Friday 14 May 2010

PARQUES TECNOLÓGICOS

Mais de 300 projetos inovadores em áreas como TI e saúde serão gerados dentro das escolas, em 2010.
Eles querem chegar lá
Por Jacilio Saraiva, para o Valor, de São Paulo 30/04/2010
BOX: Inovação nas empresas brasileiras
A necessidade de inovação fez o administrador Floro Fagundes e mais quatro sócios desenharem um software que controla a glicemia de pacientes a distância. Casado com uma diabética, Fagundes observava a mulher e outros portadores da doença usando caderninhos com anotações e tabelas de cálculos para administrar os índices glicêmicos. "Agora, um programa instalado no celular se comunica com um prontuário médico on-line e calcula as quantidades de carboidratos das refeições e as doses prescritas de insulina", explica. "O médico pode intervir no tratamento do paciente em tempo real."
Hoje, o software GlicOnLine é o carro-chefe da Quasar Telemedicina, pequena companhia de sete funcionários criada em 2004 no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), incubadora de empresas em São Paulo. A invenção já conta com oitocentos pacientes e é usada por 110 médicos. Em 2009, a companhia faturou R$ 130 mil e quer fechar 2010 com R$ 600 mil no caixa. "Vamos firmar parcerias com operadoras de telefonia móvel e entrar no mercado americano."
No próximo mês, Fagundes desembarca em São Francisco, na Califórnia, para apresentar a versão em inglês do software para investidores. Mas, para chegar lá, o empreendedor precisou driblar obstáculos que costumam surgir na rota da inovação das pequenas empresas: a falta de agilidade na oferta de crédito, a dificuldade de atração de investimentos e a burocracia para registrar novos produtos. "Demorei um ano para obter o registro de um software que pode salvar vidas", lembra.
Segundo pesquisa feita pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), 39% dos empreendedores precisariam de impostos menores para realizar inovações em seus produtos, enquanto 22% necessitam de empréstimos bancários para tirar os projetos das gavetas. Ao mesmo tempo, apenas 20% das empresas ouvidas correm atrás de cursos e consultorias para se diferenciar da concorrência e 13% das companhias querem mais divulgação dos seus inventos.
Para vencer essas dificuldades, entidades ligadas às áreas de financiamento, incubação de negócios e de estímulo a programas de pesquisa arregaçam as mangas. Até 2012, o Sebrae Nacional pretende aumentar em 30 mil o número de empresas inovadoras no país - o dobro do que existe hoje, de acordo com o IBGE. Este ano, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) vai oferecer R$ 1,6 bilhão - R$ 700 milhões a mais que em 2009 - para o desenvolvimento de projetos de inovação, dentro do Programa Inova Brasil, de financiamentos reembolsáveis.
Já os principais fundos de venture capital (ou capital de risco), concentrados em quatro Estados, contam com pelo menos US$ 1 bilhão em recursos para apoiar ideias inovadoras que nem sempre saem das incubadoras. Segundo a consultoria Ernst&Young, até dezembro, mais de 300 projetos empreendedores devem nascer nos bancos das escolas de negócios, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
No Sebrae, uma das armas para estimular a inovação é o Programa Agentes Locais de Inovação (ALI), que despacha mais de 800 profissionais para empresas em dez Estados. Os agentes visitam as companhias e produzem um relatório gratuito que identifica dificuldades e o que pode ser melhorado no dia a dia do negócio. A partir desse diagnóstico, criam um plano de ação e acompanham a evolução do empreendedor. Até o final de 2010, a iniciativa deve bater na porta de 5,1 mil estabelecimentos de 33 setores.
Para Guilherme Plonski, coordenador do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), o problema da microempresa no Brasil na busca de ações inovadoras não é o fato de ser pequena, mas "de ser sozinha". "Graças a entidades como o Sebrae, as MPEs encontram apoio para compreender e superar os obstáculos à inovação", diz. "Mas é preciso aprimorar a coordenação dos esforços vindos de diversas iniciativas." Criada há 22 anos, a Anprotec gerencia mais de 400 "habitats" de inovação, como incubadoras e parques tecnológicos, em mais de 20 Estados.
"Os resultados obtidos nesses ambientes, planejados para efetivar processos de inovação de produtos e negócios, podem transformar cidades e regiões", assinala. Segundo Plonski, em Florianópolis (SC), a contribuição ao PIB local das empresas de TI geradas em incubadoras já é o dobro do aporte das companhias do setor turístico - que fez a fama da cidade. A capital catarinense tem mais de 500 empresas de base tecnológica que faturaram mais de R$ 1 bilhão em 2009 e empregam mais de cinco mil pessoas.
No Brasil, segundo o IBGE, as atividades industriais com as maiores taxas de inovação incluem os setores de automóveis, máquinas para escritório e equipamentos de informática, equipamentos médico-hospitalares e de automação industrial, além de refino de petróleo, material eletrônico, aparelhos de comunicação, produtos farmacêuticos, celulose e metalurgia. Para Carlos Alberto Miranda, sócio da Ernst&Young, há nichos que são obrigados a realizar investimentos em inovação, como o farmacêutico, de TI e biotecnologia. "Mas o varejo e o setor de serviços já aparecem como os novos investidores do segmento."
Segundo um estudo inédito realizado pela Ernst&Young Brasil com escolas de negócios do país - FGV, Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa e Fundação Instituto de Administração (FIA), além do Instituto Endeavor, mais de 300 projetos empreendedores em áreas como TI, indústria pesada, comércio, serviços e saúde serão gerados dentro das escolas, em 2010. Em três anos, pelo menos cem projetos foram apresentados em rodadas de negócios com a participação de fundos de investimento venture capital e angel investors (investidores-anjo). Para os especialistas, se há filas de novos empreendedores em busca de dinheiro, há também grupos interessados em investir em ideias inovadoras e rentáveis.
No Brasil, só em venture capital, segundo levantamento do professor Cláudio Furtado, do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da Eaesp-FGV, os recursos somam US$ 1,5 bilhão. Reunidos principalmente na Bahia, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo, os investidores-anjo garimpam empreendimentos inovadores dentro e fora das escolas, com aportes financeiros de R$ 50 mil a R$ 500 mil, por empresa. "Os grupos querem projetos sustentáveis com um bom plano de negócios, e as escolas de negócios costumam concentrar essas garantias."
Para se ter uma ideia, somente na FGV, que forma anualmente 520 alunos, cerca de 25% dos estudantes que concluíram cursos com disciplinas de empreendedorismo e desenvolvimento de planos de negócios tornaram-se empreendedores nos últimos dez anos. No Instituto Endeavor, de capacitação em empreendedorismo, o número de profissionais inscritos em cursos em 2010 saltou para 200, o dobro do ano passado.
Nas entidades de fomento à inovação, os orçamentos já estão definidos para 2010. A Fapesp pilota o Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe), que já apoiou, desde 1997, mais de 1,3 mil projetos de pesquisa em São Paulo. Segundo Carlos Henrique Cruz, diretor científico, em 2010, o programa oferece uma verba de R$ 30 milhões, mesmo valor do ano passado. "Para cada R$ 1 que a Fapesp investiu em um projeto do Pipe, a empresa beneficiada obteve R$ 11 em faturamento e recursos."




Inovação: Movimento é estimulado por legislação e recursos públicos
Mais parques tecnológicos começam a sair do papelCibelle Bouças, de São Paulo
19/10/2009
Sergio Risola, do Cietec: dezenas de projetos vão decolar num futuro próximo
Até o fim do ano, o município paulista de São Carlos presenciará a inauguração do primeiro parque tecnológico de terceira geração do país, que reúne condomínios empresariais e residenciais e áreas de lazer. O Parque Eco-Tecnológico Damha São Carlos, empreendimento do grupo Encalso que tem como gestor o Instituto Inova, receberá até a conclusão das obras de infraestrutura recursos da ordem de R$ 100 milhões. Os investimentos de empresas no parque estão estimados em R$ 500 milhões. O projeto contempla quatro condomínios empresariais, quatro condomínios residenciais, clube de golfe, duas pistas de equitação e área de preservação ambiental.
O Parque Damha levou quatro anos para sair da fase de projetos e tornar-se um empreendimento comercial. Como ele, outras iniciativas começam a ganhar corpo no país, favorecidas por mudanças na legislação de alguns municípios e por investimentos públicos e privados. O levantamento mais recente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) apontou a existência de 74 parques tecnológicos no país, sendo que 14 deles surgiram a partir de 2008. Desse total, 22 estão em operação, 19 se encontram na fase de implantação e 32 permanecem no estágio de projeto.
Como ocorre em países europeus, para deslanchar esses projetos normalmente necessitam de investimento inicial vindo do setor público. As empresas se associam em uma segunda fase, após a instalação da infraestrutura, observa o diretor-executivo do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) e membro do Comitê Gestor de Redes da Anprotec, Sergio Risola. "Na Europa, 70% dos projetos ficam estacionados na fase de estudo de viabilidade técnica e econômica. No Brasil, existe um prazo de maturação, mas seguramente dezenas vão decolar num futuro próximo", avalia Risola.
Em muitos casos, restrições na legislação municipal sobre zoneamento e uso do solo dificultam a instalação dos parques em um curto espaço de tempo. Outro empecilho apontado por Risola é que boa parte dos parques é construída em terrenos cedidos pelo poder público, mas a administração do parque é feita pelo setor privado. Em algumas regiões é necessário alterar a legislação para tornar possível a realização do projeto. Um levantamento da Anprotec revela a existência de 30 parques sem regularização fundiária e 39 sem licença ambiental para operar.
Mesmo na capital paulista, foi necessário um esforço conjunto do poder público para superar barreiras regulatórias, observa o secretário de Desenvolvimento do Estado, Geraldo Alckmin. Em dezembro de 2008, a prefeitura e o governo do Estado assinaram um protocolo de intenções para a criação de dois parques tecnológicos. O primeiro deles começa a ser instalado no Jaguaré, zona Oeste da cidade, onde funcionava o Museu de Ciência e Tecnologia.
A escolha deveu-se à proximidade com a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o Cietec. "Esse museu era pouco visitado. O que fizemos foi transferir o que havia lá para o Museu Educativo do Catavento, que recebe mais visitantes. E o parque tecnológico pode ser instalado em uma região que já concentra universidades e empresas de inovação", afirma Alckmin.
De acordo com o secretário de Desenvolvimento, existem no Estado sete parques com credenciamento provisório que nos próximos dois anos devem obter o aval definitivo: em São José dos Campos, São Carlos (dois), Piracicaba, São José do Rio Preto, Botucatu e Campinas. Nesta semana, o oitavo a obter o credenciamento provisório será o de Santos, que já possui uma área reservada não contínua de aproximadamente 200 mil metros quadrados e terá como setores âncora petróleo e gás, logística e tecnologia da informação. Um projeto para Barretos também deve receber aval neste ano, diz Alckmin
O Estado concentra o maior número de parques no país. De 74 elencados pela Anprotec, 10 se encontram em funcionamento e outros 10 em fase de projeto ou construção. A proliferação de projetos, segundo Alckmin, resulta em parte da criação de leis que incentivam a instalação desses empreendimentos e reduzem a carga tributária para empresas que pretendem investir nesses parques. No caso de São Paulo, as empresas podem usar o crédito de ICMS acumulado para investir nesses ambientes de negócios ou obter desconto na cobrança do tributo quando adquirir bens de capital para unidades instaladas nos parques.
Na região do ABC, um consórcio de sete municípios ainda não faz parte da lista de projetos credenciados pelo governo de São Paulo, mas acelera as negociações para construir seu parque já no próximo ano. O secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Diadema, Luis Paulo Bresciani, conta que a proposta começou a ser discutida no início da década, mas foi postergada devido a divergências entre os governos municipais.
A proposta do consórcio é criar um parque com áreas não contíguas, em um modelo mais próximo de um polo regional de tecnologia. "O mais viável é a criação de um conjunto de parques menores que se integram com as universidades e centros de tecnologia já instalados na região", afirma Bresciani. Segundo ele, além das montadoras, a Petrobras e a petroquímica Quattor já teriam sinalizado interesse em participar como empresas âncora no projeto. A meta do grupo é encaminhar a proposta ao governo do Estado ainda neste mês para implantar o primeiro núcleo tecnológico em 2010.
Risola considera que nas regiões onde há um esforço conjunto dos governos o tempo de instalação do parque é menor. Na avaliação do presidente do Instituto Inova, José Otávio Paschoal, esse é o caso do Parque Damha de São Carlos. "A prefeitura sempre foi parceira no projeto, então a legislação foi adaptada rapidamente", afirma. A demora de quatro anos, diz, deveu-se ao porte do projeto - 1 milhão de metros quadrados de área construída, das quais 460 mil foram concluídas. O parque já possui convênio com 22 instituições, uma incubadora, 16 empresas incubadas e outras 16 associadas.





Instituição gaúcha prepara-se para novo modeloSérgio Bueno, de Porto Alegre
03/07/2009
Maior agência de fomento do Brasil, com ativos totais de R$ 1,3 bilhão, sendo R$ 1,1 bilhão nas carteiras de crédito, a CaixaRS, do Rio Grande do Sul, já se prepara para ingressar nos novos segmentos liberados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a começar pela implantação de uma linha de arrendamento mercantil e, depois, com operações de câmbio. Os pedidos de autorização ao Banco Central devem ser encaminhados nos próximos meses, disse ontem o diretor de operações da instituição, Rogério de Wallau.
O executivo coordenou a elaboração da proposta técnica da Associação Brasileira de Bancos de Desenvolvimento (ABDE) que resultou na resolução aprovada pelo CMN. "Ainda estamos comemorando a notícia", afirmou. Segundo ele, a CaixaRS ainda não calculou o potencial de incremento das carteiras a partir da nova medida, mas a meta de crescimento anual de 10% reais deverá ser revista para cima. "É um novo dado para fazer parte do nosso planejamento estratégico".
A instituição pretende operar com linhas para pequenos negócios de pessoas físicas, como profissionais liberais, ampliando o alcance dos convênios que mantém com Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDL) e Associações Comerciais e Industriais (ACI) do Estado, voltados para pessoas jurídicas. Também vai propor um programa de cooperação com o catarinense Badesc para estimular empreendimentos na divisa entre os dois Estados, como pequenas centrais hidrelétricas, além de definir formas de entrar com participação acionária em empresas emergentes.
"Deveremos entrar com capital de risco, minoritário e temporário", disse o executivo. A estratégia será definida pela Secretaria do Desenvolvimento e Assuntos Internacionais do governo gaúcho, à qual a CaixaRS está vinculada. Para o diretor, a agência tem experiência no segmento porque já opera o Criatec, um fundo de capital semente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) voltado a empresas emergentes inovadoras com faturamento anual de até R$ 6 milhões.
No total, as linhas do BNDES correspondem a 90% das liberações de crédito da CaixaRS, que trabalha ainda com recursos próprios e da Caixa Econômica Federal, no caso de projetos de saneamento dos municípios. Para 2009 a previsão da instituição é liberar R$ 350 milhões em novos financiamentos, ante R$ 230 milhões em 2008, como consequência da cifra recorde de R$ 670 milhões em operações aprovadas no ano passado.
A indústria é a maior tomadora de empréstimos da agência, com participação de 60% sobre a carteira, seguida do agronegócio, com 20%, e do setor público municipal, com 15%. O restante divide-se entre comércio, serviço e infraestrutura. O valor médio dos financiamentos oscila entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões, mas alguns chegam a cerca de R$ 45 milhões. Criada por lei estadual em 1997, a CaixaRS opera desde 2002 como sucessora da extinta Caixa Econômica Estadual e tem patrimônio líquido de R$ 400 milhões.
"Nosso papel é induzir o desenvolvimento do Estado ajudando a modernizar setores tradicionais e atraindo investimentos em novos segmentos", disse Wallau. Segundo ele, três das quatro usinas de biodiesel do Estado, responsáveis por 24% da produção brasileira, foram financiadas pela CaixaRS. A agência também atuou com força na implantação de projetos nos setores florestal e madeireiro e dos parques tecnológicos da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), em Porto Alegre, e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo.




Inovação: Dos 74 pólos existentes no Brasil, 32 estão em fase de projeto
Parques tecnológicos ganham impulso no país
Gustavo Brigatto e Manuela Rahal, de São Paulo
17/12/2008
O Brasil ainda está longe de ter um Vale do Silício como os Estados Unidos, uma região onde se concentram as grandes empresas de tecnologia e de onde saíram gigantes empresariais como Hewlett-Packard, Apple e Google.
Mas no fim das contas, este pode nem ser o modelo ideal para o cenário brasileiro. Com 74 parques tecnológicos em todo o país e 520 empresas instaladas neles, é possível que vários pólos sejam criados, dando espaço o surgimento de inovações em áreas como tecnologia da informação, bioenergia, saúde, cinema e vídeo etc.
"O que falta é uma estratégia que estabeleça quais são as prioridades nacionais e regionais para a criação de novos pólos", diz José Eduardo Fiates, da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e autor do raio-x da situação dos parques tecnológicos brasileiros divulgado ontem pelo órgão.
O levantamento mostra que existem atualmente 25 pólos em operação, 17 em implantação e 32 na fase de projeto. O volume de investimentos necessário para a concretização dos projetos é de R$ 1,89 bilhão do setor público. Para ocupá-los, a projeção é de que a iniciativa privada teria de investir mais R$ 2,2 bilhões.
A maior parte dos parques tecnológicos (35) está localizada na região Sudeste. No Norte, são apenas 4. A geração de empregos estimada ultrapassa as 26,2 mil vagas, sendo 14,3 mil de nível superior e mais de 7 mil de pós-graduação.
O movimento de instalação dos parques intensificou-se a partir de 2005, com 49 iniciativas novas. Nos cinco anos anteriores, 25 parques saíram do papel. "Aconteceu um crescimento muito forte de incubadoras na década de 90, que gerou demanda por parte das empresas que deixaram este ambiente", diz Fiates. Outros dois fatores influenciaram o movimento: o aumento do crédito disponível para empresas nascentes e o movimento de manada. "Um prefeito ou reitor de uma universidade vê o outro fazendo e decide fazer também". Essa mobilização já gera receitas de R$ 1,68 bilhão, exportações de R$ 116,1 milhões e recolhimento de impostos de R$ 118,8 milhões.
O Parque Tecnológico Itaipu, instalado em Foz do Iguaçu e mantido pela hidrelétrica homônima, é um dos 'recém-nascidos'. Em atividade desde 2005, tem hoje 10 empresas em fase de incubação e duas em seu condomínio. Segundo Antônio Terna, gerente do espaço de desenvolvimento empresarial do parque, três universidades são parceiras no projeto, que tem capacidade para incubar 20 empresas. "Estamos trabalhando para criar uma cultura de empreendedorismo e inovação na região", diz Terna.
Mais consolidados, os parques da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), o TechnoPUC, e o da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Porto Digital, trabalham atualmente na expansão de suas atividades. No Porto Digital, a previsão é saltar dos 4 mil profissionais que criam software atualmente para cerca de 20 mil até 2020, diz Francisco Saboya, diretor do pólo.
Roberto Moschetta, diretor do TechnoPUC, conta que em outubro de 2009 o centro vai ocupar 42 mil metros quadrados e reunir 5 mil pessoas, com a inauguração de um novo prédio. Uma outra unidade, com 35 mil metros quadrados entrará em funcionamento mais adiante, ampliando a atuação do parque para cinema e vídeo.
O governo do Estado de São Paulo concedeu, ontem, R$ 16 milhões em incentivos fiscais aos pólos do estado, um programa chamado Pró-Parques. Com ele, as empresas poderão usar créditos de ICMS para suas atividades e os parques receberão apoio para ampliação de áreas e infra-estrutura. Também foi firmado acordo com a Prefeitura de São Paulo para a criação de parques nas zonas Oeste e Leste da capital.




Inovação: País já tem 57 parques tecnológicos, 80% no Sul e no Sudeste
Eles crescem à sombra das grandes universidades
Jacílio Saraiva, para o Valor, de Aracaju
29/09/2008
Geciane Porto: centro de Ribeirão Preto vai ter foco na área médica
Entre unidades em operação, em implantação e em desenvolvimento, o Brasil tem 57 parques tecnológicos. Cerca de 80% deles estão nas regiões Sul e Sudeste, faturam R$ 1,2 bilhão por ano e abrigam 350 empresas - 90% são pequenas e médias companhias. Do total faturado, R$ 200 milhões são obtidos com a exportação de produtos. Quem tem esses dados é José Eduardo Fiates, conselheiro da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), que realizou, junto com o Sebrae, o XVIII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, encerrado na semana passada, em Aracaju (SE).
"Os parques são como shopping centers do conhecimento, com empresas no lugar de lojas e um ambiente favorável para fazer pesquisas e negócios", compara. Fiates é o idealizador da pesquisa Parques Tecnológicos no Brasil-Estudo, Análise e Proposições, realizada com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial-ABDI.
O levantamento fez uma estimativa dos investimentos necessários para fazer dos parques brasileiros verdadeiros oásis para o desenvolvimento de produtos inovadores. Para Fiates, o valor médio de aportes públicos para a implantação de um centro com 40 companhias é de R$ 32,5 milhões, em cinco anos. Cada unidade pode gerar 7,5 mil empregos e mais de R$ 300 milhões em receita, no mesmo período.
"Do total de parques nacionais, cerca de 20 têm potencial de copiar, em cinco anos, o mesmo estágio de excelência de unidades internacionais", diz ele. Para fazer a pesquisa, Fiates visitou centros tecnológicos modelos em Taiwan e na Finlândia e garante que a média de exportação de um único complexo taiwanese chega a US$ 16 bilhões por ano, enquanto todos os empreendimentos brasileiros exportam, juntos, US$ 200 milhões. "O Brasil precisa de uma estratégia para desenvolver melhor os parques que têm e os que ainda vão surgir," diz ele.
Esse setor não pára de crescer. Prova disso são novas unidades e ampliações de operações em São Paulo, Pará e Sergipe, que aproveitam a proximidade com universidades locais e a vocação econômica das regiões para fortalecer projetos de pesquisa.
O Parque Tecnológico de Ribeirão Preto (SP), previsto para sair do papel em 2009, quer se destacar em pesquisas na área médica e odontológica e deve receber 50 empresas. Com 1,1 milhão de metros quadrados, o empreendimento, avaliado em R$ 151 milhões, será construído ao lado do campus da Universidade de São Paulo-USP, de Ribeirão Preto, reconhecida pelos cursos na área da saúde.
"A região já abriga mais de 40 companhias de equipamentos médicos", diz Geciane Porto, diretora-presidente da Fundação Instituto Pólo Avançado da Saúde de Ribeirão Preto-Fipase, uma das gestoras do projeto.
Criado em 2003, o Sergipe Parque Tecnológico-SergipeTec, em São Cristóvão (SE), tem 141 mil metros quadrados e uma infra-estrutura que custou R$ 12 milhões. Vizinho da Universidade Federal de Sergipe-UFS, pesquisas biotecnologia, TI e energia.
No setor de biotecnologia, o foco é o agronegócio, com ênfase na fruticultura. Na área de tecnologia, os pesquisadores querem desenvolver softwares para a gestão pública. "Já os estudos em energia vão privilegiar fontes renováveis, petróleo e gás", afirma José Teófilo de Miranda, diretor-presidente do SergipeTec, que conta com 23 empresas.
O interesse do parque sergipano em energia é porque o Estado é o quarto produtor nacional de petróleo, tem o maior campo em terra e mais de 20 plataformas no seu litoral. O centro tecnológico vai ser usado como suporte ao Programa de Biodiesel de Sergipe, que pretende delimitar mais de 50 mil hectares de plantação de oleaginosas e erguer uma usina esmagadora de grãos com distribuição regional.
Quatro mil agricultores familiares estão envolvidos no tratamento de sementes de girassol, com remessas garantidas para a usina de Candeias (BA). Ao longo dos próximos três anos, o programa deve gastar R$ 13 milhões em pesquisas.
O parque sergipano também vai sediar uma biofábrica, a primeira do Estado, numa área de 3,6 mil metros quadrados e R$ 2,1 milhões em investimentos. A unidade, prevista para funcionar a partir do final deste ano, promete entregar, em um ano, 250 mil mudas de abacaxi e banana mais resistentes às pragas agrícolas. Uma outra fábrica vai criar inimigos naturais para o combate de pestes na citricultura e nas plantações de cana-de-açúcar.
Há duas semanas, na região metropolitana de Belém (PA), ao lado do campus da Universidade Federal do Pará-Ufpa, foi lançada a pedra inaugural do Parque de Ciência e Tecnologia de Guamá, com 72 hectares de área. O centro de pesquisa deve estar pronto em 2010 e aposta em estudos de TI, energia, tecnologia do alumínio e biotecnologia - de olho na biodiversidade amazônica.
A Vale e a Eletronorte, além do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais-Inpe, já garantiram lotes no parque. O investimento em infra-estrutura chega a R$ 46 milhões, com recursos da Ufpa, governo do Pará e BNDES.
"A expectativa é receber até 200 empresas e 20% delas já estarão aqui no primeiro ano de funcionamento", promete Elane Ribeiro, coordenadora de incubadoras de empreendimentos e parques tecnológicos do governo paraense. O centro, o primeiro do gênero na região Norte, também vai ter oito laboratórios de desenvolvimento dirigidos por professores de universidades federais da região - mas não será o único. Marabá e Santarém devem ganhar seus próprios centros de pesquisa nos próximos dois anos.





Experiências no exterior funcionam como inspiraçãoDe São Paulo 29/09/2008
Experiências bem-sucedidas no exterior podem inspirar os parques tecnológicos brasileiros a criar novas estratégias de gestão e geração de conhecimento. Segundo pesquisa realizada pela Associação Internacional de Parques Tecnológicos-Iasp com 276 complexos, 67,8% mantêm algum tipo de rede para a transferência de tecnologias. Atualmente, existem 1,2 mil centros tecnológicos no mundo.
"Do total pesquisado, quase 90% afirma que as empresas abrigadas nos parques também participam de algum tipo de rede de conhecimento", afirma Paulo Miranda, diretor de projetos da Iasp. A entidade, sediada em Málaga, Espanha, reúne mais de 300 parques de 81 países.
No Brasil, um dos principais desafios é vencer a dependência de recursos públicos. "Temos que sintonizar as linhas de pesquisa com prioridades regionais, nacionais e internacionais e contar com aportes regulares", analisa José Eduardo Fiates, conselheiro da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores-Anprotec.
A França dividiu o país conforme regiões de desenvolvimento e pólos de inovação já existentes para facilitar o ingresso de empresas e investidores locais e estrangeiros. Foram eleitas seis áreas principais e 20 zonas com potencial de investimento. "Isso ajuda os empresários a saber onde montar um negócio com chances de crescimento e retorno financeiro", diz Fiates.
No Reino Unido, a National Industrial Symbiosis Programme-Nisp (Programa Nacional de Simbiose Industrial) facilita a troca de experiências e negócios entre empresas de diversos setores e tamanhos - sem cobrar nada. "80% dos participantes da rede são companhias de pequeno porte", diz Paul Knuckle, gerente de desenvolvimento comercial da entidade de dez mil membros, criada em 2005, e que mantém corporações como Shell e NEC como consultores.
Segundo o executivo, ao entrar na rede, a empresa informa o que oferece e o que gostaria de obter e o Nisp realiza o intercâmbio entre as companhias. "A simbiose industrial entre as organizações sempre alavancou a inovação tecnológica", garante Knuckle, que constatou que 75% das parcerias realizadas geraram algum serviço ou produto inovador.
Financiado pelo governo inglês e por agências de desenvolvimento, o programa conseguiu espalhar 12 centros regionais no país. Entre 2005 e 2008, ações da rede conseguiram aumento de R$ 393 milhões nas vendas das empresas e ainda geraram mil novos postos de trabalho.
Até o final do ano, o Nisp desembarca no Brasil: vai ensinar sua metodologia de permutas empresariais para empresas de Minas Gerais. A criação da rede deve durar oito meses. A África do Sul e a Índia também estão na mira do programa, que já está presente na China e México. No Brasil, a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba-PaqTcPB, em Campina Grande, a 120 km de João Pessoa, também investe na troca de experiências e de conhecimentos entre os negócios incubados no complexo.
Considerado o mais antigo parque do país, inaugurado em 1984, já colocou no mercado mais de 60 novas companhias. Recentemente, a área de cinco hectares ganhou mais três hectares - e 18 galpões industriais construídos nos anos 1920 serão reformados para sediar cerca de 20 empresas.
"Companhias como a Nokia, Accenture e a CPM Braxis já reservaram espaço na área, que vai receber R$ 15 milhões de investimentos e abrir 450 postos de trabalho nos primeiros 90 dias de ocupação", afirma Francilene Garcia, diretora do PaqTcPB. "O próximo passo é trazer para os galpões fundos de investimentos e diminuir a distância entre empresários e investidores". (J.S.)




Tecnologia: Porto Digital já está entre os quatro melhores do mundo
No Recife, um parque que virou referênciaEdiane Tiago, para o Valor, de São Paulo 29/09/2008
Alcides Pires, da MidiaVox: mudança da empresa para o Porto Digital deu mais credibilidade e garantiu também troca permanente de conhecimento
A articulação entre academia, governo e iniciativa privada marcou a criação do Porto Digital em Recife. Em uma área de 100 hectares, cabeados com 8 quilômetros de fibra ótica, o parque tecnológico abriga atualmente 117 empresas e 2 incubadoras. Juntas elas são responsáveis pela geração de 4 mil empregos e contribuem com 3,6 % do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado do Pernambuco, o que significa receita anual média na casa dos R$ 800 milhões. De quebra, o projeto, que obteve investimento inicial de R$ 33 milhões, revitalizou o histórico bairro do Recife e criou um ambiente propício ao desenvolvimento de softwares e à riqueza intelectual.
O objetivo inicial era criar empregos qualificados, produzir conhecimento local e exportar serviços com valor agregado para o mundo. Com oito anos de existência, o Porto Digital foi muito além de sua proposta e hoje está listado na publicação Learning By Sharing, editada pela International Association of Science Parks (IASP), entre os quatro parques tecnológicos que podem ser considerados referência mundial. Com o projeto pernambucano, o Brasil divide o topo do ranking com o Reino Unido (parque de Manchester), Índia (parque de Andhra Pradesh) e Espanha (parque de Andaluzia). "Somos o maior parque tecnológico do país e um exemplo de como uma política pública bem gerida pode dar certo", afirma Aurélio Molina, diretor de inovação e competitividade empresarial da instituição.
A composição do chamado Arranjo Produtivo Local, ou APL, de Recife revela o poder de inclusão do parque tecnológico. Das 117 empresas instaladas, 49% são microempresas, 40% empresas de pequeno porte e 11% podem ser classificadas como médias e grandes. Entre as gigantes da tecnologia que embarcaram no projeto estão IBM, Motorola, Samsung, Nokia, Dell e Microsoft que, junto com as empresas do pólo, pesquisam e desenvolvem soluções. "Vendemos 70% da produção de softwares para outros estados e já temos sete empresas que exportam seus produtos", afirma Molina.
Ele admite que o volume exportado ainda é pequeno para o potencial do parque. "Este é um grande desafio. Nossa meta é aumentar as vendas para o mercado internacional", garante. Para isso, além de incrementar a exportação de empresas que já estão no parque, o Porto Digital ampliou a sua capacidade para atrair empreendimentos e dispõe de 18 mil metros quadrados para a instalação de novas empresas. "Nossa meta é gerar 10% do PIB pernambucano. Temos de fomentar mais negócios", avisa o diretor.
Para quem quer se instalar, além do ambiente propício aos negócios na área de tecnologia, o Porto oferece incentivo fiscal. A prefeitura municipal concedeu, a partir de 2007, um desconto no Imposto Sobre Serviços (ISS), que foi reduzido de 5% para 2% na área do parque. Além disso, Molina destaca a farta mão-de-obra especializada que circula todos os dias no bairro. No Porto Digital, 88% dos profissionais possuem nível universitário e 46% deles têm até 25 anos. Com salários médios na faixa de R$ 2.500, a região atrai os alunos das melhores universidades do Nordeste. "Pernambuco tem uma tradição no desenvolvimento de softwares e nossas bases estão em importantes centros como o da Universidade Federal", comenta.
Outra atratividade está nas linhas de financiamento disponíveis. O Porto Digital dá apoio técnico às empresas em editais que podem trazer investimentos para seus negócios. Um exemplo é o projeto primeira empresa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Por meio dele, a entidade coloca à disposição R$ 120 mil, não reembolsáveis, para quem pretende iniciar o negócio. Em uma segunda etapa, a Finep emprestará às empresas que forem selecionadas no programa mais R$ 120 mil a juros zero, em 100 parcelas iguais. O dinheiro está disponível para 1,8 mil empresas brasileiras e a equipe do porto quer atrair novos negócios com essa linha. Para isso, fez uma parceria com a incubadora de empresa do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), entidade selecionada pela financiadora para operar o programa no Estado. "Quando o assunto é inovação, há capital disponível, o que falta é conhecimento para apresentar um bom plano de negócios", ensina.
Para incrementar o orçamento de empresas já existentes, a entidade também orienta nos casos de pedidos de financiamento para o BNDES, que possui um fundo de investimentos de capital semente, destinado a empresas emergentes inovadoras. Por meio dele, é possível conseguir até R$ 1,5 milhão. Quem pretende financiar projetos específicos de pesquisa, desenvolvimento e inovação conta ainda com o programa de investimento conduzido pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado do Pernambuco (Facepe), que investe, por meio de subvenção econômica, em projetos que vão de R$ 100 mil a R$ 400 mil.
Uma empresa vinculada ao parque tecnológico ganha destaque, um status especial entre as demais empresas embarcadas. Ela mostra que pertence a um centro de excelência em desenvolvimento de produtos. "O nome do Porto Digital correu o mundo e a simples apresentação do selo da entidade dá uma valorização aos negócios", afirma Molina. Ele lembra que as empresas também contam com apoio da equipe de marketing e de comunicação social para divulgar seus produtos. "Somos uma comunidade."
O fomento aos negócios conta com o apoio do Sebrae e de agências como o Softex Recife, cuja finalidade é facilitar as exportações de software brasileiro, com apoio técnico em articulações. No pólo também se concentram instituições como o Banco do Nordeste e o escritório de promoção de investimentos e tecnologia do Recife (ITPO Recife). "Estamos todos no mesmo ambiente. Marcar uma reunião é muito fácil e o clima de cooperação facilita os negócios", finaliza Molina.




Desenvolvimento: Objetivo é ajudar a pequena empresa a atingir maioridade financeira e produtiva
SergipeTec quer ser pólo referencial de pesquisa e inovação
Françoise Terzian 29/04/2008
Jorge Santana: "TI demanda menos investimentos que a indústria tradicional, e gera riqueza para a economia local"
O SergipeTec - Parque Tecnológico de Sergipe - é uma das grandes prioridades do governo local e também sua principal arma para colocar o Estado na rota da tecnologia de ponta. Até agora, Sergipe era visto não só como o menor Estado do país, mas também como um ponto inexpressivo do mapa nacional na produção de pesquisa e desenvolvimento de projetos nas áreas de Tecnologia da Informação (TI - softwares e serviços de informática), energia (petróleo, gás e energias renováveis) e biotecnologia (tecnologia de organismos vivos). O Estado também padece da ausência de uma empresa de grande porte originalmente sergipana e com forte know-how em um desses três setores. Esse cenário, no entanto, tende a mudar.
Em plena fase de amadurecimento e ampliação, o SergipeTec tem uma meta agressiva: ajudar as pequenas empresas hoje instaladas em seu espaço físico a atingir a maioridade financeira e produtiva. A idéia é incentivá-las a alcançarem o faturamento de R$ 1 milhão, exportarem, tornarem-se representativas no PIB estadual e seguirem em franco crescimento. A atuação do parque nessas três áreas chaves está diretamente ligada à política de desenvolvimento econômico do Estado. Até 2010, o SergipeTec quer tornar-se referência nacional como pólo de inovação tecnológica com responsabilidade socioambiental.
Operando há cinco anos, o SergipeTec nasceu da preocupação de se trabalhar o desenvolvimento tecnológico no Estado. A idéia inicial era fazer um parque tecnológico monotemático na área de TI para alavancar o setor na região e também qualificar mais cabeças, o que resultou na criação de uma primeira incubadora por volta do ano 2000. "TI demanda menos investimentos que a indústria tradicional, independe de rodovia e ferrovia, e pode gerar muitas riquezas à população e à economia local", afirma Jorge Santana, secretário estadual de desenvolvimento econômico, ciência e tecnologia. Por outro lado, há o desafio da constante formação de mão-de-obra, questão que tem levado as instituições de ensino da região a se revitalizarem e também buscarem a interiorização.
Hoje, o SergipeTec é uma associação privada sem fins lucrativos, baseada em modelo internacional de parques tecnológicos. Ela abriga pouco mais de 20 empresas da área de TI, três incubadoras de empresas e 10 instituições de fomento e pesquisa, gerando mais de 300 empregos diretos e um faturamento em torno de R$ 6 milhões por ano. Em busca de crescimento e da atração de novas empresas, o SergipeTec muda de sede no próximo ano.
O parque vai ocupar um lugar fisicamente maior e estratégico: uma área de 141 mil metros quadrados cedida pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), em São Cristóvão, dentro do próprio campus. Lá, o parque poderá permanecer no local por 30 anos renováveis. Para Ângela Maria de Souza, diretora de tecnologia do SergipeTec, o novo local possibilitará uma total integração entre o ambiente acadêmico e empresarial, com direito à construção de laboratórios de informática, biotecnologia e energias renováveis e fósseis.
Para tanto, irá consumir investimentos da ordem de R$ 30 milhões em infra-estrutura e novos projetos nos próximos quatro anos. Boa parte desse valor virá de recursos públicos federais. Em dois anos, a nova sede deverá abrigar o triplo das empresas que abriga hoje. Ela irá saltar de 20 para 60 negócios, devendo gerar mil empregos e exportar uma parte considerável dos softwares produzidos. Espera-se que, com a proximidade física do parque com a universidade, o desenvolvimento de projetos casados seja favorecido. "Fazemos o trabalho de santo casamenteiro entre a iniciativa privada, as universidades e o governo", diz Angela.
O SergipeTec espelha-se em alguns parques tecnológicos de sucesso ao redor do país, como o Porto Digital, de Recife; o Pólo Bio-Rio, do Rio de Janeiro; o Pólo de Biotecnologia de Belo Horizonte; e o Tecno-PUC, em Porto Alegre.
Atualmente, o parque tem um quadro próprio de 77 funcionários e demanda R$ 2 milhões anuais para pagar despesas e bancar projetos. Cerca de 90% de seu custeio vêm do governo do Estado. O restante é proveniente de projetos bancados por empresas privadas. O problema mais crítico do SergipeTec é garantir recursos para pagar contas. Apesar da forte conexão com o governo, Angela afirma que o parque é administrado de forma independente.
O SergipeTec tem, neste momento, cinco projetos em andamento e sete em fase de formulação, captação de recursos e planejamento. Um deles tem por intuito dar auto-suficiência ao Estado na produção de biodiesel. O núcleo de energia do parque está coordenando grupos de trabalho que realizam pesquisas e elaboram propostas para o Estado começar a produzir seu biodiesel. A produção teria como matéria-prima diversas oleaginosas como mamona, amendoim, soja, dendê e andiroba. O girassol é um item que também desponta por se adaptar bem ao clima do Sergipe, podendo ser cultivado em praticamente todo o Estado.
Uma das empresas que participam do SergipeTec é a Pyxis Tecnologia, especializada no desenvolvimento e na integração de soluções informatizadas para organizações públicas e privadas. Foi criada em 2003, com o objetivo de atuar no segmento nas regiões Nordeste e Norte. Ela surgiu da possibilidade de atender dois órgãos da administração pública estadual: a Companhia de Habitação e Obras Públicas de Sergipe e a Companhia de Saneamento de Sergipe. Elas precisavam gerenciar eletronicamente documentos técnicos de engenharia. As estatais, no entanto, não tinham profissionais qualificados para desenvolver um software com essa funcionalidade. A Pyxis, então, entrou na história.
Com quatro sócios - três com formação em TI e um em administração -, a Pyxis hoje desenvolve e implanta sistemas integrados de gestão. Seu objetivo é atingir a excelência na gestão de projetos de desenvolvimento de sistemas e aumentar a carteira de usuários do seu sistema de gestão empresarial. Estar dentro do SergipeTec a ajuda nesta missão. Lá, Guilherme Almeida, diretor-executivo da Pyxis, diz que foi criado um ambiente de desenvolvimento tecnológico juntamente com a academia, gerando uma sinergia entre as empresas com competências complementares.





Parque tecnológico de Salvador abre em 2009De São Paulo14/11/2007
Para não perder a tradição de pólo brasileiro de tecnologia, a Bahia resolveu participar de uma corrida contra o tempo. A meta é atender a 8% do PIB de tecnologia da informação do Brasil. Hoje, essa taxa está em 4%. A estratégia inclui a criação de 20 mil empregos na base da pirâmide, para analistas e programadores, e investimentos na formação acadêmica.
Para isso, até o currículo dos cursos universitários de informática deve ser alterado. Em 2009, será inaugurado ainda um parque tecnológico, em Salvador, numa área de um milhão de metros quadrados, avaliado em R$ 100 milhões.
"Precisamos investir na qualificação profissional para aproveitar oportunidades a curto prazo, como o atendimento a demandas globais de serviços off-shore, já explorados na Índia e China", diz Álvaro dos Santos, gestor de TI da Casa Civil do governo da Bahia. Há planos também de fortalecer a entrega de soluções para pequenas empresas e cadeias produtivas das áreas de metal-mecânica e agroindústria.
Nessa linha, o governo pretende centrar fogo no empreendedorismo e na formação acadêmica. A qualificação dos recursos humanos na área de TI deve acontecer com o aumento dos cursos de mestrado e doutorado. "Enquanto isso, para atender à demanda de serviços de off-shore será preciso formar 20 mil técnicos de nível médio e oito mil analistas de nível superior nos próximos quatro anos", diz Adhvan Furtado, da área de gestão de TI da Casa Civil.
O mutirão de treinamento inclui cursos em linguagens de computador como Java, Cobol e .Net, além de inglês técnico. "Estamos fazendo um teste com essa metodologia, com 100 alunos de quatro escolas de Salvador." Na Bahia, 117 mil jovens recebem diplomas de nível médio, por ano.
Nas universidades baianas, somente nos últimos três anos, 17 novos cursos de TI foram criados. Ao todo, 8,1 mil alunos estão matriculados em 44 cursos de graduação. Mas por conta da evasão escolar, apenas mil profissionais se formam todo ano, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, ligado ao Ministério da Educação. "Montamos uma agenda de reuniões com as instituições de ensino para adaptar os currículos às necessidades das empresas".
Outra frente aberta pelo governo é o apoio à inovação tecnológica e atração de empresas de TI. Segundo Furtado, o Estado possui um potencial de captação de recursos e projetos superior a R$ 50 milhões, principalmente por conta dos incentivos da lei estadual de informática, criada em 1995.
"Somente o Pólo de Informática de Ilhéus tem capacidade de investimento superior a R$ 7 milhões para o Nordeste." O conglomerado de tecnologia, com 74 empresas, gera mais de 1,6 mil empregos e tem 20% de participação no mercado nacional de microinformática. Na ponta do lápis, todo o setor de TI da Bahia representa 40% da receita do segmento, no Nordeste.
Esse número deve crescer a partir de 2009, com a inauguração da Tecnovia-Parque Tecnológico de Salvador, na Avenida Paralela, a cinco quilômetros do aeroporto da capital. Além dos R$ 100 milhões previstos, há ainda uma negociação com um investidor privado, que entraria com outros R$ 65 milhões.
São esperadas 30 empresas e cinco instituições de pesquisa no primeiro ano de funcionamento. Para atrair mais companhias, o governo vai oferecer isenção de IPTU e redução de ISS e ICMS. "Organizações como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), IBM, CPM Braxis e Petrobras demonstraram interesse na iniciativa", diz Horácio Hastenreiter, gerente do parque tecnológico.
Baseado em uma área de mata atlântica com um milhão de metros quadrados e 150 mil metros quadrados de área construída na primeira fase, o empreendimento é inspirado no desenho de outros parques tecnológicos, como o americano Research Triangle Park, na Carolina do Norte.
"A idéia é ter laboratórios conjuntos e espaço para spin-offs de empresas incubadas". Além de TI, o local quer projetos de biotecnologia, saúde e energia. (J.S.)




Inovação: Cinco cidades paulistas começam a atrair gigantes de tecnologia para criar parques tecnológicos
SP quer ser o Vale do Silício brasileiro
André Borges26/09/2006
Quando a Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA), decidiu fazer das terras desocupadas em seu entorno um atrativo para a formação de um pólo industrial, nos idos de 1940, basicamente o que se buscava era a concentração de professores de alto gabarito para a escola. O que estava prestes a nascer, porém, logo se mostraria bem mais complexo e que uma mera ampliação de excelência acadêmica.
De maneira quase natural, brotava em solo californiano o que a partir dos anos 70 passaria a ser conhecido com o Vale de Silício, o berço da indústria de semicondutores e da alta tecnologia que transformaria completamente aquele espaço urbano e consolidaria a região como o maior ícone de inovação dos Estados Unidos. Hoje, mais de seis décadas depois, 13 das 20 cidades americanas consideradas as mais criativas daquele país estão na Califórnia. Dessas, dez ficam no Vale do Silício.
É com um viés menos natural e mais induzido que cinco cidades paulistas estão se mexendo para criar um eixo de alta tecnologia no Estado. Desde julho do ano passado, os municípios de Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos e São José dos Campos, além da capital paulista, correm para dar impulso ao que pretende ser o "Vale do Silício paulista".
Assim como na experiência americana, pesou na escolha das cidades o ambiente acadêmico que já possuem. Dados da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo apontam que, em 2003, a capital paulista foi responsável pela formação de 2.141 PhDs; Campinas teve 771 pesquisadores; São Carlos, 310; Ribeirão Preto, 211; e São Jose, 60.
Além do potencial científico, também foram levados em conta o ambiente industrial já instalado e as especialidades tecnológicas de cada região, afirma o secretário adjunto de ciência e tecnologia do Estado, Sérgio Robles Reis de Queiroz. Em São José dos Campos, as competências caminham para o setor aeroespacial, ao lado da biomedicina e da logística. A instrumentação agropecuária, biotecnologia e mecânica fina passam por São Carlos. Em Ribeirão Preto, as inovações estão mais ligadas às áreas de saúde e biotecnologia, enquanto Campinas se mostra mais inclinada para a tecnologias da informação, assim como a capital paulista.
Para viabilizar o projeto, o governo do Estado reservou um orçamento de R$ 11 milhões, mas apenas R$ 6 milhões foram liberados. Os demais R$ 5 milhões, comenta Queiroz, acabaram contingenciados. A iniciativa, explica ele, prevê a contrapartida das prefeituras e das empresas interessadas em entrar nos parques de tecnologia, o que já aconteceu em São Carlos (veja nesta página).
O secretário admite que o recurso atual é pequeno, e acredita que outros R$ 90 milhões tenham que ser reservados pelo Estado para dar impulso ao projeto em 2007. "O importante neste momento é consolidar cada proposta, ter um plano de negócios em cada região", diz.
O Brasil não está sozinho nessa corrida pelos parques de inovação. Segundo o diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, João Steiner, atualmente a China conta com 64 parques tecnológicos, os Estados Unidos têm 81 e Israel trabalha com 27 instalações baseadas no mesmo modelo. "Até a Espanha, que hoje tem 25 parques, vai criar mais 50 centros de inovação", comenta.
No Brasil, justifica, atualmente há dezenas de iniciativas similares, mas nenhuma que se atenha ao modelo agora proposto. Um parque tecnológico, explica Steiner, tem que reunir fatores básicos em um mesmo ambiente, entre estes a instalação de empresas orientadas a nichos específicos de inovação, fortes instituições de ensino, área para moradia de funcionários e serviços comuns de bens de consumo. Além disso, o que se busca nestes pólos são "companhias âncoras" de grande porte, as quais orientarão as demais empresas a serem instaladas no local, gerando um ecossistema de inovação.
"Não se trata de um simples empreendimento imobiliário", garante Steiner. "Há um projeto por trás da iniciativa, por isso cada um dos parques conta com um comitê gestor, que define as diretrizes e o perfil empresarial que deve ser seguido."
Ao reunir ciência e mercado em um mesmo ambiente físico, os parques tecnológicos também procuram trazer mais equilíbrio à balança do conhecimento do país. Hoje o desafio não é apenas ampliar o volume de cientistas. "Temos que reorientar as áreas de atuação desse conhecimento", diz Steiner, que também é o coordenador do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos.
Enquanto nos Estados Unidos 70% dos pesquisadores estão na indústria, contra 15% na academia e os demais 15% no governo, no Brasil a situação praticamente se inverte. Quase 75% dos doutores formados trabalham dentro de universidades, apenas 20% está na indústria e 5% no setor público.
"Os países perceberam que não basta contar com arranjos produtivos naturais, como já acontece em algumas cidades do Brasil. É preciso incentivar a criação de parques especializados", diz o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, que também acredita na possibilidade de o modelo se espalhar por outros Estados, como Rio Grande do Sul e Pernambuco.
Para além da tarefa de atrair grandes multinacionais, brasileiras ou não, os parques tecnológicos querem dar espaço para pequenos e médios empreendedores. Foi com a inspiração de ambientes dessa natureza que, em 1937, os engenheiros Bill Hewlett e David Packard começaram a trabalhar em uma pequena garagem, na cidade de Palo Alto, Califórnia. A idéia dos fundadores da HP era criar um oscilador de áudio. Eis o que criaram.





Pesquisa: Prime vai contemplar 5,4 mil empresas com grande potencial de crescimento e diferencial competitivo
Um senhor patrocínio para a inovação
Genilson Cezar 30/06/2008
Guilherme Ary Plonski, da Anprotec: novo programa vai provocar um reposicionamento do movimento de incubadoras e parques tecnológicos no país
Um ambicioso programa de incentivos governamentais, no valor de R$ 1,3 bilhão, pretende transformar, em curto prazo, o cenário da incubação de empresas inovadoras no Brasil. Trata-se do Prime - Programa Primeira Empresa Inovadora, lançado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e sua agência Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em parceria com 18 incubadoras-âncora de todo o país, com objetivo de fomentar o desenvolvimento de empresas nascentes de base tecnológica. Até 2011, informa Eduardo Costa, diretor de inovação da Finep, o Prime deverá contemplar 5,4 mil empresas com grande potencial de crescimento e que apostem no diferencial inovador como estratégia de competitividade.
Não é pouco. Nos últimos 20 anos de atividade de empreendedorismo no país, foram criadas cerca de 400 incubadoras que articularam a formação de aproximadamente 6,3 mil empresas, com mais de 33 mil postos de trabalho e um faturamento anual em torno de R$ 2 bilhões (veja tabela). "São números já bastantes expressivos, mas que precisam ser incrementados tendo em conta as responsabilidade e oportunidades que o Brasil tem hoje com vistas a se inserir rapidamente na chamada sociedade do conhecimento", avalia Guilherme Ary Plonski, presidente da Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).
Segundo ele, o Prime vai mudar o panorama da inovação e do empreendedorismo de pequenas empresas no país, e dá continuidade ao trabalho de parceria que vem sendo realizado ao longo dos últimos 20 anos com várias entidades governamentais e privadas, como MCT, Finep, Sebrae e CNPq, entre outras, no sentido de estimular iniciativas inovadoras. "Para se ter uma idéia do que o Prime vai representar como agente de mudança, basta dizer que ao longo das ultimas duas décadas, os recursos públicos ou de entidades parceiras aplicados nas incubadoras e parques foram de aproximadamente R$ 150 milhões, o que representou cerca de 40% do custo total, em torno de R$ 430 milhões", diz Plonski.
O Prime consta do Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional, o chamado PAC da Ciência, lançado em novembro do ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prevendo investimentos de R$ 41 bilhões em pesquisas e capacitação científica até 2010. "O programa demonstra a capacidade da Finep de muito rapidamente começar a implementar essa proposta", assinala o presidente da Anprotec.
No primeiro edital, anunciado em Brasília, no dia 26 de junho, o Prime torna disponível às empresas inovadoras R$ 216 milhões, verba que será repassada pelas incubadoras-âncoras encarregadas pela seleção dos empreendimentos. A empresa beneficiada pelo Prime terá o seu projeto apoiado por duas modalidades de financiamento operadas pela Finep. O valor total do financiamento será da ordem de R$ 240 mil por empresa. Esses recursos serão liberados em dois anos, sendo que a primeira parcela, de R$ 120 mil, virá do Programa de Subvenção Econômica à Inovação. Nessa modalidade, o financiamento é não reembolsável. Já a segunda e última parcela utilizará recursos do Programa Juro Zero, que prevê a devolução do empréstimo em 100 vezes sem juros. Os primeiros R$ 120 mil serão repassados em forma de subvenção econômica não reembolsáveis e, por isso, estarão livres de taxação. Esses recursos poderão ser utilizados para contratação de técnicos, administradores e consultores.
Segundo Gina Paladino, superintendente da área de pequenas empresas inovadoras, o Prime vai patrocinar pelo menos três rodadas de editais entre 2008 e 2010 (com execução até 2011). "Nossa meta é o desenvolvimento regional, a inovação tecnológica e a ascensão das pequenas empresas no país", diz ela.
Para Costa, da Finep, o Prime vai preencher um vácuo muito grande que havia entre o surgimento das idéias de empreendimentos dentro das universidades e a efetiva constituição de empresas e sua sobrevida por muito tempo. "A idéia desse programa é ser um grande alimentador da cadeia de geração de empresas inovadoras no Brasil. Queremos transformar as idéias dos jovens profissionais que saem das universidades em bons negócios, em empresas de sucesso", afirma ele.
Mais do que tudo, segundo Plonski, da Anprotec, o novo programa vai provocar um reposicionamento do movimento de incubadoras e parques tecnológicos, na medida em que as incubadoras funcionarão como âncoras de pequenas redes de incubação em várias regiões do país. "Haverá uma mudança no próprio papel das incubadoras, pois elas passarão a cuidar não somente das empresas que estão fisicamente dentro dos ambientes de incubação, como também usarão toda a sua competência para desenvolver e apoiar empresas que estão fora desses centros", conta ele.
De maneira geral, o programa não estabelece restrições à seleção de empresas para incubação de qualquer segmento de atividade. Pesquisa realizada anualmente pela Anprotec mostra que nos últimos anos os projetos das incubadoras setoriais foram dirigidos basicamente para o setor de informática. Mas, a Finep aposta agora numa tendência de maior concentração dos projetos nas áreas de biotecnologia, novos materiais, equipamentos médicos, entre outros. O programa, porém, é aberto para empresas inovadoras em geral, tanto podem ser empresas de tecnologia, como também do setor de calçados, por exemplo. "Empresas de base tecnológica são todas inovadoras, mas pode haver empresas inovadoras que não sejam de base tecnológica, que pertençam ao setor tradicional, como indústrias de couro vegetal", afirma Costa.





Parceria com multinacional é essencial para projetos
De São Paulo26/09/2006
O sucesso da inovação brasileira depende, fundamentalmente, de acordos com multinacionais. A opinião é do diretor da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), Flavio Grynszpan.
Os parques tecnológicos paulistas, avalia o executivo, só irão para frente se o empreendedor fizer "uma ronda nas companhias-âncoras" de inovação tecnológica. "É preciso fazer parte de um projeto internacional. Por isso tem que ser pró-ativo, ir até essas empresas e ver o que elas estão fazendo."
Grynszpan fala com a experiência de quem dirigiu a Motorola por dez anos no Brasil, até 1999, e foi responsável por trazer a fábrica da empresa para o país.
Apelos como incentivos fiscais, comenta, obviamente interessam a qualquer empresa. Esse, no entanto, está longe de ser o critério mais importante na hora de escolher uma região. "Uma grande empresa não está atrás só disso. Tem que considerar a concentração de conhecimento, avaliar os demais centros de pesquisa existentes e a força do setor produtivo."
De suas experiências, o executivo também chama a atenção para a necessidade de se aproximar de lideranças brasileiras que estejam no comando de multinacionais, dentro e fora do país. "Em qualquer negociação calcula-se de tudo, mas na hora de fechar o negócio o que manda mesmo é o intangível, o olho-no-olho", diz.
Os chineses e os russos, afirma Grynszpan, já sistematizaram essas redes pessoais de relacionamento. No Brasil, não falta por onde começar. Atualmente, diz o executivo, cerca de 400 multinacionais estão presentes no país. (AB)




Entrevista: Para o presidente da Fundação ParqTec de São Carlos, experiência local inspira outros centros
Um reduto de boas cabeças onde todos sabem inventar
Genilson Cezar27/08/2007
Sylvio Goulart Rosa: "Criamos uma escola de negócio para treinar e capacitar o empresário na área de gestão. "
O balanço não é desprezível. São quatro incubadoras de empresas de base tecnológica, de software e de design, responsáveis pela formação de mais de 90 empresas nos últimos 20 anos, gerando cerca de dois mil empregos, a maioria profissionais de alta qualificação. Uma das primeiras empresas graduadas, a Opto Eletrônica, é hoje um exemplo do esforço concentrado na construção de parques tecnológicos e projetos de fomento a pequenas empresas inovadoras, em São Carlos, cidade do interior paulista, com mais de 200 mil habitantes. A Opto, que desenvolve equipamentos para o terceiro satélite sino-brasileiro, o CBERS-3, conta com mais de 400 empregados, filiais no Brasil e no exterior e seu faturamento anual está hoje em torno de R$ 50 milhões.
"Nós reunimos uma experiência muito grande nesse processo de incubação, de apoio ao empresário nacional altamente competitivo, muito bem formado na USP de São Carlos e na Universidade Federal de São Carlos. Apoiar essas pessoas com projetos inovadores para a criação e consolidação de empresas de base tecnológica é um passo importante para um autêntico desenvolvimento nacional tecnológico", avalia o professor Sylvio Goulart Rosa, presidente da Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos. Nessa entrevista ao Valor, Rosa fala dos avanços conquistados pelo ParqTec de São Carlos, dos novos projetos, o principal deles a criação do São Carlos Science Park, um parque tecnológico de padrão internacional, que conta com investimentos de mais de R$ 3 milhões, e dos novos desafios do que é hoje um dos maiores centros de inovação tecnológica do país.
Valor: Quais as principais características das empresas incubadas no ParqTec nesses últimos 20 anos?
Sylvio Goulart Rosa: São empresas inovadoras, formadas por pessoas com um nível de qualificação muito alto. Da área de engenharia, de software, química, física. Como as duas universidades instaladas na cidade são de excelência, com seus programas de pós graduação aprovados pela Capes, os empresários que abriram empresas aqui têm doutorado e mestrado, são profissionais de alta qualificação. Mas eles têm pouca experiência na gestão de empresas, por isso, desenvolvemos também programas de gestão, que são fundamentais para a sobrevivência das empresas. Criamos uma escola de negócio para treinar e capacitar o empresário na área de gestão.
Valor: Além dos programas de incubação de empresas, que outras ações estão sendo desenvolvidas pelo ParqTec?
Rosa: Estamos construindo o São Carlos Science Park numa área de 164 mil metros quadrados, doada pela Prefeitura Municipal de São Carlos, para abrigar empresas e centros de pesquisa e desenvolvimento. A inauguração do primeiro prédio, com 2,5 mil metros quadrados, onde funcionará o complexo do núcleo operacional do parque tecnológico, será agora em novembro. O investimento inicial foi de R$ 400 mil, recursos concedidos pela Finep-Financiadora de Estudos e Projetos, empresa ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, com uma contrapartida da atual Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo de R$ 650 mil. Tivemos apoio também da SoBloco Construtora, que atua na área imobiliária e agrícola, que doou todo o plano diretor do projeto.
Valor: Como tem sido o envolvimento da iniciativa privada no parque tecnológico?
Rosa: Nós vamos abrigar mais de 50 empresas de base tecnológica, além de laboratórios de pesquisas, públicos e privados, empresas consolidadas de base tecnológica, pequenas, médias e grandes. Fornecedores de serviços também terão um papel de apoio às atividades dos integrantes do parque. Constituímos um núcleo regional de apoio ao software, o Agente Softex, e numa ação conjunto com Embrapa, Sebrae e Universidade de São Carlos, instalamos no Brasil a sede de uma entidade internacional de apoio às micro e pequenas empresas, a International Council for Small Business (ICSB). O ParqTec participa ainda da comissão de inovação de acesso às tecnologias que a Prefeitura de São Carlos montou para estimular ações em favor das micro e pequenas empresas da região.
Valor: O modelo adotado pelo ParqTec tem sido copiado por outras regiões?
Rosa: Fomos criados em 1984 numa ação pública do CNpQ, pelo então presidente Linaldo Cavalcanti de Albuquerque. Foram instaladas cinco fundações do tipo da de São Carlos, num modelo que Albuquerque viu atuar na Europa, com incubadoras e parques tecnológicos. As duas sobreviventes são a de São Carlos e a de Campina Grande. Esse modelo foi apresentado ao Sebrae de São Paulo e ao governo estadual e hoje existem mais de 70 incubadoras em todo o Estado. É um modelo que está sendo adaptado para outras regiões do país, inspira projetos semelhantes.
Valor: Quais as maiores dificuldades para esse tipo de movimento de criação de parques tecnológicos no país?
Rosa: Inovação tecnológica não é uma prioridade no Brasil. Trabalhamos com um orçamento pequeno, de R$ 5 milhões por ano. A precariedade dos recursos financeiros, portanto, é a maior dificuldade. A história da fundação ParqTec, nesses últimos 23 anos, acompanha a história do Brasil, que não cresceu nada. Se a gente pegar a média de crescimento da economia brasileira, dos tempos do Sarney para cá, a taxa de aumento fica em torno de 2%. Isso é um crescimento medíocre.
Valor: E a Lei de Inovação, aprovada pelo governo federal, trouxe algum alento?
Rosa: Isso foi uma boa novidade. Fomos credenciados em julho, junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia, para recebermos recursos de empresas privadas que abatem seus impostos por conta da Lei de Informática. Somos uma das nove incubadoras do Brasil credenciadas na Lei de Informática. O ParqTec agora busca os grandes players com impostos de renda a recolher para que eles contratem a fundação visando desenvolver projetos inovadores na área de Tecnologia da Informação (TI).
Valor: O PAC não representa também uma possibilidade de estímulo à inovação?
Rosa: Até agora o PAC não trouxe inovação nenhuma para o setor de tecnologia. No momento, ainda está ligado à infra-estrutura, de transportes, principalmente. Acho que é preciso que se tenha um PAC da inovação tecnológica, com projetos específicos para estimular, apoiar, investir nas empresas inovadoras do Brasil.
Valor: Quais são os hoje, em sua opinião, os principais desafios que devem ser superados na área da inovação tecnológica?
Rosa: Acreditar que a inovação seria o caminho para inserir o Brasil de maneira competitiva na economia globalizada. Vários países em condições semelhantes às do Brasil estão fazendo isso. A China é um exemplo. A Coréia é outro modelo que deveríamos seguir. Há 30 anos, a Coréia estava numa situação pior que a do Brasil. E rompeu a barreira do subdesenvolvimento com investimentos pesados em pesquisas e inovação. Hoje é líder em patentes, apóia as empresas inovadoras, tem uma economia baseada na inovação tecnológica. O Brasil tem vantagens competitivas. Nós temos uma biodiversidade monstruosa. Temos recursos naturais em quantidade, um agronegócio excelente. Temos que acreditar nisso para alavancar nossa economia, para que o Brasil alcance uma postura internacional de respeito.
Valor: E o empresariado nacional não teria que se envolver mais nesse movimento para inovação tecnológica?
Rosa: Sim, como no mundo inteiro. Mas ele só vai se envolver se o país tiver projetos duradouros. Enquanto não houver um projeto de país, e a sociedade não tiver consciência de que vai se beneficiar desse projeto, isso não vai acontecer. Quer dizer, ainda há muita coisa para fazer.




Entrevista: Para Ministro da Ciência e Tecnologia, a cultura da inovação aos poucos é absorvida pelas empresas
Pesquisa tem que gerar riqueza, diz RezendeGustavo Faleiros, para o Valor
29/11/2006
Ministro Sérgio Rezende: "A cultura da inovação não se implanta em pouco tempo, é um processo. A mudança virá com outras gerações."
Estamos melhor que o México, que por muitos anos foi citado como um exemplo de industrialização rápida
Há um espírito Santos Dumont no pesquisador brasileiro, de que tudo o que faz ter que gerar o bem da humanidade
Quando se fala de inovação tecnológica no Brasil, não é raro ouvir comparações com outros países. A Coréia do Sul, quase sempre, surge como modelo a ser seguido. Entretanto, o ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, prefere descartar fórmulas prontas. Para ele, o país está seguindo seus próprios passos ao adotar uma política industrial e tecnológica focada em setores chave e que privilegia as diferenças regionais. "Hoje, com a explosão dos biocombustíveis em todo o mundo, existem oportunidades para grande parte do território nacional.", exemplifica.
Durante estes últimos quatro anos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu atingir a meta de investir 2% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. O percentual ainda é de meros 1,3%. Mas Rezende garante que o governo está fazendo sua parte. Comparados aos do ano 2000, os recursos federais para o setor são agora duas vezes maiores, enquanto aportes da iniciativa privada e dos Estados em inovação caíram. Isto explica, segundo o ministro, a estagnação dos investimentos.
Mas o ministro garante que o quadro está mudando. A cultura da inovação aos poucos é absorvida pelas empresas e universidades. Prova disso é o primeiro edital de subvenção econômica promovido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia neste fim de ano. As propostas superaram em muito os R$ 300 milhões oferecidos pelo governo. "Se tivéssemos feito o edital de subvenção há dez anos, nós ficaríamos decepcionados com o baixo número de propostas. Agora, estamos surpreendidos com a quantidade de projetos.", disse nesta entrevista ao Valor, concedida na semana passada, em seu gabinete.
Valor: Quando o presidente Lula tomou posse falava-se que poderíamos elevar o investimento em pesquisa e desenvolvimento a uma taxa de 2% do PIB. Passado o primeiro mandato, ainda permanecemos com recursos em torno de 1,3% do PIB. A inovação é realmente uma prioridade para o governo?
Sérgio Rezende: O aporte de recursos federais em ciência e tecnologia tem aumentado continuamente. Em números absolutos, o aumento é razoável. Saímos de R$ 7 bilhões no ano 2000, para R$ 15 bilhões em 2006. É um aumento bem acima do PIB nestes seis anos. O que manteve a porcentagem de investimentos estável foi uma diminuição de aportes dos Estados e das empresas. Isso ocorre porque ainda não se percebeu o aumento da lucratividade com a pesquisa e a inovação. A cultura da inovação não se implanta em pouco tempo, é um processo. Temos agora um momento de difusão da idéia da inovação. A mudança virá com outras gerações.
Valor: O processo não é lento demais?
Rezende: O Brasil começou muito tarde neste campo. Somos, de longe, os mais bem posicionados na América Latina. Estamos melhor que o México, por exemplo, que por muitos anos foi citado como um exemplo de industrialização rápida. Era um processo de industrialização a reboque do que ocorria no Nafta [bloco de livre comércio formado por México, EUA e Canadá]. Com a Argentina, nem se compara. Ela que tinha, há quarenta anos, um sistema de pesquisa muito melhor que o nosso, ficou para trás. Nosso sistema é muito mais robusto. Mas só vamos avançar no percentual quando houver a percepção do setor privado de que seu investimento se transforma em lucro.
Valor: As verbas do governo para ciência e tecnologia continuam a ser contingenciadas. Houve especialmente críticas ao desvio dos recursos do fundos setoriais para o pagamento da dívida. Isso não é um sinal claro de falta da prioridade?
Rezende: De forma alguma. O avanço que ocorre é que o percentual da receita dos fundos que é aplicado no Orçamento está aumentando continuamente. Em 2002, essa proporção era de 33%, hoje é 60% dos recursos. Dentro da contingência econômica, nós estamos fazendo um progresso.
Valor: Os fundos setoriais têm a função de estabelecer o vínculo entre as universidades e as empresas. Eles estão cumprindo este papel?
Rezende: Ele está cumprindo, mas é um processo gradual também. Nos primeiros anos não havia editais de cooperação entre universidades e empresas. O recurso ia diretamente para a academia sem compromisso com o setor privado. Só o setor de petróleo é que tinha maior vínculo. De três anos para cá foram feitos os editais de cooperação e, agora, com a subvenção econômica nós vamos cravar um pé nas empresas.
Valor: Sabe-se que é difícil conciliar o modo de atuação da empresa e da universidade. Os canais de comunicação entre os duas partes hoje é melhor?
Rezende: Hoje há, em quase todas as universidades, uma preocupação em azeitar estes canais. Isso não acontece na academia como um todo, e nem é para acontecer. Tem pesquisador que foi feito para ficar abstraindo, pensando. Mas muitos têm a preocupação de verem suas idéias concretizadas. Isso está tomando uma dimensão muito grande no Brasil. Por exemplo, a reunião deste ano da SBPC [Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência], em Santa Catarina, teve pela primeira vez a inovação entre seus temas. Ela foi fundada em 1946 e só agora fizeram isso. Chamaram empresários para dar palestras. Na década de 70, eu vi gente ser vaiada em assembléias, ser acusada de estar se prostituindo por falar de parcerias com empresas. Há um certo espírito Santos Dumont no pesquisador brasileiro, de que tudo o que faz ter que gerar o bem da humanidade. Tudo bem querer o bem da humanidade, mas tem que gerar riquezas entre nós também.
Valor: O senhor crê que as empresas já apresentam maturidade com relação ao desafio da inovação?
Rezende: Eu ainda não diria que há maturidade. Há um grande interesse. Isso já é uma boa novidade. Se tivéssemos feito o edital de subvenção há dez anos, íamos ficar decepcionados com o baixo número de propostas. Agora, ficamos surpreendidos com a quantidade de projetos. Este edital vai nos permitir saber o quanto o sistema empresarial brasileiro está preparado para este mecanismo de apoio. Quando a análise detalhada dos projetos estiver concluída, poderemos dizer se há realmente propostas viáveis, projetos de inovação com potencial de mercado.
Valor: No Brasil, é o Estado quem mais investe em inovação, enquanto que em outros países, como o Japão, a iniciativa privada é quem mais aplica recursos desta natureza. Como mudar este quadro?
Rezende: O campo de ciência, tecnologia e inovação é muito novo no Brasil. Até quarenta anos atrás nós não tínhamos nas universidades programas de pesquisa, porque os professores não tinham salário de tempo integral. Eles davam aulas e depois iam embora. Foi com os cursos de mestrado e doutorado que o sistema universitário começou formar a base para o avanço das pesquisas. Por outro lado, no sistema empresarial, na indústria notadamente, a preocupação é muito recente, data do final da década de 90. Durante os anos 90, a indústria se preocupou mais com a gestão da qualidade. Mas no final da década percebeu-se que para ganhar mercado não bastava gerir bem, era preciso também inovar para se ter novos produtos e processos. Naturalmente, por ser muito novo este movimento de pesquisa no Brasil, cabe ao Estado ter um papel decisivo. Ele tem que ter incentivos, leis que estimulem a que todos agentes tenham uma participação maior. Resumindo, o Estado é importante tanto na articulação através de regulação, como enquanto financiador do sistema de pesquisa.
Valor: A resposta a estes estímulos do governo tem sido positiva?
Rezende: A subvenção era o mecanismo que faltava para completar um leque grande de apoio ao pesquisador e a instituições de pesquisa. Nos últimos três anos, nós fizemos, pela primeira vez, editais para financiar projetos de universidades com contrapartidas de empresas. Agora, com a aprovação da Lei do Bem, foi possível fazer subvenção direta às empresas.
Valor: O senhor considera então que o sistema de apoio à pesquisa hoje está consolidado?
Rezende: O sistema passou por muitas crises ao longo de 30 anos. O FNCT [Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia] quase desapareceu no fim dos anos 90. A chave encontrada pelo governo anterior foi a criação dos Fundos Setoriais. Durante as privatizações se determinou que era preciso dar continuidade ao esforço do Estado em ciência e tecnologia e se criaram os fundos. Isso deu robustez ao FNTC.
Valor: No exterior existe um grande número de fundos de capital de risco que financiam a inovação. Aqui, este papel quem cumpre é o Estado. Poderemos ver em um futuro não muito distante o setor privado mais envolvido no financiamento a pesquisas?
Rezende: Existem alguns movimentos neste sentido. Em 2000, a Finep criou um programa chamado Inovar, cujo o objetivo é exatamente melhorar o crédito. Ele tem dois subprojetos muito importantes: a Incubadora de Fundos Inovar e o Fórum Brasileiro de Capitais de Risco. Pelo menos duas vezes ao ano, a Finep promove encontros para mostrar a investidores o que é um fundo de capital de risco. Depois ela publica um edital para a formação de fundos, onde ela participa com até 20% do capital. O fundo de capital de risco é bem diferente dos outros que existem, pois ele é fechado. Seus sócios se comprometem em aportar recursos durante alguns anos e há um gerente que vai atrás das oportunidades de negócio com as empresas. Já o Fórum Brasileiro de Capital de Risco realiza eventos todo ano em alguma cidade do país para apresentar empresas de tecnologia para investidores. As empresas são selecionadas através de um edital da Finep. Isso tem contribuído para aumentar o número dos fundos de capitais de risco e também a lucratividade. Temos alguns exemplos de empresas, que hoje são grandes, e começaram com o aporte de capital de risco. A própria Gol começou deste jeito.
Valor: A atração de multinacionais é um aspecto muitas vezes apontado como impulsionador de investimentos em inovação. Nos últimos anos, o Brasil já não aparece entre os países emergentes que mais atraem interesse de empresas estrangeiras. O senhor acha que se deve buscar mais formas de atrair as multinacionais ou podemos prescindir delas?
Rezende: As multinacionais são importantes, mas pouquíssimas têm centros de pesquisa no Brasil. Quando alguma delas traz inovações e as introduz na linha de montagem, o Brasil não internaliza esta tecnologia. Tem mais empresas nacionais com núcleos de pesquisa do que as estrangeiras. Aos poucos, começamos a acordar. Recentemente, li um artigo em uma revista internacional que destacava que o Brasil tem recursos humanos e potencial para atrair centros de pesquisa em biotecnologia.
Valor: A política de ciência e tecnologia do atual governo está focada em alguns setores. Por que escolher apenas alguns setores? Como garantir que oportunidades em outras áreas não sejam perdidas?
Rezende: O Brasil ficou muito tempo sem ter uma política industrial e tecnológica. Eu diria que ele nunca teve uma política desta natureza com o mercado aberto. Novamente, entra em jogo a questão cultural: não se implanta no governo e nas empresas uma política industrial e tecnológica de uma hora para outra. Não dá para copiar a receita de outros países. Freqüentemente, a Coréia do Sul é usada como paradigma, mas ela tem uma área física que corresponde ao Estado de Pernambuco e uma população de menos de um quarto do que a do Brasil. Além disso, tem um regime de força até hoje. O Brasil tem esse território grande e as dificuldades de uma sociedade plural, democrática. Por isso acho que se a política industrial fosse totalmente desfocada, seria mais difícil de tirarmos algum resultado. A proposta é boa pois escolhe alguns setores com transversalidade, como é o caso dos bens de capital, softwares e a microeletrônica. A área de fármacos é mais vertical, mas tem uma importância estratégica para o Brasil. Essa experiência, como a primeira depois de décadas, vai ser boa para que eventualmente possamos ter uma política mais abrangente.
Valor: Nestes esforços de pesquisa e desenvolvimento, empresas de todos os portes terão chance?
Rezende: Todas devem ter oportunidade. As micro e pequenas empresas de hoje serão as empresas de tecnologia de amanhã. Vai ser mais fácil criar muitos empreendedores em tecnologia do que transformar donos de uma grande empresa em campeões da inovação. Há pequenas companhias que se transformaram rapidamente em grandes ao descobrirem nichos através da inovação.
Valor: Por outro lado, existem críticas a uma possível pulverização de recursos. Ou seja, ao invés de se investir mais dinheiro em uma instituição de pesquisa já consolidada, o governo optou por distribuir quantias menores para diversos projetos.
Rezende: Na minha opinião, esta crítica está completamente equivocada. Nós não estamos pulverizando, mas sim apoiando muitos grupos de pesquisa em todo o Brasil. São apoios pequenos, de sobrevivência. Isso, nos EUA, existe em um número muito maior. Aqui estamos falando em algumas dezenas de instituições. O fato de o apoio ser espalhado pelo Brasil é também muito importante, porque somos um país grande com competências em várias áreas. Temos 60 mil pesquisadores no Brasil, e ele só trabalharão se tiverem um apoio mínimo.
Valor: Como se está trabalhando as competências regionais?
Rezende: Temos uma política abrangente, procura-se dar oportunidades de acordo com o potencial das regiões. Por exemplo, a biomassa que é uma das áreas portadoras de futuro. Em 2003, falou-se do crescimento da biomassa, e já nos anos seguintes fizemos os estudos de potencialidade do etanol no Brasil. Hoje, com a explosão do biocombustíveis em todo o mundo, existem oportunidades para grande parte do território nacional. O semi-árido produz mamona sem nenhum esforço. Temos ainda as oleaginosas no Norte, a soja no Centro-Oeste, e o etanol em São Paulo e no Nordeste. Desta forma, quando se olha para uma área com o potencial da ciência e tecnologia se está gerando desenvolvimento quase que como um todo.
Valor: A legislação recente permite que o governo apóie empresas na contratação de pesquisadores, mas também abre portas para o suporte a cientistas que querem abrir suas próprias empresas. Quais são as perspectivas neste campo?
Rezende: Temos no país um programa de parques e incubadoras tecnológicas. Trata-se de uma sala ou um espaço nas universidades, onde os pesquisadores têm a oportunidade de começar a sua empresa. Isso já ocorre há dez anos, tanto que o número de empresas abertas por pesquisadores vem aumentando. A Lei da Inovação criou ainda a possibilidade de que o pesquisador tire uma licença para se dedicar a sua empresa sem perder seu cargo na universidade pública. Além disso, a subvenção que fizemos no último edital para a contratação de pesquisadores vai viabilizar que micro e pequenas saiam da fase de incubação, pois elas dependem de recursos humanos para isso. O resultado do edital mostra que 70% dos projetos vêm de empresas com faturamento abaixo de R$ 2,4 milhões. Muitas delas certamente são incubadas. A subvenção vai permitir a sobrevivência das empresas.
Valor: O que senhor espera para os próximos anos?
Rezende: O que eu espero é que estes projetos apoiados gerem novos produtos e processos que ajudem a abrir mercados para as empresas. Isso gera lucro. Quem vai convencer os empresários a colocar dinheiro em inovação não vai ser o governo ou um pesquisador, mas sim outro empresário lucrando.



POLOS E PARQUES DE ALTA TECNOLOGIA: UMA ALTERNATIVA?
Rogério Bezerra da Silva, Renato Dagnino


Ciência, tecnologia e inovação: e agora?
RENATO DAGNINO
Nosso ministério não pode abrigar só "inovacionistas" e "cientificistas": "solidaristas" também querem uma agenda para disseminar suas noções
16-11-2011
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/9181-ciencia-tecnologia-e-inovacao-e-agora.shtml




Parque Tecnológico - Projeto

PARQUES TECNOLÓGICOS NO BRASIL: Estudo, Análise e Proposições ABDI


POLOS TECNOLOGICOS: ilhas ou arquipelagos?



Parques Tecnológicos: Ambientes de Inovação por João E. Steiner; Marisa Barbar Cassim; Antonio Carlos Robazzi


PARQUES TECNOLÓGICS NO BRASIL: ESTUDO, ANÁLISE E PROPOSIÇÕES


AVALIANDO A ESTRATÉGIA DO PARQUE TECNOLÓGICO OCEANTEC A PARTIR DA UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA ESTRATEGIGRAMA


Produção e disseminação de informação tecnológica: a atuação da Inova - Agência de Inovação da UNICAMP


Alguns aspectos relacionados ao Parque Tecnológico de Campinas por EDUARDO GRIZENDI


Aspectos Relevantes de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas




Parque Sapiens


Os desafios de obter recursos financeiros para o planejamento, implantação e operacionalização de parques tecnológicos


Drive Google (docs)


Understanding Research, Science and Technology Parks (Book)


Um modelo para financiamento de parques tecnológicos no Brasil: explorando o potencial dos fundos de investimento (TESE)


Projects : Information Technology Parks Project | The World Bank


Aspectos Relevantes de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas (BNDES)



Desafios de Implantar Parques Tecnológicos - parte 04

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TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

Novo Working Paper da FEP - The determinants of technology transfer efficiency and the role of innovation policies: a survey




BARBOSA, Antonio de Pádua Risolia. A Formação de Competências para Inovar através de Processos de Transferência de Tecnologia: um estudo de caso. Tese. Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2009





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Technology Transfer and National Innovation





Opinião Jurídica:
Transferência de tecnologia e competitividade
Pedro Bhering e Alysson Hautsch Oikawa
05/03/2008 - Jornal Valor Econômico
Em novembro de 2007, a imprensa noticiava os planos do governo federal de reaparelhar nossas Forças Armadas por meio da aquisição de equipamentos estrangeiros. Segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, tal aquisição teria que conter obrigatoriamente a transferência da tecnologia utilizada em sua fabricação. O conceito de compra subordinada à passagem de conhecimentos avançados foi reiterado em recente visita de Jobim à França, onde se discutiram possíveis alianças militares e acordos que permitam a produção nacional de submarinos e aeronaves.
Embora excluída dos moldes tradicionais de licitação, a estratégia do governo não é nova. Na década de 1980, a então estatal Embraer formou consórcio com empresas italianas para o desenvolvimento e a produção do jato de ataque AMX. Àquela época, a Embraer já tinha como política adquirir novas tecnologias externas necessárias para a modernização e o desenvolvimento do seu parque industrial.
Com a privatização, a aquisição e a absorção de tecnologias externas, assim como os conseqüentes investimentos em pesquisa, cresceram significativamente, contribuindo para tornar a Embraer uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo. Esse exemplo é um entre alguns outros que reforçam a importância da transferência de tecnologia e sua absorção pelo adquirente, como subsídio à capacidade de enfrentar a concorrência nos setores público e privado.
Outro exemplo relevante diz respeito à Petrobras, que nos anos 70 e 80 teve como uma de suas políticas industriais a aquisição de tecnologias estrangeiras ao mesmo tempo em que investia maciçamente em pesquisa, tornando-se posteriormente, referência na exploração de petróleo em águas profundas e na exportação de tecnologia nessa área.
É tradição brasileira vincular a proteção de ativos intelectuais ao interesse social e ao desenvolvimento econômico do país, como determina o inciso XXIX, do artigo 5º, da Constituição Federal de 1988. Entre leis federais, portarias ministeriais e atos normativos, são várias as normas que passaram a regular a matéria a partir de 1962.
O artigo 211 da Lei de Propriedade Industrial - Lei nº 9.279, de 1996 - prescreve que os contratos que impliquem na transferência de tecnologia deverão ser submetidos à aprovação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Em termos econômicos, a aprovação é requisito para a remessa ao exterior e para a dedutibilidade fiscal dos pagamentos (royalties) oriundos da transferência de tecnologia. Conforme disposto na Lei nº 4.131, de 1962 e em legislações complementares, as remessas de royalties e a dedução fiscal dos pagamentos pela empresa adquirente da tecnologia somente serão permitidas após a aprovação dos respectivos contratos pelo INPI.
Outro efeito importante é a legitimação ativa para medidas judiciais do exercício dos direitos de propriedade industrial envolvidos no contrato. Como a presunção é que só o titular possui tal prerrogativa, a validade de cláusula que permite ao licenciado pleitear os direitos negociados dependerá da aprovação do contrato pelo INPI.
Nos últimos tempos, o INPI tem flexibilizado a análise e a conseqüente aprovação de contratos envolvendo a transferência de tecnologia. O fato vem contribuindo para o incremento da aquisição de tecnologias estrangeiras por empresas nacionais e mesmo por subsidiárias de empresas estrangeiras sediadas no Brasil.
Esta política traz como uma de suas conseqüências indiretas o desenvolvimento da pesquisa pelas empresas adquirentes das tecnologias, na medida em que, ao adquirir tais tecnologias externas, essas empresas são impelidas a criar ou ampliar seus centros de pesquisa, que se apresenta como fator preponderante para que as tecnologias sejam absorvidas. Além disso, essa estratégia é fundamental para que elas possam apresentar grau de competitividade nos cada vez mais disputados mercados.
Os casos do Japão, e mais recentemente da Coréia, são significativos, na medida em que algumas empresas desse último país, por exemplo, nos últimos quinze anos, apresentaram notável desenvolvimento, atingindo mercados antes inalcançáveis. Tal situação deve ser creditada à aquisição de tecnologias externas e a significativos investimentos em pesquisa.
Em que pese o fato de o Estado ainda regular a aquisição de tecnologia estrangeira, esta continua a representar fator preponderante para a competitividade de entes governamentais e de corporações privadas. Em algum ponto de sua evolução, a pessoa física ou jurídica se depara com a indagação de como fomentar sua capacidade inovadora. A criação e o desenvolvimento de ativos intelectuais por vias próprias ou por meio de terceiros constituem etapa inevitável para que uma empresa se torne competitiva em uma economia cada vez mais globalizada.
Assim, dentro da atual realidade industrial brasileira, a opção de adquirir tecnologias estrangeiras apresenta-se como alternativa atraente e economicamente mais viável.
Além disso, com a absorção das tecnologias dentro dos prazos contratuais, a conscientização, disseminação e conseqüente implementação da cultura da pesquisa tornam-se naturais e obrigatórias. Este, então, é o cenário ideal que se apresenta para que o país possa em razoável espaço de tempo ter empresas capazes de produzir bens e serviços com padrão de qualidade e excelência em igualdade de condições com as empresas dos países mais desenvolvidos.





Transferência de tecnologia é essencial
Para o Valor, de São José dos Campos05/11/2009
O presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Walter Bartels, disse que o processo efetivo de absorção de tecnologia ocorre através da realização da inovação ou do desenvolvimento tecnológico dentro da indústria. "É difícil transferir tecnologia de quem criou para quem vai produzir. Como regra geral, a tecnologia sensível ou para elevação do nível militar, não se transfere, não se adquire, incorpora-se."
Para o executivo, a compra de caças supersônicos de empresas estrangeiras é necessária neste momento, pelas necessidades de curto prazo da FAB, mas o país necessita possuir, obrigatoriamente, uma capacidade real de dissuasão e isso só será possível se os respectivos meios forem de domínio tecnológico brasileiro, desenvolvidos e produzidos no país. "A indústria aeroespacial brasileira espera que, futuramente, não sejam mais necessárias aquisições no exterior mas, em casos excepcionais, sejam feitas através de um contratante principal brasileiro como ocorre em países desenvolvidos", afirmou.
Bartels cita o caso do programa AMX, em que o Brasil levou vantagem porque pagou 30% do seu desenvolvimento e dominou 100% do avião. Entre as tecnologias resultantes desse projeto de cooperação, que o presidente da AIAB participou ativamente pela Embraer, Bartels destaca a aerodinâmica transônica, sistema de aviônica de navegação e ataque integrado, usinagem mecânica de peças complexas e comandos de voo "fly by wire", que depois foram aplicados no desenvolvimento dos jatos comerciais da Embraer.
Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), Carlos Frederico Queiroz de Aguiar, o processo de aquisição dos caças do programa F-X2 é um dos melhores dos últimos 30 anos. "O processo de hoje se baseia na experiência dos erros e dos acertos do passado e tem sido um processo de aquisição mais realista e mais adequado ao tipo de aquisição, ou seja, a de um equipamento que tem de gerar no país um efeito multiplicador de absorção de tecnologia pela base industrial de defesa do país."
Segundo Aguiar, qualquer que venha a ser a decisão, haverá grandes benefícios para a indústria nacional, graças à política de "offset" (contrapartida) que a FAB e o Ministério da Defesa vêm reafirmando desde o início do processo do F-X2. O executivo lembra que a FAB estabeleceu que 80% do offset deverá se constituir em transferência de tecnologia direta no programa. Além disso, segundo ele, os três concorrentes têm se aplicado em oferecer também trocas comerciais significativas, ou seja, compras de equipamentos no Brasil, principalmente aeronaves da Embraer.
O fato de a decisão ser política, na opinião do presidente da ABIMDE, não exclui as demais considerações inerentes ao processo. O executivo disse que os empresários envolvidos no processo estão satisfeitos com os acordos até agora firmados e que muitos já se preparam para a fase de contratação e operacional que virá logo após a decisão final. "De um modo geral percebo um clima de satisfação e de expectativa nas empresas de grande porte como também nas de médio porte". (VS)




Memória

FNDCT, 40 AnosPDF
Waldimir Pirró e Longo, Maria Sylvia Derenusson



Projeto dá para empresas verba de pesquisas
Valor Econômico
29/12/2003 09:19
SÃO PAULO - O governo federal planeja transferir diretamente a empresas privadas parcela expressiva dos recursos que hoje financiam projetos de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias conduzidos em universidades públicas. Dispositivo que permite essa transferência foi incluído no projeto de Lei de Inovação que o governo deve enviar ao Congresso nos próximos meses. Proposta no fim do governo Fernando Henrique Cardoso, a Lei de Inovação cria incentivos para a participação de pesquisadores das universidades em projetos do setor privado. Ela foi retirada do Congresso logo após a posse do novo governo para ser revista. Há duas semanas, o Ministério da Ciência e Tecnologia apresentou uma nova versão do projeto a empresários e membros da comunidade acadêmica.A transferência de recursos das universidades para as empresas é uma das principais mudanças introduzidas no projeto. Ele determina que no mínimo 30% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) sejam aplicados diretamente em empresas nacionais, na forma de subvenções. O projeto também autoriza transferências na forma de empréstimos e aportes de capital.As empresas teriam que submeter seus projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico à aprovação do governo para receber o dinheiro. As subvenções subsidiariam uma parte dos custos dos projetos e as empresas cobririam a outra parte. Já existem na legislação em vigor mecanismos semelhantes para estimular a inovação no setor privado, mas o governo não tem aplicado os recursos necessários para que esses incentivos saiam do papel.Os fundos abrigados sob o guarda-chuva do FNDCT devem arrecadar R$ 1,4 bilhão no próximo ano. O Orçamento da União prevê que 57% dos recursos serão bloqueados por medidas de contenção de gastos adotadas pelo governo e reserva R$ 619 milhões para investimentos. A maior parte desse dinheiro é destinada a projetos das universidades. Há apenas R$ 56 milhões para subvenções e outras formas de transferência de recursos a empresas.O projeto de Lei de Inovação permite que professores se afastem das universidades por até quatro anos para trabalhar no setor privado. Ele facilita a transferência de tecnologias das universidades para as empresas e assegura aos pesquisadores parte dos ganhos obtidos na exploração comercial dessas tecnologias. A lei também autoriza o governo a contratar empresas para desenvolver projetos em áreas que considerar de interesse público.Desde que começou a ser discutida, em 2001, a Lei de Inovação tem recebido críticas no meio acadêmico. Muitos professores temem que ela esvazie as universidades e prejudique cientistas dedicados a pesquisas sem interesse comercial. Outros acreditam que a lei pode ser um instrumento para ampliar a competitividade das empresas brasileiras e ao mesmo tempo reforçar o orçamento das universidades.A nova versão do projeto é mais enxuta do que a proposta pelo governo anterior e dá às universidades mais flexibilidade para aplicar as novas regras. Ela estabelece que os pesquisadores interessados em trabalhar no setor privado só poderão se afastar se tiverem autorização das instituições às quais estiverem ligados. O projeto permite que as vagas abertas sejam preenchidas sem que os afastados percam o lugar e as vantagens da carreira.O novo projeto amplia as possibilidades de lucro para os pesquisadores que trabalharem em projetos de interesse do setor privado. Se a lei passar como está, eles terão direito a até 33% dos ganhos obtidos pelas universidades com a transferência de tecnologias para as empresas. A proposta original reservava para os pesquisadores 20% dos ganhos.O novo projeto de Lei de Inovação é resultado de seis meses de discussões entre o governo, associações da indústria e a comunidade científica. Ele não deve ser aprovado tão cedo. Além das resistências que ainda encontra no meio acadêmico, as eleições municipais e as outras prioridades do governo deverão tornar lenta sua tramitação no Legislativo.





Britânicos oferecem transferência de tecnologia
Cláudia Schüffner03/12/2004
Companhias inglesas estão interessadas em associações com brasileiras para formação transferência de tecnologia para aumentar a competitividade do setor no Brasil. A associação seria com participação igualitária com majoritariamente britânica. Esse é o resultado de uma pesquisa realizada pela Câmara Britânica com seus membros.
"A competitividade das empresas do Brasil é muito importante para o investidor internacional, que precisa ter aqui fornecedores e prestadores de serviços que ofereçam produtos de qualidade, com segurança, prazo e preços competitivos internacionalmente", explica Richard Taylor, que preside o Comitê de Energia da Câmara Britânica e também a BP no Brasil.
A capacitação internacional das empresas brasileiras da indústria de petróleo é o principal tema do III Seminário Britcham Internacional de Petróleo e Gás, promovido hoje, no Rio. Serão discutidas formas de aumentar a competitividade das empresas brasileiras do setor, inclusive no financiamento de projetos.
O executivo ressalta que para alcançar o estágio de fornecedor, algumas empresas poderão fincar o pé em outras áreas de produção ao redor do mundo, como a parte americana do golfo do México e a Nigéria. "Se forem competitivas aqui, essas empresas poderão crescer fora do Brasil", disse.
Taylor lembra que seu país começou a desenvolver uma indústria voltada para o setor logo após as descobertas de óleo no Mar do Norte, que transformaram a escocesa Aberdeen em capital do petróleo, situação que continua se sustentando mesma com os campos da região chegando à maturidade.
Frisando que os investidores associados ao Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) gostariam de ter fornecedores locais, o executivo acha importante que o governo leve em conta o diagnóstico das empresas do setor que está sendo elaborado no âmbito do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp).
O coordenador executivo do Prominp, José Renato Ferreira de Almeida, explicou que o diagnóstico ainda não foi concluído, mas levando-se em conta os US$ 60 bilhões que serão investidos pela indústria de petróleo no Brasil até 2010, se uma ínfima parte ficar no Brasil será um resultado muito bom.





"Criou-se a falsa presunção de conflito entre o direito da propriedade intelectual e a livre concorrência"
Diretrizes antitruste e propriedade intelectual
Por José Carlos Vaz e Dias
30/08/2005
Por um longo período, prevaleceu o conceito de que os direitos da propriedade intelectual, principalmente aqueles decorrentes da concessão de patentes, conferiam poder de mercado ao seu titular, criando monopólios sobre atividades econômicas e restringindo a competição mercadológica.
Por essas e outras razões, o revogado Código da Propriedade Industrial - a Lei nº 5.772, de 1971 - limitou o campo de proteção a diversos desenvolvimentos tecnológicos, como os fármacos, e procurou flexibilizar as regras da licença compulsória e da caducidade. Além disso, o tenebroso Ato Normativo nº 15, de 1975, listou diversas cláusulas que estavam proibidas nos contratos de exploração tecnológica, sem qualquer consideração à prevalência de seus aspectos pró-competitivos.
Isso tudo foi suficiente para criar a falsa presunção de conflito entre o direito da propriedade intelectual e a livre concorrência. Na verdade, os propósitos são comuns na medida em que promovem a eficiência industrial e mercadológica, motivam o desenvolvimento tecnológico e otimizam as relações de consumo com benefícios para os consumidores.
Aliás, um ambiente de intensa rivalidade empresarial é importante para que novos conhecimentos tecnológicos sejam desenvolvidos e explorados no mercado. A eficiência empresarial por meio da adoção de processos tecnológicos para racionalizar os meios de produção (trabalho, capital e insumos) estimula a competição entre concorrentes e fomenta a criação de mercados secundários e a substituição de produtos e serviços. É nesse raciocínio que o direito da propriedade - inclua-se a propriedade intelectual - é complementar à livre concorrência e vice-versa e, conseqüentemente, são considerados princípios da ordem econômica brasileira, nos moldes do artigo 170 da atual Constituição Federal.
A concessão de uma patente ao criador/titular de uma invenção tecnológica, por exemplo, que envolve a exclusão de terceiros para a produção, não confere necessariamente um monopólio ou mesmo um poder de mercado para esse titular e nem pode ensejar uma presunção de abuso de direito. Para a constatação de monopólio, torna-se indispensável verificar a existência ou não de produtos e/ou processos substitutos à invenção tecnológica protegida, bem como analisar as condições do mercado relevante (estrutura da oferta, barreira à entrada de concorrentes e grau de dependência dos consumidores, dentre outros critérios) e principalmente a existência de perspectivas na mudança estrutural do mercado que reduza a competição.
O direito da propriedade intelectual deve ser entendido como um direito temporário de propriedade, e não como um monopólio. Cabe examinar, a partir de então, os possíveis efeitos anticompetitivos relativos à exploração patrimonial desse direito, e não mais analisar a abusividade de sua natureza jurídica, que é realizada comumente por meio dos contratos de transferência tecnologia e de licenciamento de direitos intelectuais.
Pelo fato de a exploração realizar-se principalmente por meio de contratos, espera-se que os critérios básicos do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a análise de condutas comerciais sejam largamente utilizados, para confirmar a legalidade de possíveis restrições encontradas nos contratos de tecnologia, principalmente aquelas presentes na Resolução nº 20 do Cade, emitida em 9 de junho de 1999.
No entanto, releva mencionar as peculiaridades dos contratos de transferência de tecnologia e de licenciamento e as diferenças em relação a outras condutas, principalmente por envolverem bens imateriais e estes serem indispensáveis para a competitividade empresarial. Ainda, constata-se que esses contratos podem afetar o mercado de inovação, além de limitar ou desenvolver a capacidade competitiva do licenciado, justificando-se, assim, que outros critérios de análise (além daqueles relativos ao mercado de produto e serviços) sejam elaborados para verificar a legalidade de condutas na exploração tecnológica.
Diante dessa perspectiva, a Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI) tomou a iniciativa de recomendar aos órgãos da concorrência no Brasil a adoção de um direcionamento formal e específico para o exame desses contratos, por meio da discussão desse assunto em sua comissão da concorrência e da elaboração de um texto inicial denominado "Diretrizes básicas para o exame de contratos de transferência de tecnologia e licenciamento de diretor da propriedade intelectual sob uma perspectiva do direito."
Como não poderia deixar de ser, pela atualidade e importância do tema, a implementação de diretrizes básicas está sendo largamente discutida no "XXV Seminário Nacional da Propriedade Intelectual", que será concluído hoje em São Paulo.




Farmacêutica: O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que vai fomentar pesquisas no país
Governo planeja criar 'superlaboratório' com apoio do BNDES
Mônica Scaramuzzo, de São Paulo
01/02/2010
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que o governo busca estimular troca de tecnologia e investimentos
O governo quer criar um "superlaboratório" nacional para competir de igual para igual com as grandes multinacionais que atuam no país. O BNDES vai financiar esses projetos. Em entrevista ao Valor o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou que o BNDES buscará fortalecer as indústrias nacionais para que elas tenham escala como as grandes companhias farmacêuticas internacionais. "O governo vê como positiva a criação de uma grande empresa nacional", afirmou o ministro.
Desde o fim do ano passado, o BNDES tem conversado reservadamente com empresas nacionais. O banco propõe financiar fusão entre laboratórios e também aquisições, por meio do Profarma, programa de fomento voltado para o setor farmacêutico, cujo orçamento é de R$ 3 bilhões até 2012. Até dezembro, os financiamentos do BNDES já somavam R$ 1,374 bilhão.
Os planos do governo de fortalecer as empresas nacionais começaram a ser discutidos em 2008, mas ganharam força no fim do ano passado, impulsionados pelo intenso movimento de concentração do setor. "O governo quer evitar que multinacionais adquiram empresas nacionais de peso, a exemplo do que ocorreu com a Medley, que foi comprada pela companhia francesa Sanofi-Aventis", afirmou uma fonte do setor.
Temporão disse que o governo também quer estimular investimentos em pesquisas e desenvolvimento (P&D) de empresas nacionais e troca de tecnologia. O BNDES financiou cerca de R$ 302 milhões em P&D até dezembro e pretende elevar esses investimentos nos próximos meses.
Procuradas pelo Valor, empresas nacionais classificaram como positiva a iniciativa do governo, por meio do BNDES, de financiar o fortalecimento do setor, desde que não seja por compra de participação. O banco estaria estudando ter participação acionária, por meio do BNDESPar, na Hypermarcas, empresa que no ano passado comprou a Neo Química, de Goiás, desbancando a americana Pfizer, que também estava no páreo. A companhia nacional estuda novas aquisições de laboratórios farmacêuticos no país e deverá ter financiamento do BNDES. Sobre ter participação acionária em companhias farmacêuticas, o BNDES não comenta o assunto.
Grandes grupos nacionais, como EMS, Aché, Eurofarma, Cristália, confirmaram que já foram sondados por companhias multinacionais, mas afirmam não ter interesse, neste momento, em negociar seu controle ou mesmo participação. Grandes laboratórios internacionais também foram ouvidos e afirmaram ter interesse em investir no Brasil e que já estudam oportunidades neste sentido.
O governo tem acompanhado atento ao movimento de concentração no Brasil e acredita que companhias nacionais fortalecidas, com pesquisas em inovação, podem trazer uma nova visão estratégia da saúde no país.
Segundo o ministro, o papel da saúde, além de ter um forte componente de política social, tem de ter uma visão industrial, mas com foco em desenvolvimento. Temporão tem uma preocupação em reduzir o déficit comercial do governo, que ficou em torno de US$ 7 bilhões no ano passado. O governo pretende baixar esse valor para até US$ 4,4 bilhões e desenvolver tecnologias para a produção, no país de 20, de produtos estratégicos do SUS (Sistema Único de Saúde) até 2013.
"Participamos de viagens com empresários com o objetivo de atrair investimentos em pesquisas no país, estimulando troca de tecnologia", afirmou o ministro. Temporão citou o acordo fechado no ano passado entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério de Saúde, com a inglesa GlaxoSmithKline (GSK), para que a companhia forneça sua vacina pneumocócica para ser incluída no calendário do programa nacional de imunização a partir deste ano. Além da transferência de tecnologia, o acordo prevê a instalação de um centro de pesquisa e desenvolvimento de tratamentos contra doenças como dengue, malária e febre amarela no país, avaliado em € 70 milhões, no qual a farmacêutica se compromete a investir metade deste valor.
Também no ano passado, em viagem à China, o laboratório farmacêutico EMS, o maior do país, fechou acordo de transferência de tecnologia com a chinesa Shanghai Biomabs para a fabricação no Brasil de seis produtos biotecnológicos de última geração, afirmou Temporão, que também participou da viagem. Dentre esses produtos estão os chamados anticorpos monoclonais, medicamentos biológicos com indicação para tratamento de doenças graves e de alto custo, especialmente câncer, artrite reumatoide e osteoporose.
Segundo o ministério, o primeiro produto alvo dessa parceria com a China será o Etanercepte, cuja indicação principal é a artrite reumatoide, e que hoje gera gastos anuais da ordem de R$ 80 milhões ao governo, principal comprador desse medicamento.
Temporão defende o programa do governo, o chamado Complexo Industrial da Saúde, como forma de estimular programas mobilizadores em áreas estratégicas para levar o Brasil a ter domínio sobre o conhecimento científico-tecnológico.
Segundo o ministro, o governo concluiu nove projetos envolvendo parcerias, nos quais participam sete laboratórios públicos, sete privados, um deles estrangeiro, para o desenvolvimento de 14 produtos. Esses projetos somam compras anuais da ordem de R$ 650 milhões, com economia estimada entre R$ 130 milhões/ano e R$ 150 milhões/ano, nos próximos cinco anos.
Em 2009, o Brasil movimentou R$ 30,2 bilhões em vendas de medicamentos. O potencial é de crescimento acima de dois dígitos nos próximos anos. "Há dez anos o perfil dos laboratórios nacionais era de poucos investimentos e escala baixa. Hoje a situação é bem diferente. Já temos multinacionais brasileiras", afirmou uma fonte.




Estudo: CARE-Eletric é a primeira companhia nacional a figurar em levantamento do World Economic Forum
Brasil entra em ranking global de inovação
Cibelle Bouças, de São Paulo
04/12/2009
Em um pequeno escritório do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), a CARE-Eletric, uma empresa incubada criada em 2007, desenvolveu uma turbina de geração de energia que reduz drasticamente os problemas ambientais causados pela instalação de usinas hidrelétricas. O sistema é baseado no princípio das rodas d'água. As turbinas são instaladas em pontos específicos do leito de um rio e geram energia a partir do fluxo natural das águas, sem a necessidade de instalação de barragens, como em uma usina convencional. "Funciona como uma roda d'água, mas debaixo da água", explica o gerente de gestão da empresa, Edson Abuchaim.
A CARE-Eletric é a primeira brasileira a figurar no ranking "Technology Pioneers", elaborado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). O levantamento foi feito a partir da análise de mais de 300 projetos de inovação realizados nos cinco continentes. Do total analisado, 26 projetos foram selecionados nas categorias de tecnologia da informação, biotecnologia e saúde, energia e proteção ambiental - nesse último, a empresa brasileira ocupou a quarta colocação.
O projeto da CARE-Eletric mostra que um rio com vazão de 12 metros cúbicos por segundo pode gerar de 150 quilowatt/hora (KW/h) a 1 megawatt/hora (MW/h). É possível instalar as turbinas em vários pontos do rio, elevando essa capacidade de geração, afirma Abuchaim. O custo de um conjunto de turbinas para geração de 1 MW/h é similar ao da construção de uma pequena central hidrelétrica (PCH). Em compensação, a tecnologia dispensa a construção de barragens, o desvio do curso dos rios, a transferência da população ribeirinha, o transporte e a readaptação da fauna para outra região, entre outros problemas sócio-ambientais derivados da construção de usinas hidrelétricas. "O desafio é tentar baixar o custo de produção, mas acredito que com a produção em larga escala isso será possível", afirma o gerente.
A oferta de projetos com foco no desenvolvimento de tecnologias verdes cresceu significativamente nessa edição do levantamento, afirma o diretor do Technology Pioneers, Rodolfo Lara. Na média dos últimos dez anos, 62% dos projetos apresentados eram ligados à área de tecnologia da informação; outros 22% eram ligados às áreas de saúde e biotecnologia e 16%, ao segmento de energia e ambiente.
Na edição mais recente do estudo, 38% dos trabalhos apresentados eram de tecnologias "verdes". A preocupação com o aquecimento global exerceu uma influência significativa sobre os temas das pesquisas de inovação, diz Lara. "Podemos esperar que esse seja o tema mais importante adotado pelas empresas de inovação nos próximos anos, sobretudo com o aumento dos pacotes de estímulo à produção de tecnologia verde por governos e empresas privadas", afirma.
Lara cita um relatório global da Ernst & Young elaborado este ano sobre tecnologia limpa, no qual mais de 300 executivos de companhias com receita superior a US$ 1 bilhão informaram que suas empresas estão investindo na adoção de tecnologias que reduzam os prejuízos ambientais. Esses executivos estimaram que as companhias gastarão pelo menos US$ 10 milhões em 2010 na adoção de tecnologias limpas; 22% do total previram gastos superiores a US$ 100 milhões. Entre as empresas citadas estão a BP, Chevron, ExxonMobil, Duke Energy, GE e Cisco Systems.
Outro ponto destacado por Lara no levantamento foi o aumento da participação de companhias de países emergentes. No ano passado, de 34 empresas selecionadas, 15 eram americanas e só havia uma representante da América do Sul e uma da Índia. Neste ano, 18 projetos foram criados nos Estados Unidos, um no Brasil, dois na Índia e um numa parceria entre África do Sul e Quênia.
Em relação ao total de projetos apresentados, 62% eram dos Estados Unidos, 26% da Europa, 7% da Ásia, 3% do Oriente Médio, 1% da África e 1% da América do Sul. Lara observa que, tradicionalmente, as empresas de inovação de países emergentes iniciam as pesquisas localmente mas, quando precisam se capitalizar ou ganhar projeção internacional, acabam optando por dar continuidade ao trabalho em países desenvolvidos.
Os Estados Unidos, pondera Lara, continuam tendo um lugar de muito destaque pelo acesso ao capital e à infraestrutura proporcionados pelo país, mas também por ser um grande mercado consumidor. "Mas à medida que países como Brasil, China e Índia desenvolvem suas políticas de inovação, haverá uma tendência de migração de capital investidor para esses países e a consequente permanência das empresas em seus países de origem. Acredito que o mercado de inovação será mais competitivo no futuro", avalia o diretor.
Um ponto positivo analisado por Lara foi o alto índice de sobrevivência das empresas de inovação, normalmente muito pequenas e jovens. De 450 empresas selecionadas nos rankings desde 2000, 83% sobreviveram. E do total, 79% continuam operando de forma independente. Os 21% restantes foram adquiridos ou se fundiram a outros grupos, mas as tecnologias continuaram em uso.




Transportes: Empresa trará parte da produção se ganhar o projeto
Alstom pode transferir tecnologia do trem-bala
Virgínia Silveira, para o Valor, de São José dos Campos10/11/2009
Philippe Delleur: "O fato de já termos uma base industrial instalada no Brasil agilizará o processo de transferência"
A Alstom tem planos de trazer para o Brasil uma parte da produção e tecnologia de trens de alta velocidade (TAV) da sua matriz francesa, caso participe da construção do trem-bala brasileiro, linha férrea de 511 km que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro. A expectativa da empresa, segundo seu presidente no Brasil, Philippe Delleur, é de que o edital de licitação para a construção do novo empreendimento, avaliado em R$ 34 bilhões, seja lançado pelo governo ainda este ano.
Única empresa no Brasil a operar uma indústria ferroviária, com uma fábrica em São Paulo, a Alstom é líder de mercado na área de TAV, tendo participado da construção de vários projetos no mundo, sendo os mais recentes em Marrocos e Arábia Saudita. "A experiência de mais de 30 anos da empresa na Europa e o fato de já termos uma base industrial instalada no Brasil, com mão de obra qualificada, agilizará o processo de transferência de tecnologia para a produção do trem de alta velocidade no Brasil", afirmou.
Segundo o executivo, a Alstom está preparada para atender à nova demanda que surge nessa área, com a perspectiva de lançamento de projetos como o do trem-bala e de metrô e veículos leves sobre trilhos (VLT) em capitais que se movimentam para receber os jogos da Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Para o projeto do trem-bala, o presidente da Alstom disse que a empresa irá oferecer dois tipos de produtos: o TGV Duplex, trem de dois andares, com capacidade para até mil passageiros e mais apropriado ao trânsito regional, com velocidade que pode chegar a 320 km por hora, e o AGV (automotriz de grande velocidade), para 700 passageiros e velocidade de 360 km por hora.
Por ser muito amplo, esse tipo de projeto, na opinião do executivo, envolverá riscos que deverão ser compartilhados entre o governo brasileiro e a iniciativa privada. "Especialmente os riscos de demanda, que são muito fortes no início de implantação do projeto, além dos riscos ambientais. São questões importantes que devem ser esclarecidas antes de o projeto ser colocado no mercado", comentou.
O Brasil é hoje o quinto maior mercado da Alstom no mundo. A empresa está aqui há mais de 50 anos - o país foi um dos seus primeiros investimentos no exterior - e emprega um total de 4 mil funcionários, distribuídos em três unidades : a de transportes, na Lapa, em São Paulo; a de energia, em Taubaté (SP); e a sede, também na capital paulista.
A unidade da Lapa é considerada o centro mundial de excelência na fabricação de carros em aço inoxidável. A unidade emprega mais de mil pessoas, numa área de 125 mil metros quadrados. No setor transporte, a Alstom é a única fabricante de sinalização e material rodante para transporte de passageiros - fazendo desde o projeto e fabricação de carros, sistemas de sinalização (de vias e de bordo) e centros de controle operacional até a manutenção e modernização de carros e locomotivas e o gerenciamento de projetos.
A Alstom, de acordo com Delleur, é também a única empresa que investiu sua tecnologia de ponta na América do Sul para a fabricação de soluções que podem ir do VLT (veículo leve sobre trilho) ao TGV (trem de alta velocidade), passando por trens regionais e metrôs. Um em cada dois metrôs em operação na América do Sul foi desenvolvido pela Alstom Brasil.
Além disso, a filial brasileira da empresa se tornou um importante polo de exportação, produzindo equipamentos e sistemas para grandes projetos na área de energia, como as usinas de Três Gargantas (China), La Vueltosa (Venezuela) e Ralco (Chile), entre outros, e na área de transporte, para os metrôs de Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile) e Nova York (Estados Unidos).
No período de abril de 2008 a março de 2009, o faturamento da Alstom foi de R$ 1,81 bilhão, com R$ 4,17 bilhões em pedidos recebidos. Entre os contratos da empresa em andamento no Brasil, Delleur destaca a modernização do sistema de sinalização do metrô de São Paulo. "Trata-se da última geração de tecnologia em sinalização e permite que o metrô ande de maneira automática, sem a necessidade do condutor", explica. O contrato, de acordo com Delleur, é da ordem de 350 milhões de euros e será concluído até o início do próximo ano.
A Alstom também está trabalhando na implantação de um sistema de VLT em Brasília, que ligará o aeroporto da cidade até a Esplanada dos Ministérios. O governo de Brasília assinou um contrato com o consórcio Brastram, constituído pela Alstom, TC/BR, Mendes Jr. e Via, para a primeira fase do projeto do VLT. A participação da Alstom nessa etapa, segundo Delleur, é de cerca de € 140 milhões .
Delleur conta que, com a proximidade da Copa do Mundo, sentiu um aumento do interesse dos municípios brasileiros em investir nesse tipo de empreendimento. Brasília será a primeira cidade a operar um VLT, mas a Alstom já está discutindo outros projetos semelhantes com as prefeituras de Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (BH), Santos (SP), Vitória (ES) e Rio de Janeiro.
Até o momento, segundo a Alstom, 29 cidades encomendaram um total de 1.221 VLTs Citadis fabricados pela empresa. Os VLTs de Brasília serão capazes de transportar mais de 400 passageiros por veículo. A empresa calcula que os VLTs de Brasília deverão receber de 120.000 a 200.000 passageiros por dia. A Alstom também fornecerá ao projeto VLT os sistemas de energia elétrica, bem como sistemas de telecomunicações, sinalização, bilhetagem automática e o Centro de Controle Operacional.




Laboratórios:
Novartis transfere tecnologia à Funed
Carolina Mandl, do Recife02/09/2009
A Novartis anuncia hoje a transferência da tecnologia de produção da vacina contra a meningite C para a Fundação Ezequiel Dias (Funed), do governo de Minas Gerais. A transação marca a entrada da multinacional suíça na fabricação de vacinas no Brasil, um negócio que ainda inclui a construção de uma indústria em Goiana (PE).
"O Brasil tem um dos melhores programas nacionais de imunização. É um país que investe, por isso interessa à Novartis produzir aqui", explica Gláucia Vespa, diretora de vacinas da Novartis. Hoje a empresa tem fábricas de vacina na Itália, nos Estados Unidos, na Alemanha e no Reino Unido.
O processo de transferência para a Funed levará cerca de cinco anos para ser concluído. Até lá, em troca da tecnologia, o governo mineiro se compromete em comprar a vacina da Novartis para imunizar a população, o que vai exigir um investimento inicial de R$ 40 milhões.
Em 2014, quase ao mesmo tempo em que o laboratório mineiro se tornará autossuficiente na fabricação de anticorpos contra a meningite C, a Novartis vai inaugurar a fábrica em Goiana, a 60 quilômetros do Recife. A unidade receberá entre US$ 300 milhões e US$ 500 milhões de investimentos e produzirá vacinas com a tecnologia de glicoconjugação, voltada para doenças graves e capaz de imunizar a pessoa logo após a aplicação.
Amanhã, Andrin Oswald, presidente mundial de vacinas da Novartis, lançará a pedra fundamental do empreendimento no interior pernambucano. Durante a construção, parte da mão-de-obra já estará recebendo treinamento. Gláucia contratou recentemente cinco engenheiros recém-formados. Eles vão passar de 12 a 18 meses recebendo treinamento no Brasil, Itália e Estados Unidos antes de iniciar os trabalhos em Goiana.



Estratégia: Iniciativa da Embrapa ocorre após apoio a brasileiros na disputa com Estados Unidos na OMC
Países africanos vão plantar algodão com tecnologia do Brasil
Mauro Zanatta, de Brasília31/08/2009
O Brasil começou a saldar sua dívida com os países africanos que apoiaram o processo aberto na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios pagos pelos Estados Unidos aos seus produtores de algodão. A Embrapa África e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), vinculada ao Itamaraty, vão investir US$ 4 milhões e transferir tecnologia nacional a projetos de produção da fibra nos países do chamado "Cotton-4".
Os governos de Benin, Burkina Faso, Chade e Mali, que têm 30% das exportações atreladas ao algodão, terão apoio para tornar competitiva sua produção no mercado internacional por meio da adaptação de sementes às savanas africanas, recuperação da qualidade dos solos, introdução de técnicas de controle de pragas e doenças, além da construção de laboratórios de pesquisa e treinamento na região.
"Em 2003, quando começou a disputa na OMC, os 'Cotton-4' votaram com o Brasil contra subsídios americanos", diz o coordenador da Embrapa África, Cláudio Bragantini. "O Brasil quer aproximação política com os africanos. E a Embrapa ajuda ao aumentar a produção de alimentos e de algodão, além de abrir mercado para máquinas, equipamentos, insumos e sementes brasileiras."
A Embrapa África usará como unidade-piloto o Centro Regional de Pesquisa Agrícola de Sotuba, cidade próxima de Bamako, capital do Mali. "Os pequenos produtores começaram a deixar o algodão de lado e passaram a produzir milho, arroz e milheto para consumo próprio. A economia desses países sofreu os efeitos disso", diz Bragantini. O algodão significa, em média, 8% do PIB total no "Cotton-4".
No Mali, a área plantada recuou de 600 mil para menos de 300 mil hectares. O Benin planta 250 mil hectares e Burkina Faso, 600 mil. No Chade, onde 12% da população depende do algodão, a área é inferior aos 300 mil hectares. Nos quatro países, a produtividade beira 1 mil quilos por hectare. No Brasil, onde foram cultivados 842 mil hectares na safra passada, a média chega a 3,6 mil kg/ha - no Centro-Oeste, supera os 4 mil kg/ha.
Em julho, foram plantadas dez variedades de algodão da Embrapa e cultivares locais da África nos campos de Sotuba. A meta é selecionar as sementes mais resistentes às doenças devastadoras da cultura e mais adaptadas ao clima e ao solo locais. "É um projeto inédito conservacionista, que inclui plantas de cobertura para proteção do solo e plantio direto em associação com milho e sorgo", explica Bragantini.
O projeto de quatro anos prevê a participação de empresas privadas com forte influência do governo nos países do "Cotton-4". Os produtores receberão os insumos, a assistência técnica e terão a garantia da compra da safra para a exportação. O projeto-piloto será desenvolvido em 12 hectares. A estação de Sotuba disseminará tecnologias além dos sistemas agrícolas, como ensaios em pequenas plantadeiras de parcelas manuais ou semi-mecanizadas.
A iniciativa no "Cotton-4" também ajudará a desenvolver um projeto específico para elevar a produção de arroz no Senegal. O país africano produz apenas 20% do consumo interno total. O arroz significa 16% do déficit da balança comercial. Em três anos, a ABC deve investir US$ 1 milhão para bancar a transferência de tecnologia brasileira. A Embrapa começará a testar variedades de arroz para áreas irrigadas, terras altas e sequeiro. O projeto-piloto será feito na estação experimental de Saint-Louis, cidade do norte do país, na fronteira com a Mauritânia.
Pelo projeto, a Embrapa implantará a mecanização das lavouras com pequenos equipamentos e levará tecnologia de pós-colheita, com secadores e beneficiadoras de arroz. A Abimaq tem interesse em vender máquinas agrícolas e equipamentos para a infraestrutura das áreas experimentais. Nos testes, serão selecionadas três variedades de arroz e empresas brasileiras venderiam de 10 a 12 toneladas de sementes básicas para a multiplicação. Em seguida, será implantado um programa de produção autônomo de sementes.




Novo presidente da Embrapa define programas e diretrizes
Valor Econômico
24/07/2009 11:14
BRASÍLIA - Sob nova direção, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) fará um " ajuste fino " em sua atuação, mas não sofrerá alterações radicais. Principal referência mundial em agricultura tropical, a Embrapa terá orçamento de R$ 1,64 bilhão em 2010 e elegeu três programas tecnológicos como prioridade de pesquisa: combate ao fungo da ferrugem da soja, novas alternativas de matérias-primas para adubos e recuperação de áreas degradadas.No comando da nova etapa iniciada há duas semanas, o agrônomo geneticista Pedro Arraes, 56 anos, ratifica a opção preferencial da empresa pela indústria nacional, transferência de tecnologia à agricultura familiar e cooperação internacional com países da África. " Vamos fortalecer e defender a empresa nacional. Não queremos tomar mercado, mas temos papel fundamental no preço, na qualidade e no não monopólio " . Primo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o novo presidente defende a biotecnologia " como ferramenta " do processo. " O que interessa é o produto final. No caso da soja da Monsanto, por exemplo, eles iam dominar o mercado. E a Embrapa garantiu a distribuição da tecnologia a várias empresas " . Pedro Arraes rejeita a disputa ideológica entre agricultura familiar e agronegócio. " Já que há uma separação em dois ministérios, temos que conviver bem " E emenda: " Temos que dar um tratamento diferente à familiar sobretudo na área de transferência de tecnologia " .Chefe da unidade Arroz e Feijão da Embrapa até então, o pesquisador carioca defende o processo de seleção que originou sua escolha. " Isso gerou maturidade institucional. Ainda pode ser aprimorado, mas trouxe ganhos à Embrapa " , resume. E defende a " desconstrução da burocracia de 35 anos " da Embrapa. " Precisamos agilizar a gestão, simplificar processos e dar mais tempo para o pesquisador dedicar-se à sua atividade-fim " . A Embrapa tem hoje 8.637 empregados, dos quais 2.116 pesquisadores, e contratará outros 800 pessoas até 2010.Pedro Arraes afirma que a estatal deve manter distância da política partidária e diz que as polêmicas geradas por questões ambientais devem ser tratadas com objetividade pela empresa. " Podemos gerar dados e estratégias, mas a questão política transcende o papel da Embrapa " . Um estudo do chefe da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo Miranda, desagradou a ambientalistas e foi usado por ruralista no debate sobre a reforma do Código Florestal. " Uma imagem não é matemática porque tem a interpretação. Não se questiona números, mas até essa turbulência teve o mérito de virar a discussão para o lado técnico " . Ele defende que a Embrapa tem que " gerar indicadores, produtos e sistemas " porque " a preservação ambiental, por si só, não é nosso papel, mas do Ibama " .A " nova " Embrapa consolidará seus laboratórios no exterior (Labex) e terá foco em grandes projetos de cooperação com países africanos, como Angola, Moçambique e Gana. " Novos Labex eu vou segurar. Vamos consolidar na Coreia e atender a China. Mas o projeto de Labex vai ter uma bandeira. Faremos projetos de longo prazo com agências como a JICA [cooperação do Japão] na África para recuperar as empresas locais de pesquisa, treinar gente e ajudar as empresas brasileiras que estão lá " , afirma Pedro Arraes. " O Lula vai a Burkina Faso? Então, temos que ir lá. Mas vamos ter que selecionar porque tem uma hora que não teremos mais perna " . Arraes revela interesse em criar um Centro Internacional de Treinamento em Agricultura Tropical para auxiliar as centenas de pedidos do exterior recebidos pela empresa. Ele prevê a criação de " Labex no Brasil " para atender às demandas internas, alocando pesquisadores em instituições-chave para o agronegócio e a Embrapa, como FGV, Fiesp, Unicamp e PUCs do Rio e São Paulo.Mesmo com fortes instabilidades políticas, a " missão internacional " da empresa em países como a Venezuela, onde mantém um escritório, permanecerá. " Tem problema político? Tem, mas a Venezuela importa US$ 5 bilhões do Brasil, tem empresas brasileiras lá e dá para ganhar dinheiro ajudando as pessoas " , afirma.



LENTE
Baixa tecnologia se traduz em alto sucesso
Ele foi projetado na década de 1950, como um espião capaz de bisbilhotar instalações militares estratégicas, bem acima do alcance dos mísseis soviéticos.Pelo menos foi assim até 1960, quando os russos conseguiram abater um deles, causando um incidente internacional.Mas, apesar da sua notoriedade, o Lockheed U2 continua sendo o burro de carga do reconhecimento militar americano.Mesmo na era da vigilância por satélite e dos aviões não tripulados, esse jato desajeitado e difícil de ser pilotado sobrevive por fornecer informações essenciais do campo de batalha, disse o "New York Times". Nada mal para um avião projetado com lápis e réguas. ... .... ... ... ... .. ... ... ....





Patentes crescem 64% no país em dez anos
Relatório internacional analisou registro de patentes entre 2001 e 2010; nesse período, Europa e Japão tiveram declínio
Segundo o documento, Brasil é lento na análise dos pedidos; órgão responsável diz que tempo de espera já caiu
RAFAEL GARCIA - DE WASHINGTON
Uma análise feita pelo maior banco de dados de patentes do mundo mostra que o número desses registros no Brasil cresceu 64% entre 2001 e 2010, período em que Europa e Japão tiveram declínio de 30% e 25%.
Os números estão em um relatório baseado no DWPI (Índice Mundial Derwent de Patentes) obtido com exclusividade pela Folha.
Produzido pela Thomson Reuters (multinacional provedora de dados no setor de negócios), o documento analisou patentes solicitadas e concedidas no Brasil e invenções publicadas fora do sistema oficial enquanto aguardam confirmação.
Na década, o país teve 130 mil pedidos de registros "inovadores" segundo os critérios do DWPI. Na China, que acabou de superar os EUA e o Japão em pedidos de patentes, foram 3 milhões.
O Brasil acelerou sua inovação entre 2007 e 2010, ano em que atingiu cerca de 5.500 "invenções únicas".
Esse termo significa que o relatório atribui um só ponto a cada patente, evitando que ela seja contabilizada repetidamente ao ser solicitada, deferida e publicada.
A análise permitiu ver o Brasil como um "canteiro fértil" da inovação, nas palavras do relatório, mesmo diante de um problema crônico: a demora do Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) em concluir pedidos de registro de patentes.
"O Inpi tem 150 mil pedidos acumulados e não é incomum que a aprovação leve de oito a dez anos", diz o relatório, que vê nisso um entrave a investimentos estrangeiros. Segundo o Derwent, em países ricos a média de espera é de quatro anos.

PERFIL NACIONAL
No período entre 1997 e 2007, ocorreu uma inversão entre o perfil de solicitantes de patentes no Inpi. No início, 64% dos pedidos vinham de fora do país. No último ano, eram apenas 36%.
Esse problema é mais visível quando se observam os maiores solicitantes de patentes do país. Encabeçado pela Petrobras, o grupo dos cinco primeiros tem só empresas estatais e instituições públicas de pesquisa.
Ao todo, 27% das patentes brasileiras são de universidades, para as quais a rapidez não é tão crucial.
Apesar de criticar a lentidão do Inpi, a Thomson Reuters diz que parte da demora vem do fato de o Brasil ser seletivo ao analisar os pedidos. Enquanto na China e na Índia o índice de aprovação de patentes gira em torno de 20%, no Brasil a taxa é de 2%.
Um sinal de que a inovação brasileira está mais madura que nos outros gigantes emergentes, diz o relatório, é que as patentes registradas no Brasil deixam um "rastro" de literatura científica.
A área tecnológica que mais se destacou em patentes foi a de computação, seguindo a tendência observada em países desenvolvidos.
O relatório é otimista quando analisa a segurança contra a violação de patentes. "A infração pode ser comum no Brasil, mas há infraestrutura para aplicar as leis de propriedade intelectual."
A sensação de segurança jurídica se reflete nos pedidos de registros de marcas, que subiram 200% no período, diz a Thomson Reuters.

OUTRO LADO
Segundo Inpi, o tempo de análise de patentes já caiu de sete anos para cinco anos e quatro meses. O diretor de patentes, Julio Cesar Moreira, diz que devem ser contratados 400 pareceristas até 2015 para reduzir a espera.




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