Tuesday 17 November 2009

POLÍTICA INDUSTRIAL e COMÉRCIO EXTERIOR + PDP + TECN PITCE

Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE): análise de fundamentos e arranjos institucionais
Resumo: A política econômica da era FHC promoveu a abertura econômica causando profundas mudanças estruturais na indústria ao afetar o nível de investimento, preços, quantum produzido, valor adicionado, margens, emprego, coeficientes de comércio e produtividade. Os instrumentos da política de estabilização foram os agentes da mudança. A política industrial foi negligenciada. As conquistas no plano macroeconômico contrastam com os desequilíbrios e fragilidades do parque produtivo nacional. Nesse contexto, ressurge a discussão em torno da necessidade de adoção de políticas como meio de afetar o desenvolvimento industrial. Tal como recentemente concebida pelo Governo, a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) não deve interferir na busca da estabilização macroeconômica; pretende, outrossim, contribuir para corrigir os desequilíbrios microeconômicos daí resultantes, valorizando a competitividade industrial nos mercados interno e externo e incrementos em sua função social por meio de maior articulação entre setor produtivo, universidades e institutos de pesquisa. Sob esta perspectiva, o atual governo têm procurado, inclusive, lançar programas objetivando o progresso de setores indústrias considerados prioritários. Este artigo pretende apontar o caráter da PITCE, procurando indicar o papel e as possíveis limitações do modelo adotado por meio da análise dos arranjos institucionais que respaldam sua execução. Como será demonstrado, o novo arranjo é marcado por sobreposição de diversos órgãos. As análises são feitas a partir da discussão dos fundamentos da PITCE e enquadramento formal do papel de cada instituição responsável por sua execução. Nesse contexto, é apresentado esquematicamente como se articulam os diversos entes governamentais. Defende-se a hipótese de que os programas têm sido implementados sob um vácuo de medidas destinadas a adequação de arranjos administrativos/institucionais, o que deve prejudicar a eficiência e eficácia da PITCE.


TEXTO PARA DISCUSSÃO Nº 348
Capacitação Tecnológica, Competitividade e Política Industrial: uma Abordagem Setorial e por Empresas Líderes
André Furtado (coord.) SETEMBRO DE 1994



BALANÇO PITCE





Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITC


PITCE II



Propostas para uma nova Política Industrial, Tecnológica de ...





Política Industrial e Tecnológica: uma questão regional
Por HENRIQUE RATTNER 2004


JC e-mail 2520, de 10 de Maio de 2004
Tecnologia e política industrial, artigo de Wanderley de Souza


João Cravinho
Para uma política nacional de ciência e tecnologia ao serviço do desenvolvimento


REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL E ALTA-TECNOLOGIA NO BRASIL: As Indústrias de Informática em São Paulo tese


Política industrial e tecnológica e desenvolvimento
Prof. Dr. José Matias Pereira. Universidade de Brasília. Brasil
Resumo: Temos como objetivo neste artigo aprofundar a discussão sobre a necessidade do Brasil construir uma moderna política industrial e tecnológica, tendo como base o conhecimento e a inovação tecnológica, para atuar como indutora do desenvolvimento econômico. O trabalho está apoiado em autores de distintas teorias sobre o tema (SCHUMPETER, 1961; PAVITT,1998; FREEMAN et. al. 1988, 1994; KRUGMAN, 1986; COUTINHO, 1990), bem como nas “Diretrizes de Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior” (MDIC, 2004), que busca definir um novo modelo de política industrial, tecnológica e de comércio exterior para o Brasil. Ficou razoavelmente evidenciado neste estudo que a política industrial assume um
papel estratégico à medida que permite a coordenação dos agentes produtivos que precisam tomar decisões
cruciais como investir e/ou inovar em um ambiente permeado de incertezas quantos aos resultados futuros de suas decisões. Concluímos, ao final, que é fundamental que o país defina uma política industrial moderna, que incorpore o incentivo à inovação e às exportações, servindo assim como instrumento de estímulo ao desenvolvimento do país. Argumentamos, ainda, que a viabilização dessa política estará condicionada a capacidade do Estado em disponibilizar diversos instrumentos, tais como: regulação, política de compras, financiamento e incentivos fiscais.




Política industrial no Brasil: o que é a nova política industrial Nota Técnica


POLÍTICAS INDUSTRIAIS E DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NA IRLANDA: ÊNFASE EM SETORES DE ALTA TECNOLOGIA E UMA COMPARAÇÃO COM O BRASIL
Marcela de Oliveira Mazzoni e Eduardo Strachman
Resumo. A partir de um referencial teórico consistente, este trabalho busca montar um quadro de referências das políticas industriais adotadas pela Irlanda, desde a década de 1950, com especial ênfase sobre aquelas direcionadas para C,T&I, IDE e setores de alta tecnologia, como software e biotecnologia. Comparam-se estas políticas com aquelas adotadas pelo Brasil, em período semelhante, a fim de iluminar virtuais reformulações destas. Conclui-se que o comprometimento do Estado com a orientação do desenvolvimento e a continuidade das políticas industriais é muito importante para a construção de vantagens comparativas em setores de grande dinamismo tecnológico.


Os Fundos Setoriais e a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação
Marcelo Gonçalves do Valle, Maria Beatriz Machado Bonacelli, Sergio Luiz Monteiro Salles Filho
Resumo. A política nacional de CT&I surge na segunda metade do século XX, com a criação do CNPq, Capes e do FNDCT. Conferiu-se foco à formação de recursos humanos capacitados, que pudessem contribuir para o desenvolvimento da capacidade técnico-científica nacional. Esta atuação do Estado resultou em avanços para a ciência nacional, quintuplicando a produção científica e formando aproximadamente 5000 doutores a cada ano. Todavia, não foram equacionadas lacunas importantes: a escassez de recursos comprometeu o andamento de pesquisas; não se desenvolveu a participação do setor privado no financiamento e execução da inovação; não se reproduziu a sinergia niversidade/empresa/instituições públicas que se verifica em países desenvolvidos. Buscando superar estes obstáculos, o Governo engendrou uma nova modalidade de organização da política nacional de C&T&I, a partir dos Fundos Setoriais. Sua concepção e operacionalização procurou traçar alternativas ao equacionamento destes problemas, com o estabelecimento de um padrão de financiamento a longo prazo e o estímulo à participação empresarial e sua interação com universidades e institutos de pesquisa. Este artigo discorre acerca das expectativas e transformações conferidas à condução da política nacional de C&T&I decorrentes da implantação dos Fundos Setoriais, notadamente no que tange às modificações verificadas sobre a estrutura de financiamento, a participação empresarial e a reorganização institucional da pesquisa.


FUNDOS SETORIAIS NO BRASIL: UM POUCO DA HISTÓRIA
Newton Muller Pereira


Editoriaismailto:Editoriaiseditoriais@uol.com.br
Inovar para sobreviverO NOVO presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Carlos Alberto Aragão, afirmou à Folha que é importante atrair empresas para um relacionamento mais próximo com as instituições nacionais de pesquisa, inclusive para absorção de pessoal qualificado por elas formado.
Com efeito, data de pelo menos uma década o diagnóstico de que o ponto fraco do setor de ciência e tecnologia do país está na inovação. É baixa a capacidade de converter estudos acadêmicos em conhecimento assimilável pelo setor empresarial, para aumentar a competitividade dos produtos e serviços.Vários obstáculos foram removidos nos últimos anos -e incentivos, criados. Não têm faltado recursos para a política de inovação, com os fundos setoriais criados por FHC e blindados por Lula contra o tradicional contingenciamento.
Se realizada a previsão orçamentária de R$ 7,22 bilhões para o Ministério da Ciência e Tecnologia neste ano, a dotação terá quintuplicado em uma década. E foram multiplicados por dez os desembolsos para projetos nos últimos cinco anos, alcançando a casa do bilhão de reais.
Mas é diminuta a parcela dos mais de 10 mil doutorandos aprovados por ano no Brasil que encontra trabalho em empresas. Embora a Finep pague 50% do salário do novo funcionário, em quatro anos o incentivo só foi usado por 18 empresas para contratar 42 mestres e 26 doutores.
A assimilação de quadros com qualificação acadêmica pela iniciativa privada depende de uma mudança cultural lenta por natureza. Empresas mais expostas ao mercado mundial, como Petrobras e Vale, já se converteram à causa da inovação. Falta ainda grande parte do empresariado convencer-se de que não se trata de opção, e sim de sobrevivência.



REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL E ALTA-TECNOLOGIA NO BRASIL: As Indústrias de Informática em São Paulo
HINDENBURGO FRANCISCO PIRES tese 1995


João Cravinho
Para uma política nacional de ciência e tecnologia ao serviço do desenvolvimento


ALGUNS ASPECTOS DA POLÍTICA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
José Israel Vargas


Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE): análise de fundamentos e arranjos institucionais
Resumo: A política econômica da era FHC promoveu a abertura econômica causando profundas
mudanças estruturais na indústria ao afetar o nível de investimento, preços, quantum produzido, valor adicionado, margens, emprego, coeficientes de comércio e produtividade. Os instrumentos da política de estabilização foram os agentes da mudança. A política industrial foi negligenciada. As conquistas no plano macroeconômico contrastam com os desequilíbrios e fragilidades do parque produtivo nacional. Nesse contexto, ressurge a discussão em torno da necessidade de adoção de políticas como meio de afetar o desenvolvimento industrial. Tal como recentemente concebida pelo Governo, a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) não deve interferir na busca da estabilização macroeconômica; pretende, outrossim, contribuir para corrigir os desequilíbrios microeconômicos daí resultantes, valorizando a competitividade industrial nos mercados interno e externo e incrementos em sua função social por meio de maior articulação entre setor produtivo, universidades e institutos de pesquisa. Sob esta perspectiva, o atual governo têm procurado, inclusive, lançar programas objetivando o progresso de setores indústrias considerados prioritários. Este artigo pretende apontar o caráter da PITCE, procurando indicar o papel e as possíveis limitações do modelo adotado por meio da análise dos arranjos institucionais que respaldam sua execução. Como será demonstrado, o novo arranjo é marcado por sobreposição de diversos órgãos. As análises são feitas a partir da discussão dos fundamentos da PITCE e enquadramento formal do papel de cada instituição responsável por sua execução. Nesse contexto, é apresentado esquematicamente como se articulam os diversos entes governamentais. Defende-se a hipótese de que os programas têm sido implementados sob um vácuo de medidas destinadas a adequação de arranjos administrativos/institucionais, o que deve prejudicar a eficiência e eficácia da PITCE.



UMA POLÍTICA DE ESTADO PARA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
CONTRIBUIÇÕES DA ABC PARA OS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DO BRASIL 2006


Projeto Diretrizes Estratégicas para Ciência, Tecnologia e Inovação ch 6
Desafios Institucionais


Apresentação do Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação


Plano de Ação


O Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional PACTI 2007-2010


LIVRO BRANCO : CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO 2002


Aprendizagem Tecnológica e Inovação Industrial em Economias Emergentes: Uma breve contribuição para o desenho e implementação...
Paulo Figueiredo - 2004
RESUMO. O tema estratégia de inovação industrial entrou formalmente na agenda de discussão e ação governamental no Brasil no final dos anos 1960. Desde então, tem havido uma profusão de estudos baseados em descrições, análises e propostas relativas a estratégias de inovação industrial no País. A despeito do grande mérito dos vários trabalhos neste campo no Brasil, ainda há uma escassez de contribuições conceituais e, principalmente, gerenciais voltadas para o aprimoramento do desenho e da implementação de estudos empíricos e de tais estratégias. Por isso, este artigo tem seu foco em duas tarefas: a primeira é clarificar certas definições relativas ao desenho e implementação de estudos empíricos e de estratégias de inovação industrial a partir da perspectiva de aprendizagem tecnológica no contexto de economias emergentes; a segunda é apresentar métricas associadas à operacionalização de tais estudos e estratégias, particularmente no Brasil. Espera-se com isso contribuir para ampliar a compreensão sobre o intricado processo de desenvolvimento tecnológico na indústria, no contexto de economias emergentes e, assim, auxiliar pesquisadores e gestores envolvidos com a gestão da inovação industrial no Brasil.


Acumulação tecnológica e inovação industrial: conceitos, mensuração e evidências no Brasil
Paulo N. Figueiredo
Este artigo oferece uma contribuição à gestão do processo de desenvolvimento industrial no contexto de economias em desenvolvimento, particularmente no Brasil. Para isso, esclarece certas terminologias relativas a acumulação de capacidade tecnológica e inovação industrial e apresenta um modelo, acompanhado de breve aplicação prática, que pode ser usado para examinar - e gerir - o processo de desenvolvimento industrial.



Conjuntura Econômica PDP
Crescimento abre espaço para mais P&D, diz Pacheco, da Unicamp;para ele, maior destaque da PDP é estímulo a grandes grupos
Na última entrevista da série que discutiu com economistas o papel da pesquisa e desenvolvimento no crescimento brasileiro, Carlos Américo Pacheco, professor do Instituto de Economia da Unicamp, fala a Inovação. Engenheiro eletrônico e doutor em economia, Pacheco foi nomeado secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) em 1999, quando o titular da pasta era Luis Carlos Bresser Pereira, logo substituído por Ronaldo Sardenberg. Na passagem pelo MCT, idealizou e implantou os fundos setoriais, hoje o principal recurso para financiar pesquisa, desenvolvimento e inovação no Brasil. Também coordenou a elaboração do programa de governo para o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Até janeiro de 2008, Pacheco foi secretário adjunto de Desenvolvimento do Estado de São Paulo.
Pacheco considera "muito positiva" a
Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), lançada pelo governo dia 12 de maio último. Na PDP, indica a indução a uma mudança patrimonial no setor privado como muito importante e pouco destacada. Como os outros especialistas já ouvidos, ele observa que a inovação não foi um componente central na recente fase de crescimento econômico no Brasil. Destaca como positivos — ao contrário, por exemplo, do economista Naercio Menezes — o esforço do governo brasileiro em criar grandes grupos nacionais e a inserção de novas camadas sociais no consumo como forma de fortalecer o mercado interno e atrair mais investimentos. No entendimento do professor Pacheco, inovação permanece como estratégia para mantermos esse percurso. Leia a entrevista, concedida a Janaína Simões dia 28 de maio, no Instituto de Economia da Unicamp.
Que papel a inovação teve nesse recente crescimento da economia brasileira?
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O Brasil pegou a doença holandesa?
Souza, Cristiano Ricardo Siqueira de
De acordo com um ramo da literatura de comércio internacional, aumento expressivo nos preços de recursos naturais pode causar forte crescimento na receita de exportação desses bens, que causaria apreciação da taxa real de câmbio e perda de competitividade das exportações e da produção de bens manufaturados. Em casos extremos, haveria encolhimento desse setor, efeito esse denominado desindustrialização. Esse conjunto de efeitos é comumente denominado doença holandesa. A apreciação da taxa de câmbio no Brasil, experimentada a partir de 2003, gerou debate entre economistas, acadêmicos ou não, a respeito da possível ocorrência de sintomas da doença holandesa no Brasil. A maior parte desses trabalhos e opiniões se amparou em observações dos dados para tomar posição a favor ou contra a ocorrência do fenômeno, sem aparente consenso. Este trabalho busca testar a hipótese do país ter apresentado sintomas da doença holandesa no período de 1999 a 2008 e contribuir com a literatura através do emprego de técnicas econométricas tradicionalmente observadas em trabalhos sobre o tema, abordagem essa distinta e inédita para o caso brasileiro. A estimação de relações de cointegração (VECM) mostrou ligação positiva entre preços de commodities e a taxa real de câmbio no Brasil, principalmente a partir de 2003, porém não corroborou a relação negativa entre os mesmos e exportações e produção de bens manufaturados que seria necessária na ocorrência da doença holandesa. O emprego da equação de gravitação para analisar a ligação entre esses preços e as exportações de bens manufaturados em um painel de 172 países tampouco encontrou indícios da ocorrência desse fenômeno. Concluiu-se, portanto, que entre 1999 e 2008 não há evidências indicativas de que o Brasil tenha apresentado os sintomas da doença holandesa.


Dependência, desenvolvimento e dominância financeira: a economia brasileira e o capitalismo mundial
Teixeira, Rodrigo Alves - 24/01/2007
Este trabalho busca contribuir para o debate a respeito do desenvolvimento econômico no Brasil, em particular para a busca de explicações a respeito do crescimento baixo e instável apresentado pela economia brasileira desde a década de 90. Ao contrário das interpretações ?endogenistas?, em nossa interpretação é central a condição periférica e dependente da economia brasileira na economia mundial. Partimos da noção de que estamos diante de uma nova fase do capitalismo, caracterizada por um regime de acumulação com dominância financeira, tal como já apontado por outros autores, defendendo-a contra as críticas mais recentes que recebeu, no interior do marxismo: a crítica baseada na teoria das ondas longas do capitalismo, segundo a qual não há nenhuma novidade na atual expansão financeira, e outra baseada na idéia de que, com a pós-grande indústria, o próprio capital produtivo é que teria um caráter rentista, o que levaria à ilusão de estarmos diante de uma dominância financeira. Entretanto, buscamos mostrar que a noção de dominância financeira desenvolvida por Chesnais e outros não trata das relações centro-periferia com profundidade e, por outro lado, as teorias que trataram das relações centro-periferia e da noção de dependência não construíram uma análise adequada a respeito das mudanças do capitalismo desde a década de 70, em particular do regime de acumulação. Por isso, procuramos unir estas duas leituras, para investigar como as relações de dependência dos países periféricos mudaram em função da mudança do regime de acumulação em escala mundial. Nosso foco está numa particular versão da teoria da dependência, que postulava a possibilidade de um desenvolvimento capitalista da periferia, ainda que dependente-associado, e que chega ao poder no Brasil na década de 90. Argumenta-se que o ?ângulo cego? desta teoria, que é a não percepção da mudança do regime de acumulação do capitalismo, trouxe um otimismo infundado sobre os benefícios de uma inserção (feita apressadamente e sem cuidado) no mercado financeiro internacional que aumentou a vulnerabilidade externa da economia brasileira, conduzindo a uma armadilha que impede o desenvolvimento econômico.


Pauta tem se alterado claramente rumo a produtos básicos.
Taxa de câmbio e exportaçõesPor Márcio Holland e Emerson Marçal08/02/2010
O aumento das exportações entre 2003 e 2008 dá margem à controvérsia sobre o papel da taxa de câmbio nas vendas externas
Tem sido animado o debate sobre o papel da taxa de câmbio no desempenho das exportações brasileiras. Para muitos economistas, as exportações dependem muito pouco, senão nada, da taxa de câmbio. Elas seriam função muito mais do crescimento mundial e do preço internacional de nossas exportações, as commodities. Outros economistas, em meio a uma grande polêmica sobre a desindustrialização brasileira, têm mostrado que as exportações de manufaturados têm inclusive crescido bastante e que essa preocupação não procederia. Esse artigo sugere que a taxa de câmbio foi e continua sendo relevante para explicar o comportamento das exportações brasileiras e que a pauta de exportações tem se alterado de produtos manufaturados para produtos primários.
Olhando com calma os últimos oito anos, de 2003 a 2008, a despeito da forte apreciação na taxa real de câmbio, as exportações totais brasileiras apresentaram um extraordinário desempenho. Elas saíram de US$ 72 bilhões, em 2003, para US$ 197 bilhões, em 2008. E isso, certamente, dá margem à controvérsia sobre o papel da taxa de câmbio nas exportações. O que se sabe também é que as importações totais têm crescido bastante, reduzindo crescentemente o saldo comercial. Naquele mesmo período, as importações totais cresceram de US$ 48 bilhões para US$ 172 bilhões.
GRÁFICO - Participação dos setores nas exportações
Mas, observando com mais cuidado o comportamento das exportações por fator agregado, nota-se grandes mudanças na sua composição. As exportações de produtos básicos têm ampliado substancialmente sua participação nas exportações totais, saindo de menos de 30% para 42,5%; ao mesmo tempo as exportações de produtos manufaturados se movimentaram de mais de 54% para 42,7%. Ou seja, a pauta de exportações tem se alterado claramente rumo a produtos básicos. Entre esses estão os minérios de ferro e seus concentrados, soja menos triturada, óleos brutos de petróleo, carne de frango congelada, fresca ou resfriada, incluindo miúdos, entre outros. Vale dizer que os minérios de ferro cresceram mais de três vezes, assim como café cru ou em grãos.
De outro lado, grande parte dos produtos que compõe o segmento "manufaturado" apresenta crescimento, como as exportações de aviões e automóveis de passeio, partes e peças de veículos e tratores; incluem também produtos baseados em recursos naturais como açúcar refinado, álcool etílico, suco de laranja não congelado. Todos esses produtos considerados manufaturados apresentam algum crescimento. Contudo, o segmento em geral vem crescendo bem menos do que o de produtos básicos.
Fizemos um exercício empírico para avaliar o efeito da taxa real de câmbio sobre as exportações totais e por segmentos, em estimação de séries temporais, com dados anuais de 1980 a 2008. Os resultados mostraram que para o caso das exportações totais, bem como de segmentos como manufaturados e bens de consumo durável e não durável, a taxa de câmbio é inquestionavelmente relevante. Apenas para se ter uma idéia dos resultados, dispensando detalhes dos procedimentos econométricos, uma desvalorização na taxa real de câmbio em 10% deve ter um efeito de curto prazo de 2,2% de aumento nas exportações totais brasileiras e pode chegar a 5,5% em certos segmentos das exportações. No longo prazo, o efeito de 10% de desvalorização cambial aumenta as exportações totais em 11%, ou em 15% as exportações manufaturadas, em 8% as exportações semimanufaturadas e de bens de capital, e em 16% as exportações de bens de consumo, seja durável, seja não durável.
Vale destacar que a grande mudança no mercado consumidor doméstico tem dado uma outra dimensão para os saldos comerciais em geral, com forte crescimento na demanda por importados. Contudo, não teríamos crescimento tão elevado de importações de bens de consumo, duráveis e não-duráveis, e mesmo de bens de capital, não fosse a apreciação cambial. Mas, mais importante do que seu resultado sobre o saldo comercial, o Real apreciado vem mudando fortemente o que exportamos. Os primeiros setores a sentirem com a apreciação cambial são aqueles com menor vantagem competitiva "natural", ou seja, os segmentos industriais. Mas, não se pode negar que mesmo os setores com competitividade advindas da abundância de recursos naturais não tenha sentido os efeitos de viver sobre um moeda tão volátil e tão apreciada. Basta observar os dados de aumento de volume exportado versus a receita com tais exportações. Numa palavra, esses setores intensivos em recursos naturais tem tido muito esforço em exportar toneladas métricas para mesmo resultado financeiro.
Em síntese, há uma grande mudança na composição da pauta de exportações brasileiras rumo a exportações de produtos básicos e agrícolas; a taxa de câmbio tem papel central nessa dinâmica, assim como na explicação das exportações de produtos com maior grau de industrialização ou mais intensiva em tecnologia, mais do que na dinâmica das exportações de primários e agrícolas.
Márcio Holland é professor da Escola de Economia de São Paulo (FGV-EESP) e Pesquisador CNPq
Emerson Marçal é professor do Mackenzie e da FGV-EESP e Coordenador do Cemap


O desenvolvimento de novos setores produtivos precisa frequentemente do apoio do governo।
A volta da política industrialPor Dani Rodrik
13/04/2010
Um governo que não comete erros ao incentivar um setor produtivo é um governo que está cometendo o erro ainda maior de não se empenhar com vigor
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, propagandeia-a como um veículo para a criação de empregos altamente qualificados. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, fala sobre usá-la para manter empregos industriais na França. O economista-chefe do Banco Mundial, Justin Lin, apoia-a abertamente para acelerar mudanças estruturais nos países em desenvolvimento. A consultoria McKinsey assessora governos sobre como fazê-la da maneira certa.
A política industrial está de volta.
Na verdade, ela nunca saiu de moda. Economistas enamorados do neoliberal Consenso de Washington podem tê-la descartado, mas economias bem sucedidas sempre contaram com políticas públicas que promovam crescimento mediante aceleração de transformações estruturais.
A China é um exemplo. Sua extraordinária capacidade de produção repousa, em grande parte, no apoio governamental a novos setores produtivos. As empresas estatais têm atuado como incubadoras de competências técnicas e de talento gerencial. Exigências de conteúdo local resultaram no nascimento de fornecedoras de produtos automotivos e eletroeletrônicos. Generosos incentivos a exportações têm ajudado empresas a penetrar em mercados competitivos em nível mundial.
O Chile, frequentemente retratado como um paraíso do livre mercado, é outro exemplo. Seu governo desempenhou um papel crucial no desenvolvimento de cada exportação relevante que o país produz. Uvas chilenas invadiram os mercados mundiais graças ao financiamento público de pesquisa e desenvolvimento. Produtos florestais foram fortemente subsidiados por ninguém menos que o general Augusto Pinochet. E a bem-sucedida indústria do salmão é uma criação da Fundación Chile, um fundo de investimentos de risco semipúblicos.
Mas, quando se trata de política industrial, são os Estados Unidos que detêm a parte do leão. Isso é irônico, porque a expressão "política industrial" é anátema no discurso político americano. Ela é usada quase exclusivamente para intimidar adversários políticos com acusações de intenções econômicas estalinistas.
No entanto, os EUA devem muito de seu talento inovador ao apoio governamental. Como explica Josh Lerner, professor da Harvard Business School, em seu livro "Boulevard of Broken Dreams" (Bulevar dos Sonhos Destroçados), contratos com o Departamento de Defesa dos EUA (DoD, sigla em inglês) desempenharam um papel crucial na aceleração do crescimento inicial do Vale do Silício. A internet, possivelmente a inovação mais significativa do nosso tempo, nasceu de um projeto do DoD iniciado em 1969.
E a adoção de políticas industriais pelos EUA também não é uma questão de interesse apenas histórico. Hoje, o governo federal americano é, de longe, o maior empreendimento capitalista do mundo. Segundo o "The Wall Street Journal", o Departamento de Energia dos EUA (DoE) sozinho está planejando gastar mais de US$ 40 bilhões em empréstimos e subsídios para incentivar as empresas privadas a desenvolverem tecnologias verdes, como carros elétricos, novas baterias, turbinas eólicas e painéis solares. Durante os três primeiros trimestres de 2009, as firmas de investimento de capital privado colocaram menos de US$ 3 bilhões combinados nesse setor. O DoE investiu US$ 13 bilhões.
A mudança no sentido da adoção de políticas industriais é, portanto, um reconhecimento bem-vindo do que os analistas sensatos do crescimento econômico sempre souberam: o desenvolvimento de novos setores produtivos muitas vezes necessita um empurrãozinho do governo. O empurrão pode assumir a forma de subsídios, empréstimos, infraestrutura, e outros tipos de apoio. Mas basta arranhar a superfície de qualquer novo setor produtivo bem-sucedido em qualquer país, e provavelmente encontraremos sinais de apoio governamental.
A questão real, na discussão de políticas industriais, não é se devem ser praticadas, mas como. Aqui vão três princípios importantes para ter em mente.
Primeiro, política industrial é um estado de espírito, e não uma lista de políticas específicas. Seus praticantes bem sucedidos compreendem ser mais importante criar um clima de colaboração entre o governo e o setor privado do que fornecer incentivos financeiros. Por meio de conselhos deliberativos, fóruns de desenvolvimento de fornecedores, conselhos consultivos para investimentos, mesas-redondas setoriais ou fundos público-privados para investimentos de risco, a colaboração tem como objetivo recolher informações sobre oportunidades de investimento e pontos de estrangulamento. Isso exige um governo que esteja contratualmente casado com o setor privado - mas com separação de bens.
Em segundo lugar, políticas industriais precisam estar sujeitas a incentivos e ameças. Tendo em conta seus riscos e as disparidades entre seus benefícios sociais e privados, inovações exigem rendas - retornos acima do que proporcionam mercados competitivos. É por isso que todos os países têm um sistema de patentes. Mas incentivos ilimitados criam custos: podem aumentar os preços ao consumidor e canalizar recursos para atividades improdutivas. É por isso que as patentes expiram. O mesmo princípio deve ser aplicado a todos os esforços governamentais na geração de novos setores produtivos. Incentivos governamentais precisam ser temporários e vinculados a desempenho.
Em terceiro lugar, os praticantes de políticas industriais precisam ter em mente que elas se destinam a servir à sociedade em geral, e não aos burocratas que a gerenciam ou às empresas que recebem incentivos. Para proteção contra "abuso e captura", políticas industriais devem ser realizadas de forma transparente e responsabilizável, e seus processos devem permanecer abertos à entrada de novos competidores, assim como a empresas já estabelecidas.
O chavão lançado contra a política industrial é que governos não podem escolher vencedores. Evidentemente, não podem, mas isso é irrelevante. O que determina o sucesso de políticas industriais não é a capacidade de escolher os vencedores - mas a capacidade de deixar os perdedores caírem fora - um requisito muito menos exigente. Incertezas asseguram que até mesmo políticas ótimas conduzem a erros. O crucial é que os governos percebam esses erros e retirem seu apoio antes que as políticas tornem-se demasiado dispendiosas.
Thomas Watson, fundador da IBM, disse certa vez: "Se você quiser ter êxito, aumente sua taxa de erros". Um governo que não comete erros ao incentivar um setor produtivo é um governo que está cometendo o erro ainda maior de não estar se empenhando com suficiente vigor.
Dani Rodrik, professor de Economia Política na Escola de Governo John F। Kennedy da Universidade Harvard, é o primeiro agraciado com o prêmio Albert O. Hirschman do Conselho de Pesquisas em Ciências Sociais. Seu livro mais recente é "One Economics, Many Recipes: Globalization, Institutions, and Economic Growth. (Uma economia, muitas receitas: globalização, instituições e crescimento econômico)".


O que falta para sustentar o crescimento
Yoshiaki Nakano
13/04/2010
O estudo sobre desenvolvimento econômico teve importantes avanços após o fracasso do Consenso de Washington. Os mais interessantes são aqueles direcionados ao estudo de casos de sucesso - países com crescimento acelerado durante décadas - buscando encontrar empiricamente as características comuns que expliquem esses casos que, assim, poderão servir de benchmarking (veja, por exemplo, Andy Berg, Jonathan D. Ostry and Jeromin Zettelmeyer, "What Makes Growth Sustained ?" Washington: IMF, November 2006; Simon Johnson, Jonathan D. Ostry and Arvind Subramanian, "The Prospect for Sustained Growth in África": Benchmarking the Constraints, Washington: IMF Working Paper 52, March 2007; e o "Relatório da Comissão de Crescimento Desenvolvimento", formado por experts de 18 países e presidido pelo Nobel de Economia Michael Spence). Seria interessante analisar o atual surto de crescimento da economia brasileira utilizando esse benchmarking e verificar o que falta para o Brasil entrar numa trajetória de crescimento sustentado por décadas. É o que faremos neste artigo, selecionando dois aspectos que parecem relevantes no momento: reformas institucionais, por ser um ano eleitoral, e taxa de câmbio pelo déficit em transações correntes, que está aumentando fortemente pré-anunciando uma nova crise.
O relatório de Michael Spence aponta 13 casos de sucesso, de 7% ou mais de crescimento anual por pelo menos 25 anos, no período pós-Guerra, que podem nos servir de benchmarking. O Brasil está nesse grupo, mas esse relatório aponta que somos caso único e a parte, pois preenche o critério, mas que depois de quatro décadas de rápido crescimento, interrompeu esse processo a partir de 1980. Mais recentemente, a economia brasileira iniciou, no segundo semestre de 2003, um processo de recuperação que revelou, nos anos subsequentes, um novo dinamismo, com a expansão baseada num novo crescimento do mercado doméstico. Esse movimento de aceleração já foi interrompido por duas vezes: no terceiro trimestre de 2004, pela política monetária do Banco Central e no último trimestre de 2008, pela crise financeira nos Estados Unidos. O que os estudos citados encontram é que surtos de aceleração do crescimento são muito comuns e podem ser causados por uma infinidade de fatores domésticos e por choques externo. Mas os surtos de crescimento podem se converter ou não num processo de crescimento acelerado e sustentado por longo prazo, e aqui está a relevância desses estudos que revelam as características comuns dos casos de sucesso.
O primeiro aspecto relevante é que esses estudos enfatizam as boas instituições como fundamentais para o crescimento de longo prazo, mas constataram empiricamente que elas são mais resultado do que causa original. Em outras palavras, uma vez iniciado o surto de crescimento, por alguma razão específica ou mesmo acidental, todos os casos de sucesso mostram que, num período de cinco anos, iniciam importantes reformas removendo os entraves institucionais e desbloqueando as forças produtivas do país. Nesse particular, a nossa situação é preocupante, pois as instituições definem as regras do jogo, particularmente controlando os detentores de poder, protegendo os agentes econômicos contra expropriação do estado (carga tributária excessiva) e leis e práticas referentes ao cumprimento dos contratos entre partes privadas. Lei, ordem e burocracia eficiente também são fundamentais. As pesquisas empíricas no Brasil revelam que essas instituições são anêmicas, nas quais o povo não confia e ao invés de lei e ordem, o povo vive permanentemente sob pressão e medo. No que se refere a instituições que definem o ambiente de negócios e estimulam o investimento, a situação não é diferente, pesquisas tipo "doing business" revelam o altíssimo custo de fazer transações no Brasil.
Ainda há esperança, pois reformas das instituições não são pré-condição do crescimento, mas surtos de crescimento podem criar ambiente mais favorável para as reformas institucionais e aumentar fortemente a sua demanda. Os estudos mencionados mostram que se as reformas não forem iniciadas num prazo máximo de cinco anos, a transição para crescimento acelerado terá sido abortada. O que há de positivo no Brasil é que a demanda por reformas institucionais e de redução do custo Brasil, inclusive redução da carga tributária, vem aumentando fortemente, particularmente, pela classe empresarial. Nesse sentido, as eleições presidenciais deste ano serão decisivas, pois depois de dois períodos sem reformas institucionais, se o próximo presidente não iniciar o seu mandado fazendo as reformas institucionais, particularmente do estado, o atual surto de crescimento será efêmero.
Dos outros 12 casos de sucesso, 10 são classificados como modelos baseados nas exportações de manufaturados. De fato, a velha teoria do desenvolvimento já apontava que setor de manufaturados, além de empregos mais qualificados e elevada produtividade, geram externalidades, com retornos crescentes de escala e geração de encadeamentos dinâmicos na cadeia produtiva. Tem sido o setor que tem comandado a aceleração do crescimento, aumentando o seu valor agregado e participação no PIB, pelo menos até alcançar uma renda per capita de cerca de US$ 15 mil. O papel notável da exportação de manufaturados não significa que ela puxa toda a economia, mas a sua expansão e a sua diversificação são fundamentais para sustentar as crescentes importações necessárias para construir uma estrutura produtiva competitiva e dinâmica.
Nos casos de sucesso, o crescimento acelerado foi acompanhado de maior abertura comercial, com aumento na participação das exportações que viabiliza a transferência da fronteira tecnológica para dentro do país graças à importação de bens de capital e de novas tecnologias. E aqui a política chave é a cambial como mostram esses estudos. O crescimento acelerado e sustentado por longo período foi acompanhado de políticas que evitam a sobrevalorização da taxa de câmbio. E aqui a evidência empírica apresentada nos estudos mencionados é notável pois no grupo de países com crescimento sustentado não se verifica apreciação excessiva da taxa de câmbio, enquanto que nos países que assistem a surtos curtos de crescimento, mas não conseguem crescimento acelerado e sustentado por longo prazo, a apreciação excessiva tem incidência muito maior.
Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras।


AvaliaçãoPDP



Muito além do BNDESCristiano Romero
12/05/2010
O governo corre contra o relógio para tocar uma agenda financeira inadiável: a criação de fontes que ajudem a financiar projetos de investimento de longo prazo. Nos últimos 16 anos, o Brasil superou a inflação crônica, tornou-se um país solvente e caminha, mesmo que com percalços, para ter taxas de juros civilizadas. Chegou o momento de avançar na transição de uma economia essencialmente autárquica para uma outra, de mercado.
Nos últimos anos, com a aceleração da taxa de crescimento, as empresas passaram a demandar crédito de longo prazo para financiar seus investimentos. Praticamente apenas o BNDES oferece esse tipo de crédito a um custo razoável, compatível com o oferecido em países desenvolvidos. Outras fontes de financiamento, como ações e debêntures, ainda representam uma parcela pequena quando comparadas aos recursos do banco estatal (ver gráfico abaixo).
Há dois anos, a capacidade de desembolso anual do BNDES estava limitada a cerca de R$ 60 bilhões. Em menos de um ano e meio, o Tesouro Nacional aportou, por meio de empréstimos, R$ 180 bilhões. As operações foram cruciais para que o banco pudesse atender a demanda por crédito em meio à crise internacional. Fontes alternativas, como crédito externo e mercado de capitais aqui dentro, secaram. A crise passou e a economia brasileira voltou a acelerar, reafirmando a demanda das empresas por recursos do BNDES.
O problema é que o Tesouro não pode socorrer o BNDES indefinidamente. Esses empréstimos embutem subsídios e aumentam a dívida bruta do governo geral, o que, a longo prazo, pode trazer complicações à saúde do Estado brasileiro. É por isso que, nas últimas semanas, o governo começou a discutir uma agenda financeira que envolve, além do próprio BNDES, o Banco Central (BC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), bancos privados e grandes empresas. O setor privado, via BM&FBovespa e Febraban, também criou grupos técnicos para tratar do tema.
Uma das medidas em estudo no governo prevê a possibilidade de que os bancos comprem papéis emitidos por empresas e os utilizem como colateral em operações de liquidez bancária. Atualmente, o BC só recebe títulos públicos como garantia. Evidentemente, como se trata de algo absolutamente novo no país, a proporção desses papéis seria inicialmente diminuta. Além disso, para serem aceitos pela autoridade monetária, eles teriam que ser classificados como grau de investimento ("investment grade", no termo em inglês usado pelo mercado).
Essa medida teria, certamente, repercussões positivas no mercado. Em primeiro lugar, abriria uma janela para dar liquidez a papéis emitidos no setor privado, o que estimularia muitas companhias a recorrer a esse mercado, em vez de ir ao BNDES ou ao exterior, onde, apesar de taxas de juros menores, há sempre o risco cambial. Além disso, a novidade ajudaria a diversificar o portfólio de aplicações dos bancos. Uma terceira vantagem é que estimularia as empresas a terem boa governança, uma porta de entrada para o mundo do financiamento privado.
Uma medida complementar a essa é incentivar as instituições financeiras contratadas para realizar emissões de debêntures a dar um mínimo de liquidez aos papéis que ajudam a lançar no mercado. Hoje, não há nenhuma obrigação por parte dos bancos na criação de mercado para esses títulos (o "market making", na linguagem do mercado). O BNDES, por exemplo, faz sua parte com as debêntures que emite. Recentemente, decidiu ampliar a mesa de compra e venda de papéis - esta é mais uma prova de que o BNDES pode ser parte da solução e não do problema do mercado de capitais brasileiro.
Na área tributária, a ideia é redesenhar a tributação das aplicações, de modo que os investimentos de longo prazo paguem menos imposto que os de de curto prazo. Uma mudança nessa direção foi feita há alguns anos, mas já é hora de se avançar para um novo formato. Uma das medidas em estudo é isentar ou reduzir drasticamente a taxação de debêntures de prazos mais longos. Seria uma forma de tornar o mercado de capitais brasileiro mais competitivo.
Se essa agenda financeira avançar, menor será a necessidade de o Tesouro fazer novo aporte bilionário ao BNDES. O banco deve desembolsar em 2010 cerca de R$ 130 bilhões, face a R$ 137,4 bilhões no ano passado. Como sua musculatura hoje está em torno de R$ 90 bilhões, ainda há um espaço a ser ocupado pela Viúva. Neste momento, o BNDES trabalha de forma intensa para diminuir a necessidade de recursos do Tesouro. Negocia com fundos soberanos a emissão de papéis lastreados em ativos de empresas brasileiras e planeja fazer uma nova emissão no exterior, assim que as condições de mercado permitam. Uma nova fonte fiscal está descartada.
Cristiano Romero é editor-executivo e escreve às quartas-feiras.
E-mail: cristiano.romero@valor.com.br


A quem interessa uma taxa de câmbio desvalorizada?
05 de junho de 2010
JOSÉ T. DE ARAÚJO JR. - O Estado de S.Paulo
As previsões sombrias sobre as perspectivas das exportações de manufaturados se tornaram lugar-comum na imprensa brasileira durante o último ano. À primeira vista, esse pessimismo parece sensato. Após haver alcançado o patamar máximo de 60% em 1993, a participação desses bens na pauta de exportação caiu para cerca de 45% em 2009. Enquanto isso, a parcela de produtos primários, que havia sido de 25%, em 1993, subiu para 40%, em 2009. Assim, nossa pauta de exportações estaria passando por um processo acelerado de "reprimarização", cuja fonte seria a apreciação do real, observada desde 2003, que estaria erodindo a competitividade internacional do setor industrial.
Entretanto, um exame mais cuidadoso do desempenho externo da economia brasileira desde 2003 mostra que a tese da reprimarização é descabida. Em primeiro lugar, nossa pauta de exportações continua sendo altamente diversificada para os padrões contemporâneos ? não apenas por sua composição, mas também pela distribuição geográfica dos mercados consumidores. Em segundo lugar, entre 2003 e 2008, os preços de todas as classes de produtos exportados cresceram a taxas muito superiores ao ritmo da apreciação cambial, que foi de cerca de 35% neste período. No caso de produtos manufaturados, por exemplo, os preços subiram mais de 70%.
De fato, a alegada reprimarização não passa de uma ilusão aritmética.
Quando, em 1993, a parcela de produtos manufaturados representava 60% da pauta, o comércio exterior do Brasil era de apenas US$ 77 bilhões, ante US$ 371 bilhões em 2008. Após o impacto da recente crise internacional, as exportações de manufaturados ainda alcançaram US$ 67 bilhões em 2009 ? um dos maiores montantes na história do País, que só foi superado pelos valores obtidos entre 2006 e 2008.
A mudança da pauta resultou, como se sabe, da excepcional expansão das exportações de produtos básicos, que foi estimulada por fatores externos e internos.
Além do cenário internacional favorável, algumas empresas nacionais passaram a exercer uma influência crescente sobre os preços internacionais de seus produtos, outro fato inédito na história do Brasil. Em 1997, por exemplo, quando a Vale foi privatizada, o País exportou pouco menos do que US$ 3 bilhões de minério de ferro, a um preço médio de US$ 20 por tonelada. Em 2008, essas exportações haviam saltado para quase US$ 17 bilhões, a um preço médio de US$ 60 por tonelada. Esse desempenho decorreu, em parte, das condições de concorrência nesse mercado, em que atuam três firmas líderes: a Vale e duas mineradoras australianas, BHP Billiton e Rio Tinto.
Apesar do crescimento das exportações brasileiras nesta década, é pertinente questionar: por que o desempenho do setor industrial não foi tão bom quanto o do setor primário? A resposta não está na taxa de câmbio, porque, como vimos, os preços subiram mais do que a apreciação do real. Uma razão plausível é que a indústria brasileira ainda não superou inteiramente uma distorção que vigorou no País durante a época da substituição de importações: as taxas de crescimento econômico eram elevadas, mas as empresas privadas não inovavam. De fato, até o final dos anos 80, os investimentos em tecnologia eram realizados essencialmente por órgãos públicos.
A origem desse fenômeno é conhecida e bem documentada na literatura econômica: empresários só inovam quando essa é a única estratégia viável para manter a sobrevivência da empresa, e ela só será adotada após terem sido esgotadas outras alternativas menos onerosas, como o acesso privilegiado a recursos públicos e a eliminação da concorrência por meio de barreiras comerciais ou institucionais.
Não obstante a reforma comercial do governo Fernando Collor, vários segmentos do mercado brasileiro permaneceram imunes à competição externa. Nesses segmentos, portanto, os incentivos à inovação tecnológica continuaram incipientes. Na verdade, o coeficiente de penetração das importações de bens manufaturados, que atualmente é inferior a 18%, é um dos mais baixos do mundo. Não há nenhuma justificativa racional para esse fato. Apenas a influência política das empresas protegidas.
Uma taxa de câmbio apreciada penaliza, sem dúvida, as indústrias que operam com tecnologias difundidas e cujos níveis de eficiência estão aquém dos padrões internacionais. Uma eventual desvalorização pode favorecer tais setores, mas será inútil para enfrentar o principal obstáculo ao crescimento das exportações de manufaturados, que reside no precário desempenho inovador da indústria brasileira.
Além disso, cabe lembrar que a combinação entre apreciação cambial e preços crescentes de exportação produz um benefício importante para o País, que é a elevação do índice dos termos de troca da economia. Esse índice mede a relação entre os preços dos produtos exportados e importados e expressa, por conseguinte, o poder de compra da moeda nacional. Entre 1990 e 2009, essa relação subiu 40%. Os ganhos de bem-estar advindos dessa melhoria incluíram salários reais crescentes ao longo de 20 anos, barateamento relativo dos bens importados e a superação gradual de uma restrição que havia marcado a economia brasileira desde a década de 1930: a vulnerabilidade externa.
Outra consequência relevante foi o fortalecimento da competitividade internacional das empresas brasileiras que possuem filiais em outros países. Segundo dados do Banco Central, em 2006 os investimentos diretos no exterior superaram, pela primeira vez na história, o fluxo de entrada de capitais estrangeiros no País. E, em 2008, o estoque daqueles ativos alcançou a cifra de US$ 80 bilhões.
Na verdade, além do investimento direto, vários outros fatores sustentaram o desempenho exportador do Brasil nos últimos anos, como a exploração de economias de escala, a diferenciação de produtos e a capacidade de influir nos preços internacionais. O único instrumento que ainda precisa ser mais explorado é a inovação tecnológica.
Em suma, a escolha entre desvalorização cambial e incentivos à inovação implica dois conjuntos distintos de beneficiários. De um lado estão aquelas empresas que não conseguem acompanhar o ritmo de progresso técnico internacional. De outro, o resto da Nação.
ECONOMISTA, É DIRETOR DO CENTRO DE ESTUDOS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO (CINDES)
COMENTS

A política industrial brasileira quer ser abrangente, evolucionista e se tornar uma permanente para que propicie resultados de longo prazo

Programa deve ter um norte, mas ser flexível.


Política industrial: passo curto, vista longa

João Carlos Ferraz, Marcelo Miterhof e Felipe Marques

23/11/2010 VALOR ECONÔMICO

A política industrial voltou ao cenário de planejamento do Brasil, após algumas décadas de baixo crescimento e crise fiscal. Mesmo no âmbito internacional, do qual ela nunca saiu completamente de cena, é visível que há hoje mais vozes que pregam a possibilidade de os Estados intervirem para alavancar o desenvolvimento industrial, em vez de deixar em ação apenas os critérios de mercado.
Esse renascimento é imperioso porque o Brasil precisa atender às necessidades de um crescimento puxado pelo consumo e pelo investimento, que é fundamental para garantir que a expansão seja sustentável e com estabilidade monetária. A formação de uma nova classe média no Brasil se reflete num movimento inclusivo que estimula a estrutura industrial como um todo. O Brasil é um país em desenvolvimento, que precisa aumentar a participação da indústria no PIB como uma forma de incluir pessoas num mercado de trabalho mais dinâmico e de prover bens que esses cidadãos passam crescentemente a demandar.
A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) - lançada em 2008 como um aprofundamento da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), que tinha foco no desenvolvimento de setores e tecnologias - encerra seu primeiro ciclo com 425 medidas estruturadas, das quais 99% estão operacionais. Esses indicadores estão longe de ser os melhores para avaliar a efetividade de uma política industrial, mas mostram o sucesso em romper com a inércia ideológica e burocrática para colocar em funcionamento uma estrutura de planejamento e execução ampla dentro do setor público e articulada com o setor privado.
Os resultados imediatos da PDP ficaram comprometidos pela crise internacional, cujos efeitos atingiram o Brasil a partir de setembro de 2008. A maioria de suas metas não será cumprida. Ainda assim, ressaltou-se um dos princípios da PDP: é preciso ter metas. Isso é parte do esforço de planejamento e de controle de uma política industrial, conferindo um norte para a atuação dos diversos atores. Não cumpri-las não significa necessariamente um insucesso, mas impõe novos esforços de avaliação e planejamento. Assim, a primeira lição aprendida pela PDP 2008-2010 foi que a política deve ter um norte, mas ser flexível e adaptável às circunstâncias.

Subsídios e instrumentos protecionistas não são inaceitáveis, mas devem ser usados com cuidado, segundo regras da OMC

Nesse sentido, a PDP foi decisiva como instrumento de identificação e negociação de medidas que fizeram parte do esforço contracíclico do governo federal, como é o caso do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), idealizado pelo Ministério da Fazenda e implantado pelo BNDES com equalização de taxa de juros realizada pelo Tesouro Nacional.
Esses resultados iniciais podem ser considerados alvissareiros, ainda que o tempo seja curto para o horizonte de uma política industrial. Essa é a segunda lição: uma política industrial deve ser um instrumento permanente, pois seus resultados mais significativos surgem a longo prazo.
A PDP busca ainda aprender com as experiências do passado, reconhecendo tanto a necessidade de intervenções pontuais e setoriais por parte do Estado quanto o papel sancionador do mercado. Não é uma política pronta, portanto, mas deve ter um caráter abrangente e evolucionista. É preciso partir da indústria existente e mirar o fortalecimento possível de cada setor, ao mesmo tempo em que se investe no desenvolvimento de tecnologias emergentes e de ampla difusão como forma de garantir a sustentabilidade do desenvolvimento industrial (terceira lição: é necessário que a política industrial tenha coerência com o sistema produtivo).
Por isso, a quarta lição é que a inovação é chave. A nova política industrial não parte de uma indústria nascente, em que a simples criação de capacidade produtiva significa uma mudança estrutural. O Brasil está num estágio industrial intermediário e tem como principal desafio dar um salto rumo à autonomia tecnológica. Isso significa que é preciso aumentar os dispêndios em pesquisa e desenvolvimento (P&D), em especial os de origem privada. Isso vale tanto para as empresas de capital nacional quanto para as transnacionais, que podem ampliar os esforços inovativos feitos no Brasil e, assim, fortalecer a capacidade competitiva nacional, enobrecer a cadeia produtiva e gerar melhores empregos.
Mas a inovação não é encarada com o voluntarismo de tentar internalizar no Brasil os setores mais inovadores de forma artificial, às custas de um protecionismo excessivo. A inovação tem caráter amplo e também está presente nos setores tradicionais. Trazer a inovação para o centro da política industrial significa não só apostar no desenvolvimento de tecnologias emergentes ou de alta transversalidade na estrutura produtiva, mas também apoiar a conquista de mercados, a internacionalização de empresas de capital nacional em busca do domínio de cadeias produtivas globais, incorporando e desenvolvendo as funções corporativas mais nobres, como o P&D, o marketing, a logística e as estratégias financeiras.
A PDP tem ainda como sua quinta lição a de que é preciso ampliar a presença externa das empresas brasileiras, tanto pelo aumento da participação nas exportações mundiais quanto via investimentos diretos externos das empresas de capital nacional. Além de garantir a sustentabilidade do balanço de pagamentos e do crescimento econômico, essa preocupação responde à necessidade de expor os objetivos da política industrial ao mercado: é preciso desenvolver competências e vantagens comparativas, mas buscando níveis globais de competitividade.
A política industrial brasileira renasce na vanguarda das melhores práticas mundiais. A PDP representa um esforço de retomar políticas de desenvolvimento industrial, reconhecendo que subsídios e instrumentos protecionistas não são por definição inaceitáveis, mas devem ser usados com parcimônia, segundo as regras da OMC, e orientados por metas de desempenho. Ela se caracteriza ainda por ser abrangente, evolucionista e por buscar se tornar uma política permanente, que propicie resultados de longo prazo. O passo é curto. A vista mira longe.
João Carlos Ferraz é economista e diretor do BNDES, Marcelo Miterhof é economista e assessor da presidência do BNDES eFelipe Marques é economista e assessor da área de pesquisas econômicas do BNDES.

 

Industrial Policy Comes Out of the Cold
também em português


Justin Yifu Lin 

2010-12-01
http://www.project-syndicate.org/commentary/lin2/English

WASHINGTON, DC – One of the best-kept economic secrets was strongly reconfirmed in 2010: most countries, intentionally or not, pursue an industrial policy in one form or other. This is true not only of China, Singapore, France, and Brazil – countries usually associated with such policies – but also for the United Kingdom, Germany, Chile, and the United States, whose industrial policies are often less explicit. 

 
 
Information about: Justin Yifu Lin


Industrial Policy Comes Out of the Cold


 


 2010-12-01


A surprising World Bank recipe for industrial policy: new proposal from Justin Lin



Rethinking Industrial Policy by Justin Yifu Lin apresen



Portaria MEFP nº 365, de 26.06.1990

Aprova as Diretrizes Gerais para a Política Industrial e de Comércio Exterior.
A Ministra de Estado da Economia, Fazenda e Planejamento, no uso de suas atribuições, e tendo em vista o disposto no Decreto nº 99.244, de 10 de maio de 1990, com as alterações introduzidas pelo Decreto nº 99.267, de 29 de maio de 1990, resolve:
Art. 1º Aprovar as Diretrizes Gerais para a Política Industrial e de Comércio Exterior constantes do Anexo a esta Portaria.
Art. 2º A elaboração dos projetos dos diplomas legais, que se fizerem necessários, será coordenada pela Secretaria Nacional de Economia, com a participação dos órgãos e entidades governamentais que tenham atuação no âmbito da Política Industrial e de Comércio Exterior e audiência das entidades privadas interessadas na matéria.
Art. 3º Os interessados poderão oferecer sugestões ao Departamento da Indústria e do Comércio, da Secretaria Nacional de Economia, com sede na Esplanada dos Ministérios - Bloco "K" 8º andar - CEP: 70.040 - Brasília - DF, até 30º (trigésimo) dia a partir da publicação desta Portaria.
Art. 4º Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação.
ZÉLIA MARIA CARDOSO DE MELLO



Nova Política Industrial: desenvolvimento e competitividade 1998
GOOGLEDOCS




PLANO PLURIANUAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO GOVERNO FEDERAL PPA 1996/99






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Thursday 12 November 2009

CHINA II + BRICSs + The ECONOMIST 28JAN2012

Nova ordem: Analistas creem na emergência de um mundo multipolar, mas não na débâcle total americana
EUA decaem, mas China ainda não é páreo
John Plender, Financial Times13/11/2009
Com o presidente Barack Obama iniciando uma viagem por capitais asiáticas, a suposição corrente no Ocidente é de que ele vai se encontrar com líderes de países tidos como parceiros inferiores aos EUA. Mas, a realidade é mais complexa. Em meio aos escombros da crise financeira, a posição dos EUA de superpotência e líder da economia mundial parece cada vez mais ameaçada.
Em especial, quando ele chegar a Pequim, no domingo, nada conseguirá disfarçar o fato de que Obama estará fazendo uma visita ao maior credor de seu país.
Aqueles que ficam satisfeitos com o desconforto dos EUA observam que esse colosso econômico global carrega o maior endividamento internacional do mundo e vem sendo abalado por uma moeda em desvalorização. É consenso geral que a China é a principal beneficiária de uma débâcle financeira e uma séria desafiante à hegemonia dos EUA.
Como o poder econômico frequentemente anda de mãos dadas com o poderio militar, essa mudança no poder econômico, juntamente com a fraqueza recente do dólar, vem sendo proclamada como um prenúncio do declínio americano. Esse clima é descrito de maneira primorosa por Fareed Zakaria em seu mais recente livro de sucesso, "The Post-American World And The Rise Of The Rest" ("O Mundo Pós-Americano", Companhia das Letras). Assim veio a referência de Obama, em seu discurso de posse, de "um enfraquecimento da confiança em nosso país; um temor incômodo de que o declínio da América é inevitável, de que a próxima geração terá que reduzir suas esperanças".
Paul Volcker, ex-presidente do Federal Reserve (Fed) e conselheiro do presidente, declarou em uma entrevista recente à PBS, a rede de televisão pública dos EUA, que a ascensão dos mercados emergentes é "simbólica da menor posição dominante relativa dos EUA, não só na economia, mas também na liderança intelectual e de outras formas".
Os bancos centrais dos países em desenvolvimento estão esfregando sal nas feridas do gigante enfermo. O Reserve Bank da Índia juntou-se, na semana passada, aos bancos centrais de China, Rússia, México e Filipinas na decisão de aumentar suas reservas em ouro, em detrimento dos títulos denominados em dólar. Um verdadeiro coro de formuladores de políticas de países que estão com superávit em conta corrente declarou que a posição do dólar como moeda de reserva é insustentável.
A essa altura, é importante lembrar que já estivemos aí antes. No fim da década de 80, Paul Kennedy, da Yale University, chocou o mundo com sua afirmação, em "The Rise And Fall Of The Great Powers" ("Ascensão e Queda das Grandes Potências", Ed. Campus), de que "a única resposta à questão cada vez mais discutida da capacidade dos EUA de preservar ou não sua atual posição é 'não'".
Esse veredito pessimista surgiu na época do crash do mercado de ações, em 1987, quando houve uma preocupação contínua com os déficits gêmeos dos EUA e os déficits em conta corrente. O país havia se tornado um devedor internacional pela primeira vez e dependia crescentemente da entrada de capital europeu e japonês. Um Japão extremamente confiante estava em ascensão. O sentimento de decadência chegou perto da histeria nos EUA quando empresas japonesas compraram o Rockefeller Center, em Nova York, a Columbia Pictures, em Hollywood, e o campo de golfe de Pebble Beach, na Califórnia. "Quem é o dono da América?", exigiu saber a ABC News.
De certa forma, a tese do professor Kennedy estava certa. Com a China, a Índia e os outros mercados emergentes alcançando o mundo desenvolvido, os EUA deverão sofrer um declínio econômico relativo, na forma de uma parcela menor do PIB mundial, mesmo com o país crescendo mais do que a maioria das grandes economias desenvolvidas e ainda sendo a maior economia do mundo em termos absolutos.
A globalização e a liberalização doméstica estão dando a esses países em desenvolvimento a chance de obter uma participação no PIB mundial proporcional ao seu tamanho na história. O desempenho econômico da China antes de 1978 era, afinal de contas, uma aberração vista a partir de uma perspectiva de séculos.
Em um estudo sobre as maiores economias, Angus Maddison, da Universidade de Groningen, calcula que a a participação da China no PIB mundial em 1820, antes de a Revolução Industrial na Europa ganhar força, era de mais de 30%, o que é bem mais do que a participação atual dos EUA. Assim, um retorno a algo mais normal pode estar a caminho.
Mas a tese de Kennedy parecia errada ao sugerir que os EUA talvez tivessem ampliado demais o seu império, ao ponto de não conseguirem mais administrá-lo, como aconteceu com a Espanha no século XVII e o Reino Unido no século XX. O caso mais óbvio de incapacidade de administração da década de 80 foi na verdade a União Soviética, que entrou em colapso, enquanto os EUA foram bem-sucedidos logo depois no restabelecimento de seu equilíbrio orçamentário, durante o governo Clinton, sem um recuo integral em seus compromissos internacionais.
Enquanto isso, o desafio econômico japonês perdeu o passo com o estouro das bolhas imobiliária e acionária, e o país se viu ameaçado pela deflação. O pânico da mídia americana com a invasão japonesa se mostrou um indicador perfeito, ainda que involuntário, de um ponto de virada.
A questão agora é se a tese da incapacidade de administração do império estava errada ou era simplesmente prematura. Mesmo assim, prever os períodos de ascensão e queda de nações e economias é uma coisa notoriamente difícil. Charles Kindleberger, o falecido historiador econômico, foi um dos muitos que acreditavam que a vitalidade nacional se movimentava em um ciclo de vida. Entre as causas internas do declínio identificadas por ele, estavam o aumento do consumo, a queda da poupança, a resistência à tributação, a desigualdade, a corrupção, grandes endividamentos e as finanças se tornarem mais dominantes na economia do que a indústria.
Mesmo que isso bata com as atuais circunstâncias, é preciso observar que muitas dessas coisas também estavam presentes nos EUA em 1929, quando a crise financeira coincidiu com a longa transição da hegemonia econômica do Reino Unido para os EUA. Quando Kindleberger escreveu "World Economic Primacy 1500-1990", em 1996, ele acreditava que os EUA estavam decaindo. Mas ele não tinha ideia de qual país provavelmente surgiria como a próxima potência econômica mundial, e tinha a China apenas como "azarão" para o posto.
O argumento mais poderoso de apoio à hipótese da decadência envolve o que o professor Kennedy chamava de "tarefa antiga de relacionar as intenções nacionais às finalidades nacionais". Como há uma correlação significativa de longo prazo entre a capacidade produtiva e a capacidade de aumentar as receitas, e o poderio militar, muita coisa depende da sustentabilidade da política fiscal. Aqui, os prognósticos não são bons para os EUA.
Sob as pressões gêmeas da crise financeira e do problema de longo prazo do envelhecimento dos "baby boomers", as projeções oficiais apontam para déficits orçamentários numa escala sem precedentes. O Peterson Institute for International Economics, de Washington, estima que, depois de chegar perto de US$ 1,5 trilhão no ano fiscal corrente - mais de três vezes o recorde anterior -, o déficit provavelmente ficará perto de US$ 1 trilhão ao ano até 2020 ou além.
Da perspectiva do fluxo de recursos que entra na economia, a contrapartida desses déficits será em grande parte encontrada na conta corrente do balanço de pagamentos. Aqui, o instituto calcula que o déficit em conta corrente poderá subir de um recorde anterior de 6% do PIB para surpreendentes 15% ou mais até 2030, o equivalente a mais de US$ 5 trilhões por ano. Ele avalia que a dívida externa subirá dos atuais US$ 3,5 trilhões para até US$ 50 trilhões, ou 140% do PIB, no mesmo período.
Esses números representam um desafio assustador para o governo Obama e uma ameaça evidente ao dólar, uma vez que há um volume muito grande de reservas em dólares em mãos estrangeiras. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que, do fim de 2000 até metade de 2009, as reservas internacionais subiram de US$ 1,9 trilhão para US$ 6,8 trilhões, dos quais US$ 2,3 trilhões estão sendo mantidos pela China. Mais de 60% dessas reservas estão em dólares.
A retórica chinesa recente, que inclui um pedido para a substituição do dólar como principal moeda de reserva do mundo por direitos especiais de saque (uma unidade contábil usada pelo FMI no trato com seus membros), sugere uma perda preocupante de confiança nas políticas monetária e fiscal dos EUA. Ao mesmo tempo, Fred Bergsten, diretor do Peterson Institute, afirma que agora é interesse dos EUA reduzir o papel do dólar e encorajar um fluxo maior de reservas para o euro, o yuan e os direitos especiais de saque (SDR, na sigla em inglês).
Mesmo assim, a ameaça ao dólar pode estar sendo exagerada. A China está sacudindo as barras da gaiola que ela mesma fez, uma vez que as reservas são uma consequência da intervenção colossal para impedir a valorização de sua moeda. Na verdade, ela está presa ao equivalente econômico da aniquilação mútua descrita pelos teóricos da guerra nuclear durante Guerra Fria. Com as exportações chegando a dois quintos do PIB, convém à China ter os EUA como tomador e gastador de último instância na economia mundial. E ela não pode abandonar o dólar sem reduzir o valor de suas próprias reservas em dólar.
Quanto ao potencial da moeda chinesa de desafiar o papel do dólar de moeda de reserva, isso poderá existir no longuíssimo prazo, mas na ausência de mercados financeiros desenvolvidos e um compromisso muito mais forte de internacionalização do yuan, isso continua sendo muito remoto.
Na verdade, o elemento mais fraco do ponto de vista do declínio dos EUA pode ser as atuais estimativas elevadas da força do desafio chinês. Elas foram elegantemente apontados em um ensaio recente sobre assuntos externos de Josef Joffe, editor adjunto do jornal alemão "Die Zeit". A China, diz ele, é um lugar onde o resto do mundo essencialmente aluga trabalhadores e espaço de trabalho a preços muito baixos e taxas de câmbio distorcidas. Sua dependência das exportações, além de ser um calcanhar-de-aquiles econômico, tem consequências políticas. Estas incluem 70 mil casos de distúrbio social todos os anos, que não são computados nas previsões lineares de crescimento de que os banqueiros de investimento tanto gostam.
A demografia da China não ajuda: Joffe afirma que a população vai crescer antes de começar a enriquecer. Pelos números do Goldman Sachs, a China terá em 2050 superado os EUA, com um PIB de US$ 45 trilhões, contra os US$ 35 trilhões dos EUA. A idade média nos EUA será, então, a menor entre todas as grandes potências mundiais com exceção da Índia. Na verdade, a população economicamente ativa dos EUA terá crescido cerca de 30%, enquanto que na China haverá queda de 3%.
Junto com a dependência das exportações, isso representa um grande desafio para as autoridades chinesas, num país que é muito pobre. Enquanto isso, os EUA ainda possuem um sistema de ensino superior e de pesquisas sem paralelos. E, em 2008, seu orçamento militar foi de US$ 607 bilhões, representando quase metade dos gastos militares totais no mundo. O orçamento militar da China, frequentemente alardeada como a próxima superpotência, é de menos de um sétimo disso.
Ninguém pode negar as conquistas extraordinárias da China na mais acelerada revolução industrial da história humana. Estamos claramente nos movimentando para um mundo multipolar e um sistema de reserva multimoedas, no qual o poder dos EUA será mais restrito. Mesmo assim, os EUA continuam sendo de longe a mais flexível das grandes economias. A história não se move sobre trilhos - exceto para os marxistas. Se as autoridades dos EUA se mostrarem à altura do desafio fiscal e se os americanos passarem e poupar mais, há todas as chances do país escapar de um declínio significativo e continuar sendo a principal economia e potência militar do mundo por muito tempo ainda.
Isso é um "se" enorme. Mas, para o prazer de muitos, a próxima geração de americanos não vai reduzir suas esperanças e ambições no curto prazo.

CHINA CHINA CHINA
The China Puzzle By DAVID LEONHARDT
Published: May 13, 2009


REFORM IN CHINA

Obama faz primeira viagem oficial à Ásia13/11/2009
O presidente dos EUA, Barack Obama, embarcou ontem para a Ásia levando consigo uma agenda que prioriza a economia americana, a questão do emprego e o enorme déficit comercial com a China. A mudança climática global, os programas nucleares de Irã e Coreia do Norte e a nova estratégia dos EUA para o Afeganistão serão outros tópicos importantes nas suas conversas com autoridades da China e de outros governos, nesta primeira visita oficial dele ao continente. A viagem durará nove dias. "Eu me reunirei com líderes para discutir uma estratégia de crescimento que seja ao mesmo tempo equilibrada e amplamente compartilhada", disse ele na Casa Branca antes de partir para o Japão. Durante a visita, Obama também irá a Cingapura, para a cúpula da Apec (bloco regional Ásia Pacífico), Xangai (na foto, retrato de Obama numa loja da cidade), Pequim e Seul. Analistas dizem que a escala mais importante deve ser a da China, onde o presidente vai pressionar pela valorização do yuan



China já viveu uma decadência como impérioFinancial Times13/11/2009
A teoria da expansão excessiva dos impérios, lançada por Paul Kennedy em "The Rise And Fall of The Great Powers", afirma que, se uma proporção grande demais dos recursos do Estado é desviada da criação de riqueza para os gastos militares, o poder nacional vai se enfraquecer no longo prazo. A questão é se um determinado Estado pode conseguir um equilíbrio razoável entre as necessidades básicas de defesa e os recursos econômicos.
A tarefa fica ainda mais difícil quando uma nação está sofrendo um declínio econômico relativo. O professor Kennedy afirmava também que os EUA não conseguiriam preservar sua posição relativa porque "simplesmente a nenhuma sociedade é conferido o direito de continuar permanentemente à frente das outras, uma vez que isso implicaria num congelamento dos padrões diferenciados das taxas de crescimento, dos desenvolvimentos tecnológico e militar, que existem desde tempos imemoriais".
Ele concluiu que era dever dos estadistas americanos reconhecer essa ampla tendência e administrar o país, de modo que a corrosão relativa da supremacia ocorresse lentamente e tranquilamente, em vez de implementar políticas vantajosas no curto prazo, mas que seriam prejudiciais no longo prazo.
Isso carrega um reflexo notável da observação feita por Robert Temple Armstrong, o ilustre servidor público britânico, que disse na década de 70 que "o negócio do serviço civil é a administração ordeira do declínio".
A China, embora vista por muitos como a principal beneficiária da potencial exaustão dos EUA, já passou por uma experiência própria de declínio. Até a meta de milênio anterior, ela era tecnologicamente mais avançada que a Europa, com uma agricultura mais eficiente, e a classe dos mandarins não tinha rivais em seu profissionalismo. Mesmo depois que o Ocidente a superou, economica e tecnologicamente, entre os séculos XVI e XVIII, a economia da China ainda era a maior do mundo quando a revolução industrial começou.
No entanto, entre 1820 e 1952, quando a Europa experimentou taxas de crescimento econômico sem precedentes na história, a produtividade per capita da China caiu, enquanto sua participação no PIB mundial despencou de um terço para um vigésimo. A renda per capital caiu de um nível igual ao mundial, para um quarto de média mundial no período*.
Esse desempenho terrível tem sido atribuído a várias causas, incluindo a intervenção colonial estrangeira, distúrbios internos e a inflexibilidade da burocracia diante dos desafios apresentados pelo renascimento do Ocidente.
Todos os números foram extraídos de "Chinese Economic Performance In The Long Run", de Angus Maddison


CHINA SCIENCE AND TECHNOLOGY
Strengthen the agricultural technology innovation system and to accelerate and improve the grass-roots promotion of agricultural modernization with Chinese characteristics - Hui Liangyu, the National Agricultural Science and Technology innovation and the promotion of speech on the meeting


China’s Role as U.S. Lender Alters Dynamics
By HELENE COOPER, MICHAEL WINES and DAVID E. SANGER
Published: November 14, 2009
This article is by Helene Cooper, Michael Wines and David E. Sanger.
When President Obama visits China for the first time on Sunday, he will, in many ways, be assuming the role of profligate spender coming to pay his respects to his banker.
That stark fact — China is the largest foreign lender to the United States — has changed the core of the relationship between the United States and the only country with a reasonable chance of challenging its status as the world’s sole superpower.
The result: unlike his immediate predecessors, who publicly pushed and prodded China to follow the Western model and become more open politically and economically, Mr. Obama will be spending less time exhorting Beijing and more time reassuring it. ... ... ... ... .... ... .... ..




FOLHA, 29-11-2009
"China continuará subordinada aos EUA"
Para sociólogo chinês, estrutura de poder em Pequim favorece exportação, impedindo o aumento do consumo internoSe financiamento chinês continuar, EUA podem mudar sua economia e passar a exportar tecnologia "verde", afirma professor
Mandel Ngan - 17.nov.09/France Presse
O presidente dos EUA, Barack Obama, é servido em jantar no Grande Palácio do Povo de Pequim CLAUDIA ANTUNESDA SUCURSAL DO RIO A estrutura de poder na China favorece os setores ligados à exportação, impedindo reformas que aumentem o consumo interno. Por isso, apesar da crise que reduziu a demanda nos EUA, seu principal mercado externo, o país tende a insistir em seu modelo de crescimento. Essa é a aposta do sociólogo Ho-fung Hung, chinês de Hong Kong. "Economicamente, a China manterá um papel subordinado aos EUA. Vai esperar que os EUA saiam da crise para consumir mais os seus produtos e vai continuar a comprar títulos do Tesouro americano porque não quer ver a falência do mercado americano", disse Hung à Folha. Autor do artigo sobre a relação EUA-China que abre o último número da revista britânica "New Left Review", Hung afirma que a manutenção do financiamento chinês permitiria aos EUA ganhar tempo para mudar sua economia e passar a exportar tecnologia "verde". "O problema é a política interna americana. Se o Congresso não aprovar o corte das emissões, os EUA perderão a liderança na área", salienta. Nos EUA desde o início da década, Hung fez doutorado na Universidade Johns Hopkins e hoje leciona na Universidade de Indiana. De lá, deu a seguinte entrevista, por telefone.

FOLHA - Economistas dizem que a China tem de mudar seu modelo de crescimento e se voltar mais para o mercado interno. O senhor é cético em relação a isso. Por quê?HO-FUNG HUNG - Desde a crise asiática,




13/12/2009
Crescimento do poder econômico da China preocupa países vizinhos
Michael WinesEm Pasarkemis(Indonésia)
No fundo da empobrecida fábrica de pregos Dunia Metal Works, tudo é cacofonia: o "bam-bam-bam" das máquinas besuntadas de graxa; o tinir ritmado dos cabos de aço; o barulho dos pregos novos e brilhantes caindo em cascata numa ampla mesa de metal para serem embalados.
Mas apesar de todo o barulho industrial, a Dunia está passando por uma queda dolorosa. Hoje ela funciona a 40% de sua capacidade, suas vendas de pregos no país estão em risco - e suas exportações foram aniquiladas - por concorrentes chineses mais baratos. "Nós competíamos com os japoneses e os coreanos", disse Juniarto Suhandinata, diretor da fábrica. "Mas contra os chineses - não temos chance".
Os chineses são concorrentes duros, e a Dunia não é a primeira a descobrir isso. Mas o lamento de Suhandinata revela algo diferente: uma certa inquietação, até mesmo nos países em desenvolvimento da Ásia que vivem na órbita de Beijing, em relação ao crescimento econômico rápido e aparentemente sem fronteiras da China.
Há muito a China alega ser apenas mais um país em desenvolvimento, mesmo quando seu poder econômico ultrapassa de longe o de qualquer outro país emergente.
Agora, ela está encontrando mais dificuldade para se colocar no papel de uma alternativa amigável à superpotência autoritária norte-americana. Para muitos na Ásia, ela é o novo colosso. ... .... .... .... .... ... .... .... .... ... ... ....



Corda bamba: Risco de um colapso do setor de construção é uma das maiores ameaças à economia chinesa
Pequim tenta desinflar bolha imobiliáriaDexter Roberts, BusinessWeek22/01/2010
Li Nan foi pego pela febre imobiliária. Esse comerciante de aço da China Minmetals, uma companhia estatal de commodities, vive com os pais num apertado apartamento de 65 m2 na zona oeste de Pequim. Inicialmente, Li havia planejado comprar sua própria moradia quando se casou, mas depois de ver os preços dos imóveis dispararem em Pequim, ele vem passando todo o seu tempo livre procurando um apartamento. Se encontrar o lugar certo - preferencialmente um dois quartos no bairro histórico de Dongcheng - ele espera comprá-lo imediatamente. É agir agora, diz ele, ou viver com o pai e a mãe para sempre. Nos últimos 12 meses, os preços desse tipo de apartamento dobraram ou triplicaram, para cerca de US$ 4.300 o metro quadrado. "Este ano os preços vão subir mais", diz.
Milhões de chineses estão em busca de imóveis, algo que já foi típico dos americanos. Alguns chineses estão juntando muito dinheiro para comprar a casa própria. A concessão de financiamento imobiliário está batendo recorde. As incorporadoras estão abocanhando terrenos para a construção de condomínios de luxo, e os bancos os estão financiando com avidez. Alguns funcionários de governos locais estão até construindo cidades do zero no deserto, confiantes de que a demanda não vai enfraquecer. E, quando as famílias podem, elas compram dois apartamentos - um para morar e outro para especular, quando os preços subirem.
E eles estão subindo. Em Xangai, os preços dos imóveis de luxo subiram 54% até setembro. Só em novembro, os preços das moradias subiram 5,7% nas 70 maiores cidades chinesas, enquanto o início de novas construções aumentou 194% em nível nacional.
A corrida imobiliária está alimentando temores de uma bolha que poderá explodir mais para a frente em 2010, devastando proprietários, bancos, incorporadoras, mercados de ações e os governos locais. "Assim que a bolha estourar, nosso crescimento econômico cessará", alerta Yi Xianrong, um pesquisador do Centro de Pesquisas Financeiras da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Em dezembro, o premiê chinês, Wen Jiabao, disse que "os preços dos imóveis vêm aumentando rápido demais". Prometeu agir contra os especuladores.
Apesar dos paralelos com outros mercados, a bolha chinesa não é muito fácil de ser entendida. Em alguns lugares, a demanda por moradias pela classe média alta está tão aquecida que não consegue ser atendida. Em outros, especuladores continuam forçando a alta no preço dos terrenos e dos apartamentos de luxo, muito embora o valor dos aluguéis esteja caindo por causa da escassez de inquilinos. O que está claro é que a bolha está inflando na ponta mais rica, enquanto poucas moradias de baixo custo estão sendo construídas para os chineses de baixa renda e da classe média intermediária.
No distrito de Chaoyang, em Pequim - que responde por um terço de todos os negócios imobiliários residenciais fechados na capital -, moradias estão agora sendo vendidas por uma média de quase US$ 3.200 o metro quadrado. Isso significa que um apartamento típico de 92 m2 custa cerca de 80 vezes a renda média anual dos moradores da cidade. Koyo Ozeki, analista da administradora de investimentos americana Pimco, estima que apenas 10% das vendas residenciais na China são feitas para o mercado de massa. As incorporadoras conseguem margens muito melhores com as moradias de luxo do que com as moradias comuns.
Como essa bolha começou? Taxas de juros baixas, incentivo oficial aos empréstimos bancários e depois o plano de estímulo do governo de meio trilhão de dólares, o que tornou os recursos prontamente disponíveis. As prefeituras e os governos das Províncias vêm cooperando de bom grado com as incorporadoras: economistas estimam que metade de toda a receita do governo local está vindo da venda de terrenos pertencentes ao Estado. Os consumidores chineses, que temem uma alta da inflação e estão fugindo dos juros diminutos que recebem por suas poupanças, estão comprando imóveis mais agressivamente.
Companhias dos setores químico, siderúrgico, têxtil e de calçados também estão abrindo divisões imobiliárias: a chance de um retorno rápido é muito maior do que em suas atividades principais. "Quando você se senta à mesa com empresários, o papo normalmente gira em como eles têm sorte de possuírem um pedaço de terra", diz Andy Xie, economista independente que já trabalhou em Hong Kong como principal analista do Morgan Stanley para a Ásia. "Hoje em dia, ninguém fala que suas fábricas estão ganhando dinheiro."
Cidades que recentemente ficaram ricas estão participando do jogo com sofreguidão. Ordos é uma cidade de 1,3 milhão de habitantes na região da Mongólia Interior. Ela ficou rica com a descoberta de uma grande jazida de carvão mineral nos seus arredores. Uma geração emergente de magnatas, empresários e funcionários públicos locais faz de tudo para inventar uma Ordos moderna. Portanto, a 25 quilômetros da cidade antiga, um novo centro municipal está surgindo no deserto e poderá facilmente atingir o tamanho de uma capital de um país de tamanho médio. Um complexo enorme abriga os prédios da prefeitura e da sede local do Partido Comunista, cada um com 11 andares. Ali perto foi erguida uma ópera no estilo que lembra uma fortaleza, e uma biblioteca em estilo modernista.
Milhares de casas e torres de apartamentos se espalham à distância, todas construídas por incorporadoras locais, na esperança de que os novos moradores prósperos de Ordos irão comprar esses imóveis para ficarem perto do novo centro do poder. Trabalhadores são transportados de ônibus diariamente para a nova prefeitura, mas o prédio ainda está desocupado. "Por que alguém iria para lá?", pergunta Zhao Hailin, artista de rua da cidade velha. "É uma cidade de prédios vazios."
O governo central agora enfrenta duas ameaças. Uma é a ira dos chineses comuns. Uma pesquisa feita recentemente pelo Banco do Povo da China, o banco central chinês, mostrou que dois terços das pessoas que participaram são de opinião que os preços estão altos demais. Uma séria de TV com o nome irônico de "O Romance da Casa", que mostra as dificuldades de famílias que não conseguem comprar apartamentos, foi um dos programas mais assistidos na Beijing Television, até que as autoridades o tiraram do ar em novembro. O motivo oficial foi que o programa era picante demais (uma mulher consegue um apartamento tornando-se amante de um funcionário público corrupto), mas nas salas de bate-papo da internet especula-se que o programa foi proibido porque estava deixando angustiadas as pessoas que não têm recursos para comprar uma casa própria.
A discussão tornou-se mais carregada depois que pessoas morreram e ficaram feridas por causa da questão imobiliária. Uma mulher de Changdu cometeu suicídio, colocando fogo no próprio corpo, quando a fábrica de três andares e a casa de seu ex-marido foram demolidas para abrir caminho para uma nova rua. Um homem sofreu queimaduras graves em Pequim num protesto parecido por causa de sua casa. No começo de dezembro, cinco professores da Universidade de Pequim escreveram para o Congresso Nacional do Povo pedindo mudanças em uma lei de desapropriação de terrenos e demolições e acusando as incorporadoras de usurparem o papel do governo na tomada de terrenos para construção. A lei está levando a "incidentes de massa" e "acontecimentos extremos", alertaram os professores.
A segunda ameaça é que Pequim vai tentar, sem sucesso, deixar o ar escapar da bolha. Conseguir uma "aterrissagem branda" significa acalmar lentamente os mercados, estabilizar os preços e construir moradias mais baratas. Para desencorajar a especulação, o Conselho de Estado, o gabinete do governo chinês, está ampliando de 2 para 5 anos o período em que um imposto é cobrado sobre a revenda de apartamentos. Regras mais duras para financiamentos estão saindo. Os juros já subiram. O governo chinês também pretende construir apartamentos para 15 milhões de famílias pobres.
O governo reluta em assumir uma posição mais dura em relação à bolha porque os setores da construção, siderurgia, cimento, móveis e outros estão diretamente ligados ao crescimento do mercado imobiliário; em novembro, por exemplo, as vendas no varejo de móveis e materiais de construção cresceram mais de 40%. Na Conferência Central sobre a Economia e o Trabalho de dezembro, uma confabulação anual para a formulação de políticas, funcionários públicos disseram que o Estado continuará sendo o indutor do crescimento.
O pior cenário é as autoridades centrais deixarem a festa prosseguir por tempo demais e depois subirem de uma vez as taxas de juros para conter a espiral inflacionária. Sem crédito barato, as incorporadoras não conseguem refinanciar seus empréstimos, os consumidores não subscreverão mais financiamentos, as carteiras imobiliárias dos bancos locais vão se deteriorar e as companhias do setor industrial que dependem do setor imobiliário para uma parcela de seus lucros vão sofrer. Para piorar, os chineses não conseguiram conter outros frenesis imobiliários. Na década de 90, o governo acabou brutalmente com uma bolha em Xangai e Pequim, cortando o crédito para as incorporadoras e aumentando muito as taxas de juros. As medidas funcionaram, mas os preços dos imóveis despencaram, e o crescimento econômico foi reduzido.
Os analistas estão divididos quanto às probabilidades de um crash desse tipo, mas até mesmo executivos do setor imobiliário estão ficando nervosos. Wang Shi, presidente do conselho de administração da Vanke, uma grande incorporadora imobiliária, já alertou várias vezes nas últimas semanas para o risco de uma bolha. Ele deu indícios de que teme que a bolha possa se espalhar para além de Pequim e Xangai.
Uma dificuldade para se deduzir a possibilidade de uma retração danosa é a falta de transparência dos dados. Enquanto os preços dos imóveis permaneceram altos, os balanços das incorporadoras deverão continuar sólidos. E ninguém sabe com certeza quanto do mais de US$ 1,3 trilhão concedido em empréstimos pelos bancos no ano passado financiou empreendimentos imobiliários. Analistas calculam que uma parcela substancial dessa soma foi para o setor imobiliário, grande parte dela indiretamente. Os bancos sempre emprestam para companhias estatais com propósitos industriais. Mas as companhias estatais podem desviar os recursos para seus próprios negócios imobiliários - ou reemprestar o dinheiro para uma incorporadora de fora.
Por enquanto, a festa continua. Em 12 de dezembro, a Soho China, uma incorporadora de Pequim, comemorou um ano de recordes com um baile de gala no hotel China Central Place JW Marriott. Depois de uma exibição de dança, um painel debateu "O Equilíbrio Entre o Lucro e a Alma". Quando um escritor fez uma brincadeira, dizendo que não tinha como comprar um apartamento - e estava esperando que Pan Shiyi, presidente do conselho de administração da Soho, lhe desse um -, a multidão de 600 executivos de incorporadoras, empresas e consultorias riu. Se a bolha estourar, poucos continuarão rindo. Copyright© 2010 The McGraw-Hill Companies Inc.)



Atritos comerciais entre EUA e China vão aumentar, diz Lamy22/01/2010
Os atritos comerciais entre os EUA e a China vão aumentar nos próximo anos à medida que os dois país - os maiores importadores e exportadores do mundo - intensificarem o comércio entre si. A previsão é o do diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy. EUA e China já estão envolvidos em uma série de desacordos sobre aço, frango, patentes e até sobre filmes produzidos por Hollywood. A ameaça do Google de cancelar suas operações na China por conta de de censura e violão de e-mails poderia piorar o clima de disputa. Em entrevista à agência de notícias Associated Press, Lamy comparou as relações EUA-China com as disputas comerciais entre EUA e Japão nos anos 80 e entre EUA e Europa em diferentes décadas. No caso da China, disse, a "questão não é se há atritos, a questão é se estão sendo bem administrados



Política anticrise perto do fimBloomberg22/01/2010
O relatório do PIB da agência de estatísticas da China alimentou especulações de que Pequim está se preparando para mudar suas políticas fiscal e monetária.
O texto omitiu a referência à manutenção de uma "política monetária moderadamente frouxa" e uma "política fiscal pró-ativa". A mesma omissão foi feita num texto de terça do premiê Wen Jiabao.
Para Glenn Maguire, economista do Societe Generale em Hong Kong, a "China está claramente agindo para ajustar sua política e a linguagem usada para descrever essa decisão". Mas ele acha que a retórica da nova política não será finalizada antes da reunião do Congresso Nacional do Povo (o Parlamento chinês) em março.
"Para ser politicamente corretas, todas as autoridades vão continuar dizendo até lá que apóiam a política atual", disse Lu Ting, economista do Bank of America




Crescimento supera previsão, mas país agora teme inflaçãoGeoff Dyer e Jamil Anderlini, Financial Times, de Pequim22/01/2010
A China superou confortavelmente a sua meta de 8% de crescimento económico no ano passado e chegou perto de tomar o posto da estagnada economia japonesa como segunda maior do mundo. Mas há temores em relação aos sinais surgidos ontem de crescimento das pressões inflacionárias no país.
A economia chinesa acelerou, tendo crescido 10,7% no quarto trimestre de 2009, e 8,7% no ano, apesar da maior crise econômica mundial em gerações.
O Produto Interno Bruto (PIB) chinês somou US$ 4,9 trilhões, pouco abaixo dos US$ 5,1 trilhões que o Japão deverá registrar após a contração do ano passado, segundo o Goldman Sachs.
No entanto, de novo, a inflação dos preços ao consumidor subiu acentuadamente no mês passado, de 0,6% em novembro (ano sobre ano) para 1,9%, na mais recente indicação de que a economia pode estar superaquecida. Os preços subiram 1,7% em dezembro apenas, revertendo a queda de 2,1% novembro.
"Minha principal preocupação é como controlar a alta dos preços e, simultaneamente, promover o crescimento econômico", disse Ma Jiantang, diretor do Birô Nacional de Estatísticas.
Agências reguladoras ordenaram a alguns bancos que cessem a concessão de novos empréstimos até o final do mês, por receio de que a febre de crédito possa estar comprometendo uma política monetária que a maioria dos economistas já considera excessivamente frouxa.
Alguns economistas acreditam que os juros começarão a subir mesmo na China a partir do segundo trimestre, embora as autoridades estejam preocupadas com um colapso nos preços das casas no mercado doméstico caso promovam um aperto monetário demasiado rápido, e continuam cautelosas quanto a um duplo mergulho recessivo da economia mundial. Também é prevista uma modesta valorização do yuan.
"O forte crescimento acompanhado de aumento da inflação é um desdobramento desagradável, e apenas acentuará os temores de aperto na política monetária", disse Ben Simpfendorfer, economista do Royal Bank of Scotland. "Os preços das mercadorias relevantes para os consumidores, como de alimentos, habitação e serviços públicos, estão subindo mais rapidamente do que o crescimento da renda. Isso vai preocupar o governo."
Nesta época, no ano passado, a meta do governo - um crescimento de 8% - foi considerada demasiado ambiciosa, mas, no que alguns economistas denominaram "maior flexibilização de condições monetárias na história", os bancos chineses concederam 9,590 trilhões de yuans em novos empréstimos no ano passado, mais que o dobro do montante aportado em 2008




Op-Ed Columnist
What’s Our Sputnik?
By THOMAS L. FRIEDMAN
Published: January 16, 2010
Taipei, Taiwan
Dick Cheney says President Obama is “trying to pretend that we are not at war” with terrorists. There is only one thing I have to say about that: I sure hope so.
Frankly, if I had my wish, we would be on our way out of Afghanistan not in, we would be letting Pakistan figure out which Taliban they want to conspire with and which ones they want to fight, we would be letting Israelis and Palestinians figure out on their own how to make peace, we would be taking $100 billion out of the Pentagon budget to make us independent of imported oil — nothing would make us more secure — and we would be reducing the reward for killing or capturing Osama bin Laden to exactly what he’s worth: 10 cents and an autographed picture of Dick Cheney.
Am I going isolationist? No, but visiting the greater China region always leaves me envious of the leaders of Hong Kong, Taiwan and China, who surely get to spend more of their time focusing on how to build their nations than my president, whose agenda can be derailed at any moment by a jihadist death cult using exploding underpants.
Could we just walk away? No, but we must change our emphasis. The “war on terrorists” has to begin by our challenging the people and leaders over there. If they’re not ready to take the lead, to speak out and fight the madness in their midst, for the future of their own societies, there is no way we can succeed. We’ll exhaust ourselves trying. We’d be better off just building a higher wall.
As the terrorism expert Bruce Hoffman noted in an essay in The Washington Post: “In the wake of the global financial crisis, Al Qaeda has stepped up a strategy of economic warfare. ‘We will bury you,’ Soviet Premier Nikita Khrushchev promised Americans 50 years ago. Today, Al Qaeda threatens: ‘We will bankrupt you.’ ” And they will.
Our presence, our oil dependence, our endless foreign aid in the Middle East have become huge enablers of bad governance there and massive escapes from responsibility and accountability by people who want to blame all their troubles on us. Let’s get out of the way and let the moderate majorities there, if they really exist, face their own enemies on their own. It is the only way they will move. We can be the wind at their backs, but we can’t be their sails. There is some hope for Iraq and Iran today because their moderates are fighting for themselves.
Has anyone noticed the most important peace breakthrough on the planet in the last two years? It’s right here: the new calm in the Strait of Taiwan. For decades, this was considered the most dangerous place on earth, with Taiwan and China pointing missiles at each other on hair triggers. Well, over the past two years, China and Taiwan have reached a quiet rapprochement — on their own. No special envoys or shuttling secretaries of state. Yes, our Navy was a critical stabilizer. But they worked it out. They realized their own interdependence. The result: a new web of economic ties, direct flights and student exchanges.
A key reason is that Taiwan has no oil, no natural resources. It’s a barren rock with 23 million people who, through hard work, have amassed the fourth-largest foreign currency reserves in the world. They got rich digging inside themselves, unlocking their entrepreneurs, not digging for oil. They took responsibility. They got rich by asking: “How do I improve myself?” Not by declaring: “It’s all somebody else’s fault. Give me a handout.”
When I look at America from here, I worry. China is now our main economic partner and competitor. Sure, China has big problems. Nevertheless, I hope Americans see China’s rise as the 21st-century equivalent of Russia launching the Sputnik satellite — a challenge to which we responded with a huge national effort that revived our education, infrastructure and science and propelled us for 50 years. Unfortunately, the Cheneyites want to make fighting Al Qaeda our Sputnik. Others want us to worry about some loopy remark Senator Harry Reid made about the shade of Obama’s skin.
Well, what is our national project going to be? Racing China, chasing Al Qaeda or parsing Harry? Of course, to a degree, we need to both race China and confront Al Qaeda — but which will define us?
“Our response to Sputnik made us better educated, more productive, more technologically advanced and more ingenious,” said the Johns Hopkins foreign policy expert Michael Mandelbaum. “Our investments in science and education spread throughout American society, producing the Internet, more students studying math and people genuinely wanting to build the nation.”
And what does the war on terror give us? Better drones, body scanners and a lot of desultory T.S.A. security jobs at airports. “Sputnik spurred us to build a highway to the future,” added Mandelbaum. “The war on terror is prompting us to build bridges to nowhere.”
We just keep thinking we can do it all — be focused, frightened and frivolous. We can’t. We don’t have the money. We don’t have the time.



Análise:
Um termo atraente por trás de um desafio global
Martin Wolf, Financial Times
20/01/2010
A invenção dos Brics por Jim O´Neill, do Goldman Sachs, foi um golpe de marketing de gênio. Mas terá relevância analítica? Minha resposta é: não e sim.
Não, pois as quatro economias praticamente nada têm em comum, à parte o fato de nenhum país ser de alta renda.
Sim, pois a noção captura uma realidade da nossa era, que é de crescimento sustentado para "fechar distâncias" por vastas partes do mundo em desenvolvimento.
China e Índia são de longe os países mais populosos do mundo, com 1,34 bilhão e 1,18 bilhão de habitantes em meados de 2009, respectivamente. Os EUA, terceiro colocado, têm 308 milhões. Pelos padrões dos gigantes asiáticos, o Brasil (193 milhões), e a Rússia (142 milhões) são minúsculos.
A China é atualmente a "fábrica do mundo", um colosso com investimento e crescimento elevados, dotada de uma poderosa posição competitiva em bens industriais.
A economia do país também é muito mais aberta que a da Índia: em 2006, ano anterior à eclosão da crise financeira, a parcela do comércio de mercadorias em relação ao PIB da China foi de 67%, ante 32% para a Índia. A Índia é relativamente mais forte em serviços intensivos em mão-de-obra qualificada: o quociente do comércio em serviços em relação ao PIB foi de 15%, contra 7% para a China.
O Brasil tem uma economia muito mais fechada que esses dois gigantes asiáticos, com um índice de exportação de mercadorias em relação ao PIB de meros 22% em 2006 e índice de exportação de serviços de 5% do PIB. Metade de suas exportações foram alimentos e matérias-primas. Quanto à Rússia, em 2006, os produtos industriais representaram menos de um quin-to das exportações. O país é exportador de combustíveis e minérios.
No entanto, é no tamanho, dinamismo e impacto que as diferenças são mais acentuadas. De acordo com Angus Maddison, o historiador da Economia, a parcela da China na produção mundial pelo poder de paridade de compra (PPP) aumentou de 8% em 1980 para 17% em 2006. Mas então, a parcela da China na produção dos Brics foi de 61%, uma alta na comparação com os 42% de 1990.
Nem Brasil ou Rússia obtiveram um aumento substancial nas suas parcelas do PIB mundial ao longo desse período. Mesmo a ascensão da Índia foi modesta - um aumento, de 4% em 1990, para 6% em 2006. A história, portanto, tem se resumido à ascensão das duas gigantes asiáticas e, especialmente, da China. Mas "IC" teria sido um termo muito menos atraente.
No entanto, a noção dos Bric efetivamente captura a realidade de um deslocamento do poder, dos antigos países desenvolvidos, especialmente Europa Ocidental e Japão, para os "países emergentes". A crise financeira acelerou essa mudança.
A China, acima de tudo, e também a Índia, até certo ponto, sobreviveram ilesos à crise. Em 2009, de acordo com a mediana das projeções de dezembro, a economia da China cresceu 8,5%, e a da Índia, 6,6%. Mas a do Brasil estagnou, e a da Rússia encolheu 7,9%. Para 2010, as projeções são de crescimento de 9,6% na China, 7,7% na Índia, 5,1% no Brasil e 4,1% na Rússia.
No entanto, será que esses países podem transmitir dinamismo ao mundo como um todo? A resposta, à primeira vista, parece ser sim. Até 2008, o PIB combinado dos Bric, em dólar, já representava 60% do PIB dos EUA e 14% do número global, com a China gerando metade desse total.
O Goldman Sachs afirma que os Bric contribuíram com quase 30% para o crescimento global, em dólar, entre 2000 e 2008, e com 45% desde o começo da crise, em 2007.
Isso, sem dúvida, se intensificará com o tempo. No entanto, a quase totalidade desse crescimento ocorrerá dentro desses países. O estímulo líquido à demanda conferido ao resto do mundo depende de uma queda nos superávits dos seus saldos comerciais ou de um aumento nos seus déficits.
A China é, mais uma vez, o único Bric capaz de chegar a tanto.
Mesmo assim, o estímulo líquido transmitido entre 2008 e 2009 foi de menos de 0,2% do PIB do resto do mundo.
Apesar disso, os Bric, e acima de tudo a China, deverão desempenhar um papel importante na geração de um crescimento mais equilibrado na demanda por toda a economia global.
Este é um dos muitos desafios que a nova engrenagem de formulação de políticas do mundo deverá equacionar. Se a atenção prestada ao conceito dos Bric conseguir fazer as autoridades se concentrarem nessa tarefa, terá valido a pena.



Nova ordem: Bloco emergente ainda não tem demanda o suficiente para tomar o bastão da economia global
Bric cresce, mas ainda falta peso para liderar
Alan Beattie, Financial Times20/01/2010
Coloque um jaguar, um urso, um tigre e um panda juntos e você pode fazer um belo espetáculo, mas não terá uma vida tranquila.
O grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) tornou-se uma sigla de referência à ascensão dos mercados emergentes na economia mundial. E, após uma década excepcional, o Bric teve uma crise predominantemente "boa", da qual está saindo rapidamente.
O Goldman Sachs, que inventou a sigla, avalia que a China pode se tornar, disparada, a maior economia do mundo antes de 2030. Coletivamente, as economias do Bric superar até 2032 a produção do G-7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo), que vem dominando a gestão da economia global.
Os países do Bric já têm uma fatia do comércio mundial maior que a dos EUA. A China, provável maior exportador mundial de bens em 2009, foi complementada por exportações de software e serviços de back-office indiano, petróleo e gás russo e pela predominância numa série de commodities agrícolas dos supercompetitivos agricultores brasileiros.
Apesar de as bolsas em países do G-7 estarem se esforçando para se manter em alta nos últimos cinco anos ou mais, os preços das ações no Bric, embora com queda acentuada e rápida recuperação durante a crise financeira mundial, terminaram a década em patamar mais que o dobro de seu nível em 2005. Surgiram índices de ações do Bric; fundos focados no Bric têm surgido para que os investidores neles apostem seus recursos.
Assim, num momento em que o mundo emerge de recessão, será essa a hora de transformação, de mudança decisiva no centro de gravidade da economia mundial e de sua governança? Será esse um ponto de inflexão, como foi a Segunda Guerra Mundial, quando os confiantes EUA prevaleceram sobre as debilitadas e endividadas economias europeias e refizeram a arquitetura financeira mundial? E, no curtíssimo prazo, estarão os consumidores do Bric efetivamente à altura da tarefa de reequilibrar a economia mundial, suplantando os consumidores americanos?
A resposta mais provável é: ainda não. Não só o Bric é um grupo tão díspar que torna quase qualquer generalização problemática, como a China, membro esmagadoramente dominante do quarteto, parece ainda abraçada a um modelo econômico dependente da demanda de outro países.
"As denominadas economias emergentes, mesmo algumas como Bangladesh, são sem dúvida atores em nível mundial", diz Jean-Pierre Lehmann, professor de economia política no IMD, na Suíça. "Mas não vejo um grande cataclismo nos próximos 10 anos, nem o centro das finanças claramente se deslocando para o oriente."
Como um grupo de garotos ou uma gangue de rua, os países do Bric quase poderiam ter sido escolhidos por suas diferentes capacitações, e não por suas semelhanças. O tamanho da China e sua abertura ao comércio lhe proporcionam tanto poderio econômico quanto o do resto reunido. Markus Jaeger, do Deutsche Bank, chama o país, um hipercompetitivo exportador de manufaturas, de "o panda de 800 quilos na sala". A Índia, com a mesma dimensão populacional, porém mais pobre e economicamente mais insular, é predominantemente visível aos olhos de investidores e parceiros comerciais devido à sua produção de software e prestação de serviços empresariais. O Brasil, apesar do êxito de um punhado de indústrias, continua a ser um dos exportadores agrícolas mais eficientes do mundo; a Rússia, após tentativas débeis de diversificação, essencialmente vende apenas petróleo e gás.
A história do rápido progresso é familiar, mas ainda assim dramática. Uma década atrás, só um desses países obtivera "grau de investimento", agora isso vale para todos. Apenas 12 anos atrás, um default da dívida russa e uma crise cambial brasileira abalaram a economia mundial; agora, eles acumularam grandes reservas cambiais.
O Bric contribuiu para cerca de metade do crescimento mundial entre 2000 e 2008, acréscimo nitidamente superior ao da década anterior. Mas, junto com esse crescimento surgiu um grande desequilíbrio na economia global.
O modelo de crescimento chinês, baseado em pesado investimento e exportações, criou enormes superávits em conta corrente em todo o leste asiático, associado a um déficit americano em conta corrente. E, apesar de ter feito sua parte para manter o crescimento econômico durante a crise, a China está longe de ter passado a se concentrar na demanda de seus consumidores, mudança que um verdadeiro motor do crescimento mundial teria realizado.
Com grande estardalhaço, Pequim anunciou um pacote de estímulo de US$ 585 bilhões em novembro de 2008 e afrouxou o crédito bancário. Mas sua capacidade de criar crescimento auto-sustentado era suspeita. Em vez de distribuir dinheiro aos consumidores para fazê-los gastar - decisão que poderia ter estimulado as importações - grande parcela do estímulo foi para o velho favorito: investimentos fixos. "Se a demanda mundial não se recuperar a tempo, ou se as medidas de estímulo não insuflarem espíritos animais, a China vai acabar criando excesso de capacidade", disse Jäger.
Razeen Sally, um especialista em comércio na London School of Economics, diz: "As intervenções chinesas tiveram o efeito de reforçar os problemas e desequilíbrios atuais. Veremos muito excesso de capacidade exportadora orientada para setores como siderurgia exatamente no momento errado".
A reancoragem do yuan ao dólar em 2008, após um período de três anos quando permitiu-se que a moeda subisse aos poucos, também em nada contribuiu para mudar o foco da economia chinesa - de exportações para atendimento da demanda do consumidor interno. O efeito dessa decisão é multiplicado pela imitação de muitos países emergentes, que estão impedindo a valorização de suas próprias moedas para não perder competitividade diante da China.
De fato, embora a queda mundial na demanda do consumidor tenha reduzido o nível absoluto do superávit chinês em conta corrente durante a crise - diminuiu o número de navios que transportam brinquedos e iPods despachados de Shenzhen e Xangai -, a China continuou a ganhar participação de mercado no exterior. O Fundo Monetário Internacional e outros analistas consideram que o aparente reequilíbrio da economia mundial no ano passado é temporário. Quando a demanda se recuperar, o mesmo acontecerá com as exportações chinesas, juntamente com os superávits e déficits.
Apesar de bolsões de gastança, se algo podemos afirmar é que nesta década a China tornou-se menos, e não mais, uma economia de consumidores. Sua taxa de total de poupança cresceu ao longo da década. Embora grande parte desse aumento reflita a poupança das empresas, a poupança das famílias também cresceu, e, para início de conversa, uma parcela maior da renda nacional foi para as empresas - e não para os consumidores.
Uma pesquisa feita no ano passado pelo McKinsey Global Institute corrobora o que muitos economistas vem discutindo há bastante tempo: que a falta de uma rede de seguridade social é uma das principais razões pelas quais as famílias chinesas poupam. As três principais razões apontadas foram: necessidades educacionais, de segurança em caso de doença e para cuidar dos pais. Não será possível mudar rapidamente fatores estruturais como esses. Também não será possível mudá-los simplesmente deixando o yuan valorizar.
Quanto aos outros países do Bric, cuja taxa média de crescimento é mais lenta que a da China, provavelmente não produzirão um impacto significativo sobre a demanda mundial por algum tempo. Embora o crescimento no Brasil e na Índia tenha se sustentado bem durante a crise, o primeiro é uma economia relativamente madura, com menor margem para crescimento rápido; o segundo tem um desempenho insatisfatório, um problema crônico em suas finanças públicas, e uma taxa de poupança ainda maior que a chinesa. Já a Rússia, cuja economia contraiu fortemente durante a recessão mundial, continua a depender dos preços do petróleo.
Uma década de crescimento rápido não é suficiente para que os países do Bric se apoderem do bastão da liderança econômica mundial dos EUA e da Europa Ocidental. O grupo (ou alguns de seus países) pode ter surpreendido o mundo com seu progresso nos últimos 10 anos. Mas é preciso uma melhora qualitativa, assim como mais crescimento, para consolidar essa mudança de poder.



Divergências dificultam ação política em conjuntoFinancial Times20/01/2010
Na balança da governança global, os Bric estão se tornando cada vez mais pesados. E, à medida que aumentava seu peso econômico, os países foram ficando cada vez mais ousados para impor sua vontade em disputas políticas.
Mas, apesar de isso ser benéfico para a legitimidade política das instituições envolvidas, particularmente do Fundo Monetário Internacional (FMI), não se presta necessariamente a processos decisórios suaves e ágeis.
Os chefes de governo dos Bric se encontraram pela primeira vez em Iekaterinburgo, na Rússia, no ano passado, e se reunirão novamente no Brasil no fim do ano. Ministros e autoridades do alto escalão têm se encontrado à margem de outras reuniões, como as conferências do FMI e do G-20, desde 2008.
"Toda vez que houver uma reunião importante, agora haverá uma reunião dos Bric antes", diz uma autoridade de um país Bric. Pedidos do Tesouro dos EUA para encontros de alto escalão com ministros dos Bric confirmam a importância do grupo, diz a fonte.
No entanto, à parte o prolongado debate sobre a concessão de mais votos aos países em desenvolvimento no FMI, ficou comprovado que é difícil chegar a um acordo sobre um conjunto considerável de assuntos em torno dos quais os díspares países Bric tenham os mesmos interesses.
Eles já precisaram abandonar o tema das taxas de câmbio. É consenso no Brasil, como nos EUA, que a moeda depreciada da China está roubando mercados de exportação das companhias brasileiras. "Estamos sendo afetados pela política cambial da China, não só em outros mercados, mas dentro da nossa própria economia", diz Roberto Abdenur, ex-embaixador brasileiro nos EUA.
Tampouco há um modelo único de gestão econômica que os Bric adotam e queiram disseminar. Na verdade, há vasto e crescente contraste entre, digamos, as iniciativas voltadas para uma economia de mercado social-democrata no Brasil, respaldadas por ortodoxia fiscal, e a intervenção politizada cada vez mais autoritária na Rússia.
Agrupamentos semelhantes de países em desenvolvimento em outros contextos frequentemente têm lutado para elevar a sua posição para além de um denominador comum, ou para impedir que algum membro particularmente poderoso dite o tom.
Na rodada Doha de negociações sobre comércio global da OMC, onde Índia e Brasil têm participado num grupo de negociação estratégico, eles lutaram para elaborar uma posição de negociação abrangente. Os interesses do Brasil, na condição de exportador agrícola altamente competitivo, se chocaram com o desejo da Índia de proteger seus pequenos agricultores.
Nas negociações sobre o clima em Copenhague, em dezembro, a China foi amplamente acusada de bloquear um acordo que teria servido os interesses de muitos países em desenvolvimento.
Pradeep Mehta, secretário-geral da Cuts International, um centro de pesquisa acadêmica em Jaipur (Índia), diz: "É cada vez mais evidente que as principais divisões deverão ser entre os [países] desenvolvidos e os [países] em desenvolvimento, e que a China será líder do mundo em desenvolvimento".
Na diplomacia, assim como na economia, o poder exercido pelos países dos Bric poderá acabar pendendo nitidamente na direção dos desejos de Pequim.




The story of the BricsBy Gillian Tett
Published: January 15 2010 17:01 Last updated: January 15 2010 17:01

Economia: Quando Jim O'Neill criou a sigla Bric para representar as economias do Brasil, Rússia, Índia e China, sabia ter detectado algo grande. O que não percebeu foi quão grande.
O inventor do futuroPor Gillian Tett, do Financial Times
29/01/2010
Jim O'Neill, do Goldman Sachs: "Para fazer a globalização avançar, ela teve que ser aceita por mais pessoas, mas não impondo as crenças sociais e filosóficas e as estruturas dominantes americanas"
Sobre a mesa de Jim O'Neill, economista-chefe do Goldman Sachs, há quatro bandeirinhas. Os pequenos pedaços de tecido são flâmulas que representam grandes países: Brasil, Rússia, Índia e China. E quase uma década atrás, O'Neill decidiu começar a pensar neles como um grupo - para o qual cunhou a sigla Bric. Era um simples lembrete mental. O gesto mais ousado foi prever - publicamente, e em nome do Goldman - que em 2041 (mais tarde revisto para 2039 e 2032) as nações do Bric ultrapassariam as seis maiores economias ocidentais em termos de poderio econômico. As quatro bandeiras viriam a representar os pilares da economia do século XXI.
Na época, muitos zombaram dessa ideia. As previsões viraram a sabedoria convencional ocidental de cabeça para baixo, e O'Neill não parecia um arauto óbvio para o conceito. No entanto, na última década, Bric tornou-se um termo financeiro quase onipresente, modelando como uma geração de investidores, financiadores e formuladores de políticas vê os mercados emergentes: empresas, da Nissan à WPP, têm desenvolvido estratégias de negócios centradas nos Bric, dezenas de instituições financeiras agora operam fundos Bric e escolas de negócios têm lançado cursos focados nos Bric.
Para alguns críticos, o termo é bombástico: marketing terminológico de um banco e de um setor bancário acostumados a disfarçar tolices na forma de novas ideias e conceitos genuínos para melhor aproveitá-las. "Bric é apenas lorota de marketing, um disparate!", disse Charles Dumas, economista em Londres que contesta muitos elementos do conceito Bric, por exemplo a ideia de que esses países vão continuar a crescer inexoravelmente no futuro.
Reinaldo Canato/Folha Imagem
Prédio da BM&FBovespa, em São Paulo: desde 2003, as bolsas nos Bric cresceram de 2% para 9% em capitalização mundial de mercado
Mas, mesmo que o Bric seja um lance autointeressado de marketing político, esse tipo de jogada pode assumir vida própria, além do alcance em que seus criadores acreditam ou mesmo almejam. O'Neill, de 52 anos, redesenhou o mapa cognitivo dos "senhores do universo", ajudando-os a articular uma mudança fundamental de influência distante do mundo ocidental. E se você acredita que a maneira de pensar e falar dos seres humanos não só reflete a realidade, mas pode moldar o futuro, então esse rótulo Bric veio tanto para refletir como direcionar mudanças, embora a partir de uma semente improvável.
No verão de 2001, Gavyn Davies, extremamente respeitado codiretor do Goldman Sachs, anunciou sua saída, deixando O'Neill como líder único, e sob enorme pressão para mostrar desempenho. "Pensei: 'Oh, meu Deus, tenho de colocar minha marca nesse departamento'", relembra. "Estava em busca de um tema e de uma ideia nova."
AP
Chinesa acompanha movimentação da Bolsa de Xangai: Jim O'Neill prevê que as bolsas dos Bric representarão quase 50% do mercado mundial em 2050
A inspiração veio na forma de uma dádiva ambivalente. Em 11 de setembro, quando o primeiro avião aproximou-se das Torres Gêmeas, onde ele proferira uma palestra alguns dias antes, O'Neill comandava uma teleconferência mundial. No meio da palestra, os rostos de Nova York desapareceram da tela. O'Neill soube mais tarde que os funcionários tinham sido retirados ilesos, mas ele ainda ficou atordoado, em choque. Nos dias que se seguiram, sua mente começou a zumbir. Como analista de mercados de câmbio, O'Neill era defensor da globalização e estava fascinado com o poder crescente da Ásia. "O que o 11 de Setembro me disse foi não haver maneira de a globalização, no futuro, ser sinônimo de americanização - nem deveria ser", diz. "Para fazer a globalização avançar, ela teve que ser aceita por mais pessoas, mas não impondo as crenças sociais e filosóficas e as estruturas dominantes americanas."
Em termos práticos, concluiu ele, isso significava que os economistas tinham de examinar mais detidamente como as economias não ocidentais poderiam exercer maior poder no futuro. Ao perscrutar o mundo, ficou fascinado com quatro países: Brasil, Rússia, Índia e China. Em certo sentido, os quatro pareciam distintos, separados geográfica e culturalmente, pois em nenhum sentido já haviam atuado como bloco, nunca haviam se concebido como unidade. Mas o que compartilhavam em 2001 eram grandes populações, economias subdesenvolvidas e governos que pareciam dispostos a abraçar mercados mundiais e alguns elementos da globalização. Para O'Neill, essas características os tornavam irmãos: todos tinham potencial para crescer rapidamente.
Em 30 de novembro de 2001, ele lançou sua grande ideia: o estudo nº 66 do Goldman Sachs, "Building Better Global Economic Brics". Ele previu, cautelosamente, que "nos próximos dez anos o peso dos países do Bric, e especialmente da China, no Produto Interno Bruto (PIB) mundial iria crescer", e advertiu, talvez um pouco menos sobriamente, que "em consonância com essas perspectivas, os fóruns formuladores de políticas para o mundo deve ser reorganizado" para dar mais poder ao grupo que O'Neill denominara Bric.
O estudo logo despertou interesse de empresas clientes, especialmente aquelas que já estavam vendendo ou tentando vender produtos de consumo para os mercados emergentes. "Achei o conceito Bric fascinante desde o início", diz Martin Sorrell, diretor de mídia do grupo WPP. "Ele captou o que nós já estávamos discutindo." Mas, para muitos investidores e banqueiros, inclusive para algumas pessoas no Goldman, tudo parecia um pouco fantasioso, sobretudo tendo em conta que países como o Brasil tinham, recentemente, sofrido hiperinflação. "Na primeira vez em que falei a um grande grupo no Rio [após o estudo ter sido publicado], foi para mil investidores da América Latina", recorda O'Neill. "A pessoa que estava me apresentando sussurrou ao meu ouvido, ao dirigir-se ao púlpito, 'todos nós sabemos que a inclusão do 'B' é porque sem ele não haveria uma sigla'."
Mas O'Neill continuou discutindo o conceito com colegas e, em 2003, sua equipe produziu sua contribuição seguinte: um documento chamado de "Dreaming with Brics: The Path to 2050". Ele declarou que em 2039 os Bric poderiam superar as maiores economias ocidentais em escala. Essa previsão lançou a equipe de O'Neill no que ele chama de "Briclife". Em poucos dias, as caixas postais dos economistas da Goldman foram inundadas com e-mails de executivos de inúmeras companhias - da Vodafone, grupo em telefonia móvel, à mineradora BHP Billiton, Ikea e Nissan. Por sorte ou brilhantismo, O'Neill criou a sigla no momento em que empresas ocidentais estavam tentando aprimorar suas estratégias para vender produtos ao mundo não ocidental ou para usar regiões como a China como base de produção. A referência Bric proporcionou a executivos uma forma ágil de discutir estratégias. Melhor, ao contrário dos "mercados emergentes" ou "mundo em desenvolvimento", Bric não é paternalista ou pouco promissor.
Em pouco tempo, bancos rivais estavam lançando fundos de investimento com marketing sob o rótulo Bric. "Perguntamos a nossos advogados se poderíamos tornar o termo Bric uma marca registrada, mas eles nos disseram não - aparentemente, não se trata de um produto", diz O'Neill. Incessantemente, a marca se disseminou, assumindo uma vida fora dos limites do Goldman. À medida que os investidores começaram a comprar ativos especificamente ligados à ascensão dos países do Bric, fundos de hedge perceberam que a maneira como a China, por exemplo, estava produzindo carros poderia afetar a demanda por cobre no Brasil. Novas correlações foram se desenvolvendo nos preços dos ativos, em meio a fortes fluxos de investimentos (desde 2003, as bolsas nos Bric cresceram de 2% para 9% em capitalização mundial de mercado, e O'Neill prevê que elas representarão quase 50% do mercado mundial em 2050).
Rivais de O'Neill começaram a disparar críticas. Alguns economistas disseram ser ridículo fazer previsões tão distantes quanto para 2050, especialmente porque muitas das projeções de O'Neill pareciam extrapolar o crescimento corrente sobre uma linha reta. Outros discordaram da ideia de que os quatro países do Bric poderiam ou deveriam ser descritos como grupo. "Economicamente, financeiramente e politicamente, a China ofusca, e vai continuar ofuscando, os outros Bric", argumentaram analistas do Deutsche Bank. Alguns bancos tentaram proibir seus funcionários de usar "a palavra que começa com 'B'".
Talvez o aspecto mais notável da criação de O'Neill esteja no que não lhe aconteceu: submetida a análise, naufragar sob o impacto da crise de crédito. Na verdade, durante a grande rerreavaliação, o conceito Bric floresceu. A maioria dos países do Bric emergiu da crise relativamente bem. "Como resultado", O'Neill escreveu, "julgamos que as nossas projeções 'douradas' de longo prazo para os Bric em 2050 têm maiores, e não menores, chances de se concretizar". O Goldman agora prevê que até 2027 a economia chinesa terá se tornado tão grande quanto a dos EUA, ao passo que até 2032 os Bric como um todo eclipsarão as grandes economias ocidentais quase uma década antes do que se pensava.
Isso, argumenta O´Neill, vai derrubar muitas premissas ocidentais sobre como o mundo funciona. Atualmente, o Goldman recomenda agressivamente que os investidores decidam em que empresas ocidentais investir com base em se estão vendendo para os Bric, em vez de apenas para consumidores ocidentais. "Estimamos que até 2030 poderão ter entrado na classe média mundial 2 bilhões de pessoas, principalmente nos Bric", afirma o Goldman em recente nota de pesquisa.
Investidores adoram o raciocínio. "Se você tivesse dado atenção ao trabalho de O'Neill e começado a investir nos mercados de ações desses quatro países [nos idos de 2001], teria ganho mais dinheiro, nesta década, do que fazendo praticamente qualquer outra coisa imaginável", declarou Joshua Brown, influente comentarista de investimentos, em seu blog sobre Wall Street no mês passado.
Outros temem que se trata da próxima grande bolha. Para alguns, a exclusão de países como a África do Sul, ou até mesmo a Indonésia, parece cada vez mais estranha. E a inclusão da Rússia está constituindo-se em dor de cabeça cada vez maior, uma vez que foi especificamente a economia russa, entre as dos Bric, que sofreu real impacto durante a crise de crédito - tão severo, na verdade, que alguns investidores (e até alguns executivos bancários no Goldman) desconfiam que chegou a hora de tirar a Rússia do grupo.
O'Neill reluta em prejudicar as relações do Goldman com Moscou fazendo isso. Embora admita que a Rússia tenha "desapontado", ele também insiste que, se o país "se recuperar vigorosa e rapidamente em 2010 e 2011, como esperamos, acreditamos que merecerá seu status de membro do Bric".
Agora está emergindo outro fenômeno relacionado com os Bric. Nos primeiros anos da "bricolândia", os quatro países escolhidos por O'Neill tiveram reações distintas ao rótulo. Houve satisfação na Rússia, perplexidade na China, cinismo no Brasil e indiferença na Índia. Agora, os países estão pondo em prática a ideia de forjar tentativas de ligação de investimentos - na realidade, e não apenas no mundo das ideias. Em maio de 2008, a Rússia sediou a primeira cúpula formal dos Bric, reunião de ministros de Relações Exteriores dos países do Bric. Em julho de 2009, os russos deram seguimento com uma reunião de chefes de Estado dos países do Bric.
Como é típico nessas reuniões, elas foram simbólicas, e não substantivas. Embora os quatro países tenham discutido como poderiam coordenar melhor seus interesses para conquistar maior influência - e buscar alternativas ao uso do dólar -, não houve consenso em torno de passos concretos. Mas no início do segundo semestre, os quatro países deverão reunir-se no Brasil. Em antecipação, as autoridades brasileiras estão formando um grupo de acadêmicos e um think-tank formal, para lançar ideias sobre como desenvolver ainda mais a agenda dos Bric.
Pode parecer irônico que esses quatro países viessem a escolher um termo criado por um banco americano para se definirem. Mas não é algo sem precedentes. Quando a Índia começou a desenvolver seu primeiro senso de identidade nacional e rebelou-se contra os britânicos - ou quando repúblicas soviéticas, como o Uzbequistão ,desenvolveram um nacionalismo similar - fizeram-no com as fronteiras que tinham também sido impostas, artificial e arbitrariamente, por uma potência externa. Quando o mapa cognitivo é redesenhado por uma potência dominante, mesmo no mundo do marketing e da propaganda de bancos de investimento, ele tende mais a não ser apagado, e sim apropriado.
Em Nova York, alguns dos gestores mais antigos no Goldman estão conscientes das ironias culturais da febre dos Bric. Durante os primeiros 120 anos de sua história, o Goldman obteve a maior parte de seus lucros em mercados americanos. Ao entrar em sua sede, na Broad Street, em Manhattan, a primeira coisa que vemos é uma bandeira americana pairando acima do saguão de mármore. Mas as aparências podem enganar. Enquanto O'Neill escavou seu próprio nicho intelectual e divulgou as economias dos Bric, também o Goldman foi se refazendo - bem mais discretamente -, estruturando atividades fora do reduto americano para capturar o crescimento previsto por O'Neill. Na década passada, o banco abriu mais escritórios em todo o mundo do que em toda a sua história, e enquanto as receitas das Américas representaram 60% de seu lucro dez anos atrás, elas agora representam cerca de metade (e muito menos, se for excluída a América Latina). Executivos sênior do Goldman acreditam que dentro de poucos anos os lucros "made in US" serão minoria no lucro total.
Esse padrão não é certamente exclusivo do Goldman: a maioria dos outros bancos ocidentais vêm se expandindo em todo o mundo nos últimos anos. O Deutsche Bank, por exemplo, vem habilmente montando operações com derivativos de mercados emergentes, ao passo que o HSBC está tão convencido de que seu futuro está na Ásia, que seu executivo-chefe recentemente mudou-se de Londres para Hong Kong.
Ainda assim, a mudança é particularmente notória no Goldman, em vista de seu passado exclusivamente americano. Hoje, a ideia é que o banco deve construir negócios ao redor do mundo que ofereçam aos clientes locais não apenas serviços internacionais, mas serviços em seus mercados locais. Em vez de tratar os países não ocidentais como fronteiras remotas ou peões num jogo financeiro, a nova retórica empresarial insiste em que os países do Bric (e outros países não ocidentais) justificam, em si, empreendimentos financeiros. Por isso, no Brasil, o Goldman começou, recentemente, a vender fundos de investimento brasileiros para brasileiros. No Japão, há funcionários que mal falam uma palavra de inglês. E, na China, o banco está patrocinando uma escola de administração e negócios chinesa, para garantir acesso a um fluxo de estudantes chineses autenticamente "locais".
Tudo isso poderia soar reminiscente da forma como o império britânico operou no século XIX, ou a maneira como o partido comunista soviético tentou reunir os diversos povos da União Soviética numa única nação com base em ideologia. Mas, desta vez, trata-se de programas de MBA e cursos de treinamento do Goldman - em vez de escolas particulares britânicas ou campos de formação comunista - que fornecem a "cola cultural". E talvez o fator mais importante de todos: o Goldman (ao contrário de impérios anteriores) não está agindo segundo agenda nacionalista ou política; sua fidelidade real, até onde a pratica, é a seus próprios lucros. (Tradução de Sergio Blum).



O eixo Atlântico aos poucos deixa de ser o centro das ações econômicas e financeiras.
China 2020: desafio para a AL
Por Javier Santiso
01/02/2010
O eixo Atlântico aos poucos deixa de ser o centro das relações econômicas e financeiras
O deslocamento dos centros econômicos em direção à Ásia foi uma das principais novidades econômicas da década. O eixo Atlântico está deixando de ser o centro de gravidade das relações econômicas e financeiras, dando lugar a um maior papel do eixo Pacífico. Essa estrutura geológica das relações internacionais ficou refletida, em particular, pela maior relevância que a China passou a representar para uma região como a América Latina. A crise de 2008, não só ficou longe de frear essas tendências como, ao contrário, as acelerou.
Dessa forma, em 2008, a China transformou-se em um dos principais parceiros comerciais da América Latina. Nesse ano, o comércio entre as duas regiões superou os US$ 140 bilhões. Em 2009, a China tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil, a principal economia latino-americana. Isso, obviamente, não é uma tendência única da região: em 2009, a China também se tornou a maior parceira comercial da África do Sul e Índia, apenas para mencionar outros continentes e países.
O consumo chinês voltou a pressionar para cima os preços das matérias-primas exportadas pelos países da América Latina. Enquanto nos Estados Unidos as vendas de carros despencam, impactando as exportações de autopeças do México; na China, elas disparam, alimentando mais e mais importações de matérias energéticas, petróleo, cobre e outros minerais. Nos próximos dez anos, de acordo com estimativas do Deutsche Bank, as importações chinesas de petróleo deverão crescer 21%; as de cobre, 16%; as de madeira, 13%; e as de carne de porco, 11%; matérias-primas e agrícolas produzidas e exportadas por vários países americanos, como Brasil, Argentina, Peru e Chile.
A essa esfera comercial também se deve somar a dimensão financeira. Hoje em dia, o estoque de investimentos externos diretos chineses no mundo chega a apenas US$ 170 bilhões, uma quantia de certa relevância, mas muito distante das magnitudes alcançadas por suas reservas, que superaram os US$ 2 trilhões em 2009. A projeções do JP Morgan sinalizam que essa poupança chinesa chegará a mais de US$ 16 trilhões em 2020. Uma parte dessa liquidez terá que sair do país, em particular, via investimentos externos diretos, participações minoritárias ou outras formas de investimento fora do país.
Os países e regiões que saibam captar esse potencial sairão ganhando com o apogeu chinês. A América Latina, com sua forte capacidade agrícola e de produção de matérias-primas é, sem dúvida, uma região que pode sair ganhando.
Na próxima década, a China representará uma grande sorte, mas também um desafio para a região. Tudo o que ocorrer, ou deixar de acontecer no país terá repercussões maiúsculas na América Latina. Em 2009 já vimos isso (nesse caso, de maneira positiva): enquanto o México vive um declínio histórico de seu Produto Interno Bruto (PIB), em grande parte influenciado por sua proximidade com os Estados Unidos, o epicentro da atual crise mundial, o Brasil, por sua vez, sofreu apenas um ajuste e, em 2010, já crescerá nos limites de seu potencial, de quase 5%, de acordo com as estimativas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Isso significa dizer que esse último país, também em parte pela maior diversificação de suas exportações à Ásia e, em particular, à China, e pela recuperação do preço de matérias-primas, como petróleo, minério de ferro e soja, aproveita a sorte de ser puxada, em parte, pela demanda chinesa. Empresas como a Vale, uma das maiores produtoras de minerais do mundo, que obteve quase 45% do lucro e receitas no mercado chinês, e a Petrobras, que acaba de concluir acordo gigantesco de US$ 10 bilhões com seus sócios chineses, são simbólicas da aproximação entre Brasil e China.
No futuro, os movimentos de baixa ou alta do PIB da China não passarão indiferentes na região. A máxima tão utilizada que dizia "quando os Estados Unidos espirram, a América Latina fica resfriada" também passará a valer para a China: quando Pequim acelerar ou desacelerar seu ritmo de crescimento, a região também sentirá os ventos e marés do Extremo Oriente.
Javier Santiso é diretor do Centro de Desenvolvimento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).



News Analysis
As China Rises, Conflict With West Rises Too
By KATRIN BENNHOLD
Published: January 26, 2010
DAVOS, Switzerland —As recently as 2008, when China was still an emerging economy eager to put its best foot forward for Western consumers, it lifted censorship, at least temporarily, on several Web sites before the Beijing Olympics. At the same time, it responded to pleas from U.S. and European politicians to cooperate on several other fronts.
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And as developing countries everywhere look for a recipe for faster growth and greater stability than that offered by the now-tattered “Washington consensus” of open markets, floating currencies and free elections, there is growing talk about a “Beijing consensus.”
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02/02/2010
Fórum de Davos classifica os EUA pela primeira vez como nação de "instabilidade política"Thomas L. Friedman
Em Davos (Suíça)
Como parâmetro político, o Fórum Econômico Mundial em Davos em geral oferece alguns indicadores reveladores do ambiente global, e este ano não é exceção. Contaram-me que uma expressão estava sendo usada por não americanos sobre os EUA que eu honestamente posso dizer que nunca tinha ouvido antes: “instabilidade política.
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Olhava-se o vigor das economias emergentes com admiração, inveja e até com medo.
O mundo e sua convalescençaPor Martin Wolf
03/02/2010
Como a balança de poder global continua se deslocando ano a ano, o desafio deve ser enfrentado
Então que conclusões tirei do encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos? Eu me senti como se estivesse sentado na cabeceira de alguém que tivesse sobrevivido a um ataque cardíaco, mas que não estivesse certo de quanto tempo precisaria para recuperar o pleno vigor, se é que poderia recuperá-lo. O clima dos "homens de Davos" (sim, a maioria ainda é composta de homens) foi, como observou o meu colega Gideon Rachman, de ansiedade. Enquanto isso, os participantes no encontro ainda predominantemente ocidental olhavam para o vigor jovem das economias emergentes com admiração, inveja e até medo.
Para mim, o destaque do programa foi a sessão da perspectiva econômica, no sábado. Não afirmo isso apenas por eu ter sido o moderador. O ponto de partida para a discussão foi óbvio: as intervenções políticas no fim de 2008 e 2009 foram um sucesso retumbante. O resultado foi uma recessão muito mais breve e superficial do que a maioria dos participantes havia imaginado um ano atrás.
Isso é evidente em função dos sucessivos consensos de projeções para 2010. Para quase toda economia importante, a projeção para crescimento neste ano é mais elevada do que foi um ano ou até seis meses atrás. A economia mundial sobreviveu ao ataque cardíaco no sistema financeiro.
Ela conseguiu isso como resultado de estímulos fiscais e monetários sem precedentes em tempos de paz. Essas ações foram essenciais e bem-sucedidas. Foi inevitável, em particular, que os maiores aumentos nos déficits fiscais ocorreram onde a bolha de crédito do setor privado foi maior: EUA, Reino Unido e Espanha, acima de tudo.
A China também articulou um programa de estímulo maciço, como assinalou Zhu Min, o vice-presidente do Banco do Povo da China, na discussão.
As grandes questões para este ano são com que agilidade se deve retirar os estímulos fiscais e monetários e qual deve ser retirado antes. No mundo mais amplo, há enorme pressão para começar o aperto agora. Alguns, especialmente no Partido Republicano nos EUA, argumentam que, já que a economia não retornou ao emprego pleno, o estímulo fracassou e deve ser retirado imediatamente. Existe um argumento muito mais plausível de que teria sido inadequado. Mas a política evita posturas contrafatuais: "salvamos você de uma depressão" não é um lema vencedor de eleições.
Na consideração da estratégia da saída, citei um ideograma inventado por Sir Martin Sorrell, da WPP: "LUV", que descreve o formato das recuperações das economias europeia, norte-americana e emergentes, respectivamente. O que precisa ser feito depende do estado das várias economias, com o argumento em prol do estímulo continuado mais forte na Europa e mais fraco nas economias emergentes em recuperação. Essa ideia foi apresentada por Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do FMI. Ele também apresentou outro: se sairmos tarde demais desperdiçaremos recursos em déficits e dívidas públicas excessivos; se sairmos cedo demais, corremos o risco de sofrer um choque devastador na confiança, devido a uma "recaída recessiva". Dada essa assimetria, não deveríamos retirar o estímulo precocemente.
Considerando que Strauss-Kahn representa o FMI "predominantemente fiscal", suas palavras têm muito peso. Não há muita evidência de uma sólida elevação na demanda final do setor privado em países de alta renda. Enquanto essa situação se mantiver, existirá perigo numa retirada prematura do apoio fiscal. São necessários planos confiáveis de médio prazo para a consolidação fiscal, mas aqueles cuja implantação dependa das condições econômicas. Enquanto isso, a política monetária deve continuar sendo a de dar apoio.
No entanto, a saída é meramente o desafio mais iminente. Duas tarefas de prazo relativamente mais longo se aproximam: a reforma do setor financeiro e o reequilíbrio duradouro da demanda na economia mundial. Em nenhum dos dois pontos é possível sair otimista de Davos. Sejam quais forem os seus méritos, o anúncio unilateral do presidente Barack Obama da "regra Volcker" sobre operações de tesouraria foi um choque, apesar de alguns terem saudado o ímpeto político renovado. Mais uma vez, é questionável se o "programa de avaliação mútua" lançado pelos chefes de governo do G-20 em Pittsburgh em setembro obterá o apoio necessário. Mas um número excessivamente grande de países está dependendo de crescimento puxado por exportações como forma de equilibrar sua retirada de estímulo doméstico. Essa é uma receita para a estagnação. A Terra não pode, afinal, esperar manter superávits em conta corrente com o povo de Marte.
Isso nos deixa com uma grande questão: será possível sustentar uma economia mundial aberta? Representantes das economias emergentes continuaram solidamente a favor. No entanto, como Nicolas Sarkozy, o presidente da França, teve o prazer de observar no seu discurso de abertura, a crise financeira afetou a legitimidade da economia de mercado global perante muitos olhos ocidentais. Realmente, algumas vezes ele simplesmente soava como qualquer outro manifestante antiglobalização. Lawrence Summers, o principal assessor econômico de Obama, também destacou que "o que estamos vendo nos EUA e possivelmente em outros lugares é uma recuperação estatística e uma recessão humana". Na opinião dele, a combinação de desemprego elevado com "políticas mercantilistas" em partes do mundo dificulta a defesa do comércio liberal politicamente, ou, talvez, até intelectualmente. A menos que a recuperação comprove ser muito mais sólida do que o esperado, a alta taxa de desemprego persistirá nos países ocidentais, com todos os perigos políticos que isso acarreta.
Os maiores desafios, portanto, são políticos. Os líderes do mundo demonstraram uma capacidade impressionante de lidar com a crise. A vontade de cooperar, vista especialmente na ascensão do G-20, foi notável. Mas esse tipo de cooperação se torna muito mais difícil à medida que retornamos à política costumeira, especialmente considerando o alto desemprego e as profundas divisões políticas dentro dos EUA, ainda a potência hegemônica do mundo. A União Europeia continua ineficaz. De fato, a incapacidade da zona do euro de lidar com o fato de que a periferia não pode escapar da sua cilada fiscal sem sólida expansão na demanda no centro é prova disso. A China, igualmente, é introspectiva. Zhu prometeu reequilíbrio. Mas o que acontecerá após as medidas de estímulo atuais forem retiradas?
Temos um mundo globalizado, mas a política continua local. Em épocas de crise, a pressão para cuidar do primeiro domina o último. Mas agora enfrentamos uma missão diferente: a missão da convalescença e da sua associada volta às políticas de sempre. Ninguém pode imaginar que administrar essa transição comprovará ser fácil. Mas, como a balança de poder global continua se deslocando ano a ano, o desafio deve ser enfrentado. Se não for, a economia global e a cooperação global ainda poderão ir a pique. Esta é principal lição que aprendi em Davos.
Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT



China y EE UU ahondan sus diferencias por la infravaloración del yuan
El presidente norteamericano dijo ayer que iba a adoptar una posición comercial más dura con Pekín y criticó el tipo de cambio del yuan
JOSE REINOSO - Pekín - 04/02/2010
Como si de una enconada partida de ping-pong se tratase, Estados Unidos y China no han dejado de lanzarse en los últimos días acusaciones y advertencias alrededor de los numerosos puntos de fricción que presiden las siempre complejas relaciones entre los dos países, como el valor de la moneda china, Taiwan, Tíbet, las disputas comerciales y la censura en Internet.
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"Consenso de Pequim" brilha na crise e desperta temores
Recuperação chinesa exibe aspectos creditados a comando autoritário comunistaCriador de conceito diz que fórmula não é replicável, mas pode inspirar países a tomar rota distinta da democracia representativa ocidental ..... ...... ...... + 4 entradas ... .... ...



OS DESAFIOS DO FUTURO DA ECONOMIA - entrv da 2ª
Nobel pensa o caminho das pedras para os retardatários



País precisa equilibrar ações externas e internas. Mas não tem experiência nisso.
A próxima escalada da ChinaPor Michael Spence 11/02/2010
Com uma disponibilidade mais ampla de seguridade social, seguros e serviços, as poupanças preventivas chinesas deverão cair
A China começa a entrar em uma série de transições complexas, que assentarão as fundações para chegar à posição de país avançado, o que espera alcançar nos próximos 25 anos. Após 30 anos de crescimento sustentado e uma resposta notavelmente bem-sucedida à crise mundial, a autoconfiança chinesa está em alta. As lições que o governo poderia tirar da crise, no entanto, talvez não sejam os melhores guias no longo prazo.
A China depara-se com vários desafios paralelos e relacionados, que são cruciais para seu desenvolvimento interno, assim como para suas relações econômicas internacionais. Entre os desafios estão:
1) uma grande reestruturação microeconômica da economia para proteger a posição da classe média emergente;
2) uma mudança macroeconômica para elevar o consumo e renda das famílias e expandir a classe média;
3) a reversão da desigualdade de renda, agora em alta, por meio da redução do alto nível de poupança em relação aos investimentos e, portanto, da redução do superávit em conta corrente;
4) reduzir o crescimento futuro da intensidade de carbono e energia;
5) assumir maiores responsabilidades internacionais.
A China, de fato, chegou ao ponto em que seu impacto na economia mundial é importante de forma sistêmica. Chegou a esse ponto, contudo, com uma renda per capita muito menor do que qualquer predecessor sistemicamente importante. O motivo é que a China é, de longe, o país mais populoso do mundo a ter mantido uma forte taxa de expansão por 30 anos. Portanto, passar a lidar com sua própria influência internacional agora se soma a uma agenda política já complexa, em um momento em que a maioria dos países tem o luxo de manter um foco, em sua maior parte, doméstico.
A China precisa equilibrar essas prioridades internacionais e domésticas, mas possui pouca experiência histórica para guiá-la. (A Índia enfrentará esse problema em cerca de dez anos, enquanto continua com seu caminho de rápida expansão.)
Com renda per capita em torno a US$ 4 mil (mais pelo critério de paridade do poder de compra), partes importantes da economia chinesa já possuem, ou começam a ter, o status de classe média. É uma transição complicada, durante a qual muitos países perderam a força enquanto as transformações estruturais se atrasavam.
Por exemplo, setores chineses exportadores de uso intenso de mão de obra vêm perdendo sua vantagem competitiva. É preciso deixar que decaiam ou que se mudem para o interior (e acabem decaindo posteriormente). Serão substituídos por setores que dependam de mais de tecnologia e capital humano.
A renda disponível das famílias chinesas é de cerca de 60% da renda nacional na China e o índice de poupança desses grupos familiares é próximo a 30% da renda disponível. Esses números são, respectivamente, mais baixos e mais altos em comparação a outros países. Para a China, isso coloca o consumo dentro de uma faixa entre 40% e 45% do Produto Interno Bruto (PIB). Para capacitar o mercado doméstico a guiar o crescimento da renda e acelerar o crescimento da classe média, esses números precisam mudar.
A renda das famílias precisa subir e, com uma disponibilidade mais ampla de seguridade social, seguros e serviços, as poupanças preventivas deverão cair. Essas duas coisas sustentarão a transição da classe média ao expandir a função do mercado doméstico como motor do crescimento. Também ajudarão a reforçar a expansão diante da probabilidade de enfraquecimento da demanda mundial.
Ainda mais importante, no entanto, é que o forte crescimento do mercado doméstico, especialmente do setor de serviços, precisa substituir em grande parte o setor exportador como motor do emprego, colocando a população rural na economia moderna. À medida que o setor exportador entrar em setores de maior valor agregado, não exercerá mais essa função, como no passado.
O governo detém mais de 50% das estatais restantes, mas não precisa nem usar a renda. Uma grande parte dessas fontes de renda (empresas e governo) precisa ser redirecionada para o setor doméstico.
Alto crescimento e urbanização levaram a fortes aumentos de renda nas áreas urbanas e a elevações menores nas áreas rurais. Um grande grupo de trabalhadores e famílias migrantes (na ordem de 150 milhões a 200 milhões de pessoas) formalmente ainda é contabilizado em áreas rurais, mas na verdade são residentes urbanos marginais, com direitos e acesso a serviços limitados. O aumento nas tensões sociais resultante disso está sendo resolvido com a expansão dos serviços rurais, investimentos em infraestrutura urbana e regularização do status dos migrantes.
A China enfrentou desafios assombrosos no passado - e, em geral, superou as previsões dos céticos. Agora, no entanto, se depara com pressões e responsabilidades internacionais. O país, no entanto, também enfrenta um cenário externo que, ocasionalmente, é hostil à forma de governo do país; que algumas vezes minimiza ou deprecia a rápida ascensão de milhões de chineses para longe da pobreza; que tende a ver a economia mundial como um jogo em que se alguém ganha é porque alguém perdeu; e que, equivocadamente, atribui o sucesso econômico da China a políticas não cooperativas em áreas como a administração das taxas de câmbio.
A China precisa confrontar o desafio de promover uma reestruturação doméstica para sustentar o crescimento, enquanto defende o direito de se desenvolver sem ser penalizada por seu tamanho. Também precisa, contudo, assumir maior responsabilidade pelos desequilíbrios internacionais, pela estabilidade econômica e financeira e pela governança, além de representar os países em desenvolvimento menos poderosos. O resto do mundo tem muito em jogo dependendo do resultado dessa complexa tentativa de equilíbrio.
Michael Spence, premiado pelo Nobel de Economia em 2001, é professor emérito da Universidade Stanford e presidente da Comissão de Crescimento e Desenvolvimento. Copyright: Project Syndicate, 2010


Internacional: À frente de uma equipe de 18 pesquisadores e analistas que produzem informações sobre a economia e a política da China para 85 empresas globais, Jonathan Fenby diz que o governo do país receia excesso de liquidez, risco de inflação e aparecimento do capital especulativo. Por isso, decidiu pisar no freio do mercado interno, sem abrir mão de avançar nas exportações.


De Mao a Deng, e maisPor Marco Damiani, para o Valor, de São Paulo
12/02/2010
Jonathan Fenby: "O povo está orgulhoso de seu país e do crescimento econômico. De zero a dez, a chance de ocorrer uma nova Praça Tiananmen (manifestações estudantis no centro de Pequim, em 1989) é um, porque zero não dá para arriscar"
A explosão de um satélite meteorológico chinês a cerca de 100 quilômetros da superfície da Terra, meses atrás, passou despercebida por muita gente, mas tem tudo para ser lembrada como um dos gestos mais inusitados - e eficazes, ao que tudo indica - que explicam a atual escalada de controvérsias entre o país mais populoso do planeta e a maior potência econômica. A pulverização do aparelho espacial por um míssil desenvolvido e operado pelo exército chinês foi a maneira encontrada pela cúpula dirigente da China para mandar um recado ao governo americano, alguma coisa como "sim, nós também podemos".
"Todo o sistema de comunicação militar dos americanos está centrado em satélites", assinala o jornalista, escritor e pesquisador inglês Jonathan Fenby, autor do best-seller "The Penguin History of Modern China - The Fall and Rise of a Great Power, 1850-2009" (ainda sem tradução para o português), muito elogiado pela crítica, incluídas as avaliações da revista "The Economist" e pelo jornal "Financial Times". Fenby não tem dúvida de que, "com o sucesso do disparo, os chineses mostraram aos Estados Unidos que deram um bom passo à frente em termos de tecnologia militar, um dos pontos fracos de seu exército, e que estão preparados para um enfrentamento a qualquer tempo". Registre-se: os Estados Unidos responderam imediatamente, explodindo um dos seus próprios satélites no ano passado.
Fenby não aposta uma ficha na possibilidade de uma guerra entre as duas potências. Nas quase três horas em que conversou com o Valor, durante passagem por São Paulo, a lembrança do tiro ao alvo foi apenas uma entre muitas menções a fatos que acontecem na China e nem sempre podem ser observados e compreendidos a olho nu deste lado da muralha. "Os Bric como um todo não são fáceis de entender, mas a China é ainda mais opaca." É pela observação de aspectos cotidianos do país, acompanhamento de movimentos estratégicos do governo e uma rigorosa apuração dos números macroeconômicos que Fenby, por meio da sua Trusted Sources, presta serviços de pesquisas e análises sobre a China para grandes empresas globais. No Brasil, um dos seus clientes é a Vale, maior exportadora de minério de ferro para o país de 1,4 bilhão de habitantes, US$ 4,9 trilhões de PIB e estimados US$ 2,39 trilhões em reservas monetárias. "A simples leitura dos relatórios oficiais não é capaz de revelar para onde a China vai, e com ela o mundo."
Reuters
Percorrendo o interior da China, Fenby constatou que "fazer filhos" é opção que casais nem sempre escondem, apesar da lei que impõe restrições à natalidade
Repórter que cobriu a guerra do Vietnã, fez carreira nos jornais "Observer" e "Guardian" e na agência Reuters, Fenby montou uma ampla rede de fontes, contatos e amizades em território chinês. De funcionários de governo a chefes de aldeias, passando por professores universitários e profissionais liberais, sua trama informativa começou a ser tecida em 1995, quando assumiu o cargo de editor-chefe do "South China Morning Post", de Hong Kong - jornal de língua inglesa, com 100 mil exemplares diários e extremamente lucrativo, em razão de atrair forte publicidade empresarial. "Nosso público era a elite local, os 5% da população que conseguiam ler em inglês." Quando a China assumiu a possessão da ilha, em 2000, Fenby passou a receber mensagens do dono da empresa para suavizar a cobertura de assuntos internos do país. Nesse momento, entregou o cargo e decidiu avançar na garimpagem de informações sociais e econômicas que, imaginou, teriam valia para empresários interessados em fazer negócios com a China. Hoje, lidera uma equipe de 18 pesquisadores e analistas divididos entre a Inglaterra e os Estados Unidos. Sua empresa fornece relatórios com diferentes periodicidades para 85 clientes empresariais globais de 12 países.
Fenby vai à China de três a quatro vezes por ano, para verificar in loco se os números levantados à distância pelos pesquisadores dialogam com a realidade do país. Na contramão de diferentes analistas, ele não acredita que a China vá crescer outros 10% em 2010, a exemplo do que fez no ano passado. Suas previsões estabelecem que o PIB chinês será de 6% a 7% maior do que o verificado em 2009. "Até mesmo a China tem um limite para crescer de maneira sustentável."
AFP
Para Fenby, as atitudes dos Estados Unidos em relação a problemas internos chineses são compreensíveis, mas também refletem uma certa ignorância a respeito do que seria mais adequado fazer (na foto, os presidentes Hu Jintao e Barack Obama, em Pequim)
Para justificar a projeção, Fenby lança mão do cruzamento de dados. "No ano passado, houve um investimento estatal de 40% do PIB em obras de infraestrutura, mas isso não irá se repetir em 2010." Fenby trabalha com a informação de que a meta de investimentos no setor estabelece um recuo de 20% sobre o realizado no ano passado. Outro dado, segundo ele ainda mais importante, demonstra a decisão oficial de refrear as taxas de crescimento. "As concessões oficiais de crédito às empresas e ao consumidor somaram 1,3 trilhão de dólares em 2009, o dobro do que fora emprestado em 2008, mas já existe a determinação de tornar esse volume 25% menor este ano." Fenby acrescenta que obteve essa indicação no início deste mês, por meio da detalhada leitura da imprensa local. "Muita informação vem em linguagem cifrada, em notas de rodapés nos jornais ou por meio de poucas palavras de porta-vozes. Os líderes sabem que até seria possível, mas simplesmente não querem crescer a uma taxa de 14% este ano, porque temem problemas como liquidez excessiva no sistema financeiro e bolhas de inflação."
É certo, de acordo com Fenby, que a política de incentivo às exportações, em grande parte favorecidas pela administração do câmbio, vai prosseguir. Não há indícios de que Pequim pretenda valorizar o yuan, como pretendem os Estados Unidos. Washington argumenta que a gestão cambial, como é feita hoje, garante aos produtos chineses um grau de competitividade imbatível, que termina por determinar a perda de empregos nos Estados Unidos. "Isso [a valorização da moeda], entre outras consequências, poderia atrair o investimento especulativo para o país, e os chineses também não querem correr esse risco", explica Fenby.
Fenby enxerga na continuada aceleração das exportações chinesas um fator que pode mudar a atual configuração do comércio mundial, com aumento do protecionismo. Já agora, até mesmo países como o Brasil, que defendem a queda de barreiras de acesso a mercados, impõem restrições à entrada de produtos chineses. O movimento protecionista ainda é limitado, porém, porque no outro prato da balança há o fato de as importações chinesas de commodities, especialmente, continuarem a crescer. A demanda de aço, por exemplo, prossegue em alta, e está prevista a abertura de novas siderúrgicas no país, com o que também será possível responder às pressões por criação de empregos dos governos provinciais. Mas a mesma China que comprou cerca de 11 milhões de toneladas de aço do mundo em janeiro de 2004 - com perto de 2,5 milhões de toneladas exportados pelo Brasil -, consumiu mais de 60 milhões em janeiro deste ano, dos quais quase 14 milhões de origem brasileira.
A tese de que a China tornou-se, ou está se transformando num país de economia de mercado não tem respaldo na realidade, diz Fenby. "As tarifas de água, luz e energia são fixadas pelo governo central, assim como a taxa de câmbio. Os investimentos são dirigidos pelo Estado e toda a economia está centralizada em quatro grandes bancos estatais, o da China (central), o da Agricultura, o da Construção Civil e o IBCB, de investimentos."
Esse sistema satisfaz a grande maioria da população do país, acredita Fenby, possivelmente o jornalista estrangeiro com maior número de fontes em território chinês. "O povo está orgulhoso de seu país e do crescimento econômico. De zero a dez, a chance de ocorrer uma nova Praça Tiananmen (manifestações estudantis no centro de Pequim que repercutiram em todo o mundo, feitas em 1989) é um, porque zero não dá para arriscar."
Fenby conta que nem tudo transcorre na China com estrita observância do que o governo determina. A lei que estabelece restrições à natalidade, por exemplo, impondo o limite de um filho por casal, nem sempre é levada ao pé da letra, ao que parece. "No interior da província de Zhe Jiang, perguntei a um líder de uma aldeia pobre porque havia tantas crianças pequenas pelas ruas, e ele me disse que se houvesse luz elétrica e televisão as pessoas teriam um alternativa ao sexo, mas como o progresso não havia chegado, faziam filhos." E há quem se sinta à vontade para afrontar de público a sisudez do regime. Numa casa noturna em Xangai, o repórter encontrou um humorista que satirizava a presença dos líderes chineses em ocorrências como terremotos. "´Desculpe, estou atrasado´, dizia ele, apertando a mão das pessoas em sofrimento como se via na tevê", recorda Fenby.
Entre os líderes do regime, Fenby aposta na ascensão, em 2012, de Li Kejiang para o cargo de primeiro-ministro, e de Xi Jinping para a chefia do Partido Comunista. "Isso já está certo." Ambos fazem parte da atual cúpula do Estado chefiado por Hu Jintao, que acumula as funções de secretário-geral do Partido Comunista, presidente do país e chefe das forças armadas, e Wen Jiabao, primeiro-ministro e chefe de governo. "Não há grandes divergências políticas ali", acredita o jornalista, que fez esse mesmo relato, pessoalmente, a empresários reunidos este ano no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça.
Questões como a censura ao Google, a manutenção do Tibete como região autônoma pertencente à China e a perseguição a muçulmanos não sensibilizam a estrutura de governo. "Quando batem nessas teclas, acreditando que poderão fazer a China mudar suas posições, Barack Obama e Hillary Clinton apenas mostram que não sabem como lidar com o país, seus dirigentes e seu povo", diz Fenby. "É claro que os Estados Unidos têm de manifestar suas posições liberais, mas esses temas não sensibilizam a população, que em sua maioria considera os monges do Tibete no máximo como velhinhos extemporâneos, vê os muçulmanos na categoria de invasores e mal sabe o que se pode fazer por meio do Google."
No livro que o tornou um escritor de sucesso, Fenby defende a tese de que a China foi o país que mais sofreu, em todo o planeta, nos últimos 200 anos. Mas observa que também é o de maior capacidade de superação e crescimento dos últimos 30 anos. Um salto que, para ele, deve ser creditado a dois dirigentes políticos: Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping. "Mao mudou a China, mas Deng mudou o mundo", sentencia Fenby, agora empenhado na construção de uma biografia de Charles de Gaulle.




For more than 50 years, the United States has maintained its global economic edge by being better than any other country at discovering new knowledge, inventing new technologies and exploiting their commercial value. Today, according to surveys done by organizations such as the National Intelligence Council, American dominance is slipping as Asian countries increase their investments in R&D and challenge our role as innovation leader. Among the countries competing with the U.S. in science and technology, perhaps no other is as challenging as China. Series: Science Futures [7/2005] [Public Affairs] [Science] [Show ID: 9896]



Comércio: USTR acusa Pequim de abusar de regulamentações e padrões que prejudicariam empresas americanas
O que é o 'novo protecionismo' chinês?Dexter Roberts, BusinessWeek01/04/2010
Até não muito tempo atrás, os executivos ocidentais em viagem pela China podiam esperar recepções calorosas e banquetes com brindes intermináveis de maotai.
Quase uma década depois de a China entrar para a Organização Mundial do Comércio (OMC), muitas empresas estrangeiras afirmam que a recepção calorosa que eles tinham antes esfriou. A China ainda pode ser altamente lucrativa, mas há quem questione por quanto tempo isso vai durar, uma vez que Pequim vem mudando as regras para estimular as companhias domésticas, especialmente as estatais. Um novo programa de aquisição de bens e serviços do governo conhecido como "inovação local" prevê regras que favorecem as empresas locais: ele poderá impedir vendas de bilhões de dólares por ano, segundo Joerg Wuttke, diretor da Câmara de Comércio da União Europeia na China.
O governo chinês impôs padrões rígidos para tudo, de telefones celulares a automóveis, sempre se referindo a eles de uma maneira que proporciona uma vantagem aos produtores domésticos. Uma lei de patentes que foi revista recentemente poderá forçar as companhias estrangeiras a transferir tecnologias importantes para os burocratas chineses. E regras antimonopólio vêm sendo usadas para limitar o acesso dos estrangeiros a setores como os de máquinas para construção e energia. "Eles desistiram de proporcionar condições iguais para todos, para beneficiar suas próprias companhias", diz Wuttke. As multinacionais "estão vendo a oportunidade dourada representada pela China se transformar em uma miragem", diz o diretor de uma grande empresa de tecnologia chinesa.
Ontem, o escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR Office) disse em um relatório que as práticas de regulamentação excessiva e de imposição de padrões estão prejudicando as companhias americanas.
Em janeiro, a Câmara do Comércio dos EUA, a Business Software Alliance e mais de uma dezena de outros grupos que representam centenas de multinacionais, como Microsoft, Boeing, Motorola, Caterpillar e United Technologies, mandaram uma carta à Casa Branca alertando para "esforços sistemáticos da China para desenvolver políticas que desenvolvem suas empresas em detrimento das empresas americanas". Os signatários pediram ao governo americano "uma atenção urgente à política de desenvolvimento da China, que representa um perigo imediato para as companhias dos EUA".
Mas o que seria esse novo protecionismo? Os chineses olham para o cenário de sua economia hoje e percebem que muita coisa pode ser melhorada. Depois de 30 anos atuando como "oficina" do mundo, produzindo principalmente produtos de baixo valor para marcas estrangeiras e mercados distantes, eles agora querem subir na cadeia de valor. Até agora eles foram capazes de capturar apenas uma fração do valor de um tênis da Nike ou o iPhone da Apple. E eles sabem que possuem um histórico fraco de criação de marcas globais.
Além da fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei, a gigante dos notebooks Lenovo, a comerciante de ferramentas Haier e talvez a fabricante de produtos eletrônicos de consumo TCL e as fabricantes de automóveis Geely e Chery, os chineses possuem poucas campeãs. Mesmo em casa, a General Motors (GM) e a Volkswagen (VW) disputam a liderança, enquanto a Nokia vende mais telefones celulares na China do que qualquer outra companhia, com uma participação de mercado de 32,9%. "As pessoas sentem que as marcas estrangeiras abocanharam uma participação de mercado muito grande", diz Wang Yong, diretor do Centro de Economia e Política Internacional da Universidade de Pequim.
A China tem hoje um superávit comercial de US$ 227 bilhões com os EUA, mas sua capacidade industrial vem lhe provocando problemas imensos com a poluição e o desperdício de energia. É compreensível que os chineses queiram algo melhor. "Eles querem ter companhias internacionais sofisticadas e querem dar a elas um empurrão", diz Kenneth Lieberthal, do Brookings Institution.
Além disso tudo, a China saiu relativamente incólume da crise financeira mundial. Como resultado, analistas políticos afirmam que os chineses olham para o resto do mundo e sentem-se bem menos intimidados e admirados do que antes. Há também uma sensação de que a liderança prévia do presidente Jiang Zemin e do primeiro-ministro Zhu Rongji foi muito condescendente em seu desejo de entrar para a OMC - com medidas como redução das tarifas sobre os produtos agrícolas e o fim das exigências de nacionalização para as montadoras estrangeiras. Agora, a China sente que precisa impor seus interesses econômicos.
Finalmente, a China observa como outros países - especialmente os EUA - usam padrões, regras e políticas de estímulo à compra de produtos locais, para construir seus próprios setores. Pequim sente-se mais que no direito de fazer o mesmo. Se as companhias estrangeiras reclamam publicamente - o que não fazem com frequência, já que o governo chinês tem se mostrado capaz de usar inspeções, atrasos nas aprovações e os tribunais para tornar miserável a vida daquelas que reclamam -, a China agora geralmente diz: "Mostrem onde violamos as regras da OMC".
Alguns analistas de cabeça fria classificam as atuais reclamações de exageradas. Charles Freeman, um especialista em China do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington, afirma que Pequim não pode impedir a entrada dos investidores estrangeiros porque precisa de sua propriedade intelectual, pois a tecnologia chinesa está atrás da ocidental, da japonesa e da coreana em muitos setores importantes.
Mas os atritos continuam aumentando. O ponto que poderá criar mais problemas é a briga com a moeda chinesa, o yuan. Em 16 de março, um grupo de senadores americanos anunciou um projeto de lei que pretende impor restrições duras contra a China pela manipulação que ela vem exercendo sobre sua moeda para incentivar as exportações. Lieberthal, do Brookings, diz que os pontos econômicos dessa argumentação são fracos: uma valorização de 20% do yuan baratearia apenas os custos de importação da China, no caso do petróleo e do minério de ferro, que ela usa para fabricar produtos que são exportados, de modo que os custos finais dos produtos direcionados para os EUA subiriam apenas um pouco.
Os esforços para o desenvolvimento de uma tecnologia local é o que realmente está preocupando as empresas americanas. Pequim vem elaborando "políticas bem diretas de favoritismo à industria estatal chinesa, que estão prejudicando as companhias estrangeiras", afirma James McGregor, autor de um livro sobre investimentos na China continental e ex-presidente da Câmara do Comércio Americana na China. "Estamos vendo uma grande mudança."
Novas regras que dão preferência aos fornecedores chineses para projetos do governo estão tornando difícil para a GE e outras fabricantes estrangeiras de turbinas eólicas conseguirem contratos na China, um mercado avaliado em cerca de US$ 14 bilhões por ano. A Hewlett-Packard (HP) diz que a agência de proteção ao consumidor da China vem criticando a maneira como a companhia conduz suas garantias e reparos em certos notebooks. É a primeira vez que a HP tem esse tipo de problema.
Em 16 de março, funcionários do governo da Província de Zhejiang confiscaram roupas feitas na Europa pela Versace, Hugo Boss e outras marcas de luxo. Uma agência do governo disse que muitas peças não passaram em testes de qualidade ou segurança, alegação que foi enfaticamente rejeitada pelas companhias. E, no ano passado, companhias de correio expresso internacionais foram impedias de fazer entregas domésticas de cartas e documentos. A regra "é injusta e é ruim para a China manter as companhias internacionais fora", disse a analistas D. Scott Davis, presidente do conselho de administração da UPS.
A entrada da China na OMC deveria ter facilitado as coisas para os investidores estrangeiros, que já foram cortejados com isenções fiscais e terrenos gratuitos. Depois que o presidente Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao assumiram, em 2002, as coisas começaram a esfriar. Isso está deixando as multinacionais bem menos otimistas com a China. Embora os estrangeiros tenham conseguido lucros substanciais na China continental, no ano passado a confiança em relação aos ganhos futuros foi abalada, segundo apontam pesquisas separadas realizadas pelas câmaras do comércio dos EUA e da Europa. Os dois grupos informaram que a maior parte de seus membros ganha dinheiro na China, mas as fileiras das empresas lucrativas estão diminuindo. Apenas um terço das companhias europeias afirma agora que estar otimista com as perspectivas de lucros, contra metade no ano passado. Uma pesquisa separada feita pela Câmara Americana do Comércio em Xangai mostra que 39% das empresas disseram que as receitas caíram em 2009, o maio número desde 1999.
Medidas do tipo olho por olho contra as fabricantes chinesas de pneus e tubos de aço e o frango americano poderão desembocar em uma guerra comercial declarada. Washington avalia se vai responder ao favoritismo chinês com medidas punitivas contra Pequim na OMC e na Comissão Internacional do Comércio dos EUA, segundo um funcionário graduado do Departamento do Comércio dos EUA. "O que me preocupa é que as relações sino-americanas estão se tornando mais antagonistas", afirma Kai-Fu Lee, um ex-executivo graduado da Microsoft e do Google na China. "Isso não é saudável."
Grande parte do mal-estar tem origem na política de inovações local. Introduzida primeiro como uma meta nacional mal definida, vários anos atrás, a iniciativa ganhou velocidade no quarto trimestre do ano passado, quando Pequim começou a oferecer isenções fiscais e subsídios para as companhias chinesas, dando a elas preferência nos contratos com o Estado. Os governos provinciais e municipais de toda a China vêm emitindo listas dos produtos que podem ser comprados por suas agências - de celulares a ervas medicinais tradicionais. Raramente uma dessas listas inclui produtos feitos por companhias estrangeiras, mesmo que fabricados na China. Xangai, por exemplo, divulgou uma lista de mais de 500 produtos aprovados - PCs da Lenovo, painéis solares da Chaori Solar e mais. Apenas dois itens são de empresas com ligações estrangeiras. Tecnicamente, essas políticas não violam as regras da OMC, uma vez que a China ainda não assinou um acordo que cubra as aquisições de bens e serviços pelo governo. Pequim diz que pretende assinar esse acordo neste ano, o que não significa que isso irá acontecer, já que solicitou um período de ativação de 15 anos.
Uma questão importante é se a China vai definir as aquisições de bens e serviços do governo a ponto de elas incluírem escolas, hospitais e empreendimentos estatais. Uma definição ampla poderá colocar bilhões de dólares em vendas de produtos de tecnologia fora do alcance das companhias não-chinesas. "Basicamente, essas regras vão manter afastadas não só as companhias americanas que estão aqui, mas também as vendas em bloco das empresas americanas que operam na China", diz John Frisbie, presidente do US-China Business Council, um grupo lobista de Washington que representa mais de 200 multinacionais como o Citigroup, IBM e Microsoft. Pequim, diz ele, "foi longe demais".
Uma lei de patentes que entrou em vigor em outubro inclui uma regra que forçará as empresas a requererem patentes ou marca registrada na China antes de fazerem isso nos mercados internacionais, se elas quiserem se qualificar para as aquisições de bens e serviços pelo governo. As companhias afirmam que isso torna impossível vender qualquer produto desenvolvido fora da China e daria aos burocratas chineses acesso a segredos comerciais. A lei poderá forçar empresas que usam patentes a "competir de maneira injusta" - conforme definido por uma medida vaga de 2008 -, liberando as patentes para uso pelas concorrentes. Raramente as companhias estrangeiras recuam com estardalhaço por temerem irritar os chineses. Um executivo de uma companhia de entrega expressa internacional diz que as empresas globalizadas do seu setor poderão ganhar uma ação na OMC envolvendo as regras do governo chinês que as impedem de realizar o serviço de entrega de cartas no país, mas ele diz que jamais entraria sozinho com uma ação; é quase certo que, se fizesse isso, sua companhia sofreria constrangimentos. Muitos estrangeiros evitam tomar ações legais porque sentem que o Judiciário favorece as empresas domésticas. "Reclamamos, mas não processamos", diz Mark Cohen, um advogado da Jones Day.
Essa atitude foi reforçada em abril, quando a fabricante francesa de produtos eletrônicos Schneider Electric chegou a um acordo numa disputa por patente que já durava três anos com a Chint Group, uma fabricante de transformadores e interruptores, por US$ 23 milhões. Advogados ocidentais familiarizados com o caso afirmam que na verdade foi a Chint que roubou tecnologia da Schneider, e não o contrário. Thomas Pattloch, diretor de Protocolo da Internet da Delegação Europeia em Pequim, diz que o caso ilustra as chamadas "junk patents" usadas pelos chineses contra companhias cujas patentes eles infringiram. "A corte fez tudo o que podia para ignorar as provas apresentadas pela Schneider", afirma Pattloch.
O gosto de Pequim pelas regras criou outra grande barreira. Todos os anos a China emite 10 mil novos padrões para setores que vão dos celulares à indústria automobilística. Isso é mais do que o registrado em todo o resto do mundo, afirma Klaus Ziegler, o funcionário da delegação da Comissão Europeia na China encarregado de padronização. As regras, criadas ostensivamente para proteger a saúde e a segurança dos consumidores e garantir que os produtos funcionem na China, são sempre elaboradas de uma maneira que beneficiam as companhias chinesas, afirmam investidores estrangeiros.
A Continental da Alemanha precisa lutar com regras que exigem que todos os pneus vendidos no país tenham suas letras de identificação e especificação impressas em caracteres chineses. Embora haja um padrão mundial para essas especificações, os chineses insistem em suas próprias regras - de modo que a Continental e outras fabricantes de pneus precisam produzir uma grande quantidade de moldes especiais que custam quase US$ 70 mil cada. Isso não é um problema muito grande para pneus que são vendidos em grandes quantidades, mas pode acabar com os lucros quando se trata de produtos especiais, como pneus para veículos industriais.
Os fabricantes de fogões a gás enfrentam problemas parecidos. Enterrada em 50 páginas de regras para os utensílios que funcionam a gás, está uma cláusula que diz que os queimadores precisam suportar temperaturas acima de 700º C. Isso é mais que o estabelecido em outras partes do mundo e significa que os queimadores não podem ser feitos de alumínio - o material mais comumente usado pelos fabricantes europeus. O resultado: vários fabricantes italianos foram fechados, afirma Ziegler, o oficial de padrões da Comunidade Europeia. "A China eliminou os fabricantes italianos", diz ele.
A pirataria de softwares na China é "incontrolável" e "priva as companhias de softwares dos EUA de bilhões de dólares todos os anos", disse Robert Holleyman, presidente da Business Software Alliance. Num outro lado do problema dos softwares, um executivo familiarizado com a fabricante de softwares alemã SAP diz que Pequim oferece isenções e outros incentivos para companhias que compram produtos da companhia concorrente local Kingdee.
Na área de serviços, continua sendo difícil dobrar a China. O setor de seguros, por exemplo, deveria ter sido aberto depois que a China entrou para a OMC. Mesmo assim a Chubb, a Liberty Mutual e a Zurich podem solicitar a abertura de só uma nova agência por vez - e demoram mais de 18 meses para conseguir a aprovação. "Existe essa mentalidade de que eles querem ajudar as companhias locais", diz um executivo de uma seguradora estrangeira. "E a maneira mais fácil de fazer isso é protegê-las da concorrência externa."
Alguns ocidentais creem que todos esses problemas têm origem nas negociações da China para entrar na OMC. Na corrida para conseguir o acesso a um mercado enorme, muitas coisas não foram feitas de maneira adequada as pessoas simplesmente esperaram que Pequim fosse interpretar o acordo de uma maneira que os estrangeiros considerariam justa. "Estavam todos concentrados na enormidade do que estava sendo conseguido, colocando a China na OMC", diz um executivo de um banco ocidental que opera em Xangai. "Eles acharam que poderiam dar um jeito nos detalhes depois."
(Copyright© 2010 The McGraw-Hill Companies Inc.)


Xangai espera 70 milhões de visitantes para exposição tecnológica
01/04/2010
Os organizadores da Shanghai World Expo-2010 disseram esperar atrair mais de 70 milhões de visitantes chineses e estrangeiros durante os seis meses de exposição, que se inicia em maio. Se confirmada a previsão, seria um recorde na história das exposições mundiais. As autoridades chinesas esperam usar a Expo-2010 como vitrine para tecnologias desenvolvidas pelo país. O vice-prefeito de Xangai e vice-diretor da comissão executiva da Expo-2010, Yang Xiong, disse que a construção do parque de exposições está quase no fim e os trabalhos de disposição das exposições nos pavilhões temáticos estão em bom andamento (na foto, operários trabalham no pavilhão chinês). Segundo Yang, o governo municipal vai aumentar a segurança nas entradas do parque e nos meios do transporte público.



Para a China, o maior perdedor na crise financeira internacional é o Tio Sam.


A arrogância da potência chinesa
Por Brahma Chellaney

05/07/2010
Para a China, o maior perdedor na crise financeira internacional é o Tio Sam
O sucesso gera confiança e o sucesso rápido gera arrogância. Em poucas palavras, esse é o problema que tanto Ásia como Ocidente enfrentam com a China, algo que voltou a ser demonstrado no encontro de cúpula do G-20 no Canadá. A ascensão de seu poder político e militar vem encorajando o governo da China a buscar uma política externa mais forte. Tendo pregado anteriormente o lema da "ascensão pacífica", a China agora começa a tirar as luvas, convencida de que ganhou os músculos necessários.
A abordagem tornou-se mais pronunciada com a crise financeira mundial iniciada no outono setentrional de 2008. A China interpretou a crise como símbolo do declínio da "marca" anglo-americana de capitalismo e do enfraquecimento da força econômica dos Estados Unidos. Isso, por sua vez, fortaleceu sua crença dual - de que seu tipo de capitalismo, guiado pelo Estado, oferece uma alternativa crível e que sua ascendência mundial é inevitável.
Analistas chineses assinalam com regozijo que EUA e Grã-Bretanha - após terem entoado por tanto tempo a canção "liberalize, privatize e deixe os mercados decidirem" - ao primeiro sinal de perigo acabaram encabeçando o movimento de resgate governamental de seus grandes grupos financeiros. Em contraste, o capitalismo guiado pelo Estado proporcionou estabilidade econômica e forte crescimento à China, permitindo-lhe superar a crise mundial.

De fato, apesar das preocupações de sempre sobre o sobreaquecimento da economia, as exportações e vendas no varejo da China estão em expansão e suas reservas internacionais aproximam-se agora de US$ 2,5 trilhões, mesmo com o nível alarmante dos déficits comercial e fiscal dos EUA. Isso ajudou a reforçar a fé da elite chinesa na fusão do capitalismo estatal e da política de autocracia da China.
O maior perdedor na crise financeira internacional, na visão da China, é o Tio Sam. O fato de os EUA continuarem na dependência de a China comprar bilhões de dólares em bônus do Tesouro todas as semanas para financiar o déficit escancarado no orçamento é um sinal da mudança no poder financeiro mundial - que a China se certifica de usar para ter ganhos políticos nos próximos anos.
Os holofotes atualmente podem estar voltados para as mazelas financeiras da Europa, mas na leitura chinesa o quadro mais amplo é o de que o endividamento e déficits crônicos dos EUA simbolizam seu relativo declínio. Agreguem a esse quadro as duas guerras que os EUA travam no exterior - uma das quais vem ficando candente e parece ser cada vez mais impossível de vencer - e o que vem à mente entre os líderes da China é a advertência do historiador Paul Kennedy sobre a "superextensão imperial".
Com esse pano de fundo, a crescente assertividade da China não é surpresa para muitos. O conselho de Deng Xiaoping - "Esconda suas capacidades e aguarde seu momento" - não parece ser mais relevante. Hoje, a China não se sente tímida em mostrar sua capacidade militar e declarar-se em múltiplos fronts.
Como resultado, novas tensões surgem na relação entre China e Ocidente, o que ficou em clara evidência no encontro de cúpula de Copenhague sobre as mudanças climáticas, onde a China - maior poluidor do mundo, com a maior taxa de crescimento de emissões de gás carbônico - astutamente desviou-se das pressões ao esconder-se atrás dos países em desenvolvimento. Desde então, a China intensificou as tensões ao continuar manipulando o yuan chinês, mantendo um superávit comercial excepcionalmente alto e restringindo a entrada de bens industrializados de empresas estrangeiras em seu mercado doméstico.
Em questões de política e segurança, a China não despertou menos receios. Por exemplo, a expansão do papel naval da China e suas reivindicações marítimas ameaçam colidir com os interesses dos EUA, incluindo a ênfase tradicional dos americanos na liberdade dos mares.

A simples verdade é que as mazelas econômicas e militares dos EUA estão limitando suas opções de política externa perante a China. Os EUA parecem mais relutantes do que nunca em exercitar a alavancagem que ainda possuem para pressionar a China a corrigir políticas que ameaçam distorcer o comércio exterior e alimentar imensos desequilíbrios comerciais, além de desencadear maior concorrência por matérias-primas escassas.
Ao manter sua moeda subvalorizada e inundar os mercados mundiais com bens artificialmente baratos, a China segue uma política predatória de comércio externo. Isso mina mais a industrialização do mundo em desenvolvimento que a do Ocidente.
Ainda assim, os EUA evitam qualquer tipo de pressão sobre a China. A política atual dos EUA contrasta com a do país nos anos 70 e 80, quando o Japão emergiu como potência econômica mundial. O governo do Japão manteve o iene subvalorizado e ergueu barreiras encobertas aos bens externos, o que desencadeou fortes pressões - e coerções periódicas - pelos EUA em busca de concessões japonesas. Hoje, os EUA não têm como adotar a mesma abordagem com a China, em grande parte porque a China também é uma potência militar e política e porque os EUA dependem do apoio chinês em uma série de questões internacionais - da Coreia do Norte e Mianmar ao Irã e Paquistão. Em contraste, o Japão continuou uma potência econômica totalmente pacifista.
É de importância fundamental o fato de a China ter se tornado uma potência militar mundial antes de ser uma potência econômica. O poderio militar foi conquistado por Mao Tsé-tung, o que permitiu a Deng concentrar o esforços em expandir com rapidez a força econômica do país.
Sem a segurança militar criada por Mao, poderia não ter sido possível que a China desenvolvesse força econômica na escala que desenvolveu. Na verdade, o crescimento de 13 vezes da economia nos últimos 30 anos produziu recursos ainda maiores para a China afiar suas garras militares.
A ascensão da China, portanto, é tanto obra de Mao como de Deng. Porque se não fosse o poder militar chinês, os EUA tratariam a China como outro Japão.
Brahma Chellaney é professor de Estudos Estratégicos no Center for Policy Research, em Nova Déli, e autor de "Asian Juggernaut: The Rise of China, India and Japan". (Rolo compressor asiático: a ascensão de China, Índia e Japão).



Government and business in China

The hidden costs of state capitalism ## Portug







An oil spill off China

Multinationals, it turns out, are evil after all


Sep 1st 2011, 13:46 by J.M. | BEIJING




Privatisation in China

Chinese companies, like companies everywhere, do best when they are privately run. In China, however, the state is never far away




IN 1992 two Chinese cities, one just south of Beijing, the other just north of Hong Kong, were in desperate shape even by the standards of a desperately poor country. Their municipally run companies were in danger of bankrupting not only themselves but the cities too. Zhucheng, near Beijing, was best known as the birthplace of Jiang Qing, Mao Zedong’s despotic, doctrinaire fourth wife, who died in jail in 1991. Two-thirds of its revenues were being eaten by corporate losses. Shunde, a small city in Guangdong, was buried in debt.
Meanwhile, the authorities in Beijing were becoming concerned that the state banking system, already creaking under the weight of bad debt, would be unable to bear even more. With the quiet acquiescence of the central government, Zhucheng and Shunde ignored doctrine, old laws and 40 years of failed policies in search of a better approach.
In a carefully constructed phrase subsequently endorsed, in 1993, by the all-powerful State Council, the two cities engaged in gaizhi, which means “changing the system” and implies the diversification of ownership. Put more simply, in words that even now the Chinese government cannot bring itself to utter, they started to privatise many of their companies. They thus began one of the Chinese state’s first attempts to change its relationship with its enterprises. Jiang Qing would not have approved.
At first Shunde and Zhucheng turned their firms over to employees. In 1997, again before a broader shift in national policy, the two began selling companies directly to existing managements. Shunde, in particular, thrived. Two of the companies that emerged, a maker of bottle caps and a trader of duck feathers, are now among the world’s largest appliance manufacturers, Midea and Galanz. Other factories have spread like wild flowers among what were once rice fields and fish farms.... segue....



Carta IEDI n. 482 -
A Transformação da China em Economia Orientada à Inovação
Parte 1
Publicado em 26/08/2011
A China planeja se tornar um dos países-líderes mundiais em tecnologia e inovação até 2020.


Publicado em: 16/09/2011
A China planeja se tornar um dos países-líderes mundiais em tecnologia e inovação até 2020.


Estamos dando sequência na presente edição da Carta IEDI à divulgação do estudo sobre a política de inovação na China. Desde 1978 quando iniciou sua reforma econômica, a China vem reduzindo rapidamente sua distância em relação aos países de economia avançada. O sucesso da estratégia chinesa de catching-up se expressa em diversos indicadores. Em 2010, por exemplo, a China, que em termos do produto interno bruto (PIB) em paridade do poder de compra já ocupava o segundo lugar desde 2001 atrás apenas dos Estados Unidos, tornou-se também a segunda maior economia mundial em termos do PIB em dólar corrente.

Em ciência, tecnologia e inovação (C, T & I), a ascensão da China tem sido especialmente impressionante. Desde 1999, os investimentos chineses em pesquisa e desenvolvimento (P&D) crescem em média 20% por ano, tendo alcançado 1,44% do PIB em 2007, convergindo rapidamente para a média de 2,1% do grupo dos principais países avançados. A meta é elevar as despesas com P&D para 2,5% do PIB em 2020. A emergência da China como potência em tecnologia e inovação é o objeto do presente estudo.

A China registra um notável desempenho na solicitação de patentes no exterior, indicador da aplicação do conhecimento científico. O número de patentes de invenções obtidas junto ao escritório americano de patentes e marcas (USPTO, na sigla em inglês) atingiu 2.657 em 2010 (90 em 1999). Já o número de solicitações chinesas de patentes internacionais no âmbito do Tratado de Cooperação de Patentes (PCT, na sigla em inglês), que garante proteção às invenções domésticas em 142 países, mais do que triplicou entre 2006 e 2010, levando a China da oitava para a quarta posição do ranking, ultrapassando a Coreia do Sul, a França, o Reino Unido e a Holanda e reduzindo o diferencial em relação à Alemanha, terceiro lugar doranking, atrás dos Estados Unidos e do Japão.



Special report: The world economy Sep 24th 2011

A game of catch-up

The shift in economic power from West to East is accelerating, says John O’Sullivan. The rich world will lose some of its privileges


QUARRY BANK MILL is a handsome five-storey brick building set in the valley of the river Bollin at Styal, a small English village a few miles south of Manchester. It was built in 1784 by Samuel Greg, a merchant, who found profit in supplying cotton thread to Lancashire’s weavers. The raw cotton shipped from America’s slave plantations was processed on the latest machinery, Richard Arkwright’s water frame. Later Greg extended the factory and installed coal-fired steam engines to add to the water power from the Bollin. All this gave a huge boost to productivity. In 1700 a spinster with a pedal-driven spinning wheel might take 200 hours to produce a pound of yarn. By the 1820s it would take her around an hour.
Greg’s mill was part of a revolution in industry that would profoundly alter the world’s pecking order. The new technologies—labour-saving inventions, factory production, engines powered by fossil fuels—spread to other parts of western Europe and later to America. The early industrialisers (along with a few late developers, such as Japan) were able to lock in and build on their lead in technology and living standards. ...........SEGUE............

Anna Jaguaribe 16 de Junho de 2011


"O Brasil precisa aprender a manipular a China"
por Por Cristian Klein | Do Rio
Valor Econômico - 02/01/2012
A pressão inflacionária e da nova classe média que chega ao mercado consumidor - com exigência de produtos a baixo custo - tornarão as medidas de proteção à indústria brasileira em relação à China inviáveis e meros paliativos. Esta é a opinião do coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio, Matias Spektor, para quem a melhor solução para o Brasil enfrentar o desafio chinês é criar uma grande operação diplomática de aproximação ao país asiático. "O Brasil precisa aprender a manipular a China", afirma Spektor, que defende a necessidade da criação de uma embaixada "possante", com funcionários que falem mandarim e conheçam os centros de poder de Pequim.
Para Matias Spektor, o Brasil precisa deixar de ter medo. Seja diante da China - há uma crescente sinofobia no país, avalia - ou de outras potências, pois também está em bom momento. Precisa "entrar no radar" dos Estados Unidos. Deve assumir os riscos embutidos no projeto de ocupar uma cadeira do Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Vai ter pressão naturalmente. Mas se não quer brincar, não desce para o playground", diz.
Spektor afirma que a presidente Dilma Rousseff acertou, em seu primeiro ano, ao visitar a China, a Argentina e receber o presidente americano Barack Obama, para uma distensão do péssimo clima que marcou o fim do governo Lula. Em sua opinião, Dilma já marcou uma guinada em relação ao antecessor. Quebrou a tradicional resistência brasileira a intervenções militares em países com regimes ditatoriais, ao aceitar o princípio da "responsabilidade de proteger" (a população) e sugerir uma mudança em direção à "responsabilidade ao proteger". Matias Spektor lembra que, no caso da Líbia, a abstenção do Brasil foi seguida pelos Brics e pela Alemanha, o que demonstra a capacidade de liderança do Brasil. Capacidade essa que precisa ser mantida mesmo depois de o país deixar a cadeira rotativa no Conselho de Segurança. "O Brasil precisa aproveitar o momentum", diz, ponderando que o principal risco para o avanço na política externa são os eventuais problemas que Dilma enfrentar em sua agenda interna. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Matias Spektor ao Valor:
Valor: Qual a maior diferença entre Dilma e Lula na diplomacia?
Matias Spektor: Dilma pegou, logo no início, o Brasil como m


VÍDEO

Novas diretrizes do Pentágono para 2012 se voltam para a Ásia

sem fronteirasEnquanto a guerra ao terror perde força, uma nova espécie de guerra fria emerge no cenário internacional depois do anúncio feito por Barack Obama, que mira diretamente no Irã e na China, países economicamente importantes no cenário asiático. 12/01/2012

VÍDEO - CORTE MILITAR NOS EUA
Os americanos fizeram um corte brutal nas suas despesas militares, mas também anunciaram uma nova estratégia, a fim de conter o crescimento do poder militar da China. GLOBO NEWS PAINEL - 14-01-2012


Unrest in China
A dangerous year
Economic conditions and social media are making protests more common in China—at a delicate time for the country’s rulers
Jan 28th 2012 | CHENGDU, DONGGUAN AND WUKAN VILLAGE 
IN AN industrial zone near Chengdu, the capital of Sichuan province in south-west China, a sign colourfully proclaims the sprawl of factories to be a “delightful, harmonious and happy district”. Angry steelworkers must have winced as they marched past the slogan in their thousands in early January, demanding higher wages. Their three-day strike was unusually large for an enterprise owned by the central government. But, as China’s economy begins to grow more sedately, more such unrest is looming.
China’s state-controlled media kept quiet about the protest that began on January 4th in Qingbaijiang District, a 40-minute drive north-east of Chengdu on an expressway that crosses a patchwork of vegetable fields and bamboo thickets. But news of the strike quickly broke on the internet. Photographs circulated on microblogs of a large crowd of workers from Pangang Group Chengdu Steel and Vanadium being kept away from a slip road to the expressway by a phalanx of police. Word spread that police had tried to disperse the workers with tear gas. In the end, as they tend to—and undoubtedly acting on government orders—factory officials backed down, partially at least. The workers got a raise, albeit a smaller one than they wanted. Managers’ wages were frozen.

Strikes have become increasingly frequent at privately owned factories in recent years, often involving workers demanding higher wages or better conditions. Private firms, like state ones, are usually strong-armed by officials into buying off strikers. The thinking is that capitulating keeps a lid on news coverage and helps to prevent unrest from spreading. Yet the explosive growth in the use of home-grown versions of Twitter has made it easy for protesters to convey instant reports and images to huge audiences. The Communist Party’s capacity to stop ripples of unease from widening is waning—just as economic conditions are making trouble more likely.
Anger at the bottom
At a cheap restaurant in Qingbaijiang, opposite a dormitory compound for Pangang employees, grimy steelworkers complain that the government’s promise of an extra 260 yuan ($41) a month is hardly enough. Many of the lowest-paid earn as little as $190 monthly. But the workers know that the steel industry is struggling—and that vengeance on persistent troublemakers can be fierce. A police notice warns of legal action, including imprisonment, against any strikers who continue “disrupting public order”. Security agents follow your correspondent in an unmarked car.
All this is partly a result of the curb on China’s stimulus spending and carefree (reckless, many would say) bank lending in the wake of the global financial crisis of 2008. There are fewer new construction projects; demand for steel has flattened. Pangang’s plant in Qingbaijiang is running at a loss. The number of steel firms in the red rose from nine in September to 25 a month later. Even though the government is less worried about inflation now than it was a few months ago, and is releasing the economic brakes a little, the steel industry is expecting a lean period. Some firms might have to close.
Overall economic growth is still looking robust. In the final three months of 2011 China’s economy grew by 8.9% compared with the same period a year earlier—enviable by almost anyone else’s standards, though still the slowest since the second quarter of 2009. The slowdown has so far been gentle, and in line with government efforts to prevent overheating. But this does not stop officials worrying that the coming year could be unusually difficult.


Europe is the biggest buyer of Chinese products—and the euro zone’s travails have plunged many manufacturers into despair. Depressed demand in both Europe and America has taken its toll on factories. The steelworkers’ strike was one of many in recent months, most of them in China’s export-manufacturing heartlands near the coast (see map).
Chinese exporters do not face as big a shock now as they did in late 2008, when the financial crisis caused a sudden collapse in demand and the loss of as many as 20m migrant-labour jobs. But that time China’s recovery was rapid, helped by stimulus spending of 4 trillion yuan (more than $630 billion at today’s exchange rate), as well as developed economies’ own stimulus projects. The impact on migrant workers was further mitigated by the coincidence of the worst of the downturn with the lunar new-year holiday, when most migrants go home for lengthy periods.
This time exporters face protracted slow growth in developed economies, and the risk that the euro zone’s difficulties might worsen. China’s policymakers do not want another lending spree that might burden the financial system with more bad debt, on top of the borrowing accumulated during the previous binge. The country’s relatively low budget deficit (about 2.5% of GDP in 2010) gives it room to spend more on social housing, social security, tax cuts for small firms and consumer subsidies. These could help promote private consumption—eventually.
Nerves at the top
The long-term plan is for China to wean itself off its reliance on exports and investment projects such as roads, railways and overpriced property developments, and for domestic consumption of goods and services to play a much bigger role in fuelling growth. But this rebalancing will be a long, hard slog. Officials do not want shock therapy because it could threaten the jobs of many of the 160m migrants who come from the countryside to provide the cheap labour behind China’s exports.
This economic quandary has become more acute at what is a delicate political moment for the Communist Party. Later this year (probably in October or November), the party will hold its five-yearly Congress, the 18th since its founding in 1921, at which sweeping changes in the country’s top leadership will begin to unfold.
The Congress will “elect” a new 300-member central committee (in fact it will be hand-picked by senior leaders). This will immediately meet to rubber-stamp the appointment of a new Politburo, a body that currently has 25 members. All but two of the Politburo’s nine-member inner circle, the Politburo Standing Committee, will be replaced. Two appointments are all but certain: Vice-president Xi Jinping to take over from President Hu Jintao (as party chief after the Congress and as president next March); and Li Keqiang to replace his boss, the prime minister, Wen Jiabao, also next March. There will be much jockeying for the other slots.
It is a decade since China experienced a leadership changeover on this scale—and the first time since the late 1980s that the advent of a new generation of leaders has coincided with such a troubled patch for the economy. The previous time, in 1988, an outbreak of inflation threw Deng Xiaoping’s succession plans into disarray, giving conservatives ammunition with which to attack his liberal protégés. The party’s strife erupted into the open the following year as students demanding greater freedom gathered in Tiananmen Square.
The threats to the party today are very different, but fear of large-scale unrest still haunts the leadership. The past decade has seen the emergence of a big middle class—nearly 40% of the urban population, as some Chinese scholars define it—and a huge migration from the countryside into the cities. The party takes no chances. Large numbers of plainclothes police are on permanent watch in and around Tiananmen Square. (Since 2008, visitors to the vast plaza have had to undergo airport-type scanning and searches.) Early last year, when anonymous calls began circulating on the internet for citizens to gather in central Beijing in sympathy with the uprisings that were breaking out in the Arab world, the location specified was not Tiananmen but Wangfujing, a shopping street nearby. The police responded by flooding that area with officers too.
In the Pearl River Delta, which produces about a third of China’s exports, there are plenty of signs of malaise. Outside a Taiwanese-owned factory in Dongguan, a dozen or so police officers wearing helmets and carrying clubs watch a small group of angry workers complain that the owner has run away. The factory (which makes massage seats) is unable to pay its debts. They are afraid that, this time, after the lunar new year break they will have no jobs to come back to. A plainclothes policeman tries to silence them. Then a uniformed officer moves in with a video camera, and most of the workers retreat, keeping a prudent silence.
Others in the delta have been less reticent. In November thousands of employees at a Taiwanese shoe factory in Dongguan took to the streets in protest against salary cuts and sackings, purportedly caused by declining orders. Protesters overturned cars and clashed with police. Photographs of bloodied workers circulated on the internet. There have been further protests in recent weeks.
Guangdong province also saw a wave of strikes in 2010. At that time workers—mainly in factories supplying the car industry—were demanding only higher pay and improved conditions. Most of those disputes were quickly and peacefully settled, and rarely involved action on the streets. The latest spate of confrontations looks different. The steelworkers at the state-owned factory near Chengdu wanted a raise; but, these days, rather than bidding to improve their lots, workers are mostly complaining about wages and jobs being cut. The strikers seem more militant.
A report published this month by the Chinese Academy of Social Sciences (CASS) says that, compared with those in 2010, the strikes of 2011 were better organised, more confrontational and more likely to trigger copycat action. “Workers are not willing this time to accept that they have to make sacrifices for the national good because firstly they have already made enough sacrifices, and secondly, fewer are willing to just pack up and go home,” says Geoff Crothall of China Labour Bulletin, an NGO in nearby Hong Kong.
Where the heart is
The government hopes that jobless migrants will return to their home villages, where they or their families still enjoy a tiny land entitlement on which they can subsist, or find work closer to their hometowns. Many will: job opportunities in the interior have grown in the past few years, thanks to a surge of government investment in central and western areas, aimed at evening out economic growth.
Last year Chongqing, a region in south-west China which had long exported large numbers of workers to the coast, for the first time employed more of its surplus rural workforce locally than it sent to other areas. Chongqing’s party chief, Bo Xilai, is believed to be a contender for the Politburo Standing Committee. He has been trying to turn Chongqing into a model for the absorption of rural labour into cities, a project that has involved vast spending on low-cost housing to accommodate the region’s migrants.
But rising numbers of migrant workers in big cities—more than 60% according to the National Bureau of Statistics in 2010—are themselves the offspring of migrants and have no experience of agricultural life. They regard themselves as urbanites, even if they are excluded from many of the welfare benefits to which city-dwellers are entitled. They are better educated than their parents’ generation, and more assertive. A riot by migrants last June in Dadun, another factory town in Guangdong where many of the country’s jeans are produced, hinted at the problems China could face if second-generation migrants lose hope. The manhandling of a pregnant woman by security guards prompted two days of violence, with thousands of migrants setting fire to vehicles and government buildings. Strikes in coastal factories now mainly involve second-generation migrants, according to the report by CASS.
Such unrest is not about to topple the party. As Chinese officials nervously digest the implications of unrest in the Arab world, demonstrations in Russia and an easing of repression in Myanmar, they draw comfort from the consistency of Chinese opinion polls. These appear to show high levels of trust in the central leadership and of optimism about the future under party rule. Many ordinary Chinese are contemptuous of local authorities, but still believe that leaders in Beijing are benign.
The power of weibo
But according to Victor Yuan of Horizon, a polling company in Beijing, citizens’ satisfaction with their own lives and confidence in the government, though high, experienced a “big drop” in 2010 and didn’t recover last year. Confidence in the government has fallen by about 10 percentage points, to around 60%.

Mr Yuan says the rapid spread of microblogs has contributed to this decline. By the end of last year, weibo, as Chinese versions of Twitter (itself blocked in China) are known, were used by nearly half of the 513m Chinese who had accessed the internet in the previous six months (see chart). This was slightly more than the number who used e-mail and a rise of nearly fourfold over the year before, according to the government-affiliated China Internet Network Information Centre. Li Chunling of CASS estimates that 90% of urban internet users under 30 are microbloggers.
Weibo have transformed public discourse in China. News that three or four years ago would have been relatively easy for local officials to suppress, downplay or ignore is now instantly transmitted across the nation. Local protests or scandals to which few would once have paid attention are now avidly discussed by weibo users. The government tries hard, but largely ineffectively, to control this debate by blocking key words and cancelling the accounts of muckraking users. Circumventions are easily found. Since December the government has been rolling out a new rule that people must use their real names to open accounts. So far, users seem undeterred.
In the build-up to the 18th Congress, China’s leaders will become especially anxious to prevent embarrassment to the party. Weibo are likely to make their lives a lot more difficult—at least that was the lesson from a ten-day stand-off in December between police and residents of the coastal village of Wukan in Guangdong.
The villagers’ protest was typical of thousands that roil the Chinese countryside every year: a complaint about the seizure of agricultural land by local officials for private redevelopment. Unusually, however, in Wukan citizens took control of their village and drove out party hacks and police. Officials were alarmed by images that circulated on weibo of triumphant residents rallying in the centre of their village, like students in Tiananmen Square 22 years ago (see the picture at the start of this piece). They tried, unsuccessfully, to stop news spreading by ordering a block on the village’s name and location.
The villagers gave up their protest on December 21st after a rare, high-profile intervention by the Guangdong party leadership, which promised to look into their complaints. Remarkably, on January 15th the protest leader, Lin Zuluan, was appointed as the village’s new party chief (the previous one having disappeared, it is thought into custody). Even the party’s main mouthpiece in Beijing broke its silence on the issue, saying it showed that local officials should stop treating citizens as adversaries. Wang Yang, Guangdong’s party chief, who is believed to be a contender for a senior Politburo position this year, said the incident demonstrated how people’s “democratic consciousness” was getting stronger. He called on officials not to ignore citizens’ concerns.
Few regard the Wukan episode as a turning point for the party. At least one protester on Tiananmen Square has since been seen being dragged away by police in the usual fashion. But it has stirred debate, online at least, about how the party should respond to protests and other forms of public pressure. And villagers in Wukan warn that they will not be satisfied until they have reclaimed their land. One protest leader says there could be another, “even bigger” uprising.
The new leadership that will take over after the upcoming Congress will quickly face tests of its ability to handle social unrest. Even if the country does not appear on the brink of an Arab-style upheaval, many Chinese academics say the next few years could see burgeoning instability, exacerbated by slower economic growth and a widening gap between rich and poor. China’s outgoing leaders have tried to suppress debate about ways of reforming the political system to allow the public to voice their grievances more freely. But many analysts believe there is a pressing need for such reform. Today’s “China model”, as some in China and abroad were tempted to call it after Western economies fell into disarray three years ago, appears increasingly unsustainable.
Chinese roulette
An intriguing glimpse of how at least some in the party elite might see things was offered last April when Zhang Musheng, a prominent intellectual, published a book calling for a revival of the one-time Maoist goal of building a “new democracy”. General Liu Yuan, the son of Liu Shaoqi who was China’s president during the Mao era, openly backed the idea. Mr Zhang (himself the son of a late senior official, as are several of the new leaders-to-be) said a new democracy would involve continued party rule but with much greater freedom.
Few of China’s liberals believe there is much chance of any leader pursuing this idea in the near future. But Mr Zhang’s description of China today has struck a chord (and has been circulated widely by weibo users). A well-known economist, Wu Jinglian, picked up a phrase of Mr Zhang’s in an essay in Caijing, a Beijing magazine, in which he attacked the notion of a “China model” and called for political reform. The phrase of Mr Zhang’s that made an impression was one describing China as “playing pass the parcel with a time bomb.”
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The long arm of the state

Where’s the party?

How the Communist Party is trying to expand its influence in the private sector


por Martin Wolf

O Banco do Povo da China sugere um cronograma de reformas que se adequaria às suas necessidades e às do mundo. As políticas da China não importam apenas aos chineses. Valor Econômico - 29/02/2012

Por Yao Yang
Um novo informe do Banco Mundial aponta a falta de reforma das empresas estatais como o maior obstáculo ao crescimento econômico do país
VALOR ECONÔMICO, 01-03-2012


Breaking the US's Dominance

Beijing Wants Say in Choice of World Bank Head

Traditionally, the US gets to appoint the president of the World Bank. But China is keen to make its influence felt in the search for a successor to Robert Zoellick, who will step down in June. The next head may still be American, but he or she will need to get Beijing's blessing. By Gregor Peter Schmitz in Washington








Como dissipar as nuvens sobre a China
Autor(es): Martin Wolf
Valor Econômico - 21/03/2012
A China está entrando em uma transição difícil: para menor crescimento e diferente padrão de crescimento. Essa é a conclusão que tirei do Fórum de Desenvolvimento da China deste ano, em Pequim. Além disso, é provável que a transição seja tanto política como econômica. Essas duas transições também interagem mutuamente de formas complexas. O histórico passado de sucesso econômico, sob o comando do Partido Comunista, não assegura um futuro de sucesso comparável.
Os leitores não precisam aceitar o que digo. Eles podem ouvir o que disse Wen Jiabao, premiê em vias de deixar o cargo, em 14 de março: "A reforma na China chegou a um estágio crítico. Sem o êxito de uma reforma estrutural política, será impossível instituirmos plenamente uma reforma estrutural na economia. Os avanços que obtivemos em termos de reforma e desenvolvimento poderão ser perdidos, novos problemas que surgiram na sociedade chinesa não poderão ser solucionados fundamentalmente e uma tragédia histórica, como a Revolução Cultural, poderia voltar a acontecer".
Estas questões políticas são de grande importância. Mas a transição econômica em si mesma será bastante difícil. A China está chegando ao fim do que os economistas denominam "crescimento extensivo" - estimulado por crescentes insumos de mão de obra e de capital. O país precisa, agora, passar para um "crescimento intensivo" - estimulado por progressos em capacitação e tecnologia. Entre outras consequências, a taxa de crescimento da China desacelerará fortemente, de sua taxa anual média de cerca de 10% nas últimas três décadas. O que torna essa transição mais difícil é a natureza do crescimento extensivo chinês, particularmente a extraordinária taxa de investimentos e a forte dependência em relação aos investimentos como uma fonte de demanda.
A China está deixando de ser um país com mão de obra excedente, em termos do modelo de desenvolvimento criado por Arthur Lewis, agraciado com o prêmio Nobel. Lewis argumentou que a renda de subsistência do excedente de mão de obra na agricultura define um teto baixo para os salários no setor modernizado. Isso tornou esse setor extremamente rentável. Desde que os elevados lucros fossem reinvestidos, como na China, a taxa de crescimento do setor moderno e, portanto, da economia seria bastante elevado. Mas, em algum momento, a mão de obra se tornaria mais escassa na agricultura, acarretando aumentos no preço da mão de obra no setor moderno. Os lucros seriam espremidos e a poupança e os investimento cairiam, à medida que a economia amadurecesse.
A China de 35 anos atrás era uma economia com excedente de mão de obra. Hoje, isso já não é verdade, em parte porque o crescimento e a urbanização foram tão rápidos: desde o início de reformas, a economia chinesa cresceu mais de 20 vezes, em termos reais, e metade da população da China é agora urbana. Além disso, a taxa de natalidade chinesa implica que a população em idade economicamente ativa (15 a 64 anos) atingirá um pico de 996 milhões em 2015. Um estudo de Cai Fang, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, afirma que a "escassez de mão de obra tornou-se galopante em todo o país depois que irrompeu nas zonas costeiras, em 2004. Em 2011, as empresas industriais depararam-se com dificuldades sem precedentes e generalizadas na contratação de pessoal". O estudo de Fang fornece provas irrefutáveis do resultante aumento dos salários reais e de lucros cada vez menores.
A China está agora no "ponto de inflexão de Lewis". Uma das consequências é que, a uma determinada taxa investimento, a relação capital/trabalho crescerá mais rapidamente e os retornos também cairão mais rápido. De fato, fortes evidências dessa elevação na intensidade de capital surgiu antes mesmo do ponto de inflexão de Lewis. De acordo com Louis Kuijs, um ex-economista do Banco Mundial, a contribuição do aumento da relação capital/trabalho (em oposição à contribuição de maior "produtividade total dos fatores" (PTF), ou produtividade geral) para maior produtividade da mão de obra subiu de 45 % entre 1978 e 1994 para 64% entre 1995 e 2009.
Isto terá de mudar. O crescimento da China precisa ser impulsionado por crescente PTF, que sustentará os lucros, em vez de puxado por crescentes proporções capital/trabalho, que produzirão quedas nos lucros, especialmente agora que os salários reais estão subindo rapidamente. Alguma queda nos lucros é desejável, dada a má distribuição de renda. Levada muito longe, prejudicará o crescimento potencial.
A dificuldade de fazer a transição para um crescimento impulsionado por progresso técnico é uma das razões pelas quais tantos países caíram no que veio a ser denominada "armadilha da renda média". A China, agora um país de renda média, está determinada a tornar-se um país de alta renda até 2030. Isso exigirá reformas profundas, que são explicadas em notável recente relatório conjunto do Banco Mundial e do Centro de Pesquisas de Desenvolvimento do Conselho de Estado*. Essas reformas afetarão negativamente interesses estabelecidos, particularmente em governos locais e em empresas estatais. Essa é certamente uma grande razão pela qual Wen julga relevantes as reformas políticas.
A necessidade de realizar difíceis reformas para sustentar o crescimento nas próximas duas décadas é o desafio de longo prazo para a China. Na tentativa de chegar lá, o país enfrenta os riscos de curto prazo de uma aterrissagem brusca, como salientou Nouriel Roubini, da Stern School of Business, da New York University, na conferência. A meta do governo chinês é de um crescimento anual de 7,5% para este ano e de 7% no período do atual plano quinquenal. Parte dessa desaceleração parece inevitável. À medida que o crescimento cair, também diminuirá a necessidade de taxas de investimento extraordinárias.
No entanto, sair de uma taxa de investimento de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) para outra, de 35%, sem uma profunda recessão no meio do caminho, exige um crescimento correspondente no consumo. A China não tem nenhuma maneira fácil de engendrar tal surto, razão pela qual sua reação à crise tem sido investir ainda mais. Além disso, a China passou a depender fortemente de investimentos na construção civil: nos últimos 13 anos o investimento em habitações tem crescido a uma taxa média anual de 26%. Esse crescimento não persistirá.
A China poderá, efetivamente, administrar a transição para um tipo muito distinto de crescimento econômico. O país ainda tem um enorme potencial para progredir. Mas as dificuldades para se adaptar ao novo padrão serão enormes. Muitos são os países de renda média que não tiveram êxito nisso. É difícil argumentar contra a China, em vista de seus sucessos anteriores. A melhor razão para confiança é que os decisores máximos não exibam tal complacência. (Tradução de Sergio Blum)

China 2030 www.worldbank.org EXECUTIVE

Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT.




China’s military rise
A rare look inside the world’s biggest military expansion
Apr 7th 2012 | BEIJING 


AT A meeting of South-East Asian nations in 2010, China’s foreign minister Yang Jiechi, facing a barrage of complaints about his country’s behaviour in the region, blurted out the sort of thing polite leaders usually prefer to leave unsaid. “China is a big country,” he pointed out, “and other countries are small countries and that is just a fact.” Indeed it is, and China is big not merely in terms of territory and population, but also military might. Its Communist Party is presiding over the world’s largest military build-up. And that is just a fact, too—one which the rest of the world is having to come to terms with.
That China is rapidly modernising its armed forces is not in doubt, though there is disagreement about what the true spending figure is. China’s defence





















Resilient China
May 26th 2012



Special report: China's economy
Pedalling prosperity
May 26th 2012 



Perspectivas da economia chinesa
Autor(es): Caio Megale e Artur Manoel Passos
Valor Econômico - 08/05/2012

O Brasil teve avanços importantes nos últimos 15 anos. O tripé de política econômica - inflação controlada, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal - trouxe credibilidade ao país, reduzindo o custo de captação externo. Reformas, que mudaram as instituições, geraram crescimento e atraíram novos investimentos externos diretos. Ficaram para trás os antigos problemas recorrentes no balanço de pagamentos que faziam o Brasil ficar sobressaltado a cada crise externa. Hoje a dívida externa brasileira não existe e as exportações cresceram muito.


Uma parte do sucesso nas contas externas deve-se ao expressivo ganho nos termos de troca. A China teve um papel importante nesse processo. A forte demanda por commodities foi decisiva na elevação dos preços desses produtos no mercado internacional, explicando boa parte deste ganho nos termos de troca.

Entender a dinâmica da economia chinesa passou a ser, portanto, fundamental para o Brasil. Como ela se comportará nos próximos anos? O governo chinês dá sinais de estar comprometido com reformas que modifiquem seu modelo de crescimento. O país deve crescer menos, porém de forma mais sustentável. Ao mesmo tempo, os sinais apontam para um ritmo lento de ajustes, seguindo o gradualismo que marcou o país nas últimas décadas.

Estudo sugere que não há espaço para que o investimento continue crescendo mais rápido do que o PIB, sob pena de surgirem projetos de qualidade duvidosa. O consumo, por sua vez, deverá ganhar espaço na demanda doméstica.

Em 2007, o premiê Wen Jiabao afirmou que o crescimento chinês é "instável, desbalanceado, descoordenado e insustentável", e desde então o governo vem buscando um rebalanceamento. O último plano quinquenal (2011-2015) reafirma esse diagnóstico e aponta o caminho.

Do lado da demanda, o objetivo é fortalecer o consumo doméstico. Do lado oferta, o plano prevê o aumento da participação do setor terciário no Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, o governo almeja aumentar o valor agregado das manufaturas e a liberar gradualmente a conta financeira do balanço de pagamentos.

A crise de 2008/2009 interrompeu temporariamente o processo. Em resposta à queda nas exportações, o governo expandiu os investimentos, principalmente em infraestrutura e no setor imobiliário. Como consequência, a participação dos investimentos no PIB chegou a quase 50%. A dívida dos governos locais aumentou cerca de 17% do PIB em 2008 para 26% em 2010. Aumentou a incerteza em relação ao pagamento dos empréstimos bancários que financiaram essa expansão, embora o governo tenha espaço para absorver eventuais perdas e prevenir uma crise bancária.

Passada a crise, o rebalanceamento induzido pelo governo foi retomado. Os investimentos ainda crescem mais do que o PIB, mas vêm desacelerando. O superávit na conta corrente do balanço de pagamentos declinou de 10% do PIB em 2007 para menos de 3% em 2011, em parte resultado do aumento da demanda doméstica e da apreciação da taxa de câmbio - embora o baixo crescimento cíclico nos países desenvolvidos também tenha contribuído no ajuste.

As reformas devem continuar. A recente redução da meta de crescimento de 8,0% para 7,5% em 2012 indica disposição do governo em aceitar um crescimento menor, necessário para viabilizar uma evolução mais sustentável à frente (cabe lembrar, contudo, que o crescimento efetivo costuma ser maior do que a meta). A estrutura tributária deve voltar a ser ajustada em 2012, aumentando a renda disponível das famílias. Ao mesmo tempo, o governo já elevou duas vezes os preços de gasolina e diesel e prometeu ajustes nos mecanismos que regulam preços de eletricidade e de combustíveis.

No setor financeiro, foi anunciado um programa piloto na cidade de Wenzhou que vai viabilizar uma participação maior do setor privado. Apesar da preocupação com os mecanismos de financiamento fora do balanço dos bancos, estes podem ser vistos como um passo na direção da desregulamentação das taxas para os depósitos e empréstimos, desde que estejam sob um arcabouço regulatório bem desenhado.

Por fim, os aumentos da largura da banda de flutuação diária do yuan em relação à taxa de referência e do programa de investimento em ativos domésticos para investidores qualificados, ambos anunciados em abril, vão na direção de diminuir as restrições nos fluxos de capital.

Esses fatores devem levar a uma lenta redução das taxas de crescimento do PIB. A equipe de economistas do Itaú publicou um estudo tentando medir o crescimento potencial das principais regiões do mundo (1). Para a China, o estudo sugere que não há espaço para que o investimento continue crescendo mais rápido do que o PIB, sob pena de surgirem projetos de qualidade duvidosa, como os que apareceram durante a retomada pós-crise de 2008. O consumo, por sua vez, deverá ganhar espaço na demanda doméstica.

O cenário do Itaú prevê uma diminuição do crescimento potencial a um valor entre 6,5% e 7,0% no final desta década. O crescimento menor decorre da desaceleração dos investimentos e de fatores demográficos (força de trabalho crescendo menos). Além disso, há uma tendência de relocação da mão de obra: a migração do campo para a cidade continuará, mas os trabalhadores irão cada vez mais para o setor de serviços, que é menos produtivo.

Em suma, a China continuará avançando, contribuindo para o crescimento mundial e para a demanda por commodities. Mas o ritmo será mais moderado, em resposta a medidas governamentais para rebalancear a economia. Este é um cenário ainda favorável para o Brasil, mas que traz desafios. Ganham importância reformas estruturais que acelerem a produtividade da economia e abram espaço para aumentar os investimentos em infraestrutura. Desta forma, reduziremos ainda mais a dependência do ambiente internacional. Afinal, os ventos externos favoráveis não devem ser tão forte como nos últimos 10 anos.

(1) Itaú Macro Latam 2020 (março de 2012). Disponível em bit.ly/Macro_Latam_2020

Caio Megale e Artur Manoel Passos são economistas do Itaú Unibanco.


ENTREVISTA KENNETH ROGOFF
Saída da Grécia da zona do euro levará caos à Europa, e França e Alemanha poderiam se tornar um só país, diz ex-economista do FMI
VERENA FORNETTI - DE NOVA YORK. In: Folha de São Paulo, 27-05-2012, caderno MUNDO
O economista Kenneth Rogoff, professor de Harvard e uma das vozes mais respeitadas quando se trata de crise, faz previsões sombrias: a bonança chinesa deve acabar em seis anos e a eventual saída da Grécia da zona do euro vai levar o caos à Europa.
Também tem proposições inusitadas: para ele, França e Alemanha poderiam se tornar regiões de um só país.
Rogoff é autor do livro "Oito Séculos de Delírios Financeiros", escrito com Carmen Reinhart, em que os dois economistas analisam as crises na história e concluem que elas provocam quase dez anos de desemprego elevado. Leia trechos da entrevista.
Folha - A Grécia tem solução? O sr. vê alternativa ao calote?
Kenneth Rogoff - Será muito difícil a Grécia permanecer na zona do euro. Ela já está dando calote; a questão hoje é quão maior será e quão caótica a situação ficará.
Qual seria o impacto de uma eventual saída da Grécia da zona do euro? Isso poderia ser feito de forma ordenada?
KR - Vai ser muito caótico se a Grécia sair. Imediatamente...


CHINA CHINA CHINA
The China Puzzle By DAVID LEONHARDT
Published: May 13, 2009


REFORM IN CHINA
HE PARTY'S NEW BLUEPRINT

Special report: China
China
Building the dream


Para o Banco do Povo, a liberalização da conta de capital poderia ser vetor de reforma, que seria política também. Se a conta de capital chinesa fosse liberalizada, o governo perderia o controle sobre a mais eficaz de todas as suas alavancas econômicas
Jornal VALOR ECONÔMICO, 09-04-2014