Thursday 29 October 2009

COMISSÃO DO PIB + IDH

Para além do PIB e do IDHJosé Eli da Veiga27/10/2009
Quase toda a capacidade cerebral dos seres humanos é usada para continuar crendo no que já acostumaram a aceitar como verdade. Ínfima é a disponibilidade para se colocar em dúvida alguma convicção. Pior: a chance é nula se a novidade esbarrar em ideias repisadas como se fossem insuspeitas conclusões científicas. Detesta-se qualquer pensamento que abale algum fundamento aprendido na escola, principalmente nos grandes manuais usados no ensino superior. Por isso, reflexões que rompem visões convencionais estão fadadas à rejeição do silêncio.
Só o fenômeno descrito no parágrafo acima pode explicar o desdém com que está sendo tratada a decisiva contribuição da CMEPSP: comissão que ficou mais conhecida pela trinca de nomes de seus três principais coordenadores - Joseph Stiglitz, Amartya Sen e Jean-Paul Fitoussi - do que por sua missão de rever a "mensuração do desempenho econômico e do progresso social". Há mais de um mês está disponível o relatório final em www.stiglitz-sen-fitoussi.fr. Seus produtos anteriores foram comentados nesta coluna em quatro textos que podem ser baixados de www.zeeli.pro.br: 15/abr/08, 10/jun/08, 30/set/08 e 07/jul/09.
Das quinze recomendações do relatório final, as cinco que se referem especificamente à superação do tosco PIB não poderiam ser mais incisivas: 1) passar a olhar para renda e consumo em vez de olhar para a produção; 2) considerar renda e consumo em conjunção com a riqueza; 3) enfatizar a perspectiva domiciliar; 4) dar mais proeminência à distribuição de renda, de consumo e de riqueza; 5) ampliar as medidas de renda para atividades não-mercantis.
Trata-se de um claro reconhecimento de que está inteiramente obsoleto o viés produtivista que orientou a montagem do atual sistema de contabilidades nacionais. No contexto de meados do século passado, a maior preocupação dos técnicos que o conceberam só poderia ter sido mesmo o aumento da produção, como está muito bem documentado no melhor livro sobre o tema: "A History of National Accounting", de André Vanoli (IOS Press: 2005; originalmente em francês, editora La Découverte: Paris, 2002). Porém, passados uns 60 anos, chega a ser assustador que o desempenho econômico das nações continue a ser medido quase que exclusivamente por aumentos da produção mercantil interna e bruta.
A produção pode aumentar enquanto a renda diminui e vice-versa, desde que se leve em consideração a depreciação, os fluxos de renda para dentro e para fora do país, e as diferenças entre os preços de produção e de consumo. Além disso, mesmo a renda e o consumo não serão bons indicadores de desempenho se não estiverem cotejados à riqueza. Para que se tenha um verdadeiro balanço da economia nacional, é preciso que ela imite a contabilidade das empresas, pois são cruciais as contas de patrimônio e as de endividamento.
Segundo a CMEPSP, a melhor maneira de superar as limitações da vetusta contabilidade que leva ao PIB é adotar o que chama de "perspectiva domiciliar". Em países da OCDE que já fazem esses cálculos, ficou bem claro que a renda domiciliar real aumenta menos que o PIB. É preciso levar em conta os pagamentos de tributos que vão para o governo, os benefícios sociais alocados pelo governo, e os pagamentos de juros que os domicílios fazem às corporações financeiras. Também é crucial que não sejam ignorados os serviços não-monetários prestados pelo governo às famílias, principalmente pelos sistemas de saúde e de educação.
Ainda sobre o PIB, a Comissão também preconiza mais audácia no sentido de que a mensuração do desempenho econômico venha a incluir atividades não-mercantis, principalmente as de serviços pessoais decorrentes de relações de parentesco. Sugere que o melhor ponto de partida poderá ser a realização de estimativas sobre o uso do tempo pelas pessoas.
Além de medir direito o desempenho econômico, também será necessário avaliar a qualidade de vida sem cair na ambiguidade do IDH: Índice de Desenvolvimento Humano. Neste caso, a proposta que acabou vingando é tão complexa que estará fora do alcance de países que não tiverem sofisticados sistemas públicos de estatística. Para começar, a Comissão gostaria que todo o acúmulo já existente sobre avaliações subjetivas de bem-estar fosse incorporado em avaliações de qualidade de vida. E isso, mesmo depois de apontar quais são as questões ainda não resolvidas pelas pesquisas voltadas à aferição de satisfação com a vida e de experiências hedônicas. A ideia é que as agências oficiais de estatística ao menos comecem a levá-las a sério, incluindo em seus levantamentos as questões que já se mostraram válidas em "surveys" não-oficiais e menos abrangentes.
Outra grande ênfase do relatório está na terceira dimensão: a da absoluta necessidade de que os aspectos propriamente ambientais da sustentabilidade sejam acompanhados pelo uso de indicadores físicos bem escolhidos. A rigor, isso poderia ser interpretado como uma adesão à abordagem da Pegada Ecológica. Porém, o relatório sintetiza muito bem as várias críticas já feitas à metodologia da pegada, destacando cinco problemas: os que se referem a terras utilizadas pela agropecuária, a terrenos destinados à construção, a recursos pesqueiros e florestais e à maneira de calcular a pegada carbono, que já constitui mais de 50% da pegada ecológica. E são ainda mais incisivas e meticulosas as críticas aos demais indicadores de sustentabilidade já propostos.
Resumindo, o recado é claro: buscar bons indicadores não-monetários da aproximação de níveis perigosos de danos ambientais, como, por exemplo, os que estão associados à mudança climática. É possível deduzir, então, que se as intensidades-carbono das economias viessem a ser bem calculadas, poderiam ser os indicadores das contribuições nacionais à insustentabilidade global. E, melhor ainda, se surgissem medidas parecidas para o comprometimento dos recursos hídricos e para a erosão de biodiversidade. Esse trio seria suficiente para mostrar a que distância se está da sustentabilidade.
José Eli da Veiga é professor titular da Faculdade de Economia (FEA) e orientador do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo, escreve mensalmente às terças. Página web: http://www.zeeli.pro.br/



Desenvolvimento
Uma régua não muito precisa
Idealizado para comparar o estágio de bem-estar dos países, o IDH da ONU tem valor, mas não pode ser tomado como definitivo. Sua metodologia produz muitas e curiosas aberrações
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Rethinking GDP: Why We Must Broaden Our Measures of Economic Success


EU, in BlogUOL

O PIB como indicador de qualidade das economias
Por Luciano Ferreira da Silva
Valor Econômico, 03-11-2011
O Produto Interno Bruto (PIB) é por definição um agregado macroeconômico que mede o fluxo da renda gerada em uma localidade durante um período determinado, sendo, portanto, uma medida quantitativa da dinâmica do processo produtivo. Avalia a geração, distribuição e uso da renda, bem como as relações de troca entre essa localidade e as demais. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o agente responsável pela elaboração do cálculo do PIB nacional, e para isso utiliza a metodologia do Sistema Nacional de Contas (SNC), estabelecido pela Divisão de Estatística das Nações Unidas e, por isso, pode ser comparado com outras nações.    ...segue....



Brasil avança uma posição e fica em 84º em novo IDH da ONU

Índice de Desenvolvimento Humano brasileiro tem ligeira alta em novo ranking, com número recorde de países, e permanece na categoria 'elevada'. Expectativa de vida e renda avançam. Escolaridade, não. Entre BRICS, Brasil ainda perde para Rússia. Desempenho é inferior à média da América Latina, que coloca à frente Chile, Argentina, Uruguai, Cuba, Venezuela, Equador, Costa Rica, Peru, Trinidad e Tobago...



Desigualdades pioram desenvolvimento humano no Brasil, diz ONU

Diferença de renda é o principal motivo, segundo relatório sobre de Desenvolvimento Humano divulgados pelas Nações Unidas. Noruega registra menor desigualdade e o Congo, a maior. Nota brasileira está abaixo da média latino-americana e da mundial. Entre os BRICS, só Índia se sai pior.




Brasil está em 80º em ranking de igualdade de gênero com 145 países

Mulheres brasileiras têm subrepresentação política e no mercado de trabalho e estudam menos. Mas desigualdade de gênero é fenômeno global. “As oportunidades econômicas e a capacitação das mulheres permanecem profundamente limitadas”, diz estudo da ONU sobre desenvolvimento humano. Suécia lidera ranking. Iêmen é o último.




Eduardo Fagnani
Muito se falou sobre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Poucos leram o documento, mas criticaram o fato de o Brasil subir só uma posição no ranking global (84ª posição) de 187 países.
Alguns ignoraram a advertência do próprio Pnud de que "é enganoso comparar valores e classificações do IDH 2011 com os de relatórios publicados anteriormente. Isto porque, além da inclusão de 18 novos países e territórios, os dados e métodos sofreram ajustes e algumas mudanças".
Em artigo publicado nesta Folha, um ex-economista do Pnud (Flavio Comim, "IDH, como uma onda no mar", 6/11) desconsiderou o seguinte alerta da instituição em que trabalhou: o IDH 2011 "mostra que o Brasil faz parte do seleto grupo de apenas 36 dos 187 países que subiram no ranking entre 2010 e 2011, seguindo os dados recalculados para a nova base deste ano. Os outro




Censo mostra avanço menor no acesso das famílias aos serviços públicos Por Diogo Martins

Do Rio A (cont) http://tl.gd/e7nj8j




A VOLTA DO ESPECTRO DE MALTHUS

por Jeffrey Sachs - Scientific American [<= link] - edição 77 - Outubro 2008


SEGUNDO MATEMÁTICO AMERICANO, SÓ 46% DOS CEREAIS PLANTADOS ALIMENTAM PESSOAS; MUNDO PODERIA DAR DE COMER A 9 BILHÕES
ENTREVISTA DA 2ª JOEL E. COHEN - LUCIANA COELHO, DE WASHINGTON - caderno mundo, folha de são paulo, 07-11-2011
Quando a Terra atingiu o sexto bilhão de seres humanos habitando-a simultaneamente, em 1999, o matemático biológico Joel E. Cohen,67, guardava um certo otimismo.


RICOS E DESIGUAIS

por Alex Ribeiro | De Reading, Pensilvânia
PIB de US$ 15 trilhões é um número distante da realidade de milhões de americanos pobres, oprimidos numa escala perversa de distribuição de renda.
VALOR ECONÔMICO, 11-11-2011


PIB nominal? Por Antonio Delfim Netto Alguns economistas estão retomando uma velha ideia: dar às políticas (cont)

Lá, blog UOL - pib


O deflator do PIB [+ PIB Potencial + governo Dilma divergência entre PIB e inflação]
por Fabio Giambiagi
Dificuldades de sustentar crescimento médio de 4,5% e o momento que o deflator do PIB se aproxime da trajetória do INPC passarão a afetar mais fortemente as contas públicas
valor econômico, 16-11-2011
Peço licença hoje ao leitor para tratar de um assunto bastante insosso: o deflator implícito do Produto Interno Bruto (PIB). Explico imediatamente a razão da escolha de tema tão singular para meu artigo mensal nas páginas do Valor.
O motivo do meu "mergulho" no assunto está, por incrível que pareça, relacionado com a minha dedicação à temática previdenciária, já conhecida por muitos leitores. Com alguma frequência, recebo e-mails me perguntando por que os problemas que eu vaticinava para as contas do INSS não estavam se revelando tão sérios como eu supunha.        segue.....


10/12/2012 - 14h45
A felicidade interna bruta do Butão
ANNIE KELLY - DO "OBSERVER"

COMÉRCIO JUSTO x CONSUMO ÉTICO


EnsaioManifestações políticas na caixa registradora ANAND GIRIDHARADAS - 26-10-2009
Existe realmente o que chamamos de consumo ético?
Ele tem vários nomes: boicote, consumo ético, economia moral। ####com BEM ESTAR-SOCIAL


Tuesday 27 October 2009

IOF 2% - FOREIGN CAPITAL

ANÁLISE
FMI deveria ajudar o Brasil a enfrentar fluxo de capitais
Mundo precisa de uma abordagem menos doutrinária sobre capital estrangeiro, e discutir o IOF sobre remessas sinalizaria que o Fundo pode facilitar essa mudança
ARVIND SUBRAMANIANJOHN WILLIAMSON DO "FINANCIAL TIMES"
A ação brasileira ao impor um tributo sobre certas formas de fluxo de capital estrangeiro, a fim de controlar a alta da moeda do país, tem grande importância, prática e simbólica. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ..


cf. folha, 24-10-2009


LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Patéticas críticas ao IOF
O IOF sobre ações deixa claro que o governo vai aumentar seu esforço para impedir a sobreapreciação do câmbio
ACERTARAM O presidente Lula e o ministro Guido Mantega ao decidirem pela imposição do IOF de 2% sobre as entradas de capital especulativo no Brasil. O IOF é um imposto regulatório que foi criado nos anos 1970 por um notável economista desenvolvimentista -Mário Henrique Simonsen- para, através do desestímulo à entrada de capitais especulativos, corrigir a incapacidade dos mercados financeiros de arbitrar e, portanto, eliminar as diferenças de taxa de juros interna e internacional. ... ... .... .... ..... .... ... ... ... ... .. .. . .. .. .. . .. ... .... ....



CESAR BENJAMIN
Continuamos reféns
Nossos juros continuam a ser uma anomalia, e o mercado de câmbio permanece sensível a movimentos especulativos
AS MAIS influentes escolas de economia, no século 20, foram aquelas que se esforçaram para conciliar o impulso à acumulação de capital, de um lado, e interesses gerais da sociedade, de outro. Ambos não são incompatíveis, mas tampouco são necessariamente harmônicos. A compatibilização é uma construção institucional. ... .... ....



É muito difícil reintroduzir algum equilíbrio no debate sobre os fluxos de capitais
FMI precisa de novas ideiasDani Rodrik13/11/2009
É muito difícil reintroduzir algum equilíbrio no debate sobre os fluxos de capitais
Por que o Fundo Monetário Internacional (FMI) torna tão difícil para pessoas como eu gostarem dele?
O FMI disse e fez todas as coisas certas desde a crise. Agiu tão rápido quanto possível dentro da burocracia internacional para estabelecer novas linhas de crédito aos países emergentes assolados. Remodelou as condições de seus empréstimos para adaptar-se aos tempos. Sob o comando de seu competente diretor-gerente, Dominique Strauss-Khan, e notável economista-chefe, Olivier Blanchard, foi, em meio à dissonância, uma voz pela sanidade nos estímulos fiscais mundiais. Para uma instituição que parecia à beira da irrelevância há não muito tempo, é uma transformação e tanto.
Agora, no entanto, Strauss-Khan vem jogando água fria nas propostas de taxar os fluxos internacionais do dinheiro "quente", como são chamados os investimentos especulativos de curto prazo. A ocasião foi a decisão do governo do Brasil de criar imposto de 2% sobre os fluxos de capitais de curto prazo para evitar uma bolha especulativa e mais valorizações em sua moeda. Quando perguntado sobre o papel dos controles de capitais, Strauss-Khan disse não se ater a nenhuma ideologia rígida sobre o assunto. Porém, segundo o "Financial Times", que publicou alguns dos pontos de vista do diretor-gerente, "o FMI tampouco os recomendaria como receita padrão - já que trouxeram custos e normalmente foram ineficazes". Infelizmente, isso faz o novo FMI soar bastante parecido ao antigo.
Controles prudenciais sobre os fluxos de capital fazem muito sentido. Os fluxos de curto prazo não apenas provocam estragos na gestão macroeconômica doméstica, como também agravam as oscilações adversas das taxas de câmbio. Em particular, os fluxos de capital "quente" dificultam que economias financeiramente abertas, como o Brasil, mantenham uma moeda competitiva, privando-as do que, na prática, é a forma mais poderosa imaginável de política industrial.
Sem dúvida, ao enviar sinais contraditórios aos mercados financeiros, os brasileiros podem ter afetado sua tentativa de esfriar os influxos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia refutado as conversas de controles de capitais, apenas poucos dias antes de serem impostos. Para que os esforços de influenciar o nível do câmbio sejam significativos, é preciso determinação para coordenar impostos financeiros e políticas complementares até que mostrem seus efeitos. A timidez é contraprodutiva, porque o tiro sai pela culatra.
Mais importante, no entanto, foi o simbolismo da medida brasileira, pois sugere que os mercados emergentes podem estar superando sua arruinadora paixão cega pelas finanças estrangeiras. Certamente, como os economistas Arvind Subramanian e John Williamson escreveram, os países emergentes merecem a ajuda do FMI para elaborar melhores controles prudenciais sobre os influxos de capital em vez de ser repreendidos.
A resposta de Strauss-Khan, de que os impostos sobre fluxos de capital são custosos e ineficientes é, portanto, desafortunada. Também é emblemática sobre a reação instintiva que frequentemente ofusca os prós e contras dos controles de capitais. Não há problema em opor-se aos controles por acreditar que os mercados financeiros são, em seu total, uma força positiva e que qualquer interferência, portanto, gerará perda de eficiência. Ou opor-se por acreditar que podem ser driblados com facilidade e, logo, estão condenados a continuar ineficazes. O que não se pode fazer é opor-se aos controles por serem tanto custosos como ineficientes.
Pensem a respeito. Se os controles de capitais podem ser evitados com facilidade - digamos, por meio da manipulação do momento das transações ou contabilizando inadequadamente os fluxos de negócios -, então, haverá pouco impacto no volume real de influxos de capital. Os controles imporiam, portanto, poucos custos nos mercados (embora possam envolver algum custo administrativo para o governo). Por outro lado, se os participantes do mercado tiverem custos significativos - seja com os impostos que pagarão ou pelas despesas que terão para driblá-los - os controles restringirão o influxo com eficiência. Caso se tente ver as duas coisas, é provável que se tenha tomado uma decisão antes de realmente pensar bem a respeito.
Pode parecer curioso que os instintos de Strauss-Khan sejam tão fora de propósito sobre a questão dos controles de capitais. Seria de se imaginar que um socialista - e um socialista francês - estaria mais inclinado ao ceticismo financeiro.
O paradoxo, contudo, é mais aparente do que real. Os mercados financeiros, na verdade, devem muito aos socialistas franceses. A opinião geral é que o Tesouro dos Estados Unidos e Wall Street são os responsáveis pelas pressões para liberar as finanças mundiais. Muito mais influente do que isso, no entanto, pode ter sido a mudança de ideia ocorrida entre os socialistas franceses, após o colapso de seu experimento com a reflação keynesiana no início dos anos 80. Quando a fuga de capitais obrigou François Mitterrand a abortar seu programa em 1983, os socialistas franceses deram uma brusca meia-volta e adotaram a liberalização financeira em escala global.
Segundo Rawi Abdelal, da Harvard Business School, tratou-se de um evento-chave, que deu a partida nos acontecimentos que acabariam consagrando a liberdade de movimento do capital como norma mundial. A União Europeia subiu ao trem na primeira parada, no fim dos anos 80, quando dois socialistas franceses - Jacques Delors e Pascal Lamy (respectivamente presidente da Comissão Europeia e seu assistente) - lideraram o caminho. Depois, foi a vez da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Por fim, quando sob o comando de Michel Camdessus, outro francês, que havia sido presidente do Banco da França no governo Mitterrand, entrou no vagão.
A reação do FMI ao imposto financeiro do Brasil reflete até que ponto arraigou-se a devoção cega às finanças e como é difícil reintroduzir algum equilíbrio no debate sobre os fluxos de capitais - mesmo na esteira de uma das maiores crises financeiras que o mundo sofreu desde a Grande Depressão. O problema não são apenas os fundamentalistas de mercado de direita. A falha em deixar de ver o previsível estende-se por todo o espectro político.
Referindo-se aos controles de capitais, John Maynard Keynes, disse uma frase memorável: "O que costumava ser heresia (restrições sobre os fluxos de capital), agora, é endossado como ortodoxia". Isso foi na aurora da era Bretton Woods, em 1945. Que ironia é, mais de 60 anos depois, termos de passar pela mesma mudança de mentalidade.
Dani Rodrik, professor de Economia Política na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade Harvard, é o primeiro ganhador do Prêmio Albert O. Hirschman, do Social Science Research Council. Seu livro mais recente é "One Economics, Many Recipes: Globalization, Institutions, and Economic Growth" (Uma economia, várias receitas: globalização, instituições e crescimento econômico, em inglês) Copyright: Project Syndicate, 2009. www.project-syndicate.org Podcast em http://media.blubrry.com/ps/media. libsyn.com/media/ps/20091111Rodrik.mp3




O DESAFIO MERCANTILISTA ATUAL
por Dani Rodrik
O novo ambiente econômico produzirá mais tensão do que acomodação. Isso poderá renovar os dormentes debates sobre o tipo de capitalismo que produz maior prosperidade
VALOR ECONÔMICO, Opinião, 10-01-2013
A história da economia é, em larga medida, uma briga entre duas escolas opostas de pensamento, o "liberalismo" e o "mercantilismo". O liberalismo econômico, com sua ênfase na iniciativa privada e no livre mercado, é hoje a doutrina dominante. Mas a sua vitória intelectual nos cegou para o grande apelo - e frequente sucesso - de práticas mercantilistas. Na verdade, o mercantilismo continua vivo e bem, e seu contínuo conflito com o liberalismo provavelmente será a força que influenciará o futuro da economia mundial.
Atualmente, o mercantilismo é normalmente desconsiderado, taxado de conjunto arcaico e errôneo de ideias sobre política econômica. Em seu auge, os mercantilistas defendiam algumas noções muito estranhas - a principal delas: a visão segundo a qual a política nacional deveria ser norteada pelo acúmulo de metais preciosos - ouro e prata.
"A Riqueza das Nações", o tratado de Adam Smith de 1776, demoliu magistralmente muitas dessas ideias. Em especial, Smith mostrou que dinheiro não deve ser confundido com riqueza. Em suas palavras, "a riqueza de um país consiste não apenas em seu ouro e sua prata, mas em suas terras, casas e bens de consumo de todo tipo".
O novo ambiente econômico produzirá mais tensão do que acomodação entre países que trilham os caminhos liberal e mercantilista. Isso também poderá renovar os dormentes debates sobre o tipo de capitalismo que produz maior prosperidade
Mas é mais preciso pensar o mercantilismo como uma forma diferente de organizar a relação entre o Estado e a economia - uma visão não menos importante hoje do que no século XVIII. Teóricos mercantilistas como Thomas Mun eram, na realidade, grandes defensores do capitalismo, apenas propunham um modelo diferente do liberalismo.
O modelo liberal vê o Estado como necessariamente predatório e o setor privado como focado apenas em maximização de lucros, sem quaisquer preocupações de caráter social. Por isso, o modelo liberal defende uma separação rigorosa entre o Estado e o setor privado. O mercantilismo, por outro lado, oferece uma visão corporativista segundo a qual o Estado e as empresas privadas são aliadas e cooperam na busca de objetivos comuns, como o crescimento econômico doméstico ou o poder nacional.
O modelo mercantilista pode ser criticado como sendo capitalismo de Estado ou de compadrio. Mas quando funciona, como tão frequentemente na Ásia, o modelo de "colaboração governo-empresa" ou "Estado incentivador do setor privado" rapidamente acumula elogios entusiásticos. Economias menos desenvolvidas não deixaram de notar que o mercantilismo pode ser seu amigo. Mesmo no Reino Unido, o liberalismo clássico chegou apenas em meados do século XIX - ou seja, depois que o país já havia se tornado a potência industrial dominante do mundo.
Uma segunda diferença entre os dois modelos reside em quais interesses são privilegiados: os do consumidor ou os do produtor? Para os liberais, os consumidores devem reinar. O objetivo último da política econômica é aumentar o potencial de consumo das famílias, o que exige dar a elas livre acesso a bens e serviços os mais baratos possíveis.
Os mercantilistas, em contraste, enfatizam o lado produtivo da economia. Para eles, uma economia sólida requer sólida estrutura de produção. E o consumo precisa se basear em elevados níveis de emprego e salários adequados.
Esses modelos distintos têm implicações previsíveis para as políticas econômicas internacionais. A lógica da abordagem liberal é que os benefícios econômicos do comércio surgem das importações: quanto mais baratas as importações, melhor, mesmo que o resultado seja um déficit comercial. Para os mercantilistas, porém, o comércio é um meio de apoiar a produção nacional e o emprego, e preferem estimular as exportações, e não as importações.
A China é hoje o principal porta-bandeira do mercantilismo, embora os líderes chineses nunca o admitam - o termo ainda é muito estigmatizado. Grande parte do milagre econômico chinês é produto de um governo ativista que tem apoiado, estimulado e subsidiado abertamente produtores industriais - tanto nacionais como estrangeiros.
Embora a China tenha eliminado gradualmente muitos de seus subsídios explícitos à exportação, como condição de aderir à Organização Mundial do Comércio (OMC), o sistema de apoio ao mercantilismo persiste. Em especial, o governo administrou a taxa de câmbio para manter a lucratividade dos fabricantes, o que produziu um superávit comercial de considerável dimensão (que, recentemente, encolheu, mas em grande parte como resultado de uma desaceleração econômica). Além disso, as empresas focadas em exportações continuam a beneficiar-se de uma série de incentivos fiscais.
Da perspectiva liberal, esses subsídios à exportação empobrecem os consumidores chineses, beneficiando os consumidores no resto do mundo. Um recente estudo dos economistas Fabrice DeFever e Alejandro Riaño 1 , da Universidade de Nottingham, estima as "perdas", para a China, em cerca de 3% da renda chinesa, e os ganhos, para o resto do mundo, em torno de 1% da renda mundial. Da perspectiva mercantilista, porém, esses são simplesmente os custos de construção de uma economia moderna e da preparação do palco para prosperidade no longo prazo.
Como mostra o exemplo dos subsídios à exportação, os dois modelos podem coexistir harmoniosamente na economia mundial. Os liberais deveriam ficar felizes por terem seu consumo subsidiado pelo mercantilistas.
Com efeito, essa, em resumo, é a história das últimas seis décadas: uma sucessão de países asiáticos conseguiram crescer a passos largos mediante a aplicação de diferentes variantes de mercantilismo. Os governos dos países ricos, em larga medida, mantiveram uma atitude indiferente, enquanto o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan e a China protegeram seus mercados domésticos, apropriaram-se de "propriedade intelectual", subsidiaram seus produtores e administraram seus câmbios.
Chegamos agora ao fim dessa feliz coexistência. O modelo liberal é hoje duramente questionado devido ao crescimento da desigualdade e à situação da classe média no Ocidente, juntamente com a crise financeira produzida pela desregulamentação. As perspectivas de crescimento das economias americana e europeia no médio prazo vão de moderadas a sombrias. O desemprego continuará a ser uma grande dor de cabeça e motivo de preocupação para as autoridades econômicas. Assim, as pressões mercantilistas provavelmente se intensificarão nos países avançados.
Em consequência, o novo ambiente econômico produzirá mais tensão do que acomodação entre países que trilham os caminhos liberal e mercantilista. Isso também poderá renovar os dormentes debates sobre o tipo de capitalismo que produz maior prosperidade. (Tradução de Sergio Blum)
1 www.bit.ly/ZsnQRU
Dani Rodrik professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard, é autor de "The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy (O paradoxo da globalização: a democracia e o futuro da economia mundial).. Copyright: Project Syndicate, 2012. www.project-syndicate.org

The New Mercantilist Challenge

 

Today, mercantilism is typically dismissed as an archaic and blatantly erroneous set of ideas about economic policy. But it is more accurate to think of mercantilism as a different way to organize the relationship between the state and the economy – a vision that holds no less relevance now than it did in the eighteenth century.


POLÍTICA DE TERCEIRO MUNDO DOS EUA
por Dani Rodrik
As concessões a grupos extremistas, a rejeição à ciência e a tática de evitar os verdadeiros problemas que caracterizaram este ciclo eleitoral representaram um novo patamar de baixarias para a política democrática.
Valor Econômico - 12/11/2012

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Monday 26 October 2009

COMÉRCIO JUSTO x CONSUMO ÉTICO

EnsaioManifestações políticas na caixa registradora
ANAND GIRIDHARADAS - 26-10-2009
Existe realmente o que chamamos de consumo ético?
Ele tem vários nomes: boicote, consumo ético, economia moral।


Termômetro: Uma resposta para aqueles que não concordam com as críticas à Campanha da Fraternidade 2010.
A CNBB de volta à Idade Média II
Por Alberto Carlos Almeida, de São Paulo01/04/2010
Duas colunas atrás, escrevi sobre a Campanha da Fraternidade de 2010 liderada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de forma ecumênica com outras igrejas do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) sob o lema "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro". Argumentei baseado no lema da campanha que se tratava de um retorno à Idade Média. Vários e-mails críticos argumentaram que eu não tinha lido os documentos da campanha e por isso a minha crítica a ela era superficial. Eu tinha lido, sim, os principais documentos, mas escolhi por fazer um artigo dirigido para o lema da campanha e seu significado. Mas, para não deixar os críticos totalmente insatisfeitos, creio que seja oportuno tratar de um documento específico da Campanha da Fraternidade de 2010 que pode ser encontrado no site da CNBB, o "Texto-Base", que tem 80 páginas.
Algo muito interessante desse texto é seu espírito de onipotência. Ele trata, simplesmente, destes assuntos: o valor da água, a água como mercadoria, o planeta Terra e a exploração de seus recursos naturais, a crise global de 2008, o aumento da pobreza, as grandes dívidas - como a dívida pública e a dívida externa -, a degradação do ambiente, as condições de trabalho, crédito e juros, o aumento da pobreza, os direitos dos trabalhadores, políticas públicas, seguridade social, preservação do ambiente e reforma agrária.
As igrejas ligadas ao Conic acham que têm autoridade para falar de forma consequente sobre todos esses assuntos em um só documento. Isso só é possível porque o documento se resume a um ataque superficial contra o capitalismo, o lucro e a economia de mercado.
É assim que as igrejas atacam o fato de a água ser tratada como mercadoria. Afirmam em relação à água que "o princípio usuário-pagador, que obriga quem usa pagar, não pode ser lido ao contrário: quem não paga não usa, ou ainda, quem não puder pagar, não pode usar". Os religiosos sabem que se trata de uma posição medieval ao afirmar que quem se opõe a tratar a água como mercadoria "é facilmente rotulado como antiquado, contrário ao progresso ou romântico". Em seguida, o argumento envereda pelo catastrofismo e discurso apocalíptico ao dizer que defender que a água não seja tratada como mercadoria é condição para "salvarmos o planeta Terra - Planeta-Água - da desolação".
Todo o argumento depende da catástrofe. Tudo o que é criticado, especificamente o capitalismo e a economia de mercado, é ruim porque resulta em desigualdade de renda, pobreza, fim dos recursos naturais, consumismo e tragédias equivalentes.
Os religiosos não leram uma enorme literatura, cujo livro emblemático é de Julian Simon, "The State of Humanity". Essa literatura dialoga com outra, a dos catastrofistas e apocalípticos, que teve como contribuição central um livro de 1980: "Global 2000 Report to the President". Esse documento previu coisas muito piores do que está contido no "Texto-Base" da Campanha da Fraternidade. Nada aconteceu. O que realmente vimos está documentado no livro de Simon: o preço da energia cai historicamente, cai também o preço real das casas, dos alimentos e bens de consumo e nunca se viveu tão bem hoje como em qualquer outro momento da história do mundo. Afinal, se Deus fez os homens à sua imagem e semelhança para alguma coisa isso deve ter servido, nem que seja para melhorar o bem-estar material de nossa vida na Terra.
Foi graças ao capitalismo e à economia de mercado que as sociedades melhoraram a situação de todos. Isso já havia sido identificado em 1690 por John Locke, em seu famoso "Segundo Tratado sobre o Governo", no qual ele afirma que "o rei de um território grande e fértil lá se alimenta, mora e veste-se pior do que um trabalhador jornaleiro na Inglaterra". Leia-se a biografia de Locke e ver-se-á que jamais ele poderá ser acusado de ateísmo.
Todos os sistemas econômicos geram riqueza e pobreza. A questão já devidamente mapeada é que a economia de mercado gera eficiência e, assim, é a que mais gera afluência para todos, ainda que distribuída de forma assimétrica. Com isso, melhora a situação de todos: é o chamado jogo de soma positiva ou Pareto-ótimo. Os pobres continuam pobres, mas somente no capitalismo eles vivem melhor do que os ricos das sociedades pré-capitalistas ou agrárias.
Tudo isso é completamente ignorado pelo documento da Campanha da Fraternidade. Aliás, ignorar tudo isso parece ser condição para tratar superficial e impunemente de todos aqueles assuntos acima mencionados. Os religiosos deveriam ao menos se dedicar a propor um sistema menos ruim do que o capitalismo. O mais próximo que eles chegam disso é por meio do obscuro conceito de "economia solidária".
O que o "Texto-Base" diz sobre a economia solidária é tão revelador quanto o que não diz, quanto suas lacunas e omissões. Não há uma definição clara. Algumas passagens que transcrevo a seguir permitem entender minimamente o que seja o espírito da economia solidária em oposição à economia de mercado:
1) "o problema não é o dinheiro em si, mas o uso que dele se faz"; 2) "se o enriquecimento e a acumulação continuam a ser o sonho de nossa sociedade, os valores se invertem e colocamos em segundo plano a pessoa, sua vida, sua dignidade, seu bem-estar"; 3) "uma economia baseada no individualismo e na acumulação de bens afasta-se radicalmente do projeto de Deus"; 4) "não há alternativa: ou vivemos solidariamente como irmãos ou seremos todos infelizes num mundo trágico"; 5) "o 'Livro do Deuteronômio' e o 'Livro do Levítico', considerando o direito do pobre à vida, insistem sobre não emprestar [dinheiro] com juros"; 6) "as relações de trabalho são tratadas com a mesma preocupação de colocar em primeiro lugar, não o lucro do empregador, mas a vida dos trabalhadores"; 7) "os trabalhadores não podem ser considerados apenas como força para a produção, mas têm que ser respeitados em sua dignidade de seres humanos"; 8) "é, portanto, um caminho de contracultura em relação à cultura do enriquecimento com exploração, da acumulação que provoca a carência de muitas pessoas e do consumismo egoísta e materialista que coloca em risco a vida na Terra".
A nebulosidade e imprecisão do conceito de economia para a vida ou economia solidária não ajuda um pequeno empreendedor cristão que deseja saber como proceder se tiver cinco funcionários e um deles, ineficiente, mas com muitos filhos e problemas de sustento em casa, estiver prejudicando o rendimento de seu empreendimento. Esse empreendedor deve existir aos milhares no Brasil e a Campanha da Fraternidade não fornece solução específica a esse problema. A demissão seria ruim para o trabalhador que tem uma vida problemática, mas boa para alguém que trabalhe melhor e não esteja empregado. Ademais, a demissão está de acordo com os princípios da economia de mercado. Se o empreendimento crescer com o trabalho eficiente de todos os empregados, mais empregos serão gerados.
Por mais que haja solidariedade, é possível imaginar que nessa nova economia haja alguma concorrência. O que o empreendedor cristão deve fazer se perder um cliente para um concorrente? Dar de presente um segundo cliente, assim como se dá a segunda face para levar o tapa tal como está no "Sermão da Montanha"? Não há respostas a essas simples perguntas no "Texto-Base". Temo que a economia solidária resulte em perda de eficiência como resultado da diminuição da competição entre trabalhadores e entre empreendedores. Como consequência, os preços relativos não diminuiriam e teríamos menos acesso às coisas.
Há muito a ser criticado no documento da campanha: a defesa clara e nas entrelinhas do não pagamento de dívidas, a defesa da não cobrança de juros, a ausência de definição do que seja consumismo, a defesa elitista de bens que durem muito tempo e por aí vai. É uma grande crítica medieval e mal repaginada ao capitalismo e à economia de mercado.
Afirma-se que Deus escreve certo por linhas tortas. A versão erudita dessa máxima é encontrada nos mistérios divinos, na incapacidade humana de entender os propósitos de Deus. Pensando assim, podemos supor que Deus escolheu o individualismo e o egoísmo para gerar riqueza e bem-estar. Deus imaginou um sistema econômico no qual o homem buscaria apenas se satisfazer, já que é pecaminoso e imperfeito. Mas ao fazer isso realizaria o desígnio divino gerando bem-estar e melhorando a vida de todos, inclusive dos mais pobres.
Não há espaço aqui para o catastrofismo, até porque os pessimistas odeiam ser informados de que nunca houve uma guerra sequer entre duas nações capitalistas e democráticas. O mundo caminha kantianamente para a paz perpétua. Aliás, o filósofo Immanuel Kant, insuspeitamente casto, crente e cristão, imaginou justamente isso. A humanidade caminha em direção à elevação moral e isso é resultado da ação movida pelo egoísmo. Quem quiser entender o raciocínio de Kant deverá ler seu "Ideia de uma História Universal sob um Ponto de Vista Cosmopolita".
O que os padres falam nas missas sobre o dinheiro, por incrível que pareça, tende a ser muito pior do que o que está no "Texto-Base". Considerando-se o reacionarismo arcaico da igreja frente ao capitalismo, à economia de mercado, ao desenvolvimento tecnológico, é cada vez mais difícil ser um católico praticante.
Eu mesmo fui católico praticante na infância e na adolescência. Não sou mais. Recuso-me a entrar numa igreja para ouvir coisas tão atrasadas e contra o bem-estar. Quanto aos meus filhos, também não quero que sejam católicos praticantes. Deus me livre que passem a acreditar em coisas como água de graça, não pagar dívidas ou não cobrar juros. Irei contribuir para que aumente a proporção de católicos não praticantes, que é de 33%, praticamente igual aos 32% de praticantes. Se a Igreja Católica continuar a seguir essa trilha reacionária, no futuro os não praticantes acabarão bem mais numerosos que os praticantes.
É chegado o fim da Quaresma. O Sábado de Aleluia nos livrará, aleluia, da Campanha de Fraternidade. A Igreja Católica tem o costume de pedir perdão com a justificativa de que a sua posição era produto da mentalidade de uma época. Isso foi dito quanto à perseguição de Galileu Galilei e outros episódios. Daqui a alguns séculos a igreja pedirá perdão de sua posição reacionária em face do capitalismo e da economia de mercado não dizendo que ela era produto de seu tempo, pior, mostrando que essa visão era produto de um tempo mais longínquo, a Idade das Trevas.
Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" (Record).
E-mail: Alberto.almeida@institutoanalise.com www.twitter.com/albertocalmeida


Mesa 4 - Welfare State: Tendências e Lições da Experiência Internacionais



BEM-ESTAR SOB ATAQUE, Valor Econômico, julho de 2010



INOVAÇÃO IN VALOR ECONÔMICO

POLÍTICAS EQUIVOCADAS PARA A INOVAÇÃO
por Naercio Menezes Filho
A política industrial correta seria aumentar a abertura da economia, baixando as tarifas de importação e aumentando a concorrência para eliminar as firmas ineficientes
VALOR ECONÔMICO, 20-09-2013

Monday 12 October 2009

OLIVER WILLIAMSON e ELINOR OSTROM

The Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel 2009
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Elinor Ostrom diz que a cooperação é a chave do sucesso - A cientista política foi a primeira mulher a receber o Nobel de Economia.
Confira a entrevista de Lucia Araújo, diretora do Canal Futura, com a cientista política Elinor Ostrom, primeira mulher a ganhar o Nobel de Economia. Para Ostrom, a cooperação é chave do sucesso para qualquer sociedade. Sem cooperar, o ser humano está fadado ao fracasso. Edição 03/05/2010 - Publicado em 04/05/2010

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Num ano de crise: Laureados estudaram governança e o comportamento decisório fora dos mercados
Nobel de Economia premia 'outsiders'
Justin Lahart, The Wall Street Journal
13/10/2009
AP Oliver Williamson, 77
Os economistas americanos Elinor Ostrom e Oliver Williamson, que estudam o modo como decisões são tomadas fora dos mercados, ganharam o Nobel de Economia. Ostrom, professora na Universidade de Indiana, é a primeira mulher a receber esse prêmio, que já foi outorgado a 62 homens desde que foi lançado, em 1969. Os juízes citaram sua análise de o que acontece quando recursos naturais são compartilhados. Williamson, que leciona na Universidade da Califórnia em Berkeley, foi premiado por explicar por que algumas decisões são mais eficientes se tomadas dentro de corporações em vez de nos mercados.
Entre os economistas, nenhum deles era visto como provável premiado. O doutorado de Ostrom é em ciências políticas, embora ela se considere uma economista política. Ostrom, de 76 anos, disse que quando o telefone tocou às 6h30 ontem, ela pensou que era telemarketing. O trabalho de Williamson, por sua vez, tem tido muita influência em outros campos que não o econômico. O acadêmico de 77 anos tem sido descrito como o economista mais citado por não-economistas.
Ambos deram destaque a áreas em que abordagens tradicionais da economia eram inadequadas para explicar o que de fato acontece. "Eles dois prestam uma atenção incrível ao que acontece no mundo real", disse o economista Witold Henisz, da Faculdade Wharton, ex-aluno de Williamson. "Eles vasculham de verdade o modo como as coisas de fato funcionam."
O trabalho de Ostrom questionou a visão de que, quando as pessoas compartilham um recurso finito, vão acabar destruindo-o - o que é conhecido como tragédia dos comuns. Essa visão argumenta que recursos importantes para o bem comum precisam ser regulamentados ou privatizados.
AP
Elinor Ostrom, 76: estudos dos dois vão além do campo mais tradicional da economia
Quando fazia pós-graduação no início dos anos 60 na Universidade da Califórnia em Los Angeles, Ostrom pesquisou a maneira como a água estava sendo administrada no sul do Estado. Os níveis do lençol freático estavam caindo e água salgada estava entrando no sistema. Mas, em vez de cair numa tragédia de comuns, comunidades e produtores de água chegaram a uma solução. Isso a levou a explorar situações ao redor do mundo em que recursos eram propriedade comunitária. Economistas em geral ignoravam a importância dessas redes, disse o economista ambiental Matthew Kotchen, da Universidade Yale , em parte porque não podiam criar modelos elegantes para os descrever.
Quando se trata de um problema de larga escala tal como mudanças no clima, em que há poucas relações conhecidas em que se basear, as soluções tendem a ver de baixo, disse Ostrom. "Mas isso não significa que devemos apenas esperar até que surja o acordo internacional", disse. Em vez disso, governos deveriam encorajar e ajudar as pessoas onde elas estão tentando resolver o problema, por exemplo ao encontrar modos de facilitar o uso de energia solar ou de ir ao trabalho de bicicleta.
O trabalho de Williamson deriva do tempo em que ele trabalhou, no fim dos anos 60, da Divisão Antitruste do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Ele observou que especialistas prestavam pouca atenção ao funcionamento interno das empresas. "Os economistas costumavam pensar que a empresa é uma caixa preta que transforma insumos em produtos, e não olhavam lá dentro", explicou Williamson ao "Wall Street Journal". "Nós abrimos a caixa preta."
O que ele descobriu foi que há muitas decisões econômicas que, segundo a teoria convencional, deveriam ser deixadas por conta do mercado mas, na verdade, funcionam melhor se forem tomadas dentro da empresa. "A concorrência nos mercados funciona relativamente bem porque compradores e vendedores podem buscar outros parceiros comerciais em caso de discordância", disseram os juízes do Nobel. "Mas quando a concorrência no mercado é limitada, as firmas resolvem melhor os conflitos do que os mercados."
O Nobel de Economia é o único dos seis prêmios que não foi estabelecido pelo industrialista sueco Alfred Nobel em seu testamento de 1896, e foi criado para comemorar os 300 anos do Banco Central da Suécia. É conhecido oficialmente como Prêmio Sveriges Riksbank de Ciência Econômica em Memória de Alfred Nobel.
Os dois economistas vão dividir o prêmio US$ 1,4 milhão.


Analíse:
Uma estocada nos economis
De São Paulo
13/10/2009
Muita gente chegou a dizer que o Prêmio Nobel de Economia não deveria ser dado neste ano, talvez até como um meio de protestar contra a incapacidade que a maior parte dos economistas teve de prever a crise mundial. Alguns economistas veem o Nobel de Elinor Ostrom e de Oliver Williamson como uma resposta a esse sentimento, já que os dois são identificados mais com as ciências sociais do que com as ciências econômicas tradicionais. Mas aí aparece outra pergunta: essas duas áreas são tão distintas?
Para economistas reunidos na conferência anual da Nabe (Associação Nacional dos Economistas de Negócios, na sigla em inglês), em St. Louis, a escolha dos dois laureados deste ano significa que parece ser hora de privilegiar uma ampliação do campo de estudo econômico.
Ostrom e Williamson são ambos cientistas sociais que analisam as decisões tomadas fora dos mercados. Ao premiar dois acadêmicos que focam o comportamento não mercadológico, o comitê que define quem ganha o Nobel parece estar querendo jogar uma luz sobre uma área nova, num momento de crise financeira em que muita gente procura por novas abordagens.
"Eu acho que é uma mensagem de que o campo da economia está tentando deixar de ser puramente quantitativo para ser um campo multidisciplinar", disse Kathleen Stephansen, economista-chefe da Aladdin Capital Holdings, de Stamford, Connecticut.
Para Lynn Reaser, economista-chefe da Point Loma Nazarene University e presidente eleito da Nabe, a escolha de Ostrom e Williamson foi positiva. "É importante para os economistas ter um olhar para além de apenas a inflação e o crescimento do PIB", disse ele.
Jack Strauss, professor de economia na Universidade de St. Louis, concorda. "[o prêmio dado aos dois] faz sentido porque são economistas comportamentais", disse ele. "A crise financeira mostrou como os mercados são falhos. E esses economistas têm pesquisado e avaliados as falhas de mercado e as ações coletivas."
Muita gente no presente no encontro da Nabe não tinha muita familiaridade com os trabalhos dos dois lauraedos. Talvez isso mostre como os economistas estejam precisando se reciclar.



"Skyhooks versus Cranes: The Nobel Prize for Elinor Ostrom"
Paul Romer wants to make sure that we understand the importance of Elinor Ostrom's "work on one of the deepest issues in economics": Skyhooks versus Cranes: The Nobel Prize for Elinor Ostrom. by Paul Romer:



Oliver Williamson and Elinor Ostrom Awarded Nobel in Economics
I would not have predicted this (links to other comments are given below):
Two Americans Share Nobel in Economics, by Louis Uchitelle, NY Times:
UC Berkeley Professor Oliver Williamson wins the 2009 Nobel Prize in Economics


Surprising Nobel in Economics
Posted by: Michael Mandel on October 12



Seu trabalho nos convida a estudar as organizações na sociedade, como elas são.
Oliver Williamson: a relevância das instituições
Por Decio Zylbersztajn
14/10/2009
Oliver Williamson (Nobel de Economia) é um exemplo de cientista social sério cuja obra impactante abriu caminhos que ainda estamos a explorar
A premiação do Nobel de economia de 2009 coincide com uma celebração que ocorrerá na Universidade de Chicago em dezembro. Trata-se da comemoração dos 99 anos do professor Ronald Coase. Alguém poderia certamente indagar, qual a relação entre o novo laureado e o professor Coase, que recebeu o mesmo prêmio em 1992.
Na verdade o Nobel foi destinado a dois pesquisadores, Oliver Williamson e Elinor Ostrom, que dividem uma base comum que foi introduzida por Ronald Coase. Tal base se sustenta no fato de que as instituições são importantes e voltaram a fazer parte da teoria econômica. Foi Coase quem convidou os economistas a modelar o mundo real ao invés de brincar com modelos afastados da realidade. Assim afirmou no seu discurso de premiação.
Se Coase apontou para a direção correta, foi Oliver Williamson quem desenvolveu o construto fundamental para que, todos nós que estudamos a Economia das Organizações, pudéssemos fazer análises pautadas por modelos realistas. Oliver Williamson trabalhou incansavelmente por quatro décadas apresentando o seu modelo que permite testar hipóteses sobre os mecanismos de governança das organizações, sobre as relações entre firmas que não ocorrem por meio dos mercados e sim dos contratos. Se o termo "custo de transação" é hoje tão comum, devemos a ambos, Coase e Williamson, respectivamente, a sua criação e difusão.
Mais do que o conceito de governança corporativa, o trabalho de Williamson lançou luz sobre decisões estratégicas fundamentais, como por exemplo, a decisão estratégica sobre o crescimento vertical das organizações. "Um passo além da questão tradicional que permeia as decisões estratégicas sobre 'terceirização'", o modelo de Williamson abriu caminhos para a análise do crescimento das firmas e das relações contratuais complexas que caracterizam as cadeias produtivas e as redes de corporações modernas.
Williamson abriu caminhos e determinou rupturas. Por exemplo, a tradicional visão da análise econômica da concorrência foi criticada por Williamson, que sugere que em muitos casos as intervenções dos organismos de promoção da concorrência geram ineficiências indesejáveis nas organizações. Incomoda a muitos quando considera a firma, como que um tribunal de primeira instância para dirimir conflitos. Também incomodou muitos ao expor as entranhas do comportamento humano explorando o conceito de "oportunismo" dos atores na sociedade.
Afirma Williamson que mesmo que você, leitor, não seja oportunista, o seu vizinho pode ser. Ou você pode agir oportunisticamente vez ou outra, o que traz implicações para o modelo das organizações e para a realização das transações. Incomodou também quando reapresentou o conceito de "racionalidade limitada" gerado por Simon e revivido na obra de Williamson, que colide com a hiperacionalidade que caracteriza a teoria econômica tradicional. Ou seja, temos a intenção de agir racionalmente, mas nossa incompetência cognitiva é tamanha, que só conseguimos atingir parcialmente o nosso intento.
Some-se o oportunismo, a racionalidade limitada e a necessidade de realizarmos contratos, para compreendermos como as instituições são necessárias para evitar o caos social e econômico, como o que se instalou no mundo no final de 2008 e ao longo de 2009.
Seus críticos são tão numerosos quanto os seus admiradores. Alguns afirmam que o seu modelo não reconhece a estrutura social que abriga as complexas transações. Outros o criticam pelo excessivo reducionismo do seu modelo de determinação das estruturas de governança eficientes. Outros ainda implicam com a homogeneidade dos seus artigos, que sempre terminam com um mantra: existe um alinhamento minimizador de custos de transação, entre as formas de governança observadas, regido pela interação entre as características das transações e as instituições.
A sua contribuição fundamental iniciada nos anos 70 foi repetida mundo afora nas suas contínuas peregrinações por universidades em todos os continentes. No curso que costumava dar na Universidade de Berkeley que eu tive a oportunidade de fazer, Williamson iniciava com uma citação de Peguy que está no seu livro "Mecanismos de Governança" de 1996.
Essa citação inspira a primeira aula da disciplina de Economia das Organizações que eu ministro na FEA: "Quanto mais eu vivo menos acredito em iluminações súbitas, que não venham acompanhadas por trabalho sério. Menos eu creio nas súbitas paixões e mais eu creio na eficiência do trabalho modesto, lento, molecular e definitivo. Quanto mais eu vivo, menos acredito nas revoluções sociais, improvisadas e maravilhosas, com ou sem armas e ditadores, e mais eu acredito na eficiência do trabalho modesto, lento, molecular e definitivo".
Vejo em Williamson um exemplo de cientista social sério e cuja obra impactante abriu caminhos que ainda estamos a explorar. Na Haas Business School da Universidade de Berkeley, onde se aposentou, exerceu atividades nos Departamentos de Administração, de Economia e Direito. Seguindo a tradição Coasiana, seu trabalho nos convida a estudar as organizações na sociedade, entre as quais as firmas, como elas são, e não como queremos que sejam.
Se alguns ainda viam a Nova Economia Institucional como uma teoria menor que apenas critica a teoria econômica tradicional, o chamado "mainstream", creio que depois de Ronald Coase, Douglass North, e agora Oliver Williamson e Elinor Ostrom, é chegada a hora de repensarmos as disciplinas dos cursos de Economia, de Administração e de Direito, trazendo um pouco da visão Coasiana.
O professor Ronald Coase será homenageado em dezembro. Vive para ver os seus seguidores intelectuais ganharem a merecida relevância. Conforme afirmou: "O mundo real é o que realmente importa. Vamos pois estudá-lo".
Decio Zylbersztajn, organizador do livro "Direito e economia: análise econômica do Direito e das organizações" (Editora Campus), que contém capítulo escrito por Oliver Williamson, é professor de Economia das Organizações, do Depto. de Administração da FEA/USP.



"Transaction Cost Economics"
Why do firms exist? Why is it sometimes beneficial to, say, produce a part needed in the production process yourself, and why is it better to contract with an outside firm at other times? Where are the boundaries between what will be performed internally, and what will be performed externally? How should firms be organized? Robert Salomon explains the contributions of Oliver Williamson to the field of Transaction Cost Economics, and he reacts to some of the reactions to the announcement of the award: ... .... ... ..... .... ....



Artigo: O Nobel para Oliver Williamson sublinha a relevância da escola de pensamento institucional.
A tríplice coroação de uma nova economia
Por Ramón García Fernández e Huáscar Pessali, para o Valor
16/10/2009
Williamson: sua influência se estende ao direito, à teoria das organizações, à ciência política e à sociologia
A concessão do Nobel de Economia sempre gera acaloradas discussões entre os pesquisadores da área. O prêmio deste ano passará à história, pois um dos laureados, a professora Elinor Ostrom, é a primeira mulher a receber o galardão. Além disso, Ostrom é cientista política e não economista, o que provocou ruído adicional. Se essa metade do Nobel causou relativa surpresa, a outra metade foi a confirmação de uma certeza que demorava a acontecer. O professor Oliver Eaton Williamson, da Universidade da California-Berkeley, era há anos considerado um forte candidato ao prêmio.
Certamente, não deve constituir surpresa que o autor vivo mais citado na área das ciências sociais seja lembrado com esta distinção. De fato, a pergunta é por que não o foi antes. Autor prolífico, Williamson escreveu cinco livros, editou outros sete e publicou muitos artigos em periódicos prestigiosos. Seus trabalhos foram traduzidos para o espanhol, russo, chinês, alemão, japonês e italiano, entre outras línguas, mas ainda não para o português. Além do Nobel, ganhou outros prêmios, foi professor visitante em uma dúzia de países e participa do comitê editorial de vários periódicos reconhecidos.
A influência de Williamson se estende a áreas como o direito, a teoria das organizações, a ciência política e a sociologia, que normalmente olham para a economia com um misto de desconfiança e admiração, dela mantendo prudente distância. O próprio Williamson, em seus escritos, sempre enfatizou a interdisciplinaridade de sua abordagem, colocando-a no cruzamento da economia com o direito e a administração. Por sinal, Williamson é membro do departamento de "business" de sua universidade, não do de "economics".
Essa característica interdisciplinar reflete bem a formação de Williamson. Nascido em 1932, ele graduou-se em administração no Massachusetts Institute of Technology em 1955, concluiu um MBA em Stanford, e resolveu fazer seu doutorado na Universidade de Carnegie-Mellon, na Escola de Pós-Graduação em Administração Industrial. Esse nome pode induzir a erros, pois a formação era essencialmente em economia: vários economistas de primeira linha, entre eles alguns futuros ganhadores do Prêmio Nobel, trabalhavam ali. A figura mais marcante da escola era Herbert Simon, nobelista de 1978. Simon liderava um grupo de economistas insatisfeitos com a visão tradicional da firma como uma "função de produção". Esta perspectiva reduz a firma a uma caixa preta, em que entram insumos e da qual saem produtos, sem que seja considerado relevante saber o que ocorre em seu interior, como relações de comando, conflitos, incentivos, divisão e coordenação de tarefas. Tudo isto era ignorado ou, na melhor das hipóteses, deixado para as teorias da administração e da organização. Em reação a isso, Simon e outros colegas em Carnegie-Mellon passaram a estudar os problemas de decisão enfrentados pelos empresários, as relações entre as pessoas e os conflitos e os mecanismos de coordenação entre diferentes grupos no interior da firma.
Williamson escreveu sua tese de doutorado dentro dessa tradição, e aos 31 anos ganhou o prêmio de melhor tese em economia dado pela Fundação Ford. Ela foi publicada como livro e se tornou referência no desenvolvimento da visão gerencialista da firma. Seu título, "A Economia da Conduta Discricionária", mostra bem sua divergência com uma visão que tratava a firma como uma máquina perfeitamente azeitada, na qual as atitudes das pessoas não faziam a menor diferença.
A outra grande influência intelectual de Williamson foi Ronald Coase, também um nobelista (em 1991). Coase fez nos anos 1930 uma pergunta bastante ingênua - Por que as firmas existem? - mas impossível de se responder dentro da teoria tradicional, que sempre considera o mercado a maneira mais eficiente de organizar as atividades econômicas. Se assim realmente fosse, por que um empresário compraria máquinas, contrataria operários, contadores ou secretárias, em lugar de procurar todos esses serviços no mercado cada vez que precisa deles? Coase propôs que usar o mercado tem custos que tornam vantajoso (eficiente) organizar algumas atividades em firmas nas quais a coordenação não ocorre através do mecanismo de preços, mas da autoridade (alguém dá ordens, outros aceitam obedecê-las).
A obra de Coase inspirou o primeiro livro de grande impacto de Williamson, "Mercados e hierarquias", publicado em 1975. Anos mais tarde, Williamson ampliou e sofisticou essas ideias no livro "As Instituições Econômicas do Capitalismo", de 1985. Nesses dois livros, ele desenvolveu a proposta de Coase, utilizando o conceito de custos de transação. Estes incluem os custos de tempo e dinheiro necessários para efetuar uma transação econômica, tais como procurar informação, escrever contratos e monitorar seu cumprimento, dirimir conflitos quando não há acordos e adaptar o acordo diante de imprevistos.
Dali surge uma questão mencionada na outorga do Nobel: como fazem as firmas para determinar quais atividades fazem e quais não fazem, ou seja, como se chega à decisão de fazer ou comprar feito. Por exemplo, se uma firma resolve dar refeições a seus funcionários, como decide se monta e gerencia um refeitório ela mesma contratando funcionários, terceiriza o serviço ou dá vales-refeição? Para Williamson, a firma tentará reduzir os custos de transação, escolhendo a forma de organizar a atividade que for mais econômica. Essas formas alternativas de organizar uma atividade são chamadas em sua linguagem de "estruturas de governança", e este será o critério para determinar os limites da firma, ou seja, decidir o que ela faz e o que deixa de fazer. Estas idéias são a motivação central do Nobel dado a Williamson, pois a comissão menciona suas contribuições "à análise da governança econômica, especialmente das fronteiras da firma". Reconhece-se, assim, que as relações contratuais são essenciais para compreender a organização e a dimensão das firmas, algo que antes das contribuições de Williamson era praticamente ignorado.
Sua visão teve também consequências práticas muito importantes. A teoria econômica tradicional diz que a organização eficiente das atividades ocorre nos mercados perfeitamente concorrenciais, caracterizados pela presença de um grande número de firmas pequenas. Assim, a integração vertical não faria sentido, pois firmas especializadas aproveitam melhor a divisão do trabalho. Para os apologistas da economia de mercado, isto cria uma saia justa: como compatibilizar sua visão com os muitos mercados reais caracterizados por poucas e grandes firmas verticalmente integradas? Não seria isto uma evidência de abuso sistemático de poder econômico? Williamson sugeriu que, ao contrário, são principalmente critérios de eficiência na avaliação dos custos de transação que levam uma firma a decidir se deve ser pequena ou grande, integrada ou não. Em sua visão, a grande firma não é necessariamente um problema, mas uma solução eficiente face aos custos de transação que teriam estruturas de governança alternativas - como, por exemplo, as muitas transações comerciais que seriam necessárias entre muitas pequenas firmas, encarecendo o produto final.
Um novo livro, "Os Mecanismos de Governança", de 1996, inclui uma nova e importante contribuição de Williamson. Nesta obra, o autor reforma a visão "firmas x mercados", e reconhece e desenvolve a existência de formas alternativas ("híbridas", nos seus termos) que não se encaixam na dicotomia habitual. Isto mostra um pensador atento ao mundo à sua volta: os anos 1980 viram o surgimento dos consórcios de produção, a onda de terceirizações, a explosão das franquias e outros tipos de contratos inovadores que não se encaixavam facilmente em seu esquema anterior.
Outra faceta da atividade intelectual de Williamson, não destacada pela comissão, é sua capacidade de organização intelectual. Em "Mercados e Hierarquias", ele disse que seu trabalho formava parte de uma nova corrente de pensamento, batizando-a como "nova economia institucional". Autores próximos a esta visão começaram a realizar conferências a partir de 1983, o que permitiu estabelecer uma rede de vínculos e, em termos práticos, uma nova escola. Em 1996, foi criada a Sociedade Internacional para a Nova Economia Institucional, cujos dois primeiros presidentes foram ganhadores do Nobel: Coase e Douglass North. Agora, essa lista inclui também seu terceiro presidente. Difícil imaginar outra associação acadêmica com tantos milionários laureados.
Ramón García Fernández é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EESP)
Huáscar Pessali é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)




A propósito do Nobel de economia
Fábio Wanderley Reis
19/10/2009
O prêmio Nobel de economia tem sido outorgado a especialistas de perfil diverso quanto às perspectivas adotadas sobre o instrumental analítico da disciplina e suas consequências para as relações com disciplinas afins. Um perfil se ilustra com Gary Becker (1992), talvez o melhor exemplo de economista a tratar simplesmente de estender os postulados e instrumentos da análise neoclássica tradicional a novas áreas temáticas e a buscar a teoria econômica do crime, da família ou do comportamento humano em geral. Ele contrasta fortemente, por exemplo, com George Akerlof (2001), empenhado em trazer à análise tradicional intuições sociológicas (e psicológicas, antropológicas: fazer uma "psycho-socio-anthropo-economics", como formula ele próprio em texto de 1984), ou com Daniel Kahneman (2002), um dos principais responsáveis pela introdução do que se tornou conhecido como a "economia comportamental", atenta às dificuldades envolvidas na adesão ao postulado de racionalidade dos agentes.
Este ano, a balança pendeu claramente para o lado inclinado a revisões e reorientações. Além de Oliver Williamson, economista que, contra os neoclássicos, salienta os "custos de transação", contrapõe hierarquias a mercados e se dedica a problemas de "governança", temos Elinor Ostrom, que, além de mulher (a primeira a ganhar o prêmio), não é sequer economista, e sim cientista política. Seu trabalho se insere numa linha que, incluindo profissionais de várias áreas e pretendendo mesmo eventualmente unificar as "ciências do comportamento", tem permitido, internamente à ciência política, a oposição criativa à intensa penetração do campo pelos supostos e instrumentos da economia neoclássica ocorrida no último meio século, com a difusão da chamada abordagem da "escolha racional". Um artigo recente ("Policies That Crowd out Reciprocity and Collective Action", 2005) dá acesso, em forma sintética, a aspectos salientes da empreitada.
O ponto crucial pode ser posto em termos de questionar o que se tornou conhecido, desde um trabalho de Mancur Olson que se inscreve entre os pioneiros na afirmação do "imperialismo" da economia ("A Lógica da Ação Coletiva"), como o "dilema da ação coletiva": indivíduos descritos às vezes como "egoístas racionais", aptos ao cálculo orientado pelo interesse próprio, especialmente interesses materiais, tenderão a não agir de maneira condizente com o interesse coletivo, e a realização deste exigiria que eles fossem expostos a "incentivos seletivos" (ou remunerados ou coagidos, em particular pelo Estado) para se obter a conduta apropriada. Em contraste, a perspectiva de Ostrom e outros sustenta que a melhor suposição para explicar o comportamento humano não seria a referida à mera disposição à maximização de ganhos ou utilidades, mas sim a de que existem múltiplos tipos de indivíduos ou agentes. Teríamos especialmente, ao lado dos egoístas racionais, gente guiada pela "lógica da reciprocidade", que manifestaria o que os autores chamam de "reciprocidade forte", ou seja, a disposição, por um lado, de cooperar, mesmo a algum custo pessoal, com outros que mostrem disposição análoga, mas também, por outro lado, a disposição de punir os que violam a norma de cooperação, igualmente mesmo se a punição envolver custos pessoais. Essa lógica é encontrada em operação em variados estudos de campo e investigações experimentais, particularmente em ambientes distintos dos de mercados altamente competitivos. Ela é afim às comunidades caracterizadas por relações face a face, em que os indivíduos podem cada qual observar o comportamento dos outros e em que se têm condições propícias ao surgimento de regras e instituições autônomas, criadas pelos próprios agentes envolvidos. E destaca-se que a intervenção do Estado, que a lógica do dilema da ação coletiva torna fatal, surge aqui como incerta em seus efeitos: ela pode ocasionalmente estimular o ânimo de colaboração, se percebida como complementar e convergente com os mecanismos comunitários, mas pode também opor-se a ele e eventualmente extingui-lo, concorrendo, por exemplo, para colocar em dúvida a disposição cooperativa dos demais.
A perspectiva geral, especialmente em sua articulação com disciplinas como a biologia evolucionária e em suas ambições multidisciplinares ou transdisciplinares, é com certeza promissora. Mas mesmo esta brevíssima apresentação de algumas de suas sugestões já permite visualizar também as dificuldades. Em particular, o problema de escala e certos desdobramentos dele. O dilema da ação coletiva de Olson é formulado com referência explícita a grupos de grandes dimensões, denominados grupos "latentes", onde a impossibilidade da informação e do controle sobre o comportamento dos demais coloca um insolúvel problema de coordenação em que, no limite, se torna também impossível para cada um agir de maneira que viesse a ser coletivamente racional. Se os problemas se dão em escala que ultrapasse a da comunidade de relações face a face, como resolver a dificuldade de chegar a apreender cognitivamente se os outros estão fazendo a sua parte para aplicar a solidariedade condicional da lógica da reciprocidade? Se a disposição confiante que a colaboração exigiria depende de expectativas, com seu componente informacional ou cognitivo, como condicionar expectativas para começar a implantar a confiança em circunstâncias em que a própria lógica da reciprocidade não justificaria presumi-la?
Talvez infelizmente, não há como evitar que o desafio seja justamente o de assegurar que o mercado definido por relações entre estranhos seja também uma comunidade, como quis Max Weber. E se o Estado é o instrumento indispensável disso, tampouco há como escapar, fechando o círculo complicado, do condicionamento do próprio Estado por um substrato de relações mercantis e de enfrentamento de interesses.
Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Escreve às segundas-feiras
E-mail fabiowr@uai.com.br




The Student of Working Together
Who owns the Nobel Prize in economics? A basis for an answer to that question appeared last week, when the Nobel Committee opened the door to a capacious new wing of economic research, citing political scientist Elinor Ostrom, of Indiana University, for her investigations of how ordinary citizens solve problems that arise when sharing common resources (and sometimes fail to solve them). ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...




October 19, 2009
Oliver Williamson, a gentleman
Shane Greenstein @ 11:41 am



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Sunday 11 October 2009

NOBEL PRIZES PEACE

Editorial
The Peace Prize
Published: October 9, 2009


News Analysis
For Presidency in Search of Success, Nobel Adds a Twist
By ADAM NAGOURNEY
Published: October 9, 2009
WASHINGTON — President Obama is given to big events at big moments, replete with stirring speeches, lofty backdrops and stadium-size crowds. ... .... .... ...



Obama and the Nobel Prize: When War becomes Peace, When the Lie becomes the Truth
By Michel Chossudovsky
Global Research, October 11, 2009
When war becomes peace, When concepts and realities are turned upside down,When fiction becomes truth and truth becomes fiction. When a global military agenda is heralded as a humanitarian endeavor, When the killing of civilians is upheld as "collateral damage", When those who resist the US-NATO led invasion of their homeland are categorized as "insurgents" or "terrorists". When preemptive nuclear war is upheld as self defense. When advanced torture and "interrogation" techniques are routinely used to "protect peacekeeping operations", When tactical nuclear weapons are heralded by the Pentagon as "harmless to the surrounding civilian population" When three quarters of US personal federal income tax revenues are allocated to financing what is euphemistically referred to as "national defense" When the Commander in Chief of the largest military force on planet earth is presented as a global peace-maker, When the Lie becomes the Truth. Obama's "War Without Borders"
We are the crossroads of the most serious crisis in modern history. The US in partnership with NATO and Israel has launched a global military adventure which, in a very real sense, threatens the future of humanity. ... ... .... ... .... .... ... ... ... .... .... .... .... ... .... ..... .... .... .... .... .... ..... .... ............. ...


Peace, War and Geopolitical RhetoricSelected Articles
Global Research, October 12, 2009




A Guerra no Século XXI ou a terceirização da guerra
Em entrevista ao jornal argentino Página 12, Dario Azzelini, pesquisador italiano das novas guerras, defende que "a guerra não é mais para instalar outro modelo econômico; ela é o modelo". "O sentido da guerra mudou. Tradicionalmente era para trocar as elites e o controle das economias, ou introduzir outro modelo de domínio econômico ou político. Agora, em muitos casos as guerras são permanentes. Não se faz a guerra para implementar outro modelo econômico, mas a guerra mesmo é o mecanismo de lucros", afirma o historiador.
Internacional 10/10/2009 - Natália Aruguete e Walter Isaía - Página 12.



The Political Economy of US Militarism (Book review)
Ismael Hossein-zadeh



13/10/2009
Nobel de Obama é mais um peso que uma honra
Claus Christian Malzahn
O prêmio Nobel da Paz veio cedo demais para Barack Obama. O presidente dos EUA não pode apontar qualquer sucesso diplomático real até hoje, e há poucas perspectivas para o futuro. ... ... ... .... .... ... ....



13/10/2009
Quem se importa com o ganhador do Prêmio Nobel da Paz?
Anne Applebaum
Por que deram o prêmio a ele? Ele o mereceu? Deveria tê-lo aceitado? Em vez dele, quem é que deveria ter recebido o prêmio? O que ele diria? O país inteiro só fala do Prêmio Nobel da Paz do presidente Barack Obama. ... ... .... ..... .... ..... ..... .... ...... .... ..


If we want Policy instead of Speeches Vers La Verité Speech in Paris
By Cynthia McKinney
Global Research, October 11, 2009


Entrevista: Elinor Ostrom
Ela acompanhou associações de pescadores e cooperativas de madeireiros, pesquisou como essas comunidades funcionam e revelou um modelo de economia criado há gerações e que nos ensina uma relação sustentável entre o homem e os ecossistemas. A simpática senhora de quem estamos falando é Elinor Ostrom, a primeira mulher na história a receber o prêmio Nobel de Economia.
Elinor Ostrom, 76 anos, é cientista política e professora da Universidade de Indiana। O Canal Futura foi até lá descobrir um pouco mais sobre a mulher que desafiou o conhecimento convencional ao criar uma linha de pesquisa na área de bens comuns, estruturado na administração alternativa. Confira a entrevista.
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