Monday, 23 March 2020

UMA QUARENTENA INESGOTÁVEL

         O novo coranavírus SARS-CoV-2 (causador da doença COVID-19) nos impôs de quarentena impiedosamente. Os casos da COVID-19 estão aumentando de forma contínua, em nível mundial (veja tabela abaixo). No caso do Brasil, o aumento diário, nos últimos três dias, está acima de 27%.* Sobre os desdobramentos, temos apenas análises, construções de cenários possíveis, e, algumas possibilidades de experiências passadas serem extrapoladas. De resto, teremos dois ou três meses de angústia permanente pela frente.
FONTE: BBC Brasil (23-03-2020).
          O drama do coronavírus (com fortes traços de tragédia) nos deixa em meio a um turbilhão de situações: (i) o que podemos fazer, na quarentena; (ii) nas quase chatas manifestações moralistas, às vezes necessários, de um batalhão de soldados das mídias sociais; (iii) as políticas governamentais para enfrentar a pandemia, no que me interessa, mais as econômicas; (iv) as leituras de livros e de artigos de gente espetacular (já li coisas de Domenique De Masi, relatando o caso da Itália, de Manuel Castells, etc.); (v) a convivência propriamente dita no nosso meio, observando as manifestações, as interpretações - quase todas carregadas apenas de moralismo.
Vai para casa já virou até meio pitoresco, dado a gravidade do momento que estamos atravessando; todavia, até certo ponto, é bastante compreensível. Voltando-se um pouco para o centro do furacão, a Medida Provisória 927/2020 (22 de março)** é assunto que chama muito a atenção, pois, é sabido que o mundo muito provavelmente entrará numa crise econômica de proporções arrasadoras - ontem tinha gente falando na possibilidades de 40 milhões de desempregados, no Brasil, com base nas projeções do que pode acontecer na economia dos Estados unidos (Empresários pedem ‘plano Marshall’ e XP fala em 40 milhões de desempregados). Em relação, a MP 927 propriamente dita, o economistas José Luis Oreiro se manifestou de modo bastante duro a respeito do seu sentido, tando em relação a sua crueldade (desumanidade) em relação aos trabalhadores, quanto em relação ao fato de reforçar/agravar o desempenho negativo da economia, em vez de conter os danos que estão por vir.
          No caso dessa MP 927/2020, infelizmente, ela aplica/implementa algo que já estava previsto na reforma trabalhista, aprovada no governo de Michel Temer, a qual se dizia que seria a panaceia para a criação de milhões e milhões de empregos. Agora, a MP 927 vem aprofundar certas medidas que não foram possível durante os trâmites da reforma trabalhista, mas que no momento do pânico do coronavírus veio encontrar o ambiente ideal, seguindo a belíssima interpretação de Naomi Klein, denominada "doutrina de choque", desenvolvida detalhadamente no livro homônimo, de 2008, onde mostra como medidas cruéis foram implementadas por George W. Bush, por ocasião do furacão Katrina, em 2005, e por Augusto Pinochet, nos primeiros anos da ditadura chilena (Leia a nota da ANAMATRA contra a MP).
De toda forma, os debates desta Medida Provisória, no parlamento, serão muito úteis; embora, com grandes possibilidades de ser referendada e, salve alguns transtornos, poderá permanecer vigorando por muito tempo.
As demais medidas econômicas, que vêm sendo divulgadas desde a semana passada (incluindo os anúncios da parte do Banco Central, de hoje), possuem uma engenharia bastante diabólica. Não injetam dinheiro na economia, além daquilo que já estava previsto. Como não é tão fácil compreender a situação, passa-se a ideia de que o governo está se movimentando, fazendo alguma coisa. Sobre o enfrentamento de crises, "dessa natureza", talvez o manifesto do economistas portugueses e a carta dos professores do Instituto de Economia da UFRJ sejam úteis para entendermos melhor sobre o abismo que está nos atraindo. Além disso, as próprias medidas bilionárias que estão sendo preparadas pelos governos dos Estados Unidos e pela União Europeia, além da sinalização do FMI de aportar o dinheiro que for necessário.
        A vida vai continuando e nós quarentenados, tentando entender o que está acontecendo no mundo do novo coranavírus SARS-CoV-2. O mundo da COVID-19. 
          "Fiquem em casa" - pegue um livro para ler, também, talvez a humanidade possa sair muito melhor dessa tragédia/drama.
          Talvez, posteriormente, venha comentar sobre os impactos diferenciados da crise sobre os distintos segmentos socioeconômicos.


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* G1
** MP 927/2020 faculta às empresas a suspensão dos contratos de trabalho e o pagamento de salários por um período de até quatro meses enquanto durar o estado de calamidade pública.

Tuesday, 24 December 2019

EM 2020, AS DUAS

primeiras coisas que farei, assim que ano começar, será a leitura de Essa Gente; neste caso, essencialmente por causa da inteligência do autor.
E, no dia 04, aniversário do ID, vou usar os tickets da Rio Star. Relembrar os momentos de London Eye.
O resto, depois veremos; o ano não tem apenas quatro dias.

Monday, 23 December 2019

O QUE EU DISSE DE 2019

          Ninguém (analistas lúcidos) previu a eleição de Donald Trump, em 2016; o primeiro que admitiu, em maio daquele ano, foi o extraordinário documentarista e escritor Michael Moore (diretor dos magistrais documentários Sicko - SOS Saúde e Capitalismo, uma história de amor). Ninguém acreditava na eleição desse negócio do atual presidente brasileiro, já que os ovos foram todos colocados na cesta psdbista Geraldo Aclkmin. Assim, o ano do brasileiro circulou em torno das alucinações dessa besta louca. O Acre, que residualmente também existe, comento brevemente, mais no final.
Lisboa, fonte
         Lili Schwarcz fez uma retrospectiva de 2019, focada no Brasil, na qual sintetizou como um momento de grande retrocesso nos nossos direitos civis e da nossa agenda cidadão/republicana, conduzidos pelo atual governo, desde a posse, com a afirmação "Brasil acima de tudo, deus acima de todos". Desdobrou essa mistura Estado/religião com uma série de acontecimentos, que por falta de outra denominação, chamo de "marcantes": (i) desmatamentos/queimadas combinados com a estranha maneira do ministro Ricardo Salles; (ii) a infantil pastora Damares Alves de Oliveira, com suas inflexíveis ideias no campo das chamadas minorias, dividindo o mundo entre azul e rosa; (iii) os ministros da educação Ricardo Vélez e Abraham Weintraub, incapazes para o cargo, tanto administrativamente, principalmente o primeiro, quanto ao que se refere ao campo da educação, no caso do segundo, um exímio produtor de fake news; (iv) ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, porta-voz do terraplanismo e do antiglobalismo - um dos mais toscos olavetes do governo, ao lado de Weintraub, para os quais a realidade é um mero detalhe; (v) a indicação do filho do presidente para a embaixada do dos EUA - o que dizer? (vi) atos arbitrários contra populações negras, indígenas, veto à propagandas - indicação do monstro Sérgio Camargo para dirigir a Fundação Palmares - elogios as ditaduras do passado.
Palácio Real de Madrid
         O requintado jurista Pedro Dallari reforçou, na sua coluna da rádio USP, que contestação aos direitos fundamentais dos seres humanos, expresso num quadro de risco generalizado dos direitos das minorias, das mulheres, dos imigrantes, da população LGBT, dos indígenas, é um dos principais resultados do ano de 2019.
          Se eu fizer um parêntese nos assuntos de Lili Schwarcz e Pedro Dallari, confesso que meu 2019 foi muito bom, contraditoriamente neste mar de tristezas e de gente reacionária/conservadora. Em janeiro, visitei o Museu Rainha de Sofia, exclusivamente para ver Guernica, obra prima de Pablo Picasso sobre a Guerra Civil espanhola, que vinha lendo de modo muito encantado. Visitei Alhambra, um dos grandes momentos da minha vida. Passei pela Mesquita-Catedral de Córdoba, também por Sevilla. Essa lista de janeiro é muito grande. Vou deixar um vácuo enorme, por Portugal (Mosteiro dos Jerônimos, Biblioteca Joanina, Pastéis, Santuário de Fátima, Pastéis, Livraria Lello), para finalizar pelo enigmático Museu do Prado (imagina, El Greco, Velázquez, Murillo, Goya, Rubens, etc.). Eu poderia dizer que meu 2019 foi janeiro?
As Três Graças, de Rubens - Museu do Prado
          Um ano não se resume a um mês. Em 2019, veio a mais drástica mudança de política econômica dos últimos quarenta anos (Grupo Conjuntura Ufrj ou prof. Simão Silber/USP) - vide ministro da economia, Paulo Guedes, na GloboNews (18-12-2019). Da perspectiva dos analistas econômicos, restritos aos indicadores econômicos de desempenho (PIB, inflação, dívida/déficit pública/o), estamos a ver o paraíso.  Apenas os analistas mais "sistêmicos" lembram sapientemente que economias que entram em profunda recessão, como o Brasil, em 2016/2017, voltam a crescer, quase automaticamente, muito rápido. Significa que o Brasil, contrariamente, combina, por enquanto, duas situações bastante complicadas: retardo/lentidão na recuperação econômica com níveis bastante baixos - considerando a intensidade da queda da economia. Além disso, estes mesmos animados analistas pouco falam dos prognósticos da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) sobre o mais baixo crescimento da região nos últimos anos, e, e o dramático aumento da pobreza, pelo quinto ano consecutivo.
        Em 2019, o Igor Diore terminou o ensino médio. Conseguiu entrar no curso de medicina da Universidade Federal do Acre, classificado em primeiro lugar. Desejamos que posso ir construindo os caminhos necessários para caminhar em direção aos seus sonhos. A dona Sheila e eu ficamos muito alegres com o feito do ID.
        A "política" para a educação superior tomou muito das minhas energias, em 2019. Sem falar nas questões mais ordinárias (emenda constitucional do teto dos gastos, contingenciamentos), o programa Future-se, do ministro Weintraub, monopolizou muito do que se falou sobre universidades neste ano. Por razões diversas, li praticamente "tudo" o que foi escrito sobre o Future-se, aproveitando, também, para caminhar pelas principais análises e interpretações sobre o estado atual das universidades pelo mundo (algo que já faço há uma década, em decorrência da minha passagem pela UFRJ). Vou deixar de lado essa dimensão, pois falar de universidade é algo complexo e meio sem eco; é um tema que interessa essencialmente ao meio universitário público, caracterizado e constituído por "igrejinhas" e "diálogos" de surdos.
          Foi um ano que li pouco. Comecei a escrever um livro, que talvez virei a concluir em 2022/23. Será que consigo? Três professores com os quais estive em sala de aula, há cerca de nove/dez anor, faleceram! No entanto, preciso intensificar minhas leituras em 2020, bem como organizar melhor a produção desse projeto de livro. Com paciência, eu conseguirei. Mesmo tendo lido pouco, li livros fantásticos. Alguns por obrigação. Sou assinante de algumas revistas de periodicidade mensal e uma semanal; são excelentes fontes de acompanhamento do que acontece nos campos político-econômicos. Falando nisso, não posso esquecer daqueles bons que nos deixaram em 2019: Paulo Henrique Amorim, Fernanda Young, Damiana (ex-aluna), Beth Carvalho, João Gilberto, Ruth de Souza, Wanderley Guilherme dos Santos (cada qual que faça a lista de seus bons).
Livro de Yannis Varoufakis
          No Acre, foi o primeiro ano de governo de Gladson Cameli. Um governo que representa uma escaramuça de vinte anos para derrotar os governo de Jorge Viana, Binho Marques e Tião Viana. Noutras palavras, entendido em outras circunstâncias, o governo de Gladson Cameli seria o retorno do governo de seu tio Orleir Cameli (1995-1998). É um primeiro ano que pode ser comparado ao primeiro ano de dos governos de seu tio e de Jorge Viana, considerando outros propósitos e outros componentes.
          Infelizmente, no âmbito do curso de economia, não comentarei, devido ter estabelecido um padrão de interação estritamente formal, nos últimos dez anos, no qual sempre estarei à disposição, cumprindo com minhas obrigações e sendo solidários naquilo afeito a natureza humana e profissional. Trabalhei, totalmente ou em parte, nas disciplinas Teorias do Comércio Internacional, Introdução às Ciências Sociais, Economia Internacional, Análise de Conjuntura Econômica III.
          No campo mais geral da Ufac, 2019 reflete essencialmente as intenções do atual governo para o setor da educação superior. Mas, não sintetizarei.
Largo do Machado, Rio de Janeiro
          Além de tudo que que já disse de 2019, das minhas leituras sobre economia, sobre universidades, etc., uma preocupação me tomou por demais o tempo neste ano. Por dentro de tudo que fiz, absolutamente imbricada, esteve minha inquietação de entender o atual momento político do mundo, dominado "completamente" pelo conservadorismo/reacionarismo. Por que negros, certas minorias, pobres simpatizam justamente por aquilo que vão de encontro as suas condições humanas? Busquei superar ao senso comum das afirmações de que são meros "burros", ignorantes, ingênuos. Dando continuidade ao que já vinha fazendo há quatro ou cinco anos, procurei me dedicar aos impactos, implicações, interações, estratégias das facções religiosas no campo político, a partir de muito(a)s pesquisadores(as) que vem se dedicando a este tema. Afirmo que avancei muito, mesmo, no entendimento dessa questão. Outra dimensão que me toma um pouco de tempo, são as leituras sobre as estratégias e debates desse povo doutrinador da extrema direita estrita - libertários (escola de economia austríaca), olavetes, etc. Essas duas vertentes, religião fanática x libertários, praticamente está jogando o país numa possível guerra religiosa a se suceder nos próximos 20 ou trinta anos.
Um ano não é apenas isso; mas fica o registro.

Saturday, 9 March 2019

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Acordei bem antes da hora de ir para a natação. Lembrei que é OITO de março.
A minha vida me ensinou, desde sempre, a entender a singularidade da mulher no mundo. Principalmente, no mundo denominado de moderno. Claro que meu entendimento sobre este tema não é carregado de fundamentos. Mesmo assim é suficiente para fazer as devidas conexões com os temas, assuntos e questões que acompanho diariamente.
O Dia Internacional da Mulher tem um significado eminentemente político; político, num sentido cheio de complexidades, interconectado por várias dimensões. É um dia que é celebrado como forma de dar visibilidade às lutas das mulheres por maior espaço no mercado de trabalho, por melhores condições de vida e/ou pelo direito ao voto, há mais de um século, no alvorecer do século XX. Isso significa que o Dia Internacional da Mulher, associado às lutas socioeconômicas e políticas, vai muito além das dondoquisses de um dia de feriado/folga (de um mero dia de comemorações, de um dia de rosas - à lá manifestações ginasiais infantis). Sempre que converso com pessoas bem discernidas, elas nunca deixam de me lembrar sobre o que realmente representa o Dia Internacional da Mulher e o que se deve lembrar.
As escolas de samba, que trataram de temas políticos, de resistência, sintetizadas pelo desfile da Mangueira ou da Paraiso da Tuiuti, talvez seja o que temos de mais expressivo para lembrar nesse oito de março de 2019, no qual faz-nos refletir sobre milhares e milhares de histórias de mulheres por este mundo; mulheres camponeses, mulheres operárias, mulheres trabalhadores que sofrem e suportam o fardo da institucionalidade do mundo moderno. Mulheres que lutam por uma menor assimetria de direitos.
Mesmo estando ciente de que o momento é de extrema incertezas e dúvidas, lembremos das marias, das franciscas, das joanas, das raimundas, das sebastianas, neste Dia Internacional; mulheres que sempre tem aquela força e coragem que nunca se esgotam, muitas vezes com extrema dificuldade. Mulheres que exercem um papel central nos espaços profissionais, domésticos e/ou políticos. Mas, tudo é cercado e rodeado por um propósito.
Vou para a natação, fazendo todo o esforço, como muitos mulheres também o fizeram (e o fazem) e lutaram (e o lutam) no final do século XIX, durante todo o século XX, e lutam bravamente neste século XXI, justamente num momento no qual temos uma ministra “dondoca“ (claro que nao existe dondoca da “goiabeira”) que rema na direção contrária do que foi o movimento pela igualdade de direitos nestes últimos 130/40 anos. Às legítimas guerreiras, nosso total reconhecimento. Não se pode, jamais, resignar-se à naturalização das desigualdades e à hierarquização e entre as pessoas - mentalidades derivadas da tradição escravista. 04:30 (horário local).

#Dia #Internacional #Mulher #Direitos #Política