .. . . .. . ..
02 de julho de 2011 | 0h 00
O Estado de S.Paulo
Os países emergentes conseguiram escapar dos piores efeitos da crise mundial e não parecem abalados pelos problemas que afligem a Europa. Mas, como ocorreu com Irlanda, Espanha e outros, em grandes dificuldades, também os emergentes registram uma rápida expansão do crédito e um boom imobiliário que podem resultar em problemas sérios. Esse foi o alerta do Banco de Compensações Internacionais (BIS), em seu relatório anual. Para evitar os riscos, a recomendação é que os emergentes, como Brasil, China e Índia, reduzam o ritmo de crescimento, reforcem sua política monetária e pratiquem o rigor fiscal.
O alerta se baseia em dados: em 2006, antes da crise, o crédito estava crescendo rapidamente - 23,4% ao ano, na Irlanda; 24,3%, na Espanha; e 23,3% ao ano, no Reino Unido. Ou seja, números semelhantes aos de países como o Brasil, onde o crédito cresceu 26%, em 2010; a Índia, 26,8%; e a China, 20,3%. O crescimento do crédito é positivo, pois permite que as empresas invistam e as pessoas físicas ampliem o consumo. Mas a velocidade do crescimento deve ser proporcional à expansão da economia.
A proporção entre o crédito e o PIB é bem menor em países como o Brasil e a Índia (da ordem de 50%), do que na Irlanda (onde o crédito, em 2006, atingiu 181,4% do PIB), na Espanha (167,2%) e no Reino Unido (170,8%). A questão é a tendência de aumento do crédito num período de incertezas da economia global, abalada pela crise grega. Para reforçar seu alerta, o BIS enfatiza os indicadores de desequilíbrio macroeconômico nos países emergentes. A inflação, por exemplo, aumentou na China, na Índia e no Brasil, onde superou 6,5% nos últimos 12 meses, 2 pontos de porcentagem acima do centro da meta de inflação.
O comportamento anormal do mercado imobiliário também é apontado como indicador de crises: entre 2002 e 2006, segundo o BIS, o preço médio dos imóveis subiu 15% na Espanha, 11,2% no Reino Unido e 10,2% na Irlanda. Na China, avançou 11,3% entre 2006 e 2010.
Ao mesmo tempo, cresceu o desequilíbrio nas contas correntes do balanço de pagamentos dos emergentes. O Brasil, diz o relatório, "é um dos países onde um fraco resultado nas contas correntes é mascarado por importantes entradas e saídas brutas de capital". O risco é de um ajustamento desordenado das taxas de câmbio e uma onda de protecionismo, cujo resultado seria uma diminuição dos fluxos de capitais dos países industrializados para os emergentes.
Dólares demais empurram o crédito e os gastos. Por isso, os bancos centrais dos emergentes "devem estar preparados para elevar suas taxas de juros", para conter o consumo exagerado. Se a entrada de dólares for excessiva, é preciso fortalecer as políticas macroeconômicas "baseadas na estabilidade monetária e na viabilidade orçamentária". Em último caso, até controles de capital podem ser paliativos para evitar o risco "de entradas maciças de fundos".
É possível que as recomendações do BIS sejam mais úteis para outros países do que para o Brasil, que está elevando o juro básico, tomou medidas para refrear a expansão do crédito e tributou o ingresso de capitais - ainda que não todos (os investimentos diretos não são taxados). Mas, até agora, o ritmo da economia parece ter sido pouco afetado e o emprego se expande. O endividamento das famílias, no entanto, aumentou, e a inadimplência já é vista como ameaça.
Como diz o BIS, nos países que entraram em crise, "o boom econômico mascarava também uma grande vulnerabilidade estrutural das finanças públicas que, na falta de medidas de correção, poderia ser o deflagrador da nova crise". Para os governos dos países emergentes - entre os quais o Brasil - é aconselhável agir preventivamente, evitando as surpresas. Afinal, admoesta o BIS, "se as economias emergentes aprenderem o que pode ser a principal lição (da crise dos países europeus) - mais vale prevenir do que remediar -, elas conseguirão talvez evitar pagar o preço" de uma crise delas mesmas.
É hora de ajustar a economia a um ritmo que assegure um bom desempenho macroeconômico nos próximos anos
Equilíbrio macroeconômico sob ameaça
É hora de ajustar a economia a um ritmo que assegure um bom desempenho macroeconômico nos próximos anos
Gustavo Loyola - Valor Econômico › Impresso › Opinião - 15/06/2011
Os indicadores de atividade e a confiança de empresários e consumidores caracterizam uma conjuntura favorável para a economia brasileira no curto prazo, mantendo-se a trajetória de queda do desemprego que vem sendo observada desde a passagem do impacto mais forte da crise financeira internacional, no final de 2008 e no início de 2009.
Não obstante tal clima otimista, a economia vive um momento particularmente decisivo no que concerne à sustentação da trajetória de crescimento no médio prazo. Concretamente, os riscos de o país sofrer uma "parada súbita" no crescimento, pelos efeitos negativos da aceleração inflacionária, mantêm-se elevados, haja vista a presença de desequilíbrio entre oferta e demanda ainda não corrigido plenamente pelas políticas macroeconômicas praticadas pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central.
Em relação ao ano passado, é inegável que está havendo algum grau de desaceleração da atividade econômica, como indicam os dados recentes de produção industrial, oferta de crédito e vendas no varejo, entre outros. A moderação na atividade é fruto, em parte, do aumento acumulado dos juros básicos pelo Banco Central e da adoção das medidas de controle de crédito ("macroprudenciais"). Mas a própria aceleração inflacionária, ao corroer o rendimento real dos trabalhadores, está também contribuindo para moderar o crescimento da demanda até aqui.
A economia vive um momento decisivo no que concerne à sustentação de crescimento no médio prazo
Contudo, as evidências continuam indicando que a demanda agregada segue aquecida e que ainda se faz necessário continuar o ajuste da taxa básica de juros nos próximos meses, mesmo diante da perspectiva quase certa de trégua nos índices de inflação nos próximos três meses. De fato, grande parte dos fatores de desaceleração inflacionária entre junho e agosto são temporários e sazonais, como é o caso da queda do preço do etanol e de alguns alimentos, como carnes e grãos. A subida do índice de difusão e das medidas de núcleo de inflação, nos dados mais recentes que indicam queda do IPCA, corrobora a percepção de que se está ainda diante de um arrefecimento pontual e temporário das pressões inflacionárias.
Além disso, o segundo semestre deve observar uma forte pressão de aumentos reais de salários, em razão da concentração neste período de dissídios de importantes categorias de trabalhadores, como bancários, metalúrgicos e petroleiros, entre outras. Não bastasse isso, logo no início de 2012 teremos as pressões derivadas do turbinado aumento do salário-mínimo previsto pela regra em vigor, cujo percentual deve ficar em torno dos 14% nominais.
Nesse contexto, não deve haver hesitação por parte das autoridades econômicas no uso das medidas adequadas de política para o controle da demanda agregada, fugindo da tentação do experimentalismo e do hipergradualismo que caracterizaram a atuação do governo em 2010 e no início de 2011. Aliás, a necessidade de continuidade do ciclo de alta dos juros em 2011 é resultado direto da frouxidão fiscal do ano passado e da timidez do BC que encerrou prematuramente o processo de ajuste da taxa Selic. Contribuiu também para isso a cacofonia do discurso do governo no que diz respeito à política antiinflacionária, ora minimizando o papel dos juros no controle da demanda, ora enfatizando sua importância.
A tentação de se declarar vitória e abandonar prematuramente o campo de jogo, numa conjuntura em que os índices inflacionários estarão momentaneamente baixos, pode ser grande para um governo que não escondeu no passado seu viés gradualista no uso de medidas macroeconômicas de controle da demanda agregada. Porém, os equívocos cometidos em 2010 não devem ser reprisados neste ano, sob pena de a inflação se manter acima da meta em 2012, o que elevaria os riscos de disseminação maior da indexação na economia, inercializando ainda mais a inflação e elevando os custos reais para trazê-la de volta para a meta.
Ademais, continua preocupante a situação estrutural das contas públicas que aponta para uma redução relevante do superávit primário no ano que vem. O governo tem sido bem sucedido até agora na contenção da execução orçamentária, o que muito provavelmente assegurará o cumprimento da meta de resultado primário em 2011. Lamentavelmente, a situação para 2012 se apresenta muito mais complicada, principalmente em razão da inadequada e esdrúxula regra de reajuste automático do salário-mínimo que deve elevar substancialmente a conta do pagamento de benefícios sociais e previdenciários no ano que vem. Além disso, a contenção do gasto ora em curso tem características que dificultam a repetição desta estratégia no próximo exercício. É o caso, por exemplo, do corte das despesas de investimento às vésperas da realização dos grandes eventos esportivos no Brasil.
Em suma, o momento é de completar o ajuste da economia a um ritmo de crescimento que, embora menor no curto prazo, assegure um bom desempenho macroeconômico nos próximos anos, sem incertezas e volatilidades que prejudicam a economia, principalmente no diz respeito às decisões de investimento de longo prazo.
Gustavo Loyola, doutor em economia pela EPGE/FGV, foi presidente do BC, é sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, em São Paulo. Escreve mensalmente às segundas-feiras, e excepcionalmente, nesta quarta.
A questão da desindustrialização
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Valor Econômico › Opinião - 20/06/2011
Um dos itens mais importantes na agenda dos debates sobre a economia tem sido a questão da chamada desindustrialização. Termo cunhado para caracterizar uma redução importante na participação da indústria no PIB, ela tem sido apresentada como um dos mais graves problemas a serem enfrentados nos próximos anos.
Na minha leitura existe uma série de erros de diagnóstico - principalmente em relação à China - que estão sendo cometidos pelos que defendem medidas radicais para reduzir a competição das importações de produtos industriais. Pretendo a seguir fazer algumas reflexões que possam ajudar nesse debate.
Eu dividiria as causas que estão por trás da perda de valor agregado na indústria brasileira em dois grupos principais. O primeiro compreende algumas mudanças por que passa uma economia de mercado como a brasileira quando ela amadurece. São forças que não devem ser combatidas, pois os benefícios que trazem para a sociedade são direitos dos cidadãos. É o caso da perda de parte da produção industrial local pelo aumento das importações por conta de um processo natural da abertura comercial de um país.
Vivemos em um mundo em que matérias primas e alimentos valem bem mais do que muitos produtos industriais
Mas quais os benefícios que um aumento das importações pode trazer a uma sociedade como a brasileira, se ele reduz o número de empregos na indústria, questionam muitos? O maior deles é que as importações, ao aumentarem a oferta de determinados bens nos mercados internos, reforçam a competição e permitem que os consumidores tenham acesso a produtos com os mesmos preços e qualidade dos existentes em outros países.
Temos um exemplo recente e emblemático dos benefícios da abertura das importações. Ele aconteceu com os preços do aço no mercado interno. Nossas siderúrgicas sempre trabalharam com um ágio de cerca de 30% em relação aos preços internacionais. Isso apesar de sermos um produtor importante de minério de ferro e que tem, nos custos de transporte marítimo, um item expressivo na formação de seus custos. Pois nos últimos anos, com as importações representando finalmente uma parte relevante da oferta de aço no mercado interno, esse ágio praticamente desapareceu. Os reflexos dessa convergência de preços internos e internacionais já podem ser identificados, por exemplo, na formação dos preços dos automóveis produzidos no Brasil.
Outra força positiva na economia criada por importações maiores é a utilização de componentes produzidos de maneira mais eficiente e barata em outros países. Ao se fazer essa integração, estamos aumentando o poder competitivo dos produtos finais - de maior valor agregado - que saem das linhas de produção de nossas indústrias. Esse é mais um exemplo de como a redução da produção em algumas áreas permite que se aumente em outras com valor agregado maior, principalmente no setor de bens de capital. Ou, dito em outras palavras, um exemplo em que a perda de emprego em algumas empresas seja compensada pelo aumento em outras, sem que o consumidor seja prejudicado.
Outra força natural que está por trás da perda da participação da indústria no PIB brasileiro está associada ao aumento da renda média do brasileiro nos últimos anos. Esse é um fenômeno que ocorre também em outras sociedades em que a economia de mercado prevalece. A participação da indústria em economias como a chinesa - que tem uma renda média igual a um terço da brasileira - é uma, em sociedades como a americana - com renda três vezes maior do que a nossa - é outra, bem menor. Na próxima década, quando se espera que a renda média do brasileiro dobre em termos reais, é natural que a indústria continue a perder importância relativa para o setor de serviços. Tentar evitar isso, com medidas coercitivas definidas pelo governo, seria agredir o metabolismo de uma economia de mercado em trajetória de expansão e criar desequilíbrios importantes no futuro.
Finalmente, nesse grupo de forças que nascem de uma dinâmica natural de uma economia de mercado, temos a que está associada à importância dos produtos primários na matriz de produção do Brasil de hoje. Vivemos em um mundo em que as matérias primas e alimentos passaram a valer mais do que um grande número de produtos industriais. Essa nova realidade reflete-se nos chamados termos de troca, ou seja, a relação entre os preços daquilo que exportamos e os de nossas importações. Há alguns anos essa relação era próxima de 0,9, ou seja, para cada US$ 100 que exportávamos podíamos importar o equivalente a US$ 90. Hoje essa mesma relação é 1,35.
A posição do Brasil hoje é muito parecida com a dos grandes exportadores de petróleo, com a diferença que a força de nossas exportações vem de um número grande de produtos primários. Mas o efeito macro econômico é o mesmo - uma moeda forte e valorizada - que prejudica nossa indústria. Nesse sentido vamos sofrer as mesmas dificuldades das encontradas pela Noruega, Rússia e países exportadores de petróleo do Oriente Médio.
No segundo grupo de forças que reforçam a tendência de perda de produção industrial estão fatores que podem ser reduzidos ou mesmo eliminados por ações do governo. Voltarei a eles em nosso próximo encontro.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas-feiras.
Por que a taxa de juros é tão alta?
Yoshiaki Nakano - Valor Econômico - 14/06/2011
Segundo matéria do jornal "O Estado de S. Paulo" de sexta-feira passada, entre os 40 países mais importantes do mundo, somente dez praticam hoje taxas reais de juros positiva, entre elas o Brasil, o recordista em juros altos. A taxa real de juros no Brasil de 6,8%, seguida do Chile com 1,5%, Austrália com 1,4%, África do Sul e Hungria com 1,2%, México com 1,1%, China e Colômbia com 1% e assim por adiante. Esses países também elevaram a taxa de juros para enfrentar pressões inflacionárias da mesma forma que o Brasil. Por que praticamos, cronicamente, um diferencial tão elevado de taxa de juros?
Os tradicionais culpados são o déficit público e a elevada dívida pública. Mas, neste particular, fizemos importantes avanços: o nosso déficit público, de cerca de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), é baixo comparativamente à maioria dos países na lista acima e, mesmo em relação à dívida pública bruta, também melhoramos: o prazo médio é ainda hoje de 3,5 anos, mas melhor do que no passado; o risco de financiamento é elevado, mas diminuiu significativamente, sendo de cerca de um quarto a parcela vencendo em 12 meses; o risco de taxa de juros também caiu, a parcela da dívida pública indexada à taxa de juros e à taxa de câmbio, de cerca de 90% da dívida total, em 2002, caiu para 36,7%, em 2010.
Estes e outros avanços, em termos de estabilidade macroeconômica, permitiram uma queda significativa na taxa real de juros nos últimos anos. Entretanto é preciso lembrar que avanços na área fiscal e na estabilidade macroeconômica explicam a queda na curva de juros na sua ponta mais longa, que é comparativamente muito curta no Brasil. Com certeza, novos avanços na área fiscal e o aperfeiçoamento das suas instituições são fundamentais para derrubar a curva de juros na sua ponta mais longa.
Entretanto, a configuração da curva de taxa de juros no Brasil ainda nos coloca duas questões. Primeira, por que com os avanços fiscais e melhoria no perfil da dívida pública não houve avanço correspondente com o desenvolvimento do mercado de títulos de longo prazo no Brasil? O prazo médio do estoque da dívida pública é ainda de apenas 3,5 anos. Se a causa de juros elevado tem origem no setor público, por que o mercado privado de títulos de longo prazo não se desenvolve no Brasil? Segunda, por que o Banco Central, que atua na outra extremidade mais curta da curva de juros, pratica taxas de juros tão elevadas? Afinal, o Banco Central tem o monopólio da emissão de moeda de curso forçado, portanto, é única entidade absolutamente líquida, consequentemente, sem risco. Por que tal entidade tem que pagar taxas de juros tão elevadas no Brasil?
Essas questões nos remetem às regras operacionais do Banco Central, que foram implantadas no período de alta inflação e permanecem intactas, mesmo depois de mais de 15 anos de estabilização da inflação. No período de inflação alta, o risco da variação da taxa de juros é muito elevada, pois a inflação acelerava muito rapidamente, colocando em risco todo o sistema financeiro. Para reduzir esse risco, os ativos financeiros foram indexados à taxa diária de juros, de modo que sua variação mantinha os seus preços constantes.
Além disso, com alta inflação, toda a dívida pública (LFTs) era refinanciada diariamente no overnight, pagando a taxa de juros Selic. Com isso, o Banco Central passou a fixar diariamente a Selic, que permitia ao Tesouro Nacional refinanciar a sua dívida pública. Inacreditavelmente, o Banco Central mantém esse sistema monetário, que era funcional no periodo de hiperinflação, até hoje.
Mas a consequência prática desse sistema é que o Banco Central, pagando ainda hoje a taxa de juros Selic, que corrige os títulos públicos de longo prazo e incorpora prêmios de liquidez e de riscos, nas operações de overnight e compromissadas, aprisionou toda poupança nacional no mercado de moeda de curtíssimo prazo. As consequências dessas regras operacionais são devastadoras.
O sistema bancário, para competir com o Banco Central, tem que pagar aos seus depositantes, taxas de juros mais elevadas que a Selic e, ainda garantir também liquidez, portanto quase tudo está indexado ao CDI. Da mesma forma, no mercado de capitais, as operações tem, obrigatoriamente, um piso de retorno elevado estabelecido pela Selic, o que dificulta o seu desenvolvimento.
O Tesouro Nacional, por sua vez tem um concorrente que paga a mesma taxa de juros Selic nas operações overnight, que ele paga por seus títulos, mas que ainda garante liquidez imediata aos bancos. Diante desse concorrente não conseguirá alongar o prazo da sua dívida pública, mesmo que venha a ter superávits sistematicamente.
Diante desse quadro monetário, o Banco Central aprisiona, na ponta curta da curva de taxa juros, praticamente toda a poupança financeira do país e, portanto, inviabiliza a criação de um mercado de poupança. Nesse mercado é que deveriam ser negociados os títulos de dívida pública de longo prazo. O mercado de títulos privados de longo prazo também não tem como prosperar. Portanto, para reduzir a taxa de juros no Brasil é preciso desmontar esse sistema anacrônico, um verdadeiro entulho herdado do período de hiperinflação, que trava o desenvolvimento do país.
Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras.
Juros e câmbio
Paulo Nogueira Batista JR.
O Globo - 11/06/2011
Quero falar um pouco de juros e câmbio outra vez. Bem sei, leitor, que este é um tema batido, esgotado, exausto. Sempre que há um aumento da taxa de juro, o setor industrial protesta; os sindicatos de trabalhadores reclamam; o setor financeiro sorri de orelha a orelha; os economistas divergem etc., etc. E tudo segue como antes. Nessa rotina, a única variação é que, às vezes, a insaciável turma da bufunfa reclama que os juros precisariam ser ainda mais altos...
Há anos, o Brasil convive com uma combinação de juros muito elevados e câmbio valorizado. Instalou-se um clima de resignação. Não deve haver dúvida, entretanto, de que essa combinação de juros e câmbio danifica seriamente o desempenho da economia, ameaça a estabilidade das contas externas e, sobretudo, a base industrial do país.
Muitos falam em "desindustrialização". Pode ser exagero ou alarmismo, mas parece difícil negar que o real superforte - que resulta em parte dos juros internos - está solapando a competitividade internacional da economia brasileira, em especial do setor industrial. Não há ganho de produtividade ou eficiência que possa compensar tamanha valorização do real. A produção brasileira perde espaço no exterior; as importações ganham espaço no mercado interno. Em vez de produtos industriais, o país passa a exportar empregos. Ao mesmo tempo, crescem as despesas externas com serviços. Turismo, por exemplo. Brasileiros viajam cada vez mais ao exterior, enquanto o Brasil vai se tornando mais caro para os estrangeiros.
As estimativas de taxa de câmbio efetiva real (considerando uma cesta de moedas relevantes) mostram que a moeda brasileira está entre as mais fortes do mundo. É o que se verifica nos levantamentos periódicos do Banco Central e da Funcex, por exemplo. Os cálculos de "desalinhamento" cambial do FMI confirmam que o real está sobrevalorizado. Sabe-se que essas quantificações podem ser questionadas. Mas, no caso da moeda brasileira, a trajetória de valorização é tão forte que os números não deixam margem a muitas dúvidas.
Com a última decisão do Copom, a taxa básica de juro foi a 12,25%. O diferencial nominal de juros entre o Brasil e os EUA alcança agora nada menos que 12 pontos percentuais. Em relação à zona do euro, o diferencial chega a 11 pontos percentuais; em relação ao Japão, mais de 12 pontos.
Segundo o relatório Focus do Banco Central, a expectativa mediana de mercado para a inflação medida pelo IPCA está em 5% para os próximos doze meses. A taxa básica real "ex ante" subiu, portanto, para quase 7% no Brasil.
Não há nada de comparável no resto do mundo - pelo menos não nas principais economias. Na grande maioria dos países, quando se desconta a inflação esperada, as taxas de curto prazo são negativas. Para um conjunto de 40 moedas, a taxa média é negativa em 0,9%, segundo levantamento da Cruzeiro do Sul Corretora. Em todas as economias desenvolvidas, com exceção da Austrália, os juros básicos são atualmente negativos em termos reais.
Com essa discrepância entre os juros brasileiros e os do resto do mundo, é muito mais difícil evitar que o real permaneça forte demais. Além disso, juros básicos elevados aumentam o custo da dívida pública e de carregamento das reservas internacionais.
O que fazer? O fundamental é mudar a composição da política macroeconômica. O governo vem tentando fazer exatamente isso: substituir, em parte, a taxa básica de juro por outros instrumentos. Refiro-me às medidas de ajuste das contas públicas, de restrição ao crédito e de controle da entrada de capitais. O ajuste fiscal e a restrição do crédito permitem depender menos do aumento dos juros básicos, diminuindo a pressão sobre o câmbio. O IOF e outras medidas para conter o influxo de capital externo têm a dupla vantagem de diminuir a oferta de dólares e contribuir para conter a expansão do crédito e da demanda interna. Parece necessário intensificar o uso desses outros instrumentos para que a taxa básica de juro brasileira não se distancie tanto das praticadas nos outros países.
O governo tem interesse, claro, nas vantagens que o real forte traz para o controle da inflação no curto prazo. Estará suficientemente atento aos problemas produzidos pela combinação duradoura de juros escorchantes e câmbio valorizado? A experiência, tanto brasileira como internacional, mostra que é perigoso depender demais do câmbio como instrumento antiinflacionário.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. é economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal.
Faz sentido controlar a inflação elevando a Selic?
Fernando Ferrari Filho e Andre de Melo Modenesi
Contrair a política monetária não é melhor saída.
Valor Econômico › Opinião - 21/06/2011
Nos últimos anos, os mercados de commodities têm sido influenciados pelo processo de globalização financeira, entendida como financeirização da riqueza. Nesses mercados, tem-se observado uma dinâmica especulativa na formação de seus preços. Esse comportamento especulativo dos preços das commodities, especialmente agrícolas e energéticas, explica boa parte das pressões inflacionárias globais, em 2007 e 2008. Essas pressões voltaram à tona no segundo semestre de 2010 e têm sido um dos principais responsáveis pela inflação mundial.
Como resposta a esse tipo peculiar de inflação - que vem pelo lado dos custos e, não, da demanda -, as autoridades econômicas internacionais adotaram políticas de elevação dos juros. Em uma situação em que a recuperação da economia mundial está longe de consolidada, essas autoridades deveriam elevar os juros para conter os efeitos (secundários) sobre a inflação doméstica oriundos de choques exógenos protagonizados pela alta das commodities?
No Brasil, infelizmente, o Banco Central (BC) parece entender que sim. Em linha com o regime de metas de inflação, a Selic é tida como o instrumento mais indicado para debelar as pressões inflacionárias - independentemente de sua natureza.
Assim sendo, com o intuito de desaquecer a economia e, portanto, conter o avanço dos preços, iniciou-se novo ciclo de alta da Selic no ano passado (atualmente ela se encontra em 12,25%). Todavia, a despeito das recorrentes elevações da Selic, a inflação brasileira continua se acelerando. Por uma razão muito simples: a inflação brasileira, assim como a de outros países emergentes, não é predominantemente de demanda.
Seguiremos batendo recordes mundiais de juros, sem que a inflação se reduza de forma contundente
Vejamos, portanto, nosso argumento de que a atual inflação brasileira não decorre de um excesso de demanda. Nos últimos 12 meses, entre junho de 2010 e maio de 2011, o IPCA acumulou alta de 6,55%. A contribuição, aproximada, de cada grupo de produtos para o referido valor foi a seguinte: alimentos e bebidas, 2,0%; transportes, 1,1%; educação, 0,6%; despesas pessoais, 0,8%; vestuário, 0,5%; habitação, 0,8%; saúde e cuidados pessoais, 0,6%; artigos de residência, 0,1%; e comunicação, 0,1%. Os grupos alimentação e bebidas e transportes - influenciados pelo choque internacional das commodities - foram responsáveis por quase metade da inflação, nos últimos 12 meses.
Considerando-se que a inflação brasileira deriva, fundamentalmente, de choques de preços internacionais, contrair a política monetária não é a solução mais apropriada. Além disso, vale lembrar que, em condições normais, conter a inflação com origem no lado da oferta por meio de elevação da taxa básica de juros acaba gerando um sacrifício adicional.
Por quê? Porque, por um lado, atua-se meramente sobre os sintomas e não sobre as causas da inflação. Nesse caso a política monetária meramente conteria os efeitos secundários da inflação importada: ao retrair a atividade, coibiria o repasse dos preços externos para os preços domésticos. Por outro lado, porque, ao se restringir a política monetária amplia-se o impacto recessivo de uma elevação dos custos de produção.
Isso é verdade, mesmo na hipótese de que o mecanismo de transmissão da política monetária funcione perfeitamente. A questão é que, no caso brasileiro, esse mecanismo não tem funcionado adequadamente. Nesse sentido, pode-se explicar a persistente coexistência de taxas reais de juros anomalamente altas (somos recordistas nesse critério) com níveis relativamente elevados de inflação. Em outras palavras, o IPCA tem-se mostrado pouco sensível ao nível de atividade econômica. Portanto, o BC não tem sido capaz de trazer o IPCA para a meta de inflação (4,5% ao ano), apesar das altas taxas.
A existência de problemas no mecanismo de transmissão amplia ainda mais o sacrifício imposto pela política monetária à sociedade brasileira. Nesse particular, não é demais ressaltar que o custo de uma redução da inflação por meio da elevação da Selic tem sido muito alto, pois (1) a economia cresce pouco (temos a pior taxa média de crescimento dentre os países emergentes), (2) o real é umas das moedas que mais se valoriza e (3) as contas públicas são contaminadas, transformando o superávit primário em déficit nominal.
O alto sacrifício imposto pela política monetária à sociedade brasileira torna urgente a busca de mecanismos alternativos de combate a inflação. Ou seja, critica-se a concepção de que a Selic deva ser o único instrumento de combate a inflação. Nesse caso não há "receita de bolo": pressões inflacionárias com causas distintas devem ser combatidas com diferentes instrumentos. O BC ensaiou uma mudança nesse sentido com o uso das medidas de controle de crédito (acanhadamente denominadas de macroprudenciais) tomadas no final do ano passado.
Entretanto, parece que ele abandonou tal caminho, o que lamentamos, e voltou a elevar a Selic, o que consideramos inapropriado. Infelizmente, indo nessa direção, vamos continuar batendo recordes mundiais em termos de taxas de juros (reais), sem que a inflação se reduza de forma mais contundente.
Fernando Ferrari Filho é professor titular da UFRGS
Andre De Melo Modenesi é professor adjunto do IE/ UFRJ. Ambos são pesquisadores do CNPq.
Andre de Melo Modenesi e Rui Lyrio Modenesi
Sunday, 17 May 2009
BRASIL - POLÍTICA ECONÔMICA x CRISE
WILSON CANO ECONOMISTA - Brasil se desindustrializa e canta como cigarra a música da China
Centralização é a melhor solução para o câmbio, diz Belluzzo
19/06/2011 - 03h00ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
Brasil em Desenvolvimento: Estado, Planejamento e Políticas Públicas - Sumário Analítico + 3 vols. |
José Celso Cardoso Jr. (Coordenador) / Brasília, 2010 |
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