Friday 17 January 2014

A ECONOMIA É UMA CIÊNCIA?

FREUD EXPLICA?
Por Eliana Cardoso | Para o Valor

Em busca de ligação com conceitos da psicanálise, a economia do comportamento esbarra na necessidade de dar novos passos

VALOR ECONÔMICO, 17-01-2014

O lobo ouviu o choro interminável do bebê entrelaçado à ameaça da mãe: "Se não parar de chorar, entrego você para o lobo mau".

E o pardo da floresta esperou e esperou e, esperando o alimento que não vinha, morreu de fome enquanto o bebê chorava...

Não nos surpreende que o conteúdo dos discursos maternos se perca quando traduzido na linguagem dos lobos. Ou na dos bebês. E estamos acostumados à dificuldade de comunicação entre psicólogos de diferentes escolas, entre economistas presos a ideologias distintas e até mesmo entre o autor de um romance e os leitores que o interpretam como lhes convém. Enquanto isso, economistas e neurocientistas andam conversando.

Voando de um congresso de volta a São Paulo, sentei-me ao lado de David Laibson, professor de Harvard e um dos mais proeminentes pesquisadores na área da economia do comportamento. Falamos sobre alguns "insights" nessa nova área de estudo, já incorporados a modelos matemáticos e com importantes consequências para a política econômica. Outras descobertas oferecem enormes dificuldades para a teoria, porque constatam mudança de preferências quando ocorre alteração no contexto da escolha. Essa instabilidade das preferências contraria axiomas da racionalidade e parece exigir dos economistas a incorporação de considerações de caráter afetivo nos seus modelos de maximização do bem-estar.

Laibson e eu concordamos que a perspectiva da economia do comportamento não tem nenhum parentesco com a psicologia behaviorista. Tem, sim, afinidades com o inconsciente de Freud.

Perguntei a Laibson por que Kahneman - o psicólogo que ganhou o Prêmio Nobel de Economia - não cita Freud no seu "Thinking Fast and Slow". Laibson me ofereceu duas hipóteses. Pode ser que os cientistas tentem obscurecer suas fontes de inspiração, disse ele. Ou Kahneman evitou a referência a Freud por causa do baixo prestígio da psicanálise nos meios acadêmicos americanos: "Freud is a dirty name", ele comentou.

Gostaria de levantar uma hipótese diferente. Embora as duas áreas, a economia do comportamento e a psicanálise, se interessem pelo funcionamento da mente, cada uma delas explora perspectivas distintas com objetivos e métodos diferentes. A psicanálise se interessa pelo desenvolvimento da sexualidade e das neuroses, enquanto a economia quer entender e explicar escolhas econômicas. Por exemplo: como dividir o tempo entre trabalho e lazer, quanto cobrar por um sapato, como repartir a própria riqueza entre diferentes ativos, e quais são as implicações dessas escolhas para o crescimento e a distribuição de renda.

A economia inseriu aperfeiçoamentos importantes no seu paradigma tradicional ao considerar as informações assimétricas, os contratos incompletos e muitos outros elementos de tratamento difícil. Agora, a economia do comportamento aponta a necessidade de novos passos, porque entendeu que o processo de decisão depende de dois sistemas mentais: um sistema analítico - vagaroso e consciente, que pesa as consequências das decisões - e um sistema afetivo - rápido, inconsciente, automático e destituído de esforço. A economia já dispõe do modelo mental que representa o sistema analítico (ou racional). Alguns pesquisadores almejam complementá-lo, criando um modelo para o sistema afetivo e estabelecendo, em seguida, um link entre os dois sistemas.

Nesse trabalho ainda em gestação, por que não usar os "insights" freudianos para modelar o sistema afetivo? Freud argumenta que existem processos mentais poderosos, que são inconscientes como resultado do recalcamento. Ideias comuns podem esconder ou revelar conteúdos que escapam à nossa atenção. Mas seria difícil aplicar a visão freudiana à economia, porque a psicanálise não se resume na divisão do psíquico entre o que é consciente e o que é inconsciente.

O primeiro atrito entre a economia do comportamento e a psicanálise deriva da convicção dos economistas de que poderiam modelar as escolhas conscientes e inconscientes de forma separada e ligá-las posteriormente de forma simples. Em contraste, a psicanálise interpreta as divisões da mente entre o ego (eu), o id e o superego (supereu) como inseparáveis: elas se interpenetram de formas nem sempre explícitas.

A economia do comportamento já entendeu que o processo de decisão depende de dois sistemas mentais: um analítico e um afetivo

"O Ego e o Id", último dos grandes trabalhos teóricos de Freud, resume o funcionamento da psique. O indivíduo dispõe de uma organização coerente de processos mentais chamada de ego (eu), ligado a um id psíquico, desconhecido e inconsciente. O eu representa não apenas o que os economistas chamam de razão, pois na sua relação com o id (que contém as paixões) se parece ao cavaleiro que tenta controlar a força superior do cavalo. A diferença importante está em que o cavaleiro usa a própria força, enquanto o eu utiliza forças emprestadas, tendo o hábito de transformar em ação a vontade do id, como se fosse sua.

O eu também não é simplesmente a parte do id modificada pela influência do mundo exterior através do sistema perceptivo. Aqui também existem complicações. Como consequência do caráter triangular da situação edipiana e da bissexualidade constitucional do indivíduo, a fase infantil dominada pelo complexo de Édipo deixa um herdeiro conhecido como superego (supereu), reconhecido seja sob a forma de consciência, seja sob a forma de um sentimento inconsciente de culpa.

Segue-se que o eu psicanalítico difere radicalmente da mente racional descrita pelo sistema analítico da economia. Enquanto a razão do "Homo oeconomicus" é senhora de si mesma, pode-se comparar o eu psicanalítico ao escravo de três senhores: a realidade do mundo exterior, a libido do id e a severidade do supereu.

Portanto, o eu não é apenas a moradia da racionalidade econômica, mas também a casa da ansiedade e do sofrimento derivado da guerra interna ao id entre dois grupos de instintos (pulsões): de um lado, as pulsões de vida e prazer e, de outro, as pulsões de morte, que combinam agressividade e desejo de paz. Sendo assim, parece quase impossível reduzir o sistema freudiano (em que até mesmo o supereu é em parte inconsciente) à divisão mais simples proposta por Kahneman.

A outra dificuldade de comunicação entre a economia e a psicanálise deriva do método. Os economistas trabalham com modelos matemáticos, que tornam explícitas as hipóteses e descartam as implicações não passíveis de testes de falsificação. As implicações falsificáveis, por seu lado, devem ser mensuráveis. E fariam parte do corpo da ciência econômica apenas depois de não rejeitadas em testes que dependem de numerosas observações.

Os psicanalistas, pelo contrário, dispõem de um modelo verbal e flexível; derivam sua evidência de casos clínicos, relatados de forma subjetiva. Suas proposições nem sempre são falsificáveis e os analistas, muitas vezes, acusam seus críticos de vítimas da "resistência".

Esses desafios empurram os economistas para os braços dos neurocientistas e da psicologia cognitiva, onde encontram maior afinidade de método. Economistas e neurocientistas também andam interessados em literatura. As imagens do cérebro revelam o que acontece em nossas cabeças quando lemos uma descrição, uma metáfora ou um diálogo. Ler sobre uma experiência ou vivê-la estimulam as mesmas regiões do cérebro.

Por associações que só Freud explica, essa esperança de diálogo entre a literatura, a neurociência e a economia me fez pensar no oposto, isto é, no monólogo a dois - a situação em que ninguém se entende, porque cada um escuta apenas a própria voz. Ou embaralha o discurso do outro, se ele contraria os próprios preconceitos e desejos, como na tradução literal escolhida pelo lobo para a ameaça da mãe ao bebê chorão.

Exemplo hilário da impossibilidade de comunicação se encontra no conto de Italo Calvino "O Homem de Neandertal", em que um entrevistador contemporâneo, alimentado por clichês e incapaz de entender o entrevistado, tenta colocar na boca do outro as palavras que deseja ouvir. O homem de Neandertal resiste e se exprime como pode e sobre o que lhe interessa. Calvino trata com leveza e humor essa experiência frustrante e nos obriga a rir.

Eliana Cardoso é escritora


A ECONOMIA É UMA CIÊNCIA?
Por Robert J. Shiller - Um dos problemas é ela ser necessariamente focada na política
A economia é um pouco mais vulnerável do que as ciências físicas, especialmente porque os modelos descrevem pessoas em vez de ressonâncias magnéticas
VALOR ECONÔMICO, 07-11-2013



CRISE e "IRRACIONALIDADE"
por Flávio Benevett Fligenspan
Não foram os modelos que falharam, foram as irresponsáveis autoridades monetárias
VALOR ECONÔMICO, 03-01-2014 e Fim de Semana

Tuesday 7 January 2014

HA-JOON CHANG

DESENVOLVIMENTO DO PAÍS EXIGE POLÍTICA INDUSTRIAL DE LONGO PRAZO, afirma Chang
por Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo

Professor da Universidade de Cambridge, Ha-Joon Chang aponta lições da Coreia do Sul para a economia brasileira

VALOR ECONÔMICO, 07-01-2014

O economista sul-coreano Ha Joon-Chang, professor na Universidade de Cambridge, ressaltou ontem a importância da política industrial de longo prazo para o desenvolvimento econômico de um país. Conhecido pelo livro "Chutando a Escada", ele defendeu a necessidade de o Brasil investir em infraestrutura e em indústria de alta tecnologia para melhorar o padrão de vida de sua população.

Ele destacou que não basta uma política de corte de impostos para incentivar alguns setores na economia em um momento de crise, sendo preciso desenhar uma política industrial de longo prazo em que sejam desenvolvidas atividades industriais "que só poucas pessoas podem fazer".

Fazendo uma comparação, Chang afirmou que a política industrial na Coreia do Sul foi fundamental para o seu desenvolvimento. "Nos anos 1960, o PIB per capita da Coreia era de US$ 80, em um momento em que Chile e Argentina tinham provavelmente PIB per capita de US$ 400 e o Brasil, provavelmente de US$ 200", disse.

Segundo ele, apesar das críticas que existiram, o quadro melhorou para a Coreia porque houve o desenvolvimento da indústria siderúrgica, automobilística e de eletrônicos. "E temos o padrão de vida que temos hoje, que é de US$ 22 mil de PIB per capita, enquanto a Argentina deve estar em US$ 8 mil. Nós éramos 20% da Argentina e agora somos três vezes mais", afirmou. "Quando começamos, todos estavam céticos, e alguns diziam que países como a Coreia deveriam desenvolver apenas a indústria intensiva em mão de obra, o que fizemos. Mas, ao mesmo tempo, desenvolvemos outros tipos de indústrias e usamos nossa taxa de câmbio para importar tecnologias mais avançadas, aprendendo com isso", destacou.

Na visão do economista, as políticas protecionistas para o setor industrial foram fundamentais não só para a Coreia neste período de avanço industrial, mas para diversas nações hoje desenvolvidas alcançarem o padrão que hoje ostentam. Mas defendeu que essas políticas sejam temporárias, o que não significa só um ou dois anos. "Podem ser de 20 anos, mas um dia devem ser retiradas e as empresas que as receberam devem ter desenvolvido a sua produtividade", destacou. "Fazendo uma analogia, há alguns remédios que criam temporariamente uma melhora no seu estado físico. Quando você toma esse medicamento, precisa usar essa recuperação temporária para mudar sua vida, fazer exercícios, mudar a alimentação, para no longo prazo viver sem o medicamento. Não adianta tomá-lo e não fazer nada, pois criará dependência disso para se sentir melhor".

Na avaliação de Chang, o Brasil tem feito ações importantes no setor aeroespacial, na exploração de petróleo, no etanol, "mas não está explorando todo o seu potencial". Citou, por exemplo, que nos anos 1980, a indústria manufatureira representava quase 30% do PIB. Hoje, essa fatia está em 13% e com previsões de que represente apenas 9% no futuro. "Parte disso pode ser considerada desindustrialização natural, mas grande parte ocorreu porque o Brasil abriu mão de desenvolver suas atividades manufatureiras", disse. "Se você destruiu sua indústria por 30 anos, não pode esperar que ela volte à vida simplesmente com uma taxa de juros e uma taxa de câmbio mais favoráveis em dois ou três anos".

Crítico do neoliberalismo, Chang disse que "ninguém tem o monopólio da verdade" e que a "economia não é como as ciências naturais, em que você definitivamente prova coisas". Segundo ele, "a política também é fundamental para a economia, não podendo ser tratada da mesma forma que a química e a física".

Em um olhar para a economia americana, o economista disse acreditar que há uma nova bolha por conta do 'descolamento' existente entre os preços dos ativos no mercado financeiro em ascensão e a fraca recuperação da economia real americana. "O mercado de ações está no seu mais alto nível de todos os tempos, mas, de outro lado, a economia real não vai muito bem", afirmou.

Não há como a economia americana sustentar o atual nível do mercado de ações, na avaliação de Chang. "Os preços estão irreais. O futuro não parece muito bom. Mesmo que essa recuperação relativa esteja ocorrendo no setor financeiro, o salário médio está mais baixo do que antes da crise, há muitas pessoas desempregadas e muitas que só conseguem achar trabalho para meio período", disse, citando que nesse tipo de situação, sem investimentos na economia real, não há sustentação da demanda no futuro.

"Isso caracteriza claramente uma bolha", disse. "Se você lê a imprensa financeira mundial, muitas pessoas falam de bolha. Mas muitos estão inflando essa bolha sem se importar, porque acreditam que vão inflá-la talvez por mais um ou dois anos e depois sair do mercado antes de ela estourar. Isto é uma ilusão coletiva porque cada um acredita que será a pessoa esperta e poderá sair antes do estouro, mas haverá um momento em que ninguém conseguirá sair".

Chang participa nesta semana do Latin American Advanced Programme on Rethinking Macro and Development Economics (Laporde), na Fundação Getulio Vargas.


BRASIL PODE CRESCER 5% AO ANO, diz professor
Por Francine De Lorenzo | De São Paulo

É viável para o Brasil crescer a um ritmo de 5% ao ano, num horizonte de cinco anos, se desenvolver uma política industrial mais ambiciosa, afirmou ontem o professor da Columbia University (EUA) e ex -ministro das Finanças da Colômbia, José Antonio Ocampo.

Segundo Ocampo, que fez uma palestra na Fundação Getulio Vargas (FGV), isso seria possível se o Brasil investisse mais, mantivesse uma taxa de câmbio competitiva e avançasse na integração regional, apostando na venda de manufaturados.

"A única forma de o Brasil crescer mais é incrementando sua política industrial e entrando para as ligas de comércio de manufatura", ressaltou. Embora na sua avaliação a política industrial brasileira seja "de longe a mais ativa da América Latina", ainda assim precisa ser aprimorada.

Ocampo destacou, por exemplo, que os gastos do Brasil com pesquisa deveriam subir de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) para, no mínimo, 1,5%.

Com a crise internacional, segundo Ocampo, havia a expectativa de que o Brasil conseguiria "normalizar" sua taxa de juros, considerada alta para os padrões internacionais. Atualmente, a taxa Selic é de 10% ao ano, cerca de 4,2% acima da inflação. O ideal, diz ele, seria o país apresentar juro real ao redor de 1% ao ano, como acontece em outras nações.

"O Brasil tem que encontrar um mecanismo para equilibrar sua taxa de juros com o resto da América Latina", afirmou. "O problema do Brasil não é a dívida pública alta, é a taxa de juros elevada. Não gosto de contabilidade criativa, mas o Brasil não é o único pecador nesse ponto", acrescentou







BOM


-coreano Ha-Joon Chang, professor de economia da Universidade de Cambridge na Inglaterra. Sendo ele um ... o professor Chang, por que o Brasil continua sendo eternamente o país do futuro? Diplomático, foi OPINIÃO04/06/2012 às 00h00 7 VALOR ECONÔMICO




"Bretton Woods II": vital e dificílimo
Martin Wolf05/11/2008

Escravizem os robôs e libertem os pobres
TA ascensão das máquinas inteligentes é um momento da história. Ela vai mudar muita coisa, inclusive nossa economia. Elas possibilitarão aos homens uma vida muito melhor.




November 17, 2008



O APRENDIZADO E O DESENVOLVIMENTO
Por Morten Olsen e Ria Ivandic


Países da Ásia com melhores desempenhos colocam ênfase na seleção e treinamento de professores, priorizando investimentos nesse capital humano

VALOR ECONÔMICO, 03-02-2014

De sites de notícias a conversas em torno da mesa de jantar, um tópico pareceu ser uma insaciável fonte de discussões no início de dezembro, quando a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou os resultados do Pisa 2012 (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). E ficou no ar uma pergunta: deveríamos nós - economistas e autoridades governamentais - preocupar-nos com os resultados do Pisa? E, mais importante, o que esses resultados podem nos dizer sobre o presente e também sobre o mundo que virá?

Há muito tempo já foi reconhecida a importância de investir em educação para estimular o desenvolvimento de um país. Após décadas de reconhecimento sobre o papel fundamental da educação, ela tornou-se consagrada como uma prioridade mundial nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Além de ter uma influência decisiva sobre a renda de uma pessoa, a educação desempenha um papel central na explicação das diferenças entre os países em termos agregados: a educação incrementa o capital humano inerente à força de trabalho, o que aumenta a produtividade do trabalho e resulta em um nível mais elevado do equilíbrio da produção (Mankiw, Romer e Weil, 1992). A educação também aumenta a capacidade de inovar no âmbito da economia, acelerando a adoção de novas tecnologias, promovendo, assim, o crescimento (Lucas; 1988).

Países da Ásia com melhores desempenhos colocam ênfase na seleção e treinamento de professores, priorizando investimentos em capital humano, no corpo docente, em detrimento de ampliar o número de alunos por sala de aula.

Quando essas previsões teóricas são testadas contra dados históricos, a educação é geralmente definida como a medida quantitativa de anos de escolaridade, em termos de média em toda a força de trabalho. No entanto, avaliando as realidades, é justo pensar que um ano de estudo na Etiópia é equivalente a um ano de estudo na Finlândia? Uma vez que grande parte das pesquisas concentraram-se nas medidas de escolaridade sem considerar as diferenças de realidade, os resultados das comparações empíricas entre países resultam prejudicadas. Empregando um amplo conjunto de testes internacionais para medir os êxitos dos alunos, Barro (2001) conclui que, embora tanto a quantidade como a qualidade da educação seja relevante para o crescimento econômico, a qualidade é muito mais importante. Barro conclui que, quando a qualidade da educação é levada em conta, cresce substancialmente a margem de variação entre países e dos níveis de desenvolvimento econômico.

Esse resultado explica porque não conseguimos ver mudanças adequadas nas condições econômicas. A situação atual nos países em desenvolvimento é muito pior do que geralmente retratada com base apenas no número de matrículas escolares e êxito dos alunos. Embora as matrículas no ensino primário em regiões em desenvolvimento tenham chegado a 90% em 2010, acima dos 82% registrados em 1999, ainda hoje mais de 125 milhões de jovens em todo o mundo não dominam habilidades básicas de leitura e redação, das quais 61% são jovens mulheres. Além disso, muitas crianças concluem a escola primária tendo adquirido muito poucas habilidades produtivas. Parece que muitas vezes esquecemos que a educação não é um objetivo em si mesmo, mas um meio de alcançar um conjunto mais amplo de objetivos.


Isso ressalta o fato de que a qualidade da educação de uma pessoa é de suma importância e não há dúvida de que o futuro do desenvolvimento tecnológico só fará crescer ainda mais o valor de uma educação de boa qualidade. E é por isso que os testes Pisa são tão importantes. Coordenado pela OCDE, o Pisa mensura as habilidades dos estudantes de 15 anos de idade em termos de leitura, matemática, conhecimento científico e solução de problemas. Realizado a cada três anos e envolvendo mais de meio milhão de estudantes em 65 países, o Pisa continua sendo a pesquisa mundial mais completa na mensuração comparativa da qualidade da educação em diferentes países. Neste ano, o foco foi em matemática, uma vez que o domínio da matemática parece ser um bom indicador para prevermos participação em cursos pós-secundários e rendas futuras mais altas. Mais uma vez, os tigres asiáticos, tendo à frente Xangai, China e Cingapura, dominaram em conhecimentos de matemática.

Não surpreendentemente, as comparações de resultados do Pisa entre diferentes países são utilizadas como instrumentos de politização dentro dos países. Mas acima de tudo, temos de perceber que, embora haja um crescente consenso de que a escolaridade deve concentrar-se mais na qualidade do que quantidade, há menos consenso quanto à forma de conseguir isso. Alguns veem o problema como resultado de financiamento insuficiente, enquanto outros gostariam de ver as escolas incentivarem alunos, funcionários e professores. Os pesquisadores do Pisa veem um foco em ambos como frutíferos. Eles enfatizam que, para todos os países, focar mais recursos nos estudantes menos privilegiados é uma forma eficaz de melhorar as notas, e eles observam que os países com melhores desempenhos, especialmente na Ásia, colocam ênfase na seleção e treinamento de professores, priorizando investimentos em capital humano de professores, em detrimento de ampliar o número de alunos por sala de aula.

Nessa linha, a atual ausência de incentivos na maioria dos sistemas educacionais é estranha. Há muito tempo já percebemos que a melhor maneira de produzir de tudo - de televisores a aplicativos para celulares a vacinas - é oferecer incentivos adequados. No entanto, de alguma forma, deixamos de aplicar a mesma visão ao nosso bem mais precioso, a educação de nossos filhos.

Seja qual for a maneira de aperfeiçoar nossos sistema educacionais, é claro que devemos fazê-lo. E quando contemplamos as maneiras de melhorar nossos próprios sistemas, que melhor maneira de aprender do que olhar ao redor do mundo para ver como outros sistemas brilham ou falham? (Tradução de Sergio Blum)

Morten Olsen é professor de Economia na IESE Business School,

Ria Ivandic é assistente de pesquisa na IESE Business School.




CONEXÃO DEMAIS E ATENÇÃO DE MENOS SÃO MAIS SINAIS
por Francisco Quinteiro Pires | Para o Valor, de Nova York

Relações consigo mesmo e com o próximo ficam bitoladas por tecnologias que parecem juntar, mas separam

VALOR ECONÔMICO, 21-01-2014