Saturday 27 February 2010

ENERGIA ATOMICA

El núcleo del debate
La energía atómica despierta apasionadas discusiones. Diez páginas para informarse antes de opinar
ANTONIO FRAGUAS GARRIDO
28/02/2010

1. EN GUARDIA
El Consejo de Seguridad Nuclear es el organismo público encargado de que no ocurra una catástrofe como la de Chernóbil. En su ‘web’ mucho material de divulgación sobre la radioactividad: vídeos, infografías, glosario…

2. LA INDUSTRIA
El Foro de la Industria Nuclear Española agrupa a todas las empresas relacionadas con el uso pacífico de este tipo de energía. Actúan como un grupo de presión y en su ‘web’ ofrecen la asesoría ‘online’ de un experto sobre energía nuclear.

3. LOS GRUPOS DE PRESIÓN
Respaldado por la industria y con muchos medios, el ‘lobby’ Yo Soy Nuclear recoge firmas en su ‘web’ en apoyo a esta fuente de energía. En su página hay enlaces a grupos afines, noticias, comentarios y ofrecen ‘10 razones para ser nuclear’.

4. EN CONTRA
La réplica a las campañas pronucleares proviene de ‘webs’ como ésta, montada por organizaciones ecologistas (Greenpeace, Ecologistas en Acción, Adenex…). Ofrecen ‘10 razones para ser antinuclear’, además de informes y recursos para el ciberactivsimo.

5. DATOS ÚTILES
Este portal recopila toneladas de información sobre los riesgos de la energía nuclear. Cuenta con una sección denominada ‘El accidente diario’ donde se recopilan todas las incidencias nucleares que ocurren en el mundo.

6. UN TRISTE ACCIDENTE
Vídeos, fotos, documentos… en 1986 el mundo se sobrecogió cuando el reactor nuclear de Chernóbil (Ucrania) dejó escapar su letal contenido. Miles de personas sufren todavía los efectos de ese accidente. Está ‘web’, en inglés, recopila toda la información.

7. BASURA PELIGROSA
Los delicados residuos que genera la energía nuclear son gestionados por una empresa pública, ENRESA, que destina millones de euros al año en ese cometido. En su página se puede encontrar mucho material sobre prevención y almacenamiento de los residuos.

8. EL GRAN FORO
La industria mundial de la energía nuclear se da cita en este gran portal de Internet. Documentos oficiales, convocatorias, zona divulgativa, foros y una sección dedicada a la mujer y a la energía nuclear.

9. UN ASUNTO DE TODOS
La Agencia de la Energía Atómica de la ONU no sólo controla los usos bélicos del uranio, también su implicación en la sociedad civil y sus múltiples usos sanitarios y científicos. En su ‘web’ podemos encontrar recursos para jóvenes, audios, vídeos, fotos y un banco de datos.

10. HÁGALO USTED MISMO
Siéntase a los mandos de una central nuclear. Este simulador virtual de cómo funciona un reactor atómico le hará sudar la gota gorda, pero sin riesgos para la salud.

O Brasil deve assinar o Protocolo Adicional ao Tratado de Não Proliferação Nuclear? - Jornal Folha de Sãओ पाउलो, १०-०४-10
Samuel Pinheiro Guimarães: Instrumento desnecessário e humilhante NÃO
O CENTRO da questão é o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), cujo objetivo é evitar uma guerra nuclear. A possibilidade de tal conflito não está nos países que não detêm armas nucleares, mas, sim, naqueles que as detêm. Portanto, o principal objetivo do TNP deve ser a eliminação das armas dos países nuclearmente armados: Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra. ....

Rubens Ricupero: Adesão não contraria interesse nacional SIM
DA MESMA forma que a democracia, segundo Churchill, é a pior forma de governo, exceto todas as demais, o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes. Durante os 40 anos de sua vigência, renunciaram à arma atômica 11 países que já a possuíam ou desejavam adquiri-la (entre eles Brasil, Argentina e África do Sul). ...


Brasil pode estar desenvolvendo a bomba atômica, diz Spiegel

Hans Rühle 08-05-2010
O Brasil assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, mas especialistas suspeitam que o país pode estar trabalhando em uma bomba nuclear. É permitido ao país enriquecer urânio legalmente para seus submarinos nucleares, mas ninguém sabe o que acontece ao combustível assim que chega às bases militares restritas.
Em outubro de 2009, o renomado periódico americano “Foreign Policy” publicou um artigo intitulado “As Futuras Potências Nucleares Com as Quais Você Devia se Precupar”. Segundo o autor, Cazaquistão, Bangladesh, Mianmar, Emirados Árabes Unidos e Venezuela são os próximos candidatos –após o Irã– para ingresso no clube das potências nucleares. Apesar de seus argumentos interessantes, o autor não mencionou a potência nuclear potencial mais importante: o Brasil.
Atualmente, o Brasil é visto com alta estima pelo restante do mundo. Seu presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, se tornou um astro no palco internacional. “Esse é o cara”, disse certa vez o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em um elogio ao seu par brasileiro. Lula, como se sabe, pode até mesmo receber o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, com todas as honras e apoio ao seu programa nuclear, pelo qual o Irã atualmente enfrenta o ostracismo por parte do restante do mundo.


Há cerca de 23 mil dispositivos hoje, 40 mil a menos que na Guerra Fria.
Adeus às armas nucleares?Por Klaus Naumann 20/05/2010
Existem cerca de 23 mil armas nucleares hoje, 40 mil a menos do que no auge da Guerra Fria
Como demonstraram as recentes reuniões de cúpula de Washington e da Organização das Nações Unidas (ONU), o controle e desarmamento das armas nucleares estão entre as principais questões na agenda política mundial. Provavelmente, continuarão assim no futuro próximo. De fato, 2010 determinará se a visão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de um mundo livre de armas nucleares, continuará uma esperança distante, mas factível, ou se terá de ser abandonada.
Ninguém deveria ter nenhuma ilusão. Mesmo se todos os Estados com armas nucleares abraçassem a visão de um mundo livre da ameaça de conflitos nucleares, as armas nucleares continuarão conosco por, pelo menos, mais 20 anos e, mesmo isso, exigiria as condições mais favoráveis possíveis para o desarmamento.
Este ano é de importância crucial. O acordo assinado no início de abril em Praga, entre Rússia e EUA, sobre a redução de armas nucleares estratégicas e possíveis novos cortes foi acompanhado pela publicação da Revisão da Postura Nuclear dos EUA, identificando a capacidade nuclear que o governo Obama deseja preservar nos próximos quatro anos. A conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TPN) dará início ao trabalho de adaptar o TPN a nosso mundo em rápida transformação. Muita autoridades políticas esperam que 2010 traga clareza sobre os programas nucleares da Coreia do Norte e Irã.
Há cerca de 23 mil armas nucleares atualmente, 40 mil a menos do que no auge da Guerra Fria. A capacidade total dessas armas é maior do que 150 mil explosões equivalentes à de Hiroshima. O desarmamento nuclear ainda é, portanto, uma necessidade urgente e políticos proeminentes nos EUA e Alemanha criaram a iniciativa Global Zero, liderada pelos EUA, e a Comissão Internacional de Não Proliferação e Desarmamento Nuclear (ICNND, na sigla em inglês), com apoio da Austrália e Japão, e copresidida pelos ex-ministros de Relações Exteriores, Yoriko Kawaguchi e Gareth Evans.
EUA, Reino Unido, França, Reino Unido e China - todos signatários do TPN - detêm 90% das armas nucleares mundiais, enquanto Índia, Paquistão e, provavelmente Israel, possuem cerca de 1 mil. A Coreia do Norte, supostamente, possui algumas armas nucleares e o Irã, provavelmente, busca um programa de armamentos nucleares. Obama e o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, concordaram em reduzir seus arsenais estratégicos para 1.550 armas cada - bem mais que os 1 mil que Obama imaginava, mas ainda assim um passo imenso que poderia trazer novos cortes.
O caminho do desarmamento nuclear mundial, contudo, será longo e esburacado. Para começar, a capacidade para desmontar e destruir ogivas nucleares é limitada e deverá continuar assim. A capacidade atual gira em torno a 500 armas por ano tanto na Rússia como nos EUA. Isso significa que o total de 2 mil armas para cada que o informe da ICNND sugere para o ano de 2025 não poderia ser totalmente colocado em prática muito antes de 2028.
Também há o risco de que outros países, particularmente no Oriente Médio, sigam o exemplo da Coreia do Norte e Irã. O informe da ICNND "Eliminando Ameaças Nucleares", divulgado no fim do ano passado, propõe abordar esses desafios com uma agenda abrangente para reduzir os riscos nucleares. Como comissário da Alemanha na ICNND, acredito que esse informe é o primeiro e único até agora a sugerir passos precisos e viáveis em direção a um mundo sem armas nucleares. Além disso, o informe propõe uma declaração desses Estados de que o único propósito das armas nucleares é impedir seu uso por outros, além do comprometimento de não ampliar seus estoques.
Para o período até 2025, a meta é reduzir o arsenal nuclear a 2 mil, ou seja, menos de 10% do total atual. Uma declaração de "não usar primeiro" deverá ser acertada coletivamente, em conjunção com posicionamento, status de prontidão e estruturas de força correspondente verificáveis. Como passos suplementares, o informe sugere negociar limitações sobre mísseis, defesa estratégica de mísseis, armamentos no espaço e armas biológicas, além de manter negociações para eliminar desequilíbrios de armamentos convencionais.
Cumprir essa agenda ambiciosa até 2025 daria início à última fase na busca por um mundo livre de armas nucleares e exigiria, em primeiro lugar, condições políticas que descartassem de forma confiável guerras mundiais ou regionais. As armas nucleares, portanto, se tornariam supérfluas.
Apenas nesse caso poderiam ser banidas e se poderia iniciar sua eliminação total. Paralelamente, medidas obrigatórias penalizariam qualquer Estado tentando driblar a proibição, assim como indivíduos envolvidos na produção de armas nucleares.
A visão de Obama poderia, portanto, tornar-se realidade daqui a 20 anos, desde que os EUA e Rússia dessem os primeiros passos neste ano. Novos cortes imediatos precisariam incluir armas subestratégicas, com as poucas armas nucleares americanas na Europa sendo retiradas em troca da eliminação do arsenal russo, ainda substancial.
A retirada das armas nucleares americanas da Europa, no entanto, não é de forma alguma o primeiro passo em direção ao desarmamento. Sugeri-lo como uma jogada inicial poderia prejudicar a segurança europeia e ameaçar a coesão transatlântica, portanto a mensagem tem de ser "não" a uma retirada unilateral, mas "sim" a incluir essas armas em futuras negociações de controle de armas. A retirada dessas armas não significaria o fim da dissuasão nuclear para a Europa, já que a dissuasão continuará necessária até que a última arma nuclear seja desarmada. Mas o único propósito de reter algum grau de dissuasão será o de dissuadir o uso de armas nucleares.
A Europa, talvez, se beneficiou mais do que qualquer outra parte do mundo da dissuasão nuclear, porque ajudou a preservar a paz durante a Guerra Fria e evitou a proliferação nuclear. Mas chegou a hora de unir-se aos presidentes Obama e Medvedev para realizar o desarmamento. De fato, sem os exemplos de EUA e Rússia, o mundo veria mais, não menos, Estados com armas nucleares.
Klaus Naumann é ex-chefe de Estado-Maior da República Federal da Alemanha. Copyright: Project Syndicate, 2010.
http://www.project-syndicate.org/




Der Spiegel
A história das ambições nucleares do Irã (primeira parte) (segunda parteDocsGoogle
Erich Follath e Holger Stark


Destino do combustível usado após sua remoção ainda dificulta aceitação.


A indústria nuclear hoje
Por Leonam dos Santos Guimarães
30/06/2010 VALOR ECONÔMICO
Estão em construção no mundo todo 53 usinas nucleares; encomendadas, 135; e planejadas, mais 295 até 2030
A indústria mundial de geração elétrica nuclear já acumulou mais de 14 mil reatores por ano de experiência operacional do final da década de 50 até hoje. São 436 usinas nucleares distribuídas por 34 países, concentradas naqueles mais desenvolvidos, que respondem atualmente por 16% de toda geração elétrica mundial.
Dezesseis países dependem da energia nuclear para produzir mais de um quarto de suas necessidades de eletricidade. França e Lituânia obtêm cerca de três quartos de sua energia elétrica da fonte nuclear; enquanto Bélgica, Bulgária, Hungria, Eslováquia, Coreia do Sul, Suécia, Suíça, Eslovênia e Ucrânia mais de um terço. Japão, Alemanha e Finlândia geram mais de um quarto; e os EUA, cerca de um terço.
Apesar de poucas unidades terem sido construídas nos últimos 15 anos, as usinas nucleares existentes estão produzindo mais eletricidade. O aumento na geração nos últimos sete anos equivale a 30 novas usinas e foi obtido pela repotencialização e melhoria do desempenho das unidades existentes.
Existem hoje renovadas perspectivas para novas usinas em países com um parque nuclear estabelecido e outras tantas alguns novos países. Os países reunidos no grupo dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) são particularmente importantes nesse contexto. Em todo o mundo, 53 usinas encontram-se em construção - Angra 3 é uma delas - e a elas se somam encomendas firmes para outras 135. Além dessas, mais 295 consideradas até 2030 pelo planejamento energético de diversos países (dentre os quais o Brasil, que planeja de 4 a 8 usinas adicionais nesse horizonte de tempo).
Cumpre reconhecer, entretanto, que ainda persistem forças antinucleares importantes em alguns países, em especial na Alemanha. Seu poder político, porém, vem declinando
Apesar da crescente atenção que a geração nuclear tem recebido por razões ligadas ao ambiente e segurança de suprimento, é claro que as novas usinas devem provar sua competitividade econômica nos mercados de energia de hoje.
Se puder ser provado que novas usinas são a mais barata forma de geração elétrica de base a longo prazo, esse será um argumento muito poderoso em favor de sua escolha. A Agência Internacional de Energia (IEA) prova isso na sua edição 2010 do relatório "Custos projetados de geração de eletricidade", recentemente lançado. Várias restrições potenciais têm sido levantadas, especialmente a disponibilidade de financiamento e restrições de capacidade na cadeia de suprimentos, mas podem ser superadas como foram no passado.
As raízes da oposição a qualquer coisa relacionada com a energia nuclear são muito profundas e constituem elemento essencial do movimento ambientalista, que encontrou na indústria de geração elétrica nuclear um alvo relativamente fácil.
A experiência tem mostrado que ganhar aceitação pública é mais fácil ao nível local, permitindo que as pessoas visitem as instalações e esclareçam suas dúvidas. Para a indústria, a melhor abordagem é operar bem suas instalações, tanto do ponto vista da segurança como do econômico.
O baixo custo do urânio e sua estabilidade ao longo do tempo constituem vantagem econômica primordial da geração elétrica nuclear. O ciclo do combustível, isto é, a mineração e beneficiamento, conversão, enriquecimento e fabricação são processos muito complexos, tanto do ponto de vista técnico como comercial, com mercados individuais para etapa.
O salto que os preços mundiais do urânio deram desde 2003 e a subsequente queda brusca, geraram muito interesse, particularmente do setor financeiro. Isso estimulou uma visão renovada sobre as alternativas tradicionais de comprar e vender urânio e encorajou os compradores a pressionar pelo maior número possível de fontes de suprimento.
As significativas restrições à transferência de tecnologia e comércio de bens e serviços são críticas para a indústria nuclear, assim como o gerenciamento do combustível usado e o retorno dos sítios nucleares fechados a usos alternativos. As restrições estão ligadas ao Tratado de Não Proliferação (TNP) de armas nucleares e sua implementação por meio de salvaguardas pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) e pelo Grupo de Fornecedores Nucleares (NSG).
A proliferação nuclear ainda permanece como um tema muito vívido e tem o potencial de ameaçar o renascimento da indústria nuclear.
O que fazer com o combustível usado após sua remoção do reator tem sido a mais importante questão e gerado os maiores problemas de aceitação pública. O debate sobre sua reciclagem é vital para o futuro da indústria nuclear.
A geração elétrica nuclear deve ser colocada no contexto mais amplo do desenvolvimento energético mundial. Esse tema retornou ao debate público após ter ficado muitos anos à margem depois das crises do petróleo dos anos 70.
Isso se deve a preocupações renovadas sobre a segurança do fornecimento de óleo de gás a longo prazo, indicada pela significativa escalada de preços, mas também pelas preocupações com as consequências ambientais da contínua exploração em massa dos recursos em combustíveis fósseis.
Baseado nos princípios do desenvolvimento sustentável, as mais recentes análises de ciclo de vida das várias opções de geração elétrica não conseguem elaborar um cenário para os próximos 50 anos no qual não haja uma significativa participação da fonte nuclear para atender às demandas de geração de energia concentrada, juntamente com as renováveis, para atender às necessidades dispersas.
A alternativa seria exaurir os combustíveis fósseis, aumentando brutalmente a emissão de gases de efeito estufa, ou negar a aspiração de melhoria de qualidade de vida para bilhões de pessoas da geração de nossos netos.
Leonam dos Santos Guimarães é assistente da presidência da Eletronuclear e membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do Diretor-Geral da AIEA


Como conviver com a bomba atômica

David Patrikarakos  - Prospect Magazine - 23/07/2010 - 01h41
Em 9 de junho último, a Organização das Nações Unidas (ONU) impôs severas sanções ao Irã devido ao programa nuclear daquele país. As sanções foram impostas após uma aparente mudança de posição por parte do presidente Barack Obama. O presidente norte-americano vinha até então adotando a abordagem mais pacífica em relação ao Irã desde o governo de Jimmy Carter. A sua mudança de atitude é uma reação aos fracassos da diplomacia. Mas, por trás dos bastidores, à medida que a progressão rumo a um Irã nuclear continua, os pensamentos dos diplomatas estão se voltando para uma nova era de contenção. E uma questão provocativa precisa agora ser respondida: um Irã nuclear será uma coisa tão ruim assim para os Estados Unidos? ... ..... ..... .... ....










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Friday 26 February 2010

NEOSCHUMPETERIANISMOS x EVOLUCIONISMOS

Economia: Para economista "evolucionário", período agudo da crise parece ter passado e agora há espaço para as instituições financeiras evoluírem.
Seleção natural no mercado
Por Gustavo Faleiros, para o Valor, de Londres
26/02/2010
Geoffrey Hodgson, que aplica a teoria de Darwin à economia: "É mais importante a capacidade de adaptação de uma empresa às mudanças no mundo do que o lucro final"
A apropriação da teoria de Charles Darwin sobre a evolução da vida em outros campos da ciência já provocou muita controvérsia e, não raro, ainda é vista com alta dose de desconfiança. Em particular, interpretações discriminatórias advindas do que se chamou de darwinismo social na virada do século XIX criaram as salvaguardas que perduram até hoje. Há, porém, pesquisadores ao redor do mundo que aplicam a lente darwiniana sobre a economia. Conhecidos como economistas evolucionários e institucionais, o grupo avalia como a produção da riqueza e a organização de empresas refletem conceitos de variação, herança e seleção nascidos em "A Origem das Espécies".
Um dos ícones dessa linhagem é Geoffrey Hodgson, professor da Escola de Negócios da Universidade de Hertforshire, no Reino Unido, que esteve recentemente no Brasil. Autor de 12 livros e editor do "Journal of Institutional Economics", publicado pela Cambridge University Press, o pesquisador de 64 anos fez palestras na Universidade Federal do Espírito Santo, onde tratou da turbulência econômica sob a ótica de Darwin.
Em entrevista ao Valor, de sua casa no interior da Inglaterra, Hodgson observa que o momento mais agudo da crise aparenta ter passado, com sinais de recuperação no mundo desenvolvido e entre alguns emergentes. O professor reforça, no entanto, a impressão de que ainda faltam passos a ser dados. Essa crise teria mostrado, sobretudo, como as instituições financeiras estão frágeis. "A maior incerteza é se a reforma do sistema financeiro foi o suficiente. Talvez devêssemos pensar em algo mais radical, uma verdadeira reconstrução", propõe.
Essa reconstrução não deveria transformar o mercado em grande metáfora darwiniana, adverte. Para Hofgson, o que está na pauta ainda é a disputa clássica dos economistas sobre a liberdade que os mercados devem e podem ter. Mas sua opinião é de que, agora, há espaço para as instuições financeiras evoluírem.
Tal evolução seria possível com a maior abertura para a regulamentação e a necessidade de reverter a liberalização das últimas duas décadas. "O problema é que o setor especulativo do sistema financeiro se misturou com tudo e, quando veio abaixo, levou todo o resto. Isso é muito sério para a economia moderna", afirma.
No turbilhão da crise e na revisão de quem sobriveverá a ela, a contribuição da economia evolucionária poderia vir do conceito de "seleção natural das organizações", cunhado por um dos precursores da economia institucional, o norueguês Thorstein Veblen. Essa é uma linha de pensamento que Hodgson segue em seu espectro de investigação, ao buscar dados sobre a adaptação de empresas aos momentos de adversidade. O professor lidera um grupo de estudantes que há anos registra a rotina de companhias. "Somos capazes de provar por nossa observação que é mais importante a capacidade de adaptação de uma empresa às mudanças no mundo do que o lucro final."
Seria essa, portanto, a verdadeira seleção natural aplicada à economia? A sobrevivência dos mais fortes? Hodgson lembra, de fato, que a recente instabilidade econômica levou consigo uma enorme quantidade de pequenas empresas, enquanto as grandes conseguiriam se salvar. Isso causou danos na dinâmica dos negócios, principalmente ao ceifar empregos. Mas, neste momento, ele se mostra satisfeito com o revival das teorias de John Maynard Keynes no gerenciamento de investimento públicos e principalmente na política econômica. A seu ver, o desempenho do Brasil perante a crise só foi possível graças a um aumento do investimento do Estado em programas sociais e em obras públicas. "O Brasil não está sofrendo os mesmos efeitos da reviravolta econômica por causa de boas políticas de desenvolvimento", diz.
A prospecção de Hodgson é de que a crise pode dar origem a uma economia com mais "valores". Com a biologia, diz ele, é possível apreender que, enquanto a competição nunca deixará de existir, há grande quantidade de cooperação ocorrendo. "Isso é verdade na natureza e na sociedade." Países e empresas cooperam há anos, aponta o pesquisador. Ao utilizar a teoria de Darwin, não se pode valorizar apenas o aspecto da competição expresso na ideia da seleção natural. O naturalista inglês nunca deixou de reconhecer uma parcela de cooperação no processo evolucionário das espécies, aponta.
Cooperação é exatamente um dos temas que crescem no interesse de pesquisadores da economia evolucionária. A discussão, mais uma vez, não parece ser simplesmente uma transferência de conceitos darwinistas aos mecanismos de oferta e demanda. O que alguns acadêmicos sustentam é que no campo econômico, ao contrário do que se observa entre muitas espécies, a cooperação não é guiada apenas por interesse próprio. Existe altruísmo e reciprocidade. Isso é o que defendem os autores Samuel Bowles e Herbert Gintis no artigo "Can Self Interest Explain Cooperation?", leitura mais do que recomendada por Hodgson. "Outras escolhas, como reciprocidade e altruísmo, podem explicar por que os humanos, entre os animais, são uma espécie única, uma espécie cooperativa", escrevem.
Recentemente, nas comemorações dos 150 anos do lançamento de "A Origem das Espécies", o biólogo Edward O. Wilson disse que, atualmente, à ciência da vida faz falta uma figura como Darwin, que foi capaz de sintetizar o conhecimento da época em uma grande teoria. O repórter pergunta a Hodgson se seria possível na economia ter um sintetizador como Darwin. Talvez Keynes pudesse ganhar este status? "Acho difícil, pois existem muitos campos na economia, muito específicos. O que sei é que há uma oportunidade, neste momento, para mudar a economia."


POLANYI, Michael.
The republic of science: its political and economic theory.
Minerva, v. 1, nº 1, p. 54-74, 1962.

FISCHER, Frank; MANDELL, Alan.
Michael Polanyi's republic of science: the tacit dimension.
Science as Culture, v. 18, Issue 1, p. 23-46, 2009.



19 de abril de 2010
ÍntegrasEstudo de comissão especial do governo britânico avalia quaisprofissionais o país deve formar para enfrentar mudança global
Em 2008, o governo britânico estabeleceu a Comissão do Reino Unido para o Emprego e Habilidades (UK Comission for Employment and Skills), com o objetivo, de acordo com página da Comissão na rede mundial, de mostrar "como um sistema aperfeiçoado de emprego e habilidades pode ajudar o Reino Unido a se tornar um líder mundial em produtividade, emprego", além de "criar uma sociedade justa e inclusiva", no contexto de "uma economia global em rápida mudança". Uma das tarefas da Comissão será a publicação de um documento anual sobre escolhas estratégicas para a empregabilidade. A primeira edição dessa National Strategic Skills Audit é o texto Skills for Jobs: Today and Tomorrow (Habilidades para Trabalhos: Hoje e Amanhã), publicado em março de 2010; Inovação deixa disponível aqui o primeiro volume, em língua inglesa, que contém as recomendações principais feitas ao governo britânico. De acordo com o documento, no resumo apresentado em seu início, os profissionais de que o Reino Unido precisará devem ter habilidades de liderança e gerência; capacidade em ciências da computação e software; em tecnologias médicas e farmacêuticas; em setores do serviço de saúde e social; em pesquisa e no ensino. O estudo também afirma que haverá necessidade de trabalhadores treinados para a manufatura, tradicional e avançada, "especialmente com habilidades em ciência, tecnologia, engenharia e matemática", entre outros. Outra necessidade detectada é de técnicos para comunicações de massa, para o setor químico, de ciências da vida e para a indústria farmacêutica, e engenharia automotiva. Clique:

Skills for Jobs: Today and Tomorrow


22. Schumpeter on Innovation and Resentment



26. Schumpeter on Capitalism's Self-Destruction











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Saturday 20 February 2010

O PT de DILMA - 4º CONGRESSO, FEV2010 + IMPRENSA

CADERNO DE TEXTOS PARA O VOLUME 1
Regimento Interno 4
Tática Eleitoral e Política de Alianças 8
Diretrizes para o Programa de Governo 12
Construção Partidária 24
Tática Eleitoral e Alianças na Conjuntura Atual 26

CADERNO DE TEXTOS PARA O VOLUME 2
Combate ao Racismo 4
Cultura 16
Desenvolvimento Sustentável 24
Escola de Formação 32
Fundação Perseu Abramo 36
Juventude 42
Política Internacional 56
Programa Nacional de Direitos Humanos 76

Artigos e Noticias



VEJA
Dilma defende estado forte e promete preservar estabilidade econômica

A candidata conquista o ninho

Dilma Rousseff: de coadjuvante a candidata de Lula


FOLHA
PT aprova documento final com diretrizes à esquerda

Em fala, Dilma focará "desenvolvimento integrado"

Aclamada candidata, Dilma prega Estado forte e coalizão
Em clima de superprodução, ministra também prometeu manter a política econômica Petista, que citou nome de Lula 12 vezes em discurso no evento do PT, critica oposição e afirma que dará atenção especial a meio ambiente

Análise: Candidata sem rebolado

Dilma é candidata de consenso, diz Lula




24/02/2010
Tamanho do papel do Estado desponta como um fator chave na eleição brasileira
Jonathan Wheatley
Os investidores estão cautelosos a respeito de qualquer ameaça aos pilares da estabilidade macroeconômica
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, não faz segredo de que deseja que os eleitores vejam a eleição presidencial de outubro como uma avaliação de seus oito anos no poder.
Na condição de presidente mais popular da história do Brasil, ele espera que seu sucesso seja transferido para Dilma Rousseff, sua ministra da Casa Civil, cuja candidatura foi oficializada pelo seu Partido dos Trabalhadores (PT), de esquerda.
Mas a eleição parece estar adquirindo a forma de um plebiscito diferente: sobre se o Estado deve ter um papel maior ou menor na economia.
Tanto Dilma quanto Lula têm minimizado as sugestões de que estão preparando um grande aumento do papel do Estado.
“Não haverá retrocesso nem aventuras”, disse Dilma durante o Congresso Nacional do PT, no fim de semana.
Mas Lula, apesar de alertar que a oposição a rotularia de “estatizante”, apoia um papel maior do setor público.
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Thursday 4 February 2010

EUROPE BY TRAIN

EUROPA NOS TRILHOS
São 80 mil partidas diárias de vagões que circulam por 250 mil km de ferrovias, chegando a 320 km/h
Trem possibilita passeio por vários países
Michel Euler/Associated Press
BALA Dois trens de alta velocidade, o alemão, à esq. na pág., e o francês, à dir., na Gare de l'Est, em Paris; viajar sobre trilhos evita processos de check-in e de check-out
SILVIO CIOFFIENVIADO ESPECIAL À EUROPA Que tal tomar café da manhã no Fouquet's-Barrière, o pós-moderno cinco estrelas inaugurado há pouco em Paris; almoçar em Bruxelas com Jean-Pierre Bruneau, chef de restaurante estrelado pelo guia "Michelin"; e, de noite, jantar na megaloja de luxo Harrod's, em Londres, onde, auspiciado pelo Turismo Espanhol, um balcão servia tapas e queijos, vinhos e doce de figo? Esse périplo gastronômico por três países foi realizado num único dia pela Folha a bordo de trens. Com uma malha ferroviária de dar nó -250 mil quilômetros de trilhos e 80 mil partidas diárias-, a Europa continental combina composições de alta velocidade, como o TGV francês e o ICE alemão, com simpáticos trenzinhos panorâmicos movidos a cremalheira, caso do GoldenPass e do Train du Chocolat suíços. E há ainda o sempre noticiado Eurostar, que cruza Paris e Londres por baixo do canal da Mancha, ligando através do Eurotúnel as Ilhas Britânicas ao continente europeu propriamente dito. Unindo os diversos roteiros, passes comercializados no Brasil pela Rail Europe (www.raileurope.com) resgatam a possibilidade praticamente ilimitada de conexões e de ligações entre cidades europeias em países limítrofes. Mas, mesmo planejando já, prefira viajar de trem entre o início de junho e fim de setembro, quando as temperaturas são amenas -o verão europeu coincide com nosso inverno. Mais fácil que voar?
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FÁBRICA DE CHIPS - CEITEC + OUTRAS

Semicondutores: Capacidade anual vai variar de 50 milhões a 100 milhões de unidades
Ceitec inicia hoje produção de chip
Sérgio Bueno, de Porto Alegre05/02/2010
Ruy Baron/Valor
Eduard Weichselbaumer, presidente do Ceitec: planos para construir uma nova unidade orçada em US$ 1 bilhão
Depois de quase cinco anos de trabalho, o Centro Nacional em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), companhia pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), inaugura hoje em Porto Alegre a primeira fábrica de circuitos integrados (chips) da América Latina já pensando na expansão do projeto. Se os negócios correrem conforme o planejado, em 2013 será necessária a construção de uma nova unidade industrial, orçada preliminarmente em US$ 1bilhão, informou o presidente da empresa estatal, o alemão Eduard Weichselbaumer.
A unidade, que será inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência da República, é o ponto alto de um processo iniciado em abril de 2005, quando começou a construção das instalações do Ceitec.
O projeto já exigiu investimentos de R$ 400 milhões, além de outros R$ 25 milhões que serão aplicados em obras complementares e fazem parte do orçamento de R$ 79 milhões reservado pelo MCT em 2010. Segundo Weichselbaumer, a meta da companhia é atingir o equilíbrio econômico-financeiro, sem considerar a amortização do investimento inicial, em cerca de três anos.
Constituído originalmente como uma associação civil sem fins lucrativos e transformada em uma companhia estatal federal por decreto do presidente da República em novembro de 2008, o Ceitec já desenvolveu circuitos integrados para rastreabilidade bovina (o "chip do boi"), para automação industrial e para moduladores de TV digital.
O centro escolheu como nichos de operação os sistemas de identificação por radiofrequência (RFID, na sigla em inglês), de comunicação sem fio (como as redes WiFi e WiMax) e de multimídias digitais em função das perspectivas de demanda da indústria nacional.
Agora, além de desenhar os circuitos integrados, a companhia vai produzir os chips para RFID a partir de lâminas de silício ("wafers") de seis polegadas de diâmetro adquiridas no mercado internacional, explicou Weichselbaumer.
De acordo com o executivo, até o fim do ano, após os ajustes e a "qualificação" de todos os equipamentos, o grau de eficiência da operação, que mede o nível de aproveitamento dos "wafers", será de cerca de 90%.
A capacidade de produção do Ceitec vai variar de 50 milhões a 100 milhões de chips para RFID por ano, dependendo das dimensões de cada um, revelou o executivo. Já os demais tipos de circuitos integrados desenvolvidos pela companhia - para comunicação sem fio e para multimídias digitais - serão enviados para produção fora do Brasil, pelo menos até a implantação da segunda etapa do projeto do Ceitec, em 2013.
Segundo Weichselbaumer, um dos objetivos da construção da segunda fábrica será absorver a produção desses circuitos, além de desenvolver chips mais modernos, de tecnologia mais avançada e em quantidades maiores. Nessa etapa, a companhia deverá buscar também a participação da iniciativa privada para bancar o investimento, disse o presidente do Ceitec. A forma de entrada do capital privado no empreendimento ainda não foi definida, mas quando migrou de associação civil para estatal o centro foi constituído como uma sociedade anônima.
O primeiro circuito integrado produzido em Porto Alegre será o "chip do boi", que será vendido por R$ 2,50 a R$ 3, contra R$ 4 a R$ 7 dos similares importados, informou o executivo. O produto - ainda fabricado fora do país a partir do projeto desenvolvido pelo centro - já está em testes de campo e tem grande potencial de mercado, comentou Weichselbaumer.
"O rebanho bovino brasileiro tem 200 milhões de cabeças, se renova a cada três ou quatro anos e hoje apenas um percentual muito pequeno dos animais usa brincos ópticos de identificação", comentou o presidente do Ceitec. De acordo com o executivo, a companhia também está desenvolvendo outros dois chips RFID para identificação de produtos industriais e farmacêuticos, que podem representar a produção de cerca de 10 milhões de unidades já em 2011.


Microeletrônica: Ceitec vai produzir chips no País




Semicondutores: Um dos desafios da companhia é criar chip para celulares e outros equipamentos móveis
Depois de vender fábricas, AMD tenta voltar à boa forma
André Borges, de São Paulo
26/02/2010
Davilym Dourado/Valor
Chris Cowger, principal executivo da AMD nas Américas: "Agora somos uma companhia de design e somos lucrativos"
Quando a Advanced Micro Devices (AMD) anunciou, há poucos dias, os resultados financeiros do último trimestre de 2009, o mercado se surpreendeu. Depois de 13 trimestres consecutivos de prejuízos, a fabricante de chips finalmente conseguiu voltar ao azul, com um lucro de US$ 1,18 bilhão. O resultado, no entanto, não foi um reflexo exato do desempenho da companhia com a venda de processadores. Os números foram influenciados por uma multa de US$ 1,2 bilhão paga pela rival Intel. Mesmo assim, o clima foi de comemoração. Durante cinco anos a AMD brigou com a Intel na Justiça americana, acusando a rival de asfixiar a concorrência em diversos países ao utilizar incentivos ilegais e ameaças de retaliação para forçar fabricantes de computadores a só comprar os seus processadores.
Foi uma vitória importante para a AMD porque pode abrir precedentes jurídicos e complicar ainda mais a vida da Intel. Esse capítulo, porém, está longe de encerrar a série de dúvidas que pairam sobre o futuro da companhia de chip, fundada em 1969, na Califórnia.
A AMD vive uma fase de reformulação, afirma Chris Cowger, vice-presidente corporativo e gerente geral para as Américas. Em entrevista exclusiva ao Valor, durante visita ao país, o executivo concordou que a companhia perdeu algo no caminho. A empresa hoje é bem bem menor do que já foi no passado. Mas boa parte do ceticismo do mercado em relação ao futuro da AMD, afirma Cowger, está contaminado por questões alheias às decisões e aos projetos da companhia. Ao falar das dificuldades, ele atribui parte dos problemas às práticas de competição de sua maior rival e à dificuldade do setor em lidar com as oscilações bruscas da economia.
Sejam quais forem os motivos, porém, uma coisa é certa: a AMD terá de provar, nos próximos meses, que as mudanças radicais feitas recentemente serão suficientes para colocar a companhia novamente na rota do crescimento.
Há pouco mais de um ano, a direção da AMD pegou a todos de surpresa ao anunciar que estava abrindo mão da produção de seus processadores. Foi como se a Volkswagen ou a GM decidissem vender suas fábricas, passando apenas a desenhar os carros, transferindo a manufatura para outras empresas. Por meio de um acordo com o governo de Abu Dhabi, que assumiu US$ 1,2 bilhão em dívidas da AMD como parte da transação, foi criada a Globalfoundries, que desde então assumiu a produção dos chips.
Da noite para o dia, a AMD substituiu o chapéu de fabricante pelo de "designer" de processadores. "É normal que, no princípio, as pessoas não tenham compreendido essa decisão, mas a realidade é que agora somos uma companhia de design e somos lucrativos", diz Cowger. "Foi um movimento absolutamente sensato. Hoje nós podemos criar, ir até o mercado e vender. É essa a nossa habilidade."
No mercado, a dúvida que persiste até hoje é se a decisão de vender as fábricas foi um movimento estratégico ou, simplesmente, uma saída de emergência para a companhia. Boa parte da dívida transferida pela AMD com a operação brotou de uma transação anterior, que também provocou polêmica. Em 2006, a empresa desembolsou US$ 5,4 bilhões pela fabricante de chips gráficos ATI. Aquisições bilionárias não são uma raridade no setor, mas o valor pago estava muito próximo ao de todo o faturamento da AMD no ano anterior, de US$ 6 bilhões. "É claro que foi muito dinheiro e que, inicialmente, boa parte do mercado também não entendeu essa aquisição, mas de lá para cá, as pessoas passaram a ver a sinergia que existe entre os produtos das duas empresas", diz Cowger. "Hoje não estamos interessados apenas na venda dos chips, mas também na integração desses processadores com os componentes gráficos."
No ano passado, pouco mais de 20% da receita total obtida pela empresa veio dos componentes gráficos, muito usados em computadores destinados a fãs de games ou profissionais que lidam com aplicações como editoração, fotografia, vídeo etc. É um segmento em expansão no mercado, o que garante vantagens para a AMD. O desafio, porém, é a a companhia não é a única a investir na área. No mês passado, a própria Intel anunciou que prepara o lançamento de 17 chips da família "Westmere", que promete aprimorar o desempenho gráfico em notebooks e micros de mesa. Além disso, é preciso lidar com a criatividade de concorrentes como a Nvidia, especializada na área.
Para ir ao combate, diz Cowger, a principal arma da AMD é a capacidade de inovação de seus engenheiros. A ideia é estimular a inovação em seus laboratórios para tentar diminuir a disparidade financeira que a separa da Intel. No ano passado, a AMD atingiu uma receita de US$ 5,4 bilhões, com lucro líquido de US$ 376 milhões. No mesmo período, o faturamento da Intel foi de US$ 35,1 bilhões, com lucro de US$ 4,4 bilhões. A AMD, que em 2006 chegou a ter um valor de mercado de US$ 13,7 bilhões, vale hoje US$ 8,4 bilhões, de acordo com o preço de ontem de suas ações. O valor de mercado da Intel ultrapassa US$ 102 bilhões.
Em sua missão de se fazer entender pelo mercado, a AMD quer simplificar as coisas, inclusive para seus consumidores. No fim do ano passado, a empresa apresentou a campanha batizada de "Vision", com a qual pretende desmistificar a linguagem tecnológica e transformá-la em um tema mais palatável para o usuário. A campanha de marketing, de US$ 25 milhões, deverá durar três anos e servirá de preparação para a visão de futuro da AMD: um mercado totalmente concentrado na oferta de chips que integrem componentes gráficos e de processamento, a geração "Fusion", comenta Cowger.
Para seguir essa rota, porém, a AMD tem muito a fazer. Ao contrário de seus principais concorrentes, a companhia ainda não tem um processador voltado ao promissor mercado de celulares inteligentes, computadores do tipo "tablet" e demais portáteis de baixo desempenho. A Intel já declarou que pretende apresentar, até o fim do ano, um processador desenhado para celulares que permita acesso à internet . Batizado de "Moorestown", o produto faz parte da linha de chips Atom, que vem sendo utilizada também nos netbooks, portáteis de tamanho reduzido.
Com esse movimento, a Intel quer se antecipar à crescente adoção da tecnologia "ARM", um sistema criado pela ARM Holdings, do Reino Unido, que tem obtido forte aceitação entre os fabricantes de eletrônicos. Concorrente da tecnologia vendida pela AMD e a Intel, o sistema ARM já está presente nos componentes de fabricantes de processadores como Marvell Technology, Nvidia, Freescale Semiconductor e Texas Instruments. O celular "Nexus One", do Google, que traz embutido um processador da Qualcomm, também usa o ARM, e já se especula que ainda este ano o iPhone, da Apple - que hoje fabrica seus próprios processadores nas instalações da Samsung -, vai incorporar a tecnologia inglesa.
Questionado sobre o assunto, Chris Cowger afirma que a AMD vai entrar na disputa por esse mercado, mas reconhece que a empresa está atrasada. "Sim, temos demorado um pouco para abordar esse setor, mas estamos observando como podemos participar dele com produtos que realmente ofereçam uma boa experiência para o usuário", justifica o executivo da AMD. De concreto, o que já sabe é que não será em 2010 que a companhia terá um processador desenhado para esses equipamentos.
Hoje, garante Cowger, a AMD é uma empresa mais leve e dinâmica para agir no dia a dia e para pensar no futuro. Paralelamente, comenta ele, o acerto de contas fechado com a Intel trouxe novos ares para a empresa, embora a disputa com a Intel persista em outros tribunais. Em dezembro, um mês depois de encerrar seu embate judicial com a AMD, a Intel passou a ser alvo de um novo processo, dessa vez movido pela Comissão Federal de Comércio (FTC, agência americana de defesa da concorrência), que acusa a companhia de usar táticas ilegais para eliminar a concorrência. "Ainda é muito cedo para dizermos se esse acordo resolveu todos os problemas de concorrência que enfrentamos. Há países em que o comportamento mudou e outros que seguem com problemas", comenta Cowger. "Mas o importante é que agora temos espaço aberto para discutir o que precisa ser melhorado."






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Tuesday 2 February 2010

POLÍTICA INOVAÇÃO BRASIL - OPERACIONAL

Para algumas lideranças, estamos com mais de vinte anos de atraso na questão da inovação
Tecnologia e inovação: desafio para o governo
TamanhoPor Luiz Moricochi
24/05/2006
A decisão tomada anos atrás por uma jovem chamava atenção. Motivo: terminava o curso de doutorado em biologia, porém não seguiria carreira de cientista, pois acabara de ser aprovada em primeiro lugar em concurso de banco oficial para exercer função para qual não se exigia qualificação de nível superior. Assim, a biologia, com tantos problemas para resolver, perdia uma cientista - "fazer ciência é bonito mas não ajuda a pagar a conta" foi a sua justificativa. Esse fato retrata um pouco as dificuldades que enfrenta a pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil. Em países em que recursos humanos são disputadíssimos em P&D, com certeza isso não ocorreria.
Não é para se surpreender que o Brasil ocupe uma posição não muito favorável no ranking mundial de Ciência, Tecnologia e Inovação. No campo científico até que o Brasil está bem, aumentando sua produção em cinco vezes entre 1981 e 2001. No entanto, quando o assunto é tecnologia ou inovação a situação é no mínimo preocupante. Senão, vejamos: em 2005, a Coréia do Sul registrava perto de 4.750 patentes na Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), enquanto o Brasil, apenas 280, sendo suplantado pela China e Índia inclusive. EUA, Japão e Alemanha continuam líderes, de longe, com valores aproximados, respectivamente, de 45, 25 e 15 mil registros. No início dos anos 80, estávamos em melhor situação que a Coréia do Sul: 23 patentes, contra apenas 17 desse país. Seu salto tecnológico é apontado como principal responsável pelo crescimento do PIB, estimado em US$ 900 bilhões, contra US$ 600 bilhões do Brasil. Para algumas lideranças, estamos com mais de 20 anos de atraso em inovação.
Nossa fragilidade é crescente com o avanço da globalização. Estamos progredindo, é verdade, mas há muito que caminhar ainda. As ações necessárias são conhecidas. No caso do Estado de São Paulo, vale mencionar a Lei de Inovação Paulista, os Parques Tecnológicos, os Programas de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresa (Pipe), da Fapesp, e o apoio aos Arranjos Produtivos Locais. A Lei da Inovação deve resultar no fortalecimento do sistema paulista de P&D, dando-lhe mais flexibilidade para uma articulação com setores que precisam de conhecimentos científicos para a solução de seus problemas. Essa lei favorecerá também a criação de mecanismos/instrumentos que nos levem a uma distribuição mais lógica de pesquisadores/engenheiros nas empresas, como fazem a França e a China, onde predominam pesquisadores no setor privado. A lógica da política é fácil de entender. Inovação se faz principalmente nas empresas que têm uma dinâmica própria envolvendo as demandas de mercado e seus limites de atuação. Essa orientação, no entanto, não significa o enfraquecimento das instituições existentes, que tantos serviços têm prestado à nação (agronegócio, medicina, monitoramento do Amazonas etc), porém seu fortalecimento, mantendo-as motivadas e instrumentalizadas para cumprir seu papel de vanguarda neste ambiente em constante transformação. Mais do que nunca, o mundo está atento às questões de P&D, com investimentos perto de US$ 800 bilhões na área. Considerando um PIB global da ordem de US$ 40 trilhões, resulta em uma relação de dispêndios sobre PIB de 2%. A variação é grande: em São Paulo, essa relação é de apenas 1,07%; em Israel, é de 4%.
O estágio negativo em que nos encontramos é, em grande parte, devido à falta de conscientização, em setores do governo com poder de decisão, sobre a importância da inovação tecnológica no desenvolvimento. Mesmo sem querer, interferem na formulação de políticas setoriais. E valendo-se muitas vezes do argumento da boa gestão dos recursos, do respeito à aspectos legais etc, acabam por dificultar avanços na área. Um bom exemplo é o congelamento, em nome do superávit primário, das verbas destinadas às áreas da C&T, sem análise da relação custo-benefício dessa decisão. É indispensável uma visão sistêmica e holística do contexto em que atuam. Karl Popper, filósofo e estudioso de métodos de pesquisa, já indicava que a divisão de tarefas nas atividades humanas tem como objetivo principal a obtenção de maior sinergismo em todo sistema.
Muitos argumentos poderiam ser citados, para justificar atenção maior para a P&D, tais como: a taxa de retorno dos gastos nessa área é superior a 60% nos países emergentes; o aumento do hiato entre países pobres e ricos é explicado mais pelo progresso tecnológico do que pela diferença de investimento de capital; a tecnologia e inovação criam empresas estruturalmente competitivas, compensando inclusive a falta de câmbio - Alemanha e Japão nos anos 1970 ampliaram agressivamente as exportações, mesmo com moeda valorizada. Mas, um argumento merece destaque especial, Paul Romer, da Universidade de Stanford- cogitado para compor a lista dos prováveis candidatos a um futuro prêmio Nobel de Economia- afirma que "a descoberta científica, a mudança tecnológica, a inovação e o crescimento do fator produtividade total deveriam ser colocados no centro da análise econômica, no âmago da política econômica nacional". A educação teria papel primordial nesse modelo de Romer.
Coréia do Sul, China e outros países, parecem ter seguido esse modelo, enquanto o Brasil, se apegava a tese liberalizante do Consenso de Washington, com todas suas condicionantes macroeconômicas. Grandes desafios o País terá de enfrentar para se colocar no rol das nações tecnologicamente desenvolvidas. É preciso, entretanto, que seja criado antes um ambiente favorável à inovação. Seria oportuna, por exemplo, a existência em São Paulo, de uma Agência de Inovação com função de articulação entre órgãos de financiamento (interno e externo) e instituições de pesquisas e empresas privadas. Essa Agência de Inovação se preocuparia basicamente com a economia do conhecimento - motor de competitividade no mundo moderno.
Um lembrete final: nesse ambiente favorável à inovação não teriam espaços para invasão/destruição de laboratórios. Países como China estendem tapetes vermelhos para laboratórios que queiram lá se instalar. Empresas estrangeiras tem se aproveitado disso, como a Motorola, que instalou nesse país, o seu segundo centro de pesquisa mais importante no mundo. Ainda é tempo: o Brasil se coloca em sexto lugar em uma consulta realizada para verificar o país onde empresas transnacionais implantariam centros de pesquisas.


O avanço de P&D no BrasilCristiano Romero03/02/2010
Nunca foi fácil convencer empresário brasileiro a destinar parte do capital de suas companhias a investimentos em pequisa e desenvolvimento (P&D). O ambiente macroeconômico, marcado por décadas de inflação crônica, não ajudava, mas, além disso, inexistia no país uma cultura pró-Ciência e Tecnologia (C&T). Felizmente, isso está mudando.
FALTA DOIS GRÁFICOS
Em 2006, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) lançou, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o primeiro edital para a concessão de subvenção econômica (recursos a fundo perdido) a empresas interessadas em investir em inovação. De lá para cá, a demanda tem sido crescente. No total, chegou a 8.890 projetos, dos quais, 791 foram aprovados, a um custo de R$ 1,5 bilhão para os cofres públicos. Neste ano, serão liberados mais R$ 600 milhões para essa modalidade.
Além da subvenção, têm crescido, também de forma exponencial, as operações de crédito, igualmente para projetos de inovação, realizadas pela Finep e o BNDES. No primeiro caso, os desembolsos saltaram de R$ 117 milhões em 2004 para R$ 1,6 bilhão no ano passado. No BNDES, as liberações para projetos de apoio à inovação saltaram de R$ 105 milhões em 2006 para R$ 1,3 bilhão em 2008 - até outubro de 2009, os empréstimos haviam atingido R$ 980 milhões. Na gestão do presidente Luciano Coutinho, o banco passou a considerar inovação tecnológica um dos critérios da análise dos pedidos de crédito.
Nos dois casos, é interessante notar que a concessão de crédito cresceu em meio à crise financeira internacional. Esta é, sem dúvida, uma novidade. No passado, toda vez que o Brasil entrava em crise, ou por suas próprias mazelas ou em decorrência de turbulência externa, o governo cortava, imediatamente, a liberação de recursos para investimentos em C&T.
O governo federal, que tem tido um papel importante na alavancagem das aplicações privadas em P&D, não se deixou abater pela crise. Os dados de execução orçamentária do MCT mostram que, em 11 anos, os recursos para C&T, excluídos os gastos com pessoal, cresceram 506%. Em 2009, atingiram R$ 5,6 bilhões e no ano corrente devem chegar a R$ 7,2 bilhões, um recorde (ver gráfico).
O Brasil está começando, finalmente, a entrar na corrida das nações nessa área. A combinação de investimento público e privado tem elevado de forma expressiva o dispêndio nacional em P&D. Em 2004, ano que marcou o fundo do poço em C&T no período recente, possivelmente em consequência da violenta crise fiscal vivida pelo Estado brasileiro em 2002 e 2003, o total aplicado foi de apenas 0,9% do PIB. Em 2008, pulou para 1,13% (ver gráfico).
Os números mostram que o Brasil ainda está aquém da média dos países da OCDE - de 2% do PIB. Por outro lado, revelam que tem ocorrido uma evolução firme no país. "O Brasil é uma economia de pesquisa competitiva e crescentemente importante. A capacidade de sua força de trabalho de pesquisadores e o investimento em P&D estão expandindo rapidamente, oferecendo muitas novas possibilidades num portfólio de pesquisa diversificado", atestou, em relatório do ano passado, a Thomson Reuters, empresa que lidera o fornecimento de informações sobre publicações de pesquisa e suas citações no mundo.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, acredita que a mudança de mentalidade em curso no país se deve, em primeiro lugar, à mudança do ambiente econômico, que passou a exigir das empresas maior produtividade e competitividade. No setor público, um marco importante foi a criação, no governo Fernando Henrique, dos fundos setoriais de C&T, uma fonte permanente de recursos para pesquisa, e, já no governo Lula, a aprovação da Lei de Inovação, que tenta aproximar a pesquisa científica dos empreendimentos privados, além da chamada Lei do Bem, que criou incentivos fiscais para as empresas interessadas em aplicar em P&D.
Físico, com doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology), a meca da inovação científica nos Estados Unidos, Rezende chama a atenção para o fato de entidades empresariais brasileira, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Movimento Brasil Competitivo (MBC), criado pelo empresário Jorge Gerdau, terem acordado para a importância dos investimentos em P&D. Ele lembra que, hoje, o Brasil forma 10 mil doutores por ano e publica cerca de 20 mil papers científicos, dez vezes mais do que fazia em 1981.
Apesar da sensível melhora, muito ainda há para se avançar. Existem programas do MCT em que sobram recursos e falta demanda. Um deles é a subvenção paga pela Finep às empresas que contratem mestres ou doutores para trabalhar em projetos inovadores - o benefício lhes assegura o pagamento de 50% do salário do novo funcionário. Desde o lançamento do incentivo, há quase quatro anos, apenas 42 mestres e 26 doutores, de 18 empresas, foram empregados no âmbito do programa. "As empresas preferem contratar engenheiros. Apesar do benefício, acham caro contratar mestres e doutores", diz Rezende.
Cristiano Romero é repórter especial e escreve às quartas-feiras.
E-mail: cristiano.romero@valor.com.br



Governo promete ' ponte ' para empresário inovarSergio Leo19/04/2010
Com R$ 3,2 bilhões previstos no fundo oficial para financiar projetos de inovação, o FNDCT, e algo próximo a R$ 6 bilhões nas linhas do BNDES para a mesma atividade, era de se esperar que pululassem casos como o do recente acordo entre a Vale Soluções em Energia (VSE) e a sueca Scania, para desenvolver produtos inéditos - no caso, motores para geração de energia movidos a etanol. Em 2010, o setor privado anuncia investir, em inovação, quase 65% mais que no ano passado. Mas, no próprio governo, há quem endosse as queixas de empresários, frustrados pela dificuldade do país em mudar de patamar e chegar à meta de investir 0,65% do PIB em inovação.
" Existe uma ponte entre os recursos abundantes e as empresas, mas essa ponte ainda não é suficientemente firme, e, sobretudo, não é muito sinalizada " , reconhece o ex-secretário de Tecnologia do Ministério do Desenvolvimento, Francelino Grando, titular da recém-criada Secretaria de Inovação. Grando diz que os empresários têm parte de culpa, por " comodismo " ou " timidez " no uso da internacionalização como alavanca para encontrar novas tecnologias. Mas ele endossa a crítica feita por um dos maiores especialistas na área, Roberto Nicolsky, da Protec, para quem as verbas do governo em inovação são excessivamente voltadas para atividades acadêmicas, e não para aplicações produtivas. " Do lado do governo, o Ministério da Ciência e Tecnologia tornou-se o interlocutor único nesse campo, e há uma defasagem de linguagem que todos reconhecem, até no próprio ministério " , comenta. " Há defasagem de tempo, de linguagem, de lógica mesmo; sempre deixou a indústria pouco à vontade. "
Grando discorda de quem vê nessa crítica atrito entre os ministérios do Desenvolvimento e o da Ciência e Tecnologia. Ele tenta mostrar exatamente o contrário: com uma secretaria especialmente para identificar as necessidades do setor privado, e com pessoal especializado no desenvolvimento tecnológico voltado à aplicação prática nas empresas, será possível dar ao Ministério da Ciência e Tecnologia instrumentos para alcançar as metas do governo.
Análise recente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) mostrou que mais de 60% do incentivo fornecido ao governo para inovação se concentra na Lei da Informática, quase uma compensação para as empresas não beneficiadas pelas vantagens fiscais da Zona Franca de Manaus. Embora 30 mil empresas declarem inovar e 6 mil tenham atividades de pesquisa e desenvolvimento, segundo o IBGE, apenas 800 se beneficiam dos incentivos oficiais para inovação, da Lei do Bem ou da Lei de Informática. Esse pequeno alcance dos instrumentos do governo exige uma aproximação maior com o setor privado, que, diz Francelino Grando, é uma ambição da nova secretaria.
" Há recursos, mas eles precisam ser mais bem focados " , comenta Grando. Um dos focos, diz ele, será o " desenvolvimento sustentável " ; outro, a internacionalização de empresas, como forma de obter novas tecnologias e produtos. O caso da VSE, associação entre a Vale e o BNDES, e a Scania é fruto de um acordo do Brasil com o governo sueco. Acordo semelhante foi realizado com a França, e neste mês foram escolhidas quatro empresas brasileiras e quatro francesas para projetos conjuntos em nanotecnologia, saúde, aeronáutica e meio ambiente.
" O Brasil ainda não tem, como Cingapura, Canadá, Malásia, recursos para internacionalização de empresas com foco em inovação " , nota o secretário, que quer atrair empresas com as verbas já existentes. " No fim dos anos 90, a França tinha um programa desse tipo, o Delta, e chegou a nós uma lista de empresas, mas não tínhamos o que fazer, não tínhamos recursos " , lembra.
Roberto Nicolsky, referência no tema, costuma falar em " apagão tecnológico " , a perda de competitividade das indústrias brasileiras de mais alta tecnologia - em entrevista recente a uma revista especializada, ele lembrou que cresce o déficit do Brasil no comércio desse tipo de produtos (de aviões a farmacêuticos): em 2006, o país importava US$ 13 bilhões a mais do que exportava em produtos de média-alta e alta tecnologia; em 2009 a diferença chegou a US$ 45 bilhões, calcula. No ano passado, enquanto o Brasil registrou 130 patentes no escritório de patentes dos EUA, a China chegou a mais de 1,9 mil.
Grando acredita que a aproximação maior com os empresários pode mudar esse cenário gradualmente. A burocracia, maior queixa do setor privado, vem sendo enfrentada com projetos de formação dos controladores, em secretarias da receita federal e estaduais, fiscais do Trabalho e outros funcionários. " Estamos mostrando que as empresas inovadoras têm de ter tratamento diferenciado " , diz Grando. " É uma batalha, mas dá para vencer a guerra. "
Outro front é o dos recursos; embora o secretário garanta que o governo cumpre a promessa de não mais contingenciar recursos na área, o orçamento do FNDCT, com a crise, teve retido R$ 804 milhões na reserva de contingência. " Vamos ter zero de contingenciamento, e começamos as liberações a partir de junho " , promete o secretário.
Sergio Leo é repórter especial e escreve às segundas-feiras
E-mail: sergio.leo@valor.com.br



Inovação: futuro da indústria?Por Rodrigo da Rocha Loures
09/03/2010
Nossos planos de inovação ainda são formulações abstratas e de baixo impacto na produção
O deslocamento da produção manufatureira em direção à Ásia, a diferença brutal entre os custos de produção daqui e os de lá e a sinergia que existe entre os países asiáticos sinalizam uma ameaça permanente ao nosso sistema industrial.
Se olharmos para trás, desde o início da abertura comercial, das privatizações e em especial após a estabilidade econômica, vamos perceber que nossa indústria passou por uma enorme transformação. A abertura acirrou a concorrência, impôs a modernização da gestão e alterou profundamente as estratégias empresariais. As linhas de produtos mudaram de forma radical o layout e o desenho das plantas. O mesmo aconteceu com a gestão da qualidade. Um conjunto de atividades foi terceirizado, reduziram-se os níveis hierárquicos, novos serviços foram agregados à industria, em especial no relacionamento com seus clientes e, tímida e paulatinamente, a indústria incorporou uma agenda de inovação.
Em quase todos os setores industriais a parte mais relevante do valor agregado foi deslocada para as etapas finais de produção e comercialização. O fornecimento de insumos sofreu uma revolução. Na grande empresa essa mudança assumiu, por vezes, a forma de uma procura global, em outras de um modelo de hierarquização dos fornecedores e a introdução da noção "sistemista". A pressão ampla e generalizada pela redução de custos obrigou os fornecedores a baixar preços.
Essa competição feroz foi impulsionada pela China, com sua "deflação" de preços industriais. Muitas empresas valeram-se da possibilidade de ter insumos mais baratos e mantiveram sua posição de mercado, escalando para cima a cadeia de valor. São empresas cuja posição depende de outros ativos, muito deles intangíveis: sua rede de distribuição; seu pós-venda; a relação com os consumidores; ou ainda a sua marca e propriedade intelectual. Outras deslocaram suas plantas industriais ou parte de seus processos produtivos para a Ásia.
Isso tem tirado muita gente do mercado. Em termos agregados, o que sobra é um aumento das importações de bens finais ou a elevação do conteúdo importado da produção industrial. Esse jogo significou abandonar a tarefa árdua da manufatura e se dedicar mais e mais a encontrar soluções para a clientela. Ou seja, escalar as etapas de maior valor agregado. Todos seguem aqui o que a IBM já tinha feito década atrás.
Para poucos países, aqueles capazes de gerar superávit na sua conta de serviços, esse também não é um problema completamente insolúvel. A relação entre os Estados Unidos e a China é o exemplo marcante dessa nova realidade. Mas, para a maior parte dos países, aqueles incapazes de gerar superávit na conta de serviços ou que não contam com uma base de commodities para equilibrar seu saldo comercial, o desafio é muito maior.
No Brasil, vivemos a dubiedade de sermos competitivos em commodities e de termos um sistema industrial importante. Somos de um lado beneficiados pelo aumento dos preços de minérios e produtos agrícolas; mas sentimos a concorrência direta da produção manufatureira da Ásia. O pior de nossa posição é que um conjunto de fatores sistêmicos e de equívocos de política econômica realimenta esse processo.
Baixa escolaridade, juros altos, encargos e tributos elevados e burocracia excessiva compõem um custo sistêmico que compromete a competitividade. Para agravar tudo, na maior parte do tempo o câmbio esteve valorizado. Pior, todos os sinais indicam que o câmbio deve seguir valorizado em termos estruturais.
Abrir mão de nossa base industrial é um equívoco que poucos, nesta altura do desenvolvimento brasileiro, cogitam. Mas manter e ampliar essa base industrial requer ações de médio e longo prazo que ainda patinam. Não há no horizonte próximo qualquer sinal de mudanças substantivas capazes de proporcionar maior funcionalidade ao estado brasileiro. Por conseguinte o espaço de manobra que nos resta é trabalhar para uma agenda de competitividade em outras frentes.
Temos três questões complicadas a resolver: não permitir valorizações do câmbio e reduzir sua volatilidade; melhorar a qualidade do ensino e expandir de forma rápida a formação média, técnica e superior, especialmente em engenharia; reduzir o custo de capital e facilitar o acesso ao crédito de longo prazo. Não são tarefas simples e há anos elas habitam nossa agenda de "futuro". Mas sem encará-las de frente será difícil assegurar competitividade ao sistema produtivo brasileiro.
Há ainda uma outra frente de trabalho fundamental para o futuro da indústria. Trata-se de ampliar de forma significativa o esforço de inovação do setor privado brasileiro. Há espaço aqui para ganhos de competitividade que terão fortes impactos tanto macro, quanto microeconômicos. É uma agenda consensual, mas nem por isso será fácil de ser implementada.
Precisamos ampliar os incentivos às empresas para inovar e, em especial, fazer pesquisa e desenvolvimento. Esses incentivos melhoraram nos últimos anos, mas estão muito aquém do que fazem os países com os quais concorremos. Precisamos também articular planos, negociados com a iniciativa privada, do que vamos fazer nos setores produtivos que são estratégicos para nosso desenvolvimento.
Nossa forma de abordar a inovação é ainda tímida. Ou apoiamos projetos isolados ou formulamos planos nacionais pouco efetivos. Nossos planos são, em geral, formulações muito abstratas e de baixo impacto no sistema produtivo, na maioria das vezes organizadas por grandes áreas do conhecimento. Já há aprendizado suficiente em nossas agências e no setor privado para darmos esse salto.
Ele é mais do que necessário, pois essa é uma frente de trabalho que depende apenas de nosso esforço. Podemos fazer da inovação um tema relevante para dezenas de milhares de empresas brasileiras. Não é uma tarefa simples e vai requerer perseverança. Mas é possível e pode sinalizar um caminho positivo para dar sustentabilidade à base industrial brasileira nesse complexo cenário internacional que temos pela frente.
Rodrigo da Rocha Loures é presidente da Federação das Indústrias do Paraná.



Frente em Defesa da Ciência, Tecnologia e Inovação é instalada em Brasília
Ricardo Lemos/MCT - O ministro Sergio Rezende no lançamento da Frente em Defesa da C&T.
25/03/2010 - 08:00
“O Brasil acaba de dar um passo importante para que a ciência, tecnologia e inovação possam contribuir de forma mais efetiva para o desenvolvimento nacional”. A declaração do ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, resume a expectativa da Frente Plurissetorial em Defesa da Ciência, Tecnologia e Inovação, instalada oficialmente ontem (24) na Câmara dos Deputados, em Brasília.
O grupo é formado por parlamentares, representantes do governo, de empresas e de entidades ligadas ao setor. “A intenção é envolver diversos setores da sociedade para facilitar o processo de articulação de ações e ampliar também a capacidade de inovação no País”, lembrou o deputado Júlio Semeghini, coordenador da frente.
O ministro Rezende relatou as dificuldades que enfrentou como pesquisador, nos 40 anos de carreira científica, pela falta de políticas e recursos na área. Destacou ainda que essa situação se inverteu nos últimos 15 anos. “Nós estamos vivendo um momento bom. A ciência e tecnologia foi colocada na pauta principal do Congresso Nacional”, ressaltou, lembrando que, há 11 anos foi aprovado o primeiro fundo setorial, o Fundo do Petróleo. Depois várias propostas foram aprovadas para outros fundos com grande rapidez (hoje são 16).
Rezende destacou a importância da regulamentação, em 2007, do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para institucionalizar a pesquisa e a pós-graduação. Além das leis de incentivo à inovação (Lei de Inovação e Lei do Bem) que permitiram a elaboração de uma política de ciência e tecnologia mais abrangente, por meio da qual, foi construída a base do Plano de Ação de Política de Ciência e Tecnologia (PACTI).
“Teremos nos próximos meses um trabalho intenso, não só do governo, mas também da sociedade, de empresários e de entidades cientificas e diversas naturezas; para estudar os acontecimentos dos últimos anos, quando passamos de uma fase de crise/transição para uma fase importante para estabelecimento de uma política de ciência e tecnologia”, salientou.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto, representante do setor empresarial, destacou a importância da iniciativa para alavancar o setor. “É extremamente importante que o Congresso Nacional seja parceiro do processo de estímulo à inovação, o que é determinante para o desenvolvimento sustentável do Brasil”, disse.
Segundo o líder industrial, ainda há avanços importantes a serem feitos no marco regulatório da inovação, principalmente em relação ao financiamento, pesquisa e incentivos fiscais às empresas, um dos principais desafios do grupo. “A frente terá papel fundamental na sensibilização de setores do governo e da sociedade, na criação de ambiente para a ampliação dos recursos para políticas públicas de inovação. Na promoção de ações que visem ao aperfeiçoamento das leis de incentivo”, acrescentou.


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DESINDUSTRIALIZAÇÃO II


O DESAFIO DO FINANCIAMENTO À INOVAÇÃO
por David Kupfer
Há uma desagradável sensação de que o hiato da indústria brasileira frente à fronteira tecnológica internacional está novamente aumentando

VALOR ECONÔMICO, 11-11-2013

Desde a edição do I Plano Brasileiro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCT) em 1973, lá se vão quarenta anos, é crescente a presença do tema inovação tecnológica na agenda de políticas públicas no Brasil. Inegavelmente essa é uma área em que se logrou avanços significativos em termos de construção institucional, ampliação do volume de recursos aportados e aumento da variedade e sofisticação dos instrumentos de fomento disponíveis. Esses avanços são bem evidenciados, por exemplo, pela criação dos fundos setoriais na década de 1990, pela promulgação da Lei da Inovação ou da extensão dos incentivos fiscais na Lei do Bem em meados da década passada ou ainda com o lançamento em maio último do Plano Inova Empresa, uma marcante e positiva novidade em termos de metodologia de estruturação de ações de fomento.

Porém, é consensual entre os estudiosos a constatação de que, a despeito desse esforço crescente de apoio público, as dificuldades de inovar ainda são muito grandes no Brasil. Tentar estabelecer uma determinação causal entre crescimento econômico e inovação, no sentido que o primeiro determina o segundo ou o contrário, é deixar de ver a economia como o que ela realmente é - um espaço de interações. A inovação é um fator de crescimento, mas as condições para inovar são mais presentes em economias que crescem. Pode-se ainda atribuir parte das causas da dificuldade em inovar à timidez da inserção da indústria brasileira no comércio internacional. Mesmo que historicamente explicada pelo fato de que parcela relevante das exportações do país foi direcionada para atender mercados de países desenvolvidos com produtos de baixo valor agregado, com o crescimento dos custos internos de produção da atualidade, é cada vez mais difícil concorrer de igual para igual com os países asiáticos nesses mercados.

Parece claro que para a indústria manter-se viável no Brasil a única saída hoje é a inovação geradora de produtividade, diferenciação de produtos e maior valor adicionado. Contudo, tal qual em outras áreas, como a educação, em que o caráter eminentemente intangível dos impactos proporcionados pelas políticas dificulta a compreensão da sua efetividade, é difícil hierarquizar os fatores determinantes do desempenho inovativo. Mas dificilmente errará quem apostar no financiamento à inovação como um dos fatores de maior importância.

Há uma sensação de que o hiato da indústria frente à fronteira tecnológica mundial está aumentando

A problemática associada ao financiamento da inovação é bem conhecida. Em rápidas pinceladas, são pelo menos três questões que precisam ser devidamente equacionadas pelos atores do sistema nacional de inovação. A primeira é superar definitivamente uma visão antiga, mas ainda dominante em muitas empresas, sobre a natureza do processo inovativo. É o chamado modelo linear da inovação, no qual a invenção - a fase científica - é um primeiro passo, que é sucedido pela inovação - incorporação pioneira na atividade produtiva - e depois pela difusão - a adoção da novidade pelas demais empresas. A segunda é não confundir inovação com criatividade, o que pode parecer trivial mas não é tão simples quanto parece. Embora quase sempre a segunda seja condição necessária para a primeira, quase nunca é suficiente. A terceira é buscar demarcar com maior nitidez a zona cinzenta que separa a inovação intramuros e a P&D externa.

Quer dizer, em um mundo em que a inovação é cada vez mais o resultado de competição e colaboração de múltiplas empresas e instituições de ciência e tecnologia em redes de pesquisa, saber individualizar os objetos e os atores do processo inovativo torna-se imprescindível para o desenho de operações de financiamento bem sucedidas. Dessas tensões surge o principal dilema: apoiar os projetos, que significa mover o olhar para as rotinas ou apoiar as empresas, que implica valorizar os comportamentos. A diferença é que P&D dá margem a projetos, com fases, etapas, cronograma, etc... O resultado da inovação é intangível mas o seu processo de produção, a P&D, é tangível. Assim, como atividade rotinizável que é, a P&D torna-se mais convenientemente apoiável pelos financiadores.

Dentro dessa moldura analítica, cabe questionar se o apoio à inovação no Brasil ainda está excessivamente concentrado no financiamento à projetos de P&D. Talvez isso ajude a explicar porque, a despeito de o crédito público à inovação já operar hoje com juros extremante atraentes, negativos na maioria das situações, a efetividade das linhas de financiamento em termos de acesso e mitigação de riscos ainda deixa a desejar. O apoio às empresas (comportamentos), que precisa ser estruturado em outras bases, provavelmente por meio de instrumentos de renda variável, como o venture capital, capital semente ou similares, ainda se encontra em um estágio muito mais incipiente.

Se é certo que a indústria brasileira precisa cada vez mais da inovação para sobreviver competitivamente, o país vê-se novamente diante do desafio da modernização. Há uma desagradável sensação de que o hiato da indústria brasileira frente à fronteira tecnológica internacional está novamente aumentando. Esse é um fenômeno cíclico, pendular, que nesse momento vem sendo majoritariamente provocado pela acumulação de importantes defasagens em tecnologia da informação, que vem a ser o principal vetor da inovação industrial no mundo contemporâneo. A rápida reversão desse quadro requer mais uma rodada de potencialização da política tecnológica, de modo a dotá-la de modelos de financiamento mais ajustados aos requisitos desse novo paradigma.

David Kupfer é professor licenciado e membro do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ (GIC-IE/UFRJ) e assessor da presidência do BNDES. Escreve mensalmente às segundas-feiras. gic@ie.ufrj.br. As opiniões aqui expressas são do autor e não necessariamente refletem posições do BNDES.


Eixos dinâmicos da inovação
David Kupfer
05/05/2010
Um diagnóstico da economia brasileira para os próximos anos indica alguns eixos com potencial dinâmico para fazer girar a atividade industrial na direção do desenvolvimento tecnológico. Um primeiro eixo é dado pelas forças represadas no mercado interno. Como evidenciado no passado recente, são múltiplas as oportunidades de novos negócios associadas ao novo padrão de consumo trazido pela expansão da renda nacional e pela melhoria do perfil da sua distribuição. Isso não significa, evidentemente, retirar do mercado externo qualquer papel relevante: significa apenas o reconhecimento de que, em vista das suas implicações mais diretas sobre a produção de commodities, este tenderá a reforçar trajetórias já estabelecidas, dotadas, portanto, de menor poder transformador.
O segundo eixo com grande potencial dinamizador de desenvolvimento tecnológico está ligado ao imperativo do aumento da disponibilidade, eficiência e confiabilidade da infra-estrutura nacional. Isso porque, muito além do enorme déficit causado por anos de sub-investimento na expansão e modernização da infra-estrutura existente no país, coloca-se hoje a necessidade de trazê-la para o século 21, incorporando novas fontes de energia, novas logísticas de transporte, novas soluções para a questão urbana, que está ganhando dimensões de calamidade no Brasil, e assim por diante. A necessidade de soluções inovadoras mais eficientes, mais limpas e mais sustentáveis e, acima de tudo, adaptadas às especificidades brasileiras, poderá fornecer um campo extremamente fértil para atrair esforços mais expressivos de P&D e inovação.
O terceiro eixo dinamizador é diretamente vinculado às condições de desenvolvimento da economia do conhecimento no país. Diferentemente dos anteriores, o Brasil encontra-se em um estágio muito mais incipiente nesse campo: são atividades que, se no passado mostraram-se as mais inalcançáveis, constituem agora um desafio ainda mais formidável. Isso porque, na comparação com outros países, são hoje ainda maiores as fragilidades do sistema empresarial, as insuficiências do sistema de C&T, as lacunas de conexão entre produtores e usuários, enfim, são enormes as carências de recursos requeridos para alavancar a capacidade social de aprendizado e inovação.
Se explorar esses potenciais já constitui um enorme desafio, formular políticas torna-se ainda mais difícil quando se sabe que esses eixos em conjunto podem conduzir a uma dinâmica auto-contraditória. O potencial do eixo do mercado interno depende de manutenção de taxas elevadas de crescimento e do processo de estruturação do mercado de trabalho, com aumento do salário real e da formalização do trabalho. Porém, é necessário reverter a tendência de apreciação do real sob pena de o aprofundamento do hiato de competitividade cambial transferir para o exterior os impulsos dinâmicos esperados. A explosão de importações de bens mais intensivos em inovação dos últimos meses é um preocupante indicador dessa possibilidade. O eixo da infraestrutura exige um padrão de financiamento e um arcabouço regulatório que consigam harmonizar custos baixos de expansão do sistema com a necessária rentabilidade das iniciativas inovadoras viáveis em um horizonte temporal maior. O eixo da economia do conhecimento exige conciliar o avanço na universalização do acesso às suas bases constitutivas (educação, saúde, informação, cultura, etc.) com os pesados investimentos requeridos pela sua contínua qualificação.
O problema é que os atores efetivamente interessados no progresso tecnológico da indústria nacional distribuem-se em diversos grupos, todos muito introjetados na dimensão técnico-científica da questão. Para o grupo dos "ativistas", já existem instituições e instrumentos demais, faltando ação, isto é, iniciativas concretas que dêem vida a parafernália de instrumentos já disponíveis. Para os "linearistas", para os quais prevalece a concepção do chamado modelo linear: invenção (pelo laboratório) - inovação (pela empresa pioneira) - difusão (pelas demais empresas), o problema está no padrão de geração de conhecimento no país, que o mantém represado nas Universidades, sem que se consiga fazê-lo fluir para as empresas e transformá-lo em capacidade para inovar. Para os "construtivistas", que vêem o progresso tecnológico como uma sequência planejada de etapas de complexidade crescente, falta continuidade aos programas de pesquisa e desenvolvimento, que usualmente são esvaziados ou mesmo interrompidos antes de gerarem seus frutos.
Embora todos esses grupos tenham parcela de razão, está mais do que na hora de se encontrar as linhas de convergência para avançar no desenho de um modelo mais efetivo de fomento ao desenvolvimento tecnológico da indústria brasileira. Ainda mais em um momento em que os jornais noticiam que o governo federal está prestes a baixar mais um pacote de apoio às exportações e, como todos sabem, o manejo de incentivos tributários e financeiros com essa finalidade provavelmente já deve estar alcançando o seu limite.
David Kupfer é professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC-IE/UFRJ. Escreve mensalmente às quartas-feiras. http://www.ie.ufrj.br/gic
E-mail: gic@ie.ufrj.br)


Focos para a política tecnológica brasileira
David Kupfer
07/04/2010
Talvez o único verdadeiro consenso entre os especialistas brasileiros no tema da inovação seja a percepção de que o Brasil está em um estágio intermediário de desenvolvimento tecnológico. À primeira vista, estar nesse estágio pode parecer uma vantagem, pois propicia bons pontos de partida para prosseguir avançando. O fato, porém, é que, muito ao contrário, estar a meio caminho implica a necessidade de abrir novas frentes sem que as antigas tenham sido encerradas, superpõe desafios, objetivos, instituições e instrumentos de diferentes naturezas e, portanto, exige das instâncias envolvidas maior capacidade de diagnóstico e formulação do que no estágio inicial da caminhada. Por essa razão, as dificuldades de montagem do modelo de fomento à inovação tecnológica no Brasil são hoje maiores, ou pelo menos diferentes, do que no passado, como evidencia o retorno insatisfatório do crescente esforço que vem sendo realizado com essa finalidade por agentes públicos e privados.
Tudo somado, progredir no estágio intermediário requer a construção de uma política multifacetada, que dê conta de uma miríade de situações sem comprometer a montagem de um todo coerente que assegure a reprodução e ampliação do sistema nacional de inovação, uma aparente armadilha. Resumidamente, são dois os desafios que precisam ser atacados simultaneamente. Um, mais modesto, mas nem por isso menos difícil, está ligado a aceleração da difusão de inovações no tecido produtivo, modernizando o extenso conjunto de empresas que ainda estão muito aquém das melhores práticas produtivas e gerenciais internacionais. O segundo, mais audacioso, está ligado a uma agenda de inovação propriamente dita, pautada por um objetivo distinto, que é aproximar parcelas crescentes do sistema empresarial brasileiro da fronteira tecnológica internacional.
Uma tarefa dessa magnitude dificilmente poderá ser cumprida sem a definição prévia de focos que organizem a alocação dos recursos, obviamente insuficientes diante das demandas quase ilimitadas que são exatamente a tônica do estágio intermediário. Trata-se de definir uma visão estratégica que concilie os diferentes requisitos de capacitação científica, tecnológica, educacional e financeira exigidos seja para tão somente acompanhar os principais avanços científicos internacionais em determinadas áreas de conhecimento, seja para liderar e promover desenvolvimentos originais em outras, seja ainda para adaptar e absorver novas tecnologias, introduzindo melhorias incrementais quando possível.
Oportunidades não faltam. Por reunir uma fração importante da capacitação científica e tecnológica acumulada no país, o sistema produtivo do agronegócio apresenta-se como particularmente propício para um salto tecnológico significativo. Motivado tanto pelo "empurrão" das ciências biológicas, como pelo "puxão" da demanda dada pela nova geopolítica comandada pela problemática da segurança alimentar e da exploração do potencial dos biocombustíveis, a pesquisa e desenvolvimento agrícola vem experimentando um dinamismo inovativo extremamente elevado, tornando quase que mandatório ao país preparar-se para aproveitá-lo o mais amplamente possível.
Embora causado por motivos distintos, a situação atual no Brasil do sistema produtivo da mecânica é similar, haja vista a existência de estímulos importantes à inovação tanto pelo lado da oferta quanto da demanda. Especialmente relevante aqui é o papel dinamizador que os investimentos em infraestrutura energética, transportes, telecomunicações, urbanização e tantos outros tendem a exercer sobre a indústria de bens de capital. A complexidade tecnológica em termos de funções, especificações e manufatura desses bens transmite-se a uma ampla cadeia produtiva, envolvendo diversos fornecedores de materiais, peças e componentes e, cada vez mais, serviços especializados, podendo conduzir, se convenientemente apoiados, à constituição de extensos clusters inovativos, dos quais a exploração do pré-sal é o exemplo mais relevante mas longe de ser o único.
Mesmo os sistemas produtivos de insumos básicos e de bens-salário que, devido ao inexorável amadurecimento dos seus setores constituintes, apresentam oportunidades tecnológicas mais raras, não se pode perder de vista o hiato que existe entre a capacidade produtiva das empresas que operam no país e a incipiência da capacidade inovativa detida por essas mesmas empresas. Surge daí um importante espaço para a introdução de inovações incrementais, especialmente no desenvolvimento de produtos capazes de atender necessidades específicas, como pode ser o caso do desenvolvimento de materiais construtivos para habitações de baixo custo, produtos metálicos com propriedades especiais, etc.. Especialmente o sistema produtivo de bens salário, majoritariamente relacionado à indústria tradicional, vê-se diante de um vasto manancial de possibilidades inovadoras trazidas pelas novas demandas derivadas da atual tendência de expansão do consumo popular.
Resta o sistema produtivo da eletrônica. Embora de grande importância para o desenvolvimento tecnológico e industrial, a eletrônica no Brasil vive uma situação diferente e, seguramente, mais desafiadora: dado o atraso acumulado pelo Brasil vis a vis os avanços alcançados pelos concorrentes asiáticos, uma estratégia de desenvolvimento voltada para nichos específicos dessa indústria talvez venha a ser a melhor opção, senão a única, para colocar essa indústria novamente em movimento no país. Mais desafiador ainda é o fato de que de nada adiantará a existência de inúmeras janelas de oportunidades na agropecuária, clusters inovativos na mecânica, hiato de produtos e processos nos insumos básicos e nos bens-salário e nichos na eletrônica, sem avanços pari passu na necessária capacidade de desenvolvimento do conhecimento horizontal -biotecnologia, nanotecnologia, química fina, tecnologias de informação e software, isto é, todas as novas tecnologias indiferenciadas que estão na base do processo de criação de inovações da atualidade.
Claro está que percorrer esse mapa supõe a necessidade de fazer escolhas que, por sua vez, dependem de elementos objetivos, mas também de outros elementos mais incertos, imprevisíveis, obrigando o formulador da política a realizar apostas e, portanto, na prática, a acertar e errar. É por essa razão que perseverar na construção de uma institucionalidade para a política de ciência, tecnologia e inovação que confira a necessária legitimidade às escolhas que venham a ser feitas é o principal passo para transformar em pontos fortes as armadilhas trazidas pelo estágio intermediário.
David Kupfer é professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC-IE/UFRJ. Escreve mensalmente às quartas-feiras.


Pintec 2008: primeiras análises
David Kupfer , 03/11/2010 valor

Na última sexta-feira o IBGE divulgou os resultados da nova Pintec - Pesquisa da Inovação Tecnológica, o mais completo e importante retrato da situação da inovação na indústria brasileira. Essa quarta edição da pesquisa, que cobre o período 2006-2008, era aguardada com a expectativa de que os novos números retratassem um avanço marcante nos indicadores quantitativos da inovação industrial no Brasil. Isso porque imaginava-se que o dinamismo que caracterizou o ano de 2008 teria contribuído para destravar os investimentos em inovação pelas empresas brasileiras. Adicionalmente, já teria decorrido um intervalo de tempo suficiente para que fossem captados, mesmo que parcialmente, os possíveis efeitos positivos que a grande prioridade conferida já há alguns anos ao tema da inovação, tanto por políticas públicas quanto por iniciativas das lideranças empresariais, poderia desempenhar sobre os indicadores.
No entanto, ao menos em primeira análise, a nova edição da Pintec está mostrando um quadro pouco animador, para não dizer decepcionante. De acordo com a pesquisa, a taxa de inovação, isto é, a proporção de empresas que declararam terem introduzido pelo menos uma inovação no período 2006-2008, subiu para 38,4% ante 33,6% verificado no período 2003-2005. Aparentemente auspicioso, esse crescimento, porém, não foi acompanhado de igual expansão dos indicadores de esforço, que geralmente constituem medidas mais robustas da inovação. Assim, enquanto 5,6% das empresas realizaram atividades internas de pesquisa e desenvolvimento em 2005, essa proporção caiu para 4,2% em 2008. Os gastos totais com atividades inovativas despendidos pelas empresas da indústria de transformação, que eram de 2,8% do faturamento em 2005 retrocederam para 2,6% em 2008 enquanto a parcela da despesa destinada especificamente à P&D intra-muros ficou estacionada em 0,6% do faturamento.
Observando-se os dados segundo o porte das empresas, o quadro sugestivo de insuficiente engajamento do setor empresarial com a inovação se mantém. Entre 2005 e 2008, a proporção de empresas que se dedicaram a atividades de P&D caiu, respectivamente, de 3,9% para 3,4% das empresas de pequeno porte (com até 99 pessoas ocupadas); de 16,2% para 7,9% das empresas de médio porte (de 100 a 499 pessoas ocupadas); e de 44,9% para 36,3% das empresas de grande porte (com 500 ou mais ocupados). Ainda mais sugestivo é o indicador proporcionado pela evolução do número de pessoas ocupadas diretamente em atividades de P&D: enquanto o emprego na indústria de transformação cresceu 15,2% entre 2005 e 2008, o número de pessoas ligadas à P&D praticamente não se alterou, implicando uma queda da proporção de 0,80%, já muito baixa, vigente em 2005, para 0,69% em 2008. Desse contingente, o número de pessoas com pós-graduação, que era de 4.280 mestres e doutores em 2005 passou para 4.340 em 2008 - um aumento de 60 pesquisadores em três anos.
O forte crescimento da produção e tantas outras variáveis não influenciaram o desempenho inovador
Enfim, são muitos indicadores a apontar que o forte crescimento da produção, vendas, exportação, emprego e investimento fixo e tantas outras variáveis que marcou o ano de 2008 não se transmitiu ao desempenho inovador das empresas. Se atravessar os períodos de baixa do ciclo macroeconômico do passado pareceu determinante para desestimular as empresas a adotarem um comportamento tecnológico mais ativo, como tão claramente mostram as Pintec anteriores, o contrário não se mostrou verdadeiro: surfar a onda de crescimento industrial ocorrido no período coberto pela última edição da pesquisa não foi nem de longe suficiente para incentivar as empresas a reverterem esse comportamento.
Com relação à dimensão institucional, mesmo dando-se o devido desconto ao fato de que três anos é um intervalo de tempo claramente insuficiente para a avaliação de políticas de tempo lento de maturação como a política tecnológica, parece prudente ouvir desde já o que os números estão falando. A redução no engajamento das empresas nas atividades inovativas, a rigidez observada nos gastos com P&D, a contração do emprego de pessoal ligado a essas atividades, dentre outros indicadores coletados pela Pintec 2008, levam à percepção de que na determinação do esforço em P&D no Brasil é pequeno o componente "puxado pela demanda". Há boas razões para se crer que enquanto prevalecer a atual (ausência de) dinâmica, na qual o componente "empurrado pela ciência e tecnologia" mantém-se predominante na indução do progresso tecnológico, o salto para inovação tão ambicionado por governo e lideranças empresariais encontrará muita dificuldade para deslanchar.
A qualidade do levantamento e a riqueza de informações proporcionadas pela Pintec certamente darão margem a estudos aprofundados que serão de grande valia para orientar a construção de novas abordagens para o problema da inovação na economia brasileira. Como se vê, também no campo da inovação transformações de fundo na política em curso estão sendo requeridas.
David Kupfer é professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC-IE/UFRJ. /www.ie.ufrj.br/gicE-mail: gic@ie.ufrj.br)


Fora dos trilhos

David Kupfer
02/02/2011 Valor Econômico
Em meio a tantas notícias, uma matéria publicada pelo Valor em 17 de janeiro último merece registro pela simplicidade com que desnuda um velho problema do modelo de desenvolvimento econômico brasileiro. De acordo com o texto, o Ministério dos Transportes, por intermédio de uma de suas empresas públicas, a Valec, acabara de lançar um edital internacional para aquisição de cerca de 250 mil toneladas de trilhos a serem utilizados na construção de novos trechos das ferrovias Norte-Sul e Oeste-Leste, totalizando quase 2 mil quilômetros até o final de 2012.
O que chama atenção na notícia é o fato de que, de acordo com a empresa, a busca de fornecedores estrangeiros deve-se à ausência de empresas brasileiras interessadas em produzir os trilhos. Pequeno detalhe: considerando-se os preços médios de 2010, o país espera pagar US$ 864 por tonelada aos fornecedores, presumidamente, chineses ou de países do Leste Europeu, que fabricarão os trilhos com minério de ferro comprado no Brasil a US$ 130 por tonelada.
Não é difícil entender porque a produção nacional de trilhos no Brasil sucumbiu nos idos de 1996, quando a Companhia Siderúrgica Nacional desativou o último laminador para produção desses produtos em atividade no país devido à falta de encomendas, de vez que a construção ferroviária via-se virtualmente interrompida há anos e apresentava pouca ou nenhuma perspectiva de expansão. Não tão fácil, porém, é compreender porque a forte retomada dos projetos ferroviários em curso nos últimos anos não tem se mostrado suficiente para estimular as empresas locais a ocuparem essa demanda. E mais ainda, quando se sabe que uma empresa multinacional já produz locomotivas no país e que outras estão em fase de pré-investimento, buscando locais para instalação de suas fábricas, o desinteresse na produção de trilhos ganha contornos de um verdadeiro enigma.
É difícil entender porque a retomada dos projetos ferroviários não estimulou a produção local. Claro está que razões de escala, regularidade no curto prazo e perenidade no longo prazo da demanda podem ser arroladas como fatores redutores da atratividade da produção de trilhos. No entanto, especialistas sugerem que a escala mínima eficiente de produção, que é de 500 mil toneladas por ano, já foi atingida em 2010, quando as importações de trilhos se aproximaram desse limite, e que a tendência é de forte ampliação das encomendas pelo menos até o final dessa década. Pode-se alegar ainda que os requerimentos de capital para financiar os projetos sejam muito vultosos. Também com relação a esse aspecto, os especialistas acreditam que os valores e prazos de maturação, não muito superiores ao bilhão de reais e a 12 meses, respectivamente, estão dentro de faixas usuais para o sistema empresarial brasileiro. Restam ainda os obstáculos sistêmicos, relacionados ao custo Brasil. Contudo, ao menos no que diz respeito ao fornecimento ao mercado interno, esses custos podem ser compensados pois é prevista o retorno da cobrança de todos os impostos encargos sobre o produto importado no caso de fabricação de similar no país, algo em torno de US$ 250 por tonelada.
Entretanto, resta um fator que talvez exerça influência central no problema que se quer compreender: a tecnologia. A princípio, parece pouco razoável supor que um país no estágio de desenvolvimento industrial em que se encontra o Brasil não reúna capacidade tecnológica para produzir trilhos, um produto que está tão somente a meio caminho na escala de agregação de valor ao aço. Porém, é provavelmente aí que está o X da questão. Após quinze anos de interrupção da produção, superar a defasagem tecnológica de produto e processo pode requerer capacidades e recursos hoje inexistentes e que as empresas brasileiras não parecem dispostas a assumir os riscos visando mobilizá-los.
Nos últimos anos houve um esforço considerável de constituição de um sistema nacional de inovação no Brasil. Por um lado, os recursos para ciência e tecnologia, que eram muito escassos, cresceram substantivamente e, embora ainda estejam aquém dos níveis requeridos para emparelhar o país com outras nações mais avançadas, já permitem atingir massa crítica em alguns campos. Por outro lado, foram criados instrumentos, como os fundos setoriais, a lei da inovação, as subvenções, etc. que, embora recentes, são subutilizados. É sintomático que tanto os programas públicos de financiamento à P&D quanto algumas empresas que estrategicamente decidem por uma atuação mais intensa na área de ciência e tecnologia não consigam executar totalmente os recursos destinados a essas finalidades.
Uma das principais causas para o retrocesso industrial vivido por nações tão diversas como Inglaterra ou Argentina foi a recorrente opção pelo rentismo praticada por uma fração importante da classe empresarial desses países, que abriu mão do espírito empreendedor, que deveria ser a sua marca, em troca dos ganhos mais fáceis proporcionados pelo circuito financeiro. O Estado pode chamar para si a tarefa de estruturas as bases do desenvolvimento científico e tecnológico mas o protagonista do processo de inovação é a empresa. Sem a participação ativa da empresa - nacional, multinacional, estatal, o que for - não há como colocar as necessárias conexões entre os avanços científicos e tecnológicos nos trilhos.
David Kupfer - é professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC-IE/UFRJ). Escreve mensalmente às quartas-feiras. www.ie.ufrj.br/gic.E-mail: gic@ie.ufrj.br



Entrando nos trilhos

David Kupfer

Valor Econômico - 02/03/2011
Publicada em 2 de fevereiro último com o título "Fora dos Trilhos", a coluna anterior enfocou um grave problema do atual modelo de desenvolvimento brasileiro que é provocado pela capacidade insuficiente ou desinteresse da empresa nacional em avançar na cadeia de agregação de valor às commodities, tão eficientemente produzidas no país. O texto conclui com a ideia de que a participação ativa da empresa no esforço de inovação é essencial para que se estabeleçam as necessárias conexões entre ciência e tecnologia requeridas para quebrar a inércia e colocar a indústria nos trilhos. Nessa coluna, vai-se explorar o tema da convergência entre as políticas industrial e de ciência e tecnologia, igualmente vital para a consecução desse objetivo.
Em uma estilização estrutural é possível afirmar que o Brasil ainda não conseguiu deixar de ser um país de processos ou, o que significa o mesmo, ainda está distante de se tornar um país de produtos. Isso é evidenciado pelo fato de que as atividades mais bem constituídas na estrutura industrial brasileira são quase todas voltadas para a elaboração de produtos homogêneos, em grandes escalas produtivas, por meio de sistemas de produção comandados pelos equipamentos, operados por empresas que souberam absorver a tecnologia originalmente comprada ou licenciada de detentores no exterior: cimento, siderurgia básica, química básica, etc.
A parcela da indústria na qual prevalece a diferenciação de produtos é proporcionalmente menor e muito menos pujante no país, especialmente em ramos de atividade como a indústria eletrônica ou de bens de capital nos quais os diferenciais de qualidade são mais crucialmente dependentes do conteúdo tecnológico do que tão somente de iniciativas de marketing ou esforço de vendas.
A principal implicação dessa característica estrutural sobre a dinâmica competitiva da indústria é o predomínio do padrão de concorrência baseado em custos. O problema é que como os custos sistêmicos de produzir no Brasil estão em expansão, refletindo a evolução negativa dos preços de insumos, energia e infraestrutura, da carga tributária, dos juros e do câmbio, não é difícil concluir pela piora do desempenho competitivo da indústria nacional. Uma experiência paradigmática desse tipo de problema é a vivida pela indústria brasileira de bens de capital.
De acordo com um estudo realizado pela Abimaq, o produtor de máquinas no Brasil incorre em um custo adicional de 43,8% em comparação a Alemanha e EUA. Desse valor, pouco mais da metade decorre dos maiores preços de insumos, logística e energia que vigoram no país enquanto o restante reflete os grandes diferenciais de custos tributários, paratributários e de capital que oneram a produção doméstica.
Mesmo que hipóteses contábeis distintas sejam adotadas, dificilmente se escapará da conclusão de que o custo Brasil é positivo e, pior, vem crescendo ao longo do tempo. Aliado a uma trajetória de apreciação cambial que amplifica essa desvantagem competitiva, a indústria se vê diante de um drama, que é ao mesmo tempo um desafio, de enfrentar a tendência de crescimento desses custos e sobreviver em uma competição cada vez mais acirrada com uma indústria internacional que enxerga o Brasil como um mercado cada vez mais atrativo.
Contudo, a atividade manufatureira não poderá apostar a sua sobrevivência apenas no retorno das estruturas de custos sistêmicos mais favoráveis de um passado que, vale lembrar, já vai longe, quando os preços das matérias-primas, energia, juros, etc. eram muito menores e geravam vantagens, e não desvantagens, competitivas para os produtores nacionais. Dada a baixa probabilidade de que essa transformação venha a ocorrer no curto ou mesmo no médio-prazo, é necessário que a indústria ponha em marcha uma resposta de cunho mais estratégico. Essa resposta deveria consistir da ampliação do peso da diferenciação de produtos nos padrões de concorrência dominantes, visando escapar da pressão de custos exercida pelos fabricantes chineses e de outros países emergentes com condições sistêmicas de produção mais favoráveis.
    Desafio é repensar as políticas industrial e de ciência e tecnologia, organizando-as de acordo com segmentos
É nesse ponto que as políticas industrial e de ciência e tecnologia precisam trabalhar em conjunto. Articulá-las é um "quebra-cabeças" em qualquer lugar do mundo e no Brasil não é nem poderia ser diferente. Aqui, a linha de convergência a ser buscada deveria contemplar exatamente esse objetivo estratégico de fomentar o papel da competição por diferenciação de produtos na estrutura industrial brasileira. Para tanto, será necessário modificar o desenho dessas políticas, substituindo a noção de setor sobre a qual estão construídas por outra, mais flexível, definida a partir de famílias de produtos ou de atividades. A título de exemplo, no caso do pré-sal, o que está em questão é uma cadeia produtiva extremamente ramificada, constituindo um objeto muito maior do que o setor econômico tal como convencionalmente estabelecido. Já no caso da informática, a situação é oposta de vez que os alvos que parecem pertinentes estão limitados a alguns de seus segmentos, formando nesse caso um objeto menor do que o setor.
Repensar as políticas industrial e de ciência e tecnologia, organizando-as não mais de acordo com os setores convencionais mas de acordo com segmentos que, como nos casos ilustrados acima, podem ser unidades maiores ou menores do que o setor, parece simples mas constitui um desafio institucional formidável. Mãos à obra, portanto, pois somente com o seu correto enfrentamento o modelo de desenvolvimento industrial brasileiro conseguirá entrar nos trilhos.
David Kupfer é professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC-IE/UFRJ. Escreve mensalmente às quartas-feiras.




TENDÊNCIAS/DEBATES - folha, 08nov2010
Cenário promissor para a inovação no país

SERGIO MACHADO REZENDE e RONALDO MOTA

Ainda que haja longo caminho a percorrer, as empresas já incorporam a inovação em seus processos produtivos, tornando-se mais competitivas

Inovação compreende um produto ou processo novo, bem como a introdução de uma qualidade ou funcionalidade inédita de produto já existente; é fator decisivo para a competitividade das empresas. A atividade de inovação tecnológica requer a participação de engenheiros e cientistas, preponderantemente com formação pós-graduada.
Apesar do início tardio, a pós-graduação brasileira avança rapidamente. O número de mestres e doutores formados passou de cerca de 5.000 em 1987 para quase 50 mil em 2009.
A ciência avançou muito no Brasil; no entanto, a inovação tecnológica em nossas empresas ainda é tímida. Tal situação decorre da carência de cultura de inovação no ambiente empresarial e da insuficiente articulação entre política industrial e ciência e tecnologia.
Até recentemente, o principal instrumento para apoiar a inovação era o crédito da Agência Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com juros da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) mais 5%.
Mas isso está mudando. Inovação é, hoje, uma das prioridades da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação 2007-2010 (Pacti).
Com a Lei de Inovação (2004) e a Lei do Bem (2005), as empresas passaram a contar com instrumentos mais amplos e efetivos.
A subvenção econômica viabilizou a concessão de mais de R$ 2 bilhões não reembolsáveis para empresas realizarem inovação. Tal valor é complementado por outros investimentos reembolsáveis da Finep e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio de créditos com juros muito baixos.
O Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe) aporta recursos para as pequenas e médias empresas em operação com parceiros estaduais. Adicionalmente, existem hoje mais de 30 fundos de capital de risco, com mais de R$ 3 bilhões para investir. O Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime) concedeu em 2009 subvenção econômica para 1.381 empresas, por meio de parcerias com 17 incubadoras.
O Programa RHAE-Pesquisador na Empresa, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), concede bolsas para mestres e doutores atuarem nas empresas, tendo contemplado, nos anos de 2008 e 2009, mais de 300 empresas, possibilitando a inserção de 507 mestres e doutores e 550 técnicos nas equipes de trabalho.
A Lei do Bem concede incentivos fiscais para empresas que realizem atividades de inovação. Em 2006, 130 empresas declararam investimentos de R$ 2,2 bilhões. Já em 2009, 635 empresas investiram mais de R$ 9,1 bilhões.
O mais recente estímulo para inovação vem da medida provisória 495/2010, que altera a lei de licitações públicas ao conceder a margem de preferência de até 25% nas licitações estatais às empresas que investem em inovação.
Para fomentar a interação universidade-empresa, o governo federal implantou o Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), formado por 56 redes de núcleos de pesquisa e desenvolvimento, sendo 14 redes de centros de inovação, 20 de serviços tecnológicos e 22 de extensão organizadas nos Estados. Ainda há um longo caminho, mas passos importantes têm sido dados na direção correta.
As empresas já incorporam a inovação em seus processos produtivos, tornando-se mais competitivas e mais lucrativas. Isso oferece condições para a conquista de novos mercados. O país começa a formar uma nova geração de empresários, empreendedores em tecnologia.
SERGIO MACHADO REZENDE é ministro da Ciência e Tecnologia.
RONALDO MOTA é secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia.

ENTREVISTA
LUÍS MANUEL FERNANDES
Verba privada para inovação precisa aumentar 5 vezes
Presidente da Finep diz que apoio público para pesquisa tecnológica está no nível dos países ricos, mas empresa não investe 
NO FINAL do mês passado, quando falou a representantes de empresários e trabalhadores do país, no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o presidente Lula se queixou da inércia do empresariado quando o assunto é investir em inovação tecnológica.
Lembrou que, por meio do Ministério da Ciência e Tecnologia, fez um PAC de R$ 41 bilhões para esse tipo de investimento, mas que o dinheiro está parado.
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais diplomático, Luís Manuel Rabelo Fernandes, 50, presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) faz a mesma provocação. Em entrevista à Folha, o chefe da maior agência de fomento à inovação do país disse que o investimento privado em pesquisa e desenvolvimento precisa aumentar cinco vezes, mas o aporte estatal já está no nível dos países desenvolvidos.



O nó da inovação
Luta para enraizar pesquisa nas empresas avança lentamente, mas é preciso cautela na concessão de subsídios
O DIAGNÓSTICO sobre 


Empresas nacionais ícones foram vendidas depois de receber apoio governamental.
Política tecnológica e industrial e o mito de SísifoSergio Alves
18/05/2010
Desempenho da manufatura brasileira em relação a países asiáticos mostra uma expressiva falta de dinamismo
Política Industrial e Tecnológica (PIT) vem sendo um tema recorrente e prioritário no Brasil desde a década de 50. Fortalecer o processo de inovação no país é missão repetidamente manifesta pelos Governos, e tem havido, desde os anos 70, genuínos esforços nessa direção, alguns com sucesso, como nos exemplos emblemáticos da Embrapa, da tríade ITA/CTA/Embraer, do Cenpes/Petrobras e do CPqD. Mas, uma avaliação geral dos resultados alcançados é, infelizmente, decepcionante, e alguns desastrosos mesmos (Política de Informática). Os esforços me lembram o mito de Sísifo, o personagem da mitologia grega condenado pelos deuses a empurrar morro acima uma enorme pedra, que em seguida rola morro abaixo, e o obriga a repetir o trabalho incessantemente.
Cito, a título de ilustração, empresas nacionais ícones que fecharam ou foram vendidas a estrangeiros, tendo recebido substancial apoio governamental e subsídios financeiros, principalmente da FINEP e do BNDES: Villares, Eletrometal, Engesa, Mafersa, Gurgel, Cobra, Gradiente (tenta um prosaico renascer), Metal Leve, bem como nos exemplos mal sucedidos nos setores de construção naval, eletrônicos, telecomunicações, instrumentação e automação, consumo duráveis e microeletrônica (a Transit, na década de 70, antecedeu aos atuais sucessos internacionais de fabricantes de chips na Coreia, Taiwan e China).
Os raríssimos casos de sucesso tecnológico e empresarial (que receberam substancial apoio institucional e financeiro), como no caso da Biobras (Insulina), foi vendida à Novo Nordisk, sem qualquer centavo de ressarcimento aos cofres públicos. Tal fato seria inconcebível de ocorrer nos países asiáticos. Recentemente, a Votorantin Novos Negócios vendeu (R$ 300 milhões) para a multinacional Monsanto a Cana Vialis e a Alellyx (biotecnologia), após receber subsídios governamentais.
Mais trágico nesse processo é que a quase totalidade das empresas nacionais que foram "perdidas" é anterior ou contemporânea das atuais exitosas potências coreanas (Samsung, LG, Hyundai), e nos exemplos, mais recentes, das empresas chinesas situadas nos mais variados setores industriais (Huawey, ZTE, Lenovo, Haier, BYD, Chevry) que concorrem em pé de igualdade com as gigantes internacionais. Vale mencionar, igualmente, o destaque indiano no setor de software (Infosys, Tata, Wipro).
No contexto da presente discussão, vale destacar alguns fatores que colocaram o Brasil em desvantagem em relação aos asiáticos:
1) Falta de coesão governamental; falta de cultura de cooperação e coordenação da burocracia; mudança constante de direção; superposição de áreas de atuação; com as trocas de governo apaga-se o já feito ou trocam-se os nomes dos programas para justificar os egos dos novos entrantes ("Nova" Política Industrial e Tecnológica); recorrente risco dos órgãos governamentais não disporem das informações mais relevantes, e serem capturados ou adotarem decisões que beneficiem empresas ou grupos politicamente influentes;
2) A China e a Índia (e os países asiáticos de forma geral) crescem mais que o Brasil há quase trinta anos; ademais, a perda de terreno do Brasil no desenvolvimento industrial e tecnológico deve-se, também, a um conjunto de restrições de políticas econômicas adotadas, representando a "planilha de custos" para as empresas (inflação, infraestrutura, excesso tributário, juros elevados e câmbio sobrevalorizado);
3) O comodismo empresarial no país, ocasionado pela ajuda generosa do governo e sem exigir contrapartidas e limite temporal, acabou enfraquecendo o conjunto das empresas, uma vez que elas não foram forçadas a competir para ganhar competitividade; cabendo, ainda, salientar, que o poder político do setor privado no Brasil sempre foi maior que nos países asiáticos;
4) No Brasil, a empresa privada não tem tradição de investir em capacitação tecnológica e inovação, importando até pouca tecnologia; é alarmante o pequeno número de patentes registradas; e mesmo quando a empresa importa tecnologia (absorção), permanece indefinidamente atualizando as cópias, ficando o processo de desenvolvimento tecnológico bloqueado;
5) Sabe-se que a geração de inovação tecnológica está nas empresas e não nas universidades e centros de pesquisa, além de quase inexistir uma ligação entre as empresas privadas e a base de pesquisa local (institutos e universidades); ressalte-se que, nos últimos anos, de forma geral, o avanço no processo de capacitação tecnológica e de inovação no Brasil, andou para trás, o que torna claro que incentivar a capacitação tecnológica e a inovação nas empresas privadas é um dos grandes desafios do país - não é casual que multinacionais (GE, Siemens, Novartis, Samsung) tenham centros de pesquisas na China e na Índia e não exista nenhum exemplo no Brasil;
6) É fato que as multinacionais investem no Brasil visando quase exclusivamente o mercado interno, enquanto que na China, elas investem, visando, basicamente, às exportações. Além disso, são raríssimos os casos de sucesso de empresas brasileiras no setor exportador de manufaturas: Embraer, Marcopolo, Taurus e WEG. É conhecido o exemplo da Zona Franca de Manaus que, por seu formato, visa concentradamente o mercado interno, provocando distorção econômica permanente. Por outro lado, a predominância de multinacionais na ZFM torna o discurso de processo de inovação ocioso nos seus setores de atuação.
Como foi visto, o Brasil tem um longo e penoso trabalho a fazer, ou refazer. Não basta formular e implementar políticas corretas por certo tempo, elas devem ser perseguidas permanentemente. Esse processo iniciado há décadas, parece longe de tomar o rumo adequado, a despeito de nossa já longa maturidade industrial e de iniciativas recente animadoras, como a criação pelo setor público dos Fundos Setoriais, marco no incentivo ao processo de inovação pelo setor privado.
A lição dos países asiáticos é que suas políticas foram importantes para sustentar o crescimento acelerado e a participação crescente de produtos com maior conteúdo tecnológico nas suas pautas de exportação. Desde a ascensão do Japão, vindo depois a da Coreia, Cingapura, Taiwan e Malásia e agora com a entrada da China (manufaturas) e da Índia (serviços), o Brasil vem amargando crescente perda no mercado de manufatura e em capacitação tecnológica. A comparação do desempenho brasileiro em relação a esses países asiáticos mostra uma expressiva falta de dinamismo, contrastando com o fato de que até a década de 70, o Brasil estava à frente deles, exceto o Japão. É hora de olhar o futuro e corrigir nossos graves equívocos. Oremos.
Sergio Alves é engenheiro e consultor



Capa: O Brasil tem produção científica substancial, destaca-se em vários setores de tecnologia avançada, mas continuam insuficientes os recursos destinados ao financiamento de pesquisa.
Não há bolsa que chegue
Por Luciano Máximo, de São Paulo16/04/2010
Gustavo Lourenção/Valor
Brito Cruz, da Fapesp: "Temos um terço dos pesquisadores da Espanha, país com o mesmo número de habitantes do Estado de São Paulo"
Na última década, a formação de mestres e doutores no Brasil cresceu mais de 100%, com quase 50 mil profissionais titulados a cada ano. O país está hoje em 13º lugar no ranking dos países que mais publicam artigos científicos. Os orçamentos das principais agências governamentais de fomento à produção científica aumentaram de modo significativo e ampliou-se a concessão de bolsas de estudo em todas as áreas do conhecimento. Somando Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), subordinada ao Ministério da Educação (MEC), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), vinculada ao governo paulista, o número de bolsas concedidas a mestrandos e doutorandos passou de 36.495 em 2000 para 69.696 no ano passado.
"O bom momento da produção científica no país está relacionado à retomada do crescimento econômico, que estimula as empresas a dedicar mais esforços a atividades internas de P&D [pesquisa e desenvolvimento] e os governos, a destinar mais recursos para bolsas de estudo e projetos de pesquisa.
Ruy Baron/Valor
Almeida Guimarães, da Capes, sobre a prioridade para engenharia e computação: "São áreas com alto índice de empregabilidade em setores que permitem gerar distribuição de renda"
No entanto, "ainda sentimos falta de pesquisadores", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "O número de cientistas em relação à população é pequeno na comparação com países desenvolvidos. Temos um terço dos pesquisadores da Espanha, país com o mesmo número de habitantes do Estado."
Nas contas de Renato Janine Ribeiro, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), ex-diretor de avaliação da Capes, é preciso dobrar o número de bolsas de estudo a mestrandos e doutorandos [leia entrevista na pág. 8], embora tenha crescido o universo constituído por mestres e doutores, "e isso é um grande ganho". Contudo, "seria uma ilusão supor que esse crescimento seja acompanhado pela qualidade" de forma linear. "A pesquisa científica tem um nível de variação muito grande, com aspectos positivos e aspectos que podemos achar que não são tão bons. Mas o saldo é positivo."
Jorge Almeida Guimarães, presidente da Capes, agência que responde por cerca de 60% da concessão de bolsas de mestrado e doutorado no país e pela supervisão do sistema nacional de pós-graduação, calcula que "deveríamos ter dez vezes mais doutores para dar aulas e orientar na pós-graduação". Entre 2000 e 2009, a oferta de programas de mestrado e doutorado em universidades brasileiras públicas e privadas cresceu 65%, para 2,5 mil cursos com mais de 160 mil matriculados.
A alta da oferta levou a Capes a extinguir o auxílio ao mestrado no exterior e aumentar a concessão de bolsas de estudo no Norte, Centro-Oeste - exceto Brasília - e Nordeste, regiões com os piores índices de formação em níveis de pós-graduação. Neste ano, a Capes e o CNPq decidiram oferecer, indiscriminadamente, bolsas a todos os mestrandos e doutorandos elegíveis de universidades públicas e privadas do Norte e Centro-Oeste. "Há áreas no país em que não podemos criar programas de mestrado e doutorado porque não temos professores qualificados. Isso cria um vácuo na possibilidade de desenvolvimento", avalia Almeida Guimarães.
A opção da Capes e do CNPq dá margem a críticas de Brito Cruz, da Fapesp, que em 2008 (último dado disponível) despendeu R$ 638 milhões em financiamento à pesquisa, ou 17,2% dos recursos originários de fontes estaduais, da ordem de R$ 3,7 bilhões, correspondentes a 24% do total aplicado no Estado. Enquanto isso, fontes privadas contribuíram com 62,8% e o governo federal, com 13,1%.
"A política da União deveria ser equilibrada. A disparidade maior é vista na distribuição das universidades federais no Brasil. Somando vagas às matrículas e dividindo pela população de jovens que concluem o ensino médio, em São Paulo a chance de se entrar em uma universidade federal é de 0,1%, enquanto a média no país é 12%, existindo alguns Estados com 70%. Não acho que seja um assunto político, relacionado ao governo Lula. O governo federal tem uma longa história de descompromisso com a educação superior no Estado de São Paulo", afirma Brito Cruz.
Almeida Guimarães contra-argumenta: "Uma região não tira bolsas de outra. Qualquer administração se defronta com a questão das disparidades regionais. Nossa missão é atuar para minimizá-las".
Compartilhando um orçamento de R$ 2,4 bilhões em 2009 e responsáveis por mais de 80% do fomento à pesquisa científica no país, Capes e CNPq costumam atuar em parceria com as fundações estaduais, abrindo editais para programas acadêmicos e liberando bolsas diretamente para instituições de ensino públicas e privadas bem avaliadas. Tanto as agências federais como as estaduais têm autonomia para definir políticas e áreas prioritárias de fomento, com participação de seus conselhos técnicos e acadêmicos. Com relação aos critérios de escolha de bolsistas e projetos de pesquisa, a análise geralmente é baseada no mérito acadêmico e científico das propostas. Também se leva em conta que é preciso preparar mão de obra qualificada para o mercado de trabalho.
Mario Neto Borges, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), avalia positivamente a relação entre agências estaduais e federais. "Desde que as fundações estaduais passaram a respeitar seu orçamento vinculado às receitas dos governos, foi possível fazer mais parcerias com a Capes e o CNPq, que exigem contrapartidas para os repasses. Elas normalmente conduzem políticas do governo que está no poder, mas como são instituições totalmente consolidadas, dá para manter equilíbrio. Muitas ações já estão estabelecidas e sofrem pequenas variações." Borges acrescenta que a Fapemig concedeu 7 mil bolsas de estudo e financiou 1.200 eventos acadêmicos em 2009. "Investimos R$ 232 milhões, orçamento dez vezes maior que o de sete anos atrás."
Almeida Guimarães justifica a prioridade que a Capes confere à formação de pós-graduandos nas áreas de engenharia e computação: "Estamos falando de áreas com alto índice de empregabilidade em vários setores e que permitem gerar distribuição de renda". Das 45 mil bolsas concedidas pela agência em 2009, cerca de 6,5 mil foram destinadas a programas de mestrado, doutorado e pós-doutorado em engenharia. É a maior participação entre os segmentos contemplados pela Capes: ciências biológicas ficaram em segundo lugar, com 4.384 bolsas, seguidas de ciências agrárias (3.733), medicina (3.408), letras e linguística (1.990), química (1.629), astronomia e física (1.249), ecologia e ambiente (738), entre outras.
Não por acaso, o Brasil tornou-se protagonista internacional no desenvolvimento de tecnologias e inovações em biocombustíveis, prospecção de petróleo, alta computação para o sistema financeiro, medicina tropical, odontologia, agronegócio e indústrias aeronáutica e automotiva. Para Brito Cruz, da Fapesp, essas atividades estão diretamente associadas a avanços econômicos e sociais verificados no presente e esperados para o futuro. "No Brasil, o principal resultado trazido por pesquisa tecnológica foi o biocombustível. O etanol de cana de açúcar permitiu que se fizesse aqui o que nenhum outro país conseguiu, que é substituir a gasolina por um combustível mais limpo em grande quantidade. Há também o avanço na produtividade de alimentos, assunto de extrema relevância nos próximos anos, com a perspectiva de aumento da população mundial."
O coordenador do programa Pró-Engenharia da Capes, Sandoval Carneiro Junior, diz que a atual demanda por engenheiros no mercado de trabalho permite prever que a distribuição de bolsas à área aumentará nos próximos anos, mas é preciso que o perfil do curso de engenharia seja mais atraente para o jovem ainda na graduação. "Os dois primeiros anos do curso são muito engessados, com pesadas disciplinas de matemática e física. Há muita desistência. O estudante de medicina bota o jaleco branco e vai ser médico desde o início. Mas estamos trabalhando com o Ministério da Educação e a Confederação Nacional da Indústria com a proposta de oferecer bolsas já na graduação e também para modificar a metodologia do curso."
Wilson Alves Sparvoli, de 25 anos, mestrando em filosofia da Universidade de São Paulo (USP), discorda da priorização às engenharias. Com bolsa padrão da Capes, de R$ 1.200,00 por mês, para a elaboração de tese sobre o pensamento dos filósofos racionalistas René Descartes (1596-1650) e Gottfried Leibniz (1646-1716), ele estranha que as áreas de exatas tenham maior peso na definição da política de fomento à pesquisa. "Sinto que o apoio a humanidades é desvalorizado em relação às áreas técnicas e com mais apelo de mercado. Não dá para entender qual é o critério de avaliação das agências ao manter o mesmo prazo de pesquisa e cobrar o mesmo relatório de produtividade para programas de filosofia e engenharia."
As agências públicas de fomento também investem nas chamadas "pesquisas induzidas", com editais convocando grupos de estudiosos de diferentes organizações ou empresas para a elaboração de pesquisas conforme a orientação do governo. Almeida Guimarães destaca o investimento de R$ 600 mil por ano da Capes num projeto de desenvolvimento de estudos e formação de recursos humanos sobre TV digital, do desenvolvimento de tecnologias para a fabricação interna de componentes eletrônicos a questões de transmissão. "Foi uma demanda das empresas. O sistema da TV digital está aí e poucos profissionais estão gabaritados para atuar. Mandamos gente estudar no Japão e concentramos grupos de pesquisadores para desenvolver um novo programa de pós-graduação em engenharia que atenda à demanda do Estado nesse setor."
Nas próximas semanas, a agência vai lançar um edital focado na extensão da fronteira marítima do país. Serão cerca de R$ 40 milhões para financiar, por quatro anos, 100 bolsistas de doutorado em áreas como biologia do mar, engenharia naval, petróleo e gás e defesa. "O Brasil ganhou as 200 milhas marítimas [zona econômica exclusiva] e a Marinha está desesperada porque não tem como explorar isso. Vamos lançar um enorme edital para preparar o país para uma nova fronteira de desenvolvimento", diz Almeida Guimarães.
Com editais semelhantes, desde 2007, o CNPq formou 124 Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), que também trabalharam soluções para TV digital, engenharia naval, prospecção de petróleo em alto mar, biocombustíveis. O INCT de Reabilitação do Sistema Encosta-Planície, baseado no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), recebeu R$ 3,3 milhões para financiar quatro anos de estudos de mais de 100 pesquisadores de várias universidades brasileiras, o que inclui bolsas a estudantes de engenharia civil e geotécnica, compra de equipamentos para laboratórios e cobertura de viagens para participação em congressos no Brasil e no exterior.
Segundo o coordenador do INCT da Coppe-UFRJ, professor Willy Alvarenga Lacerda, o grupo fez a identificação das novas áreas com risco de deslizamento em Angra dos Reis após o desastre do fim do ano passado, e está trabalhando com as prefeituras do Rio de Janeiro, Niterói e Duque de Caxias em estudos de reabilitação de encostas degradadas por erosões ou escorregamentos. "A partir do nosso trabalho técnico, o poder público pode tomar decisões sobre obras e interdição de áreas perigosas." Como exigência do edital, o grupo também desenvolve livros didáticos sobre os assuntos pesquisados.
Desde janeiro à frente do CNPq, principal agência federal de apoio à pesquisa e formação de recursos humanos na área tecnológica e de inovação, o físico Carlos Aragão defende a proximidade entre universidade e empresa, inclusive com as agências de fomento cumprindo papel de repassadoras de recursos públicos não reembolsáveis a companhias inovadoras.
"Com a Lei da Inovação (nº 10.973, de dezembro de 2004, regulamentada em outubro de 2005 pelo decreto nº 5.563) , empresas recebem recursos do Estado e devolvem em forma de resultado, de inovação, que ajuda a aumentar a produtividade, criar mais empregos", diz Aragão. "Hoje em dia, é possível dar dinheiro para projetos considerados de natureza estratégica via financiamento não reembolsável da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos, órgão do MCT]. Outros incentivos, como contrapartidas tributárias, também são muito bem-vindos. A discussão existe no setor e a gente espera que a iniciativa privada contribua cada vez mais para esse debate. Não entramos na seara tributária, que teria de ser discutida pela área econômica, mas no futuro [o fomento de agências como o CNPq] poderia repercutir nisso."
Esse é um dos assuntos que vão alimentar as discussões de autoridades, formuladores de políticas públicas, pesquisadores, cientistas e representantes da comunidade acadêmica e do universo empresarial durante a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, agendada para os dias 26, 27 e 28 de maio, em Brasília. O evento vai analisar avanços e gargalos do setor nos últimos anos e propor o desenho de nova política nacional centrada no desenvolvimento sustentável para o período 2011-2022. O encontro também vai estipular a expansão dos gastos brasileiros, público e privado, em ciência e tecnologia em proporção ao PIB. "Estamos em 1% e podemos passar dos 2% até 2022, o que nos coloca num patamar respeitável no mundo", afirma Aragão.
Na área de fomento à produção científica, o plano decenal - que vem sendo discutido desde o início deste ano em reuniões técnicas, seminários preparatórios e conferências em etapas municipais, estaduais e regionais - vai trazer tópicos como a aceleração dos lançamentos de programas de pós-graduação, a formação de mais mestres e doutores, mais dinheiro para as agências e fundações de fomento à pesquisa, regras mais flexíveis para a concessão de bolsas de estudo e até a aprovação de leis que autorizem o investimento de recursos públicos não reembolsáveis em companhias inovadoras।


Equívocos e ilusões num jogo sempre complicadoDe São Paulo16/04/2010
Sergio Zacchi/Valor
Janine Ribeiro, sobre as relações universidade-empresa: "Nem toda pesquisa científica tem que ter aplicabilidade no setor produtivo"
Os rumos da universidade e da produção científica no Brasil são um constante exercício de reflexão para Renato Janine Ribeiro, professor titular de ética e filosofia política da Universidade de São Paulo (USP). Diretor de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) entre 2004 e 2008, ele avalia positivamente o avanço do fomento à pesquisa nos últimos anos, mas destaca pontos negativos a serem superados, para o país continuar formando mais mestres e doutores e produzindo trabalhos acadêmicos de melhor qualidade. Uma de suas críticas recai sobre a centralização da definição de critérios e prioridades da política de concessão de bolsas na Capes.
Janine Ribeiro também cobra a adoção de reajustes periódicos no valor das bolsas a pesquisadores, chama atenção para o que considera um equívoco achar que toda pesquisa científica tem que ter aplicabilidade no setor produtivo e questiona o "interesse limitado" de empresas pelo conhecimento desenvolvido nas universidades. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Janine Ribeiro.
Valor: Qual sua avaliação sobre a evolução das ações de fomento à produção científica no Brasil?
Renato Janine Ribeiro: Acho que se cobrem razoavelmente as necessidades do país. Há alguns anos, quando eu era diretor da Capes, fiz um levantamento sobre os docentes que trabalhavam na pós-graduação. Eram cerca de 21 mil elegíveis a bolsas por produtividade, que é o principal indicador de qualidade. Desse total, subtraio aqueles que não têm condições de se dedicar com exclusividade ao trabalho de pesquisa - como os de direito, saúde e engenharia ou os que mantêm algum vínculo empregatício e não podem receber auxílio - e os acadêmicos que não têm bom índice de produção. Se fizer essas reduções, posso contar com algo perto de 15 mil candidatos viáveis, que é a meta do governo. Se transferirmos isso para o fomento à cultura, a situação é bem mais grave.
Valor: O aumento do número de mestres e doutores e a criação de cursos de pós-graduação são os principais alvos das políticas de fomento. Numericamente, as estatísticas comprovam que isso foi alcançado. Mas a oferta de recursos pode ser considerada suficiente?
Janine Ribeiro: Grosseiramente falando e olhando apenas os programas de mestrado e doutorado, a oferta de bolsas e de recursos é insuficiente. Os dados com que se trabalha são: um terço dos candidatos atendidos por bolsas; um terço sem acessar o sistema, por causa de vínculo empregatício, por exemplo; e um terço sem auxílio nenhum. Por essa conta, o número de bolsistas teria que dobrar. Outro ponto, e que precisa ser constante, é a valorização da bolsa. Tudo ficou congelado no governo de Fernando Henrique Cardoso, foi muito ruim para a universidade. Agora seria preciso garantir aumento todo ano pela inflação e recomposição das perdas históricas. Nada disso é fácil. Se o valor da bolsa subir, o número de bolsas ofertadas poderá ser inibido. O gestor tem que levar isso em conta. É um jogo complicado.
Valor: Como fica a qualidade da produção científica nesse contexto?
Janine Ribeiro: O Brasil aumentou muito a proporção de mestres e doutores e isso é um grande ganho, mas seria uma ilusão supor que esse crescimento seja acompanhado pela qualidade. Em 1984, quando me tornei doutor, o Brasil titulou 800 doutores; hoje, são mais de 10 mil por ano. As exigências mudaram muito. A pesquisa científica tem um nível de variação muito grande, com aspectos positivos e aspectos que podemos achar que não são tão bons. Mas o saldo é positivo, não podemos nos envergonhar.
Valor: Ouve-se falar muito em inovação. O que se deve entender por esse conceito?
Janine Ribeiro: No sentido que eles [agências de fomento] utilizam é algo que se refere à introdução na empresa de conhecimento científico e tecnológico desenvolvido pela pesquisa acadêmica. Não tem nada a ver com a ideia de novidade na criação científica.
Valor: Apesar do discurso da "inovação", parece que a distância entre universidade e empresas ainda é grande.
Janine Ribeiro: Quando se faz trabalho de criação científica na área de exatas existe uma grande ilusão: as pessoas pensam que o interesse básico é a aplicação do conhecimento e se esquecem de que as exatas são tão exigentes no rigor acadêmico e na ciência desinteressada quanto a área de humanas. Algumas exatas têm espaço de mercado maior, outras, menor, como matemática. O interesse no desenvolvimento de conhecimento científico voltado para o mercado é limitado. Muita gente não percebe isso. Existe o discurso empresarial para incentivar empresas e universidades a trabalharem juntas, mas na hora de atender a seu interesse, os empresários compram tecnologia pronta.
Valor: Empresas e universidade têm dinâmicas muito diferentes?
Janine Ribeiro: Os empresários costumam dizer que o obstáculo está na universidade, mas não é verdade. Quando minha colega Wrana [Panizzi, vice-presidente do CNPq] era reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, todo dia ela conversava com empresários, que vinham com o discurso de que a universidade estava muito longe da realidade do mercado. Sempre respondia: "Estamos longe e vocês estão demitindo direto". A questão toda de criar participação maior das empresa é honrosa, só que não é prática. E não é correto pensar que existe falha do mundo acadêmico nisso. As dificuldade estão dos dois lados.
Valor: Entre um projeto de pesquisa na área de bionergia e outro em semiótica, como uma agência de fomento define prioridades e critérios para a concessão de bolsas?
Janine Ribeiro: Não trabalhei nessa área, portanto não conheço o procedimento। Quando estava na Capes, a decisão era estritamente do presidente, o que não me parece positivo. (LM)



Publicada em 19 de abril de 2010
Política industrial – Em balanço apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, mostrou que o governo não conseguirá atingir em 2010 as quatro metas estabelecidas em 2008 na Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP). Eram elas: elevação da taxa de investimento da economia a 21% do PIB; aumento da participação das exportações brasileiras para 1,25% do total comercializado no mundo; expansão dos gastos privados com pesquisa e desenvolvimento, de forma a que os investimentos das empresas chegassem a 0,65% do PIB; e aumento de 10% da parcela de pequenas empresas exportadoras sobre as 11.792 existentes em 2008. O investimento fixo da economia em 2009 ficou em 16,7% do PIB. O BNDES acredita que a meta de 21% da PDP só será alcançada em 2012. Os indicadores do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) mostram que o investimento em P&D do setor privado, em 2008, ficou em 0,50% do PIB. O diretor de Planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz, falou à imprensa sobre a reunião, que ocorreu no dia 6 de abril no BNDES no Rio de Janeiro. De acordo com ele, as metas não serão cumpridas por causa da crise econômica. Ele disse aos jornalistas que o presidente Lula se mostrou satisfeito com os resultados atingidos até agora, mas não detalhou que resultados seriam esses. Ferraz argumentou que "o que importa não é atingir as metas e, sim, se estamos na direção". O presidente teria pedido um estudo para uma nova PDP, que pretende deixar a seu sucessor.


Abril / maio / junho de 2010
Henry Etzkovitz
Hélice tríplice: metáfora dos anos 90 descreve bem o mais sustentável modelo de sistema de inovação - Por Luciano Valente
Hélice tríplice, este foi o termo cunhado por Henry Etzkovitz em meados dos anos 1990, para descrever o modelo de inovação com base na relação governo-universidade-indústria. Somente através da interação desses três atores é possível criar um sistema de inovação sustentável e durável na era da economia do conhecimento. O modelo surgiu pela observação da atuação do MIT (Massachussetts Institute of Technology) e da sua relação com o polo de indústrias de alta tecnologia em seu entorno. Nesse ambiente a inovação é vista como resultante de um processo complexo e contínuo de experiências nas relações entre ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento nas universidades, indústrias e governo. Por isso, expressões como “fronteiras sem fim” e “transição contínua” são associadas ao modelo hélice tríplice. As primeiras publicações sobre o tema aconteceram pela parceria entre Etzkovitz e Loet Leydesdorff, professor da Universidade de Amsterdam. Hoje, a hélice tríplice evoluiu de uma teoria para um modelo, já aplicado em diversos países do mundo, estimulando o surgimento de núcleos de incubadoras, núcleos de inovação, escritórios de transferência de tecnologia, novas leis e mecanismos de fomento, inclusive no Brasil.
Diretor do Instituto de Política Científica, da Universidade do Estado de Nova Iorque, e professor convidado da Universidade de Stanford, Henry Etzkovitz esteve no Brasil em novembro, para participar do “Seminário Hélice Tríplice na América Latina: Conhecimento para Inovação”, organizado pela PUC-RS e pelo Fórum Nacional dos Gestores de Inovação e Tecnologia (Fortec). O evento teve como foco a discussão sobre diferentes sistemas nacionais de gestão estratégica da inovação, a longo prazo, nos países do bloco. Etzkovitz falou à Conhecimento & Inovação, sobre o surgimento do termo hélice tríplice, a evolução do modelo e de como ele vê as relações universidade-indústria-governo no Brasil.
Quando o senhor usou pela primeira vez o termo hélice tríplice? Que contexto lhe inspirou a criar esta metáfora?
Foi no meio dos anos 1990,......... .... .... .... .... .... .... ...



ADAM PRZWORSKI and FRANK SALOMON
The Art of Writing Proposals



O FETICHE DA QUATIDADEMetas de produtividade e burocracia acadêmica diminuem o potencial de pesquisas científicas A criação de conhecimento não pode ser medida somente pelo número de trabalhos escritos pelos pesquisadores, como é a tendência atual no Brasil RENATO MEZAN [<= link para texto completo]COLUNISTA DA FOLHA A cada tanto tempo, volta-se a discutir como deve ser avaliado o trabalho dos professores. O grande número de pessoas envolvidas nos diversos níveis de ensino, assim como o de artigos e livros que materializam resultados de pesquisa, tem determinado uma preferência por medidas quantitativas.Se estas podem trazer informações úteis como dado parcial para comparar resultados de escolas em vestibulares ou o desempenho médio de alunos em determinada matéria, sua aplicação como único critério de "produtividade" na pós-graduação vem gerando -a meu ver, pelo menos- distorções bastante sérias.Não é meu intuito recusar, em princípio, a avaliação externa, que considero útil e necessária. Gostaria apenas de lembrar que a criação de conhecimento não pode ser medida somente pelo número de trabalhos escritos pelos pesquisadores, como é a tendência atual no Brasil. Tampouco me parece correta a fetichização da forma "artigo em revista" em detrimento de textos de maior fôlego, para cuja elaboração, às vezes, são necessários anos de trabalho paciente.A mesma concepção tem conduzido ao encurtamento dos prazos para a defesa de dissertações e teses na área de humanas, com o que se torna difícil que exibam a qualidade de muitas das realizadas com mais vagar, que (também) por isso se tornaram referência nos campos respectivos.O equívoco desse conjunto de posturas tornou-se, mais uma vez, sensível para mim ao ler dois livros que narram grandes aventuras do intelecto: "O Último Teorema de Fermat", de Simon Singh (ed. Record), e "O Homem Que Amava a China", de Simon Winchester (Companhia das Letras).O leitor talvez objete que não se podem comparar as realizações de que tratam com o trabalho de pesquisadores iniciantes; lembro, porém, que os autores delas também começaram modestamente e que, se lhes tivessem sido impostas as condições que critico, provavelmente não teriam podido desenvolver as capacidades que lhes permitiram chegar até onde chegaram.Everest da matemáticaO teorema de Fermat desafiou os matemáticos por mais de três séculos, até ser demonstrado em 1994 pelo britânico Andrew Wiles. O livro de Singh narra a história do problema, cujo fascínio consiste em ser compreensível para qualquer ginasiano e, ao mesmo tempo, ter uma solução extremamente complexa. Em resumo, trata-se de uma variante do teorema de Pitágoras: "Em todo triângulo retângulo, a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa", ou, em linguagem matemática, a2²=b2²+c2².Lendo sobre esta expressão na "Aritmética" de Diofante (século 3º), o francês Pierre de Fermat (1601-65) -cuja especialidade... ... ... ... ... ... ... ... .... .... ... ... .. ... ... ... ... ... Ciência e tecnologia: Investimento privado aumenta, mas só 2 mil dos 87 mil doutores do país estão nas empresas Gasto com pesquisa é o maior em 11 anosCristiano Romero, de Brasília25/05/2010
Sérgio Rezende: "Sempre faltam recursos, mas a nossa experiência, no caso das subvenções, mostra que a qualidade dos projetos ainda deixa a desejar"
O Brasil está investindo, neste ano, o equivalente a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento (P&D). É o maior patamar de investimento dos últimos 11 anos - no ano 2000, o país aplicou 1,02% do PIB e, no ano passado, 1,3% do PIB. Do total deste ano, 0,65% está sendo desembolsado por empresas privadas e estatais, percentual praticamente idêntico ao do setor público.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, diz que, nos últimos anos, a estabilização da economia e a abertura comercial do país forçaram as empresas a investir mais em P&D, mas ele acha que elas ainda investem muito pouco. "Falta cultura", afirma Rezende nesta entrevista. Ele informa que, dos 87 mil doutores existentes no Brasil, apenas dois mil trabalham em empresas. O ministro acredita, no entanto, que há um processo de mudança em curso.
Físico de materiais com doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), Rezende afiança que o Brasil está começando a ser percebido lá fora como um ator emergente não só na economia, mas também na área de ciência e tecnologia. Há duas semanas, ele foi à Costa Oeste americana, em viagem organizada pelo diplomata Rodrigo Baena, responsável na Secretaria de Comunicação do governo pela divulgação do Brasil no exterior.
Já como resultado da viagem, a Intel manifestou interesse em entender melhor as condições para implantar um centro de pesquisa no Brasil. A IBM decidirá, entre Brasil, Austrália e Emirados Árabes, onde instalar o seu. E a General Eletric (GE), recordado o ministro, optou recentemente pelo Brasil.
De amanhã até sexta-feira, o ministro comandará, em Brasília, a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), que, até sexta-feira, já tinha quase 5 mil inscritos.
Valor: Que avanços o senhor julga que ocorreram na área de C&T nos últimos anos?
Sérgio Rezende: Houve quatro avanços, que estão relacionados às quatro prioridades do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação, lançado em 2007. O primeiro foi a consolidação de um sistema nacional de C&T. O sistema já existia com esse nome há muito tempo, mas somente agora ele está funcionando efetivamente.
Valor: No que consiste esse sistema?
Rezende: Consiste em decidir sobre a apoio a programas não de cima para baixo, mas de maneira articulada com sociedades científicas e entidades empresariais e com os Estados e até com alguns municípios. Hoje, existe um conselho de secretarias estaduais de C&T. Vários dos programas que temos atualmente foram articulados com os Estados, que têm que entrar com contrapartida, algo que foi definido pelo próprio conselho.
Valor: Como funciona a contrapartida?
Rezende: No caso de São Paulo, é um para um - para cada real colocado pelo governo federal num programa de pesquisa, o Estado coloca outro. Nos casos de Rio de Janeiro e Minas Gerais, a gente entra com 1,5 e eles, com 1. Nos Estados mais pobres, a proporção é de 5 para 1. Há um programa, destinado a expandir e consolidar o sistema de C&T, que é o de Núcleos de Excelência (Pronex). O edital é feito pelas fundações estaduais e uma boa parte dos recursos vem do governo federal. O resultado efetivo desse programa, que foi criado em 1997, mas sofreu esvaziamento e depois foi revigorado pelo governo Lula, é que os Estados passaram a colocar recursos. Os governadores passaram a ver que, se colocassem mais recursos nesses programas, mais eles receberiam do governo federal.
Valor: Há outros programas em parceria com os Estados?
Rezende: Há, por exemplo, o Programa de Apoio à Pesquisa em Pequena Empresa (Pappe). A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) entra com os recursos da subvenção [a fundo perdido], mas a empresa tem que disputar isso por meio de edital. O governo estadual também coloca recursos, mas não pode escolher diretamente os projetos. A Lei de Inovação exige que haja disputa, via edital de concorrência, pelos recursos que vêm de subvenção.
Valor: Qual foi o segundo avanço?
Rezende: Foi o grande aumento nos recursos financeiros. No ano 2000, os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que inclui dinheiro para pesquisa e subvenções dadas a empresas, limitaram-se a R$ 220 milhões, em valores de hoje. Em 2010, vão a R$ 3,1 bilhões. Considerando todos os recursos federais, o que inclui as verbas dos institutos do MCT, os programas nuclear e espacial, o CNPq e outras ações do ministério, o orçamento saltou, no mesmo período, de R$ 1,070 bilhão para R$ 5,376 bilhões.
Valor: Na semana passada, o governo anunciou que cortará R$ 10 bilhões do orçamento. A sua área sofrerá cortes?
Rezende: Não houve nem haverá contingenciamento no MCT. Um artigo que está na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) há alguns anos proíbe o contingenciamento de recursos dos fundos setoriais.
Valor: Mas eles foram contingenciados nos últimos anos.
Rezende: Em 2007, o presidente Lula decidiu que o contingenciamento dos fundos seria decrescente até chegar a zero em 2010. É isso o que está ocorrendo.
Valor: Qual foi o terceiro avanço?
Rezende: Foi a percepção de muitos empresários e empreendedores da necessidade de investir em C&T e inovação, isso em paralelo à criação dos novos instrumentos de apoio. O setor privado está investindo 0,65% do PIB em P&D. Em 2000, investia 0,47% do PIB.
Valor: Os críticos dizem que é muito pouco quando se comparam aos investimentos feitos por países que concorrem com o Brasil?
Rezende: Isso é verdade. O interesse das empresas cresceu, mas ainda é muito pequeno. Mas antes não havia nada. Temos três modalidades de subvenção econômica: o Pappe; o edital nacional, criado em 2006; e o Prime (Primeira Empresa Inovadora), para novas empresas, lançado no ano passado. Nos três programas, foram beneficiadas até agora cerca de 2.500 empresas. Em 2006, do primeiro programa [de subvenção nacional], foram beneficiadas aproximadamente 200 empresas.
Valor: Quanto foi liberado?
Rezende: O total chegou a cerca de R$ 2 bilhões. As liberações são crescentes, o que demonstra o interesse das empresas. O edital nacional deste ano, que será anunciado durante a conferência pela Finep, vai dispor R$ 500 milhões.
Valor: Por que o interesse empresarial ainda é aquém das necessidade? Faltam recursos?
Rezende: Falta cultura. Sempre faltam recursos, claro, mas a nossa experiência, no caso das subvenções, mostra que a demanda é muito grande, mas a qualidade dos projetos, que são julgados por comitês com representantes das empresas, do meio acadêmico e do ministério, ainda deixa a desejar.
Valor: Por quê?
Rezende: Porque as empresas não têm pesquisadores de uma maneira geral.
Valor: E por que elas não contratam pesquisadores?
Rezende: Porque é uma questão cultural. Até a década de 80, a preocupação das empresas era pagar os salários no fim do mês, correr contra a inflação. Na década de 90, aconteceram duas coisas marcantes: uma foi a estabilização da economia; outra foi a abertura comercial. Com a abertura, aquelas empresas que não tinham gestão foram engolidas, muitas desapareceram, outras foram à falência. Mas já havia um movimento, que começou no governo e foi tendo a adesão das empresas, para desenvolver programas de gestão da qualidade. As empresas passaram a ver que tinham que ter certos padrões para ter boa gestão. Hoje, muitas das pessoas que foram líderes daquele processo, como Jorge Gerdau, são os que lideram agora o movimento para a inovação. Uma vez que a empresa tem gestão da qualidade, ela possui um produto de mercado, vai bem e sobrevive. Mas, para fazer grandes avanços, ela tem que ter coisa nova.
Valor: Faltam mestres e doutores na empresa brasileira?
Rezende: Na Coreia do Sul, 80% dos pesquisadores estão nas empresas. Nos Estados Unidos, mais de 60% estão nas companhias, embora lá haja um grande contingente no governo por causa dos laboratórios e dos investimentos em defesa. No Brasil, a maioria está no governo [principalmente, nas universidades]. Dos 87.063 doutores que temos no Brasil [dados de 2008), apenas 2 mil, o equivalente a 2,3% do total, estão trabalhando em empresas. Mas essa situação está começando a mudar.
Valor: Como?
Rezende: Há dez anos, havia somente 200 doutores nas empresas. A mudança foi grande e tenho certeza de que será maior ainda na próxima década. Além disso, o Brasil está formando mais de 10 mil doutores por ano [em 2009, foram 11,4 mil] e quase 39 mil mestres [38,8 mil no ano passado]. No caso dos doutores, formamos mais do que França, Itália, Coreia do Sul, Espanha e Finlândia e menos do que Índia, Rússia, China, Japão, Alemanha e Estados Unidos.
Valor: O que está faltando para que as empresas contratem pesquisadores, mestres e doutores?
Rezende: Está faltando o sistema empresarial ver que isso faz diferença. Uma empresa que possui doutores tem mais competitividade e maior lucratividade. Não adianta o governo falar. O governo pode criar mecanismos para estimular. Criamos, por exemplo, a Lei da Inovação, que procura aproximar os pesquisadores das empresas. Essa lei criou a subvenção tanto para financiar projetos quanto para contratar mestres e doutores, mas a demanda das empresas para esse tipo de contratação ainda é muito pequena. Há uma interpretação no mercado de que, de um modo geral, o doutor aprofundou os estudos e é muito acadêmico. As empresas acabam preferindo o engenheiro.
Valor: O doutor formado no Brasil não é mesmo muito acadêmico e distante da realidade das empresas?
Rezende: A maioria certamente é, mas isso é um processo. Há muitas universidades formando engenheiros com doutorado. O engenheiro sai do doutorado com uma base teórica, mas muitas vezes experimental também, muito grande. Mas quando chega à empresa, ele precisa se envolver com os problemas e usar toda aquela formação para tentar resolver as questões da companhia.
Valor: O problema está na forma como a universidade brasileira prepara seus doutores?
Rezende: Nós temos, por causa da demanda, um público na área de ciências humanas - ciências sociais, direito, administração etc. - proporcionalmente maior que o de outros países. Na Coreia, na China e na Índia, há uma procura muito maior pelas engenharias.
Valor: O senhor acha que é um problema o país formar mais doutores nas ciências humanas?
Rezende: Não. Isso reflete um estágio da nossa cultura e também das oportunidades existentes. O Brasil forma uma quantidade enorme de advogados, que têm muitas oportunidades no mercado de trabalho. Um exemplo: há inúmeros concursos na área pública para pessoas formadas em direito. O mercado tem um papel importante. Entre 1982 e 2002, o número de estudantes formados em engenharia diminuiu de 26 mil para 15 mil. Isso ocorreu por causa dos anos de estagnação da economia. Os jovens olham para as carreiras que oferecem oportunidades. Hoje, com a retomada do investimento e o crescimento da economia, está faltando engenheiro, e não se forma um da noite para o dia. A Vale e a Petrobras estão procurando profissionais no exterior.
Valor: O que o governo está fazendo para valorizar as ciências exatas?
Rezende: Estamos fazendo, com o Ministério da Educação, algo que terá resultado em dez anos: a Olimpíada Brasileira de Matemática na escola pública. Começou em 2005, por ordem do presidente Lula. O que ocorria até então é que os estudantes das escolas públicas não concorriam na olimpíada nacional de matemática por medo, então, o governo criou uma só para a escola pública. Em 2005, tivemos 10,5 milhões de concorrentes. Em 2009, foram 19,1 milhões, 10% da população brasileira. As crianças não são obrigadas a concorrer, como no exame do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Valor: O que os estudantes ganham ao participar da olimpíada?
Rezende: Os 300 melhores ganham medalha de ouro, os 600 seguintes, medalha de prata, outros 2.100 seguintes, medalha de bronze, e todos ganham uma bolsa de R$ 150 para, no ano seguinte, fazer curso de matemática, fora da sala de aula. Em 2009, estudantes de 43 mil escolas públicas em 5.650 cidades participaram da olimpíada, o que equivale a 99,1% dos municípios. Isso vai estimular muitos estudantes a optarem por engenharia e áreas afins mais adiante.
Valor: É muito comum comparar-se o fracasso brasileiro nessa área ao sucesso da Coreia do Sul.
Rezende: É muito diferente fazer uma política industrial e tecnológica para um país de 8,5 milhões de Km2 e 190 milhões de pessoas, do que fazer para a Coreia, que hoje é um país democrático, mas que quando deu o grande salto não era. Os "chaebols", os grandes grupos coreanos, eram empresas da área de agricultura, de exploração de recursos naturais, que o governo chamou e disse o que é que eles iam fazer. A política industrial coreana, portanto, foi forçada.
Valor: Qual foi o quarto avanço?
Rezende: Foi o fato de termos priorizado também C&T para o desenvolvimento social, num sentido bem abrangente - inclusão digital, melhoria do ensino nas escolas públicas etc. Há coisas que o MCT não fazia antes. Inclusão digital, por exemplo, não era assunto desse ministério.
Valor: O Brasil é muto atrasado e desigual no acesso à internet rápida. Por que é assim?
Rezende: Eu não diria que está tão atrasado, afinal, existem 60 milhões de usuários de internet no Brasil. Em média, o brasileiro fica na internet três vezes mais tempo do que a média dos outros países.
Valor: O que explica isso não é a internet lenta?
Rezende: Certamente, isso contribui, mas não só. Não há mais acesso porque o custo é alto. Outra razão é que não existe internet ainda nos locais coletivos - principalmente, nas escolas públicas e nos centros comunitários, onde a população mais pobre poderia ter acesso. As escolas estão tendo acesso gradualmente, até o fim deste ano deve chegar a 56 mil. Agora, surge o plano nacional de banda larga porque, há quatro anos, não se falava disso; falava-se apenas de internet. Na medida em que a internet vai ficando sofisticada, a informação passa a ser mais completa e isso exige mais velocidade. O governo decidiu usar os cabos de fibra óptica que pertenciam a empresas estatais de energia e recriar a Telebrás para gerir isso.
Valor: Como ela vai operar?
Rezende: Não está definido ainda. Há visões diferentes dentro do governo.
Valor: Qual é a sua?
Rezende: É que a Telebrás deveria chegar aos municípios e, lá, oferecer o serviço a um provedor de internet a um determinado custo, menor do que aquele que as grandes empresas comerciais cobram hoje. Só no Rio Grande do Sul, há 600 licenças concedidas pela Anatel a pequenos provedores para exploração de internet. Falta chegar a infraestrutura.
Valor: É possível chegar a um custo mais baixo ou haverá subsídio?
Rezende: Por um bom tempo, quem vai bancar isso é o governo. A Telebrás vai levar o serviço aos locais onde não existe banda larga e também onde os preços estão muito altos. No fundo, o que o governo quer é contribuir para a regulação desse mercado, forçando os preços para baixo.
Valor: O setor de telecomunicação era muito ineficiente antes da privatização. O senhor não teme que a recriação de uma estatal crie novas ineficiências?
Rezende: O plano da Telebrás é ser uma empresa enxuta, que vai contratar serviços de outras empresas, como já fazem as empresas privadas. Prefiro correr esse risco a continuar como está hoje. Estão aí os preços altos cobrados pelas empresas privadas e a falta de cobertura. Com a Telebrás, as empresas serão obrigadas a cortar custos e a reduzir preços.


Inovação na indústria depende de mais incentivos para pesquisa
25/05/2010
Para CNI, competitividade do Brasil depende do aumento da inovação das empresas. Documento aponta soluções para garantir crescimento sustentado da economia brasileira
Ampliar em 50% os recursos de subvenção à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do setor privado é uma das propostas da indústria brasileira para aumentar o nível de inovação das empresas. Essa sugestão está no documento A Indústria e o Brasil, uma Agenda para Crescer Mais e Melhor, entregue nesta terça-feira, 25 de maio, aos pré-candidatos à Presidência da República Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), no encontro promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O setor industrial entende que a competitividade do Brasil no mundo depende do aumento da inovação das empresas. Mas o avanço da produtividade brasileira, medida pela razão entre a produção e o número de horas trabalhadas, perdeu força entre 2000 e 2008. Num ranking com 20 países, o Brasil ficou na 17ª colocação, crescendo a uma taxa média anual de apenas 0,9%, percentual bem aquém de líderes como Coréia do Sul (7,4%), Taiwan (5,2%) e Suécia (4,8%). O Brasil ficou numa situação melhor somente em comparação com a Itália, Cingapura e Canadá.

Na questão da inovação da indústria lembra que as subvenções, os incentivos fiscais e as encomendas governamentais são os instrumentos clássicos de apoio governamental à inovação. Porém, o Brasil precisa atuar mais nessas áreas. Para se ter uma ideia, apenas 6,5% das empresas brasileiras declararam em 2005 receber algum tipo de apoio para inovação, segundo a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A indústria entende que os incentivos fiscais à inovação no Brasil são restritos, pois deixam de fora pequenas e médias indústrias optantes pelo regime de lucro presumido. "No Brasil, os incentivos fiscais estão concentrados na Lei de Informática, que é relevante, mas representam um incentivo apenas marginal para P&D", diz o documento. Diante desse cenário, a indústria propõe a revisão do sistema de incentivos à inovação, permitindo que um maior número de empresas possa ter acesso a eles. Para começar, os incentivos fiscais devem ser estendidos às empresas que apuram os impostos pelo lucro presumido. Seria importante também permitir que os beneficiários de incentivos fiscais utilizem os créditos tributários para além do exercício fiscal, de modo a flexibilizar essa aplicação.

Ampliar as compras governamentais, que garantem mercado para produtos inovadores, também é uma sugestão da indústria. Segundo o documento, que será entregue aos presidenciáveis, esse mecanismo é considerado um dos mais eficientes nos países emergentes e mesmo em países desenvolvidos, como nos Estados Unidos. A ideia é priorizar a inovação nas compras do setor público, com a generalização dessa prática para além das áreas de Defesa e Saúde Pública. A criação de um quadro institucional adequado também é uma sugestão do documento. Uma alternativa seria a criação de uma Agência de Inovação diretamente ligada à Presidência da República. Mas seria importante ainda uma melhor articulação entre os ministérios da área econômica do Governo e os de Ciência e Tecnologia. Hoje, com exceção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os agentes públicos mais relevantes na área de inovação estão vinculados ao Ministério de Ciência e Tecnologia e têm pouca interlocução com a área econômica do Governo. Além da inovação, no documento entregue aos presidenciáveis a CNI faz um diagnóstico e aponta soluções para outras 11 áreas imprescindíveis para garantir o crescimento sustentado da economia brasileira.
(Fonte: Agência CNI - 24/05/2010)


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Simplificar a burocracia no apoio à inovação e rever incentivos fiscais da Lei do Bem para melhor adequá-los às necessidades das empresas estão entre as sugestões do setor produtivo



Incentivos fiscais à inovação são pouco usados
7/5/2010 • • Rodrigo Arruda Sanchez
Publicação:Gazeta do Povo
A evolução tecnológica de Coreia do Sul e dos Estados Unidos, nos últimos 50 anos, não se deve a um maior investimento público aplicado em pesquisa, mas em um maior investimento privado. Os EUA e a Coreia realizaram investimentos públicos em pesquisa semelhantes ao governo brasileiro, mas suas empresas investiram quatro vezes mais que as brasileiras. A diferença fundamental entre os regimes é que aqui não são as empresas que demandam soluções a serem pesquisas. Porém a pesquisa que gera desenvolvimento tecnológico deve partir de demandas das empresas, pois são elas que sabem o que precisam.
Não se trata de negar a importância da pesquisa pública feita nas universidades. Muito pelo contrário. Os investimentos públicos em entidades de pesquisa igualmente públicas são imprescindíveis. Mas esses escassos recursos devem ser aplicados em projetos que atentam ao interesse público e em áreas nas quais as empresas privadas não se interessariam em atuar, conforme prevê o artigo 170 e ss. da Constituição Federal.
Numa tentativa de mudar esse panorama, foi publicada a Lei 11.196, que cria incentivos fiscais para que as empresas passem a investir em pesquisa desenvolvida dentro de seus muros ou fora, em parceria com centros de pesquisa ou universidades já estruturadas. A lei merece ser elogiada não só por criar benefícios fiscais, mas principalmente por criar ambiente propício ao desenvolvimento tecnológico.
Caso a empresa decida contratar o desenvolvimento de uma pesquisa junto a uma universidade ou centro de pesquisa, a lei prevê apenas um incentivo fiscal, que é a dedução do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro (CSL), por parte da empresa investidora, em porcentuais que variam entre 50% a 250% do investimento. Por envolver uma entidade pública onde será feita a pesquisa, esse incentivo fiscal exige aprovação prévia do Governo.
Já quando a pesquisa for feita dentro da empresa, é dispensada a aprovação governamental prévia. Para esse modelo, como será construído um laboratório interno na empresa, a lei optou em conceder diversos outros benefícios fiscais, como a dedução de até 200% da despesa com pesquisa e desenvolvimento da base de apuração do lucro líquido, subvenção da União de até 40% do investimento com pagamentos a pesquisadores e até crédito de até 20% do Imposto de Renda retido na fonte para o pagamento de royalties e assistência técnica a empresas estrangeiras, entre outros.
Estes incentivos podem ser usados por qualquer empresa, não importando seu tamanho e/ou atividade econômica. O requisito básico é que se queira investir em inovação.
Apesar disso, poucas empresas utilizaram dos benefícios da lei nos quatro anos em que ela está em vigor. Apontam dificuldades de compreensão da lei e dúvidas que o Governo não elucidou. Em recente levantamento feito pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia foi divulgado que as beneficiadas são empresas de grande porte e ligadas aos setores petrolífero, automobilístico e aeronáutico. Em decorrência, sobram recursos por falta de projetos apresentados. Mesmo assim, o Governo anunciou o aumento de recursos destinados à pesquisa, dos atuais 1,13% para 1,50% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. O conhecimento da existência da Lei 11.196, como se vê, abre oportunidades para a ampliação de investimentos privados em pesquisa.
Rodrigo Arruda Sanchez é professor de Direito Tributário, mestrando em Propriedade Intelectual e inovação no INPI, sócio do escritório SCR Advogados.

Nota da PROTEC: Para usufruir os incentivos fiscais determinados pela Lei do Bem (11.196), a empresa deve optar por declarar seu imposto no regime de lucro real, mais complexo e dispendioso, utilizado por apenas 6% das empresas nacionais.


Los marginados de la innovación agroalimentaria en Chile




Imitar e inovar
Glauco Arbix e Zil Miranda
23/06/2010
Com o título "Imitação é mais valiosa do que inovação", Oded Shenkar, diretor da Ford Automóveis e professor da Universidade de Ohio, em entrevista para a "Harvard Business Review", enfatizou como a imitação é altamente relevante para o avanço tanto dos negócios quanto da ciência. Sua defesa baseou-se em levantamento sobre modelos de negócio e pesquisas científicas que detectou o valor fundamental da imitação para gerar os bons resultados alcançados.
Entre os casos estudados destacaram-se as experiências da rede Walmart (que se inspirou no Korvette); do McDonald ' s (que se baseou no White Castle); no Visa, MasterCard e American Express, que teriam seguido as trilhas desbravadas pelo Dinners Club; e ainda a Apple, que quase sempre trabalha aprimorando ideias lançadas por outras empresas.
Os resultados da pesquisa rejeitaram as visões simplistas que relegam a imitação a um posto de menor prestígio na atividade empresarial e na academia. Na pesquisa básica, tida como o universo nobre da geração do conhecimento, o pesquisador, em vários momentos, precisa apreender e repensar a tese de outros para evoluir em sua trajetória. Nas empresas, processo semelhante leva as empresas a incorporarem inovações disponíveis no mercado, para que sejam capazes de reprocessar e relançar produtos e serviços de nível superior.
Shenkar tomou a imitação como uma atividade complexa, que envolve ousadia e criatividade. Na economia, sem essa capacidade de absorção do novo, muitas vezes gerado por outras firmas, não haveria, por exemplo, o que simplificadamente se denomina de "transferência de tecnologia". As entrevistas de Steve Jobs (da Apple) sobre o iPad, ao relatar seu débito com o Kindle da Amazon (leitor de livro), ou o modo como incorporou e foi além das primeiras experiências de MP3 players, ou o sucesso do iPhone (anos após a existência do celular), ilustra o esforço criativo necessário para aperfeiçoar bens já disponíveis no mercado. Claro, é preciso estar em sintonia com as novas tendências para reprocessar produtos com charme e inteligência. Mas para isso o segredo nem sempre está na busca de alta tecnologia ou de inovações de ruptura, e sim na qualidade dos funcionários, da engenharia, na facilidade com que o conhecimento e a informação fluem no interior das empresas. Em ambientes abertos ao novo, a imitação não é vista como subproduto, mas como requisito para a inovação; não é estigmatizada, mas desejada.
Para países emergentes como o Brasil, cujas economias não atuam na fronteira do conhecimento, a imitação, longe de mostrar-se trivial, é atividade-chave para dinamizar a pesquisa e a competitividade das empresas. Principalmente porque pode viabilizar processos de aprendizagem tecnológica e de capacitação que seriam praticamente impossíveis de outra forma.
São vários os estudos que mostram como a China mantém há décadas um acelerado crescimento em muito baseado na imitação. O Brasil também fez - e ainda faz - uso intensivo desse recurso, ainda que não pareça ser motivo de orgulho. A Pesquisa sobre Atitudes Empresariais para Desenvolvimento e Inovação (Paedi), patrocinada pelo Ipea e pelo Cebrap mostrou como representantes de empresas (presidentes, diretores e gerentes) identificaram na inovação - via pequenas mudanças em produtos ou processos - a responsável pela geração de valor e de retorno do investimento.
Pelos argumentos de Shenkar ousaríamos dizer que muitas empresas brasileiras inovam ao imitar, mas nem sempre reconhecem a importância dessa escolha, dado o preconceito existente. Duas evidências da Paedi corroboram essa afirmação: 1) é alto o número de empresas que atribui importância à participação em feiras internacionais, em busca de novas tendências de mercado; 2) várias dessas empresas declararam sua intenção de competir no exterior. Para a economia brasileira, que tenta se livrar da tradição protecionista, a busca de contato e de absorção das práticas mais avançadas é passo essencial para a sua capacitação, diferenciação de seus produtos e salto para um desempenho sistematicamente inovador.
Não há receita milagrosa que leve à inovação. Mesclada com a boa engenharia, com maior investimento nas pessoas e gestão mais avançada, a imitação pode funcionar como peça-chave na elevação do padrão inovador.
No Brasil, o ambiente externo às empresas mudou para melhor nos últimos anos. Há muito ainda a fazer, principalmente na diversificação, desburocratização e ampliação das linhas e programas de financiamento. A universidade pode contribuir ainda mais para que a economia faça da inovação sua principal ferramenta de competitividade pois não há outro meio de elevar o padrão de competitividade da nossa economia, de quebrar a dependência das commodities e de sustentar o crescimento.
Glauco Arbix é professor do Departamento de Sociologia, USP,
Zil Miranda é doutoranda do Departamento de Sociologia, USP. Ambos são pesquisadores do Observatório de Inovação do Instituto de Estudos Avançados-USP.


Desafios da Inovação - Incentivos para Inovação: O que Falta ao Brasil
(IEDI)  fev2010 capacidade de alavancar gasto P&D


Carta IEDI n. 344 - Investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação na OCDE e nos BRICs




Tendências nas P&D e Inovação, segundo a OCDE 29/01/2011



Do IEDI
Principais Tendências nas Políticas Científicas, Tecnológicas e de Inovação, Segundo a OCDE
A Carta IEDI apresenta a segunda parte da resenha do relatório Science, Tecnology and Industry Outlook 2010, divulgado em meados de dezembro pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Além dos desenvolvimentos recentes em ciência e inovação – objeto da Carta IEDI nº 450 – o estudo examina também as transformações das políticas científicas, tecnológicas e de inovação frente à crescente globalização das atividades de Pesquisa e....



OCDE divulga relatório de 2008 sobre investimentos em P&DAté mesmo com o aprofundamento da atual crise financeira, os investimentos em ciência, tecnologia e inovações se beneficiaram de um cenário macroeconômico favorável, como mostra o relatório (de 2008 da OCDE)Science, Tecnology and Industry, divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
OCDE divulga relatório de 2008 sobre investimentos em P&D  
         O estudo mostra que, no período 2001-2006, na área da OCDE, os gastos domésticos com pesquisa e desenvolvimento (GERD, na sigla em inglês) registraram incremento anual de 2,5% em termos reais, atingindo US$ 818 bilhões correntes em 2006. Já nas principais economias em 



ESPECIAL VALOR ECONÔMICO - PINTEC 2010, 05JAN2011



Innovation Policy for the Developing World
 Success stories and promising approaches


Presidente da Embrapa defende simplificação de processos em C&T
 lançamento da Agenda Legislativa da Pesquisa e Inovaçã



Redes d inovação em biotecnologia : genomica e direitos d propriedade industrial  (tese)
 por Maria Ester Soares Dal Poz

Os novos cursos de medicina fazem mal a saude?  (tese)
 por Lucirleia Alves Moreira Pierucci

Ciencia e gestão na universidade publica : das interfaces epistemologicas a praxis possivel  (tese)
 Fernando Anton Hello


Um passeio pelas principais correntes da filosofia da ciência
 por Marcos Rodrigues da Silva



Innovation Policy for the Developing World
Article by Jean-Eric Aubert
Download PDF of this Article (207KB) It is clear that developing countries, lacking the resources and a conducive institutional and business environment, should be particularly pragmatic in their innovation policy.
Success Stories and Promising Approaches
INNOVATION, particularly technological innovation, is widely touted as a panacea for development. As more and more countries begin to formulate policies that support innovation, they expect to find a magic bullet in the experiences of the advanced and some of the more dynamic less developed economies. But emulating foreign success stories and models is not so easy. Moreover, the developing world is extremely diverse, ranging from giant powerhouse economies to poor fragile states. I will nevertheless present here some useful principles and illustrations that can help inform effective approaches to innovation in the difficult institutional and business climates of low- and medium-income countries.
Understanding innovation
It is important to understand what constitutes innovation in the developing world. Generally it does not mean something “new” in absolute terms, but something new for the society in question. An innovation may be well known in one place, but virtually unknown in another for lack of dissemination. Even modestly innovative ideas can make an enormous difference: for example the use of mosquito nets to fight malaria or inventive uses of information technologies, including mobile phones for trade services, health care, and business management. These have had a tremendous impact in poor countries.
Innovation may also mean the development of productive sectors that may be new to a particular economy, but can enable them to compete successfully in the world or regional markets. Numerous examples from recent decades can be cited: textiles in Tunisia, the auto industry in Romania, cut flowers in Kenya, computer components in Vietnam, and ecotourism in Costa Rica. All these activities were highly innovative in the respective countries, and have since generated significant job growth and wealth.
So what lessons can governments learn from these success stories?
Acting as a gardener
Innovation is normally instigated by a key actor: the entrepreneur who brings the project to fruition in designing the new product or process, looking for finance, and exploring markets. He or she interacts with different organizations within the so called innovation system, such as universities, public laboratories, banks, customer associations, other enterprises. In addition, the environment in which innovation takes place is strongly influenced by broader factors such as the macroeconomic situation, the level of infrastructure development, and the quality of governance.
Innovation policy is, therefore, fundamentally different from simply promoting ideas and projects from research to market, or—the reverse—identifying needs and calling upon research or the science base to satisfy them. This linear and mechanistic view of the innovation process is misguided; a holistic and biological approach is more appropriate. Governments should see their role as creating a favorable climate in which innovative projects can flourish.
Governments have basically three functions: providing incentives and facilities to elicit or support innovative projects; removing bureaucratic, regulatory, competitive and other obstacles to innovation; and improving the knowledge base and its use in developing technical education and R&D structures. The government should thus act as a gardener tending to a plant: he waters it, removes weeds and pests, and applies fertilizers.
With efficient instruments
The most important tool for supporting innovators is a flexible and agile agency able to serve their technical, financial, commercial, and other needs. All OECD countries have such bodies, providing incentives for the key actors, for example: matching funds to induce universities and industry to take part in joint projects. Some developing countries have also been able to set up efficient agencies, such as Chile’s Foundation Chile which, by carrying out the functions mentioned, was instrumental in setting up the salmon and wine industries. Low- and medium-income countries generally do not see the need for an agency entirely devoted to innovation promotion, since they already have to deal with the bureaucratic hurdles presented by a number of other bodies dealing with related policy matters such as industry, trade, or foreign direct investment (FDI). Nevertheless, the creation of an agile, innovation-focused agency (or a program when a new institution with vested interests is not advisable) is essential.
Another important element of a system that supports innovation policies is a solid network of decentralized technical “sounding boards” that are accessible to entrepreneurs and potential innovators. A good example is the Japanese network of prefectural laboratories, established in the early 20th century, funded by the central government and the local authorities, which played a decisive role in the rise of Japanese industry, in particular small businesses. Such a technology infrastructure is key. In developing countries, attention is rightly paid to central Metrology, Standards, and Quality Control bodies, but local “antennas” providing at least minimal technical support and connections to sources of expertise are often neglected, or they are stymied by the profit-making rules that are imposed on them.
Well-designed, large-scale technology programs, developed through public procurement, have had a considerable impact on innovation development. For example, breakthrough technologies have resulted from the US defense and space programs. And some emerging countries have demonstrated their ability to mount large-scale technology programs, such as Brazil’s aviation and agriculture industries. Low-income countries also need to take some form of largescale approach, but adapted to their needs and resources, such as pro-poor technology programs. A recent World Bank project in Rwanda is an example of good design. The project provides a package of interventions, including financial support to communities, technical assistance and training, and improved infrastructure (energy sources and telecoms).
Innovators need to be insulated against bureaucratic regulations, monopolistic predators, and corporatist behaviors. Innovation policy requires a strong legal framework, and constant vigilance in removing, reshaping, or fine-tuning the diverse regulations that may prevent innovative initiatives, such as tariffs schedules, standards, intellectual property rights (IPR), customs procedures, and so on. Although this issue is generally well understood in the developing world, countries lack the requisite judicial and enforcement mechanisms. Some countries have partly overcome these problems by creating special economic zones, techno cities and the like, that are relatively free from bureaucracy and friendly to entrepreneurs.
It is clear that developing countries, lacking the resources and a conducive institutional and business environment, should be particularly pragmatic in their innovation policy.
Being pragmatic
All success stories have drawn heavily on comparative advantage. These advantages may result from natural endowments (a wine-friendly climate in Chile), human resources (a cheap, educated labor force in Vietnam), or market positioning (Romania’s proximity to East European markets). Successful countries have cleverly exploited these advantages. Initially, they did not set the bar too high, nor did they neglect the technologies needed to move them up in the value chain.
These countries systematically scout around the world for new knowledge (e.g. new technology and new management methods) while gradually building up their own local capabilities.Korea is a good example. It began to develop its industrial base (shipbuilding and electronics) by buying technologies abroad and investing massively in technical and vocational education, before investing in higher education and research and becoming a global innovator. The lack of adequate policies for upgrading their knowledge base explains why a number of developing countries that have been successful in the cheap labor sectors (textiles, cut flowers, and others) have had trouble expanding into new growth areas.
Another key lesson is that countrywide change rarely happens quickly. Movement is normally gradual, starting with localized success stories in specific industries or geographic areas. Even in innovation-supportive climates, policy makers in charge of promoting innovation have had to demonstrate institutional creativity to advance their cause. After a few illustrative cases, they built up a critical mass of initiatives using both top-down and bottom-up approaches, conducive to broader reforms. China is a prime example. It started with reforms in a few coastal areas to test what works, before extending them to other parts of the country, thereby rising up in the value chain and in technological sophistication.
Regional initiatives, sometimes spontaneous and not stimulated by the central government, play a critical role in the change process. An example is the information and communication technologies (ICT) and software industry in Bangalore, India. The rapid spread of the “innovation buzz” to the rest of the economy, helped create a general climate of trust for reforms and investment in other sectors.
Building dynamic innovation climates takes time—at least a decade. It takes three to five years for innovation projects to bear fruit; and seven to ten years before a specific industry or site can show significant job creation or income generation. At the same time it is important to seek support from recognized outsiders (for example, through international policy reviews) in order to strengthen the credibility of policy initiatives.
Within broader development strategies
A key success factor is to integrate a vision for innovation in long-term development strategies. For example China decided to become “the world’s factory.” Malaysia aimed at becoming an “information society world leader.” This vision allows a country to define priorities and implement them across ministries and throughout its territory with properly aligned policies and investments.
This requires an explicit “government-wide approach.” Malaysia has such a mechanism for its ICT policy with a powerful monitoring body attached to the Prime Minister. Tunisia is another role model in the Arab World, using a wide consultation process to develop its Five-Year plan in which becoming an innovation and knowledge society is a major goal. In the developed world, Finland was a model pioneer, with its very influential Science & Technology Policy Council, chaired by the prime minister, and involving all the key ministers, including finance, as well as representatives from the business and labor communities.
Although a number of developing (and developed) countries have tried these kinds of coordinating bodies, in most casesthey failed because they did not have sufficient authority. So they became, at best, a locus for reaching soft consensus and for information sharing. Making such bodies work takes strong political leadership, collective will, and clear commitments.
In sum, innovation policy can be a key component of 21st century development strategies, even in poor countries withconstraining economic environments. But to succeed, innovators must be supported by high-level central and local government policy makers who have the vision, pragmatism, and the ability to work creatively in institutional contexts.
Jean-Eric Aubert, retired Lead Specialist in the World Bank Institute's (Paris Office), Knowledge for Development Program.
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The Three Strands of Innovation
An interview with Jean-François Rischard by Audrey Liounis


Innovation Policy for Development: an Overview
Manuel Trajtenberg

The Power of Innovation
In a post-crisis world, innovation may be the single most important driver of economic growth and competitiveness. Our authors share their thoughts on how to mobilize innovative solutions to reduce poverty smarter, better, faster, and differently. As Sanjay Pradhan, Vice President of the World Bank Institute, points out, the time is right to move development forward through creative and integrated uses of technology and social theory. In his guest editorial, Aleem Walji argues that we now have the capacity to scale up innovative approaches to meet the needs of people at the “bottom of the pyramid” when traditional markets fail to do the job.

Articles from two new books open this issue: Jean-Eric Aubert on innovation policy, and Gordon Conway and Jeff Waage on the role of science and technology. Then Jean-François Rischard looks at how policy must foster a vital creative class that underpins a country’s competitiveness. James Koch opens the section on innovation processes by summarizing Santa Clara University’s framework for bottom-up social entrepreneurship.
Mari Kuraishi of Global Giving takes us back to the creation of the Development Marketplace ten years ago; Iqbal Quadir of MIT shows how mobile technology facilitates power at the grassroots; Marla Capozzi shares highlights of McKinsey’s leadership research on innovative organizations; Tim Brown and Jocelyn Wyatt apply IDEO’s processes to developing country needs; Diana Wells advocates for the power of individual change-makers in today’s world; and Richard Murby and I argue that the merger of social media and communication is transforming innovation processes.
Finally, there are stories about innovation at the ground level—how Development Marketplace winners took their projects to scale; how georeferencing is putting Nairobi’s slums on the map, and how BRAC in Bangladesh became a learning organization.
Edith R. Wilson
Issue Editor
Development Outreach is a flagship magazine in the field of global knowledge for development which reflects the learning programs of the World Bank and presents a range of viewpoints by renowned authors and specialists worldwide.



O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Cientifico e Tecnologico-PADCT: ..analise de politica, by Alzerina Reis Barrella


17/05/2011 CARLOS PACHECO
Ao proferir palestra hoje num seminário promovido pela Anatel e o IPEA ( Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), para discutir inovação tecnológica, o cientista Carlos Américo Pacheco, da Unicamp, cobrou uma revisão dos marcos regulatórios de incentivos à pesquisa e o desenvolvimento tecnológico no Brasil.
Segundo ele, o cenário macroeconômico brasileiro, a falta de uma infraestrutura adequada ao crescimento, entre outros componentes que se juntam ao chamado "Custo Brasil", não terão como ser alterados à curto e médio prazos. 
Como não há remédio de efeito imediato em economia, Carlos diz que resta ao país se reorganizar para conseguir alcançar maior produtividade industrial e continuar competitivo em relação ao mercado mundial.
Ele fez um alerta: Se nada for feito nos próximos anos em termos de ampliar a capacidade do país de gerar valor agregado à produção, a batalha pela competitividade mundial estará perdida para o Brasil.


em 28/07/2011 CARLOS PACHECO I - Ciência, Tecnologia e Inovação




12º Fórum de Debates Brasilianas.org

Política de Inovação FAPESP


Carlos Cruz


Salermo


IPEA
Participação de Luiz Ricardo Teixeira Cavalcante, pesquisador do IPEA, no 12º Fórum de Debates Brasiliana.org, realizado pela Agência Dinheiro Vivo no dia 30 de agosto de 2011 em São Paulo.
Cavalcante participou do segundo painel do seminário, para discutir o apoio à inovação de empresas e universidades.



29/09/2011 O Ciclo Virtuoso da Inovação - Sergio Perussi (CEPOF-USP; Professor da UNICEP)

Caminhos da Inovação - Caixa 1 - DVD 1.1

Caminhos da Inovação - Caixa 1 - DVD 1.2

Caminhos da Inovação - Caixa 1 - DVD 2.1


Caminhos da Inovação - Caixa 1 - DVD 1.3

Para sobreviver é preciso inovar
Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico, 23-04-2012
Arbix: "Iniciativas de inovação mudam de eixo, com foco em pequenas e médias empresas. Até o Ministério da Ciência e Tecnologia mudou de nome"
A inovação não é uma questão de luxo para as empresas, mas de sobrevivência. Quem garante é o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Arbix, um dos conferencistas do Seminário Internacional sobre Pequenos Negócios, promovido pelo Sebrae, em São Paulo. "A inovação e a tecnologia, tradicionalmente, foram consideradas como subprodutos do crescimento econômico e não como pré-requisitos para o desenvolvimento".
Segundo o especialista, o cenário começou a mudar com políticas públicas que elegem a inovação como diretriz. Em junho, a Finep vai apresentar na Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro, uma feira de negócios sustentáveis para fundos investidores.
Para ele, a inovação terá mais campo fértil para florescer no Brasil a partir de melhores relações entre universidades e empresas, aportes em capacitação de recursos humanos e estímulos ao mercado de fundos de capital semente, capazes de transformar os negócios em crescimento.
De acordo com Arbix, a construção de programas nacionais de desenvolvimento ganhou velocidade a partir de 2007, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Plano Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação e o Plano Nacional de Educação.
"Essas iniciativas desenvolveram novas perspectivas para o país. Foi a primeira vez que uma ação do governo incorporou a inovação como parte integrante", avalia. Com esse empurrão, outras políticas públicas industriais voltam ao cenário, mais abertas à propostas inovadoras.
Nessa mesma linha, o presidente da Finep lembra a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce), de 2004; a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), de 2008, e o Plano Brasil Maior, lançado no ano passado. "Essas iniciativas de inovação mudam de eixo, com foco também em pequenas e médias empresas. Até o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) mudou de nome, hoje chamado de MCT&I, para aderir à causa".
Para ele, a ajuda do governo é importante, mas as empresas devem mostrar mais interesse em inovar para expandir negócios.
"A maioria das companhias inova somente adquirindo equipamentos, e isso é um problema de pequenos, médios e grandes empreendimentos", diz. "O desafio é construir uma economia amigável à inovação, capaz de estimular companhias de menor porte e desenvolver competências tecnológicas e científicas, de crescente valor agregado. Apesar da existência de novas políticas de estímulo, as empresas ainda não estão, claramente, no foco delas".
Além disso, para destravar processos inovadores, Arbix afirma que é preciso aumentar o diálogo entre universidades e organizações, diminuir a carência de recursos humanos, principalmente na área de engenharia; e estimular o mercado de seed capital ou capital semente, que ainda engatinha no Brasil.
"A inovação é feita de gente qualificada e com competência para trabalhar, mas a maioria dos pesquisadores está na academia e não nas corporações", diz o especialista, que defende um salto de qualidade no financiamento para ampliar e renovar o sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação.
Para ele, a forte presença da China no mercado internacional modifica o padrão de oportunidades e pode aumentar os obstáculos para a evolução tecnológica de países como o Brasil. Para escapar da concorrência, o país deve inflar números de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), aumentar a quantidade de empresas intensivas em conhecimento e continuar atraindo centros de P&D de grandes corporações, como o da GE, que se instala no Rio.
"Precisamos aumentar os aportes em P&D, de 1,1% do PIB (em 2010) para 1,8%, até 2014", diz. Na lista de prioridades de investimentos do governo, Arbix indica setores como aeroespacial, defesa, energia, pré-sal e etanol, além de tecnologias sustentáveis, saúde e TI.
De olho nesses mercados, a Finep organiza a feira Venture Fórum Brasil Sustentável, prevista para a Rio+20, em junho, que vai reunir empresas inovadoras em tecnologias verdes e sustentáveis nas áreas de energias renováveis e eficiência energética, gestão de resíduos e biodiversidade, além de agricultura e segurança alimentar. Os negócios serão apresentados a potenciais investidores dos setores de seed, venture capital e private equity.
Na semana passada, a entidade lançou mais uma edição do Prêmio Finep, que completa 15 anos em 2012. Neste ano, os vencedores receberão prêmios em dinheiro - de R$ 100 mil a R$ 600 mil para os primeiros colocados regionais e nacionais, num total de R$ 9 milhões. Até o ano passado, os premiados ganhavam recursos não reembolsáveis, cuja liberação era condicionada à apresentação de um projeto de ciência, tecnologia e inovação.
A premiação passa a contar com mais duas categorias: tecnologia assistiva e inovação sustentável. A primeira cobre produtos e processos que promovem a qualidade de vida e a inclusão social de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. A segunda destaca iniciativas em que a sustentabilidade está integrada a pesquisas, desenvolvimento e comercialização de produtos.


HA-JOON CHANG